Se me saísse o euromilhões, naquelas vezes em que saem muitos milhões, há uma coisa que eu gostava muito de fazer: encontrava um terreno grande e, lá, fazia uma casa para cada um dos meus filhos e, se os meus netos ainda fossem pequenos, fazia só o projecto mas, se já fossem grandinhos, fazia também uma casa para cada um. Gostava que morassem perto uns dos outros. Mas haveria de ser uma espécie de condomínio para que cada um tivesse a sua independência e privacidade. E gostava de tratar do projecto em conjunto com cada um deles.
A arquitectura é das formas de arte mais completas e mais humanas. Gosto muito de (bons) projectos de arquitectura e tenho admiração por alguns (bons) arquitectos.
Eu, para mim, não consigo escolher um género. Gosto de casas amplas, luminosas, em que não se tenha a ideia de se estar confinado. Tirando isso, interesssa-me a funcionalidade, a beleza e, de preferência, que tenha alguns recantos.
Nenhuma das casas em que já vivi era nova quando para lá fomos. Prefiro encontrar uma casa que sinta como minha e onde sinta que há margem para o meu cunho, a nível de decoração, do que estar a construir de raiz. Parece um contrassenso, bem sei.
Quando para aqui viemos nunca sabia onde tinha deixado a chave ou o telemóvel e a sensação que tinha é que havia um núcleo central com um corredor em volta de onde nasciam outras divisões. Quando andava à procura das coisas, tinha a impressão de que andava às voltas num espaço circular. Afinal, na verdade, não tem nenhuma área circular. Às vezes, à noite, ia ver a planta da casa para tentar perceber a razão da impressão que eu tinha. E, ao fim de um ano, de cabeça, parece que ainda não percebo bem.
Na primeira fase da pandemia estivemos no campo. Estava eu e o meu marido, ambos em teletrabalho. Algum tempo depois, juntou-se-nos a minha filha e os miúdos, ela também em teletrabalho, os miúdos em escola remota. Noutras vezes em que ela não estava, foi o meu filho. Estava ele e a minha nora em teletrabalho e os miúdos na escola.
Nesta casa também acontece isto. O piso de cima é todo aberto. Aliás, a escada nasce na sala, sem portas e vai até lá acima. Ter uma reunião lá é sinónimo de tudo se ouvir. Entre a cozinha, a salinha de refeições, a sala da lareira e a sala de jantar (e a dita escada para o primeiro andar) não há portas.
O meu marido usa o topo da mesa da sala de jantar pois está rodeado de janelas, tem imensa luz. Mas, se ele está a ter reuniões, não posso lavar louça à mão ou moer a base da sopa pois tudo se ouve.
Mas há uma coisa que, para mim, ainda é essencial. E digo 'ainda' pois sei que a minha opinião evolui e que o meu gosto se adapta. Mas, por enquanto, é essencial que tenha paredes normais. Uma casa com mais vidro que parede cria dificuldades: é chato encostar móveis e não há onde pendurar quadros. Quando vim para aqui, como por uma milagrosa coincidência, todas as minhas coisas encontraram o seu recanto perfeito ficando melhor aqui do que no seu local original. Ao fim de poucos dias, sentia-me em casa. A casa tem janelas e portas-janelas mas tem as paredes necessárias e suficientes.
Alguns arquitectos têm pouco trabalho. Se forem arquitectos incultos, básicos, pouco inteligentes ou pouco criativos, nada tenho a dizer. Mas tenho a dizer da falta de atenção que os poderes públicos geralmente dedicam às enormes mais valias da boa arquitectura na vida das pessoas, seja a nível dos espaços públicos, seja da vida privada. A (boa) arquitectura pode humanizar as cidades, pode introduzir novas zonas de convívio, pode deixar entrar a luz onde tal parece impossível, pode criar zonas de paz onde a confusão parece estar instalada.
Seria, para mim, um enorme prazer acompanhar o projecto da casa de cada um dos meus, cada um com sua visão e maneira de ser. Imagino bem como seria a casa de cada um, até a do mais novo. Não o espelho da sua personalidade, que a casa não deve ser isso, mas o cenário (ou o habitat) onde a sua personalidade floresceria.
E, como se fosse uma nota de rodapé -- mas longe de sê-lo --, acrescento que fico muito contente por saber que a Inês Lobo faz parte da lista do PS para Lisboa.
A Modern Brutalist House In Japan With Exquisite Details
Architects: Apollo - https://apollo-aa.jp/
According to the architects:
This ranch-style home is located in a quiet suburban neighborhood in the Kanto region. The clients purchased the tiered, irregularly shaped lot as a place to spend meaningful time as a family. They wanted courtyards to play a big part in their home life, and to fulfill that request, the design makes use of the distinctive property shape and topography.
As esculturas feitas com livros são da autoria de Stephen Doyle e estão aqui na companhia de Ajeet Kaur que interpreta Light of My Soul
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E, antes de me ir -- e se estou cansada, cansada -- vou descansar a alma
After the Rain
(extract)
(coreografia de Christopher Wheeldon na interpretação de Beatriz Stix-Brunell, Reece Clark -- The Royal Ballet)
Desejo-vos um belo dia de domingo