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segunda-feira, dezembro 30, 2024

Dia super feliz in heaven.
E a relação entre os signos e a gastronomia.

 

Entre sexta e sábado foi limpeza a fundo: os outsides todos varridos e lavados e esfregados, nos interiores, spray de cera de abelhas nas madeiras, limpeza de vidros, tudo sacudido, limpo, lavado, spray de lixívia em uniões e juntas das casas de banho e todo um vasto etc. e etc.

Fomos também ao supermercado da vila onde têm carnes excelentes. Também costumam ter bons peixes e afins mas não tinha o que eu queria (choquinhos pequeninos para fazer com tinta). Pena o senão do vagar das empregadas que conversam com os clientes que conhecem. Uma pessoa desespera sem saber quando é que a confraternização vai acabar. Mas ninguém parece ter pressa. Olho em volta e vejo toda a gente na boa, à espera. Parece que só eu é que ainda não aprendi a aguardar serenamente.

Este domingo foi dia grande, desde cedo a maltinha toda reunida in heaven. Corte de árvores, queima. Um avanço na limpeza que foi um gosto. Tanto o trabalho que um dos jovens trabalhadores até andou, parte do tempo, em tronco nu.





E o mais pequeno já anda de bicicleta que dá gosto, por lá anda, sozinho, em caminhos estreitos, subidas, descidas, curvas. E os mais crescidos fizeram corridas de trotinete e depois todos jogaram ao Monopólio para Batoteiros, coisa que dá muita luta e que até levou à expulsão do batoteiro-mor.... 

E o almoço foi um regalo, com o meu filho, uma inesgotável força de trabalho, que, depois de serrar, carregar, queimar, se atirou ao barbecue. 

Dia maravilhoso. Frio mas, ao sol, suportável. E em casa bem.

Mas vinha eu a pensar que já o meu pai, que era caranguejo, adorava cozinhar e ter-nos lá todos em volta da mesa. E eu e o meu filho também somos assim. Claro que o meu marido e a minha filha e a minha nora também gostam tal como a minha mãe também gostava, são todos muito bons anfitriões. Mas creio que não há aquela 'coisa' muito intrínseca de queremos dar de comer aos 'outros', parece que queremos ter a certeza de que se alimentam bem e de que temos aquilo de que gostam, 'coisa' essa que esses 'outros' nem sempre compreendem ou aceitam bem. 

Pois agora, ao ver a Madame le Figaro, vejo um artigo em que se fala na relação de cada signo com a gastronomia. Transcrevo a descrição de como é o Caranguejo. Por mais surpreendente que possa parecer para alguns, supostamente existe uma ligação entre a astrologia e a gastronomia. A astróloga Amélie Weill fez dela o tema do seu primeiro livro, Astro food (Éd. Flammarion). E, segundo ela, as sete estrelas da constelação em forma de panela da Ursa Maior seriam o sinal supremo.

Caranguejo

O Caranguejo, o primeiro signo de água do zodíaco, leva-nos ao território das emoções. O que mais gosta é de unir as pessoas e fazê-las felizes. O Caranguejo preocupa-se com os outros e, para ele, a comida é cuidado. Atento, adivinha e antecipa as necessidades de todos, e até se questiona porque é que os outros não fazem o mesmo... Em suma, não se limita a cozinhar, coloca amor em tudo o que faz.

A sua fantasia secreta? Vivendo numa antiga casa de pedra, rodeada por um magnífico jardim e repleta de amigos e crianças, todos se reuniam à volta de uma mesa para saborear os bolos da avó, desde mil-folhas gourmet a tarte de mirtilos acabada de sair do forno. O pequeno guilty pleasure alimenta a sua vida diária... E se não gosta do que ele lhe preparou, não lhe diga, nem use luvas de pelica. A cozinha é como uma família, não se lhe toca!

Só neste último aspecto é que não me revejo: não me importo que critiquem. Aceito bem críticas, reprimendas e sugestões. Claro que nem sempre as sigo (porque, como é óbvio, há coisas que são mais fortes que eu) mas, enfim, esforço-me e não levo nada a mal, até agradeço.

Para quem tenha curiosidade, aqui está o link para o artigo com todos os signos: Nos préférences et compatibilités culinaires signe par signe, selon une astrologue

E uma semana para todos!

sábado, novembro 02, 2024

Há coisas que só vistas

 

Durante toda a minha vida, escolhi por mim o que vestia fosse para o que fosse. Todos os dias eu saía de casa como se fosse um dia especial pois todos os dias frequentava locais em que toda a gente se arranjava muito bem e sentir-me-ia deslocada se me apresentasse arranjada de forma desatenta ou informal.

Vestia-me com cuidado, tudo a condizer (ou a contrastar, consoante o objectivo) sapatos adequados, maquilhagem no tom. 

Claro que quando havia mega reuniões ou encontros do Grupo ou situações em que eu ia falar para as 'massas', tendo os 'holofotes' sobre mim, tinha especial cuidado. Nessas alturas, claro que, na véspera, à noite, experimentava vários outfits, fazia uma pré-selecção, e depois pedia a opinião ao meu marido. Era frustrante para mim pois eu gostaria que ele olhasse com atenção, pensasse um pouco. Mas não. Eu aparecia e ele dizia logo 'acho bem'. Depois, eu mudava e aparecia com outra roupa, e ele, instantaneamente, dizia: 'A primeira'. Eu mudava para a toilette seguinte e acto contínuo, ele dizia: 'Pode ser.'. Ou seja, não se concentrava, não tinha paciência. Eu tinha que insistir bastante, mas ficava sempre com a sensação de que ele queria era ir jantar pelo que não tinha paciência para as minhas experimentações. 

Agora que estou reformada, a minha vida felizmente simplificou-se de forma radical. Mesmo quando vamos passear, ou almoçar fora ou a algum encontro ou a alguma situação em que faz sentido arranjar-me um pouco melhor, só tenho que ir ao roupeiro e escolher um conjunto que me agrade.

Mas depois há aquelas situações especiais. Aí tenho mesmo que caprichar um bocadinho. Não dá para ir muito casual e o registo informal está fora de questão. 

Uma coisa tenho muito clara, nesta e noutras condições: não vou comprar nada. Portanto, só tenho que saber escolher. Hoje, antes de chegarem os meus netos, estive a experimentar toilettes. 

Acabei por me fixar em duas. Uma baseada em tons azuis escuros e outra em tons azeitona. Fotografei-me e mandei à minha filha. Rejeitou liminarmente as duas. Na sequência disso, devo ter estado à vontade uma hora a trocar de calças, de blusa, de casaco, de sapatos. Finalmente, quando me parecia que inequivocamente era aquela, a minha filha voltou a rejeitar. Agora parece que já nos fixámos numa delas, com outra como alternativa. 

No fim, a cama tinha calças, blusas, casacos, tudo fora dos cabides, uma maçada de todo o tamanho para voltar a arrumar tudo. Ocorreu-me a paciência que aquelas pessoas que trabalham nos provadores da Zara ou de outras lojas de grande movimento têm que ter para passar horas a arrumar roupa que os outros despem e para ali deixam de qualquer maneira. Enfim.

Mas, com a short list de duas toilettes, agora tenho que convencer o meu marido a ser cooperante e dizer a sua opinião. Gostava que fosse ele a desempatar (mas não estou com muita esperança).

E ainda tenho que ir cortar o cabelo e, desta vez, a ver se vou mesmo à cabeleireira. Em quatro anos acho que só fui uma vez. Mas para um corte mais radical e para a situação que é, não posso arriscar nos meus amadorismos. 

Claro que, no meio de tanta desgraça. eu estar nisto é coisa abaixo de parva. Mas a vida tem destas coisas, muitas facetas, e, excepto em situações limites, há espaço para tudo.

Tirando isso, tive ajuda na cozinha, dois dos meninos colaborando, e, talvez com a excitação de tê-los ali, cada um a fazer a sua coisa, a falarem alto, numa alegria, o cão, que nunca liga patavina, desta vez também quis ver o que se passava e pôs-se de pé, duas patas na bancada, para espreitar e para ver se apanhava alguma coisa. Foi uma aventura para o pôr dali para fora pois obviamente quer estar onde estão as suas 'ovelhinhas'. A cozinha tem duas portas e uns corriam por uma porta e ele atrás e eu e o meu marido a fecharmos a porta e todos a quererem entrar pela outra e nós a tentarmos barrar-lhe a passagem mas, claro, eu a precisar de entrar. Há coisas que deveriam ser filmadas pois só vistas.

E agora que estou aqui na sala a ver uma coisa assustadora, os vídeos falsos gerados por Inteligência Artificial, uma coisa que me preocupa para além da conta (um dos habilidosos dizia que com um gasto mensal de vinte e poucos dólares, conseguia fazer não sei quantos vídeos -- ou seja, toda a tecnologia à disposição de toda a espécie de crápulas, de mercenários, de malucos, de agarrados que precisam de dinheiro, de psicopatas, de fascistas, etc), só me apetece continuar no registo das frioleiras, das futilidadezinhas inofensivas, que não me desgastam os neurónios, que não cansam a minha beleza.

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As imagens foram photoshopadas com muita graça por Volker Hermes

E um bom fim de semana para todos

domingo, agosto 18, 2024

Grelhados suculentos e saudáveis, doces à Chef, lanche para gente sem apetite e etc.

 

Por estes dias, aqui chegada, à noite, não tenho muito assunto. Muitas vezes nem muito nem pouco. Não vejo televisão nem sei de notícias senão quando aterro aqui no sofá. 

Abro a página em branco e penso: 'Escrevo o quê?'. E, muito sinceramente, só me ocorre falar do que foi o almoço. Fazer o quê? 

Por isso, aqui vai e vai sem mistérios: grelhada mista.

Fui ao talho em que estou a habituar-me a ir pois tem carne boa e um jovem talhante que sabe ir ao encontro do que lhe digo. 

O meu filho tinha-me falado em piano. Não havia. Mas tinha uma peça de entrecosto alto, ainda com o courato. Não se atrapalhou: retirou o courato e o toucinho. Isso não veio. Depois, retirou um rectângulo de carne alta. Ficou, então, a parte do osso com fina camada de carne por cima. Mas depois vi aquele rectângulo de carne e resolvi trazê-la. O rapaz sugeriu abri-la ao meio, transformando-o em dois bocados de carne baixa. Pareceu-me interessante.

Depois trouxe costeletas do cachaço mas em corte largo, para ficarem costeletas grossas.

Trouxe também pernas de frango do campo pois toda a gente gosta de pernas de frango grelhadas. O meu filho tinha-me falado em peitos de frango. Aí o rapaz sugeriu abrir os peitos ao meio e eu achei boa ideia. Afinal o meu filho disse que ficariam melhores inteiros, altos. Para a próxima, já sei.

Trouxe também bifes do pojadouro que ele me disse que eram um espectáculo mas para se lhes dar apenas um cheirinho de calor.

Logo de manhã recebi uma mensagem do meu filho para preparar uma marinada mas apenas para as carnes de frango e de porco: 1 cerveja, sumo de 1 limão, alho picado (não muito pois o pessoal não gosto de sabores demasiado intensos), louro, um pouco de pimentão doce e sal. Juntei também orégãos. 

Os bifes de vaca, apenas uns leves grãos de sal e sumo de limão na hora de irem à grelha.

Ao contrário do que dantes eu pensava, não se deve pôr azeite no tempero da carne. Pelo contrário, deve pôr-se limão ou cerveja pois o ácido cítrico do limão ajuda a quebrar as fibras musculares da carne, tornando-a mais macia. A cerveja também amacia. Além disso,  ao grelhar carne em altas temperaturas, são gerados compostos como aminas heterocíclicas (AHCs) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), que têm potencial cancerígeno. Marinadas à base de ácidos (como o sumo de limão) ou antioxidantes (presentes na cerveja) podem ajudar a reduzir a formação desses compostos.

Acresce que, às brasas, foi adicionado um pouco de alecrim, que perfuma a queima mas é tido um outro cuidado: usam-se grelhas altas por forma a não submeter a carne à queima directa ou ao contacto com temperaturas muito elevadas.

Aprendemos isto com nutricionistas ou investigadoras como a Conceição Calhau.

E, digo-vos, faz toda a diferença. Claro que é também essencial haver arte no grelhador. Juntando a arte e o conhecimento, o produto final é uma maravilha. E bem mais saudável.

Depois, na mesa, para temperar a carne grelhada, tinha um molho simples feito com azeite, sumo de limão, orégãos e coentros migados. Mexendo tudo, emulsiona. 'Servi' com um pincel para se poder pincelar devidamente a carne ao ir para o prato. Fica muito bom mas, mesmo não pondo nenhum molho, o tempero e o ponto estavam suficientemente bons para até poderem dispensar tempero adicional.

Para acompanhar, tinha batatas fritas (de pacote, tradicionais, umas normais e outras light), salada de alface (que fiz com alface ice, que é nutricionalmente mais fraca mas de que todos gostam, abacate aos bocados, azeite, orégãos e vinagre bio com mel), salada de tomate (tomate maduro cortados aos quadradinhos, com azeite, orégãos, e queijinhos mozzarelas às bolinhas) e feijão preto (num tacho, com um pouco de azeite, frito cebola picada e um pouco, para aí um quarto ou menos, de chouriço artesanal aos bocadinhos e salsa. Quando está tudo douradinho, juntei duas latas de feijão preto mais ou menos escorrido. Mexi bem, deixei ferver mas sempre em lume brando). Tinha ainda pão de Rio Maior.

Para sobremesa tinha salada de frutas e um doce que o meu marido fez e que estava bom.

Numa frigideira cozinhou maçãs cortadas aos cubinhos, com casca (apenas sem o pé e sem caroços), juntamente com um frasco inteiro de compota de pêssego. Juntou um pouco de sumo limão e um pouco de canela. Quando a maçã estava cozinhada, passou para a fase seguinte. 

O forno estava a aquecer a 200º. 

Forrou um tabuleiro com papel vegetal e pincelou com azeite. Em cima colocou a massa folhada fresca que comprámos no supermercado, com formato rectangular. Encheu com a fruta cozinhada em compota. Foi ao forno que, entretanto baixou para 170º

Só depois se lembrou que, supostamente, era para levar amêndoa torrada aos bocadinhos. Poderia remediar-se mas já estava farto, não quis pôr. Mas estava bom na mesma. Serviu-se com gelado de limão. Aqui não foi especialmente apreciado, disseram que teriam preferido de baunilha ou natas. Fica para a próxima.

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E pronto, não sei que mais vos conte. Só se for o lanche. 

O almoço acabou já depois das 3 da tarde. Depois ainda houve jogos de cartas e outro de que não me lembro o nome mas que me fez rir até às lágrimas. Depois, parte deles, na verdade todo o sector masculino menos o avô (incluindo o mais novo de sete anos), como a tarde estava de assar, resolveram ir fazer um passeio de bicicleta. São doidos. Saíram todos de capacete, parecia a volta a Portugal, tudo em fila de pirilau a encher a estrada. Depois, passado um bocado, vieram deixar o mais novo em casa (furioso, a achar-se discriminado) mais o guarda-redes mais velho que não queria perder o jogo do Sporting, e continuaram para um passeio mais puxado. Regressaram passada uma hora, completamente afogueados. E claro que o desporto não se ficou por aí pois ainda houve partida de vólei. 

Banhos tomados, hora do lanche. Que ainda não estavam com muita fome, que se calhar não era preciso nada de especial.

Pois... Como se já não os conhecesse...

Fiz batido de leite e fruta para uns

Fiz batido de kéfir com latte dourado para outros

Uma das comensais comeu iogurte natural com salada de fruta.

Quase todos comeram salada de fruta.

Depois tostas (fatias de pão-de-forma de Rio Maior, tostadas) com queijo fresco e presunto e outras com tomate.

Depois tostas com fatias de queijo e o doce de gamboa.

E, no fim, estando o lanche terminado, para meu espanto, um dos meninos veio ter comigo e perguntou se não havia mais e se não podia comer uma sandwich ou qualquer coisa que o enchesse mais.

Fui então buscar uma carcaça, enfiei-lhe lá um bife do pojadouro (do que tinha sobrado do almoço), pus um pouco de ketchup e como piada, juntei, lá dentro, batatas fritas. Chamou-lhe um figo, claro.

Talvez fossem já umas sete ou mais da tarde, nem sei bem.

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E agora é que já não sei mais que vos diga. Só se for para vos desejar um feliz dia de domingo.

sábado, agosto 03, 2024

Depois dos caranguejos chegam os leões. Tempo de festas e pré-festas.
Isto na companhia de um cão e... de um rato...
Uma selva...

 

Por estas bandas, leões são também muitos. E como os há a irem de férias, fazem-se já as pré-comemorações. Depois se farão as comemorações. Hoje uma das leoas tentava fazer a contabilidade às vezes em que já estivemos juntos esta semana, uma das quais comemorando aniversários de caranguejos que já tinham festejado parcialmente mas não em conjunto. 

Estivemos até às dez da noite (ou mais?, não sei) até porque alguns ainda tinham muito que fazer antes de amanhã saírem para férias. Não cantámos os parabéns a você, claro, pois parabéns podem dar-se e festejar-se depois mas, ao que parece, não antes. Mas estivemos felizes da vida, à volta da mesa e à conversa.

Mas estou com muito sono. Deito-me sempre tarde pensando que compenso dormindo até mais tarde. Pois às sete da manhã, o telefone: alarme in heaven. Vistas as imagens, conclui-se que foi um insectozão a passar em frente da câmara. Mas espertei.

Passado um bocado, o meu marido levantou-se, foi passear com o cão. 

Estava agendada a vinda de um técnico da e-redes. Pelo horário referido, intuí que deveria vir lá para as nove e tal. Pensei que, antes disso, o meu marido regressaria. Portanto, com a pancada de sono com que estava, poderia eu dormir mais um pouco. Qual quê? Passado um bocado, a campainha da porta. Era o homem. Tive que me levantar à pressão e ir ter com o senhor. Ou seja, sono para que te quero? Devo ter dormido quatro horas e tal. 

Depois, quando cá estão todos, desperto. O pior é quando se vão embora. Sento-me no sofá e tenho que travar uma luta para não adormecer instantaneamente.

Nisto, noto o peso da idade. Dantes aguentava-me em forma, a trabalhar na maior, mesmo pouco dormindo durante dias e dias a fio e sujeita a pressões de todo o lado. Agora está bem, está... Os meus meninos têm uma energia inesgotável, saltam, correm, brincam horas a fio. Os rapazes já tinham estado de manhã a jogar à bola (rapazes dos sete aos quarenta anos) até chegarem a casa imundos e de tarde continuavam como se estivessem frescos e descansados. Esta energia permanente e esta capacidade de instantaneamente a reporem só pode ter a ver com a juventude. 

Tirando isso, devo ainda aqui deixar registo de um outro facto. Estávamos a jantar no terraço pois é onde geralmente preferimos estar. A mesa está colocada debaixo de um telheiro. Essa área tem um desnível. Na parte mais baixa está um sofá grande com zona de chaise-longue e cadeiras e cadeirões. E, por detrás, está uma vedação de treliça. Atrás dessa vedação há uma sebe alta. E, por detrás, um muro alto que separa da casa ao lado. Pois, muito bem. Eu não vi mas vários dos presentes viram: um rato a passear nesse muro. 

E volta e meia anda lá um gato. Mas, pelos vistos, não intimida o rato. Nem se intimida com o barulho de tanta gente ali tão perto. Claro que o cãobeludo, mal dá por ele, põe-se logo em guarda, a olhar muito sério. No outro dia, fez-lhe uma perseguição que vi jeito de haver ali uma chacina. Mas o rato não se torce nem se amolga. Pelos vistos acha que também é um pet da família.

Sinceramente, já não me incomodo nada, já sei que o rato deve morar ali para trás pois volta e meia dá as caras. Mas nem todos reagem tão indiferentemente. O meu marido diz que vamos ter que tomar providências. Não percebo porquê, pois o ratinho não faz mal nenhum. O meu marido diz que qualquer dia entra para casa e depois sempre quer ver o que fazemos.

Cenas.

Ah, é verdade. O meu marido tem andado a arrancar ervas do lado da horta (aliás, ex-horta, pois não a mantivemos e ela soçobrou) e veio de lá com dois marmelos grandes. E diz que há mais. Não sei como mas a verdade é que eu não tinha dado por eles. Mas fiquei com vontade de fazer marmelada (literalmente falando) mas o diabo é o pormenor do açúcar. Não sei se ficará boa se não se puser açúcar. Claro que poderei pôr mel, mas o mel tem açúcar na mesma. E já não bastam os bolos dos anos, os biscoitinhos que vão trazendo e que cá ficam..., a fruta... Como posso perder os quatro quilos que ando a perseguir há séculos e eles a correrem à minha frente...?

Bem.

Nada mais tendo a acrescentar, vou limitar-me a partilhar um vídeo que gostei muito de ver, muito inspirador.

Inside Cath Kidston’s Art-Filled Notting Hill Terrace | Design Notes

The house is nestled away and backs onto a large private garden square with views of a forest of old London plane trees filled with flocks of parakeets. “I have a theory that it takes seven years for a house to feel really lived in, and I feel very settled in here,” insists Kidston


Dias felizes

terça-feira, julho 23, 2024

A relatividade dos pesadelos

 

Tinha a ideia antiga de visitar a Tailândia, adentrar-me por florestas, descobrir antigos monumentos quase devorados pela natureza, maravilhar-me com tudo o que encontrasse por lá. 

Combinei com um grupo de amigos. O meu marido não estava receptivo. Países com culturas muito diferentes da nossa e em que os tipos de exigências que, para nós são essenciais mas que para os locais pouca relevância têm, não lhe dão confiança. 

Contudo, os nossos amigos ajudaram-me a convencê-lo. Lá fomos.

Os amigos, habituados a viajar por destinos longínquos, marcaram tudo e, por isso, nem nos ocorreu pedir detalhes. Confiámos.

Contudo, quando lá chegámos, constatei que os quartos não tinham casa de banho privativa. Ora, para mim, isso é uma definitiva bandeira encarnada. Por isso, fiquei incomodada e com vontade de arrepiar caminho. Mas, claro, tarde demais.

À noite, aflita, não houve remédio: tive que me pôr na fila para as casas de banho junto à entrada do hotel. Uma fila enorme. As pessoas que, entretanto, saíam da casa de banho vinham com ar enojado, a dizerem que aquelas instalações não estavam em condições. Mas não aparecia ninguém a limpar. Eu não conseguia conceber ir usar uma casa de banho suja mas não estava a ver alternativa. Uma terrível sensação de nojo.

Mais tarde, fui até à praia. O meu marido não quis ir, disse que aquelas praias não prestavam para nada, e ficou a ler no quarto. Fui na mesma. Quando lá estava com alguns dos amigos, vimos pessoas a chegar à beira de água como se viessem a nadar de longe, vestidas. Perguntei aos que estavam comigo se seriam migrantes. Disseram-me que sim, que era normal, que não me afligisse, que apareceria alguém a ajudar. Fui a correr, parecia que aquelas pessoas precisavam de ajuda e não consegui ignorá-lo. E uma senhora, em particular, pareceu-me muito mal e tive a maior dificuldade em puxá-la, ajudá-la.

E foi isto que contei aos meus netos, ao almoço, enquanto estávamos, por mero acaso, a comer comida tailandesa. Um deles está quase a fazer anos e, antes, tínhamos ido com ele para escolher roupa a seu gosto. Depois, para o almoço, foi ele que sugeriu que trouxéssemos comida tailandesa para casa, para todos.

Ora, ao acordar, eu tinha contado ao meu marido o pesadelo que tinha tido, que me tinha feito acordar algumas vezes. Então, ao almoço, a propósito da coincidência de estarmos a comer comida tailandesa, ele disse-me: 'Conta-lhes o teu pesadelo desta noite.'

Contei. Quando acabei, todos a comermos noodles com carne ou com camarões, eu com tofu, etc, olharam para mim e perguntaram: 'Mais nada...? Foi só isso?'

'Foi. Não foi horrível?'. Eles olhavam-me com alguma condescendência: 'Não...' 

E cada um disse: 'Os meus pesadelos são muito piores...', ou  'Eu sonho que tenho um monstro debaixo da minha cama, pronto para me atacar'. Outro: 'Também, sonho que vou ser atacado...' O meu marido disse: 'Isso é dos jogos e das séries que veem'. Concordaram mas isso não tirava a intensidade do susto que apanhavam.

E eu que estava ainda incomodada com o meu horrível pesadelo pensei -- uma vez mais, pensei -- que é tudo relativo. 

Tive muita vontade de lhes dizer que deixassem a parte das casas de banho, que tanto me tinha incomodado, mas que pensassem como é horrível os migrantes que vão em procura de uma vida melhor, arriscando a própria vida, e como é horrível isso já ser tão normal que já ninguém presta atenção. Mas os miúdos, contentes a comerem os seus noodles com ingredientes e molhos à escolha e para quem os pesadelos piores são os dos monstros que temem que se escondam nos seus quartos, estariam receptivos a um tema destes? 

Por não me parecer ser o momento adequado, passei adiante. Mas fiquei na dúvida.

Aliás, tenho cada vez mais dúvidas. O mundo é um daqueles espaços topológicos sem forma, sem contornos, em que as leis que os regem são voláteis. Um espaço assim é apelativo em termos ficcionais mas um pesadelo em termos reais.

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Entretanto, agora estou a ver televisão enquanto escrevo. Kamala Harris está em campo (e que diferença faz a sua genica...) e, por todos os motivos, desejo, muito sinceramente, que seja a próxima presidente dos Estados Unidos. Acredito que será. Há muitos americanos que são broncos até à quinta casa. Mas há muitos mais que o não são.

domingo, março 10, 2024

Dia de não-reflexão... Antes, dia de sentimentos profundos

 

Dia efectivamente mais calmo. E muito bom. Almoçámos juntos num restaurante familiar, muito agradável, com comidinha boa. Comi um prato de que gosto imenso e que já não papava há que tempos: pescadinhas fritas de rabo na boca com arroz de tomate. Que bem me soube. 

Depois fizemos um pequeno passeio a pé que teve que ser encurtado pois desatou  a chover e... imagine-se: tínhamo-nos todos esquecido dos chapéus de chuva no restaurante. Portanto, voltámos lá e seguimos para casa do meu filho.

Os rapazes jogaram futebol na PlayStation e depois futebol a sério no corredor com uma bola mole (sendo que, aqui, já não foram só os rapazes pequenos que se digladiaram com o esférico como pretexto). Entretanto, a minha filha tinha ido comprar cenas com a sobrinha que, quando chegou, vinha radiante: um gloss com sabor a cereja, um gloss que refresca e faz efeito de plump up (ou lá como se chama) nos lábios e, ainda, um rímel transparente. 

E ainda houve lanche: a minha filha tinha levado uns biscoitos e a minha nora fez um delicioso bolo de laranja.

E, da horta, ainda trouxemos couves e brócolos que este domingo já marcharão com bacalhau com batatas. 

Portanto, uma tarde daquelas de que eu estava completamente a precisar. Cheguei a casa muito retemperada, mais leve, a cabeça mais descansada. E a caminhada feita depois, com o dog, ao frio e à chuva, só fez ainda melhor. 

Não reflecti nada a nível de eleições pois a minha decisão está tomada ab initio. Só espero é que a malta vá votar e, já agora, que vote com a cabeça e não com os pés.

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Entretanto, enquanto vejo a votação para o Festival da Canção (em que a Filomena Cautela ou está grávida ou está atrapalhada dos intestinos pois não tira a mão da barriga), vou partilhar um vídeo que vi há pouco e que me agradou bastante. Calma, tranquilidade, amor à natureza.

Feeling deeply

That’s what the world tells us. There's been a movement to watch our thoughts and feelings, making sure that we're positive at all times. We receive messages that we must shift these ‘bad’ feelings and find better ones. But when we do this, we close down and shut off parts of ourselves, suppressing the fullness of our emotions. To feel whole and be whole, we must honour all of it - good and bad.  All emotions are beautiful and create a fullness and wholeness in our experience.  

They are powerful forces that our bodies can use as fuel for action and healing. Our thoughts create reality, not the other way around. So when our reality doesn't look the way we want it to and brings up emotions that are unpleasant to us, that is the message we are being given to start building a bridge between what is and what can be. 

Taking time to be aware of our reactions, thoughts and emotions will bring us into a space of clarity and balance where we can make informed decisions guided and supported by our soul... decisions that will usher in release and healing for ourselves and all of life around us.

Featuring Phoebe Barnard (www.phoebebarnard.com)

Filmed in Mount Vernon, Washington State, USA.

The poem read at the start of this film is called 'The Peace of Wild Things' - by Wendell Berry.


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Um belo dia de domingo

Saúde. Boa sorte. Paz.

terça-feira, fevereiro 13, 2024

Uma Kodak Six-20 'Brownie' C. Uma tarde em família (e uma fotografia, com parte da maltinha carnavalescamente disfarçada, para o atestar). Um cartão algo misterioso. A natureza a renovar-se.

 

A malta jovem combinou juntar-se para jogar basket e perguntaram se não queríamos ir ter com eles. Claro que fomos. Estava um sol tímido mas foi bom estar em família. As crianças estão de férias e os adultos nem todos mas conseguiram organizar-se para que a tarde fosse uma maravilha. 

O meu marido, os meus filhos, os meus netos.
Todos carnavalescamente mascarados.
(Todos, salvo seja... O cão não está disfarçado...)

Depois o lanche foi numa esplanada e é sempre um espanto ver a energia com que se atiram ao que vem para a mesa. 

Depois eles continuaram juntos, umas às compras, outros para o barbeiro, e, finalmente, jantando juntos. Chamaram-nos para já não deu. É que, depois do lanche, nós dois regressámos a casa e eu, como vem sendo hábito, vim arrumar algumas das coisas que tinha trazido de casa da minha mãe. E é muito cansativo pois para nada há um lugar disponível à espera de ser ocupado. Pelo contrário, há que reorganizar, mudar de sítio o que já estava instalado. Não quero ficar com muito bibelot, não quero ficar com a casa atravancada, não quero descaracterizar a minha casa. Mas também não quero colocar as coisas da minha mãe em lugares pouco dignos. Portanto, há aqui um jogo de equilíbrio que não é fácil.

Por exemplo, no outro dia trouxe uma mesinha de apoio redonda, pequenina, com uma gavetinha. Um movelzinho delicado, elegante, em raiz de nogueira. Pareceu-me que ficaria muito bem numa parece do hall em que há um quadro e um candeeiro de pé alto, com uma luz relativamente fraca, amarela, que apoia na iluminação da entrada e da circulação e que está apontado para o quadro. Ou seja, dá uma luz indirecta muito agradável. Portanto, pensei que, ali, uma mesinha mínima ficaria bem. Pois bem. O meu marido que embirra com tudo o que é inútil não descansou enquanto não me convenceu a tirá-la dali. Não só dizia que a mesa não estava ali a fazer nada como ficava despropositada. 

Acabei por pô-la ao lado de um cadeirão, num sítio em que mal se vê. Pelo menos assim não embirra com ela. Mas quase que, para cada coisa, é um exercício de imaginação e equilíbrio.

Depois fomos caminhar, eo muito cansada. Quando o meu filho nos desafiou para nos irmos juntar a eles já não deu.

No meio de um conjunto de papelada -- que me forcei a ver toda para conferir o que poderia deitar fora sem receio de me desfazer de alguma coisa importante --, descobri um cartão de uma empresa de consultoria em marketing e gestão e, no verso, dirigido ao meu pai umas palavras muito lisonjeadoras. 

Como no cartão estava, por extenso, o nome da pessoa que o escreveu, uma consultora, estive a googlar. É uma consultora brasileira, tem agora uma empresa sua no Brasil, tem livros publicados. Fiquei agradada mas intrigada ao ler o que ela escreveu ao meu pai. (No cartão, apaguei o nome do meu pai, a quem ela se dirige, bem como apaguei o nome dela, ao assinar-se, na vertical, de lado). Qual dos dois, o meu pai ou a minha mãe, guardou, e bem escondido, este cartão? Mistério...

No domingo, lá em casa dos meus pais, a minha filha descobriu as máquinas fotográficas do meu pai, em particular uma antiquíssima que eu julgava desaparecida, uma velha Kodak. O estojo já completamente acabado.

O meu pai tirava imensas fotografias. Andava sempre com a sua Kodak. Lembro-me bem de ser bem pequena e de estar a ser fotografada por ele.

Mais tarde, substituiu-a por uma mais moderna. Tenho ideia de que a minha filha também a guardou. Mas hoje não a encontrei. Tenho que procurar melhor.

Tirando isso, antes de almoço apanhei as últimas três laranjas. Doces e sumarentas.

E encantei-me com o jasmim amarelo já a começar a florir. 


E a chuva de finos ramos do chorão, agora nus, começam a querer pintar-se de verde. Um prodígio de delicadeza e beleza.


A Primavera aproxima-se. A vida renasce. A vida reinventa-se. É da natureza. É a lei da vida, dizem. 

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Uma boa terça-feira

Saúde. Alegria e esperança. Paz.

segunda-feira, janeiro 22, 2024

Em dia de sol e família
acabo na companhia da Sharon Stone e de Rothko

 

A família tenta que eu não fique tão exclusivamente focada no problema que nos toca a todos. Não há quem não tente pôr-me racionalidade na cabeça. Compreendo-os mas há coisas que não resultam apenas da nossa vontade. O meu marido, para além disso, quase me empurra à força para a psicóloga. Mas eu, nesta fase, não tenho disponibilidade de qualquer espécie pelo que não vou já agendar nada; mas acredito que, mais tarde, talvez agende umas sessões.

Mas não estou passada de todo pelo que, pelos meus próprios meios, estou a tentar continuar a viver com a normalidade possível. 

[A minha filha disse que quando, no final do ano (ou no início deste?) fiz o balanço de 2023 só falei das coisas negativas, esquecendo-me de todos os bons momentos, do muito que escrevi, de todas as muitas vezes em que estivemos juntos, etc. Disse-me também que nem pareço eu pois eu, tal como era, não reagiria como estou a reagir. E o meu filho, no outro dia, disse-me que não posso esquecer-me que tenho filhos e netos. E disse-me que parece que envelheci trinta anos. E eu, ouvindo-os, reconheço que têm razão em tudo o que dizem.]

Então, fomos todos almoçar fora, passeámos à beira rio, os meninos estiveram e brincaram juntos e eu senti-me feliz. Claro que há sempre aquela sombra, aquela preocupação, aquela angústia que me aperta as entranhas. Mas vê-los contentes, conversadores, estando com eles e deixando-me contagiar pela alegria buliçosa das crianças, sinto-me melhor e, de vez em quando, consigo mesmo abstrair-me do que se passa.

É que, por muito que nos custe assistir, de perto, diria até que por dentro, a uma situação como aquela que atravessamos, a vida continua. 

E os meus netos são bem a prova viva disso. E são também, só por si, um motivo de felicidade absoluta, tal como o são os meus filhos.

Portanto, apesar dos pesares, este domingo foi um dia feliz, luminoso.

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E agora, para que não venham outra vez dizer que parece que não sou capaz de falar de outra coisa, deixem que partilhe convosco dois vídeos muito interessantes. Pode até parecer heresia juntar a Sharon Stone e o Rothko mas eu sou herege. Nada a fazer.

[Os textos abaixo são traduções google dos textos que acompanham os vídeos]

Sharon Stone, artista

Quando era estudante universitária, Sharon Stone viveu a vida de uma artista faminta, vendendo as suas pinturas por US$ 25 cada. Hoje, a atriz nomeada para um Oscar voltou ao seu amor pela pintura, com as suas obras a ser vendidas na casa das dezenas de milhares. Já teve duas exposições em galerias nos EUA, com uma terceira prestes a ser inaugurada em Berlim. O correspondente Lee Cowan visita Stone no seu estúdio em Los Angeles e observa-a a criar um novo trabalho.


Mark Rothko -- visita privada à exposição na Fundação Louis Vuitton

As obras abstratas… Sim, mas não só. Mark Rothko defendeu-se afirmando que a sua pintura estava viva. Demonstração aqui na Fondation Vuitton, com esta magistral exposição, a maior do mundo dedicada a ele. 115 obras-primas em formatos absolutamente monumentais que estão disponíveis nos 4 andares da instituição parisiense. Diante desta paleta XXL, é difícil não nos sentirmos absorvidos por essas cores difusas, quase hipnóticas, que exercem sobre nós esse misterioso poder de fascínio. À distância, massas perfeitamente equilibradas, com geometria difusa. De perto, um nevoeiro difuso que nos absorve. Dê um passo para trás. A obra não é mais o que você via no início. Nosso olhar muda, decifra, sente.
Exposição Mark Rothko  --  Fundação Louis Vuitton, Paris  -- Até 2 de abril de 2024
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As fotografias foram feitas no domingo no Parque das Nações

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Ânimo. Paz.

domingo, janeiro 21, 2024

Ondas, defesas, tostas, boa companhia, passeio ao arzinho frio, boas notícias e danças na rua

 

Face às circunstâncias da véspera, a noite passada dormi muito mal. Só adormeci de madrugada. Como tinha posto o despertador, acabei por dormir muito pouco. 

Mas a causa era boa e, quando a vontade é muita, o sono e o desgaste emocional passam para secundaríssimo plano. 

Fomos a um lugar onde já não íamos há algum tempo e que é daqueles lugares onde não me importava nada de ter uma casa. Aliás, há uns anos, foi coisa que foi equacionada. Muito bonito. Uma mistura de natureza e de vilarejo bem cuidado, um local simultaneamente de turismo e de tradições.

Um dos nossos intrépidos guarda-redes tinha lá um desafio de futebol e a família foi apoiá-lo. Para mim foi bom pois estou a precisar de me distrair, de espairecer. Gostei muito. Bons ares, boas ondas (metafórica e literalmente falando), boas tostas, e, ainda por cima, umas boas defesas.

Pelo meio, notícias que, de tão boas, soaram a inacreditáveis. 

De volta a Lisboa, fomos lá. Estava de facto melhor, felizmente, mas não como tinham descrito. Afinal tinham-se enganado. Está lá há uma semana e o enfermeiro baralhou-se. Mas, ainda assim, de facto, muito melhor do que de véspera.

É aquela velha máxima, para mim recente: um dia de cada vez. Um dia assim, outro assado, num dia as perspectivas são umas, no dia seguinte isso passou à história.

A minha prima, quando eu lhe disse que a minha mãe estava melhor, corrigiu: foi um dia melhor. A enfermeira depois disse a mesma coisa. É assim. Seja como for vim de lá mais contente. E, assim sendo, provavelmente vou conseguir dormir bem. Altos e baixos em roda livre, aleatoriamente.

Uma vez que o programa não era compatível, o cãobeludo teve que ficar em casa. Por isso, passou o dia sozinho, no jardim. Chegámos de noite e, como sempre, ao ver-nos, manteve-se encolhido, receoso. Fui ao pé dele: 'Tão bonito. Ficou a tomar conta da casa. Portou-se muito bem.' e ele, no chão, a dar ao rabinho, a pôr-se de lado, a abrir a perna, a querer festas na barriga. E eu a fazer-lhe festas: 'Foi muito lindo, sim senhor, a dona está contente.'. Então, vendo que não estava de castigo, levanta-se numa alegria, desata aos saltos, a correr, numa alegria desmedida. A seguir, fomos passear com ele, uma boa caminhada, sob o frio cortante da noite.

E, para o jantar, o resto da pizza familiar trazida ontem, acompanhada por salada. Bem bom.

Entretanto, como sempre faço quando me apetece descansar a mente, estive a ver vídeos e apareceu-me o que agora partilho em que, como sempre, me admiro com a espontaneidade de quem é apanhado, do nada, no meio da rua e se predispõe a fazer o que a Thoraya lhes propõe. Desta vez não é que contem segredos cabeludos ou outras coisas do além: desta vez é que dancem. E a malta dança. Espanto-me com a alegria, o ritmo, a espírito de festa com que a malta reage, apesar de estar a ser apanhada de surpresa

The most beautiful footage of strangers dancing in public


E que venha daí um belo dia deomingo
Saúde. Boa sorte. Paz.

sábado, dezembro 02, 2023

Contra as nuvens negras que ensombram os meus dias, nada como ter a família à mesa e ver a boa disposição de todos

 

O meu dia foi bom embora haja uma permanente nuvem a ensombrar-me. 

Dizem-me que parece que não estou bem e que nitidamente não estou a conseguir gerir esta situação. E que parece que ainda não percebi que, havendo gente competente a geri-la, tenho que confiar e aprender a desligar. Compreendo pois eu própria poderia dar esse conselho a pessoas que estivessem a viver o mesmo que eu. Mas há uma angústia que me estrangula. Os próprios meninos, que já compreendem o que se passa, me aconselham a aceitar que nem tudo está nas minhas mãos e que este é um dos casos em que eu não posso fazer mais do que faço.

Mas, enfim, não vale a pena continuar para aqui a chover no molhado. 

Demorei a começar a escrever pois não sabia do que falar a não ser disto. Estarei pirada, como a minha filha me diz? Estou passada como o meu marido me diz? Em loop como o meu filho me diz?

Se calhar.

Vou tentar falar de outra coisa. De como foi o meu dia.

De manhã, eu, o meu marido e o urso cabeludo, fomos passear para a praia. De lá trouxemos o almoço constituído sobretudo por sushi, coisa que os meninos muito apreciam. 

Do lado do meu filho estão a passar o fim de semana prolongado no Alentejo com cunhados e primos de um dos lados, quase trinta. Recebemos fotografias, um tocando viola, vários cantando, todos em volta de uma fogueira no exterior. Imagino os meus meninos, entre os muitos primos de um dos lados da mãe, todos felizes da vida. Antes de irem, o mano do meio foi ao barbeiro e ficou com um corte futebolístico, giraço. Na véspera, ele, a mana e a mãe tinham ido ver a Carolina Deslandes. A minha menina linda foi produzida à maneira, coquette até à décima casa. O mais novo ficou em casa com o pai.

Do lado da minha filha estiveram cá e, como disse acima, de tarde a minha filha esteve com a avó. Os rapazes jogaram basket, viram televisão e, em especial o mais velho, prometeu que logo estudava quando chegasse a casa. Como sempre, comeram como uns lobos deixando-me sempre perplexa com o fenómeno que é ingerirem brutais quantidades de comida e continuarem magros e esbeltos. Mesmo logo a seguir, quando se levantam da mesa, não se percebe para onde foi a comida pois não há vestígio de nada, um estômago mais proeminente, qualquer sinal de armazém repleto. Nada. Como treinam futebol quase todos os dias, já a sério, federados, e têm jogos e, no intervalo, jogam com os amigos ou praticam basquetebol, o corpo requer certamente a reposição de todas as calorias que o desporto lhes consome.

O mais novo, o dos doze, já está da minha altura ou um ou dois dedos mais que eu. E o mais velho, o de quinze, já está indecentemente mais alto que eu. E bonitos que dão gosto. E divertidos. 

E, pronto, é isto. 

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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Boa disposição. Paz.

quinta-feira, novembro 02, 2023

Sobre guarda-redes, sobre cozido à portuguesa e, para terminar, sobre miragens e milagres

 

Tenho a dizer que foi dia de almoço de família. Cozido à portuguesa. Contudo, como agora a família virou família de guarda-redes -- e eles são 3 (três!, três guarda-redes!) -- e já estão os três na competição, conseguirmos encontrar-nos durante a 'época' é coisa quase impossível. Hoje um teve jogo e dois tiveram treinos. Cada um à sua hora.

Claro que, também, cada um em seu sítio já que um não pertence ao mesmo clube que os outros dois e os outros dois, por serem de idades distintas, estão em equipas distintas.

Há ainda o quarto futebolista. Mas por só ter 6 anos, ainda está na formação (ie, não na competição). Portanto, coisa mais soft. Também não sei se virá a seguir as pegadas do mano e dos primos no que à guarda das redes se refere. Segundo o irmão, o Mister diz que ele tem um pontapé muito forte e que deve ficar noutra posição. O que quer que isto signifique.

Conclusão. Vieram uns, não conseguiram vir todos. Mas, para os que não vieram, preparei a devida marmita pois cozidinho à portuguesa feito em casa tem que ser partilhado com todos.

Tirando isso, pouco mais. Ou melhor, muito mais. Mas não me apetece agora falar disso.

Há ainda o tema da guerra Israel/Hamas em que tenho uma opinião que, à medida que mais vou sabendo e mais vou pensando, se vai tornando cada vez menos canónica. De tal forma que não me arrisco a dizê-la em voz alta.

É da matemática: as coisas bem formuladas são elegantes, simples e tem uma solução óbvia, de caras. Quando não são nada disto é porque (geralmente) estão mal formuladas.

E mais não digo -- até porque são duas e meia da manhã e já me dói a cabeça. Pode ser que me organize mentalmente para conseguir expor o meu pensamento sem deixar toda a gente que me lê de cabelos em pé.

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Para tentar compensar a pobreza franciscana do post e não podendo partilhar o cozido, junto este vídeo 

Adrien M & Claire B - Mirages & miracles


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Desejo-vos uma boa quinta-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, outubro 02, 2023

Um domingo bom e dedicado a limpezas com uma tarde afável e feliz.

[E Joan Baez revela segredos, um dos quais bem pesado]

 

O que esta casa se suja, apesar de estar fechada, não dá para explicar. Tudo fechado, tudo, tudo bem fechadinho. Antes de sairmos, tudo limpinho. E chego lá, e não sei como, vejo teias de aranha nuns cantinhos, afasto os sofás e vejo pó ou, quando enfio a vassoura por debaixo dos móveis, constato que saem rolos de cotão. Posso fechar os olhos, fazer de conta que não vejo. Se estou cansada demais ou com pressa é isso que faço. Fica para a próxima, digo. Mas nunca saio sem limpar, pelo menos, a maior.

Hoje tinha tempo, foi a preceito, tapetes não apenas bem varridos mas bastamente sacudidos, sem esquecer de afastar tudo o que havia para afastar, tudo, tudo. Se há coisa de que gosto de fazer é isso. Parece que o ar depois fica mais limpo. Ou, então, é psicológico. Mas, seja o que for, é bom na mesma.

E, no entanto, há menos de quinze dias tinha deixado a casa limpa. 

Não sei se é por haver um cão em casa, se é por trazer paus que se entretém a roer como se fossem ossos, se é por trazer tojo seco agarrado ao pelo. Não sei. Creio que não pois quando saio a casa fica limpa. 

E, se eu estive dedicada aos interiores, o meu marido andou de volta das árvores. Depois de anos e anos a lutar por cada pé de árvore, agora estou outra. Percebi que quando há ajuntamento de pés, nenhuma árvore se desenvolve muito e há pés que ficam infelizes e esquálidos. Era minha ideia que a natureza era sagrada e que isso tinha que ser levado à letra. Mudei. Agora acho que devemos ajudá-la, fazendo a misericórdia de eliminar o que não está fadado a vingar. Leio-me ao escrever e sinto-me cruel. Mas não estou a falar do reino animal, apenas do vegetal.

Por isso, alguns aglomerados de pés de aroeiras e de azinheiras, justamente os que estão em frente das janelas da sala da televisão e da sala do lado, foram hoje aligeirados. Ele teve uma trabalheira a serrar aquilo tudo, a cortar aos bocados, a transportar ramagens e troncos.

Mas fica muito melhor, mais desafogado, uma visão mais ampla. Gosto muito mais. Quando me ouve a louvar a nova vista, o meu marido limita-se a dizer: 'Há anos... há anos que ando a querer fazer isto...'

Tenho constatado que, neste tipo de coisas, sou lenta, custo a perceber.

Deixo para fim uma mágoa, uma mágoa gigante. Estou quase certa que os esquilos debandaram. Aquela semana de máquinas a serrar ramos pelas árvores acima e de outras a desbastar mato devem tê-los assustado e muito. E, de facto, como não...? Eu tinha era esperança que, susto passado, regressassem. Mas, pelos vistos não.

O que fizemos tinha que ser feito e reconheço que há agora uma maior segurança (contra incêndios, por exemplo) e, apesar de tudo, não menos beleza. Mas afugentarmos os esquilos é daquelas que para sempre me ficará como uma grande pena. Voltei a deixar a banheira de quando os meninos eram bebés com água e à sombra. Mas não sei se, onde estão, os esquilos vão adivinhar que ali pus a água.

Tomara, tomara que sim. Vê-los, ou simplesmente sabê-los, nas árvores enchia-me de felicidade.

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Entretanto, de tarde, casa cheia. 

A alegria, o bom apetite de todos... e o que as crianças estão a crescer... Estão naquela idade em que espigam como feijões mágicos. 

O mais crescido já quase um homem, com a sua personalidade cada vez mais definida, já sem a mesma apetência pelas brincadeiras dos demais. Não tarda será ela. Também já mais esguia, coquette, meiga, toda ela decidida nos seus objectivos. Seguem-se os dois que estão ainda a espreitar de longe a adolescência, um com onze e outro com doze, brincalhões, amigos, com os mesmos interesses. E, depois, o mais novo, seis anos cheios de filosofia. Para um projecto na escola sugeriu como tema: 'Porque é que há seres humanos'. A professora chutou para canto, claro. Numa sala de 1º ano, como trabalhariam o tema durante todo um ano lectivo? Ele ficou decepcionado, bem entendido. Menino mais fofo (e mais terrivelzinho...)

Enfim, um encanto muito grande, um calorzinho bom no coração.

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Termino com um vídeo com uma pessoa de quem gosto bastante, Joan Baez. Não apenas fala da sua vida como faz uma revelação terrível. O que me espanta é como quem sofre abusos sexuais em criança consegue arrumar isso num canto da sua mente e fazer uma vida normal. Dir-se-ia que as vítimas ficariam com traumas tão avassaladores que não conseguiriam livrar-se dessa devastação. Mas conseguem. E, até por isso, temos que estar todos bem atentos a todos os mais ínfimos e subtis sinais pois, como se sabe, quer os abusadores quer as vítimas ocultam tudo bem ocultado.

Mas, para além disso, há a voz e a forma maviosa como Joan Baez interpreta o que canta.

Joan Baez, revealing secrets

In a new documentary, "Joan Baez I Am a Noise," which features the singer-activist's personal archive of home movies, letters and drawings, the Rock & Roll Hall of Famer opens up about her 60-year career and her life on the front lines of social change. Baez talks with correspondent Tracy Smith about the film and the surprising secrets she revealed; how Bob Dylan broke her heart; and how she expresses her less serious side.


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Desejo-vos uma semana feliz a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Amor. Paz.

sexta-feira, setembro 15, 2023

Passarinhos (uns esvoaçantes e outros cagões), uma arvorezinha despistada, e eu sem saber como, dentro de água, me manter direita como um fuso enquanto bato pernas e braços

 



Uma amiga disse que tinha uma árvore e mostrou-a de bonita que era. Pelo nome, antevi que cheirasse muito bem. Ofereceu-se para me arranjar uma. Agradeci.

Quando a recebi, linda, não percebi a razão do nome que tinha. Pelo que dizia no vaso, o ilustre nome em latim, percebi que ela estava equivocada. Não era o que ela dizia, era outra, porventura não tão carismática mas mais mimosa, mais bonita.

Está plantada no meu jardim e já deu florzinhas desde que ali está. Tomara que vingue e se faça linda. Para sempre ficará como a ilustração de como é essa minha amiga, generosa, alegre... e um tudo-nada um bocadinho despistada.

Há bocado, ao fim da tarde, fui ver se um mini-sistema de rega estava ligado. Ao aproximar-me, levantaram-se do chão dezenas de passarinhos. Ao vê-los a elevarem-se e, depois, a voarem, pareceu um bando. Fiquei contente por estarem ali no meu jardim. Fico feliz quando vejo que os animais, sejam quais forem, gostam de estar no espaço que habito, admito que seja porque reconhecem que aqui há um respeito absoluto pela natureza.

No entanto, há um mas. Todos os dias de manhã, no terraço, debaixo do alpendre, sempre no mesmo sítio, aparece um grande cocó de pássaro.  Não percebemos onde está o pássaro quando ali vai fazer as suas necessidades. O ninho fica longe, não há onde se apoie e, digo eu, não é provável que faça cocó suspenso no ar, sempre no mesmo sítio. O meu marido fica furioso.

E, por falar em estar suspenso, creio que já referi que optei por outra modalidade de ginástica na piscina, agora em suspenso, sem pé. É mais puxado, cansa um bocado. Mas tal como tive grandes dificuldades quando comecei na outra, dificuldades ao nível da coordenação, agora estou a enfrentar outra complexidade. Ao passo que os meus colegas estão direitinhos como um fuso, na vertical, fazendo todos os exercícios sem sair do mesmo lugar, comigo é uma festa. Passeio pela piscina. Por exemplo, se o exercício for fazer movimentos de abrir e fechar as pernas, isto na vertical e sem pé, relembro, e ao mesmo tempo, com os braços abertos, fazer movimentos circulares de levantar a água, para fortalecer os músculos dos braços, faço tudo mas os movimentos que faço levam-se a deslocar-me. Por vezes vou parar à ponta da piscina. Enquanto os outros estão a fazer um exercício, estou eu a nadar para me reposicionar. Outras vezes tenho que parar para não atropelar os outros que ali estão, verticais e aprumados. Já perguntei a vários deles, incluindo ao professor, qual o truque para não andar de um lado para o outro. Não sabem dizer. Descansam-me, dizem que com o tempo vou conseguir, que é intuitivo. Ora isto é desconhecer que isto é física pura, estamos perante uma questão vectorial, de forças e impulsos. Presumo que tenha que me inclinar um pouco para trás ou para a frente ou fazer qualquer outra coisa. Mas ainda não percebi o quê.

Tirando isso, posso ainda contar que ao jogar ao disco com a minha neta, com receio de atirar para longe, atirava curto demais. 

Ela ficava sempre admirada: 'Mas o que foi isso...? Daqui a nada vou dar-te uma aula de musculação...'. E eu disse que sim, estava curiosa. Mas, afinal, esquecemo-nos. Não faz mal, fica para a próxima.

Resumindo: foi um dia bom.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Alegria e simplicidade. Paz.

segunda-feira, julho 03, 2023

Um dia preenchido e feliz
(com uma peça de teatro pelo meio e uma menina muito segura em palco).

E uma casa que muda com as marés

 

Afinal o meu marido não escreveu sobre o SNS... De manhã saímos para irmos assistir à peça de teatro em que entrava a nossa linda menina. E devo dizer que tem um à vontade em palco que me deixou de boca aberta. Quer a postura corporal quer as expressões e a forma como fala, bem como a segurança nos textos deixaram-me um pouco admirada pois, ao contrário dos irmãos e dos primos (e aqui refiro-me aos que são meus netos, pois, para além destes, têm mais quatro primos) que são totalmente desinibidos e onde chegam conversam logo com toda a gente, ela é mais tímida. Mas em palco está completamente à vontade. E mesmo quando tinha que dançar, dançou tão ou mais animadamente do que quando está em família.

Quando saiu tinha a família à espera. Vinha um pouco a vogar, como é natural depois da adrenalina em palco. E vinha feliz. Pois claro, com tanto aplauso e tanto carinho, não haveria de estar...? Mas vinha também transpirada, tal o calor que lá estava.

Estava muito calor cá fora e lá dentro.

Ainda assim, aproveitámos estarmos naquele sítio para darmos um pequeno passeio por ali, para conhecermos a evolução a nível urbanístico/paisagístico que foi significativa nestes últimos três anos. Mas íamos ficando assados, grelhados, fritos, cozidos, estufados, escalfados. Que calor brutal nesta Lisboa... Parece que estamos no norte de África.

Almoçámos num restaurante muito agradável onde antes do confinamento íamos muito. Foi bom voltar a comer a mesma comida, no mesmo fresco e amplo lugar, servidos pelas mesmas simpáticas pessoas que antes.

E depois também apanhámos trânsito.

E, quando chegámos, ainda fomos passear o dog que tinha ficado em casa.

Quando chegámos, ainda fui estufar carne.

E depois começou a chegar o pessoal das pilhas que duram, duram, duram... Não sei onde é que estes jovens (e alguns dos adultos...) arranjam energia para tanto exercício, tanta brincadeira. Se calhar, quando tinha a idade deles também eu a teria. Não sei. O que sei é que agora me espanto.

Para o lanche fizemos tostas e vou explicar como as fazemos, pois eles adoram-nas e pode ser que vos seja útil. Vamos com pratos cheios delas e, num ápice, desaparecem.

  • Tosto ao de leve fatias de pão, de preferência pão rústico ou de mistura (muitas fatias!)
  • Faço uma emulsão de tomate, assim: 

Num copo misturador ponho dois tomates grandes, bem maduros, cortados aos bocados, com pele. Junto uma pitada de sal, um pouco de orégãos. Com a varinha, trituro bem e depois vou juntando um fio de azeite enquanto continuo a mexer. Fica uma 'pomada' vermelha.

  • Numas tostas, com uma colher, ponho uma generosa colherada de emulsão de tomate por forma a cobrir com fartura cada fatia.
  • Por cima, 

- numas fatias, ponho queijo mozzarella fresco (desmancho as bolas com as mãos e espalho por cima do tomate), 

- noutras ponho uns bocados de queijo fresco de barrar com ervas, 

- e noutras ponho salmão fumado.

  • Hoje fizemos também um paté (que se revelou curto para a adesão que teve): 

num copo misturador pus uma lata inteira de sardinhas em conserva a que escorri parte do azeite. Juntei maionese e um pouco de vinagre balsâmico de Modena. Triturei até ficar uma papa macia. Espalhámos por fatias até onde deu.

  • No fim passo um leve fio de azeite por cima dos pratos e polvilho com orégãos.

Para acompanhamento por parte dos meninos: bongo. Alguns dos adultos, mini.

No fim comeram uma peça de fruta (pêssego, no caso) e comeram um gelado (sandwich de gelado).

E, como sempre, fiquei feliz por vê-los juntos, a conversarem, a brincarem, sempre na boa, sempre com bom apetite. Momentos abençoados.

Parte do pessoal saiu daqui para ir ainda apanhar a praia ao fim do dia e outros ficaram até à noite, tendo terminado o dia com sandes em bolo de caco de carne estufada.

Cheguei aqui ao sofá da sala por volta das dez e picos da noite. Como é bom de ver, não vi televisão nem li notícias. Mas estivemos a ver o documentário sobre o Grupo Wagner que, entretanto, com o que aconteceu há dias, está desactualizado pois termina dizendo que Putin nunca admitiu a ligação do Kremlin. Ora não apenas agora o admitiu como teceu comentários que ou são incongruentes ou ainda há muita ponta por onde puxar.

Mas, tirando isso, a essa hora, não tenho grande paciência para ouvir sobre a situação em França ou sobre as desgraças que rebentam do chão como cogumelos.

Por isso, enquanto não vou dormir (e acho que daqui a nada vou mesmo dormir porque a pestana não está a dar-me descanso), estive a ver uma casa fantástica. Durante muitos anos alimentei o sonho de um dia ter uma casa sobre as rochas, sobre o mar.

Passou-me. Agora não quereria. Com a subida das águas, ter uma casa em cima delas não é propriamente uma ideia muito segura. Mas, sobretudo, em famílias com muitas crianças e adolescentes, deve ser um pesadelo, sempre com medo que caiam à água. 

Provavelmente em Portugal, um projecto como o desta casa não seria aprovado. Tenho ideia que as nossas normas, transpostas das europeias, são mais restritivas, mais atentas à segurança. Mas, enfim, não sei.

Mas, pondo de lado essas preocupações, a casa é uma maravilha. Eu não usaria o tom rosa na decoração da forma como a dona da casa o usa mas isso é lá com ela.

Convido-vos a ver. Não está legendado mas as imagens falam por si.

The Alaska ‘Vanity House’ That Changes With the Tides | WSJ Mansion

Esta luxuosa propriedade à beira-mar no sudeste do Alasca, com piso de betão e uma cozinha rosa, custou US$ 2,07 milhões para ser construída e mobilada. A casa inclui uma parede de morango, uma cadeira flutuante que custa mais de US$ 3.000 e vista para o mar de todos as divisões.

A proprietária Kristi Linsenmayer descreve as alegrias e os desafios de construir uma casa personalizada sobre a água na zona rural de Ketchikan.


Desejo-vos uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Tranquilidade. Paz.

domingo, julho 02, 2023

Coisas do meu dia a dia e, ainda, a inteligência dos polvos

 

Entre obrigações familiares diversas, convívios estivais e tentativa de compatibilização com compras e tarefas domésticas, a minha ocupação tem sido total, não me chegando o tempo nem para agradecer comentários nem para aqui escrever muito, até porque chego a esta hora e estou KO.

Poderia falar dos meus pimentinhas, grandes, grandes, divertidos, bons alunos, comilões, transbordantes de energia. São uns amores, os meus amores lindos e muito queridos. Mas giro, giro seria mostrá-los, talvez numa de 'o ano passado' e 'agora'. O salto que deram é incrível. A ver se um dia destes os consigo apanhar sossegados e disponíveis para fazerem o que lhes peço e os fotografo de costas. Ou então, se calhar ainda é o melhor, convenço-os a irem para a janela onde a minha filha os filmou quando o blog chegou aos 5 milhões e a porem-se outra vez de máscara e óculos escuros, só para vos mostrar como estão muito mais crescidos (mas não mais ajuizados...).

Vendo-me aqui meio cansada e sem saber sobre o que escrever, o meu marido sugere-me que eu fale sobre o SNS, provavelmente dada a situação que vivi ontem ao acompanhar a minha mãe. Seria certamente um tema interessante mas estou com as pilhas a menos de 5% e, portanto, sei bem que a energia não chegaria para o esforço que o tema requereria, até porque não podem fazer-se leituras simplistas.

Pedi-lhe que escrevesse ele mas está de caminho para a cama. Pedi que, então, o faça amanhã de manhã. Este domingo vamos sair cedo de casa mas, como ele madruga, mesmo indo passear o urso cabeludo, talvez tenha tempo. Diz que acha que não. Portanto, não sei se sai texto sobre a nossa experiência com o SNS. Temo-la tido tal como a temos tido com o privado pelo que poderíamos fazer uma análise comparada. Mas tudo requer tempo...

Acresce que um grupo a que pertenço tem estado a publicar umas fotografias que são um desafio e, ao mesmo tempo, uma ternura. Ponho-me a vê-las... e depois constato que o tempo passa. A vida é uma coisa extraordinária.

Portanto, dadas todas as minhas limitativas circunstâncias, hoje vou ficar-me por um vídeo em que se prova como os polvos são tão inteligentes. E o que tenho a dizer sobre o tema é que, desde que os sei assim, parece que já nem tenho vontade de os comer. E estou a falar a sério.

How clever is an octopus, really?

Nas profundezas de nossos mares vive uma estranha criatura com dois olhos enormes, um corpo macio e sem ossos, nove cérebros, três corações, oito pernas e um bico duplo dilacerado.

Mais do que apenas um molusco, o polvo é provavelmente um dos seres mais inteligentes do planeta.

Mas quão inteligente é isso?

Há dez anos, Antonio Cribeiro e sua equipe estudam o comportamento dos polvos para tentar responder a essa pergunta.


Desejo-vos um belo dia de domingo
Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, junho 19, 2023

Brevíssimo ponto de situação sobre a minha santa vidinha
(E, para complementar, um vídeo que mostra como os totós só sabem dar tiros nos próprios pés)

 

Os dias têm-me andado apertados e tenho que usar as noites para pôr o trabalho em dia. Por isso, tenho andado um pouco menos assídua e prolixa.

Uns meninos já estão de férias, outros a caminho de o estar. Têm vindo cá desfasadamente. Aos dois de cada vez. O mais pequeno ainda está na escola.

Ainda não contei que três já estão no futebol a sério. Digo a sério porque é na competição. Têm treinos e jogos. Estão nas sete quintas. Os pais é que se veem gregos com tanto levar e buscar, até porque já há torneios e coisas longe de casa e porque cada um anda no seu horário O mais pequeno ainda não é 'a sério' mas também já anda na escola de futebol. Salva-se a menina, que anda no teatro.

Quanto à lida cá de casa, o tempo ora está de abrasar, ora se acinzenta e esfria. Por isso, no sábado, que estivemos sem programa e com um calor daqueles, consegui fazer umas valentes máquinas de roupa, cobertas dos sofás, forras das almofadas, tudo e mais alguma coisa. Tudo secava num instante. Neste domingo nem pensar.

O meu marido escreveu um texto sobre o Pedro Nuno Santos que era para eu publicar hoje. Mas exerci o meu direito de censura e não publico. Não é que não concorde mas acho que não incidiu o foco onde devia e pode levar a segundas leituras.

Como só me despachei da minha segunda actividade já passava bem da uma da manhã e já ele dormia a sono solto, não deu para esclareceremos os aspectos que me parece carecerem de ajustamento.

Amanhã veremos se ele aceita recentrar o foco ou se não recentra coisa nenhuma, situação em que terei que equacionar se veto ou se voto.

Entretanto, mostro um vídeo a modos que parecido com o dos deputados da CPI em que uns pareciam surdos, outros cegos e quase todos uns totós, acabando-se as audições sem ninguém perceber nada do que ali se passou e em que dali só podemos concluir que, querendo atirar sobre ministros e secretários de estado, acabaram atirando sobre si próprios.

O Aparelho Auditivo [Legendado] - Monty Python


Desejo-vos uma boa semana

Saúde. Bom humor. Paz.

segunda-feira, abril 17, 2023

Um domingo feliz

 

A minha mãe, sabendo que quando a maltinha está junta, é para durar, preferiu ficar a descansar temendo ter que enfrentar muitas horas seguidas de confusão. Mas os que veranearam por terras do White Lotus (segunda temporada) e redondezas regressaram no sábado à noite e a turminha que veraneou por outras bandas também tinha o domingo livre. E nós cá estamos sempre de braços abertos para os recebermos.

Por isso, foi com toda a alegria do mundo que cá os tive hoje em casa e os vi a brincar e a rir, todos desfrutando o calor de uma tarde que parecia de férias e verão.

Há pouco, quando aqui me sentei, vi o vídeo abaixo e fiquei a pensar que deve ser doloroso querer estar radiante com o nascimento de um filho e, estranhamente, sentir tristeza, incapacidade de amar e de estar feliz.

Por sorte, não me aconteceu isso. Talvez tenha a ver com a envolvência. Se uma mãe recente se sentir sozinha, sobrecarregada, cansada, acredito que sinta algum desamparo e abandono e talvez isso impeça a fruição do prazer de ter um filho. 

A mim, o mais perto disto que me aconteceu foi quando nasceu o meu filho. A minha filha ainda não tinha três anos e o meu marido estava a trabalhar há pouco tempo numa multinacional, tendo geralmente projectos com prazos apertados e responsabilidades alargadas. Nem havia licença de parentalidade.

O parto do meu filho, tal como o da minha filha, foi com fórceps. Por isso, eu tinha sido cortada e cosida. O meu filho era muito grande e sempre foi especialmente irrequieto. Mesmo na barriga, dava cambalhotas com tamanha força que me deixava incomodada, como se revolvesse todas as minhas vísceras.

Quando nasceu, mexia-se muito, nunca usou chucha, se eu tentava que se habituasse agoniava-se, e mamava sofregamente, engasgando-se. E, depois, de noite, chorava tanto que não me deixava dormir. Eu dava-lhe de mamar de duas em duas horas e, às tantas, estava tão cansada que não sabia se já lhe tinha dado de mamar ou se era isso que tinha que fazer. Por vezes, para ver se ele se calava, punha-o na minha cama mas tanto se mexia e tanto chorava e esperneava que, por vezes, bolsava-se todo, ficando a cama toda molhada e mal cheirosa. O meu marido, cansado que andava, por vezes chegado do norte às tantas da noite, conseguia dormir. Mas eu quase não dormia.

E de dia tinha que tratar dele e da minha filha que, obviamente, requeria todos os cuidados devidos a uma criança que nem três anos tinha e que, para agravar, era super vagarosa a comer. Eu preocupava-me muito com a comida dela, queria que ela comesse tudo o que era de lei e ela precisava de uma hora para comer devagarinho tudo o que estava no prato. E tinha que lhe dar à boca e distrai-la (coisa que hoje reconheço que era um disparate mas, na altura, eu temia que, se ela não comesse tudo aquilo, ficasse subnutrida). Isto com o outro a gritar por todo o lado, sempre com fome, sempre a querer colo e brincadeira.

Quando cheguei da clínica, os meus pais eram para lá ter ficado a ajudar. Mas a minha avó materna teve um problema qualquer de coração e foi internada, Por isso, a minha mãe entendeu que devia ir para junto da mãe. 

E eu, sem quase conseguir dar passo, quase sem me conseguir sentar, com o leite a subir (que é do pior que há), com o peito a encaroçar-se, quase febril, uma menina pequena a chorar porque queria o porta-bebés para a boneca, um bebé recém-nascido que não parava de chorar e que se agoniava com a chupeta, e vendo os meus pais a dizerem que não podiam ficar a ajudar-me, senti-me seriamente desamparada. Hoje o pai tem dias (ou melhor, tem pelo menos um mês) para ajudar nesta fase crítica. Mas, na altura, isso não existia.

Na altura não tínhamos empregada. E na altura ainda não havia fraldas descartáveis. E poucos supermercados havia. Não sei como conseguia ir às compras com o bebé no carrinho e uma menina pela mão, e eu quase sem me conseguir mexer. 

Mas consegui. Fiz das tripas coração, que remédio.

Uma outra vez de que me lembro pois foi mesmo muito má (e de que aqui já falei) foi quando andava a arranjar uns dentes e, para não perturbar muito a minha rotina de ir buscar um e outro e ir com eles para casa (sem carro), pedi para juntar duas ou três sessões, já não me lembro.

O dentista, familiar, desaconselhou. Mas era-me tão difícil ir do trabalho para a Avenida de Roma, de lá para a minha sogra, da minha sogra, com o bebé ao colo e nos transportes públicos, para a escola da minha filha e de lá, com os dois para casa, que lá me fez a vontade.

Anestesia para além da dose, portanto.

A meio do caminho senti-me meio zonza mas não havia telemóveis e não tinha como, na rua, pedir ajuda ao meu marido. Sobretudo, não podia deixar a minha filha à espera. Portanto, com dificuldade, lá consegui ir buscar um e outro e, com ambos, chegar a casa. Mas já ia feita num oito. Agoniada, uma dor de cabeça que não via nada. Pus o bebé na caminha dele e tentei que a minha filha brincasse. E deitei-me pois não me aguentava de pé. Não a descalcei. Então ela andava com os sapatos em cima da cama e eu sentia a cama a encher-se de areia. E foi para dentro da cama do bebé. Eu via aquilo e não conseguia impedir. E ele chorava como se não houvesse amanhã. E eu impotente, incapaz de cuidar deles. De vez em quando ia à casa de banho vomitar e de lá vinha fazendo um tremendo esforço para não desmaiar.

O meu marido chegou tarde e encontrou aquele panorama.

Mas foi um episódio. Foram fases. Apesar das dificuldades e do cansaço, sempre me senti muito feliz com eles. E arranjava maneira de os fotografar, encantada com eles, sentindo-me bem aventurada, abençoada por ser mãe de duas crianças tão amadas, cantava para eles, arranjava maneira de lhes dar atenção, de brincar com eles. 

São agora adultos, bem resolvidos, bonitos, bem dispostos, mãe e pai de família, com filhos felizes, cada vez mais crescidos. E eu, vendo-os assim, vendo a descendência toda reunida, penso que todos os momentos que vivi desde que os comecei a sentir dentro de mim até aos dias de hoje valeram completamente a pena. Tudo valerá sempre a pena. São momentos sempre abençoados e pelos quais me sentirei sempre infinitamente agradecida.

Mas, por ser assim, mais percebo a angústia de quem sente ou sentiu depressão pós-parto. São sofrimentos que deixam marcas para o resto da vida. Ainda por cima, no caso abaixo, ela não sabia que tinha uma depressão pós parto, pensava apenas que era uma mãe desnaturada, indigna de ser mãe. Sofria porque não conseguia estar feliz e estabelecer uma ligação com a bebé e sofria porque se recriminava por isso.

Não sabíamos

[Com legendas em português]

Jenny Jackson fala da sua experiência e da sua conversa com a sua filha


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Pintura de Berthe Morisot

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Alegria. Paz.