Já vos contei que estou outra vez viciada no House...? Pois... confesso: estou... E isso está a colidir à força toda com a escrita no blog. Coexistem no espaço e no tempo. Trabalhei até perto da meia-noite. Quando me despachei e confirmei que nada de transcende aconteceu no mundo (para além das desgraças e irrelevâncias do costume) fui ver o episódio de ontem. Só agora que acabou peguei nisto. E, entretanto, estou a ver o episódio de hoje. Não sei se são episódios recentes ou se são antiquíssimos. Poderia averiguar mas não me interessa. Gosto de ver. Aquele raciocínio agudo, aquele sentido de humor intragável e aquela insolência aberrante do House são um cocktail que me prende do princípio ao fim.
Só que, com isto, consumo o cada vez menos tempo livre que tenho.
A comunicação social já começou a salivar para a decisão que aí vem sobre o Caso Marquês. Há anos que esta pouca vergonha dura: começaram por prender o homem com as televisões a acompanharem em directo o indecoroso e indigno ataque à privacidade de uma pessoa num momento tão delicado. Interrogaram-no, divulgaram escutas, divulgaram bocados das peças processuais, mandaram-no preso para Elvas, devassaram-lhe a vida pessoal, a vida da mãe, da ex-mulher, da ex-namorada, dos amigos, impediram-no de viver uma vida normal, obrigaram-no a viver como um acossado. Anos disto. Uma verdaeira pouca vergonha. Pelo meio, foram arregimentando mais gente, mais suspeitos, o caso foi engrossando, engrossando, virou o paquiderme judicial do regime. Quando penso naquele que começou por ser o intrépido e irreverente advogado de defesa, o João Araújo, que, coitado, não viveu o tempo suficiente para assistir ao desenlace de tão fatídico caso, tenho tanta pena. Mas também me mói a ideia de que o principal suspeito tenha a vida em suspenso há tantos anos. Anos, anos disto. Anos disto sem sequer se saber se o caso tem sustentação ou não. Uma vergonha. A Justiça não pode funcionar assim. Os culpados vêem a vida parada sem pena decidida e acabam na prisão quando já estão no fim da sua vida, muitas vezes a dar as últimas. E os inocentes vêem a sua vida anulada, desgraçada. Enquanto isso, os ilustres juízes, alguns com forte pancada na cabeça e sem admitirem o escrutínio de ninguém, continuam a fazer o que muito bem querem e lhes apetece. E o resto das instituições assobiam para o lado. Separação de poderes muito bem, tem que ser. Mas bandalheira a céu aberto, não. Alguma coisa deve e tem que ser feita.
A nossa democracia tem dois cancros: a Justiça e as Redes Sociais. E com metáteses na Comunicação Social. Claro que isto das redes sociais não é coisa só nossa assim como a comunicação social também não. Só que isso, conjugado com a grave doença na Justiça, pode minar a nossa democracia que, sendo recente, tem ainda muitas vulnerabilidades.
Mas, enfim, queria falar sobre isto mas não é às duas da manhã que estou em condições para dizer coisa que se aproveite. Dirão as más línguas que nem às dez da manhã o estou. Mas para o que as más línguas dizem eu também não tenho tempo.
Portanto, para ver se durmo alguma coisa antes da manhã que me espera que é daquelas em que até tremo com o que vou ter que fazer, calo-me já.
Quando me vê tão debaixo de trabalhos e maçadas, a minha filha diz que não tenho necessidade disto. E há uma perspectiva sob a qual talvez não tenha. Mas a verdade é que tenho este espírito de missão, de mulher da classe trabalhadora, toda a ter que cumprir com deveres e obrigações, mulher que mais depressa verga que parte, que não cede nem abranda até que ache que fez o que julga que tem que ser feito. Não é que queira: é involuntário, é coisa genética. Ou seja, vejo-me cercada de uma canseira da qual tenho dificuldade em fugir porque parece que sou eu que não consigo passar sem viver assim, no limite do que posso.
Enfim.
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E despeço-me com um outro grande momento musical que espero que seja do vosso superior agrado
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E é isto.
O que eu estimo é o que eu desejo.
Saúde e alegria