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quarta-feira, fevereiro 26, 2020

As estantes deles. E alguns dos livros que arranjaram guarida in heaven. E o que os livros que escolhemos dizem de nós.
E outras coisas.





Há sempres partes dos meus dias de que aqui não falo. Mesmo quando parece que falo de muito, em geral aquilo de que falo não é senão o que se passa in between. Geralmente também não falo do que me preocupa enquanto me preocupa. Quanto muito, falo quando já não estou preocupada. 

De vez em quando sou surpreendida com comentários que nem chego a publicar ou mails nos quais as pessoas querem mostrar-me que conseguiram traçar as linhas que juntam os pontos que me definem e só falta desenharem o que pensam ser o meu retrato robot. Pasmo. Mas, se calhar, pasmo porque sei que o que omito é mais do que o que revelo. Mas aos ousados que me escrevem a evidenciar a prova da sua inteligência não passa pela cabeça que jamais se pode traçar um perfil e, muito menos, enchê-lo com carne e espírito, quando, na realidade, pouco se sabe de uma pessoa.

Mesmo que eu aqui expusesse os meus dados biográficos, o meu curriculum vitae detalhado, a minha ficha clínica e as actas das reuniões em que participo não se poderia concluir muito. A vida de uma pessoa é sempre tão mais do que aquilo que parece ser.

Mais: mesmo de pessoas cuja vida se pode consultar na wikipedia, que têm presença regular na comunicação social e na vida pública e mesmo quando praticam um estilo quase confessional, dificilmente se pode concluir que as conhecemos. Por exemplo, quem nos garante que, em privado, não se desdobram em disfarces ou que cultivam segredos ou que alimentam vícios inconfessáveis ou que escondem amores intangíveis? Ninguém garante.

Portanto, ninguém conhece ninguém, excepto, quanto muito, quando se trata de pessoas bidimensionais, desinteressantes até à quinta derivada, pessoas que se comprazem numa vida de inutilidade absoluta. Conheço pessoas assim. Olha-se e dir-se-ia que são pessoas que vivem vidas absurdas de tão desprovidas e nulas que são e, no entanto, são felizes nas suas rotinas e gestos inúteis. Dou por mim a pensar que, justamente, talvez sejam essas as pessoas que me melhor interpretam o absurdo ofício que é viver. 

Estou com isto pois hoje, de tarde, estando no campo, dei por mim a olhar alguns dos livros que por lá param. Geralmente são livros que levo para ler e que acho que é melhor lá ficarem para os completar no fim de semana seguinte ou para quando tiver tempo. Ou livros que acho que é melhor que estejam à mão quando quiser ir ler à sombra. Ou livros que quero ler com mais tempo, talvez nas férias. E pensei: será que, por estes livros desirmanados, alguém poderia decifrar o meu ADN?

Fui buscar a máquina e fotografei alguns dos montinhos. Ao ver agora as fotografias descobri alguns, poucos, uns dois ou três se tanto, que não sei bem o que são. Provavelmente esses ficaram justamente por não saber isso mesmo: o que são e onde melhor se encaixarão. 

Já agora, a propósito, um apontamento confessional: andei a ver aquilo de que a casa está precisada. E é tanto. Falta-me tempo para deitar mão a isso mas não poderemos adiar por muito mais. A parte mais antiga precisa de pintura por fora e por dentro, as madeiras do chão e do tecto precisam de óleo protector. Se calhar no chão, cera. Gosto muito do cheiro da cera. Dá mais trabalho mas o cheirinho é um consolo.

Também estive a abrir os roupeiros dos quartos que eram dos meus filhos e constatei que estão cheios de roupas que eram deles. Penso que jamais as voltarão a usar mas, com alguma esperança, iludo-me que, talvez um dia aos miúdos, os seus filhos, lhes dê jeito usar alguma daquela roupa, ou porque se sujaram  ou porque se molharam. Mas tenho que rever o que ali está pois o mais provável é que tenha os armários cheios de coisas inúteis.

Entretanto, a minha filha pediu que tentasse encontrar os seus livros de pautas de quando estudou piano. Por isso, fui ver a grande estante que está na despensa e que, quando comprámos a casa, estava em lugar de destaque na sala da lareira, e descobri não apenas imensos livros e brinquedos de ambos, de vários escalões etários, bem como cadernos e livros da escola -- e também pensei que não sei se faz sentido ter aquilo tudo ali, entocado e inútil. E, como sempre acontece quando procuramos alguma coisa, tudo menos pautas. Fui, então, à casinha lá fora onde estão as máquinas de cortar mato, a serra eléctrica, tintas, uma mesa de ping-pong, uma mesa de plástico desmontada e uma grande arca antiga, de sândalo, trabalhada, e para a qual nunca descobri um lugar digno e visível. Pensei que talvez as pautas ali estivessem. Mas não. Estava um grande saco com cobertores e um outro com lençóis bordados e com rendas. E isso encheu-me de pena. Eram de tias do meu marido, talvez até dos avós. Na altura, tive pena de deitar fora coisas que eram tão estimadas e que estavam numa casa tão bonita, tão bem cuidada. O meu marido queria deitar fora, dizia que nunca iríamos utilizar. Não fui capaz. Mas agora, ao ver que tinha posto ali as coisas e que nunca mais delas me tinha lembrado, pensei também que tenho que repensar algumas decisões. Guardo coisas que penso que têm memórias associadas a elas, coisas que, daqui por algum tempo, alguém possa gostar de conhecer. Mas quem? Quando? 

Mesmo os livros. Receio o que um dia lhes venha a acontecer. As pessoas têm as suas casas e elas não são elásticas, podem não conseguir acomodar o que lhes possa ser destinado. Vi quando foi dos meus avós, de qualquer deles. Nenhum dos meus primos quis ficar com alguma coisa. Disseram que não tinham onde pôr. Pude ficar com tudo o que quis mas, verdade seja dita, pude porque tenho uma casa no campo, com espaço.

Ao ir agora escolher uma música para ouvir enquanto escrevo, o YouTube tinha para me mostrar estantes em casa de pessoas conhecidas. Claro que vi todos os vídeos, e com que interesse os vi. Uma estante é um mundo e o amor que se tem a cada um dos livros que ali está transporta um pouco de nós para aquele lugar que, para quem ama livros, é do domínio do sagrado.
Mas fico a pensar, tal como penso em relação a mim: o que acontecerá quando a pessoa for desta para melhor e alguém se vir a braços com tudo isto, tendo que dar destino a todos estes volumes? 
Há coisas que fazemos que só fariam sentido se vivêssemos eternamente. Assim é tudo meio louco. E o melhor é nem pensar nisso.

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E estas são algumas das estantes de alguns deles








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As fotografias foram feitas esta terça-feira in heaven e achei que uma Bachianas Brasileira de Villa-Lobos vinha mesmo aqui a calhar
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Desejo-vos uma bela quarta-feira


terça-feira, abril 22, 2014

Judite de Sousa já mal consegue aguentar estar de Olhos nos Olhos com o chato do Medina Carreira. Hoje a coisa esteve quase a pegar fogo, com Carlos Fiolhais a agudizar o mau feitio do 'Ó-doutor-medina...' /// [E queria falar da Revista Estante, a nova revista sobre livros, uma edição da FNAC - mas apenas falo um pouco até porque, a abri-la, dei logo com o Valtinho]


No post abaixo já aqui deixei uma pergunta ao nosso irrevogável-vice-primeiro-ministro e, antevendo que ele não se dará ao trabalho de me responder, respondi eu, aproveitando para aqui lhe deixar um sincero conselho. É que, se ele não o seguir, temo bem que o vejamos a chegar ao último dia do Governo de Passos Coelho aparentando ter mais idade que o Mestre Manoel de Oliveira.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. Aqui falo do que vi enquanto jantava.


Fado Cravo



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Jantei tardíssimo. Estava cheia de fome e, para variar, também já com sono. Devo ter começado a jantar já muito perto das 10 da noite (e, portanto, estava há cerca de 9 horas sem comer) e, como podem imaginar, a minha disposição não estava famosa.

Judite de Sousa está não apenas mais bonita
mas, também, mais simpática, mais empática
e melhor moderadora e entrevistadora

Mas eis senão quando, ao ligarmos a televisão da copa, demos com os Olhos nos Olhos e com o insuportável Medina Carreira todo enxofrado com o impagável Dr. Carlos Fiolhais, pessoa por quem nutro admiração, e com a bela Judite de Sousa em palpos de aranha para pôr alguma ordem naquela mesa.


Discutia-se, penso eu, o orçamento relativo ao ensino (como apanhei o programa perto do fim, não sei bem se terá sido apenas sobre o ensino superior).

O chato - e um verdadeiro cata-vento - Medina Carreira dizia que, sendo o País um país de pelintras, não há dinheiro para pagar cursos que não servem para nada.

Vistas curtas, verbo afiado, Medina Carreira é um daqueles que, com poder na mão, também daria cabo do País em três tempos.

Simpático e com uma notável bonomia,
Carlos Fiolhais não é, no entanto, uma mosca morta.
 Pelo contrário é bem um homem do seu tempo.

Carlos Fiolhais explicou-lhe - com a graça, bonomia e brilho que se lhe conhecem - que os pelintras podem não ter dinheiro mas, se tiverem conhecimentos, podem vir a criar muita riqueza. Deu o seu próprio exemplo que é Físico e que tem ajudado a formar Físicos e deu outros exemplos notáveis: foi pedagógico, paciente e convincente. Explicou que as invenções surgem no decurso de experimentações, tantas vezes acidentalmente e, para as quais, apenas anos depois se descobre a utilização. É apenas um dos casos que deu. Acabe-se com os cursos de Física, que não servem para nada?, perguntava ele a Medina.

Servem para formar cientistas que depois se vão encaixotar e que o País não pode pagar!!!, retruca-truca o exaltado Medina, o olhar cada vez mais de viés.

No entanto, antes do desnorte no final em que já nem conseguia disfarçar a raiva de que foi tomado, de cada vez que Carlos Fiolhais dizia uma coisa lógica e irrebatível, o intragável Dr. Medina, para ver se passava, dizia que estavam a dizer a mesma coisa. Mas a bela da Judite (que, de facto, está bem mais bonita) não estava para dar mole e, portanto, não perdoava, 'não estão nada a dizer a mesma coisa, ó Dr. Medina, estão é em rota de colisão' e o Medina, fulo, fulo da vida, espingardava com ela, com o outro, mostrando que é mesmo uma daquelas criaturas com um mau feitio que não se aguenta.

Vejam bem o arzinho de fúria da criatura

Carlos Fiolhais não perdeu a tramontana mas não deixou uma por dizer. Deu uma lição de cultura, de civismo e de cidadania, mostrando como o caminho que está a ser seguido é o oposto do que devia ser. E a Judite de Sousa lá foi dizendo que o Dr. Medina diz mal de tudo e, apesar de ir sorrindo, não lhas perdoou.


Via-se que, perante o ar furibundo do Medina Carreira que por vezes quase roçava a má criação, ela estava desertinha por acabar o programa e, quando isso aconteceu, talvez nem se lembrando que continuava a ser filmada, agarrou o cabelo, estendeu-se na cadeira, esticou-se e, devo dizer, que acho que muito pouco fez ela. Não me admiraria nada se a ouvisse dizer 'fónix! que estava a ver que não aguentava isto até ao fim...'


Judite de Sousa relaxa depois de tentar moderar os ímpetos furiosos do Dr. Medina

Se fosse eu, não sei se me aguentava sem virar uma garrafa de água na cabeça daquela criatura maledicente e intratável que parece que destila ódio e que para ali ainda ficou a pregar enquanto o pacholas do Fiolhais, sorridente, tentava acalmar aquele bicho horroroso.

Não sei se a Judite tem pachorra para aguentar por muito mais tempo aquele sujeito. Nem sei se os telespectadores o aguentam.

Um programa deste género é útil e interessante mas com uma outra pessoa. Aquele Medina é uma autêntica megera.


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O fado lá em cima é o Fado Cravo interpretado por Alfredo Marceneiro. 

Vá lá explicar isto, quando pensei numa música para acompanhar o derrotismo, o pessimismo doentio do Medina, lembrei-me logo de um daqueles fados desgraçados do Marceneiro (de raiva desfiz o cravo).

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Já agora, caso queiram ver o Professor Fiolhais a falar de ciência, deixo-vos aqui um vídeo.
É sempre um gosto ver e ouvir uma pessoa inteligente e com sentido de humor.

Pipocas com Telemóvel e outras histórias de falsa ciência

de Carlos Fiolhais e David Marçal





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E assim, uma vez mais, deixo para trás aquilo de que vinha com vontade de falar. Comecei aqui tarde demais e já cansada e, em vez de ir direitinha ao ponto, cedi ao impulso e desatei a falar do que tinha acabado de ver. Quando começo, penso sempre que vou despachar-me e que, em três tempos, estarei pronta para o que quero. Mas qual quê? Ponho-me à procura de músicas, no caso deste post tirei fotografias à televisão, depois passei-as para o computador, depois converti-as para não ficarem pesadas, e depois gosto de compor minimamente o visual da coisa e assim sucessivamente. Ou seja, o tempo vai passando e as minhas anteriores intenções vão sendo postergados. Qualquer dia ainda arranjo um ghost writer para me ajudar: é que não consigo dar vazão a tantas coisas que aqui quero trazer.


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Entrevista a José Tolentino Mendonça
no Número 1 da Revista Estante

Também queria falar da nova revista literária, a Estante, uma edição da FNAC. De tarde já um Leitor me tinha enviado um excerto da entrevista do Pde Tolentino Mendonça e, quando abri a caixa de correio (física), lá tinha a revista. O primeiro número foi oferta mas, a partir daí custará 1,5€, ou seja, um preço imbatível. 


A nível gráfico é agradável, o papel é simpático, deve ser reciclado, mas tem partes significativas escritas com uma letra miseravelmente pequena. Eu, que não uso óculos para ler, vi-me grega para ler aquilo. Um disparate, quase que só com lupa. Depois é quase mais um catálogo do que uma revista literária. Mas, em contrapartida, tem alguns aspectos úteis.

A ver se amanhã falo dela com mais vagar pois, para já, preciso de pegar nela com, justamente, mais vagar. Uma coisa me deixou logo de pé atrás. Ou melhor, com os dois pés atrás: o Editorial foi escrito pelo Valter Hugo Mãe, o bom do Valtinho. Se isto é para valer ou se foi só este 1º número, uma experiência a ver como é que ele se porta, não sei. O que sei é que o naco de prosa não engana: é mesmo coisa do Valtinho, credo.

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Para verem o desgaste que este governo está a ser para todas a gente, incluindo para aquele que tanto parece ambicionar lá estar, Paulo Portas, é descer, por favor, até ao post já a seguir.

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E, por hoje, fico por aqui. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça feira.