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quinta-feira, outubro 20, 2022

Calendário 2023 para quem gosta de animais
(racionais ou irracionais, de 2 ou 4 patas)

 

Não é lá por sentir que o tempo galopa a uma velocidade estonteante que, para mim, é como se o ano passasse a ter apenas cinco meses. Ná-na-ni-na-não. Tem doze que eu bem sei.

No entanto, agora que falo nisso também não seria disparate simplificar o calendário. A bem dizer bastaria que o ano contivesse apenas o mês do Carnaval, o mês da Páscoa, dois meses de Férias e o mês do Natal. Mais que suficiente. Poderia até alguns meses terem maior tamanho que os de hoje, poderia até funcionar em geometria variável. Quando estivesse a correr de feição a gente dava-lhe gás, meses de oitenta ou noventa dias. Quando estivesse fastidioso, atalhava-se e passava-se ao seguinte. 

Mas não é isso. Só aqui tenho cinco páginas de calendário por uma simples razão: para não maçar os leitores que preferem calendários no feminino, ie, calendárias. Para esses, quando a Pirelli se sair completamente à cena em toda a sua elegante sofisticação, está prometido que não deixarei passar a ocasião em claro. Aliás, hoje, já aqui, lá mais abaixo, levanto um pouco do véu.

Mas, enquanto não acontece a pirelliana revelação em todo o seu esplendor, fico-me por este. E, para quem estranhe a escolha, informo desde já que sou toda pela ecologia, pela natureza como toda a sua naturalidade. Calendário que é calendário deve retratar as nossas preferências estéticas. Claro que poderia ficar-me por céus e marés, lagos e cúmulos, montanhas que revelassem a solidão da alma dos montanheiros ou por multicoloridas e femininas borboletas, sempre tão efémeras e inocentes. Ou por belos e sinuosos rios ou por aprisionados vulcões prestes a soltar a franga. Mas não. A minha ecologia, no caso, verte-se em animais. E animais declinados em belos exemplares, masculinos e bípedes, afeiçoadamente próximos de igualmente belos quadrúpedes.

Não sei bem que mês cada um deles representa mas isso também não interessa para nada. Têm competência para representar condignamente qualquer mês.

Não sei se sabem tocar piano ou falar francês nem sei se sabem descer às profundidades do grego antigo ou se sabem desbravar o segredo das partículas elementares. Mas aposto que agarram a mangueira com viril convicção e apagam os fogos, de qualquer espécie, com uma perna às costas. E isso é virtude que merece ser enaltecida.










Um grupinho que a gente nem sabe dizer qual deles é que prefere. É como aquela coisa de alguém perguntar a outra se prefere um copo de tinto ou de branco e a outra responder: Cheio. É a mesma lógica. Qual deles preferes? Todos.

Mas, pronto, se tiver mesmo, mesmo, mesmo que escolher, então, vá, escolho o do cavalo. Mas vou já alertando que deixei cair o 'do' não porque prefira animais que andam em quatro patas mas, apenas, para não dizerem que sou uma velha assanhada. Ora. Tenho que zelar pela minha reputação.

Escuso de dizer que tudo isto para informar que o Calendário 2023 dos Bombeiros Australianos já está à venda e as receitas se destinam a ajudar causas meritórias. Por cá também tínhamos os garbosos bombeiros sadinos mas não sei se a causa se mantém de pé. Ou melhor, se a chama se mantém viva. (Puns obviously intended)
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Quando ao tema que me tem vindo a mobilizar nos últimos dias, acrescento apenas que a monda hoje não foi má de todo e, se é para dizer toda a verdade, então tenho que confessar que é viciante. Mal apanho uma aberta atiro-me a eles. Custa a parar. Há sempre mais e mais para apagar. É como nos gabinetes: fui virando minimalista até atingir o minimalismo perfeito. Armários quase vazios. Nas gavetas só lápis, canetas, creme para as mãos, um espelhinho, um perfuminho portátil, coisas simples. Nas prateleiras só coisas estimativas: revistas antigas do tempo em que as newsletters eram em papel e algumas coisas sem nada a ver. 

Ao todo creio que já apaguei à volta de uns catorze mil mails. Hoje estou já cansada dos olhos de ver tanta coisa, já não vou falar de duas coisas que a ver se conto amanhã: os blackberry que numa altura eram tão importantes, tão gadget, e dos quais já nem me lembrava e o mistério do roubo da carpete. Escrevo já aqui pois posso amanhã ver outras coisas e esquecer-me outra vez destas.

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Quanto ao Pirelli, aqui vos deixo um amuse-bouche

Models step up for the 2023 Pirelli Calendar

Fourteen of the world’s most high-profile and dynamic models including Karlie Kloss, Bella Hadid, Cara Delevingne and Emily Ratajkowski will feature in the 49th Pirelli Calendar shot by Australian photographer Emma Summerton


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Um dia bom
Saúde. Bom humor. Força aí. Paz.

sexta-feira, dezembro 06, 2019

Hesito entre ir à procura de Julieta ou dançar o tango.
Embora, sendo realista, it takes two to tango...





Só para dizer que continuo desinspirada para fazer compras de natal. Passo pelo comércio e ponho-me ao largo. Aversão ao consumismo, às barafundas. Sei que, à medida que o dia se aproxima, cada vez há-de ser mais difícil; mas ainda não desceu em mim a interiorização da necessidade. Só me apetecia chegar à véspera e ao dia e haver só a companhia uns dos outros, zero presentes. Mas os meninos não perceberiam pelo que, paciência, lá terá que ser qualquer coisa para cada um. 

Também ando sem paciência para as cenas do PSD. No outro dia calhou ver aqueles três da vida airada, cocó, ranheta e facada mas foi coisa passageira, nem três minutos aguentei. Nada naqueles três é interessante. Fazem parte do passado. O meu mundo não é o deles. 

Do resto, os outros partidos ou andam às aranhas ou a trilhar os caminhos do populismo ou, no caso do PS, a governarem na boa, sem qualquer oposição. E, assim sendo, porque as boas notícias não têm que se lhe diga e às indigências a gente deve poupar, não me detenho na matéria. Se a comunicação social não andasse com alguns ao colo, desapareciam por si. 

Do Trump, esse narcisista em decomposição, também já mal consigo falar. Não gosto de falar de zombies, de parvalhões que já mal se aguentam de tão desintegrados que já estão. E do Bolsonaro, esse outro animal que os brasileiros resolveram eleger, também não vou falar. Não vale dois réis de prosa fiada. Ou de outros.

Nem tenho nada a dizer sobre a vinda do Bibi e do Pompeo para falarem um com o outro nem me apetece falar da campanha americana anti-China. Tudo uma cambada. Mas não é perto das duas matina que vou maçar-me com essa camarilha.

Podia, claro, ao menos falar do ódio ou desprezo inexplicáveis que algumas pessoas, do alto da sua ignorância ou pesporrência, sentem pela Greta mas falar disso poderia enervar-me e eu, santa paciência, tento poupar-me.

Podia falar de outras coisas. Por exemplo, dos loucos e loucas que assomam às janelas da blogosfera para inventarem narrativas destrambelhadas, para moerem a paciência a quem lhes cai no goto, para fazerem cenas patéticas. Gente demente que não sei se na vida real mostra a psicopatia que lhes corre nas veias ou se conseguem disfarçar. Mas não vou falar de stalkers, paranóicos e outros e outras totós. Até porque não há pachorra.

Ou podia ainda falar das secas que, parecendo que não, apesar da boa companhia e das conversas simpáticas, são os jantares e almoços de natal. E, em cima desses, outros. Ainda hei-de perceber o que dá na cabeça de tanta gente para desatarem a organizar almoços específicos como se os 'oficiais' não fossem mais do que suficientes. E mais os almoços de despedida para homenagear os colegas que  resolveram que já mais do que deram para este peditório e que, segundo dizem, vão abraçar novos desafios. E vá de almoço. Se me vejo sem compromissos durante dois ou três dias de seguida até digo que é mentira.

Devia era ficar a dormir até às onze, depois ir caminhar na praia, depois petiscar, depois dormir a sesta, depois ler, depois ir caminhar no campo, depois regressar a la maison, beber um chá quente. Etc. Coisas assim. Uma vida regalada. Anseio. Ou ir de férias para uma aldeia aí perdida no meio das serras.


Enfim. Isto para dizer que, depois do jantarinho da Kate Moss, nada mais tenho a declarar.

Vou é mas é ver se consigo acordar o meu marido para vir aqui dançar um tango comigo. I'm in the mood. Embora mais em sonho do que na realidade até porque já estou a dormir.

Já trouxe para aqui algumas companheiras para a dança: algumas das beldades que valorizam o Calendário Pirelli 2020 com fotografia de Paolo Roversi.

Looking for Juliet...? Não sei, não... Quero é dançar. Na boa. Nem que seja mulheres com mulheres. Até porque o tango era homem com homem.


Mas pronto, vá, para que não vos pareça insensível, aqui fica um cheirinho de amor em poema pelas meninas bonitas do Pirelli possuídas pelo espírito da Julieta -- e não se fala mais nisso.


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E, por ora, é isto. Se vos apetecer frango a la Moss é só descerem.

Beijos e abraços e uma bela happy friday


terça-feira, agosto 06, 2019

À procura de Julieta.
2020 a caminho pela mão de Paolo Roversi para o Calendário Pirelli.
2020 promete, pois, ser um ano em beleza


O fotógrafo é Paolo Roversi e isso, em si, já é garantia de muita qualidade. Mas nem precisaríamos de ter essa garantia pois o Calendário Pirelli é desde sempre um objecto artístico de extrema qualidade. Moda e fotografia sob a lente de quem sabe ver os pormenores e valorizar a beleza. Não é qualquer um que consegue alcançar o patamar que a Pirelli requer.

Rosalia by Roversi para o Pirelli 2010

O tema deste novo calendário tem a ver com a reinterpretação de Julieta o que, reconheçamos, é um desafio extraordinário já que Julieta não existiu. Mas, sendo Paolo Roversi o fotógrafo por excelência da melancolia e, no fundo, sendo esse o tema, o resultado final só pode ser esplendoroso.

De entre os nomes divulgados, há alguns que, do que conheço, não têm como desiludir. Claire Foy, Mia Goth, Emma Watson, Indya Moore, Yara Shahidi, Kristen Stewart, Chris Lee, Rosalia e Stella Roversi serão as Julietas de 2020.

Hoje foi 'libertado' um preview do que vai ser e eu, que gostava de um dia poder estar por perto de uma sessão fotográfica assim, fui logo ver.  Uma amostra de belezura pela qual custa a esperar.


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E até já. Talvez ainda cá volte.
Tenho notícias da Clara.

terça-feira, dezembro 04, 2018

Pirelli 2019
[O making of]



Todos os anos é com curiosidade que espero pela notícia de que já se começam a saber as novidades sobre o Calendário Pirelli. A escolha dos fotógrafos é sempre criteriosa e a das pessoas fotografadas também. E cada vez mais há aspectos diferenciadores. Já lá vai o tempo em que bastavam umas meninas curvilíneas, descascadas. Agora é normal que se reconheça ali arte e uma história ou, vá, uma mensagem.

Desta vez há bailado e Albert Watson -- o fotógrafo convidado -- foi buscar, imagine-se,o meu bem amado Sergei Polunin. E como se já não fosse suficientemente excepcional também foi buscar Misty Copeland. Só de sabê-lo já fiquei encantada.

Ainda não tenho as fotografias dos meses mas tenho um pouco dos bastidores. A Gigi faz a capa do vídeo e, do que se vê, a edição 2018 promete.


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Para quem não conheça a bela Misty, aqui fica uma amostra



Maravilha.

E até já.

sábado, novembro 11, 2017

Rescaldo de uma semana





Chego a sexta feira à noite com vontade de virar do avesso a semana que acabei de viver. Há coisas que são tão tenebrosas que só me dão vontade de rir. Outras tão parvas que só me apetece fazer parvoíces ainda maiores.

Para acabar o dia em beleza, jantámos num restaurante simpático. De um lado estava um grupo de professoras que não fizeram outra coisa durante todo o santo jantar senão dizer mal de outras, mas mal a sério, uma coisa espantosa tal a quantidade de raiva acumulada. Do outro lado, uma família em que uma mulher falava enervadamente do mal que amigos fingidos lhe faziam no facebook fazendo-se passar por amigos de verdade. E o resto da família dava-lhe estranhíssimos conselhos sobre a forma de desmascarar os hipócritas e vingar-se dos cruéis, ao que ela rebatia com revelações ainda mais parvas que as anteriores mas que desencadeavam, nos outros, curiosas reacções de solidariedade.


E nós no meio, incapazes de dizer mal de quem quer que seja a não ser um do outro. Só que a nós o mau feitio passou mal veio a comida porque, na verdade, o nosso mal era fome.

E, no rescaldo, concluímos que éramos mais felizes por não andarmos metidos no Facebook. E eu falei naquela coisa esperta que o Facebook anunciou: quem não quiser correr o risco de ter a circular fotos ou vídeos comprometedores deve... enviá-los para lá. Dizem que traçam o ADN de cada coisa dessas e, a partir daí, mapeiam essa informação contra o que lá cair, conseguindo identificar se algum meliante ou zinha vingativa lá os quiser pôr.


Mas eu pasmo: será preciso ser-se ainda mais desesperado mental do que os incautos que usam o Facebook para entregar justamente ao Facebook aquilo que se quer esconder. Mas vai haver quem se sinta completamente seguro ao fazê-lo. São os mesmos que acreditam no Pai Natal. Que os há.

Bem. 

E, na política nacional, a coisa também anda frouxa.
Ou, então, sou eu que ando com mais sono do que é costume. Tive que madrugar em dois dias e isso desestabiliza-me os humores. A verdade é que o que se passa não me dá pica.
E é que nem Madame Teodora (a Cardoso, of course) já consegue entusiasmar-me. Senhora muito datada para o meu gosto. Não está a envelhecer bem. A nível mental, quero eu dizer -- porque, calma aí, a nível físico, está do melhor que há. Não desfazendo.


Faz-me falta o láparo, o Vai-estudar-ó-Relvas, o Ex-Vice-Irrevogável, a Lulu e o seu pit-bull, o Lombinha dos Briefings, o Maçães e as suas polacas. Até do totó do Gaspar e daquele Álvaro com um ar sempre saudável eu tenho saudades para me despertarem os maus instintos. Ou do Cavaco com a sua Cavaca, agora promovida a fada-madrinha do maravilhoso Reino Encantado de São Marcelo. Olha, agora por falar nisso, lembrei-me que, por esta altura, tadinhos (dos Cavacos), haveriam de estar a preparar a árvore de natal para servir de pano de fundo à sua imprescindível mensagem natalícia. Fofos. Eles e a Joana dos naperons e dos tampões. Toda essa gente faz falta para a gente ter com que se rir à séria. 

Deveríamos tê-los ainda por aí, todos juntos numa espécie de portugal dos pequenitos, num reality show transmitido em directo, com uma Guilherma a atiçar ânimos e a fazer com que fossem para a cama uns com os outros.

Sem eles, o panorama mediático acinzenta-se. É certo que os números da economia estão mais para o côr-de-rosa mas isso dá é para sorrir de gosto. É que sem totós de jeito, a gente vai rir-se de gozo de quê? Dos moços-candidatos, o Rui e o Pedro, que agora deram em ser mais laparianos que o Láparo? Não posso, não é? Não quero passar por parva. Senão isso, então, de quê? De uma lagarta passeando por entre uma salada comprovadamente biológica? Não dá, não é? Ia defender que pusessem pesticida na salada da escola? Não, não é...? Ou vou falar de quem, na escola, achou que o vídeo não tinha qualidade artística e critica agora a aluna? Não... parece-me motivo meio pífio. Seria bater no fundo: chegar ao ponto de que o único motivo de conversa já não passasse disto.

Portanto, olhem, paciência, nada mais me resta senão tentar aliviar a maçadoria que se acumulou ao longo da semana, procurando cenas que, para mim, valham a pena. Portanto, aqui estão: rãs descaradamente verdes, pretas do além*, uma das quais branca, (e daqui a nada já verão a que propósito se puseram naqueles preparos), crianças metafísicas, majorettes d'après la lettre, uma Melania assombrada na muralha da China, um jordano bué de bacano, todo LGBT. É o género de coisa que me interessa.


Entretanto, já cá tenho outra vez na sala o porta-voz de todos os ramos da sociedade portuguesa, seja qual for o ramo e o tema: o ubíquo e omnisciente Marcelo (a quem o E. trata por Marcelo-afilhado), aquele nosso bem conhecido santo padroeiro que dá conta de tudo. Nem sei de que é que agora fala mas reparei que fala com ar de quem sabe de tudo. Para além de ter muito amor para dar, está sempre pronto para dar uma lição ao povo. Mas, enfim, isso já nada tem de novo.


Salva-se, pela graça, a notícia de que alguns gays maléficos andaram a influenciar alguns leões quenianos e de tal forma que já apanharam alguns a reproduzir o que viram. Upa-la-la em cima um do outro. Se isto dá em tudo o que é cão e gato vai ser um ver se te avias a sair do armário


E é isto. E se houver aí alguém que tenha registo de alguma coisa mais importante, que se levante e diga. Senão, ficamos assim.

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Fotografias quase todas vistas no The Guardian. A dos leões que são macacos de imitação não.

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* Ah, sim. É verdade. Salva-se ainda outra coisa. Oh lá se salva...!

Alice! Alicinha! Vem ver, Alicinha.

Calendário Pirelli 2018 por Tim Walker


A beleza em negro em Alice no País das Maravilhas. Pura magia.



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E a história das wild roses vai ter que esperar.

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sexta-feira, julho 21, 2017

Pirelli 2018 - going wild



Gosto de fotografia, gosto de beleza, gosto de elegância, gosto de irreverência, gosto de insolência, gosto de boas mensagens, gosto de ser surpreendida. Por isso, há coisas pelas quais sempre aguardo com expectativa. Uma delas refere-se às imagens do calendário Pirelli. Nele, os melhores fotógrafos, costumam fotografar as mulheres mais belas.

Pois bem, para este ano a Pirelli foi buscar um fotógrafo que é muito cá da casa: Tim Walker. Quando soube disso senti aquela reacção infantil de quem acerta no furo que esconde a bolinha que dá o melhor prémio.


Claro que o resultado não haveria de ser convencional e haveria de ter história, magia, inconvencionalismo, graça. Digamos que, para quem vai à procura de mulheres lindas, descascadas, em ambientes paridisíacos, poderá haver uma desilusão. Provavelmente pensará que se enganou no calendário. Mas o mundo já não é o que era. O ideal ficcionado em que apenas mulheres altas, esbeltas e sorridentes têm lugar, já era. Felizmente muito boa gente tem vindo a pugnar pelo fim da ficção da perfeição ideal e começa a ser consensual que em tudo há beleza, desde que tenhamos predisposição para a ver. E há muitas maneiras de defender a inclusão e uma das mais efectivas é praticando-a. Farta de palavras vazias, declarações inflamadas ou mediáticas bolas de efeito, fico toda feliz da vida quando o insólito marcha orgulhosamente rua afora.

E ver estas imagens ainda mais me agrada quanto, justamente, hoje, no meio de um mar de gente vi uma mulher numa cadeira de rodas e a mulher era apenas meia mulher, e vinha a sair, sorridente, de uma Zara, e vi duas crianças sem um cabelo, nem nas sobrancelhas, com gorros, máscara, rostos inchados e ambas sorridentes e felizes, e um homem que devia ser deficiente mental, muito estranho, vestido de uma forma absurda, e todo ele sorria, feliz por estar ali. E, cruzando-me com pessoas de todas as etnias e culturas e de todas as condições, senti-me muito bem porque a maior felicidade é a normal convivência no seio de um ambiente inclusivo, de genuína aceitação e profundo respeito por todas as pessoas.


Generosidade, compaixão, afabilidade, respeito, empatia, aceitação -- são estados de espírito ou predisposições mentais ou emocionais que tornam o mundo um lugar bom para se viver. Tim Walker demonstrou uma vez mais que este é o seu mundo ao encenar desta forma tão surpreendente a Alice no País das Maravilhas. E logo para o Calendário Pirelli.



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Tim Walker, salut!

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E uma feliz sexta-feira a todos quantos por aqui passam.

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quarta-feira, novembro 30, 2016

As garotas de rosto nu do Calendário Pirelli 2017
- um grito contra o terror da perfeição e da juventude


O meu prazer em fotografar é inversamente proporcional ao de ser fotografada. 


Nunca me apanham em grupinhos a dizer cheeeeese ou ba-ta-ta. Impossível. E se tenho que ser fotografada por obrigação sou incapaz de me produzir para o momento.

Acho que já o contei. Quando o ano passado foi um fotógrafo à empresa para tirar fotografias a cada um de nós, cheguei lá e fiquei espantada com a produção de cada uma das outras mulheres. Muitas tinham ido ao cabeleireiro, vinham aperaltadas, todas de ponto em fino. Eu fui normal. Aliás, ao arranjar-me em casa, foi coisa que nem me ocorreu. Depois, estava numa reunião quando me foram chamar. Fui num ápice dar uma espreitadela à casa de banho. Achei que menos mal. Quando ia a entrar para a sala, pensei que devia ter passado uma corzinha nos lábios. Tarde demais. Pus-me lá no sítio que o fotógrafo disse e começou a dar-me vontade de rir. Ele, profissional, não ligou. Aproximou-se e pôs-me ligeiramente de lado. E eu com vontade de rir. Fiz um esforço para manter uma pose adequada ao status. E, nisto, pergunta-me ele enquanto me fixava com olho clínico: 'Sô-Tôra, não quer afastar o cabelo?' e fez um gesto com a mão, como que para afastar a franja. Fiquei preocupada: 'Mas está mal?' e ele. meio atrapalhado: 'Não... Mas podia querer afastá-lo mais da cara...' Fiquei apreensiva. Tive vontade de lhe dizer: 'Alto e pára o baile. Tenho que ir ver com os meus próprios olhos!'. Mas não, achei que, se afastasse o cabelo, poderia ficar com ar demasiado despido e e não me dispo perante qualquer um. Ficou assim. Agora olho a fotografia e não consigo formar opinião. Algumas colegas odiaram ver-se, exigiram um remake. Eu fiquei depois a pensar que, se calhar, devia ter aproveitado a oportunidade de tentar segunda chance, talvez ficasse melhor. Mas não. Só passar outra vez por aquilo... Não gosto.

Apenas de vez em quando, quando não estou nem aí, é que não me importo que o meu marido ande à minha volta a apanhar-me tal como estou, sem poses ou sorrisos pasmados. 


Acontece-me também, quando me vejo nas fotografias, achar-me diferente do que era tempos atrás. Como já o contei, tendo, então, a protestar com o fotógrafo: não devia pôr-me com o sol a bater-me na cara, não tem cuidado, não me adoça a pele, mostra-me as rugas junto aos olhos, mostra que o meu rosto já não tem a frescura de quando eu tinha a vida inteira pela frente, bem podia apanhar-me em melhores ângulos, com luz mais esbatida. Etc. Ele não liga, acha que fiquei bem. E está dito. Não lhe arranco nem mais uma palavra.

Depois, se calha eu ver essas fotografias anos depois, olho e já acho que ali ainda era uma jovem, cinquenta mil vezes com mais piada do que na actualidade.

E isto contado assim até parece que dou muita importância a isto. Não dou. São pensamentos ou reacções momentâneas que desaparecem na hora.

O que entretanto aprendi é que somos sempre jovens e bonitos aos olhos de quem é mais velho e acabado que nós.

E aprendi, sobretudo, outra coisa: é que a beleza de uma pessoa é francamente subjectiva. 

Gosto de me maquilhar ao de leve pois acho que sem um toque de cor, fico um bocado descorada, as sobrancelhas claras, a pele clara, parece que está mesmo a pedir uma sombra leve na pálpebra superior, um pouco de blush, coisa leve em tom de pêssego e só mesmo nas maçãs do rosto, e, nos lábios, uma passagem de gloss, cor de romã suave. Mas, ao fim de semana, nada, quanto muito um esfumado ligeiro  na pálpebra superior. E, no entanto, a minha filha diz que fico melhor assim, rosto nu. 


Mas não sei se ela tem razão. O meu marido, por seu lado, não se pronuncia. Não tem paciência para os meus inquéritos. E diz que receia responder o que quer que seja pois acha, que diga o que disser, ficará sempre sujeito a mais perguntas, e, se há coisa que o impacienta, é ter que dar justificações das opiniões que exprime. Por isso, tenho que me fiar na minha opinião. Contudo, nunca me deu para carregar na maquilhagem, usar base para disfarçar imperfeições, carregar no rimel, pintar os lábios de cor compacta e desenhando o contorno. Acho que não suportaria o contraste quando, à noite, retirasse a maquilhagem. Penso que deveria parecer-me com um palhaço no fim do circo, no camarim, a desfazer-me do personagem.

Mas a verdade é que tanto faz. Se nos sentimos bem e confiantes, está sempre tudo bem. E haverá sempre quem goste de nós, quem nos olhe com olhos doces de afecto ou apreço. Nem que seja um velhinho, cinquenta anos mais velho que nós (pitosga, taraulhoco, meio deslembrado).

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Vem isto a propósito do Calendário Pirelli 2017. Transcrevo:


This year, Peter Lindbergh became the first photographer to shoot three Pirelli calendars. His 2017 also marks another first for "The Cal", as the images have not been retouched. Lindbergh tapped 14 of his favorite women in Hollywood: Nicole Kidman, Lupita Nyong'o, Uma Thurman, Lea Seydoux, Rooney Mara, Kate Winslet, Robin Wright, Julianne Moore, Alicia Vikander, Charlotte Rampling, Zhang Ziyi, Penelope Cruz, Jessica Chastain and Helen Mirren. Lindbergh also included Anastasia Ignatova, a political theory professor in Moscow, that he met a dinner last year. All the women featured were tasked with sharing their natural beauty for the black and white calendar which he has titled "Emotional".


"Beauty is just commercial interest, as you see in magazines, women are washed out from every experience. That's just the opposite of what I wanted. These are the most talented women that I admire in the entire world. They are emotional and I wanted to show that," Lindbergh said during the official press conference in Paris today.

All the women in this calendar, we're women of all different facets. The calendar is physical, so what are you building inside? It's about the journey." Lindbergh and his subjects all hope to spark the cultural conversation on what real beauty looks like. "Look at this Pirelli calendar," Mirren said, "the reality is we live, we love, we continue, that's the role of women. It is very difficult, for young girls nowadays, incredibly challenging. The only way we can help them along the way is to say, life goes on a long time. You will be many things in your lifetime."

Pirelli Calendar 2017 by photographer Peter Lindbergh


Captured by legendary photographer Peter Lindbergh and featuring equally as iconic women as Nicole Kidman, Julianne Moore, Lupita Nyong'o, Kate Winslet and more.


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E tenham, meus Caros Leitores, um dia muito feliz. Vocês merecem.

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