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domingo, outubro 22, 2017

Clara Ferreira Alves. João Duque. Raul Vaz.
Alguns dos vírus que intoxicam e estupidificam a opinião pública.


Claro que, depois de aqui ter estado a meditar, na maior tranquilidade, -- e, já percebi, para mim escrever é uma forma de descansar a mente e o corpo -- a última coisa que me apetecia era voltar ao tema da porcaria de comentadores e de jornalistas sub-dotados que não vêem um palmo à frente do nariz, que aparentemente são pagos para dizer apenas o que os mais descerebrados dos espectadores esperam ouvir e que intoxicam a opinião pública de forma viral.


Mas sentir-me-ia mal se não me pronunciasse sobre o que estou a ver, o Eixo do Mal, com a histérica e demagoga Clara Ferreira Alves a demonstrar, de novo, que, quando fala, desliga o intelecto.


Já no outro dia, aquando do despacho de acusação do processo Marquês, ela se tinha atirado a Sócrates de uma forma excessiva e desmiolada. Quando o Daniel Oliveira lhe perguntou se tinha lido o dito despacho para assim falar, engasgadamente reconheceu que não. Contudo, a esperteza ainda lhe chegou para dizer que não mas que tinha lido a narrativa que colegas do Expresso tinham feito sobre o assunto e que isso lhe chegava. Clara Ferreira Alves é isto. Come comida mastigada por outros e parece que isso lhe chega. Ou seja, com aquele seu ar emproado, não passa de uma catatua que papagueia o que outros dizem. Em primeira mão não sabe nada nem tem um pensamento consciente e bem informado sobre coisa alguma. Histriónica, descontroladamente excitada, ela é como muitos outros a quem a televisão dá palco: acham que é portando-se como caniches acéfalos que ladram constantemente e que se mostram prontos a morder as canelas de quem esteja debaixo de fogo por parte dos PàFs que garantirão o bem remunerado emprego de comentadeiros.



Claro que todos gostamos que não haja incêndios, todos gostamos que as linhas telefónicas não ardam, todos gostamos que haja bombeiros e aviões que cheguem e, sobretudo, todos lamentamos as vítimas, os danos, as perdas. Alguém duvida disso? Espero bem que não.

Mas, a bem do decoro e da inteligência, quem seja intelectualmente honesto compreende que as causas para estas desgraças são muitas, algumas fora de controlo humano (seca severa, trovoadas secas, ventos intensos), são profundas (terras abandonadas há décadas, habitações esparsas no meio da floresta), resultam de erros antigos (terras não limpas, linhas de alta tensão a tocar as árvores), de hábitos ancestrais (foguetes e queimadas em tempo quente e seco), de receitas erradas (redução de gastos na prevenção) -- e que não é em poucos meses que se revoluciona tudo e se consegue evitar ou controlar catástrofes de dimensão incomum. 

No entanto, aquela mulherzinha que ali está na televisão, grita contra António Costa e contra a ex-ministra Constança como se eles estivessem no governo há anos e fossem os responsáveis por tudo. Só uma mentecapta pode dizer o que ela diz. Gentinha como ela é perigosa pois pessoas assim recusam-se a compreender as coisas e apenas fazem barulho, quase incitando ao desmando. Assim se cria o terreno para o populismo. O populismo é isto que Clara Ferreira Alves aqui está a fazer. Assim se alimentam os mais primários e irrracionais instintos de vingança e justiça popular


Já antes, até ter feito um higiénico zapping, me tinha arrepiado com o ar arrogantezinho blasé de João Duque na SIC a pronunciar-se sobre as medidas do Governo.


À pergunta sobre o que tinha ele a dizer sobre o que tinha acabado de ser anunciado, responde o dito João Duque -- que, lembremo-nos, foi fervoroso apoiante de Passos Coelho e que assinava por baixo de tudo o que láparo decidia -- qualquer coisa como: 'O que se pode perguntar é porque é que o governo esperou tanto? Porque é que esperou tantos meses, depois de Pedrogão?'

E eu daqui apeteceu-me perguntar ao dito doutor-sapateiro-calceteiro: 'E porque é que não fez essa pergunta quando Passos Coelho era primeiro-ministro?' ou então: 'É isso que ensina aos seus alunos? Que tomem decisões sem estudar, sem fazer contas, sem analisar a sua exequibilidade?'

É que é muito fácil perguntar isto agora que aconteceram as desgraças mas nunca estes novos acusadores se lembraram de pensar no assunto quando, ao longo de quatro anos do anterior governo (e de muitos quatro anos de muitos outros governos de todas as cores políticas), nada foi feito para ordenar o território, limpar as matas, vigiar e proteger, etc, etc. 

Não digo que, nestes dias de desgraça, tenha sido feito tudo o que devia ter sido feito: o que digo é que não sou eu ou qualquer outro zé da esquina que sabe avaliar as causas do que aconteceu e saber como mitigá-las. Mas há quem o saiba.

O estudo que foi apresentado por uma comissão de sabedores, ao que ouço dizer, foi claro, exaustivo, abrangente. Segundo li, percorre de uma ponta a outra os aspectos a ter em atenção para prevenir e combater os incêndios florestais.

Ora, segundo António Costa disse, o Governo esteve à espera dos resultados do estudo para poder decidir como mais eficazmente actuar na raiz dos problemas, em profundidade, atacando o mal em várias frentes, de forma integrada e consistente.

E o que hoje ouvi no fim do Conselho de Ministros extraordinário parece revelar um conjunto de medidas inteligentes e abrangentes que parecem corresponder às necessidades detectadas aos mais diversos níveis.

Mas sobre o estudo das causas do incêndio de Pedrogão ou sobre as medidas agora decididas nem uma palavra de Clara Ferreira Alves. Nem dela nem do outro artista que se senta ao lado dela, o Luís Pedro Nunes. A estes dois zinhos apenas interessa se Costa chorou ou se a emoção que demonstrou foi genuína ou se não passou de uma lágrima política. Para estes zinhos, o exercício governativo não deve ser um exercício sério e honesto mas sim um exercício mediático para agradar aos comentadores.


Mas não são só eles. Não. A coisa é viral. Por todo o lado apanhamos disto.

Ao fim do dia, vínhamos no carro e ouvimos uma notícia na Antena 1. Dizia o jornalista que Marcelo tinha avisado o Governo: que os milhões que vão ser gastos nos apoios não deviam fazer esquecer a necessidade de manter o défice baixo. Ouvimos e ficámos perplexos. O meu marido exclamou: 'Este gajo... primeiro quer medidas e agora avisa para a aplicação das medidas não dar cabo do défice?'. Mas, logo a seguir, passaram as palavras do próprio Marcelo. Afinal não era nada do que o jornalista tinha dito. Marcelo concordava com as medidas de que já tinha conhecimento e referia apenas que a fórmula de cálculo do défice não deveria contar com estas verbas excepcionais e as palavras dele eram dirigidas sobretudo a Bruxelas e a quem monitoriza as contas públicas. Ou seja, o jornalista não tinha percebido nada. Mas, mais grave, logo a seguir passam a palavra a Raul Vaz. O que achava ele das palavras de Marcelo? Pois bem. Mostrando não ter ouvido as palavras de Marcelo mas apenas o disparate do jornalista, Raul Vaz, com voz assertiva, encheu a conversa de censura ao Governo, dos apelos de Marcelo para que não esquecesse o controlo do défice, para que não use o dinheiro que agora parece que salta das pedras para dar cabo do défice. Nem queríamos acreditar naquilo. Não se tinha dado ao trabalho de ouvir as palavras de Marcelo e ali estava a desfiar disparates, papagueando o que outro tinha dito. A desinformação espalhada pelos comentadores é uma mancha que alastra pelas rádios, pelas televisões e jornais.


Depois, o dito Raul Vaz continuou, pseudo-falando das medidas anunciadas -- e criticava o Governo por ter esperado tanto sem fazer nada -- e como se as medidas tivessem nascido ali, na reunião do Conselho de Ministros, sem preparação prévia, como se os ministros ali estivessem apenas a mando de Marcelo, e tivessem estado todo santo dia a inventar medidas à pressão. Num tom destrutivo, a conversa do dito Raul Vaz girou, sobretudo, em torno de, segundo ele, se ter quebrado o estado de graça do governo ou a boa relação entre Marcelo e Costa. Uma conversa de vizinha, a alimentar intrigas. Ouvíamos aquilo perplexos. Não quis saber das medidas e falava como se tivessem sido meros improvisos para calar o Marcelo. Então aquela criatura não percebe que, antes de as medidas irem a discussão e aprovação no Conselho de Ministros, são feitos estudos nos ministérios, que orçamentam verbas, que equacionam alternativas, que analisam a forma de implementar as iniciativas que referem...? Acharão que trabalho sério se faz em cima do joelho, sem bases? Sem antes terem negociado com Bruxelas verbas extraordinárias? Sem antes terem negociado que estas verbas não contam para o cálculo do défice?

E como se dá palco e se põe um microfone à frente da boca de gente que não pensa, não estuda, não se informa? Porque é que os contratam? Para quê? Com que intuitos? 

Não passam de uns vulgares maledicentes, ignorantes, populistas, incendiários sociais.  

Estes comentadores avençados estão a destruir a credibilidade do jornalismo e a intoxicar a opinião pública. 

São uma doença. São um perigo para a democracia. 

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[E queiram continuar a descer caso vos apeteça descansar o espírito: o outono in heaven é bem mais tranquilo do que isto]

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quarta-feira, dezembro 03, 2014

A ver se a gente se entende: porque é que aqueles 18 milhões que a RTP vai gastar para transmitir o futebol são maus para os contribuintes? E que raio de regabofe é este que este desGoverno anda a armar com a Televisão Pública, que já arranjou comissões, encomendou estudos, inventou órgãos, nomeou e desnomeou? Agora é o Alberto da Ponte que não presta? Mas porquê? - de tudo o que tenho visto por parte deste desvairado governo só posso invocar um velho ditado popular: 'A quem não sabe f... até os pêlos do cu atrapalham'. (And sorry for my french)


No post abaixo tenho uma história sobre o Coelho. Recomendo que leiam e passem ao próximo. Deve ser a primeira vez na vida que peço uma coisa destas. Sou completamente contra aquelas cadeias que aparecem sobre o cãozinho, a menina doente, a oração, e que, em regra, apenas se destinam a aumentar o tráfego na internet, atafulhando os servidores de lixo.

Mas, neste caso, fui sensível ao pedido. Não acredito en brujas, pero que las hay, las hay.

Mas isso é a seguir. Aqui a conversa é outra.


Calma. Esta não sou eu.
Esta é Pepper Sparkles que vai actuar no fim


Não tenho simpatia pelo João Duque a quem acho um catavento, uma mariazinha que se acha muito mas que se limita a ir com as outras, ao sabor da maré, armando-se em engraçadinho para disfarçar. Nem tenho simpatia por Alberto da Ponte a quem acho outro convencido e a quem já ouvi dizer as maiores banalidades como se de eruditas máximas de gestão se tratassem.

Mas, quer num caso, quer noutro, acho uma pouca vergonha a forma como foram (e estão a ser) tratados por este Governo no âmbito de uma coisa qualquer que querem que alguém faça à Televisão e que ainda não foram capazes de dizer o que é, sacrificando uns atrás de outros. 

Por estas matérias já andou o Vai-Estudar-ó-Relvas, agora é a pequena Poia Madura, e ainda me lembro do António Borges a anunciar, retórico e superior, qual o modelo a seguir para a Televisão. E nem consigo já recordar todos os nomes que este desGoverno sacrificou no altar da sua ignorância e incompetência, encomendando estudos, pareceres, arranjando teorias de cão de caça, sei lá - e tudo sem que ninguém perceba qual o objectivo. Desdobrar, privatizar, arrendar, subalugar, fazer franchising, what? Alguém sabe o que vai naquelas cabeças ocas?

Agora a coisa azedou com a polémica oferta por parte da RTP de 18 milhões (número que acho que a RTP desmentiu mas que a comunicação social continua a repetir) para transmitir aquilo da Champions. A concorrência berrou:


Aqui d'el rei! Vai uma televisão pública ficar com os direitos de televisão do futebol? Não pode ser! A gente é que quer! E quem é que vai pagar os 18 milhões? Os contribuintes? Roubo! Blasfémia! Punição aos culpados!

Claro que os jornalistas-papagaios, os comentadores-avençados e a meia blogosfera mal-pensante, a uma só voz, se apressaram logo a agarrar o osso, papagueando a poeira que os Canais concorrentes da RTP lançaram.

Vejamos. Volto ao exemplo do restaurante. Suponhamos agora que quero eu dedicar-me à restauração e alugo um edifício muito bem localizado e contrato um chef ultra-badalado. Entre renda e ordenados gastaria por ano, vamos supor 500.000 euros. 

Quem me quisesse denegrir, lançaria logo atoardas do género: Olha para aquela! Escândalo! Meio milhão de euros só para renda e ordenado de uma única pessoa! Deve ter andado a roubar para conseguir um soma absurda destas! Impeça-se! Investigue-se! Prenda-se!

Mas um gestor não olha só para o lado dos custos. Quem olha apenas para o lado dos custos e pensa que é olhando apenas para um lado da equação são os matemático-excluídos, os pouco-informados, os mal-intencionados e os passos-coelhísticos - não os gestores a sério ou as pessoas com dois dedos de testa.

Esses olham para o resultado final da operação aritmética:

  O que se recebe
-   O que se gasta
_______________

= Resultado 
(lucro se o resultado por positivo, prejuízo se for negativo)


Ou seja, se ele vai gastar 18 milhões mas, em receitas (via publicidade ou outros meios), vai empochar, vamos supor, 25 milhões, então vai ter um lucro de 7 milhões e os contribuintes só terão a agradecer-lhe.

Ora já alguém ouviu dizer, no meio da confusão que se instalou, qual a rentabilidade da operação? Eu ainda não vi.

E é isto difícil de perceber? Eu acho que não. E, por isso, acho muito bem que o Alberto da Ponte os mande bugiar, que se vão catar, e que, se não percebem isto e o tomaram de ponta, pois que tirem eles as consequências.

O antes poderoso Alberto da Ponte
ao pé do seu fraco chefe, o triste Poiazita Madura


Claro que não conheço o Plano Estratégico que foi chumbado. Pode ser que seja um chorrilho de calinadas, umas atrás de outras. Mas duvido. Alberto da Ponte é cagão mas não é burro. Inclino-me mais para que seja a Poia e o Láparo a fazerem mais uma das suas.


Já antes aqui o tinha referido. O meu amigo Luís, quando está em presença de burros encartados, daqueles que não acertam uma, que se enleiam nas trapalhadas que eles próprios criam, diz, por extenso: 'A quem não sabe f.... até os pêlos do cu atrapalham'. E, cá para mim, é o que acontece a esta gente que constitui o desGoverno do Láparo. (E desculpem-me a ortografia, se faz favor).

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Bom. Para não se queixarem que este post foi uma seca das valentes, deixem que introduza aqui um pequeno toque de burlesco.

Acho que burlesco rima bem com a actuação desta trupe que nos últimos 3 anos tem tido carta branca para destruir o País. Tão desconchavados são que, não fora a destruição irreversível que têm provocado em tantos sectores da sociedade e a infelicidade que têm trazido a tanta gente, seriam uns pândegos de primeira.

Começo com a primeira estrofe de os Canalhíadas da autoria de Luís Vais sem Tostões


As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!


E termino com a fantástica Pepper Sparkles no seu melhor, aqui interpretando "Mata Hari" 



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Caso queiram seguir para bingo e acompanhar o enterro de um certo Coelho, sigam por favor até ao post seguinte.

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segunda-feira, julho 28, 2014

Os homens do Expresso e Ricardo Salgado, o BES, o Grupo Espírito Santo: Nicolau Santos, Pedro Santos Guerreiro, João Vieira Pereira. E Miguel Sousa Tavares. E João Duque. E outros de outra comunicação social como Marcelo Rebelo de Sousa. E o Correio da Manhã (mas isso não sei se é bem jornalismo). E os Partidos. E não só.


Volto a um assunto de que já tantas vezes aqui falei: a decadência de um poderoso Grupo económico português que se tem vindo a precipitar a velocidade acelerada, mostrando como entre a glória e a ruína vai um curto passo. Uma família Espírito Santo, até há pouco tão rica, rica demais para poder tombar, é hoje, certamente, um grupo de pessoas em aflição, consumida pela desconfiança e pelo ódio.





E volto ao assunto porque a imprensa, antes tão servil, é agora um cão esfaimado pronto a saltar ao pescoço daqueles a quem, antes, tanto venerava. E, ao lançar confusão e areia, a imprensa tablóide corre o risco de desviar a atenção daquilo que importa.

Por isso, vou começar no Correio da Manhã mas não por muito tempo pois penso que presta um mau serviço ao país e vou antes centrar-me no Expresso, no qual há, apesar de tudo, alguns jornalistas de qualidade. E digo alguns porque outros, jornalistas ou colaboradores, uns por uma razão, outros por outra, nem tanto (e agora estou a cingir-me, em particular, ao mediático caso Espírito Santo).


O Correio da Manhã, que parece estar umbilicalmente ligado ao Ministério Público, revela que o BES emprestou alguns milhões aos Partidos, com o CDS à frente (5.5 milhões?). 


Não sei como é feita a gestão económica e financeira dos partidos. Presumo que tenham como fonte de receitas o que os militantes pagam, que não deve ser muito, e algum apoio vindo do Orçamento de Estado. Como despesas, devem ter rendas e outras despesas de funcionamento da sede, incluindo pagamento de ordenados a funcionários, publicações e publicidade, etc. Não sendo empresas com fins lucrativos, diria eu que deveriam ser capazes de viver com o que têm já que não poderão fazer, como as empresas, diversificação de actividades, 'penetração' em novos mercados. Por isso, causa alguma estranheza que precisem de se financiar em milhões. Por exemplo, o CDS, um partido tão pequeno, precisa daqueles milhões para quê? Não sei. Mas, enfim, parece ser mais um caso de gestão do que outra coisa. Uma organização ou uma pessoa pedir empréstimos à banca não tem nada de mal, sobretudo se os conseguir pagar. Por isso, a capa do Correio da Manhã a mim não me diz nada: parece-me, isso sim, puro populismo jornalístico.

A questão é mais outra: quase toda a gente que exerce uma actividade em Portugal parece que não sabe gerir sem ser com recurso a capitais alheios. Ou seja, tal como digo aqui desde sempre e como fica cada vez mais claro, não foram as pessoas individualmente que viveram acima das suas possibilidades mas sim alguns, poucos, os muito privilegiados de sempre, e as organizações, especialmente as de gestão privada (provavelmente, partidos incluídos). 
Portugal vive em cima de dívida e isso, sim, é um grande problema. Há tempos li na entrevista que Anabela Mota Ribeira fez a António Nogueira Leite uma coisa com a qual estou absolutamente de acordo. Referia-se ele ao contacto que tinha tido com o patrono do Grupo Mello:
O Sr. José Manuel de Mello via sempre à frente de todos os outros. Há uma série de coisas que estão a acontecer que, ditas na linguagem encriptada que ele usava, e que quem trabalhava com ele percebia, anunciou. Refere, candidamente mas de uma forma frontal, que em Portugal as pessoas não gerem activos, gerem dívida – que até aí ninguém tinha dito.

É verdade. E, quando se vive em cima de dívida, vive-se no arame - dependente de tudo, vulnerável, as fracas economias que a actividade vá gerando a serem devoradas pelo serviço da dívida. E vive-se sob o jugo de quem tem o poder para ir dispensando mais uma pinguinha, mais um pózinho. 

Porque se chegou a este ponto? Ter-se-ia que recuar muito na História de Portugal para encontrar as causas e nem seria eu a pessoa mais habilitada para falar nisso.

Um Estado em geral ocupado por fracas elites, por gente que se deixa manipular, incapaz de regular o que quer que seja, o poder na mão de uns quantos, poucos, e muita corrupção, grande e pequena mas disseminada, dinheiro circulando por muitos corredores - esta tem sido, de facto, mais coisa menos coisa e salvo em alguns curtos períodos de excepção, a história da vida deste pobre país.

As empresas francesas, quando orçamentavam grandes projectos para venderem em Portugal, incluíam sempre uma rubrica designada por frais latin. Luvas. Soa humilhante para nós mas era (e até há pouco tempo era assim; agora não sei) indispensável para que se conseguissem ganhar grandes concursos.
Não havia grande negócio que se fizesse que não tivesse que contemplar dinheiros para este, para aquele e para aqueloutro. Por vezes, as benesses percorriam a hierarquia de cima a baixo, tudo agilizado (oleado) de forma generosa. Repito: escrevo no passado porque desconheço o que se passa nos dias de hoje.

E, portanto, uns porque pagaram, outros porque receberam, outros porque trabalham em empresas que são fornecedoras e que não querem perder negócio, outros porque são colaboradores e devem fidelidade à empresa, outros porque são amigos ou familiares, ou por mil outras razões - não puderam falar e, mesmo hoje que tudo se escancara em escândalo e revolta, há pessoas de quem se esperaria que denunciassem ou criticassem factos e o não fazem. 

Numa altura em que o assunto que grita no País é o escândalo e o drama da queda do império Espírito Santo, Miguel Sousa Tavares sempre tão atento à actualidade, não toca no assunto GES/BES. Compreende-se: a sua filha é casada com um Espírito Santo. Eu também teria dificuldade em arrasar publicamente um compadre meu. 



Marcelo Rebelo de Sousa já o disse publicamente várias vezes: é amigo pessoal de Ricardo Salgado, já passaram muitas férias juntos, e é sabido que a sua namorada de longa data, Rita Amaral Cabral, é administradora do Grupo. Como poderia ele falar abertamente? Como poderia ele lançar alertas públicos? Fala apenas em geral, em termos globais e fala agora. Ouvi-o há pouco dizendo que já em 98 afrontou Ricardo Salgado mas não tenho ideia. Desconheço se teceu críticas privadas ou quase privadas mas em privado tudo é possível porque, supostamente, as paredes não têm ouvidos. Sobretudo, é inconsequente. O que importava, perante as dramáticas consequências para tanta gente, era que, atempadamente, se tivesse tentado impedir que tanto mal acontecesse.


[Nota: Falar agora é fácil e meio mundo o faz como se já soubesse deste brutal escândalo há mil anos. Mas a coisa é ainda mais desagradável quando o falatório assume contornos de conversa de vizinha. É o que achei da recente conversa de Paes do Amaral. Paes do Amaral foi casado com uma irmã de Rita Amaral Cabral e, portanto, quase cunhado de Marcelo Rebelo de Sousa. A forma deselegante como, na entrevista que concedeu ao jornal Dinheiro Vivo a propósito da privatização da TAP, envolveu Marcelo Rebelo de Sousa na teia de Ricardo Salgado soou-me a vingança, a mau feitio, a coisa feia, a coisa muito pouco nobre - mas, enfim, por estes dias a nobreza parece andar pelas ruas da amargura]

Continuo. Falo agora não de jornalistas ou comentadores mas, sim, de gestores tidos por excelentes, verdadeiros opinion makers junto de quem se interessa pela boa governance de sociedades. Henrique Granadeiro ou Zeinal Bava eram presença frequente em seminários ou debates, casos exemplares. Contudo, estão nas administrações de empresas que têm como accionista os Espírito Santo - como podem falar, se estão onde estão pela confiança que merecem junto do ex-dono disto tudo? Não podem. Aliás, de forma incompreensível, atiraram para a lama a sua própria reputação, a reputação da PT e estoiraram com as economias dos que acreditavam neles. Um caso difícil de entender e que ainda irá dar que falar.



São exemplos, simples exemplos, porque as ligações são poderosas e inúmeras.



Nicolau Santos recordou na sua crónica do suplemento de Economia do Expresso de sábado: em tempos falou das suspeitas e indícios envolvendo Ricardo Salgado e, por causa dessa ousadia, o Expresso sofreu uma quebra de receitas publicitárias no valor de 3 milhões. O BES é um grande anunciante, uma fonte de receitas relevante para toda a gente que precisa das receitas publicitárias. Não é fácil a uma empresa como aquela que gere o Expresso encaixar uma perda de receitas de 3 milhões. Por isso, antes que alguém falasse, que pensasse bem. Assim funcionam estas coisas.


Por isso, foram poucos os que, em momentos difíceis, tiveram a coragem de romper o cerco. Nicolau Santos, como já antes o disse, tem sido exemplar na forma como rompe os cercos do medo. Esta semana não apenas recorda os que valorosamente têm posto o dever de informar acima de medos ou interesses, como tem a coragem de enunciar as actuações tíbias de Carlos Costa que tem sido tão elogiado por meio mundo e cuja actuação, na prática, tem sido tardia, pouco eficaz, e, sejamos claros, pouco credível.

Nicolau Santos fala também em Pedro Santos Guerreiro, um jornalista de primeiríssima água. Claro na expressão, directo, honesto, pela sua mão têm sido escritos dos mais claros artigos sobre a ruína da família Espírito Santo.


Esta semana, Pedro Santos Guerreiro, faz uma antevisão do que vai acontecer às empresas do Grupo (falências, depreciações, venda, prejuízos para os fornecedores e demais credores, muito desemprego), ao BES (perda de valor, perda de dimensão, provável aquisição por parte de outro banco, anulação da marca BES) e para a família (perda de tudo, ser processada, desagregar-se). Ler Pedro santos Guerreiro é ler a realidade sem photoshop.


Nicolau Santos fala ainda de João Vieira Pereira que acompanhou algumas investigações.

Confesso que, em geral, não me revejo na escrita e nas opiniões de João Vieira Pereira. Parece-me frequentemente errático nas suas apreciações, injustificavelmente crédulo (o que parece acontecer sempre que as promessas vêm do lado da actual coligação), só reagindo perante evidências, aparentando pouca consistência nos seus juízos de valor. Mas, de vez em quando, tem assomos de clarividência e escreve de forma directa, sem brandura. É o caso do que escreve esta semana no seu Bloco de Notas. Não sei exactamente a que se refere quando fala de links mas presumo que ele saiba e, por isso, transcrevo:

O Grupo Espírito Santo era claramente extractivo. Extraía para alguns. Para os seus. Família ou amigos. Não havia bem comum. Havia o bem de um.

Sobre ele girava um império. Os links estão todos feitos. A Durão Barroso, a Paulo Portas, a José Sócrates, à EDP, à PT, e até ao Benfica. Os casos sucederam-se durante anos. Sempre com o memsmo denominador. No palco ou nos bastidores.


Mas a culpa é tanto dele como de quem lá o deixou ficar. Durante anos houve um pacto que ninguém ousou quebrar, ninguém.Por mais que agora venham dizer que sempre avisaram, é mentira! Ninguém teve coragem para o fazer. Ninguém com o poder de acabar com a vergonha.

A vergonha de haver um poder económico que não trouxe prosperidade. E que ajuda a explicar por que razão continuamos na cauda da Europa. O valor criado era apropriado por alguns, os eleitos. E foram muitos os que ganharam no jogo.


Não posso estar mais de acordo. Só lamento que, com a presciência que agora revela, João Vieira Pereira não tenha tido a mesma lucidez nas vezes em que o vi defender, com unhas e dentes, as medidas estúpidas com que Passos Coelho tem vindo a destruir a economia, a aumentar a dívida e a atacar trabalhadores, como se tivessem sido estes últimos os responsáveis pelo estado do País. Mas, enfim, se finalmente, caíram os véus que, por vezes, pareciam toldar-lhe a vista, só posso ficar contente. O país precisa de um jornalismo isento e lúcido.


Exemplo de um cata-vento que diz o que calha consoante sopram os ventos é, em minha opinião, João Duque, justamente o da 'confusion de confusiones'. Chega a ser patético. Esta semana escreve uma crónica, naquele seu estilo que tenta ser humorístico, mostrando que, com a estrutura accionista e a estrutura organizativa (e fiscal), as empresas do Grupo Espírito Santo formam uma teia impossível de rastrear. Pois. Têm razão Nicolau Santos e João Vieira Pereira quando dizem que agora é fácil pisar quem já está no chão. Pois não foi João Duque que, à frente do ISEG, concedeu mais uma distinção a Ricardo Salgado? Em 2013, Ricardo Salgado  não foi prestigiado com o doutoramento "honoris causa" por serviços prestados à economia, cultura, ciência e à universidade?


Transcrevo uma parte de uma notícia de Julho de 2013, assinada por Maria Teixeira Alves,sobre o discurso de agradecimento de Ricardo Salgado ao ser agraciado :
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"Hoje em dia não se pode falar de emprego e crescimento sem ter conta uma visão estratégica sobre o que se passa no mundo", disse [Ricardo Salgado] defendendo a internacionalização. Elogiou o papel do BESI na internacionalização do banco.
"Agrada-nos muito ter contribuído para o aumento das exportações portuguesas", disse.
Ricardo Salgado reforçou o papel do Estado no equilíbrio das finanças públicas para poder reduzir a austeridade ao mínimo e promover o crescimento económico". O banqueiro realçou ainda a importância da União Bancária.
Finalmente elogiou o papel do ISEG, presidido por João Duque, no conhecimento.

Por isso, quanto a João Duque, estamos entendidos.



Mas volto ao muito esclarecedor artigo de Nicolau Santos e, para abreviar razões, limito-me a transcrever:

O BES foi seguramente, nos últimos anos, o banco que mais investiu em publicidade na comunicação social. Essa estratégia nunca foi inocente. Na sua mão tinha sempre a espada de Dâmocles, que levava o director de cada rádio, jornal ou televisão a pensar duas vezes antes de publicar algo desagradável para o banco verde.

A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a conferências de uma semana em estâncias de férias de neve na Suiça ou em França, onde de manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas na área económica e financeira. E no verão repetia-se a dose: uma semana num barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado para uma conversa descontraída sobre o banco.



Poderia eu acrescentar: Meu Caro Nicolau Santos, acha que esta prática era exclusivamente dedicada a jornalistas ou a estâncias de neve ou náuticas? Quantos directores ou administradores de empresas foram assistir a jogos de futebol aqui, ali e acolá, com viagem de avião, deslocações, almoços e jantares tudo incluído por convite do BES? Poderia juntar alguns exemplos para além do futebol como, por exemplo, torneios de golfe aqui e além mar, ou outros, mais mas isto está longo para além da conta e eu sei que a vossa paciência tem limites.


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Seria bom que se pudesse fazer uma limpeza nos bastidores da política, da economia e das finanças de Portugal, especialmente acabando de vez com a teia que perigosamente, ao longo de muitos anos, se foi entretecendo entre os seus vários agentes. Mas seria bom que isso não implicasse o sacrifício de muitos inocentes. E é disso que tenho receio, é isso que me preocupa. Mas tudo se há-de resolver e, com sorte, os efeitos colaterais não serão dramáticos e a justiça correrá célere para punir os culpados de tanto atraso de vida.

E até lá, até que a justiça faça o que tem a fazer, que haja decência e respeito (inclusivamente por parte da Justiça e dos seus agentes).





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As músicas são, respectivamente, as bandas sonoras dos filmes 'O Padrinho' e 'O silêncio dos inocentes'.

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Nota escrita na manhã de quinta feira, dia 7


Este post, à data a que escrevo isto, já foi lido mais de 22.000 vezes o que me surpreende imenso. Aos que aqui vierem agora permito-me sugerir a leitura do que, sobre o tema, escrevi entretanto, depois de ter escrito o que acabaram de ler:

Aqui

Aqui

Aqui

Aqui

e, já sobre o NOVO BANCO, aqui, e depois disso já outras dúvidas, perplexidades e catatonias de que seria fastidioso continuar a pôr a aqui os links pelo que o melhor, caso queiram, é irem direitos ao blogue em geral, sem destino definido (mas vão com cuidado pois - vou já avisando -, por vezes, perco-me por maus caminhos).


[Já agora: desde o início que venho escrevendo sobre o tema BES mas para não estar aqui a pôr todas as ligações, caso esteja interessado, sugiro que nas 'etiquetas' do lado direito, lá mais para baixo, clique em BES]. 


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domingo, outubro 20, 2013

Recapitulando - a crónica de Miguel Sousa Tavares no Expresso deste sábado sobre o inexequível, absurdo e nefasto OE 2014 e sobre a quota parte de responsabilidade, na destruição de Portugal, dos 4 partidos que, unidos, trouxeram a troika para Portugal (a saber: PSD, CDS, PCP e BE). E ainda a uníssona opinião de Nicolau Santos, dos arrependidos Daniel Bessa e João Duque (e, de raspão, a balofa opinião de Marcelo Rebelo de Sousa que não gosta, não gosta, mas aplaude a inteligência de Cavaco Silva ao, provavelmente, evitar uma crise política, deixando passar o aborto do OE)


Mais uma vez o Governo falha todas e cada uma das previsões: o PIB, o consumo, o investimento, o défice e a dívida - e todos vamos pagar por isso.


É uma vergonha que, todos os dias, todos os membros do Governo continuem a justificar o continuado desastre desta política com a herança de Sócrates.

A realidade, porém, é que, depois de dois anos e meio de austeridade, depois de 35.000 milhões de euros roubados à economia, depois de 400.000 postos de trabalho destruídos e milhares de empresas levadas à falência, o défice é praticamente igual ao que herdaram e a dívida pública não fez senão aumentar.


Pode ser que um dia eles acabem por ter razão, mas sobre as ruínas de um país devastado, depois de terem desqualificado para sempre o valor do trabalho como factor de produção, depois de terem enviado para a emigração os melhores do país, comprometendo para sempre o seu futuro, depois de terem vendido tudo o que tem valor estratégico e económico, e sepultado qualquer veleidade de modernização na economia, na investigação, na energia. E mantendo, intacto, o mesmo Estado que o país não consegue suportar, porque confundiram o corte de salários e pensões com o corte permanente da despesa do Estado.

Espero bem que o país não se esqueça de ajustar contas com essa gente um dia. 

Esses economistas, esses catedráticos da mentira e da manipulação, servindo muitas vezes interesses que estão para lá de nós, continuam por aí, a vomitar asneiras e a propor crimes, como se a impunidade fizesse parte do estatuto académico que exibem como manto de sabedoria. 

Essa gente, e a banca, foram os que convenceram Passos Coelho a recusar o PEC 4 e a abrir caminho ao resgate, propondo- -lhe que apresentasse como seu programa nada mais do que o programa da troika — o que ele fez, aliviado por não ter de pensar mais no assunto. 


Vale a pena, aliás, lembrar, que o amaldiçoado José Sócrates, foi o único que se opôs sempre ao resgate, dizendo e repetindo que ele nos imporia condições de uma dureza extrema e um preço incomportável a pagar. 


Esta maioria, há que reconhecê-lo, conseguiu o seu maior ou único sucesso em convencer o país que o culpado de tudo o que de mal nos estava a acontecer foi Sócrates — o culpado de vinte anos sucessivos de défice das contas públicas, o culpado da ordem vinda de Bruxelas em 2009 para gastar e gastar contra a recessão (que, curiosamente, só não foi cumprida pela Alemanha, que era quem dava a ordem), e também o culpado pela vinda da troika. 

Mas, tanto o PSD como o CDS, sabiam muito bem que, chumbado o PEC 4, o país ficava sem tesouraria e não restava outro caminho que não o de pedir o resgate. Sabiam-no, mas o apelo do poder foi mais forte do que tudo, mesmo que, benevolamente, queiramos acreditar que não mediram as consequências. 

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  • O texto acima resulta de excertos da crónica semanal de Miguel Sousa Tavares no Expresso deste sábado, dia 19 de Outubro de 2013, crónica que ele designou por 'Recapitulando'.

  • Poderia aqui juntar também excertos do arrependido Daniel Bessa, antes tão apoiante deste Governo e agora já tão desiludido,

Quando tudo isto começou, pensei que subir impostos, baixar salários e reduzir pensões poderiam fazer parte de soluções intercalares, mas não fariam parte da solução definitiva. (...) 

  • ou excertos da crónica de Nicolau Santos, 'Anatomia de uma ficção desesperada', 

A proposta de lei do Orçamento do Estado para 2014 é uma ficção desesperada, controlada por funcionários estrangeiros de segunda e elaborada por uma ministra com alma de contabilista (sem ofensa para a classe...)

  • ou excertos da crónica de um outro arrependido, João Duque, crónica que intitulou 'Vender os anéis e ficar sem os dedos'

Talvez o Governo esteja a prever que o 'prego' seja a saída para muitas famílias, mas recordo que no próximo ano, depois de nos terem esturricado os dedos, o castigo vai continuar, porque é isso que o nosso desequilíbrio impõe na ausência de crescimento económico, embora para o ano já não existam anéis...
  • ou poderia referir todos os outros cronistas ou jornalistas que mostram nesta edição do Expresso, como ultimamente em todas, o mais profundo repúdio pela destruição e injustiça irreparável que o desGoverno de Passos Coelho e Paulo Portas está a levar a cabo no País - mas tornaria este post ainda maior, mais aborrecido de ler.

Mas não posso deixar de referir Marcelo Rebelo de Sousa no seu exercício semanal na TVI com Judite de Sousa (hoje mais bonita, melhor encarada e, sobretudo, melhor maquilhada) pelo seu cinismo, pela inutilidade dos seus comentários, tão cheios de artificialismos, de manobras e conselhos e contra conselhos - e tão desligado, de facto, da dura vida real.

Marcelo Rebelo de Sousa, mestre dos jogos de sombras, interpreta tudo à luz do tacticismo e dos jogos partidários, como quando acha inteligente que Cavaco Silva deixe passar o Orçamento e apenas se limite a enviá-lo para fiscalização sucessiva de modo a que os resultados só saiam para o ano que vem, evitando desta forma uma crise política. Para pessoas que se deixam dissolver nos cenários que conjecturam, como é o caso do comentador Marcelo Rebelo de Sousa, a vida real das pessoas que, por cada mês que passa, mais se degrada, nada conta. O que conta para ele são as habilidades palacianas - e isso é muito revoltante. A desgraça e a insegurança das pessoas deveriam merecer-lhe mais respeito.


Passos Coelho pode mandar detonar o país inteiro, Portugal pode estar devastado, numa irreversível derrocada, as pessoas podem estar a asfixiar debaixo das ruínas, que Marcelo Rebelo de Sousa vai continuar a dar as tácticas para que Cavaco Silva se saia bem e para que se consiga evitar que a responsabilidade caia em cima de Passos Coelho. E, por inverosímil que possa parecer, haverá ainda alguns que continuarão a dizer que a culpa foi de Sócrates (quiçá até por ter, um dia, perguntado, a um tal de Luís se, na televisão, ficava melhor de um lado ou de outro).  

Mas fazer o quê? O mundo é mesmo assim, cheio de coisas e de gente que não dá para entender. Gente que gosta de ver tudo ao contrário ou que gosta de atirar areia para os olhos dos outros sempre haverá. Nada a fazer.

domingo, junho 09, 2013

Nicolau Santos, João Duque, Ricardo Costa, Robert Fishman, David Osborne, Clara Ferreira Alves e tantos outros, no Expresso deste sábado, dizem palavras amargas e duras contra as políticas e as práticas do Governo de Passos Coelho. Para memória futura. Pena que alguns só tenham percebido agora mas, enfim, mais vale tarde que nunca. A pintura de Michael Biberstein está aqui para nos mostrar como são mutáveis os céus que nos cobrem e os horizontes que julgamos ver




Foi na classe média que a austeridade cravou o seu mais afiado e longo punhal. E com a morte da classe média morre também a economia, a cultura e o próprio país.

[Nicolau Santos]




Crédito em risco de incumprimento atinge € 46,6 mil milhões. O crédito malparado é um dos maiores problemas da banca portuguesa. 

Segundo o Banco de Portugal, o rácio do crédito vencido atingiu, em Abril, 11.5% no caso dos empréstimos do sector financeiro às empresas e 4.2% no que se refere aos empréstimos às famílias. 

[Sónia Lourenço]




Sou presidente de um instituto público de ensino superior. Através dos anunciados cortes 'cegos' na rubrica de pessoal querem 'obrigar-me' a mandar para a mobilidade alguns colaboradores. As actividades que desenvolvemos no ISEG atraem estudantes, geram margem positiva e quanto mais nos deixarem gastar em determinadas áreas específicas, mais margem podemos gerar. (...) Não nos deixam fazer mais porque querem que reduzamos as pessoas ao serviço para gastarmos ainda menos. Mas, reduzir a actividade cortando custos variáveis depois de um processo empenhado de adequada gestão, obriga a reduzir a margem que contribui para cobrir os custos fixos. Assim transforma-se uma unidade do Estado que é geradora de margem numa entidade que passa, potencialmente, a ser um fardo para o erário público.

Qualquer gestor sabe que destruir todas as áreas de negócio por igual é manter as más ainda pior e transformar as boas em más, e, potencialmente, deitar tudo a perder. (...) Pode errar-se por desconhecimento ou por vontade própria, mas em qualquer dos casos é grave demais para se persistir no erro.

[João Duque, um dos que descobriu tarde demais com quem se andava a meter]




O Governo não vai dar continuidade ao programa que garantia aos idosos o acesso a obras de adaptação da casa para minorar os efeitos da redução de mobilidade.

Foi lançado em 2007 pelo Governo de Sócrates com o objectivo de melhorar 'as condições básicas de habitabilidade e mobilidade das pessoas idosas' que beneficiavam de apoio domiciliário de forma a 'prevenir e evitar a institucionalização'. Mas o Programa Conforto Habitacional para Pessoas Idosas, que permitiu fazer melhorias nas casas de 1205 idosos, evitando assim a sua ida para lares, terminou este ano, avançou à Lusa fonte do Instituto de Segurança Social

[Artigo não assinado]




Com a troika a recuar, o Governo perde outro discurso: o de 'ir além da troika'. O que é ir além quando a troika já está aquém? Esse ir além partia do princípio de que a receita ia correr bem e permitir um programa político claro. Com metas erradas no défice e na dívida, com desemprego galopante e recessão acentuada, o 'ir além' perde qualquer sentido. Este é o verdadeiro problema do Governo: os dois anos destruíram as promessas e o programa.

[Ricardo Costa, outro dos que só agora parece estar a perceber o embuste que é tudo o que envolve Passos Coelho - o que revela um pouco da sua capacidade de avaliação das pessoas e das situações - mas, uma vez mais o digo: mais vale tarde que nunca]




Escreveu em 2011 que Portugal não precisava da troika. Ainda pensa o mesmo?

Sim. Portugal tinha dificuldade em vender dívida no mercado, mas esse problema poderia ter sido resolvido sem um resgate, se o Banco Central Europeu tivesse feito mais na altura.

Portugal não cresceu na última década, tinha um défice persistente e uma dívida pública a aumentar a despesa. Não eram razões para um resgate?

De forma nenhuma. As exportações estavam a crescer, havia indicadores muito positivos - na educação eram os mais positivos em toda a Europa do Sul - e o défice estava a baixar. As medidas de austeridade do programa de resgate trouxeram um aumento significativo da dívida pública na sua relação com o PIB.

[Entrevista de Micael Pereira a Robert Fishman, formado em Yale, antigo professor em Harvard e agora na Universidade de Notre Dame, nos EUA, e que é um sociólogo especialista em 'prática democrática' e que diz que 'a crise em Portugal é mais séria do que há dois anos'}




Os EUA parecem ter conseguido sair bem da crise. Porquê?

Usámos uma abordagem keynesiana, em vez de escolher o caminho da austeridade. Imaginem alguém com excesso de peso, e que tem que reduzir peso. Uma maneira de o conseguir é cortando as mãos e os pés. É doloroso e debilitante. Assim é a austeridade. A outra maneira é ter uma boa alimentação e ir ao ginásio. essa é a forma mais inteligente, embora leve mais tempo.

É inevitável que o resto do mundo se aproxime mas não temos de empobrecer. Podemos todos ser mais ricos.

[Entrevista de Martim Silva a David Osborne, especialista americano em administração pública, em reformas públicas, autor de livros de sucesso, foi colaborador de Al Gore.]




Portugal resolvia-se se tivesse menos cinco milhões de pessoas e se os reformados, funcionários públicos envelhecidos, doentes com doenças exorbitantes, desempregados e outros subsidiados e excluídos, jovens com sonhos de educações superiores, simplesmente desaparecessem morrendo ou emigrassem vivendo. Se metade da população portuguesa fosse dizimada pela peste isto resolvia-se.

[Clara Ferreira Alves]




Podia continuar e trazer aqui Manuela Ferreira Leite, Fernando Madrinha, João Garcia, Miguel Sousa Tavares e outros. Mas isto ficaria ainda mais longo e todos eles, quase em uníssono, referem o drama que o País atravessa entregue a um bando de incompetentes, ignorantes, mal formados (nunca sei como me hei-de referir a esta gente que nos desgoverna, ainda não percebi se fazem tanta porcaria porque não sabem fazer melhor ou se estão a fazer isto de propósito).

Por isso, fico-me por aqui. Acho que, para memória futura, o conjunto de excertos de artigos do Expresso de dia 8 de Junho que aqui transcrevi é exemplificativo dos tempos que assinalam o fim dos tempos.

(Como sou optimista acho que o fim dos tempos a que me refiro é o fim do tempo do embuste a que temos estado sujeitos nos últimos dois anos e que, a seguir à queda de Passos Coelho, melhores dias virão. Um céu mais brilhante iluminará as nossas vidas - assim o espero).

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As pinturas são de Michael Biberstein, pintor suiço, que nos deixou há pouco tempo. Casado com a escritora Ana Nobre de Gusmão vivia há 30 anos em Portugal e cobria as telas de imensos céus.

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Tenham, meus caros Leitores, um belo domingo.

domingo, março 24, 2013

Miguel Veiga fala destes tempos desalmados entregues a políticos de aviário; João Silvestre explica como uma austeridade para além do acordado com a troika fez desparecer 17,2 mil milhões de euros da economia; Daniel Bessa preocupa-se com a dívida pública que não pára de crescer, sem que os responsáveis políticos se preocupem com isso; e João Duque ironiza: que 'siga o enterro' com tudo a derrapar tão perigosamente... E, para a coisa não acabar mal, 'a pele que há em mim', cantada pela Márcia; e Rui Pires Cabral desfia um nocturno com aviões.



Miguel Veiga


Qual o motivo para rejeitar o candidato do seu partido?

Por ser um candidato do aparelho que só pode vingar, num partido como o PSD, que é livre e aberto, porque o aparelho o impôs, tal como impôs Passos Coelho. Quem fez Passos Coelho, primeiro-ministro?

Quem foi?

Uns tipos do piorio, que existem em Portugal. Um é Miguel Relvas, o outro é Marco António. Andaram durante um ano e meio a bater as distritais para angariar votos, a realidade é esta.

Quem está no poder, o PSD ou o aparelho?

O aparelho, quanto a isso não há dúvida. Encontram algum social-democrata no Governo? Nem um. Estes tipos não têm convicções. Simplesmente não têm uma ideia de convicções e, portanto, não têm uma ética da responsabilidade. Querem o poder pelo poder. Estão centralizados, incrustados e vivem num regime de sucessão eterna, quase dinástico, que se torna opressivo e do mais fechado que há. O regime é autofágico. Vão-se reproduzindo e é como um panzer. Levam tudo à frente. Este é um tempo crepuscular.


(Excerto da entrevista de Ana Soromenho e Valdemar Cruz a Miguel Veiga, advogado portuense, que ajudou a fundar o PPD e que, aos 77 anos, não desiste de uma rebeldia que o leva a ver o actual PSD como um partido de 'políticos de aviário' - Na Revista do Expresso deste sábado)


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Impacto das medidas de austeridade na economia dez 'desaparecer' 17,2 mil milhões de euros.

Governo aplica medidas de 23,8 mil milhões de euros entre 2011 e 2013 mas só consegue baixar o défice em 6,6 mil milhões de euros.

Governo foi além da troika mas nem assim impediu que metas tivessem de ser revistas duas vezes


(Tópicos do interessante artigo de João Silvestre no Expresso - Economia)


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Daniel Bessa


Alguns líderes políticos valorizam o défice público - para o que formulam diferentes trajectórias desejáveis. Outros valorizam a taxa de juro paga pela dívida pública, tanto na emissão como em mercado secundário.

Em minha opinião, sem querer desmerecer a importância destes objectivos, há, neste momento, um outro mais importante: o peso da dívida pública no PIB, que se aproxima dos 130%, para um limite aceitável da ordem dos 60%.

Pode o défice público estar a descer (menos que o desejável, em minha opinião). Pode até a taxa de juro da dívida pública estar momentaneamente controlada (muito por força da acção do BCE, em minha opinião).

A prazo um pouco mais longo, a solvabilidade do Estado português dependerá sempre do peso da sua dívida no PIB. E esta não pára de crescer, por várias razões, que se acumulam (défice público, inflação reduzida, decréscimo do PIB).

Preocupa-me sobremaneira que uma boa parte dos responsáveis políticos do meu país não se preocupem com esta questão - mostrando-se satisfeitos, por exemplo, sempre que alguém lhes autoriza um aumento do défice público.


(Excertos do artigo de Daniel Bessa no Expresso - Economia [e permito-me eu resmungar: é pena é que esteja a acordar para a realidade tão tarde; não viu que ia dar nisto enquanto andou a apoiar estes incompetentes?])


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João Duque


Vejamos um resumo de objectivos e resultados para a política orçamental e para o produto.

Para o défice orçamental previa-se 5,9% para 2011 e obteve-se um défice de 6,2%; Previa-se um défice de 4,5% para 2012 e observou 6,6%; (...)

Para o PIB, o memorando tinha implícita uma queda de -0,4% para 2012, observou-se uma queda de -3,2%; em 2011 previa-se um crescimento de 2,5% para 2013, agora estima-se uma quebra de -2,3% (...)

Sucesso?


(Excerto do artigo semanal de João Duque no Expresso - Economia [e resmungo eu de novo: e, sendo tão douto, presidente de uma das mais conceituadas Faculdades de Economia do País, porque é que só deu por isto tão tarde? Tão apoiante que era de Passos Coelho há uns tempos atrás...])


*

Temas desconsoladores? De desânimo? De desesperança? Pois são. As coisas estão mesmo muito preocupantes. A devastação está a atingir proporções das quais dificilmente escaparemos incólumes. Se isto não é travado o quanto antes, não sei o que vai ser deste País. O que vai ser de nós? Dos nossos filhos? Dos filhos dos nossos filhos?

Temos que impedir que isto continue. Não sei bem como mas o caminho que isto leva é de acelerada destruição em múltiplos quadrantes e razias desta monta têm que ser travadas, seja como for.

*

Para isto não acabar assim, neste tom desmoralizado, vou deixar-vos com uma canção de que gosto bastante, A pele que há em mim de Márcia






                                                                        para o Miguel Martins


Não estejas só. Tu também és
o que já foste e o que esperaste
vir a ser. A manhã que se aproxima

há-de passar, não importa. Para já,
os diligentes aviões de madrugada
sobrevoam o desenho das colinas

de Lisboa - e cá dentro, muito fundo,
numa redoma de música, os amigos
ainda bebem para esquecer

o futuro, que outro remédio
não têm, se a hora não se repete
e a vida é só esta espuma.


['Nocturno com aviões' de Rui Pires Cabral in Resumo, a poesia em 2011]

*

Este post saíu-me enorme (coisa que já não vos deve admirar, sabido que sou de muitas palavras) mas, ainda assim, muito gostaria que me visitassem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje há uma novidade muito especial, Adília Lopes. Sendo ela como é, desestabilizou-me por completo e, por isso, não se admirem com o que lá vão encontrar. Na música, temos a despedida de um grande intérprete, Nelson Freire interpretando Granados.
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E quero ainda desejar-vos um belo domingo. Domingo é dia de passear. Mesmo que chova, vamos para a rua ver o que há de belo à nossa volta, está bem?

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Sobre a falta de sensibilidade como uma patologia. E, do Expresso deste sábado, a palavra a Miguel Sousa Tavares, Manuela Ferreira Leite, João Duque, Paul de Grawe: o estado da Nação. As 'figurinhas deprimentes' de Hieronymus Bosch acompanham-nos.


No filme Barbara  - que, em grande parte decorre num hospital (não para mostrar o desenrolar do seu dia a dia mas porque é o cenário no qual o relacionamento entre os dois personagens principais vai evoluindo) - há uma altura em que dá entrada um jovem que tinha tentado o suicídio, tendo sofrido um traumatismo craniano.

Os médicos hesitam relativamente à necessidade de operá-lo mas resolvem esperar para ver como evolui o seu estado. Quando o jovem desperta e recupera a consciência, descansam. Recuperou a memória, responde a perguntas, tem uma fala clara e lógica. No entanto, qualquer coisa nele preocupa Andre, o médico.

Na noite em que fica de serviço, Barbara apercebe-se, então, que o que se passa é que o jovem perdeu as emoções. Vai a correr à procura de Andre e decidem, então, operá-lo.

Nos seus livros, António Damásio descreve casos assim. Na sequência de lesões cerebrais acontece que o raciocínio fique intacto mas que os acidentados fiquem destituídos da capacidade de se emocionar.

Pergunto-me se isso não teria acontecido a Passos Coelho. Alguns podem achar que ele é normal. Eu tenho dúvidas.

Perante o descalabro absoluto que se constata no estado económico, financeiro e social do país, Passos Coelho reage impassivelmente: que isto é quase aquilo de que se estava à espera, que tem que ser, que de outra forma não se atingiria o reino dos céus, ou seja, não se ficaria nas boas graças dos novos-deuses, os mercados, mas que, se as coisas continuarem assim, se calhar vai ter que rever as previsões.

Fico perplexa com isto.

É a mesma coisa que uma pessoa embarcar numa viagem a quem o guia prometeu lagos, planícies, searas ondulando ao vento e, ao fim de pouco tempo, ver que se meteu em túneis assustadores, precipícios, desfiladeiros sem protecção, gente a despenhar-se por ali abaixo, gente a soçobrar sedenta, esfomeada, esfacelada, uma coisa tenebrosa - e, perante a aflição a que se assiste, o guia dizer, tranquilamente, que já estava a contar mais ou menos com isto e que, se calhar, vai mudar um pouco a descrição do percurso. Ou seja, o guia em vez de reconhecer que se enganou redondamente e arrepiar caminho, persiste em continuar por ali fora. E as pessoas, indefesas, percebem que estão nas mãos dum sujeito pouco inteligente, inexperiente mas, pior que isso, perigoso, insensível, frio.

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Sobre o estado do País, pego do Expresso deste sábado, dia 16 de Fevereiro de 2013, e transcrevo alguns parágrafos de alguns artigos.




Um pouco de história, para recuarmos ao momento antes do advento de Passos Coelho.

Escreve Miguel Sousa Tavares


O primeiro governo Sócrates foi o único, em muitos anos, que conseguiu reduzir o défice das contas públicas e com crescimento económico, embora anémico.

O que o derrotou, depois, foi o efeito avassalador da crise nascida nos Estados Unidos e ter seguido à risca as orientações iniciais de Bruxelas de que o momento era de gastar sem olhar a quanto gastar para evitar que a crise financeira degenerasse em crise económica - o que veio a acontecer quando Bruxelas mudou radicalmente a sua abordagem à crise e começou a exigir contas públicas equilibradas.

Aí, sim, Sócrates e Teixeira dos Santos entraram em deriva e cederam ao pânico instalado na Europa - de que a trágica decisão de acorrer ao BPP e ao BPN foi o passo decisivo para o cadafalso.





Escreve Manuela Ferreira Leite sobre o tão falado corte de 4 mil milhões de euros e repare-se no tom amargamente irónico


Efectivamente, não se conhece o fundamento do seu cálculo, nem os critérios que conduziram àquele valor.

(sobre o corte dos 4 mil milhões) É também olimpicamente indiferente aos seus efeitos sociais, porque já antes deste, muitos outros '4 mil milhões' avançaram e agora é apenas mais um, esquecendo a diferença entre a dor quando se ataca a carne ou se atinge o osso.

O pior que pode acontecer é não nascer ou emigrar, o que, nos tempos que correm, é um bom auspício.




Diz João Duque,  presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão e antes indefectível de PPC


A ser conduzida como está, a política monetária europeia condena-nos à morte sem esperança e em regime de trabalhos forçados.




Volto a Miguel Sousa Tavares


Por mais sacrifícios que se façam, se as nossas empresas não conseguem sobreviver é porque o Estado português, nos dias bons, consegue financiar-se a 5% e as nossas empresas a juro algum, enquanto o Estado federal e as empresas alemãs se financiam a 0,5%. Assim, é fácil dar lições de austeridade aos PIGS e dizer aos gregos que vendam as ilhas.




Diz Paul de Grawe, Professor da universidade Católica de Lovaina,


A maior ameaça para a zona euro hoje em dia não advém da instabilidade financeira mas da potencial instabilidade social e política resultante da depressão económica para a qual foram empurrados os países da Europa do Sul e da qual resultam níveis de desemprego nunca vistos desde o tempo da Grande Depressão. Em certos países do sul da zona euro a taxa de desemprego está hoje bem acima dos 20%. O desenvolvimento mais dramático é o aumento do desemprego juvenil que está na Grécia e Espanha acima dos 50% e em torno dos 30-40% em Itália e Portugal.

Se a situação não for depressa revertida, pode levar a uma agitação social e política em sociedades que se tornaram incapazes de dar um futuro aos seus cidadãos mais jovens.




Volto uma vez mais a Miguel Sousa Tavares,


Alguma coisa de muito grave vai acontecer se continuarmos por este caminho e com um primeiro-ministro que, confrontado com os números da sua estratégia governativa, apenas tem para dizer que está preocupado mas que os números estão 'razoavelmente em linha com as previsões do Governo'. 

O país não aguenta isto muito mais tempo: ai não aguenta, não!


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As imagens são excertos de quadros de  Hieronymus Bosch, pintor e gravador da Holanda dos séculos XV e XVI. O pecado, a tentação, as figuras inquietantes, o pesadelo, a insídia, aparecem representados nas suas pinturas e é delas que me lembro quando falo dos tempos que vivemos e, em particular, da governação aberrante de Passos Coelho.

(Claro que sei que há muita responsabilidade nisto tudo dos especuladores financeiros, da lógica alemã, dos burocratas europeus, etc, etc. - mas há muita, muita, muita responsabilidade que deve ser atribuída aos governantes incultos e ignorantes que passivamente aceitam que o país seja uma dormente coutada, desgraçando, pois, Portugal e os Portugueses)

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Este já é aqui hoje o meu terceiro post. O seguinte é dedicado à sensibilidade de Miguel Relvas que hoje me apareceu aqui em casa, esgargalado, pescoço gordo, a falar-me sobre o que lhe tira o sono (como se eu acreditasse nalguma coisa que ele diz) e o terceiro é dedicado aos que lembram aos governantes que o Povo é quem mais ordena. Por isso, especialmente a uma certa pessoa que nunca se lembra de espreitar para ver se há mais algum post, eu sugiro que deslize por aí abaixo.

Talvez porque me dispersei um bocado com isto, ainda não é hoje que consigo responder aos comentários. É tarde, preciso mesmo de descansar, tenho muito sono e, ainda por cima, amanhã tenho que me levantar cedo. A ver se amanhã, apesar de chegar a casa bem tarde como sei que vou chegar, consigo retomar o meu ritmo normal. A todos aqueles que escreveram comentários (e que li, claro!!!!) as minhas sinceras desculpas.

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Ainda antes de me ir: muito gostaria de vos ter lá pelo meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje as minhas palavras abrem a janela para que um anjo trazido pelas palavras de Alice Vieira e com um incêndio no peito me venha visitar. A música está a cargo de um novo grande intérprete, desta vez, intérprete de violoncelo. A música é de Elger e o virtuoso intérprete é Yo-Yo Ma.

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E tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira.