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domingo, fevereiro 25, 2024

Turistar, arrumar livros, pendurar quadros.
[E, já agora, plantar uma floresta]

 

Informaram que já poderíamos ir buscar o quadro, que tinha ficado muito bonito com a moldura que tínhamos escolhido. Fomos de manhã. 

Aproveitámos para turistar por ali. E uma coisa é certa: quando estamos numa de fazer turismo, descobrimos coisas que antes nunca vimos. Pelo contrário, quando nos armamos em entendidos a passamos pelas ruas e jardins como cão por vinha vindimada, dando por adquirido e considerando déjà-vu tudo o que está à nossa volta, o que acontece é que passamos sem prestar atenção a nada, ceguinhos de todo. 

Foi, pois, com a disposição de um marinheiro de primeira água que me fiz aos jardins. Muita gente, todas as línguas, todas as raças. Gosto imenso de andar nestes ambientes. Há muita gente que fica com comichões quando se vê rodeada de gente estrangeira. Eu não. Mil vezes isso do que cercada de vizinhas que examinam e comentam tudo o que uma pessoa veste, faz ou diz.

Chovia e íamos preparados para a chuva mas cruzámo-nos com pessoas que iam de manga curta, à fresca, e sem mostrarem qualquer frio. 

Como sempre, muita gente a fotografar-se a si própria com os monumentos, por trás, votados à irrelevância. Parece que, nesta era, há uma grande tendência para o narcisismo. Por algum motivo as pessoas pensam que os outros têm muito interesse em acompanhar os seus passos ou que, na proximidade de esculturas interessantes, jardins bonitos ou monumentos excepcionais, o que é relevante é a pose que fazem ou o sorriso que exibem.

Acontece que, nessa altura, da central de segurança ligaram ao meu marido a informar que tinha accionado o alarme na nossa sala. As imagens não mostravam presença humana. Mas ficámos preocupados pois as câmaras não cobrem todos os ângulos de todas as divisões. Por isso, abreviámos o percurso turístico, fomos buscar o quadro e retirámo-nos para vir conferir se estava tudo bem. Felizmente, estava.

Dado que o tema 'pendurar quadros' é tema sensível cá em casa, mantive-me prudentemente reservada.

Depois de almoço, enquanto ele estava no sofá a ver séries ou futebol ou a dormir (não sei), eu atirei-me à árdua tarefa de mondar os livros que já vieram. 

O meu marido colocou os sacalhões na cave. Alguns sei, à partida, que nós também já cá os tínhamos. Esses fui logo arrumando numa das estantes que lá está, na cave. 

Aqueles que me ofereciam dúvidas, trazia-os para cima. Os de língua portuguesa vinham para a biblioteca do rés do chão. Os outros para a biblioteca do primeiro andar. Por isso subi, carregada de livros, muitas vezes, um ou dois lances de escadas. Depois, in loco, validava se já os tinha ou não. Se sim, voltavam para a cave. Os que não tinha foram arrumados na devida ordem alfabética. E isso está a trazer-me grandes problemas pois muitos não cabem. Por isso, tive que reformular, arrumar de outra maneira. Tudo isto é um desafio...

Parei porque já estava cansada e com medo que tanto step em doses maciças e carregada de livros me afecte as articulações já que se dão mal com carregos e com movimentos repetitivos. E foram umas horas disto. 

Mas tive vários momentos de felicidade pois encontrei muitos livros que julgava perdidos. 

Estupidamente nunca me tinha ocorrido que poderiam ter ficado em casa dos meus pais. 

Por exemplo, na altura, andava na faculdade, tinha ficado francamente impressionada com A Bastarda da Violette Leduc. E tinha-lhe perdido o rasto. Hoje apareceu. E vários outros. Por exemplo, vários dos Livros do Brasil. Ou um outro que, na altura, também me impressionou, o Papillon. Ou os do Gorki. Por algum motivo, quando me casei, levei uns e não levei outros e, depois, acabei por me esquecer de ir buscá-los.    

Mas, dos que vieram de casa dos meus pais, há muitos que não tinha e que, por mim, para mim, não os teria comprado. Por exemplo, várias biografias de personagens históricas ou livros sobre saúde (cérebro, microbiota, etc). Alguns, por sinal, fui eu que os ofereci à minha mãe. O meu pai também lia mas mais livros mais técnicos ou sobre geografia ou ciências. Depois há várias obras completas: Ferreira de Castro, que foram para a minha filha, Eça, que o meu filho diz que ficará com eles, Camilo Castelo Branco que ficaram para mim pois tinha alguns mas não todos. Os do Aquilino não sei se ainda lá estão ou se a minha filha também os levou. Os do Júlio Dinis ainda não vieram. E sei lá que mais.

Claro que a estante dos repetidos já está a transbordar.

A ver se este domingo consigo dar destino aos que ainda estão em sacos na cave.

Mas, dizia eu, andei nisto, para cima e para baixo e, claro, de bico caladinho em relação aos quadros.

Até que, como por milagre, o meu marido apareceu ao pé de mim a dizer para irmos ver onde pôr os quadros. E falo no plural pois o que veio foi para o lugar de outro que, por sua vez, desinstalou outro. E assim sucessivamente. Também para pendurar o que o meu tio pintou tive que arredar outro que, por sua vez, foi para outro sítio e assim sucessivamente, e patati-patatá. Portanto, uma enfiada deles. É que nem sempre um pode usar o mesmo prego que o antecessor pois ou está acima ou está abaixo.

Mas a verdade é que a coisa fluiu sem dramas e já está tudo posto e lindinho. Milagre, milagre.

E é isto.

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Vi há pouco um daqueles vídeos que me encantam. Plantar uma floresta, salvar uma floresta do declínio quando a principal e quase única espécie é atacada, andar pelos campos, fazer arte com paus, troncos, pedras, sentir a terra com as mãos, ver a natureza a reinventar-se, se. Tudo maravilhoso.       

Rewilding A Forest | Maria "Vildhjärta" Westerberg | Something Beautiful for the World

Synopsis: Maria was a romantic, animal-loving, dreamy child who, growing up, had a hard time conforming to the demands associated with the trajectory towards "a normal life". As a young adult she became depressed, and was encouraged by her therapist to go for walks in the forest. The myriad of funny-looking twigs and sticks she found along the way immediately put her on a path to recovery. Now, 25 years later, she's a celebrated "twig poet" whose art is shown in galleries throughout Sweden. When a climate related crisis strikes the forest where she lives and works, she's forced into a new type of creativity in order to save the place that once upon a time saved her. 

Filmed in: Värmland, Sweden

Featuring: Maria "Vildhjärta" Westerberg & Johannes Söderqvist (https://vildhjarta.net/) and Martin Jentzen (https://www.jentzen.se/)


Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Alegria. Paz.

domingo, janeiro 28, 2024

Falamos junto à luz


Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, em ‘Dia do Mar’


De tarde, chamados pela luz suave e dourada, pelo prenúncio de primavera que nos trouxe temperaturas muito aprazíveis, e, sobretudo, pelo menos pela parte que me toca, pela necessidade de oxigénio, fomos para a beira do rio.

O prazer de andar e conversar num dos lugares bons da cidade, a diversidade de gentes com que nos cruzamos, o sol sobre o rio, a boa companhia, tudo isso é remédio certo para lavar a alma.

Em tempos fotografava pessoas. Adorava. Sentia-me sempre uma observadora clandestina e, ao mesmo tempo, transparente. Já conseguia antecipar os movimentos das pessoas, as suas expressões. Estava de tocaia e, quando a ocasião se proporcionava, disparava. E, aparentemente, ninguém dava por nada.

Tenho muitas centenas ou, melhor, provavelmente, milhares de fotografias de pessoas. Mas depois temia sempre publicá-las pois receava que estivesse a pisar o risco da privacidade. É certo que há mesmo a modalidade de fotografia de rua e muito do que era a sociedade em tempos mal documentados se conhece através do trabalho de fotógrafos de rua. Mas, por via das dúvidas, encolhi-me. E, se não posso mostrar, para quê estar a fazer?

Portanto, agora tento evitar a presença de pessoas. Contudo, por vezes, é impossível deixá-las de fora. Mas, como sempre costumo dizer quando aparecem pessoas nas minhas fotografias, se alguém se reconhecer aqui e não quiser cá estar, bastará que mo diga.

Fomos lanchar ao CCB, depois fui lá tratar de um assunto e, de seguida, fomos passear para a beira do rio. 

O que abaixo partilho é parte da arte de rua que por aqui se pode ver. Escultura de homenagem ao pessoal clínico em tempos covid, a escultura Central Tejo, os big e engenhosos trabalhos da Joana Vasconcelos (se é arte ou gigantes trabalhos que incorporam design e montagem isso não sei), o mural em que vários artistas homenageiam o 25 de Abril, os belos murais de azulejos com poemas de Sophia, o próprio edifício do MAAT que é escultural.

A última fotografia não foi feita hoje nem é em Lisboa. É em Setúbal, no belo PUA, e é uma homenagem a José Afonso. A minha filha estava lá à frente mas, com o corrector, retirei-a. Não ficou perfeito mas como a escultura é algo 'incerta' a modos que disfarça.

Em dias como estes, é bom sair de casa, andar a passear, a laurear, a flanar, a desopilar, a vadiar, a turistar, a espairecer, a espanejar, a dar ar à pluma. Mas, para quem não possa fazê-lo, aqui fica um cheirinho.


























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E vi este vídeo de que gostei e que gostaria de partilhar. Já não é Green Renaissance mas Reflections of Life e são sempre tão tranquilos, transmitem serenidade, a vida a ser vivida com vagar, o contacto com a natureza, o prazer de existir de forma simples.

BELONGING - Finding Connection

Quando somos incompreendidos e sem apoio, é fácil sentir-nos sozinhos, como se não nos encaixássemos no mundo que nos rodeia. Mas algo lindo começa a acontecer quando entendemos que nossa singularidade não é uma falha, mas um motivo de comemoração.

À medida que aprendemos a valorizar e a partilhar os nossos dons individuais, reconhecendo a beleza das nossas diferenças, encontramos uma ligação renovada com o mundo - semelhante à harmonia encontrada na natureza, onde cada elemento contribui para a beleza geral da paisagem.

Inspirando-nos no mundo natural, entendemos que abraçar as nossas diferenças é um presente que podemos oferecer ao mundo, tornando-o um lugar mais bonito para todos que nos rodeiam.

A resposta reside em colmatar lacunas, cultivar a empatia e revelar a vibrante tapeçaria da nossa experiência humana partilhada através do reconhecimento e da celebração da diversidade.

Filmado em Singapura

Com Kathleen Yap


Desejo-vos um bom domingo
Saúde. Serenidade. Paz.

segunda-feira, abril 10, 2023

Pode ser que alguma coisa ressuscite

 



Parte da família está de férias fora do país pelo que este domingo tivemos brunch em casa de outra das partes, parte essa que, de seguida, também foi para uma escapadinha relaxante fora de Lisboa. 

Nós dois fomos primeiro buscar a minha mãe e, depois do brunch e do convívio, fomos com ela passear à beira Tejo. Calor, tempo de verão, imensa gente. Tempo de férias. Céu azul, rio quase azul, pessoas na relva, pessoas sentadas na muralha, outras de bicicleta, muitas a pé, a conversar, muitas sorrindo enquanto caminhavam, muitas em esplanadas. 

Depois, já aqui em casa, deu-me aquele sono que não admite um não. Só que na casa ao lado, aquela para a qual dão as janelas da sala em que eu estava a adormecer, andava o vizinho a regar o jardim. Não percebi o que lhe deu pois o jardim tem rega automática. Só se está avariada...  A verdade é que andava a regar e, nitidamente, estava com todo o tempo do mundo pois regava com vagar, muito tempo em cada centímetro quadrado. Ora isso e os cães dele desestabilizaram completamente o cãobeludo. Saltava e ladrava como um possuído, jogando-se contra as janelas. E eu perdida de sono, tentando abstrair-me do chinfrim. Não consegui. Não adormeci.

Pouco depois fomos fazer a nossa caminhada do fim da tarde. Entretanto iam chegando fotografias, uns na piscina exterior, depois no jacuzzi, depois na interior, e paisagens, e outros que já tinham aterrado. E a noite caindo cada vez mais tarde, um passeiozinho gostoso. Mas os dois cheios de sono. 

O que sei é que não dormi de tarde, dormi agora. Acordei há pouco. Na RTP  'O amor move montanhas' e a Emily Blunt a cantar Wild Mountain Thyme.

E com isto o Natal já lá vai, pelo Carnaval nem demos por ele, a Páscoa já está. Daqui a nada será o 25 de Abril com uns a desentenderem-se com outros e os comentadores a comentarem as irrelevâncias de uns e outros (e do 25 de Abril em si se calhar pouco se falará) e logo, logo, virá o 1º de Maio com os sindicatos conservadores e ultrapassados da CGTP, mais os inúteis da UGT e provavelmente com o STOP e outros sindicatos populistas à mistura e com os Raimundos e Catarinas e outras fracas figuras a porem-se à boleia de uma gente que já não representa ninguém. 

E quando dermos por ela estaremos nos santos. E eu, no meio disto, só espero é que, para não ser tudo mais do mesmo, pelo meio alguém apeie o Putin e que a Ucrânia volte a ser um país livre de guerra. Tenho esperança. E, na minha esperança, espero que a paz na Ucrânia ressuscite. Acredito nisso. Claro que gostaria que não apenas na Ucrânia mas em todo o mundo. Só que não sou tão optimista ou aluada quanto isso.

Tirando isso, só se for para dizer que os dois vídeos que abaixo partilho agradam-me muito. Não tenho amêndoas ou ovos da páscoa mas tenho vídeos para vos oferecer. Espero que vos saibam bem.

O poético apartamento de Suzi de Givenchy em Paris | Uma jovem, um estilo | Vogue Paris

Nascida em Hong Kong, Suzi de Givenchy morou nos Estados Unidos antes de se estabelecer em Paris. Companheira do sobrinho do famoso costureiro Hubert de Givenchy e mãe de 3 filhos, ela convida-nos para o seu apartamento, um espaço heterogéneo onde convivem objetos de design, vintage e memórias de uma vida itinerante. Uma alma criativa, apaixonada por desenhar e escrever, mas também por moda. Uma moda com elegância atemporal, que ela afirma usar em primeiro lugar para agradar a si mesma. É também com vontade de transgredir os códigos que ela conduz a carreira de modelo aos 50 anos e tal, desfilando em especial para a Off-White. Vogue Paris foi ao seu encontro para a rubrica Une fille, un style.


Visitando os encantadores jardins italianos de Paolo Pejrone | Visitors’ Book

The World of Interiors apresenta o Livro de Visitas com Paolo Pejrone. Um mestre no seu ofício como paisagista, Paolo Pejrone recebe-nos nos seus jardins isolados aninhados nas colinas do Piemonte, na Itália.

À medida que percorremos o paraíso botânico de Paolo, desenvolvemos uma compreensão profunda do seu retiro bucólico: “Com o passar do tempo, ano após ano, tornou-se uma espécie de berçário no qual experimento muitas plantas”. 

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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Esperança. Paz.

segunda-feira, maio 25, 2015

Jazz na relva. E, para se refrescarem, os pimentinhas brincam com canhões.


No post abaixo, completei o meu Astrocopos - cocktails para todos os signos (bons a valer, pelo menos pela descrição e pela adaptação do meu, que já experimentei). Mais abaixo, mostrei um belo mural que fotografei em Alcântara da autoria do artista de rua Bordalo II. Quem puder por lá passar, vai gostar: é uma maravilha.

Mas isso é lá mais em baixo. Aqui, agora, a conversa é outra. Aqui fala-se de esplendor na relva.

...

A vida é melhor se for vivida em conjunto, se houver partilha de alegrias, de gostos e desgostos, de sonhos e dissabores, se nos sentirmos ligados por uma rede que amorteça os embates negativos ou que nos abrace sempre que sentirmos que de um abraço estamos precisados. É o que eu sinto - não sou estudiosa da matéria, falo apenas a partir do que me é dado perceber e viver.

Viver fechado em casa, é limitador, isola a pessoa do mundo, não dá saúde nem física nem espiritual - acho eu. Pelo contrário, vir à rua, viver em comunidade, gostar de estar inserido na sociedade (seja de que forma for), e ver a natureza, sentir o sol, estar perto dos outros, desfrutar do que de bom a vida tem, é gratificante, faz a pessoa sentir-se disponível para acolher a felicidade que, volta e meia, passa por perto.

Esta tarde de domingo fui - em bando, como é costume - ouvir jazz nos jardins da Torre de Belém.







O relvado estava cheio, o tempo estava quente, o ambiente do mais descontraído que se possa imaginar. E os meninos jogaram à bola, e lancharam, e a música estava no ar. E acredito que a vida talvez não corresse bem a toda a gente que ali estava mas a verdade é que todos quanto ali estavam pareciam sorrir, ou olhar os outros ao seu lado com bonomia e descontracção.




Claro que, ao ver agora as fotografias, reparo no que na altura não reparei, que é tudo gente muito nova que eu e que, às tantas, eu e o meu marido éramos as pessoas mais velhas que ali estavam mas, olhem, se assim foi, nem dei por isso e, se não dei por isso, é porque me senti lá muito bem. Descalcei-me, e ali estive sentada na relva, na boa, ao sol, a ouvir a música, a ver os sorrisos que me aconchegam a alma.

E, volta e meia, aos meus meninos, dá-lhes um arrebatamento de afecto e abraçam-se. O mais pequeno adora o primo mais velho e, no meio da maior brincadeira, dá-lhe abraços. E o mais crescido também adora o primo bebé. As cenas de afecto entre eles são uma ternura.




Mas depois pôs-se muito calor e fomos para a Torre e para a beira do rio. As cores, o azul das águas e do céu, o verde das margens, a beleza das construções antigas, o veleiro que deslizava tranquilamente - tanta paz. Que sorte temos por vivermos num país tão belo.




Mas, nessa altura, os pimentinhas viram os canhões e foi aquela festa. Treparam logo, brincaram, a alegria do costume. Claro que, vendo-os ali juntinhos, corremos logo para ver se conseguíamos uma fotografia de grupo. Mas claro que isso era querer muito, logo ela quis sair, outro também, outro queria olhar para outro lado, etc. Mas ficam engraçadas na mesma, estas nossas desengonçadas fotografias de família.




E treparam, e inventaram guerras e dispararam canhões, e fizeram perguntas e aprenderam, e divertiram-se. 







E, enquanto isso, as meninas crescidas, em cima de outro canhão, à sombra, puseram a conversa em dia porque cada bocadinho é bom para fazer planos, trocar experiências, conversar e rir.

E depois cada um foi à sua vida e já passava das sete da tarde e o calor estava mais brando e vinha uma aragem fresca do rio e eu ainda fui dar um passeio pela beira-mar. E depois vim para casa, e fiz sopa e assei um lombinho de porco no forno com tempero de azeite, alho, louro, alecrim e tomilho limão, e arrumei o que estava a precisar de ser arrumado que esta segunda-feira é um novo dia e a vida continua.

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Quem tocou no Jardim da Torre de Belém, neste MEO Outjazz foi o Ciro Cruz Quintet mas não coloco aqui porque as gravações que encontrei não dão bem a ideia com que fiquei no local. Por isso, lá em cima, é Abdullah Ibrahim a interpretar Little Boy

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Nota:

Se alguma das pessoas que aparece nas fotografias não quiser aqui ver-se, deverá enviar-me um mail solicitando que retire a fotografia em causa.

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Relembro que, descendo, há mais dois posts: um com as bebidas adequadas a cada signo do Zodíaco e, a seguir, um mural fantástico do nosso grande Bordalo II.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já esta segunda-feira. 
Sorte e felicidade para todos.

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quinta-feira, abril 17, 2014

Plutocratas, Os Burgueses, o Ataque aos Milionários e, para temperar, O sermão sobre a queda de Roma. E um fogo assombroso nos céus de Lisboa.


Depois da anedota sexy e da piada multi-racial do post abaixo, viro-me agora para os livros.

Mas, antes, que venha Gabrielle Aplin e nos encante com a sua voz.



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Ontem, num comentário, escrevi que o meu marido tinha começado a ler Os Burgueses.

Ora bem, hoje constatei que não. Embora vocês não tenham agentes infiltrados aqui em minha casa que denunciassem a minha imprecisão, não quis deixar de rectificar.

Ele pegou nos livros que ontem aterraram cá em casa e pareceu-me que tinha levado o livro do Louçã. Mas o que começou a ler foi, de facto, o Plutocratas.

Com os Plutocratas, Chrystia Freeland, uma das mais famosas jornalista de economia no Canadá e EUA, recebeu o prémio de melhor livro do ano do Financial Times, o Lionel Gelber Prize e, ainda, o The National Business Book Award.


Tem como subtítulo: A ascensão dos NOVOS SUPER-RICOS GLOBAIS  e a quedra DE TODOS OS OUTROS.  


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Aliás, quando vi o livro sobre os outros, resolvi tirar uma fotografia aos livros que o meu marido tem na mesa de cabeceira para vos mostrar o que ele tem andado a ler. 

Quando me viu de máquina em punho no quarto, ficou espantado: 'mas até os meus livros já não escapam...?'

No outro dia o meu filho, sobre o blogue, queixou-se, 'cada vez está mais pessoal, meu...' e a minha filha, numa de um mata e outro esfola, acrescentou logo 'qualquer dia está como a pipoca mais doce'. E olharam para o pai à espera de apoio. No entanto, o pai limitou-se a encolher os ombros. Já está por tudo, nem se pronuncia. No outro dia, quando aqui falei no meu longo casamento, perguntei-lhe depois, à tarde: 'então leste?'. Fez-se de desentendido: 'li o quê?'. Já sei que tenho que ser explícita: 'a declaração de amor que te fiz'. Armado em esquisito, disse: 'sim, gostei muito que tivesses escrito que te apetece pôr-me as malas à porta'. Tive que esclarecer: 'mas nunca pus, pois não? Então não te queixes'. E pronto, ficámos assim. Dei-lhe a mão e fomos caminhar. Logo a seguir, tirou a mão mas foi porque não dá jeito andarmos a caminhar com ritmo intenso e de mão dada. Apesar de tudo, acho que gostou do que escrevi. 


Mas estava a falar dos livros que ele anda a ler. Já agora mostro os outros dois que tenciona ler a seguir e que eu também quero ler. No entanto, temendo não ter tempo, já lhe pedi que os lesse com atenção, tomasse notas e depois fizesse um power point para me enviar. Riu-se, malicioso, e disse que eu estava mesmo a pedi-las. (Não sei a que é que se referia.).

-> O Ataque aos Milionários de Pedro Jorge Castro, baseado em entrevistas e documentos inéditos e que trata de 'O cerco às famílias Espírito Santo, Mello e Champalimaud depois da revolução do 25 de Abril de 1974: as detenções, o dia-a-dia na prisão, as contas congeladas e a fuga para o exílio'.


-> Os BURGUESES - quem são, como vivem, como mandam, de Francisco Louçã, João Teixeira Lopes e Jorge Costa.


Estou curiosa.

Haverá algumas partes de que irei poder obter a comprovação junto de alguns dos, directa ou indirectamente, referidos pelo que, imagino eu, lê-los terá uma graça suplementar.

Na página aqui ao lado, o livro dos Milionários mostra um bem conhecido, Rui Moreira, agora presidente da Câmara do Porto. Mostra-o a ele e aos pais.

O pai, dono da Molaflex, esteve preso em 1975 suspeito de ligações ao ELP, ligações essas que nunca se comprovaram.

Muita coisa aconteceu nestes anos e muitos milionários de então, hoje não o são e outros debatem-se por conservar na família o que herdaram. 

Não dá para chorar de pena por eles, claro que não, caíram e levantaram-se e a maior parte está bem na vida, claro que sim, muito bem mesmo, mas não os diabolizemos pois, salvo alguns casos (de polícia até, quiçá), é gente normal - pelo menos os que me tem sido dado conhecer.

No 25 de Abril, os muito ricos tinham rosto, tinham famílias que se conheciam, o País conhecia-os.

Não é o caso do que se passa hoje, 40 anos volvidos (cá e por todo o lado). Os verdadeiros detentores do capital e do poder, hoje, são outros. Vêm de países onde os direitos humanos são frágeis, obtiveram o dinheiro de formas pouco transparentes e, na maior parte do casos, nem têm rosto, são fundos internacionais distribuídos por carteiras geridas por entidades com escritórios aqui e ali. Hoje o poder está nas mãos de capitalistas sem rosto, sem pátria, sem moral. Hoje dificilmente saberemos contra quem nos devemos defender.

Sob a capa moralista de que fizemos por merecer o que nos está a acontecer, sob a capa de que temos que sofrer na pele esta infame austeridade para que expiemos os pecados que nos dizem que cometemos, e com a ajuda de tontos, de vendidos e de gente incapaz e mentalmente destituída, somos espoliados de tudo, de dinheiro, de direitos, de dignidade, de soberania.




História com ilustração contida no livro 'Os burgueses':


O tempo passou e o urso estava cada vez mais gordo. E como estava cada vez mais gordo precisava de cada vez mais mel para saciar a sua fome. O urso entrara naquilo a que as pessoas grandes chamam 'um círculo vicioso'.

De repente, tinha uma barriga gigantesca e já mal se conseguia mexer. Foi então que as abelhas começaram a ficar assustada: elas perceberam que corriam o risco de morrerem esmagadas se o urso lhes caísse em cima.

E decidiram cortar no mel.


Legenda da imagem: "O tempo passou e o urso estava cada vez mais gordo..": uma metáfora do discurso banalizador da austeridade, justificado pelos erros do 'urso guloso'. Do livro de João Miguel Tavares (texto) e Nuno saraiva (ilustração), com a devida autorização (...).


[Um aparte meu: do que tenho visto no Governo Sombra, nem o liberal e quase acefalamente defensor de Passos Coelho e do Gaspar (que lhe apresentou o livro) João Miguel Tavares, defenderá já a política criminosa que o governo de Passos Coelho tem vindo a pôr em prática].

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O outro livro talvez não tenha a ver com esta temática. É O sermão sobre a queda de Roma da autoria de Jérôme Ferrari. Leio na capa que o Le Monde diz que é 'não só uma bela história de amor, mas também uma magnífica narrativa filosófica'. E é uma tradução de Pedro Tamen o que - vocês já sabem a admiração que tenho por ele - é garantia de que não será uma obra qualquer.


O autor é um parisiense, professor de Filosofia que leccionou na Argélia e na Córsega. Em 2012, foi viver para os Emiratos Árabes Unidos, onde dá aulas no liceu francês de Abu Dabi. Este livro recebeu o Prémio Goncourt 2012. 

Leio na contracapa coisas como 'como um eco do sermão com o qual Santo Agostinho tentou consolar os seus fiéis quanto à fragilidade dos reinos terrestres, a escrita exigente de Jérôme Ferrari lança uma luz implacável sobre a maldição que condena os homens a assistir ao desmoronar dos seus mundos e a reerguer sem tréguas, sobre o sangue ou as lágrimas, as suas mitologias impossíveis'. Vamos ver se é o que parece prometer.

O autor não poderia arrancar de forma mais promissora. Escolheu como citação de abertura a seguinte:

Admiras-te por o mundo estar a chegar ao fim? 
Admira-te antes por vê-lo chegar a uma idade tão avançada. 
O mundo é como um homem: nasce, cresce e morre. [...] 
Portanto, na velhice o homem está cheio de misérias, 
e o mundo na sua velhice está igualmente cheio de calamidades. 
[...] Cristo diz-te: O mundo vai-se, o mundo está velho, 
o mundo sucumbe, o mundo já está ofegante de vetustez,
 mas nada receies: 
a tua juventude há-de renovar-se como a da águia.



Santo Agostinho
sermão 81, §8, Dezembro de 410

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Esta quarta feira ao pôr do sol: o Tejo, o Padrão das Descobertas, um fantástico veleiro e um céu assombroso

(Eu podia ficar imóvel, em êxtase, perante uma beleza assim até que noite caísse por completo - mas tive que vir para casa fazer o jantar)
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Pois, que nem de propósito, hoje tenho Abril no meu Ginjal e Lisboa. Tenho Abril nas minhas palavras e tenho Abril nas premonitórias palavras de Manuel Alegre em Poemarma. Muito gostaria que fossem até lá para o ouvir. É Abril, é tempo de renascer.

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Caso queiram ver e ouvir Chrystia Freeland, numa conferência TED, a falar apaixonadamente sobre os muito ricos (que cada vez mais desalmadamente desprezam e anulam os restantes), ei-la:





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Relembro: se descerem até ao post seguinte terão um momento de humor.

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E, assim sendo, por agora por aqui me fico. 
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta feira. 
Não sei se se diz quinta feira santa, se é quinta feira de paixão ou se é simplesmente quinta feira. 
Seja o que for, que seja boa.


quinta-feira, setembro 05, 2013

O dia em que os agentes da autoridade nos barram o caminho porque, ali perto, está uma 'alta individualidade' ............ [Felizmente 'a paciência é, de facto, uma grande virtude']


No post abaixo poderão conferir a plasticidade e a capacidade de mimetização da diva dos tempos que correm: Lady Gaga em toda a sua nudez nas fotos da V Magazine que tanta polémica têm desencadeado.

Mas, agora, aqui, a conversa é outra.

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A canção da paciência, por favor (porque os tempos que correm a pedem): José Afonso, sempre. 


Saibamos esperar a hora certa.




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Muita gente como sempre. A diversidade garante o anonimato. Os executivos que deixam os escritórios, que chegam em grandes carros, que tiram a vestimenta e os sapatos e começam a correr, headphones, medidores de pulsações e monitores de tudo o que se possa imaginar. As mulheres em grupo que vão caminhar mas que conversam tão animadamente e quase se esquecem de manter a passada. Os turistas encantados que se perfilam contra os monumentos, contra o rio, que se abraçam enquanto olham o rio. As pessoas, como eu, que vão caminhar mas que não resistem a mil motivos para fotografar.

E há a relva que abriga os pares mais apaixonados. Tudo normal, ninguém quer saber. Já não são muito novos? E daí? São duas raparigas? So what? Gente que se ama ou que se deseja e que gosta de sentir a relva macia sob o corpo e o sol sobre a pele. É bom poder fazer-se o que se quer.




Ou os que fazem talvez yoga, talvez meditem, vou para cá e para lá e, neste caso, este assim, numa posição que eu diria desconfortável. Mas estranhamente parece confortável, não sujeito à lei da gravidade.




E há os que passeiam sobre as águas do rio junto à Torre. A imagem reflecte-se no espelho molhado e, enquanto eles andam, quase parece que há outros dois que os acompanham imersos na água que pisam. Podia ficar ali a olhá-los até que eles se cansassem de andar. Mas sou puxada, não posso ficar ali a seguir-lhes os movimentos.




E, então, aparecem os noivos. Ele anda com o pequeno bouquet nas mãos. Ela já se descalçou. Junto ao casal, outras duas fotografam-nos e outra transporta uma sacola. Vão para junto dos barcos, parece que vão embarcar. Uma das que os acompanham, serve o que parece ser cerveja em duas flutes. Parece que estão agora a beber champagne junto a um veleiro, parece que vão embarcar. Não há dúvida: uma bela fotografia para reverem no futuro: ela de noiva, ele de noivo com o bouquet na mão, prontos a embarcar enquanto sonhadoramente olham o futuro com uma flute de cerveja nas mãos. E a sessão continua, muitas fotografias. Uma sessão fotográfica muito criativa.

Depois vêm cá para cima, para junto do Padrão dos Descobrimentos. No meio da pequena multidão que por ali circula, os noivos passam despercebidos. Ninguém pára a olhar. De vez em quando, a noiva levanta as saias, deve estar com calor, precisa de arejar as pernas. Depois baixa-se, massaja os pés descalços. E volta a fazer poses. Põe os cabelos ao vento. Sente-se uma estrela. É uma estrela. Uma estrela de Belém. Uma noiva que percorre o pôr do sol em Belém. O noivo assiste de bouquet nas mãos. Não reparei se ainda teria a flute de cerveja na outra mão.

Tenho vontade de escrever uma história sobre estes jovens que parecem alimentar tantos sonhos. Ela mais que ele. Mas geralmente é assim: as mulheres mais audaciosas que os homens.





Continuamos o nosso passeio. Lá mais adiante, em frente à Fundação Champalimaud, no rio, um pequeno navio militar virado para terra.

Este fim de tarde está suave e dourado, a luz que vem do mar envolve-se em maresia, apetece-me andar de mão dada. Vamos conversando uma conversa solta, ou em silêncio. Estes dias que prenunciam o outono são muito doces.

Mas, antes de chegarmos perto da Fundação, polícias barram-nos a caminhada: Onde vão? O meu marido logo agastado: Estamos a andar. Porquê? - Não podem passar, respondem. O meu marido irrita-se. Nestes momentos, na cabeça dele, os polícias passam a chuis e sei que tem vontade de os desafiar. Eu sou mais fria. Há polícias por todo o lado, sujeitos à paisana com corpanzil de gorilas (lá está: também eu...). Pergunto, Mas o que é que se passa? Um dos polícias explica: Está uma alta individualidade. Não é permitido passar. O meu marido furioso: E então? Lá porque está uma alta individualidade, eu não posso passar? Porquê? O polícia responde, um sorriso de quem se sabe impotente: Estou a cumprir ordens. 

Voltámos para trás. Eu conformada, o meu marido capaz de partir para a luta, uma raiva a crescer-lhe nos dentes. Mas, a mim, isto não chega para me tirar do sério. Também não é caso para isso, a tarde está tão bonita, não são coisas assim que a podem estragar. Deixá-los. Devem ter medo que a gente cante a Grândola.

Conformada, disse eu? Conformada porque, de facto, nada a fazer. Mas incomodada. Um passeio público pode tornar-se privado, privativo, exclusivo de uma 'alta individualidade'? Lá porque sua excelência está por ali, os cidadãos são privados de respirar o mesmo ar num raio de dois ou três quilómetros? 

De longe, da Torre, fotografo-os. No meio daquele grupo deve estar a alta individualidade, se calhar está a discursar, talvez até fale sobre o povo.




Depois, quando saímos de lá, os meus sapatos altos outra vez calçados, no carro ouvimos as notícias. Ficamos a saber que a alta individualidade é Cavaco Silva. Foi entregar o prémio Champalimaud a quatro organizações nepalesas que lutam contra a cegueira.


Não sei porque não nos quis a passear junto ao rio. Agora é assim, os governantes querem a população bem longe. Assim são agora os órgãos de soberania do meu País: isolados, acoitados, acantonados, rodeados por seguranças. Medrosos. Enganei-me a escrever e, antes, saíu-me merdosos mas depois emendei: medrosos. Depois hesitei. Mas fica assim como está: medrosos. Se são merdosos isso será já fruto de serem medrosos. Cobardes. Distantes de nós. Deixaram de ser um de nós.

*

Eu, se fosse Governo, subia num tamborete, batia palma e gritava bem alto pra todo mundo escutar: cala boca, gente, escuta aqui. Obrigava todo mundo a ficar quieto primeiro e explicava o meu programa administrativo. Governo não é Deus, muito pelo contrário, é o tipo de coisa que precisa de ajuda. Não ia fazer nada sozinho, que eu não sou bobo. Escolhia pra meus ajudantes só gente que tivesse duas coisinhas à-toa: honestidade e competência. Feito isso, falava pra eles: faz um levantamento do nosso país, aí, isto é, varre a casa primeiro. Depois conferia numa assembleia, que não ia ter recesso enquanto não me dessem, por escrito, quantos meninos sem escola, quanto pai de família sem emprego, quanto homem e mulher que fosse amarelo, feio, sem dente, sem saúde, sem alegria. Me aparecesse tudo anotado no papel. Bom, depois dava um descanso de meia hora pras câmara alta e baixa e ia de novo presidir eles arranjarem um meio de acabar com essa tristeza toda, em primeiro lugar com o problema da comida. Porque vou te dizer: passar fome não é coisa pra gente, não; passar fome é de uma desumanidade tão exagerada, que só de pensar bole com a bile de quem tiver um grão de consciência. Eu não tenho poder nenhum, de política eu não entendo. Fico falando essas coisas, fico mais ridículo que galinha na chuva, já viu que dó? Aquele passo bobo, aquele pescoço esticado pra frente, olha aqui, olha acolá, encharcado na friagem e na lama, sem resolver nada e, pior que tudo, sem saber de nada.




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O texto em itálico é um excerto de 'Eu, se fosse Governo' do livro 'Solte os cachorros' de Adélia Prado.


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(Para ver as fotos da V Magazne com Lady Gaga é descer um pouco mais)

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E, por agora, é só isto.

Tenham, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira 
(e tomara que nenhuma alta individualidade vá para perto de vocês, senão lá terão vocês que ser enxotados... xô, raça de gente normal, xô, longe da senhora dona alta individualidade!, xô!)

segunda-feira, setembro 02, 2013

Vai uma escapadela em Lisboa, a Bela, distinguida pelos World Travel Awards, os Óscares do Turismo, como a melhor cidade da Europa para um city break...? Hoje proponho umas compras na Avenida da Liberdade seguidas de um jantar no Restaurante Avenue - isto para os meus Leitores cheios de papel, nomeadamente para os meus Leitores angolanos. Mas, para o caso de algum dos que me lêem não nadar em dinheiro, então proponho que faça como eu: um jantarito no Avenue e depois... ir ver em que param as modas, vendo as montras (Gucci, Armani, Prada, Loewe, Louis Vuitton, etc). Bora lá. Let's go for a escapadela.


O prometido é devido. No outro dia disse que vos ia falar de mais uma incursão nocturna na bela Lisboa, desta vez para vos mostrar em que param as modas – e cá estou.

Para começar, não estou aqui sozinha. Trouxe comigo a minha companheira de tantas histórias no Um Jeito Manso, a bela e misteriosa Melody Gardot. Desta vez, que nem de propósito, ela interpreta Lisboa. Ouçamo-la, pois, enquanto passeamos.






Gosto muito de Lisboa, quem me lê sabe bem disso, e gosto de andar por ela como se fosse turista. Uma amiga minha disse-me que é muito fácil distinguir os turistas dos autóctones porque os primeiros andam de nariz no ar, a olhar para cima, para os lados, a ver tudo, enquanto os habitantes usuais andam apressadamente de cabeça baixa.

Pois eu, quando faço programas de tipo escapadela (escapadela ou escapadinha? Ou estou a fazer confusão com rapidinha?), desce em mim o espírito de uma turista e ando como se fosse a primeira vez que lá passo.

Vejo coisas que nunca tinha visto, e sinto-me solta como se estivesse de férias, longe de casa. (Podem duvidar do que digo mas é verdade. Mas não me admiro que duvidem pois o meu marido, quando me vê andar feita turista, a olhar para todo o lado, toda encantada, a única coisa que faz é dizer-me 'És maluca. Vamos embora. Já chega, estás farta de ter visto isto, já passaste aqui mil vezes.' Mas ele, que é nado e criado em Lisboa, se não fosse eu, não conhecia um décimo do que conhece, porque anda sempre à pressa, não sente curiosidade em descobrir os pormenores).

Adiante, então. Venham comigo.


Depois do trabalho, fomos como habitualmente fazer mais uma caminhada pela beira do Tejo, na zona da Torre de Belém, Padrão das Descobertas, Fundação Chamapalimaud. 


Estava, como sempre, repleta de turistas e de gente correndo, andando de bicicleta, passeando. O próprio rio estava, também ele, muito bem frequentado, com as embarcações cumprimentando-se com animados apitos de cada vez que se cruzavam.



O Tejo, os passeios para turistas no rio, a Ponte, o Cristo Rei


Na Fundação Champalimaud, surpreendemos uma curiosa sessão fotográfica, um número de alto risco, que passado um bocado foi interrompida por um segurança.



A jovem trepou com a ajuda do jovem, pôs-se aos ombros dele, e conseguiu colocar-se naquele grande olho que caracteriza a arquitectura da Fundação Champalimaud. Depois posou, com arte e entusiasmo, enquanto ele a fotografava (e eu fotografava os dois). Pouco depois chegou o segurança e interrompeu a festa



Depois de termos feito os nossos habituais cerca de 5 km, fomos então jantar.

Todas as grandes cidades têm uma grande avenida central geralmente na qual abunda o comércio e a animação. Em Madrid há várias que poderiam corresponder a esta descrição genérica (a Castellana, a Gran Via, a Alcalá ou a Goya, e outras), em Barcelona as Ramblas, em Paris os Champs Elysées. Noutras cidades as grandes avenidas centrais nascem na estação central de caminhos de ferro.

Em Lisboa essa avenida poderia ser a Av. da Liberdade. De resto também nasce de perto da estação de Caminhos de Ferro dos Rossio. Contudo, por razões várias, não tem sido particularmente conhecida pela movida. Aliás, durante bastante tempo foi até conhecida pela má vida. Mal caía a noite, travestis e bichas escandalosas faziam daquelas esquinas o seu lugar de ataque. Andar por ali a pé à noite não era, pois, algo que se recomendasse. Pois bem, desde há algum tempo para cá as coisas modificaram-se muito.


Não sei como é de madrugada. Até pode ser que se mantenham os velhos hábitos. Quando lá passo as horas ainda são horas decentes e não vejo nada disso.

A avenida é sim, agora, o lugar onde se têm vindo a instalar as marcas de moda. E há belos hotéis e belos restaurantes e escritórios de advogados e os edifícios estão restaurados, e o clássico mistura-se com o moderno e tudo se conjuga muito bem. O facto de ser uma avenida com largos passeios e várias fiadas de árvores ajuda a manter a identidade mesmo quando os prédios se modificam um pouco, pois o traçado e o arvoredo ajudam a manter a identidade do lugar.


Jantámos num restaurante que tem cerca de 1 ano e uma vez mais vou dizer qual foi pois acho que a sua qualidade, a nível de conforto, ambiente, localização e qualidade gastronómica o merece. Já quanto às contas, recomendo que a verifiquem pois tenho ideia que ainda não atinaram bem e, ainda esta quarta feira, lá calhou uma parcela errada. 

O restaurante é o Avenue (coloco o link mas a ementa que está no site está muito desactualizada). É num amplo primeiro andar, tem uma música ambiente calma, é bem decorado, cosmopolita, agradável. Quem não o conheça ou não vá atento, nem dará por ele pois, ao nível do passeio, apenas tem a entrada. 


Optámos pelos petiscos, ou seja, não fomos para os pratos de peixe ou de carne.

Depois do couvert (bom, incluindo uns feijões verdes em tempura sobre maionese de coentros, ou seja, uma adaptação dos peixinhos da horta), trouxeram, como amuse bouche, oferta da chef, um consommé. Nessa altura eu estava na conversa pelo que não ouvi a descrição. Quem a ouviu também não a soube reproduzir. Mas eu diria que é uma açorda alentejana fria, açorda de bacalhau talvez, passada pela varinha mágica, um caldo leve, cremoso. Nesse caldo nadavam lascas de bacalhau, cubinhos de pão torrado e rebentos de poejo. Muito agradável.

Depois, passei então aos petiscos e vou referir os que eu comi (não liguem muito aos nomes pois se calhar o nome que está na ementa - na real, não na que está no site onde isto nem consta - é diferente; não os fixei e, por isso, digo aquilo de que me lembro):
  • choquinhos estufados com tinta, 
  • ovo escalfado com lasquinhas de farinheira frita por cima, 


  • bacalhau em tempura sobre puré de não sei o quê com saladinha de qualquer coisa de que não me lembro (é a imagem acima)
  • filetes de cavala com cebolinha roxa alimada e puré de abóbora, 
  • e hambúrguer de pato em pequenos pães de caco (imagem à direita) com batata doce frita em finíssimas rodelas

.

Tudo muito bom mesmo. Talvez o ovo escalfado com a farinheira fosse aquele de que menos gostei. De cada coisa vem uma travessinha com 3 ou 4 peças e, portanto, dá para partilhar entre vários comensais. O preço de cada travessinha varia entre os 5 e os 10 euros (salvo erro). Com algum jeito conseguirá fazer-se uma refeição económica. A questão é que a gulodice é muita e, às tantas, vem isto, aquilo e o outro para se provar e, quando chega a conta, ui, ui. A lista de vinhos é variada mas, no nosso caso, como estávamos numa de petiscaria, as bebidas foram água e cerveja (servida em flute, bem gelada, bem boa).

Para sobremesa comi um leite creme queimado com merengue estaladiço por cima e morangos laminados. Muito bom mesmo. Dá à vontade para 2 pessoas.

(Aqui na fotografia aparece um bocado desmantelado porque me distraí e quando o fotografei, já ele tinha sido alvo de ataque. Ainda tentei recompor um pouco mas não ficou fantástico.)

À noite não gosto de comer muito mas na quarta feira acabei por comer demais.


O couvert é generoso e também não contava com a sopa e depois, com petiscos tão apelativos na mesa, não ia deixar de os provar.

De qualquer forma, para quem não coma muito e queira comer na base dos petiscos da gastronomia portuguesa reinterpretada e (relativamente) em conta, pode ficar-se pelo couvert e, para dois, pedir uns 3 ou 4 petiscos e rematar com 1 sobremesa. Se a chef também oferecer um amuse bouche como fez connosco então a coisa chega mais do que bem. Mas, enfim, cada um adequará conforme o gosto e os que quiser gastar.

A seguir, para ajudar a digestão, fomos passear avenida acima, avenida abaixo.

Alguns restaurantes com esplanada estavam bastante compostos e num deles, num dos separadores, havia música e bailarico. Uma animação. Ainda desafiei o meu marido para um pé de dança. Mas qual quê? A resposta foi a do costume: 'Estás maluca?'. É um pé de chumbo, nada a fazer.




Mas centremo-nos, então, no que interessa: as marcas. Claro que não tem nada a ver com o que se encontra no Faubourg Saint-Honoré ou numa George V (só para referir Paris), essas ruas em que as lojas são seguidinhas e em que há sempre um bulício em volta delas. Aqui são mais espaçadas, e talvez por isso mesmo, não se sente aquele ambiente de curiosidade junto às montras. É claro que era de noite, as lojas estavam fechadas, mas ainda assim, nada a ver. Mas é o que é - e ainda assim é curioso de se olhar.

Seja como for, para os meus Leitores que não são de Lisboa nem terão possibilidade de vir tão cedo, aqui deixo a imagem de algumas montras. Naturalmente a minha atenção prende-se mais nas lojas de mulher (vestuário, calçado, carteiras) mas, pensando nos meus leitores homens que gostam de se vestir de forma abichanada ou a tender para o intelectual-alternativo, deixo também uma imagem. Sempre que me lembrei, fotografei também o cartão com os preços para que possam fazer o vosso orçamento e resolverem se compram uma carteirita por 2.000 euros ou se têm melhor destino para arejar a nota.

[Para as fotografias dos preços ficarem junto à fotografia da montra respectiva, tive que as pôr em ponto pequeno. Temo que não vejam bem os números mas, enfim, também pode ser que, assim em ponto pequeno, pareçam mais em conta. De qualquer maneira, se quiserem mesmo apanhar um susto, podem clicar em cima da fotografia que verão os preços em ponto grande.

Uma vez mais a formatação disto não está grande coisa mas ainda não aprendi bem a lidar com o editor do blogger: quero arrumar as imagens de uma forma mais artística e umas vezes consigo, outras nem pouco mais ou menos.]



Carteiras Loewe - não fotografei os preços



Armani - também não fotografei os preços

(Mas eu aqui tenho que confessar que gosto muito das peças Aramani.
Tenho um fato completo de calças e blaser e tem um corte, um tecido com um toque que o tornam intemporal,
mas não fui eu que o comprei que eu sou forreta, foi um presente do meu marido)

























Esta não sei se é Gucci, acabei por não fotografar bem, nem fotografei os preços. Fiquei assustada. Isto é capaz de já ser trauma meu mas os malditos coelhos parece que me perseguem, senhores.
Já viram isto, coelhos por todo o lado?
Fugi a sete pés...! 



Antes de me despedir mostro ainda alguns painéis de azulejos que se podem ver na Avenida da Liberdade. Sou amante da azulejaria portuguesa. Se um dia me sair o Euromilhões tenho muita coisa para fazer e uma delas é tentar dinamizar a azulejaria (artes e ofícios de mãos dadas e, além do mais, um grande potencial de exportação).




Esqueci-me de registar a autoria. Imperdoável.



Belo painel de Teresa Cortez, 1985, da Fábrica Viúva Lamego



E porque de escapadelas estamos a falar, não quero sair daqui sem referir os belos hotéis da Avenida da Liberdade. Digo-vos que merecem ser apreciados mas isto já vai para além de longo. Para não vos maçar mais, mostro apenas uma bela entrada de um belo edifício antigo que penso ser a entrada de um hotel.




Provavelmente nunca vou ficar num destes hotéis (uma pessoa não vai para um hotel perto de casa, acho eu, a menos que seja, lá está, para a dita rapidinha - rapidinha ou escapadinha? ou é escapadela? que confusão... mais vale dizer em inglês: para um city break) mas, a quem tenha oportunidade, penso que ficar aqui, pelos hotéis em si e pelo lugar que é a Avenida da Liberdade e toda a Baixa de Lisboa, deve valer bem a pena.

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E depois disto só me resta aconselhar-vos a - seja em férias, seja ao fim de semana, seja ao fim do dia, seja numa escapadela durante o dia, seja no que for - visitarem e a ver com olhos de ver a bela cidade de Lisboa, uma das mais belas cidades do mundo. Eu nunca me canso, há mil recantos a visitar, mil pormenores a descobrir.



Não foi à toa que Lisboa foi, uma vez mais, distinguida pelos World Travel Awards, os chamados Óscares do Turismo, como o melhor destino europeu para um city break (Europe's Leading City Break Destination 2013), a dita escapada ou escapadela de que os órgãos de comunicação social têm feito eco. Entre a beleza natural, o património histórico e arquitectónico, o comércio, a actividade cultural, os jardins, o ambiente, etc, tudo convida a conhecer melhor a cidade.


E tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira!