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quinta-feira, fevereiro 20, 2025

A malta do PCP agora já gosta dos americanos? Ou só gosta deste americano em particular (do Trump, quero eu dizer)?
Pergunto.
O Stephen King é que, há 40 anos, previu, bem previsto, o cúmulo de pouca sorte que aconteceu aos Estados Unidos e ao mundo

-- E, já agora, uma repetida recomendação em relação à empresa do Montenegro --

 

Mais uma vez o confesso: custa-me acreditar no que está a acontecer. É tudo mau demais. Parece daqueles pesadelos absurdos que acabam por ser desmascarados.

Por exemplo, há duas noites tive um pesadelo terrível. O meu marido teve, ou tem, uma sub-luxação do ombro. Agora está melhor, desde que anda a fazer reforço muscular mas, de vez em quando aquilo dói-lhe mesmo. Então, na véspera de começarmos com o pilates, talvez porque me preocupasse que aquilo lhe fizesse mal, sonhei que ele tinha um bico, um osso espetado. E estava com dores e dizia-me que o médico lhe tinha dito que se podia cortar com o corta-unhas e queria que eu o fizesse. E eu dizia que era impossível, que não apenas o corta-unhas não tinha abertura e força para cortar um osso como um osso não podia ser cortado assim. E ele estava cheio de dores e não queria que eu questionasse e me despachasse a cortar-lhe o osso.

Felizmente acordei. Mas ainda fiquei ali a argumentar em pensamento, que um osso não é tecido morto, que não podia cortar assim, a sangue frio. Finalmente, lá consegui assimilar que tinha tido um pesadelo, que nada daquilo era real.

Mas, com o Trump a fazer disparates gravíssimos, impensáveis, em catadupa, e sem ver como é que se vai sair disto antes que ele faça estrago a sério, temo que não seja um pesadelo.

É bom para se dar largas ao sentido de humor e um manancial imenso para caricaturistas. Mas não vejo quem mais beneficie de tamanhas cavalices.


Curiosamente, bate muito certo com o personagem criado por Stephen King long, long ago. A realidade muitas vezes ultrapassa a ficção. Mas a ficção por vezes antecipa a realidade.

How Stephen King Predicted Trump's Rise Decades Ago | Opinions | NowThis

Author Stephen King predicted the rise of Trump 40 years ago — but he says the reality is scarier than anything he’s written.

In US news, Stephen King sat down with NowThis to talk about President Trump and the eerie similarities between Donald Trump and the Stephen King Dead Zone character 'Greg Stillson.' Dead Zone is a novel King wrote in 1979, it features a a politician Greg Stillson, Donald Trump like in many ways. The Greg Stillson Trump similarities include his outlandish behavior and rise to power that is similar to the rise of Trump and the rise of Trumpism. But according to Stephen King, Donald Trump in reality is even scarier than what he wrote. Stephen King adaptations are extremely popular in movies and TV these days, and he continues to write books like The Shining sequel of sorts Doctor Sleep. 


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A propósito da cena da empresa do Montenegro, cumpre-me continuar a recomendar que se analisem as contas durante os anos de actividade da empresa. Aparentemente pode haver ali um potencial conflito de interesses a vários níveis (o que o próprio Montenegro reconheceu poder haver no caso, idêntico, do Secretário de Estado que, com o acordo de Montenegro, se demitiu) mas, para além disso, seria interessante verificar se não é mais uma daquelas empresas que os habilidosos criam para pagar menos impostos (menos ou nenhuns). Os jornalistas e os partidos da oposição deveriam averiguar bem. Com olhos de ver. É uma sugestão. Dirão sempre que o que fizeram é legal. E é verdade. Há uma generalizada e descarada fuga ao fisco com o beneplácito dos governos e da máquina fiscal. São uns a usarem empresas (de fachada) para prestarem serviços, são outros a receber como ajudas de custo ou subsídio de transporte -- há de tudo. Até gente que teoricamente recebe o salário mínimo, para ficar isenta, e o resto vem por fora. Meio mundo a fugir aos impostos. E, como consequência, outros a pagarem pela medida grossa. Uma vergonha. Ora se, por acaso, se viesse a provar que o primeiro-ministro é praticante dessa habilidade, então, meus Caros, então o caso seria mais do que grave. Por isso, convém que as contas sejam auditadas.

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Desejo-vos uma bela quinta-feira

sábado, fevereiro 01, 2025

Vejam bem o que aquilo com que o algoritmo do YouTube me presenteou...

 

As coisas estão como estão, e eu nem me pronuncio para melhor as classificar pois é tudo too much e nem sei que diga ou para onde olhe, tantos os pontos de subversão e loucura, e, por cá, a malta continua a brincar às eleições presidenciais. Já aqui falei algumas vezes que não percebo que fossanguice é esta. Faz lembrar as vizinhas que, à falta de assunto, se pronunciam como umas e outras estendem a roupa.

Como penso apenas dedicar-me a isso quando estivermos lá, passo adiante.

Há ainda o tema da pen. Mas também não consigo perceber o que quer que seja sobre o grande assunto da pequena pen. Portanto, passo também adiante.

Conto antes um sonho tramado. Estava na empresa, a uma mesa com outras pessoas, e aparecia-me um artista que, com ar arrogante, me dizia que tinha sido admitido com a garantia que lhe dariam um computador topo de gama, com uma placa gráfica toda xpto, uma coisa de luxo, fora das normas da empresa. Eu dizia-lhe que, ali, não era cada um que escolhia os seus instrumentos de trabalho, era a empresa que avaliava as necessidades face às funções e providenciava o que fosse necessário. Mas ele falava-me de alto e dizia que isso fazia parte das suas condições admissão e eu, já contrariada, dizia que ele fosse pedir ao funcionário que lhe tinha dito isso que lhe desse o computador que ele queria. Ele dizia que tinha sido o director de Recursos Humanos e eu dizia que, sim senhor, o director de Recursos Humanos que, com o seu próprio dinheiro, fosse à Fnac ou à Worten e comprasse um computador para lhe dar. E a coisa ia escalando e eu, cada vez mais irritada, já lhe dizia que ele expusesse o assunto ao Marcelo.

Acordei contrariadíssima, como se estivesse outra vez em ambiente de trabalho, com gente a reivindicar tudo e mais um par de botas, e tudo me vinha cair em cima e eu é que tinha que ser a má da fita. Primeiro que assimilasse que tinha sido um sonho foi uma carga de trabalhos.

Pois bem. Que nem de propósito, fomos almoçar a um belo restaurante, em cima do rio. E há compartimentos para cada mesa. Os compartimentos estão separados uns dos outros por ripas de madeira e, portanto, se os comensais falarem alto, consegue ouvir-se.

Nas minhas costas estavam 4 cavalheiros que falavam empolgadamente de trabalho, de orçamentos, de departamentos cujos objectivos ficam aquém, que os resultados parece que se arriscam a ficar aquém, que iriam ter que resolver algumas situações porque há desempenhos que parece que estão aquém. E falavam de nomes. E o meu marido repetia o nome e dizia: 'A X. vai saltar'. E só não digo aqui o nome dessa ou de outros pois não quero trazer más notícias. E eu, ouvindo-os falar, pensei que, felizmente, já estou fora destes números. Aliás, sempre odiei tratar de assuntos de trabalho ao almoço. Mas, independentemente de ser ou não almoço, fico mesmo contente de já estar distante deste tipo de problemas com o qual eu também estava confrontada.

Eu estava a saborear a boa comida, a conversar, a ver a vista, e aqueles pobres coitados ali enfronhados em problemas e mais problemas...

E agora aqui, à noite, enquanto nas televisões se debate o almirante e a pen e mais não sei que pepineiras, vou até ao YouTube e sou presenteada com o vídeo abaixo. E, portanto, à falta de melhor, aqui o partilho:

King of the Dorks (Elon Musk / Donald Trump song parody)

Who is the real king of the dorks - Elon Musk or Donald Trump? Also starring Mark Zuckerberg, Jeff Bezos, Kristi Noem, Pete Hegseth, RFK Jr, and Karoline Leavitt.

Song parody of "The King of New York" from "Newsies"


E siga o baile

terça-feira, outubro 15, 2024

O primeiro cogumelo, um pesadelo, o stress de domingo de manhã.
E, para um momento simpático, a bela casa de Daniela Mercury e Malu Verçosa

 

Já vi um primeiro cogumelo grande e, por sinal, já um pouco danificado. Antes já tinha visto alguns pequeninos, surgidos com as primeiras chuvas. Mas este prenuncia que muitos mais estão para vir. Isso enche-me sempre de felicidade pois vejo como esta terra se fez mulher, parideira, fértil, generosa, dando vida a muitos seres.

E choveu muito. Estávamos na rua quando desabou uma carga de água. O cão chegou a casa feito um pinto. E depois foi a tourada do costume primeiro que me deixasse limpá-lo: tenta arrancar-me a toalha, salta, rodopia, põe-se de pé com ela na boca. Uma festa.

Mas, tirando esse momento de super energia, como em todas as segundas-feiras em que, no domingo, temos a casa cheia, o cão só quer dormir. Assim estou eu. É que, ainda por cima, acordei muito cedo com um pesadelo e depois não voltei a adormecer. Foi outra vez aquela cena em que desespero com o que tenho para fazer temendo não me despachar a tempo. Desta vez estava fora, tinha ido em serviço. No dia de vir embora, uma carrinha ia buscar-nos para nos levar ao aeroporto. E eu não dava a mala feita. As coisas não cabiam na mala. E encontrava camisolas e casacos do meu marido e não percebia como era possível, achava que tinha trazido, por engano, uma mala dele. Por isso, as minhas coisas não cabiam. Depois, para me maquilhar, ia a uma casa de banho no corredor pois tinha espelhos e luz. Mas estava cheia, tinha que desistir. Depois não tinha tempo para tomar o pequeno almoço e tinha visto uma mesa que devia ter sido de pequeno-almoço descentralizado, no hall junto aos elevadores, mas já só tinha pastéis de nata. Eu ao pequeno almoço só como fruta e iogurte mas não tinha outro remédio senão comer um pastel de nata. E já estava na hora da carrinha partir e eu ainda tinha a mala por fechar, queria lavar os dentes, arranjar-me minimamente e não conseguia. Quando acordei ainda estava nesta azáfama e a tentar perceber como é que tinha tanta roupa do meu marido na minha mala.

Enfim. isto deve ter sido porque no domingo, precisando eu do forno para os meus cozinhados, o meu marido, que tinha resolvido fazer uns bolos que viu no programa da Joana Barrios no 24 Kitchen, ainda estava de roda deles quando fui para a cozinha e mobilizou o forno para ele, fazendo com que os meus tabuleiros só fossem para o forno quase uma hora depois da hora que eu queria. Gosto de fazer tudo antes da hora para, quando o pessoal chega, estar tudo pronto, pratos, acompanhamentos, molhos, saladas, frutas, etc. E, portanto, fiquei em stress com os meus planos atrapalhados. E gosto de estar sozinha, a mexer-me de um lado para o outro e não tê-lo a lavar louça quando preciso de lavar legumes. Portanto, deve ter sido isso que me deu a volta ao miolo e, de noite, deu naquela confusão.

A ver se amanhã ou outro dia conto como fiz os rolos de carnes, um recheado com maçã e farinheira e outro com mozzarella fresca e transparências de bacon. E também os doces que o meu marido fez. Hoje estou cheia de sono...

Mas, antes de desligar o computador, deixo-vos com a simpática casa do simpático casal Daniela Mercury e Malu Verçosa. É sempre bom visitarmos uma casa bonita.

Tour pela casa repleta de afeto de Daniela Mercury e Malu Verçosa | CASA VOGUE


terça-feira, julho 23, 2024

A relatividade dos pesadelos

 

Tinha a ideia antiga de visitar a Tailândia, adentrar-me por florestas, descobrir antigos monumentos quase devorados pela natureza, maravilhar-me com tudo o que encontrasse por lá. 

Combinei com um grupo de amigos. O meu marido não estava receptivo. Países com culturas muito diferentes da nossa e em que os tipos de exigências que, para nós são essenciais mas que para os locais pouca relevância têm, não lhe dão confiança. 

Contudo, os nossos amigos ajudaram-me a convencê-lo. Lá fomos.

Os amigos, habituados a viajar por destinos longínquos, marcaram tudo e, por isso, nem nos ocorreu pedir detalhes. Confiámos.

Contudo, quando lá chegámos, constatei que os quartos não tinham casa de banho privativa. Ora, para mim, isso é uma definitiva bandeira encarnada. Por isso, fiquei incomodada e com vontade de arrepiar caminho. Mas, claro, tarde demais.

À noite, aflita, não houve remédio: tive que me pôr na fila para as casas de banho junto à entrada do hotel. Uma fila enorme. As pessoas que, entretanto, saíam da casa de banho vinham com ar enojado, a dizerem que aquelas instalações não estavam em condições. Mas não aparecia ninguém a limpar. Eu não conseguia conceber ir usar uma casa de banho suja mas não estava a ver alternativa. Uma terrível sensação de nojo.

Mais tarde, fui até à praia. O meu marido não quis ir, disse que aquelas praias não prestavam para nada, e ficou a ler no quarto. Fui na mesma. Quando lá estava com alguns dos amigos, vimos pessoas a chegar à beira de água como se viessem a nadar de longe, vestidas. Perguntei aos que estavam comigo se seriam migrantes. Disseram-me que sim, que era normal, que não me afligisse, que apareceria alguém a ajudar. Fui a correr, parecia que aquelas pessoas precisavam de ajuda e não consegui ignorá-lo. E uma senhora, em particular, pareceu-me muito mal e tive a maior dificuldade em puxá-la, ajudá-la.

E foi isto que contei aos meus netos, ao almoço, enquanto estávamos, por mero acaso, a comer comida tailandesa. Um deles está quase a fazer anos e, antes, tínhamos ido com ele para escolher roupa a seu gosto. Depois, para o almoço, foi ele que sugeriu que trouxéssemos comida tailandesa para casa, para todos.

Ora, ao acordar, eu tinha contado ao meu marido o pesadelo que tinha tido, que me tinha feito acordar algumas vezes. Então, ao almoço, a propósito da coincidência de estarmos a comer comida tailandesa, ele disse-me: 'Conta-lhes o teu pesadelo desta noite.'

Contei. Quando acabei, todos a comermos noodles com carne ou com camarões, eu com tofu, etc, olharam para mim e perguntaram: 'Mais nada...? Foi só isso?'

'Foi. Não foi horrível?'. Eles olhavam-me com alguma condescendência: 'Não...' 

E cada um disse: 'Os meus pesadelos são muito piores...', ou  'Eu sonho que tenho um monstro debaixo da minha cama, pronto para me atacar'. Outro: 'Também, sonho que vou ser atacado...' O meu marido disse: 'Isso é dos jogos e das séries que veem'. Concordaram mas isso não tirava a intensidade do susto que apanhavam.

E eu que estava ainda incomodada com o meu horrível pesadelo pensei -- uma vez mais, pensei -- que é tudo relativo. 

Tive muita vontade de lhes dizer que deixassem a parte das casas de banho, que tanto me tinha incomodado, mas que pensassem como é horrível os migrantes que vão em procura de uma vida melhor, arriscando a própria vida, e como é horrível isso já ser tão normal que já ninguém presta atenção. Mas os miúdos, contentes a comerem os seus noodles com ingredientes e molhos à escolha e para quem os pesadelos piores são os dos monstros que temem que se escondam nos seus quartos, estariam receptivos a um tema destes? 

Por não me parecer ser o momento adequado, passei adiante. Mas fiquei na dúvida.

Aliás, tenho cada vez mais dúvidas. O mundo é um daqueles espaços topológicos sem forma, sem contornos, em que as leis que os regem são voláteis. Um espaço assim é apelativo em termos ficcionais mas um pesadelo em termos reais.

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Entretanto, agora estou a ver televisão enquanto escrevo. Kamala Harris está em campo (e que diferença faz a sua genica...) e, por todos os motivos, desejo, muito sinceramente, que seja a próxima presidente dos Estados Unidos. Acredito que será. Há muitos americanos que são broncos até à quinta casa. Mas há muitos mais que o não são.

domingo, setembro 24, 2023

Um outro mundo por cima de nós -- OVNIS, asteroides e etc.

 

Eu, é daquelas coisas, nem sim nem sopas. Nem acredito nem deixo de acreditar. Do que não sei não dou sequer palpites.

Sobre haver formas de vida inteligente fora do planeta Terra o que posso dizer é que, no mero plano das hipóteses, neste caso formuladas por uma leiga (e, portanto, sem valor acrescentado para o caso), me parece muito provável que exista.

E, se aqui, através das condições e das circunstâncias, os humanos (que, para o efeito, acreditamos que são os inteligentes cá do burgo) evoluíram para o que somos, acredito que, noutras condições e noutras circunstâncias, a vida inteligente pode encontrar-se noutros formatos. Porque não coisas parecidas com árvores que sejam inteligentes, comuniquem entre si, tracem planos? Ou bichos parecidos com iguanas que tenham mais inteligência e capacidades que nós...? Não faço ideia. Até podem ser minerais dotados de inteligência e que não se pareçam com nada com que se consiga fazer uma comparação.

Mas admito como provável que enquanto por aqui a discutir amendoins e a distribuir milho pelos pardais, algures no universo outros seres construam as suas específicas civilizações e deambulem por aí a observar-nos na maior das calminhas.

Estou como o Neil DeGrasse Tyson a olhar com algum cepticismo para aqueles ETzinhos que foram exibidos no Congresso do México

Parecem abonecados demais, perfeitinhos demais, humanizados demais... tudo demais para ser verdade. 

Mas sei lá.

Outro aspecto que refiro muitas vezes, meio a sério meio a brincar, quando vejo alguém excessivamente preocupado: sabemos lá se um dia destes não vamos levar com um big calhau na cabeça e vamos todos desta para melhor...?

Com tanto asteroide, tanto lixo espacial, tanta coisa que por aí anda, é do domínio da improbabilidade que passem todos ao largo desta bolinha que dá pelo nome de Terra.

E é sobre tudo isto que no vídeo aqui abaixo da CNN o astrofísico Neil DeGrasse Tyson aqui diz.

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Um apontamento mais pessoal. Penso que por causa do estado um pouco variável da minha mãe e sobretudo por causa do seu imprevisível estado de espírito em que é ela que sabe, ela que decide e ela que faz, e que me traz preocupada pois intuo (ou melhor, tenho quase a certeza) que não toma a medicação conforme deveria, não dormi bem, tive pesadelos. Estranhamente os pesadelos envolviam o meu pai. Eu estava num lugar a fazer já não sei o quê, só sei que havia muita gente, eu tinha que prestar muita atenção a tudo, e estava sempre a ver o telemóvel com medo de receber uma mensagem a dizer que o meu pai tinha morrido. E, por isso, eu estava numa pilha de nervos. Mas a disfarçar e a trabalhar e prestar atenção a tudo e a todos para que ninguém se apercebesse. Com isto, acordei várias vezes, aflita e com muita dificuldade em voltar a adormecer.

Portanto, durante o dia andei um bocado cansada e com sono. 

Agora à noite estivemos a ver o Task Master, programa que, só se não pudermos é que não vemos, e agora estamos a ver uma reportagem bastante interessante sobre o cenário de guerra na Ucrânia, depois de outra sobre os envenenamentos e muitos outros indícios que o ocidente descurou em relação à Rússia. 

Tinha ideia de voltar a escrever sobre o estado da Saúde e sobre o SNS mas não estou com pedalada para isso. Mas não deixem, por favor, de ver os comentários bastante interessantes que constam do post abaixo.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Força. Paz.

quinta-feira, agosto 03, 2023

Pesadelos que desencantam angústias do passado

 

Quando deixei de fumar nunca recaí. Mas, por várias vezes, sonhei que estava a recair. Eram sonhos muito reais. Sentia o prazer de fumar, sentia o cheiro e o sabor, desfrutava a aspiração profunda e a longa expiração. Depois, sobressaltava-me, irritada por ter recaído e me ter esquecido de que já não fumava. Acordava atarantada, muito aborrecida por ter estado a fumar... e custava-me a perceber que tinha sido um sonho. 

Provavelmente é qualquer coisa de semelhante que me acontece agora ao ter pesadelos horríveis em que tenho reuniões e em que, pelo trânsito que apanho pela frente, por não arranjar lugar para deixar o carro, por não me lembrar onde deixei o carro e não conseguir pôr-me a caminho, seja pelo que for, vejo o tempo a passar e percebo que não vou conseguir chegar a tempo.

Eu, na pontualidade, sou germânica. Se é 9:30 é 9:30, nem 1 minuto a mais nem um minuto a menos. E, portanto, sendo eu assim, imagine-se como fico doente quando sou eu a chegar atrasada. E, pior ainda, quando era eu a convocar a reunião e, afinal, deixar todos plantados à minha espera.

Muitas vezes as pessoas admiravam-se de eu não me stressar com situações que deixavam outros ao rubro -- trabalhos que corriam mal, reivindicações salariais absurdas, reclamações ridículas aquando das avaliações, gente falsa que atira a responsabilidade dos seus erros para cima dos outros ou que quer afirmar-se pisando os outros. Não me stressava com nada disto. Mas ficava doente quando ia atrasar-me e não conseguia evitá-lo.

Presumo que seja isso que me faz ter pesadelos como tive a noite passada. Sonhei que tinha uma reunião às 10:30, que já tinha marcado mais tarde para garantir a pontualidade, e tudo me corria mal. Nos meus pesadelos, em volta disto há ainda outras recorrências: vou com miúdos e com sacos com roupa e comida para eles. E eles depois estão com sono, cansados, arrastam-se, não querem ir e eu tenho que puxá-los. E não consigo levá-los ao colo. E tudo me corre mal, vou dar a sítios que não conheço, não encontro quem saiba dizer-me o caminho, depois perco-me, a seguir apanho escadas, precipícios, tudo. E o tempo a aproximar-se e eu a ver que vou chegar atrasada. E os miúdos têm fome, querem ficar sossegados a brincar e eu puxo-os, preocupo-me que caiam e se magoem, preocupo-me porque devia dar-lhes de lanchar ou vestir-lhes um casaco e, atrasada e exausta como já estou, não consigo.

Acordo, numa angústia. Levanto-me, vou à casa de banho, tento assimilar que foi um sonho. Mas primeiro que o coração volte ao normal é um castigo.

E isto das crianças só pode ter a ver com a angústia que me apertava o coração quando tinha que ir buscar os miúdos à escola e as reuniões não acabavam, ou estava muita chuva e o trânsito não andava, ou havia um acidente que parava o trânsito e já não se conseguia voltar para trás para escolher um caminho alternativo. 

Mas há quanto tempo isso foi... E ainda estou com isto... Deve ter sido tão traumatizante para mim que ainda labuto contra o pesadelo que era para mim saber que os miúdos estavam à minha espera e eu não conseguia ir a correr para chegar cedo como gostaria.

E ultimamente tenho tido vários destes maus sonhos. Quando me deito já vou com receio de os ter. E a chatice é que, quando acordo, estou tão sobressaltada e preocupada que me custa imenso voltar a adormecer.

Ontem tinha visto um vídeo sobre pontes (e eu gosto imenso de apreciar a elegância do seu desenho) mas aquelas eram tão vertiginosas que interrompi a meio com receio de ter pesadelos com elas. Afinal, tive mesmo um pesadelo e nada teve a ver com pontes que dão vertigens.

Portanto, vou arriscar. E vou partilhar convosco. São extraordinárias obras de arquitectura e, sobretudo, de engenharia, obras que, certamente, nasceram do sonho de quem as concebeu.

Here’s The Bridge That Gives Drivers Panic Attacks When They Go Over It

Bridges are marvels that unite people and places, spanning over rivers, canyons, and other formidable barriers. But beware, because there are bridges that defy the very notion of safety, haunting even the boldest heart. Whether it's their towering heights, treacherous narrowness, or the relentless forces of nature they endure, these bridges have earned a notorious reputation as the most bone-chilling spectacles ever witnessed. In this video, we’ll take a look at some of the most mind-boggling and spine-chilling bridges in the world. 

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Uma bela quinta-feira
Saúde. Sonos descansados. Paz.

terça-feira, julho 04, 2023

Pesadelos e situações assustadoras da vida real.
[E, para não acreditar no que se vê, os difíceis caminhos nas montanhas nómadas do Irão]

 

Já aqui contei que, por vezes, acordo a rir à gargalhada. E, mesmo acordada, continuo a rir, divertida com a situação em que me vi envolvida.

Mas depois há os pesadelos. E os pesadelos mais recorrentes são aqueles em que tenho que ir ter a algum lado e já estou atrasada e vou carregada e levo comigo os miúdos. E os miúdos distraem-se, ficam para trás, querem colo. E eu, cansada, com sacos e mochilas, não consigo pegar neles e transportá-los. Acresce que na maior parte das vezes não encontro o carro, não faço ideia da rua em que o deixei, dou voltas e voltas, já quase sem conseguir dar passo e não encontro o raio do carro. Mas o pior é que, muitas vezes, tenho que andar por estradas esburacadas, estreitas, ravinas, tenho que saltar de um rochedo para outro e sofro imenso, porque sofre horrores com vertigens e porque, naquela situação, tenho pavor a perder algum miúdo, como medo de não conseguir fazê-los atravessar aqueles quase intransponíveis obstáculos.

Felizmente, quando estou nessa aflição, acordo. Vou à casa de banho para ver se acordo e percebo que é um sonho, tentando depois adormecer já sem aquele sobressalto dentro de mim.

Não sei porque é isto. Se calhar é pelos anos em que, sendo os meus filhos pequenos, e estando a trabalhar, frequentemente em reuniões que duravam horas, dirigidas por homens completamente insensíveis em relação ao facto de eu ser mãe e querer estar em casa a horas decentes, eu ver o tempo a passar, numa aflição, fazendo contas às horas a que ia chegar a casa.  E depois, quando finalmente me via livre do trabalho, enfiava-me no trânsito e, numa agonia, via que não andava e eu, que queria tanto estar cedo em casa, por vezes não o conseguia.

Penso que tenha sido que fico gravado na minha carne e me faz ainda ter pesadelos. Isso misturado com as vertigens de que padeço e com a preocupação agora com os netos, quando estamos em espaços públicos com muita gente, sempre a contá-los a ver se ainda estão todos, não vá algum perder-se.

E agora, depois de um dia de intenso labor, quase de sol a sol, ao ver o extraordinário vídeo abaixo, penso que isto, sim, é pesadelo a sério...

Não sei como conseguem. Sem dúvida vêem paisagens únicas, sem dúvida testam os seus limites até à vertigem, sem dúvida desafiam a atracção dos abismos. Mas, depois, no fim, aparecem estradas e vê-se um carro. Ora se se chega lá pelas vias convencionais, porque andam eles assim, ali, arriscando a vida deles e das crianças que os acompanham?

Acredito que haja explicação. Mas eu não sei qual é. Vejam e digam-me o que vos parece.

A difficult path in the nomadic mountains of Iran


Um dia bom
Saúde. Serenidade. Paz.

quarta-feira, dezembro 28, 2022

O escândalo Alexandra Reis, carros liofilizados, nanobaterias e uma casa fantastique

 


Não sei o que me deu mas diria que continuo de ressaca. Mas, como nunca me embebedei ou droguei, em boa verdade não conheço pessoalmente os sintomas das ressacas pelo que não sei se estou a usar devidamente o conceito.

Creio que tempos de crises agudas simultâneas, incluindo um internamento hospitalar da minha mãe por mais de uma semana, abrangendo dois fins de semana, mais o stress de ver o tempo a passar sem tempo para fazer compras e com o Natal a aproximar-se, depois a maratona que foi, isto, ainda por cima, com vários dias a ter que acordar muito cedo (e, logo, a dormir muito pouco), tudo junto deve ter-me esgotado de tal maneira que agora, em que não tenho nenhuma dessas pressões em cima de mim e numa semana em que o trabalho está aligeirado, estou como estou, sem energia e com muito sono.

Há vários temas sobre os quais sei que poderia escrever mas sinto-me sem ânimo para tal. 

Há bocado vim para o sofá e tentei ver televisão. Não tive paciência. Virei para a Emily in Paris (na Netflix) apesar de achar que é daqueles néctares sem história, coloridos e açucarados. 

Passado um bocado, acordei e já o episódio ia no fim. Pensei que deveria pôr para trás mas também não o fiz. Quero cá saber.

Vou antes contar um sonho que sonhei no dia que passei às compras. Mas, antes, faço um enquadramento. Tenho um hábito (de que aqui já falei) que é, quando estaciono, mando uma mensagem a dizer o piso, a cor, a letra e o número. Isto porque tenho medo de me esquecer e, no meio de milhares de carros, nunca mais descobrir o meu. Depois vou com atenção para fixar a zona por onde subo, no parque, e o sítio onde saio, já dentro do centro comercial. Mas naquele dia, na parte da tarde, já cansada pela manhã e por ter ido a casa a correr para ir passear o cão, quando acabei as compras e quase não conseguia dar passo, tamanho o carrego, deu-me uma branca: não me lembrava onde tinha entrado no centro comercial. Pensei que se me enganasse, com tantos e tão pesados sacos, não teria força para andar no parque à procura da cor, da letra e do número. Mas depois lembrei-me que, ao entrar, tinha pensado que era melhor deixar os livros para o fim e isso deveria querer dizer que tinha entrado na zona da livraria. E foi. Felizmente.

Mas, talvez por isso, nessa noite sonhei que andava na rua, num lugar com ruas empedradas e íngremes, carregada de sacos pesadíssimos, quase incapaz de andar. E não encontrava o carro. De rua em rua, pousando os sacos, aflita, e sem descobrir o carro. Lembrava-me que o meu marido me tinha deixado à porta do centro comercial, dizendo-me que fosse andando, que ele estacionaria no sítio do costume. Mas ali andava eu, sem forças, dorida, espreitando todos os carros e... nada de carro.

Então tinha-lhe ligado, desesperada: 'Olha lá, ando aqui às voltas, que é que fizeste à porcaria do carro?'. E ele: 'Liofilizei-o'.  E eu, estupefacta: 'Tu o quê?'. E ele, confirmando: 'Liofilizei-o'. Eu, sem acção, exangue, exausta: 'Liofilizaste-o? Mas que estupidez é essa, caraças?'. E ele: 'É o futuro. Quando acaba de ser usado, recolhe-se todo, ficando um pequeno volume que se guarda num cacifo.' Eu perplexa: 'Mas e o depósito do combustível...? Não se pode recolher, dobrar...' Mas ele, seguro: 'Qual depósito de combustível? Agora usam-se cápsulas iguais às no café, nanotecnologia. Uma cápsula dá para um ano'.

Nos meus sonhos, quando chego a momentos críticos, acordo. E são sonhos tão vívidos que acordo com a sensação que a situação é real. Custou-me a adormecer, pensando que não seria mau que assim fosse, como ele tinha descrito. Tentava perceber como funcionava, tentava perceber a tecnologia da bateria ou do combustível numa cápsula. Nesse dia contei ao meu marido. Riu-se e depois concluiu o de sempre: 'És maluca'. 

Mas tenho andado a pensar nisso. Como é que o carro se dobra assim? E os bancos? E sendo tudo desdobrável, será que é confortável? 

E aquilo dos carros se moverem a partir de uma pequena cápsula? Fusão nuclear? Lítio? Hidrogénio? A partir do ar? 

E a estupidez é que volta e meia o sonho me vem à cabeça. Ele há coisas.

E, bem sei, não fará sentido eu estar a contar um sonho maluco mas, talvez porque é o que requer menos energia, é o que o meu cérebro hoje seleccionou para eu aqui escrever. Sorry. Isto há-de passar-me.

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Entretanto, para que alguma coisa se aproveite, partilho um vídeo em que se mostra uma casa fantástica, alegremente apresentada. Vejam pois tem espaços e objectos fantásticos.

Inside Karl Lagerfeld’s French Home Filled With Wonderful Objects | Vogue

In this episode of Objects of Affection, Lady Amanda Harlech takes Vogue on a tour through Karl Lagerfeld’s treasures ahead of a landmark Sotheby's auction. Watch as Amanda shows everything from Karl's beautiful royal blue upholstered Bruno Paul couch to his replica Adolph Menzel paintings.


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Entretanto, a tal Alexandra Reis da TAP foi demitida (ou forçada a demitir-se) e já não é Secretária de Estado. Não sei pormenores de todo este caso mas, desde o início, pareceu-me que, neste caso, não interessavam pois, sejam o que forem, são, aqui, isso mesmo: meros detalhes. Tudo parece escandaloso neste caso e as justificações, cá para mim, só apimentarão ainda mais o escândalo. 

O governo socialista não apenas não pode ter governantes que alinhem por bitolas deste calibre como deve esforçar-se por introduzir alguma moralidade na gestão e na política. As empresas públicas ou de gestão pública, e, muito mais, empresas intervencionadas, não podem ser geridas à mão larga como se fossem lucrativas empresas privadas. 

Seria interessante que a Assembleia da República tivesse um grupo pluripartidário que validasse alguns critérios e algumas práticas nas empresas públicas ou de gestão pública. E seria bom que António Costa exigisse um escrutínio mais apertado na fase de selecção dos membros do seu Governo e respectivos gabinetes.

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Uma boa quarta-feira
Saúde. Descanso e boa disposição. Paz.

terça-feira, outubro 25, 2022

Cair na risota

 


Quem por aqui me acompanha saberá que gosto de me rir. Sou de riso fácil. Pior: se me dá para rir, o difícil é parar.

No outro dia acordei a rir à gargalhada e depois fiquei na cama a conter-me para não continuar a rir não fosse o meu marido acordar.

Mas antes quero explicar uma coisa. Esta nossa fera cabeluda tem um hábito: quando algum de nós se afasta, certamente naquele seu instinto de cão pastor de não querer que nenhuma ovelha se tresmalhe, quer apanhar-nos com os dentes. Não morder para magoar. Nada disso. Agarra-nos a roupa e faz barulhos, como se estivesse a zangar-se por queremos sair do rebanho ou do seu redil. Quer prender-nos, quer que fiquemos onde estão os outros. Se não estamos para esses números, alguém o segura pela trela para que quem quer afastar-se se afaste em paz. Aí, ele fica num stress, não se quer ficar, põe-se a dar saltos, reviravoltas no ar, e a dar freneticamente aos dentes, fazendo autenticamente o barulho de castanholas, tudo para ver se consegue alcançar a pessoa que está a ir para longe do seu alcance.

Vou já avisando que o sonho foi parvo, naquela base de surrealismo que costuma enformar muitos dos meus sonhos, e acredito que, para quem leia, vai parecer destituído de graça. 

Mas, caraças, o que me ri. Tive que me levantar e ir à casa de banho para me rir à vontade.

Mas, então, foi o seguinte. Conto.

Estava eu e umas pessoas da minha família, num local que não identifico, a discutir como fazer um trabalho complicado, montar umas estantes que eram elaboradas, com uns torneados, uns pés trabalhados, umas portas rebuscadas. E eu não fazia ideia de como fazer e as pessoas também hesitavam, diziam que era preciso cuidado para não estragar a talha. Uma dizia que era como o peixe, se se fizesse muita força a madeira ficava moída. E então a minha filha disse que estava para chegar uma pessoa, e disse o nome, e que ele se calhar podia ajudar. Toda a gente franziu a cara e abanou a cabeça, rindo com um certo desdém. E um disse: 'Esse nem um caroço consegue enterrar!'

E, então, toda a gente se desatou a rir, a rir, a rir. Uma gargalhada pegada.

E eu ria-me e pensava que era isso mesmo, um anhuca aselhudo que nem um caroço conseguia enterrar. 

Só que, de repente, um conjunto de mulheres que ninguém conhecia, meio velhas, vestidas de cinzento escuro de alto a baixo, pareciam gémeas, sentadas como se estivessem na assistência, desataram também a rir mas com os dentes a bater castanholas, faziam tal e qual o mesmo barulho que o nosso urso amalucado. Todos nós nos virámo para perceber o que era aquilo, quem eram aquelas, e elas riam que nem malucas a bater os dentes, iguais, desatinadas, sem compostura.

E foi aí que desatei a rir desabaladamente e que acordei a rir. Mesmo agora que estou a escrever estou a rir, só de rever mentalmente aquela situação.

O meu marido está muito admirado e eu até estou com dificuldade em explicar-lhe. Concluiu o de sempre: 'És maluca'.

Se calhar sou. Mas fazer o quê? Acho que nada, acho que sou um caso perdido de maluquice. Mas, pelo menos, sou uma maluca bem disposta, uma maluca malaluca gargalhuca.

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E foi também a minha filha que me enviou, no outro dia, um vídeo com imagens captadas pelas câmaras que algumas pessoas têm à porta de casa. Para aqui colocar fui ao Youtube e há inúmeros vídeos, cada um mais suculento que o outro. Escolhi este vídeo apenas porque é mais curtinho que os outros. Bom para rir.


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Um dia bom
Saúde. Riso. Paz.

domingo, outubro 16, 2022

Uma bicha com broches colados à cabeça e toda emplumada com penas de faisão-imperial atrapalha o trânsito em cima da ponte

 

Acordei a meio da noite e custei a readormecer. Já a luz do dia entrava pela janela quando voltei a apagar. Acontece que, de manhã, o meu marido fez a gracinha de me acordar uns dez minutos antes do despertador, Como sempre, desculpa-se, diz que teme que eu não acorde a horas e que depois tenhamos 'que andar a correr'. Detesto que ele faça isso mas ele não se importa e passa a vida a fazer. Acha que isso de eu ficar possuída por ele sacrificar dez míseros minutos do meu sono é frescura. Mas não é, os meus minutos são contados e determinantes. 

São aspectos que as más línguas apelidarão de frioleiras mas que, asseguro, são fracturantes na nossa relação. Acontece que ele tem a sorte de eu ter miolo mole pois, mal me levanto, esqueço-me de estar chateada. Ainda por cima, tenho coração de manteiga, sempre derretido. Tem sorte, muita sorte, ele.

Mas estou a contar isto para dizer que, na altura em que ele me sonegou os dez últimos preciosos minutos de sono, estava a ter um sonho muito real. Sonhava que tinha a casa cheia de gente, na maior parte gente desconhecida, gente de todas as idades, tudo em festa, tudo confraternizando, uns dançando, uns conversando, indo à cozinha servir-se, tudo na maior. Às tantas eu queria ir à casa de banho e estava sempre ocupada, num entra e sai de desconhecidos. Então, quando saiu um, um homem que eu não estava a perceber se era um adulto com ar de jovem ou um adolescente com ar vivido, perguntei: 'Você está aqui da parte de quem?'. E ele, no maior dos à vontades: 'Da parte do X, o dono da casa'. Não disse X, disse um nome. Acontece que aqui em casa esse é o nome do meu marido, o nome do meu filho e o nome de dois dos meus netos (na família há mais uma mão cheia deles com esse nome mas, enfim, desses não se poderia dizer que eram os donos da casa). Então fiquei naquela: 'Será amigo do meu filho? Será amigo do meu neto mais velho? Do meu marido não deve ser senão eu conheceria'. E, ao mesmo tempo, pensava que uma festa assim, para cada um trazer quem quiser, dava nisto, malta que ninguém sabia bem a convite de quem ali estava.

Fui acordada, o sonho interrompido e, portanto, continuo sem saber quem era aquele personagem em concreto.

De facto, tive cá este sábado em casa a maltinha toda, cada vez maiores, eu cada vez mais pequenina, no meio deles até parece que estou a encolher. Mas vieram só eles, não trouxeram amigos e adjacentes. 

Ah e, antes de almoço, houve banho da fera. A minha filha, expert em técnicas de relaxamento caninas, consegue manter o urso sob controle e, com os filhos como assistentes, aplicou-lhe o shampoo (versão 2 em 1, shampoo e acondicionador, para cabelos longos -- e não estou a ironizar, foi mesmo), ensaboou, enxaguou, limpou -- e tudo sob controlo. Claro que entretanto já se rebolou na terra, já se envolveu em folhas outonais, já andou à procura da bolinha no meio dos arbustos e, portanto, já deve estar a precisar de outro banho (refiro-me ao urso, não à minha filha). Mas enfim.

Ao fim do dia, antes de irmos levar a minha mãe a casa, já só nós, fomos fazer uma caminhada com ela para a beira da praia, naturalmente em versão mais soft e um pouco mais curta que o habitual. Ainda assim, nada mal.

Já de volta a casa, noite cerrada, mais de a meio do caminho, deu-me uma pancada de sono mas daquelas de tipo Boa-Noite Cinderela. Sono profundo. Acordei perto de chegarmos. Portanto, devo ter dormido uns dez a quinze minutos. Mas foi sono total. Quando acordei parecia que estava a acordar de uma anestesia. 

O meu marido achou por bem ainda darmos mais uma volta ao burgo pois parecia-lhe que a fera ainda não tinha feito cocó à altura do que tinha comido. Fiquei passada, que fosse ele que eu queria vir para casa. Pedrada ainda da queda no sono durante a viagem, não me achava capaz de dar passo. Mas ele lembrou-me que tinha caminhado muito menos que o habitual e que só me fazia bem. Quando estou assim, em estado quase catatónico, têm de mim o que quiserem. Fui, arrastando-me, atrás dele e do pobre cão que também só queria era vir para casa dormir.

Claro que o bicho não defecou mais nada e claro que reentrámos em casa tarde e más horas. Não jantei, só bebi um chá. Não sei se comi demais ao almoço ou se foi da fatia de bolo que comi a meio da tarde, mas a a verdade é que estava sem fome. Agora que o dia já dobrou e já virou domingo é que me está a dar uma fome das danadas. Mas não vou a esta hora aquecer bolonhesa ou qualquer outro resto do almoço. Saco.

Se calhar ainda vou é comer um dióspiro, quiçá acompanhado por uma fatia de queijo de cabra. Isto só visto. Bem quero fazer dieta e até estava a pensar que pular o jantar só me fazia era bem. Afinal estou aqui esgalgada de fome, prestes a marimbar-me para o açúcar do dióspiro e para a gordura do queijinho, isto estando prestes a ir para a cama. Caneco.

Escuso de dizer que não vi televisão, não sei de nada que se tenha passado no mundo. Também não me apeteceu ir à cata de notícias. O dia foi bom, bom, bom, feliz, morninho com o calorzinho do dourado sol de outubro, não estou para estragá-lo com pepineiras ou, pior ainda, com putinices ou vendavais e dilúvios. Hoje estou noutra.

Parti direto para o Youtube e, aí, o meu amigo presenteou-me com mais uma boa galhofada. Coisa boa, a gente rir.

Não há nada mais divertido do que os exageros e os trejeitos bem dispostos de uma bicha assumida. Ora vejam.

Milton Cunha atravessa ponte Rio-Niterói fantasiado e na garupa 
| Que História é essa, Porchat?


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Desejo-vos um belo dia de domingo
Saúde. Afecto. Boas ondas. Paz.

quarta-feira, junho 29, 2022

A estranheza em mim

 


Foi como se tivesse chegado a um lugar antes familiar e, estranhamente, agora já não o fosse. No lugar que costumava ser o meu estava agora instalada uma outra pessoa. No lugar em que antes estava o meu amigo e onde eu tanto ia dar dois dedos de conversa estava agora uma pessoa desconhecida. No espaço onde estavam 'os meus' estava agora um grupo de desconhecidos. Queria perguntar pelos que conhecia e não sabia a quem me dirigir. Não conhecia ninguém.

A sensação era de estranheza mas não de espanto. 

No outro dia ligou-me um dos antigos conhecidos e estivemos a passar em revista várias pessoas da altura em que de lá saí. E foi há tão pouco tempo que saí, há cerca de dois anos. Uns saíram para outras empresas, outros para outras funções fora dali, outros para a reforma. Muita gente nova tinha entrado. Dizia-me ele: 'Cruzo-me com desconhecidos e não sei se é gente de cá se é gente de fora. Há serviços em que não conheço quase ninguém'. Enquanto ele falava, eu pensava: 'Se ele que lá trabalha pensa isto, que diria eu se lá fosse...?'. 

Numa outra vez, estava a ter uma reunião remota com uma pessoa de lá e qualquer coisa no espaço me pareceu familiar. Perguntei-lhe: 'Então agora onde é o seu poiso?'. Ele rodou o computador para filmar em volta: 'Veja se reconhece... ' Reconheci. E ele confirmou: 'Estou no seu gabinete'. 

Ontem pensei que tinha que ligar para lá para esclarecer uma situação e fiquei a pensar: 'Com quem peço para falar? Todos os conhecia daquela área já lá não estão..'. Uma sensação estranha.

Talvez por isso, hoje, quando o despertador tocou, acordei de um sonho muito estranho. E tive dificuldade em desligar-me do sonho.

No sonho eu estava a despertar. Tinha acordado e não conhecia ninguém. Estava no meu anterior local de trabalho e a disposição dos espaços era nova e as pessoas eram outras. Olhando, aturdida, em volta, tinha ouvido: 'Esteve a dormir durante mais de um ano...'. E eu, incrédula, olhando em volta: 'A dormir? Como se pode dormir durante um ano? Não estaria em coma?'. Não acreditava. 'Alguém me alimentou?!'. E as pessoas, como se fosse natural: 'Levantávamo-la todos os dias, era alimentada, lavada'. E eu, assustada, temendo ter estado vulnerável, diminuída: 'E usava fraldas?'. Sorriram: 'Não. Tínhamos horas certas para a levar à casa de banho'. Eu não percebia nada do que estava a passar-se. 'Mas porque me mantiveram no escritório?' Depois, preocupada com medo de ter causado preocupação aos meus: 'E a minha família?'. E eles: 'Achámos que era aqui que fazia sentido estar. A sua família tem vindo visitá-la'. Eu tentava perceber: 'Mas eu estava de olhos abertos?'. Como se fosse uma coisa natural, explicavam-me: 'Sobretudo tem estado a dormir mas de vez em quando estava de olhos abertos'. Naquela que tinha sido antes a salinha das massagens e, em alturas covid, o gabinete de confinamento, estava agora uma espécie de quartinho. 'Estive aqui um ano?'. E eles: 'Mais de um ano?'. Toda a gente ali parecia conviver bem com uma pessoa que vivia ali naquela sala, no meio de um escritório, numa torre de vidro, há mais de um ano. Olhavam para mim com uma naturalidade que me parecia estranhíssima. 'Mas não deviam ter-me mandado para o hospital?'. E eles: 'Mas porquê? Estava bem'. E eu: 'Mas levavam-me às reuniões?'. E eles: 'Sim mas só às reuniões mais complicadas'. Eu não percebia nada. Aquilo não me agradava. Respondiam-me a tudo, pareciam não estar a esconder-me nada. Mas nada me parecia fazer sentido. Queria perceber. 'As pessoas da minha família conversavam comigo?'. E eles: 'Isso não sabemos mas se calhar falavam'.

Acordei e estava nisto. Sem perceber. Pensando que nada daquilo encaixava. Pensava: 'Mas estava a dormir ou estaria inconsciente?'. E só pensava que estava rodeada de desconhecidos. 

E, durante o dia, várias vezes pensei nisto. 

Ficou em mim a estranha sensação de lá ter ficado esquecida e de que, ao despertar, tinha constatado que tudo tinha mudado e que, estranhamente, os novos habitantes do espaço me tinham adoptado assim, como um animal de estimação que os donos tivessem abandonado, nem a dormir nem acordada, nem consciente nem inconsciente, nem útil nem inútil.

Se calhar é porque, daqui por algum tempo, depois do verão, vou ter que lá ir, já está combinado. E vai ser estranhíssimo. Vou sentir-me uma estranha. Se calhar por isso tive este sonho que deixou em mim este incómodo. 

Ontem, também, ao querer aceder ao blog, não consegui, tive que provar que não era um robot, qualquer coisa de estranho se tinha passado, mas não sei o quê. Ocorreu-me que um dia posso ficar sem acesso ao blog para o actualizar e que o Um Jeito Manso pode ficar a pairar no espaço como um blog esquecido, como aqueles blogs cujo autor morre e fica imutável, para sempre parado no tempo. Ou que o próprio blog despareça sem que eu saiba onde procurá-lo. Ou sem que saiba como avisar-vos. 

Ideias um pouco estranhas. Mas pode acontecer. E talvez por saber que pode acontecer e por ter medo que aconteça é que estou com esta estranheza em mim.


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Têxteis sagrados de Goa na companhia de Ute Lemper que interpreta Lili Marleen

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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Serenidade. Paz.

quarta-feira, fevereiro 24, 2021

Entre um enorme desafio e o raio de um sonho demasiado real

 

Depois de uma tareia de várias reuniões de seguida e depois de ser amargamente contrariada pelo meu marido que não quer arriscar tirar um big vaso do terraço pois acha que é impossível pô-lo a descer a escada, chego aqui e não consigo pensar senão em duas coisas:

1 - Como vigiar de perto uma criatura que está a revelar-se uma encrenca e que fez arrastar uma reunião por mais do que uma hora, sobrepondo-se às seguintes e estragando todo o programa de festas

2 - Como conseguir tirar dali o vaso. Um desafio e tanto.

Sobre o tópico número um hesito entre o desprezo e a vingança.  Mas pior mesmo é o tópico número dois. Já pensei arranjar umas tábuas e pôr o vaso a deslizar devagarinho escada abaixo. O meu marido diz que, grande e pesado como é, o que vou conseguir é que se parta. E recusa-se a tentar.

A questão é que a planta, no verão, secou. Parecia morta. Entretanto, começou a renascer. Umas little folhinhas verdes despontando. Mas primeiro que se cubra de verde vai demorar. Mas o aspecto geral não é maravilhoso, quem olhe com desatenção julgará ser um arbusto quase seco. Já tenho, ali no terraço, outras flores e preferia ter ali vasos de outro género. Já fui à horta, andei pelos cantos a ver se desencantava umas tábuas mas nada. Não sei como resolver isto. É o chamado desafio do caraças.

Acontece que, ainda por cima,  esta noite dormi pouco. 

Acordei lá para as cinco e tal da manhã com um pesadelo e, de tal forma foi que, mesmo acordada parecia que estava a viver a situação. Por mais que pensasse que era sonho, não realidade, não parava de pensar nisso. E, ainda agora, ao pensar nisto, parece que estou a reviver uma situação efectivamente sucedida.

Foi assim: um amigo meu tinha vindo cá visitar-nos. Como combinado, tinha trazido a mulher mas também dois outros amigos nossos. Tinha-me dito, em segredo, à chegada: desculpe lá mas já não sabia o que fazer com estes dois. Um é um grande amigo que ficou viúvo há um ano, uma morte prematura que me abalou muito. O outro é também um amigo que vive sozinho, divorciado. E então o que tinha acontecido é que tudo bem, almoço, conversa, tudo na boa, tranquilo. Depois tinha vindo a hora do lanche e tudo tranquilo. Mas, então, o meu amigo divorciado, que é vidrado em livros, tinha resolvido ir ver as estantes. E, com vagar, andava a vê-los um por um. O outro tinha pegado numa cadeira e estava instalado debaixo de uma árvore a beber uísque, olhando o jardim na maior contemplação. A mulher do meu amigo continuava a conversar comigo na maior animação. Tudo isto é real pois qualquer deles é justamente assim.

Só que o meu marido não é dado a horas seguidas em suspenso à espera que a conversa de um acabe, que os copos de outro também. Tenho muita ideia de outros tempos em que um dos que lá costumava ir a casa com a mulher e que bebia uns atrás de outros, depois ia apanhar fresco para a janela, depois dava-lhe para a risota, depois para o sentimento e contava coisas que o tinham magoado e chorava, chorava, depois ia para a janela fumar, depois regressava à conversa. A mulher, às tantas, encostava-se para trás e deixava-se dormir. O meu marido, podre de impaciência, deitava-se no sofá, como se estivesse sozinho, e punha-se a ver televisão. E eu ficava, sozinha, a fazer sala. Saíam de lá de madrugada. O meu marido, que entretanto, já tinha adormecido, acordava furioso comigo pois achava que se eu não desse troco aquilo não durava até àquelas horas. Mas ia fazer o quê? Punha-me também a ver televisão, feita malcriada? Não sou capaz.

E, então, no meu sonho, ele já estava assim, tal e qual, que não se aguentava. E eu furiosa com ele, como medo que os outros percebessem o estado de espírito dele. E ele: 'Mas ele vai vai ver os livros, um por um, até ao último?!' e 'Mas ele vai ficar ali debaixo da árvore até que horas?'. O meu outro amigo dizia-me, em segredo: 'Está a ver porque é que eu já não os aguentava? Percebe porque tive que trazê-los?'. 

E o curioso é que isto é mesmo tal e qual.

E o meu marido, furibundo, dizia-me: 'Vou para o carro e fico lá à espera'. E eu furiosa com ele: 'Porta-te como deve ser. Estás em casa, com que pretexto te vais enfiar no carro? Estás parvo!'. E ele a ficar cada vez mais impaciente, pronto a armar barraca. 

E aí acordei, atormentada. 

Há bocado, ao telefone com a minha filha, ela bocejava cheia de sono, que não tinha dormido bem. E eu também cheia de sono, contei-lhe o sonho. E ela disse: 'Tal e qual. Podia ter mesmo acontecido isso, estou mesmo a ver o pai assim...'. 

Quando cheguei à sala contei-lhe o que a filha tinha dito. Reagiu: 'Qualquer coisa vos serve de pretexto para dizerem mal de mim'.

Mas a verdade é que volta e meia parece que vem o incómodo que senti com a reacção dele, capaz de me envergonhar à frente dos meus amigos. Claro que eu também estava apreensiva a pensar que se calhar tinha que ir descongelar qualquer coisa para lhes dar de jantar pois não lhes via jeito de quererem desandar. Mas pior era ver o meu marido a ponto de se tornar inconveniente. Gosto de ser hospitaleira.

Uma das vezes em que foram uns poucos casais almoçar in heaven quase aconteceu uma coisa assim: foram para o almoço e saíram nem sei já a que lindas horas da noite. Lembro-me em especial de um episódio disparatado. Um deles já estava mais do que bebido e, então, começou a contar ao meu marido que se divertiam todos muito com as zangas homéricas que eu tinha com um outro que não estava ali. Contou peripécias, imitava-me a mim e imitava o outro, ria, ria. E, às tantas, rindo a bom rir, disse: 'Um tal ódio de parte a parte que estou sempre à espera de os ver aos beijos na boca'. O meu marido deve ter engolido em seco. Zanguei-me: 'Olhe lá! Que conversa mais parva é essa?' E ele a rir a bom rir, a mulher a dar-lhe palmadas no braço, que tivesse tento. Nesse dia contou também como, pouco tempo antes, tinha acabado preso numa esquadra de uma vila alentejana e lá tinha passado a noite até que um amigo lá foi tirá-lo, trazendo-o para Lisboa pois, obviamente, a carta tinha sido apreendida.  Contou as peripécias com todos os pormenores e nem queríamos acreditar. O que nos rimos com isso, incrédulos. A mulher dizia: 'Só vergonhas. Já o avisei: mais outra e ninguém o vai buscar. Nem sequer visitar'. Ele ria.

Mas o meu marido, nessas circunstâncias, já não se aguenta sentado, começa a andar fora e dentro, impaciente, com vontade de ver a malta toda pelas costas.

O pior de tudo foi quando irmãos e primos e respectivos filhos, uma vez, tendo também ido para almoço, acabaram ficando. Não foi a única vez, claro, mas uma vez ficaram o fim de semana todo, eram tantos que tiveram que acampar pelo chão, por onde havia um palmo livre. E nós dois entrávamos de férias na segunda feira. E então alguns deles, sentindo-se à vontade, acabaram ficando a semana toda. Aí até eu já estava doida. Iam à lota de uma cidade não exactamente ao lado e regressavam com caixas de sardinhas e outros peixes, faziam churrascos, íamos ao supermercado e trazíamos sacadas de entrecosto e bifes e desaparecia tudo. Sacos e sacos de carvão e desaparecia tudo. Grades de cerveja e desaparecia todo. E nós dois só pensávamos que tínhamos que ter um plano B para o caso de lá quererem ficar mais uma semana. Mas não. Felizmente na segunda-feira da segunda semana resolveram levantar arraiais e zarparam.

E as impaciências que eu via ao meu marido e as fúrias que tentava controlar mas que receava que, a qualquer instante, explodissem traumatizaram-me tanto que esta noite tive este sonho tão vívido como se estivesse a reviver outra vez aquelas situações.

Mas já chega de sonho, já me basta não ter sido capaz de voltar a adormecer. A ver o dia a ficar dia e eu às voltas na cama. E, mais grave, chateada com o meu marido. O facto de tudo não ter passado de um pesadelo é mero pormenor.

E depois, com reuniões todo o santo dia, não tenho assunto. 

Aconteceu o quê? Andam todos a querer que o Costa desconfine para a seguir irem crucificá-lo porque desconfinou? Não há pachorra. Ou a valente da ministra ainda consegue aguentar-se de olhos abertos e ainda consegue paciência para aturar tanta gente besta? Coitada. Admiro-a. Mil estátuas que lhe ergam e mil ordens e medalhas com que a agraciem será pouco. 

Por isso, depois de ter escolhido pinturas de Pierre Bonnard para aqui alumiarem estas minhas palavras fajutas ao som do sonzinho bom da Norah Jones, com vossa licença vou agora ver casas bonitas, ouvir gente que não fala de vacinas nem de gente que cai escadas abaixo nem de desgraças nem de tretas ou desgostos.

Por exemplo, 

73 Questions with Gisele Bündchen (ft. Tom Brady) | Vogue


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E tenham um dia feliz

terça-feira, janeiro 28, 2020

Um sonho que me fez acordar a rir





A minha profissional é tão longa que daria para dividi-la por disnastias. Um dia que escreva as minhas memórias falarei de muita gente conhecida e direi de minha justiça: qual a dinastia mais simpática, qual a mais competente, e qual o maior escroque ever and ever, quais os mais inteligentes, quais os mais burros, quais os provavelmente mais permeáveis, etc. Mas estabelecerei também uma divisão em períodos divertidos, épicos, gloriosos, decadentes, sem graça.

Mas isso é coisa para depois, para quando for livre. Agora tenho que estar caladinha como um rato. E só espero que, no au revoir, não me façam assinar nenhum NDA -- senão bye bye mémoires

Mas, enquanto tenho que estar caladinha, posso relembrar outra vez o período épico, o meu preferido, em que tudo parecia possível. Os directores eram quase todos da mesma idade, todos homens, excepto eu que não apenas era a única mulher como era um bom par de anos mais nova. Sem problema. Éramos todos amigos e divertíamo-nos como se não houvesse amanhã. Não me lembro de outro período em que a qualidade da gestão fosse superior. Mas isto para dizer que todos gozavam uns com os outros, a ironia era praticada em larga escala, a paródia era permanente, e não havia nada que se dissesse que não fosse virada do avesso e transformada numa anedota. E as decisões de gestão eram tomadas de forma desdramatizada, sem peso, sem conversa fiada à mistura. Ninguém queria parecer um executivo. Queríamos, simplesmente, estar na boa e fazer o melhor que soubéssemos. Andávamos motivados e todas as nossas equipas também.

Os tempos mudaram, o ambiente também. 

Agora os tempos estão para gente muito focada, muito politicamente correcta. Ninguém parte um prato. Civilizados desde o berço, todos foram amamentados a chá. Pode mudar-se completamente de look que toda a gente faz que não repara. Ou não repara mesmo. Pode alguém ter comportamentos estranhos que ninguém está nem aí. Eu também já estou assim. Por fora deixei-me contagiar mas por uma simples razão: não tenho parceiros para a maluquice. Por vezes tenho vontade de fazer ou dizer uma coisa completamente disparatada a ver se alguém reage. Volta e meia já praticamente o faço mas parece-me ver algum susto no semblante dos outros; então, apiedo-me e resolvo poupá-los. Provavelmente pensam que me passei e querem disfarçar para eu não reparar que o pensam. Somos assim, gente que sabe controlar as suas emoções e refrear os pensamentos -- comme il fault.



E este é um dos substractos para o que vou contar a seguir.

O outro substracto é aquela que já aqui contei, de um ex-colega se ter reformado antecipadamente, levando uma talhada das valentes na pensão de reforma mas isto porque a seguir foi trabalhar para outro lado.

Tudo isto fermentou na minha cabeça e a noite passada, pela madrugada avançada, a coisa aconteceu.

Mas tenho ainda que contar que, no domingo, tendo dormido uma sesta durante a tarde, ao ir para a cama à noite fui sem sono. Ora isso, para mim, é o fim da picada. Espertina. Mas das feias. Pus-me de lado, fiz a conchinha em convexo, depois em côncavo, deitei-me de costas, de bruços -- nada. Pensei nisto, naquilo e no outro. Até que, no meio desta insónia, me deu para contar o tempo que falta para poder reformar-me ainda que com penalização. Tipo contar carneirinhos. Depois multiplicava por uma percentagem mas, como não sabia qual era, fazia vários cenários. Perto das cinco, furiosa com a porcaria da espertina, levantei-me e vim para a sala. O meu marido espantado. Mas vim. Pus-me a ler. Nada de sono. Até que finalmente bocejei. Achei que era um sinal e desliguei a luz. Entretanto, ouvi o despertador do meu marido. E penso que aí, finalmente, adormeci. Quando o meu despertador tocou, estava ferrada no sono e a sonhar. Raramente me lembro dos sonhos mas este ainda estava quentinho e eu no primeiro sono; por isso, lembrei-me de tudo. E estava a rir. 

Conto o sonho.

Tinha chegado junto do meu chefe e tinha-lhe dito: 'Estou grávida'. 

     Ele a olhar para mim, ar estupefacto. 

E eu: 'Como sabe, acima dos 35 é gravidez de risco'. 

     Ele sem reacção, calado a olhar para mim. 

E eu: 'Agora imagine o risco acima dos 40'. 

      Ele quase a levantar as sobrancelhas, de espanto, mas a controlar-se. 

E eu: 'Portanto, o médico quer que eu fique em casa. Para a gravidez vingar, está a ver...? Acresce que a baixa de parto agora é de 1 ano'. 

      Ele a dar mostras de preocupação. 

E eu: 'Medidas para estimular a natalidade. Acho bem.'. 
    
       Ele parvo com a conversa. 

E eu: 'Com os meus mais velhos, a baixa era de 3 meses mais 1 de férias, só estive 4 meses em casa. Agora vai ser diferente. A seguir ao 1 ano, tenciono ficar mais 1 com redução de ordenado. Quero ser uma mãe mais presente'.  

     Ele visivelmente estarrecido mas, como sempre, controlado. 

E eu, morta de riso por dentro mas poker face por fora: 'Portanto, acho que tem que se arranjar alguém para me substituir porque até pode acontecer que possa ficar ainda mais um ano'. 
Ou seja, a arranjar pretextos para parar de trabalhar mas sem me tramar com um corte dos valentes na pensão. E cheia de vontade de rir com aquela minha conversa e com a reacção dele.
Quando o meu marido chegou da sua caminhada matinal contei-lhe. Disse-me: 'Estás maluca'. Respondi-lhe: 'Ai é? Estou maluca? Queres ver que fiz a criança sozinha..?.'. Foi a vez dele fazer uma cara preocupada: 'Eh pá, não durmas não...'

E foi isto. Talvez por ter sido um sonho que me deu vontade de rir, a verdade é que não tive sono nenhum durante o dia. Só quando há bocado me reclinei no sofá é que dei por mim a querer pegar no sono. Mas, sobre isso, a ver se conto a seguir.

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Samantha Kaplan é a autora das duas primeiras pinturas que retratam sonhos e Gagik Parvanyan e Noelle Rollins os autores das duas últimas sobre a gravidez. Rodrigo faz La Fête.


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Volto aqui apenas para dizer que não tenho feito outra coisa senão adormecer. Tinha dois posts para fazer, um sobre o Chicão a ser entrevistado pelo Miguel Sousa Tavares, outro sobre o Rui Pinto o todo-poderoso hacker. Mas não consigo mesmo.

Beijinhos, abraços e carapaus para o gato.