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quarta-feira, outubro 28, 2020

Nem Trump, nem manas Mortágua, nem OE 2021, nem covid --- apenas o espírito do novo natal encarnado em frasco de Nº 5
['encarnado' do verbo encarnar, bem entendido]

 


Agora, aqui, não vou falar do Trump. Já o fiz no post abaixo e, ao ver o pequeno vídeo que ali partilho tal como de cada vez que observo aquele psicopata, fico irritada. Portanto, por hoje já chega. Quanto muito vou acender uma velinha a ver se todos os santinhos intercedem junto da Suprema Autoridade Divina no sentido de os americanos darem uma valente corrida em osso ao palhaço Donald.

Também não vou falar do modo de actuar do BE nesta coisa da votação do OE2021. Não me apetece. É mais do mesmo. São, uma vez mais, iguais a elas próprias. Por petulância, vendem a alma ao diabo se necessário for. Não digo que por vezes não tenham razão. Mal fora se nunca a tivessem. Digo é que não olham a meios para atingir os fins e, nessa demanda, esquecem-se dos interesses do País para defenderem os interesses do partido. Como meninas birrentas, metem uma na cabeça e ficam a fazer finca-pé enquanto não lhes fazem a vontade. Agarram-se com unhas e dentes a uma árvore sem quererem saber se o resto da floresta está a arder. Querendo fazer-nos crer que têm uma visão moralmente superior aos comuns mortais, a verdade é que passam a vida a mostrar à saciedade que têm uma visão pequenina e medíocre do que é a política. 
O que elas defendem parece simpático? Claro que parece. Céu azul todos os dias? Claro que quero, é bom, levanta a moral, toda a gente deve ter direito a isso. Ir à praia todos os dias? Claro que é bom, claro que todos devem ter direito a isso. Pôr o carteiro a deixar um envelope com mil euros todas as semanas na caixa do correio de toda a gente? Claro que é bom, claro que toda a gente deveria ser contemplada. Mas, se não conseguirem isso, faz sentido fazerem birra? Ah... não me parece. Mas sei lá. E do que não sei não falo. Nem me apetece falar das manas Mortágua, em especial da arrogante Mariana, nem da artista encartada Catarina. São apenas, em permanência, um desnecessário e desagradável déjà-vu.

E muito menos vou falar dos merdinhas dos totós cor-de-rosa que por aí andam em vara, destravados, escoiceando, empinados, indomáveis. Apesar de invisíveis, conseguem fazer ajoelhar o mundo. Pelo andar da carruagem, talvez o verão do ano que vem não traga o pesadelo que este trouxe. Pode ser que, até ao próximo outono, haja vacina para todos (mas quem vai pagá-la? a segurança social, cada vez mais a tender para a descapitalização...? -- melhor nem pensar nisso), quiçá tratamento. Isto se passado algum tempo não aparecer outro corona e a história voltar a repetir-se. O futuro não será radioso. Se não forem os coronas, será a falta de insectos, a falta de polinização. Se não for isso, será o degelo. Se não for o degelo serão os microplásticos. Se não for...

Portanto, afigura-se-me que é muito bem capaz que o melhor que temos a fazer seja manter esses pensamentos racionais bem sossegados atrás de uma cortina que, de vez em quando, corremos. Olhos que não vêem, coração que não sente. Portanto, com os assuntos reais e concretos bem escondidos, a gente pode divagar e alienar-se à vontade como se o mundo fosse perfeito, céu azul todos os dias, praia ao dispor para todos, gaivotas dançando e inspirando lindas canções, velhinhos saudáveis e eternos, crianças felizes e sempre com boas notas, casais sempre amantíssimos até ao fim dos tempos. E perfumes maravilhosos. E, de entre eles, o meu preferido: o Nº5, claro. Está a fazer 100 anos e é como se ainda fosse um jovem. 

O Natal -- que provavelmente este ano também vai ser o novo Natal (para rimar com o novo-normal) -- está a aproximar-se e, com ele, os bons sentimentos transformados em cadeaux. E, portanto, já aí está na calha a publicidade de qualidade. Perfumes, claro. Chanel, obviamente. 

Marion Cotillard é a diva que dá corpo ao que se idealiza como sendo o espírito Nº 5. Vejamos. E deixai-nos sonhar, Senhor.



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As fotografias são da autoria de Annie Leibovitz e a fotografada é Cate Blanchett

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E tenham, meus Caros, um dia feliz.

sábado, novembro 09, 2019

Tinha ou não tinha cuecas?
Aos 61 anos, Sharon Stone esclarece e repete a graça,
E diz algumas coisas que são boas de ouvir



Sharon Stone é uma mulher bela, elegante, inteligente, segura de si e orgulhosa da sua sensualidade.

Muita água rolou debaixo da ponte desde que deixou meio mundo alucinado com o  trocar de pernas de Catherine Tramell. Mas não foi só o movimento das pernas e o que ele deixou entrever ou adivinhar: foi também o charme, a forma como desconcertou os agentes que a interrogavam. A sedução e a inteligência são um poderoso afrodisíaco. O humor é o condimento que torna a atracção irresistível.


Depois da fama brutal e de passar a ser vista sobretudo como um poço de sensualidade, veio o igualmente brutal AVC. E, depois do AVC, veio a travessia do deserto e o renascimento. E veio a luta por reencontrar o seu espaço, sempre com dignidade, sem auto-comiseração, como um alerta. E, entretanto, Sharon Stone, ainda e sempre uma bela mulher, voltou à universidade, voltou ao trabalho, voltou à vida normal.

O discurso que proferiu na cerimónia na qual lhe foi atribuído o prémio Mulher GQ do ano 2019 é o discurso de alguém que teve tudo e que depois passou ao lado da morte, e seguiu caminho. Sempre de cabeça erguida.

Não sei se ainda há quem padeça do preconceito de que as mulheres bonitas tendem a ser pouco inteligentes e, mais ainda, se forem louras -- mas, se ainda o há, é bom que ponham os olhos na inteligente e talentosa Sharon Stone.


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E porque é um testemunho muito objectivo, muito claro e, ao mesmo tempo muito impressionante (e tranquilizador), deixo também aqui a sua descrição do que foi a passagem para o outro lado no momento de quase-morte.


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A fotografia lá em cima é da autoria de Annie Leibovitz para a Vanity Fair

quinta-feira, junho 23, 2016

História de um coração que parece de gelo mas que é capaz de emoções calorosas




Uma vez mais, adormeci. Depois de ter escrito o post sobre o futebol, sobre Gabor Kiraly, o carismático guarda-redes húngaro, e sobre a bela caracolada, deslizei até ao sofá e pus-me a ler sobre alguém que conheço bem. Não sei como é que conheço tão bem, mas conheço. A cada página, encontro um comportamento que identifico e quase poderia adivinhar a forma como vai reagir. Sei o que faz, sei o que pensa, sei como reage. E, no entanto, não é porque seja igual a mim. Pelo contrário: é o meu oposto. Mas é como se o conhecesse tão bem que poderia reproduzir, um por um, os seus passos. Ou melhor, não os seus passos, mas os seus pensamentos. 


Como livro, posso dizer que acho um bom livro mas não é daqueles que me levem pela mão por entre labirintos ou jardins na ânsia de conhecer os próximos passos, ou que me detenham, uma mão aberta no meu peito, suspendendo-me a marcha e forçando-me a reler cada palavra para que veja como a beleza pode descer sob os nossos olhos na forma de palavras cerzidas como sumptuosos bordados ou delicadas pinturas. Está bem escrito, claro, mas talvez porque não me traz novidade ou porque não existe aquela pitada de humor de que preciso como condimento em todas as parcelas da minha vida, dou por mim à espera que aconteça um sobressalto, que o coração do personagem se estilhace, que caia por um poço sem fim, que um lobo de verdade entre no quarto e o devore, letra a letra, desencanto a desencanto. 

À página 168 adormeci. Minutos, apenas, acho eu. 

Acordei com o calor.

Estive agora à janela. A lua está branca, reflecte-se no rio. A aragem já refrescou. Poderia estar ali à janela um bom bocado, com vontade de que uma gaivota viesse de novo até à minha varanda. Mas, de noite, as gaivotas não se aventuram em voos fugidios. Só de madrugada, por vezes, as ouço gritar, parecem aflitas.


Há dias em que sinto algumas saudades. Recebi um mail, alguém que nunca se esquece de mim. Um afecto que perdoa as minhas ausências. E eu sou tanto de ausências. Vou substituindo umas pessoas por outras, umas vão saindo da minha vida, outras vão entrando. Não há espaço para todas. Esqueço-me de datas de aniversários. Nunca tomo nota de nada, não me apetece carregar com compromissos, obrigações, fio-me que o importante se manterá vivo na minha memória. Mas não mantém. Quando dou por mim já passaram as datas que eu não deveria ter esquecido. E penso, por vezes com alguma auto-recriminação, que eu deveria arranjar espaço na minha vida para manter acesos os vínculos que foram importantes. Mas sei que me esqueço, que o que passa perde relevância. Apenas uma ou outra pessoa persistem, e dessas eu sinto saudades.

Li o mail, tão querido, querendo combinar um encontro para este verão e eu fiquei a olhar, enlevada. Não respondi logo, quis pensar no que responder. Passado um bocado, no meio de tantos afazeres, já me tinha esquecido. Depois, como o mail estava lido, já não o vi quando voltei a ver os mails. Só ao fim do dia me lembrei. Achei-me, uma vez mais, desligada. É como se fosse caminhando, e não apenas deslizando, em cima do tapete rolante do tempo, deixando para trás os que acompanham o movimento normal do tempo.

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Por estes dias aprendo um novo léxico, conheço novos lugares, novas pessoas. De vez em quando na minha vida acontece-me isto: parece que bastam dois passos ao lado para entrar num mundo que desconhecia. Tudo novo.

Visito lugares em que já antes estive, várias vezes até, e porque me dão a ver uma outra realidade, eu vejo agora que tinha estado como que cega para aquilo que antes, por não estar alerta, pura e simplesmente ignorava, não via, juraria que não existia.

Entra, pois, na minha vida, uma outra vida, junta-se às anteriores. Depois, ao voltar a dar os tais passos ao lado, reentro na anterior e, de repente, aquela que antes me preenchia como sendo total e única já me parece apenas metade. E quase parece que, no espaço de dias, me transformei por dentro.

Poderia isto ser uma sensação única, extraordinária. Mas não, já me aconteceu várias vezes na minha vida. Depois entra na normalidade, a minha nova vida passa a ser esta. Até que volte a acontecer uma nova descoberta.

Escusado será dizer que gosto disto. Parece que me vou desdobrando, percorrendo caminhos quase paralelos, vivendo várias vidas.

A depois, a meio ou ao fim do dia, ou à noite como agora, enquanto penso naqueles que em mim pensam e de quem tenho saudades, procuro as águas que em mim correm, livres, limpas e nelas banho, com prazer, os meus pensamentos e sonhos.


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Talvez nem venha a propósito (mas eu gosto do que não vem a propósito, especialmente porque geralmente até vem). Para não darem por perdida a vossa vinda aqui, convido-vos a ver uma sessão fotográfica fantástica.

A Moncler Icelandic Fairytale by Annie Leibovitz


The moral of this story of icy snow and warm emotions? It is this: even the hardest, seemingly impenetrable ice can guard the warmth of the purest form of love. Layers and layers of ice can conceal the secret and harmonious sense of a profound emotive link. One which is worth fighting for, when necessary.

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As fotografias das terras frias da Islândia que usei para dar alguma graça ao texto são de  Pawel.

Lá em cima era Ludovico Einaudi a interpretar "Elegy for the Arctic"

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E, aos que aterraram agora aqui, convido a virem ver uma pessoa com muito estilo. Não será das calças nem do penteado: mas é um quelque chose que se sente à distância.


quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Aquelas que, em tempos, foram mulheres muito belas


Bem, agora que que se ouvem tantas meninas a gritarem que vem aí o lobo e que eu já disse o que tinha a dizer sobre o assunto -- deixando umas sugestões para os senhores que nos governam -- vou intervalar.

De qualquer maneira, a quem não aguentar a espera e quiser já ouvir-me a dar conselhos ao Costa, ao Centeno (que, coitado, tão estafado parece estar, dá ideia de já mal poder com uma gata pelo rabo) e ao Mister Foreign Affair e, tagarela como sou, também a falar do orçamento, de caniches que não largam, de incontornáveis popotas e de galinhas bronzeadas e sei lá que mais, pois que salte já daqui até lá para baixo.

É que, aqui, agora, vou falar de mulheres. Da beleza das mulheres quando deixam de ir para novas. (Hélas, como é o meu caso).

 Jennifer Lawrence, 25 anos, e Jane Fonda, 78 anos -  por Annie Leibovitz para a Vanity Fair, 2016



Silêncio e tanta gente - Maria Guinot


Hoje fui ao supermercado à hora de almoço. Todas as semanas levamos as compras mais pesadas para que a terceira idade não tenha que o fazer. Quando me atraso, o meu marido despacha tudo num ápice: as compras cingem-se ao estritamente necessário. Quando eu vou, dou-lhe cabo do sistema nervoso porque o tempo é limitado e eu, sem querer, perco-me. 

Jane Fonda, 1978

Geralmente, mal o apanho de costas, pisgo-me a ver se há promoções na zona dos cremes. Vejo para que idades são eles recomendados para ver se são mesmo os que eu deveria usar, se apagam as rugas, se eliminam a flacidez, e mais qualquer coisa de que agora não me lembro. Vejo se são de dia, de noite, se são tratamentos reafirmantes, se são daqueles que simulam preenchimento, etc. (O que será a outra coisa de que não me lembro?) Adiante. Depois vou ver os mais caros, para ver as novidades. Um balúrdio. Arrepio caminho e, se estou a precisar, fico-me pelos mais básicos.

Volta e meia encontro na casa de banho do escritório algumas colegas retocando as maquilhagens. Só vejo coisas de marca. Eu não. Abasteço-me na fancaria e, de preferência, no que estiver em promoção. Perdulária só sou com livros (ou coisas para a descendência, claro).

Pois bem, hoje havia promoções das boas, 35% de desconto. Abasteci-me, claro está. Agora já apliquei um creme de noite, dos novos. Com um descontão destes, trouxe um daqueles que, só pela embalagem, a gente já vê que é coisa técnica, certamente mais eficaz do que um lifting.

(Só espero amanhã, quando me vir ao espelho, poder constatar que estou com a cara que tinha aos 15 anos, sem uma ruguinha, pele quase de bebé.)

Helen Mirren, 2016
Tenho na parede do meu quarto, umas fotografias de quando me casei, banhada de sol, eu de calças brancas, justinhas, túnica Augustus branca, quase transparente, com uns bordadinhos brancos, cabelo curtinho, risonha, completamente in love e abraçadinha a um moreno sóbrio parecido com um sírio cabeludo e barbudo. 

Helen Mirren por Lord Snowdon, 1995

Por baixo dessas fotografias coloquei uma minha e uma dele quando tínhamos eu um ano (quase careca, apenas uma penugem clarinha, e toda risonha) e ele com dois (cabelo escuro, muito penteadinho e muito sério).

Volta e meia páro a olhar: eu com 1 ano, eu com 20 anos e, depois, se me olhar ao espelho, eu agora. E tento perceber quantas das minhas células actuais sobreviveram desses meus verdes anos. Penso que já devem ter ido todas à vida e, no entanto, sou eu, a mesma.

Mas os traços da idade estão cá e mais virão. Melhor: tomaram que venham que será sinal que estou viva. E, de resto, com cremes milagrosos, quem sabe se não parecerá que cristalizei no tempo, sempre com carinha de vinte anos.

(Estou a brincar, bolas, não quero parecer um fóssil, senão, às tantas, ainda me confundiam com a Senhora Dona Lady).

Diane Keaton por Annie Leibovitz, 2016
Diane Keaton, 1985
Dantes eu pensava que as mulheres eram bonitas quando eram novas e que, depois, eram o que tinha sobrado. Agora já não penso assim. Agora já acho que há beleza em todas as idades. Além disso, quando me distraio, logo penso: olha, de qualquer maneira uma mulher aos 70 ainda é capaz de parecer toda gira aos olhos de um homem de 80. Mas é um pensamento parvo, claro, até porque o que não faltam são mulheres que despertam paixões em homens bem mais novos.

E o que se passa com mulheres, passa-se com homens. Contudo, a pele dos homens parece que resiste melhor ao passar do tempo. Ou, então, sou eu que sou mais benevolente com eles. Mas que os homens ficam mais interessantes, mais inteligentes, melhores companhias, isso é inquestionável -- isto, claro, se não ficarem velhos babacas, taralhoucos.

Mas volto às mulheres para referir aquilo que verdadeiramente penso a propósito disto: interessantes são as mulheres que não têm medo de parecer velhas, feias, sem graça. Interessantes são as mulheres que amam a vida e a querem viver, toda, tenham a idade que tiverem. Interessantes são as mulheres que ousam, que desafiam, que seduzem. Interessantes são as mulheres que gostam do seu corpo, que querem amar e ser amadas. Interessantes são as mulheres que têm prazer em despertar interesse e que estão disponíveis para se interessar pelos imprevisíveis instantes de felicidade que a vida tem para oferecer. Tenham 20, 40, 60 ou 80 ou mais anos.

Charlotte Rampling por Helmut Newton, 1974

Charlotte Rampling, Annie Leibovitz, 2016


Mulheres brancas e pretas, sempre belas em qualquer idade

As mulheres que dão cartas em Hollywood - por Annie Leibovitz para a Vanity Fair  2016

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Hoje, quando cheguei aqui à sala vinha numa de falar de um certo lobo com um filósofo à mistura. Mas, depois de umas boas charutadas (vide post abaixo), nada como dar uma espairecida e, por isso, desviei-me para isto das mulheres. A ver se amanhã venho, então, de lobo pela mão que agora, com o sono com que estou, vou mas é pregar para outras pradarias.

Caso estejam fartos de tanta mulherada, aceitem o meu convite e venham dar vivas a Portugal, enquanto as maria-amélias suspiram de saudades pelos algozes. É já aqui abaixo.

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terça-feira, dezembro 01, 2015

Calendário Pirelli 2016, o charme das mulheres imperfeitas. Ou quando o mundo começa a virar-se do avesso deixando muitas maria-amélias sem saber o que pensar disto tudo


No post abaixo mostrei o striptease televisivo de Maitê Proença, uma mulher que, aos 57 anos, deixa homens e mulheres de boca aberta: pelo seu corpo, pela sua graça, pela sua descontracção e pela sua irreverência. Uma mulher de 57 anos tem que se portar como uma avozinha caquética, daquelas em cujo corpo há muito se extinguiu a vida? Ora, ora. É ver o vídeo que ali coloquei para confirmar que nem pouco mais ou menos. Há as que nasceram velhas e as que, apesar da idade, terão sempre uma jovialidade transbordante dentro de si.

Mas isso é a seguir. 

Agora, no mesmo comprimento de onda, sigo para o Pirelli 2016, esse objecto de culto que, ano após ano, conta com os melhores fotógrafos que captam mulheres fantásticas em décors de sonho.

Pois bem: desta vez o objectivo foi superado.

Annie Leibovitz, fotógrafa que eu muito aprecio e de quem tantas vezes já aqui falei ou mostrei trabalhos, foi a convidada para o calendário de 2016. E as mulheres que ela escolheu são, de facto, fantásticas - fantásticas pelo que são e não pelo que parecem.

Nas palavras da própria Amy Schumer que ilustra o mês de Dezembro:
Beautiful, gross, strong, thin, fat, pretty, ugly, sexy, disgusting, flawless, woman. Thank you @annieleibovitz


O calendário Pirelli deixou, desde há muito, de ser o protótipo do calendário para camionistas solitários - até porque não é produto que se venda por aí (aliás, nem por aí nem por ali: é presente da Pirelli para alguns happy few). Nem é, tão pouco, um produto exclusivamente para homens.

A sua qualidade e raridade posiciona-o como um produto de colecção - para homens e mulheres. 

Ora, estando a falar-se de boas fotografias de mulheres que dão nas vistas, estava, de facto, na altura de romper um tabu. O que é dar nas vistas? E, já agora, o que é que um homem admira numa mulher?
A sua fachada? Que se apresente em excelente forma física, que ostente um corpo de acordo com os protótipos de beleza feminina, que se apresente descascada, maquilhada? E, se isto é verdade, para que quer um homem ver uma fotografia assim? Para sonhar com ela? Para fantasiar?
Se for isso, então não são precisas grandes produções, nem grandes fotógrafos. Qualquer anúncio barato do Correio da Manhã deve ter fotografias que cumpram os requisitos. 

Talvez, os homens mais exigentes, daqueles que gostam de referir nomes de escritores, de charutos ou de vinhos, não se satisfaçam com esse género de imagens vulgares e, para esses, há muito mais por onde escolher. Qualquer acompanhante de luxo se faz divulgar em produções fotográficas apelativas.

Contudo, diria eu, essas fotografias em que a sugestão é muito explícita ou a exposição muito convidativa, acabam por cair facilmente no esquecimento. Tudo o que é formatadamente perfeito torna-se vulgar, isto é, parecido com os demais - e, portanto, torna-se perecível na nossa memória.

O que é único, imperfeito na sua genuinidade, torna-se mais marcante, grava-se melhor em nós.

Ainda ontem, a propósito do guarda-costas da Adele, eu disse que não sou muito admiradora de homens esculturais, muito luzidios, muito aparatosos. Por isso mesmo também não aprecio homens muito aprumadinhos, muito botões de punho, muito fato de risquinhas, muito sapatinhos da moda, muito rodriguinhos. 
Numa altura em que tinha reuniões frequentes com clientes e fornecedores de várias nacionalidades e me aparecia toda a espécie de executivos armados em carapaus de corrida, despertou-me especial atenção o vice-presidente de uma grande multinacional que me apareceu de calças de bombazina todas esbambalhadas, uma camisa quase informal com um pullover escuro por cima, um casaco de tweed com cotoveleiras de camurça, cabelo meio desalinhado, franja tombada sobre o rosto enfurecido (tinha vindo de França, com urgência, para me dar uma valente 'coça'). Achei que tinha um charme enorme. Saíu a chamar-me femme infidèle (porque eu rompera uma preferência entre empresas que ele achara intocável). E, por tudo, passei a ter uma respeito e admiração por ele que não tinha por nenhum dos outros cheios de nove horas, convencionais da cabeça aos pés e que não eram capazes de me dar luta. Negociar a sério, daqueles negócios suados, fi-lo eu com esse francês heterodoxo, com um holandês que uma vez me apareceu irreconhecível de barba dizendo-me que ficasse eu a saber que quando um homem aos cinquenta e tal resolve passar a ter barba é porque tinha arranjado uma namorada e que a tinha trazido para conhecer Portugal e que negociava implacavelmente até ao último cêntimo, com um marroquino que era um príncipe e com mais dois ou três invulgares e fantásticos.
Se a mim me fosse dada a possibilidade de escolher homens interessantes para fazer um calendário com uma grande pinta, de certeza que não ia escolher modelos bonitinhos, atletas musculados ou executivos arrumadinhos viciados em power points - a menos que tivessem algo mais, algo de irreverência ou fora do usual, que me despertasse alguma curiosidade.

Annie Leibovits com Amy e com Serena

Este calendário Pirelli mostra mulheres que, de alguma forma, se têm destacado no seu ofício, e mostra-as tal como elas são - e nada agrada mais a uma mulher que a apreciem por ela ser como é.
Se eu tiver que pôr botox em cada ruga, colocar uma camada de base que disfarce qualquer pequena imperfeição, pintar-me de alto a baixo e produzir-me com mil cuidados para que me concedam o privilégio de me apreciarem, então boa-noite, vou ali e já venho.
E Annie Leibovitz mostra-as contra um fundo neutro, sem qualquer décor que desvie as atenções das fotografadas. Nas fotografias, são elas que importam: elas, elas mesmas. E quem não gostar que dê meia volta e vá andando.

Shirin Neshat - mês de Setembro


As mulheres que fazem parte do Pirelli 2016 são:

A fundadora do blog Rookie, Tavi Gevinson, a lenda do ténis Serena Williams, a comediante Amy Schumer, a artista/activista Yoko Ono, a escritora Fran Lebowitz, a música e autora Patti Smith, a supermodelo Natalia Vodianova, a administradora da Lucasfilm Kathleen Kennedy, a actriz chinesa Yao Chen, a magnata financeira Mellody Hobson, a directora e guionista Ava DuVernay, a collecionadora de arte e chairman do MoMA PS1 Agnes Gund com a sua neta Sadie Rain Hope-Gund, e a artista visual iraniana Shirin Neshat. ​​


Yao Chen

Annie Leibovitz was behind the lens for the 2016 calendar and was given free rein to cast the 12 months of famous faces. The iconic photographer, who helmed the 2000 Pirelli calendar, said in a press conference today, "Pirelli came to me and told me they wanted to shift this year to something different. I made the suggestion that they do women performance artists or women comedians, almost a take-off. I just thought of women I admired and I didn't let anyone in the studio from Pirelli. It became a very strong set of very simple portraits [...] No one was supposed to look like they tried in these pictures." She continued, "I still can't believe the women who agreed to do it, did it. I felt a big responsibility to that [...] It shouldn't be a big step, but it is a big step," Leibovitz went on to highlight that, in addition to featuring a new group of accomplished women, the calendar is more book-like this year, also featuring a paragraph about each woman's work and influence.
One standout photo in the calendar is of Amy Schumer, who fronts December and is pictured wearing nothing but panties and heels, drinking from a Starbucks cup. When she arrived at the photographer's New York studio back in July, Leibovitz proposed on the spot that she pose nude ironically, as if she didn't get the memo that everyone else was clothed. Leibovitz explained, "She got the whole concept completely. She's so bright. She was willing to play that role. I was worried for her; I said, 'Are you self-conscious?' [Amy] said, 'Are you kidding? I love my body.'"

The 2016 Pirelli Calendar by Annie Leibovitz | Behind The Scenes



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E, se me permitem, sigam para o strip da Maitê Proença: 57 anos de sensualidade e de sentido de humor.
Nua para quem a quiser ver.

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sexta-feira, outubro 09, 2015

Que estás a fazer aí? Ai, mãezinha!
[A propósito de Rihanna - a nossa mulher em Havana]


Nos dois posts abaixo falo das orelhas homossexuais de José Rodrigues dos Santos, do rejuvenescimento vaginal da Cristina Ferreira, do saudoso Malaquias, do cérebro mal virgulado do primeiro e do Alexandre Quintanilha que não tem nada a ver com isto. Quem queira tomar o gosto a tão invulgar cocktail deverá espreitar o que vem depois do que agora se segue.






Eu vivia num sótão de um prédio no Malecón. No décimo segundo andar. Uns sessenta metros acima da rua. E habituei-me a sentar-me no beiral, com os pés a balançar no vazio. Era muito fácil. Bastava saltar do sótão para o beiral. Um bonito beiral reforçado com gárgulas lavradas em pedra. Em forma de grifos e de aves do paraíso. Era um prédio antigo, muito sólido, estilo Boston, mas agora cada vez mais em ruínas com tanta gente lá enfiada dentro a tentar sobreviver.

Era assim. Para mim era simples. Sentia-me como um pássaro e recordava o tempo em que tinha os tomates no sítio, e me lançava de asa delta do alto de uma colina para o vale de Viñales, e apertava o cu com medo de me estatelar no chão. Mas aquela geringonça nunca falhou. Agora, todas as noites, saltava para o beiral e sentava-me ali, ao fresco, e via tudo lá em baixo, na penumbra da noite. Apetecia-me. Sonhava saltar e ir voar e sentir-me o tipo mais livre do mundo.




Nessa noite chegou Carmita. Era uma aventureira. Tinha três homens ao mesmo tempo: um marinheiro, um mecânico e um oficial da alfândega. Carmita é um caso sério. Tem quarenta e um anos, mas age como uma miúda de dez. Tem uma paixão por sexo, dinheiro e pelas apostas. Se bem que não por esta ordem. Julgo que é: dinheiro, sexo, dinheiro, apostas e mais dinheiro. E fazer tramóias e ganhar seja lá como for. Vive num quinto andar com os filhos e os homens. Mas não sei como consegue alterná-los, de forma a nunca se encontrarem. Nessa noite, tive logo um pressentimento, propôs-se somar a quarta vítima à sua colecção de homens úteis. E, de súbito, lá estava ela aos gritos atrás de mim. E eu como um morcego à luz do luar. Havia uma bonita lua cheia e a noite estava muito clara, azul. O mar ondulava e o Malecón muito calmo, quase sem gente. Eu em êxtase, pendurado no vazio. A pensar em coisa nenhuma. É maravilhoso estar-se pendurado no ar, frente ao mar, com esta brisa fresca de Junho, e muito silêncio à volta. Começa-se a pensar em coisa nenhuma. Ponho-me a pensar em coisa nenhuma porque estou a flutuar, a entrar dentro de mim mesmo, sem procurar nada. Eu comigo mesmo. É uma espécie de milagre no meio desta tormenta e destes naufrágios. Um milagre dentro de mim.



E, de súbito, Carmita aos gritos:

- Vais cair, Pedro Juan. Que estás a fazer aí? Ai, mãezinha!

- Hei, calma, calma. Que gritaria é essa?

Esta mulher fala comigo como se fosse minha mãe ou qualquer coisa do estilo. E é a primeira vez que vem ao sótão. Se vivêssemos juntos, tirava-me do beiral à paulada.

Bom, não sei como foi, mas em poucos minutos desci as escadas, comprei um pouco de rum barato, com sabor a petróleo. Com gelo e limão fica bastante melhor. Bebemos dois ou três copos e falámos um bom bocado do milhão de pessoas que ficaram sem trabalho. Tudo a vender qualquer coisa no meio da rua, a tentar sobreviver. (...)

Três ou quatro copos depois, não sei porquê, tive vontade de acariciá-la. Sim, sei porquê: estive um bocado distraído porque ela falava de comida e de cozinha e de como o apartamento dela brilhava porque ela o limpa obsessivamente com um pano com que anda sempre na mão, e que o meu quarto era uma esterqueira cheia de lixo. "O que faz falta aqui é a mão de uma mulher. Hei-de pôr-to como um brinquinho, e mais umas cortininhas.". Ela a dizer aqueles disparates todos e eu a vacilar. Tem quarenta e um anos mas está muito bem. Levantei-me da cadeira e acariciei-lhe a cabeça e encostei o meu sexo ao rosto dela. Tirou-me então o cinto, desceu o fecho e aos poucos foi descobrindo os pêlos, o sexo, que lentamente se erguia, se desenrolava e olhava para cima como se perguntasse se alguém tinha chamado por ele.




- Ai, Pedro Juan, que c... mais lindo. Foi feito à mão!

Disse isto com ternura. Com tanta doçura como se fosse um caramelo. (...)

- Vamos para a cama, meu querido.

- Uf, não, espera. Deixa-me respirar.

(...) e queria continuar como se eu fosse um miúdo de quinze anos.

- Respirar coisa nenhuma, que tu tens língua e dedos. Depois de me teres sufocado, não me podes deixar pendurada. Anda lá!

Já tinha começado a tirar a roupa. Um corpo incrível! Com quarenta e um anos, a comer arroz com feijão, três partos, e sem nada de cremes, nem de ginástica nem de sauna. Era perfeito.

(...)



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O texto acima é um excerto de Lua cheia no sótão, um conto que faz parte de Trilogia suja de Havana de Pedro Juan Gutiérrez. Porque os meus filhos são leitores assíduos deste blogue, inibi-me um bocado e não transcrevi as partes mais ousadas do texto nem uma palavra em particular de que deixei apenas a inicial.

Todas as fotografias mostram Rihanna e todas, excepto a última, fazem parte da sessão feita em Cuba com Annie Leibovitz para a Vanity Fair de Novembro.




O vídeo lá em cima mostra Rihanna com Mikki Ekko a interpretar Stay em versão de salsa cubana

O vídeo abaixo mostra a festa que foi essa sessão fotográfica.

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Rihanna em Cuba fotografada por  Annie Leibovitz - o making of 



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Gosto dos livros de Pedro Juan Gutiérrez que também pinta e bebe e que se diverte com o que faz. Para quem nunca tenha ouvido falar dele, aqui deixo um vídeo, em que nos fala da sua escrita, da sua vida, dos prazeres da vida, da sua vida de cão ou de gato vadio.



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Relembro que, sobre José Rodrigues dos Santos que também gostava de ser escritor, poderão ler nos dois posts abaixo.

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domingo, setembro 13, 2015

Joana Amaral Dias na Vidas: a nudez, a gravidez, a política. "É menina! Oxalá seja mulher com liberdade". É isto uma mensagem eficaz em tempos de campanha eleitoral. Nestas alturas vale tudo?
[A propósito, recordo as duas vezes em que estive grávida]
E termino com uma sugestão ao Carlos Abreu Amorim


Quando engravidei, ao princípio, nunca ninguém dava por nada. Usava jeans que a minha mãe abria de lado e onde colocava um elástico que eu ia ajustando. E usava umas camisas floridas, larguinhas. Como não tinha enjoos, desejos ou daqueles sintomas usuais, é que ninguém sequer suspeitava; e eu não sentia necessidade de andar a alardear, achava que era coisa minha.

Depois, quando a barriga estava maior, e já era verão, usava vestidos à mamã (como, na altura, se dizia), larguinhos, coloridos. Lembro-me de um que a minha mãe me fez, encarnado claro com umas pintinhas, sem mangas, amplamente decotado com um folhinho à volta. Vejo-me nas fotografias, ar de miúda, vestido de miúda, sempre a rir... e com uma barriga que impunha respeito.

Na altura não era costume usar blusas justas sobre barrigas muito grandes. Também não era usual estar na praia com o barrigão à vista. Usava um biquini próprio, que tinha uma espécie de véu preso no soutien e que encobria a barriga. Quando não estava gente por perto, destapava-a para que os bebés sentissem melhor o sol.

Gostava muito da minha barriga que crescia imenso; das duas vezes toda a gente dizia que eu teria gémeos apesar de eu garantir que era só um. 

Gostava muito de, à noite, quando havia lua cheia, me pôr na varanda com a barriga ao léu. Achava que a luminosidade lunar haveria de ser boa. Nunca pensei porquê. Talvez achasse que traria felicidade. Mas quando estava quarto crescente eu também apresentava à lua, à noite, na varanda ou na janela do quarto, os filhos que viviam dentro de mim. Aí, se calhar, era para ver se cresciam bem.

Nunca pus cremes para estrias e, por sorte, nunca as tive. Gostava mesmo de ver a minha barriga, especialmente quando se mexia. 

A minha filha fazia movimentos curtos, mexia os braços, as mãos, os joelhos, os pés. Era possível, colocar as mãos sobre a barriga e ficar a senti-la a mexer-se. Punha música e falava com ela. Nasceu uma menina calma, sorridente, bem comportada. Dormia bem, mamava a horas certas, brincava sossegadinha.

Com o meu filho era muito diferente. Parecia que dava cambalhotas, os movimentos eram intensos, todo ele se revolvia, e com força. Chegava quase a ficar incomodada, quase mal disposta. Devia dar sapatadas que se reflectiam no estômago, sei lá. Sempre foi tremendamente irrequieto.

Nasceu enorme, não sei se se sentia apertado apesar do tamanho do barrigão. Ao fim de pouco tempo de nascer, tive que o tirar do berço porque dava voltas, punha a perna em cima, quase virava o berço.

Também era sôfrego a mamar, engasgava-se e quase sufocava, dormia mal, não parava sossegado, ia dando comigo em maluca pois não me deixava dormir mais que uma ou duas horas de seguida. E, como mamava daquela maneira, depois vomitava, tinha que mudar a roupa da cama. Ou seja, era cá fora aquilo que se adivinhava que seria quando estava dentro da barriga. 

No entanto, apesar da experiência traumática que foram aqueles primeiros meses do meu filho, durante muitos anos, eu sentia a nostalgia da gravidez, uma saudade enorme de sentir uma pessoinha a criar-se dentro da minha barriga, a ganhar vida própria, a adquirir a sua maneira de ser. 

Já contei muitas vezes que apenas pela vida que tinha - sem apoio familiar por perto, a viver numa cidade e a trabalhar noutra, tudo muito difícil, com problemas sempre que algum ficava doente - é que não tive uma meia dúzia de filhos. O meu corpo pedia para se transformar mais vezes - eu é que não lhe dei ouvidos.

Quando os meus filhos nasciam, tinha leite que não acabava; e eles, alimentados só com leite, sem suplementos, aumentavam a olhos vistos, saudáveis, cheios de vitalidade, felizes. 

Depois, vieram os momentos da gravidez da minha filha e da minha nora. Vivi esses momentos com felicidade mas de uma maneira muito diferente, com uma ansiedade que não tive quando tinha os meus filhos dentro de mim. Verdadeiramente só descansei, de cada uma das quatro vezes, quando os vi cá fora, bem, e as mães também bem.

Tenho verdadeira devoção perante uma barriga que transporta um filho em formação. Acho das coisas mais maravilhosas do mundo esta capacidade de uma vida se formar a partir de duas ínfimas células, multiplicando-se de forma inteligente, misteriosa, perfeita.

Uma barriga de uma mulher grávida é, para mim, uma coisa de uma beleza sobrenatural.

Talvez por isso me sinta chocada com a instrumentalização que Joana Amaral Dias anda a levar a cabo com a sua barriga, a sua gravidez. Há ali qualquer coisa de vulgar, como se, em política, valesse tudo, até a exposição da parte do corpo que, transformando-se para acolher um outro ser humano, pudesse ter o mesmo efeito que um cartaz de campanha.

É que uma coisa é pensar o corpo como um elemento estético, belo, uma mulher com outra pessoa dentro de si; e outra, muito distinta, é, em campanha, isso ser aproveitado de forma gratuita, perdendo o sentido mágico e transcendental, apenas para servir de bandeira eleitoral.

E se a fotografia anterior na capa da Revista Cristina já me parecia uma coisa sem jeito, a capa agora da revista Vidas do Correio da Manhã - em que aparece espalhafatosamente chocarreira - ainda mais vulgar me parece, quase chocante.



Joana Amara Dias, candidata do AGIR


Não me tenho por conservadora pois quer política, quer esteticamente, acho que estou o mais possível aberta à diversidade, à irreverência, ao inesperado. Mas acho que há coisas que merecem algum respeito: a beleza de uma barriga grávida não deveria ser instrumentalizada com vulgaridade.

Só falta, um dia destes, o Carlos Abreu Amorim, desesperado, numa de ver se salva a sua pafiosa coligação, nos aparecer também assim:


O actor Johnny Vegas aqui fotografado por Karl J Kaul,

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Bem. E a propósito dos pafiosos ou pafientos, desloquem-se por favor até ao post abaixo a fim de contribuirem para o peditório organizado pelo ainda Primeiro-Ministro para ajudar os pobrezinhos lesados do BES a pagar as despesas de porem o BES ou o Novo Banco em tribunal. Uma cena de crowd funding a la Láparo, não sei se estão a ver. Uma coisa esperta. Mais uma.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.


quarta-feira, agosto 19, 2015

Não é a perfeição: é o momento, é a emoção. Fotografia. Quatro fotógrafos.


Tribo Zo'e do Pará brasileiro no Projeto Gênesis de Sebastião Salgado





Annie Leibovitz: Life Through a Lens





Richard Sidey | Expedition Photography







INFINITY AWARDS RECIPIENT - MARIO TESTINO 



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Apenas como exemplo.


sexta-feira, outubro 03, 2014

Manuela Ferreira Leite não acha bem que não paguem os reembolsos aos reformados que são obrigados a trabalhar à borla e espetou uma valente farpa num certo desmiolado: afinal os reembolsos às vezes são rendimentos...? E a propósito: "PCP quer saber "montantes, condições e formas de pagamento" de Passos na CPPC". Isto numa altura em que sabemos que Ricardo Salgado se queixava de que estava 'rodeado de aldrabões' e que uma parte das comissões teve que ser entregue a alguém. [Como diria a Ana Cristina Leonardo, 'isto anda tudo ligado']


Na TVI 24 com um simpático Paulo Magalhães, Manuela Ferreira Leite, mulher de armas, mulher que tem vindo a tornar-se mais isenta, mais frontal à medida que os anos parece que a vão também tornando mais bonita, aproveitou para disparar mais uns mísseis sobre este governo que de tão mau, chega a ser vergonhoso. Em concreto:


  • Na ministra da Justiça que causou o caos na Justiça, que fez tudo mal, tudo levianamente, tudo à pressa, sem testes, à maluca*.
  • Na pseudo-reforma do IRS onde pensam, ó doidos varridos!, que é por poder abater uns trocos no IRS que um neto vai buscar a avózinha a um lar para a ter consigo em casa**. 
  • Na alteração manhosa (palavras de Manuela Ferreira Leite) que faz com que os reformados, para efectuarem alguns trabalhos em organismos públicos, para além de terem que trabalhar à borla, nem sequer sejam ressarcidos das despesas incorridas.***


Gosto de a ouvir. Tem autoridade para falar. Estou desejando de ver se agora, com António Costa, a oposição a este desgoverno de descomandados tem pais vozes. Até agora, oposição a sério, fundamentada, objectiva, quase tem sido ela, o Pacheco Pereira, o Bagão Félix e poucos mais.



Explicação dos asteriscos

*  Hoje vinha no carro ao fim do dia e, como sempre, à hora das notícias, sintonizada na TSF. Depois de ouvir dizer que, depois do Conselho de Ministros, foi referido que não há data para reposição da normalidade na Justiça, aparece-me aquela loura Paula Teixeira da Cruz, com uma voz tonta a desafiar: isto podia ter corrido melhor mas houve uma falha informática. Acontece!, só lhe faltando desferir: E daí?!
E depois, toda contente, gabando-se dos grandes feitos, voz de vitória, dizia ela que: aos poucos, as comarcas vão começar a levantar-se e hoje já se levantaram três! Fiquei com pena de não ser jornalista. Perguntaria logo ali: ó senhora ministra, conte lá: e as bichas levantaram-se bem? Ou estavam muito despenteadas? E, fizeram o quê a seguir, chichi?
Mas não, salvo um ou outro, os jornalistas engolem tudo o que lhes dão a comer.
Logo a seguir, sai-se ela: eu sei que isto é um prato de lentilhas para os que se opõem às reformas. E, como se o desvario tivesse que ser levado até às últimas consequências, acrescentou, com mais uma vitória e um foguete na voz: isto é muito melhor do que em 2008 porque agora ainda não se perderam processos!
Pensei: esta devia ser internada. 
Há bocado o meu marido perguntou se eu tinha ouvido a senhora (claro que ele não disse senhora) e depois desatou a imprecar: mas estes gajos julgam que somos anormais como eles? mas esta gente não tem vergonha na cara? 
Sosseguei-o: esta gente vive feliz porque não tem vergonha na cara e, ainda por cima, julga que o povo é atrasado mental.


** Tem andado a ser noticiado que a reforma do IRS vai prever um benefício fiscal para os netos que tenham avós a cargo. Claro que todos os papagaios que pousam nos poleiros das TVs, rádios e jornais desataram logo em grandes orgias de felicidade: ai tão bom, a solidariedade intergeracional, ai que bom, que bom, que os velhinhos vão sair dos lares e ir viver com os netinhos
Eu, quando ouvi isto, fiquei parva e só pensei: mas esta gente é doida ou quê?

Olha se os meus filhos, para terem um abatimento fiscal de 100 ou 200 euros no final do ano (e é se for), vão buscar os meus pais a casa deles, vão montar aquela logística toda do caraças, cama articulada, cadeirão reclinável, duche sem barreiras, etc, e contratar uma pessoa para tratar da higiene do avô e, à noite, quando chegam a casa e têm os miúdos para tratar, vão, em vez disso, tratar dos avós? E em que divisão da casa os vão alojar? Ou mudam de casa para outra maior? Ou seja, vão meter-se em trabalhos, despesas, trapalhadas, complicações de toda a ordem, para receberem uns trocos no final do ano?
Está tudo doido. Concordo plenamente com Manuela Ferreira Leite.
Que se apoie quem já lá os tem, que se apoie. Mas isso é uma minoria, uma minoria!, já que, quem tem os pais ou avós em lares, é porque não tem condições para outra coisa. Portanto qualquer foguetório é mais uma burrice ou má fé. Claro que podem ser as duas coisas ao mesmo tempo.


*** Não estou muito ao corrente mas, do que tenho percebido, este desgoverno, na sua sanha persecutória em relação aos reformados, proibiu-os de trabalharem de forma remunerada para organismos públicos. Mas parece que, não contente com isso, parece que introduziu uma alteração manhosa, para ver se passa despercebida, que nem as despesas que fizer serão reembolsadas. Deu o exemplo: se uma pessoa reformada for convidada para ir dar umas aulas e tiver despesas de transporte para lá ir, nem isso lhe poderá ser pago.
Lembra Manuela Ferreira Leite (e qualquer láparo que passe por aí na risota que enfie a carapuça): mas então não foi dito que receber reembolsos não é ter rendimentos? Ou isso é só para alguns?

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Pois bem, a propósito de formas de receber dinheirinho limpo, não declarado, camuflado como se se tratasse de reembolsos de despesas, leio no Expresso que o PCP entregou esta quinta-feira um projecto de deliberação para que o Parlamento peça oficialmente a Passos Coelho informações concretas sobre a sua passagem pelo Centro Português para a Cooperação (CPPC), a ONG ligada à Tecnoforma a que o actual primeiro-ministro presidiu entre 1996 e 1999.



O projecto do PCP visa esclarecer duas grandes questões: por um lado, saber por que razão Passos, que era deputado quando esteve na CPPC, nunca incluiu essa informação no seu registo de interesses; por outro, saber exatamente quanto dinheiro recebeu nessas funções, ainda que a título de "despesas de representação".

Daí resulta a proposta para que o Parlamento solicite ao primeiro-ministro "os esclarecimentos necessários quanto à não inclusão na declaração do Registo de Interesses da atividade que desenvolveu no âmbito do Centro Português para a Cooperação; aos montantes, condições e formas de pagamento das despesas de representação que reconheceu ter auferido daquela entidade; bem como à inexistência de qualquer referência a tais quantias aquando do pedido do subsídio de reintegração, apesar de referir as resultantes das colaborações jornalísticas que sabia não colidirem com o reconhecimento da exclusividade no exercício do mandato."



Faz bem o PCP em não deixar cair este pepino mas é bom que não perca de vista que se deve escavar mais fundo: que raio de empresa, afinal, era a Tecnoforma? A que negócios se dedicava? E que raio de ONG era aquela? E que raios de ligação havia a Relvas e ao submundo do PSD para receber fundos europeus? E que raio de primeiro-ministro é que temos com um background que suscita tantas e tão legítimas dúvidas?


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No jornal i, Ricardo Salgado e os milhões dos submarinos: Há uma parte que teve que ser entregue a alguém

Ui....


Já agora uma muito boa: Ricardo Salgado - queixando-se que, para eles, Espíritos, do negócio dos submarinos, só ficaram 5 milhões de comissões por baixo da mesa, enquanto para os da administração e para um outro (quem?  - é a pergunta de 1 milhão de euros) ficaram 15 milhões - lastimou-se: estamos rodeados de aldrabões.



Tadinho dele. Um Espírito no meio de galfarros, tudo a querer um quinhão.


Isto dos submarinos, tanques e demais armamento é daqueles assuntos que fede, que fede muito, sargeta mesmo porca. Conta-se que recebiam todos, pela hierarquia acima, até lá bem acima. Afinal até aos espíritos.


Já agora:
De cada vez que alguém recebe comissões, a empresa ou organismo ou ministério está a pagar mais caro ao fornecedor. Dinheiros públicos. E o fornecedor, pega nesse extra e paga-o (chame-se comissões ou luvas) a alguém que vai receber o dinheiro por debaixo da mesa e enriquecer ilicitamente ou arranja maneira de o fazer entrar nos partidos (ou em offshores de alguém, etc, etc). 
No que se refere a contrapartidas, só me faz lembrar o engodo das vendas directas na televisão. Compre um colchão por 199 e ainda leva de presente uma panela de pressão, uma televisão, uma cafeteira eléctrica e um faqueiro de 120 peças. Ora só alguém muito mentecapto é que vai nesta. De facto, o que está é a comprar um colchão que vale uns 80 e mais uma panela de pressão que vale 19 e uma televisão que vale 40 e uma cafeteira que vale uns 20 e um faqueiro que vale uns 40. Ou seja, está a comprar mais do que precisa. Pior ainda se tudo isto for um faz de conta em que paga à cabeça a traquitana toda e só é fornecida a primeira coisa. 

Ou seja, sob qualquer ponto de vista, isto das contrapartidas é um barrete para quem cai nela, um acto de má gestão e, pior, corrupção e tudo o que vem por arrasto. E, sobretudo, dinheiro público mal gasto.

E depois vêm esses pilantras, esses ou afins, dizer que os pobres portugueses viveram acima das suas possibilidades e vá de cortar ordenados, pensões, subir impostos, etc? Cambada de gente sem vergonha.

A ver se a Justiça faz o que deve para não ficarmos a achar que isto é mesmo uma choldra ingovernável.

Na Grécia - lembro - foi assim:




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Tinha em mente escrever agora uma coisa mais ligeirinha mas passa e bem da uma da manhã e daqui a nada, noite ainda, tenho que me levantar para rumar a norte. Por isso, hoje fico-me por aqui.

Contudo, pensando nos que não apreciam estes temas (e haverá alguém que goste de gente parva ou corrupta?), aqui deixo o Oscar Peterson Trio interpretando Con Alma.

As fotografias são da santa padroeira do Um Jeito Manso, Annie Leibovitz.






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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira. 

Haja saúde e alegria,

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