Quando eu era pequena, tenho ideia que bem pequena, era costume ir, creio que ao domingo, com os meus pais, à matinée. Era todo um programa. Se a minha memória não está a retocar as recordações, diria que vestia os melhores vestidos, calçava os melhores sapatos e o cabelo era cuidadosamente penteado, talvez com um laço no que era apanhado em cima ou talvez com tranças. No que respeita a sapatos, eu tinha predilecção por sapatos encarnados e ainda me lembro de andar de sapataria em sapataria a prová-los.
Encontrava lá amigos da escola e os meus pais encontravam também os seus. Portanto, mais do que uma simples ida ao cinema, era um momento de convívio.
Tenho também ideia, mas como posso garantir que seja verdade?, que aproveitávamos para visitar os meus avós, almoçando ou jantando lá. A minha avó paterna era muito boa de tempero e ainda recordo as suculentas canjas com galinhas da capoeira deles. Levava hortelã pelo que o perfume era excelente. Tinha sempre miudezas e ovinhos que eu adorava. Fazia também iscas com batatas fritas estaladiças e eu também adorava, nomeadamente molhando o pão no molho espesso e saboroso.
Para sobremesa, fazia frequentemente arroz doce com desenhos de canela em cima. Eu deliciava-me com aqueles almoços e jantares.
No cinema, tenho ideia que passava de tudo e ainda me lembro de ver um Rasputine que recordo entre o fascinante e o tenebroso, eu miúda, miúda, a ver um filme que não devia ser minimamente para a minha idade.
Mas o que recordo que seria mais reincidente seriam os filmes com a Marisol ou com o Joselito. Pelo menos foi o que retive. Cantavam bem. Preferia a Marisol porque me identificava mais com ela. Ou melhor, talvez quisesse ser um pouco como ela. Mas Joselito, o rapazinho miúdo que cantava com uma voz afinada e cheia de salero, também tinha a sua graça.
Lembrei-me dele ao ver este rapazinho simpático e afinado que cantou no America's Got Talent. Ora vejam.