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quarta-feira, fevereiro 12, 2020

Podia ser pior...?





Estou numa fase em que provavelmente vai acontecer uma coisa muito justa e que defendo há muito tempo. Contudo, dadas as envolventes, pensava que não aconteceria tão cedo já que mais altos interesses se levantam. Tinha pensado cá para os meus botões que, com os fogos que noutras frentes há que apagar, a coisa ia andando até ao verão. Depois vinham as férias. E, portanto, até lá não me doesse a mim a cabeça. Afinal ontem recebi um telefonema: vai acontecer. E depois o aviso: só nós dois é que sabemos. Pensei que nunca é bem assim. Mesmo quando só dois é que sabem, se formos ver bem as coisas, se não forem mais de meia dúzia é uma sorte. Mas não disse nada. Os homens preocupam-se à toa com pequenas coisas e, portanto, poupei-o.

No entanto, apesar de ser justo e desejável, para mim, agora, isto vem envolto em mixed feelings pois não sei que consequências terá para mim. 

Acresce que não posso falar no assunto. Mais: se alguém abordar o tema, tenho que fazer-me de desentendida para que ninguém saiba que sei. 

Não é a primeira vez que me vejo metida no meio de jogos de espelhos que têm que ser representados em silêncio ou em que, a bem de todos, a dissimulação é a palavra de ordem. A novidade é que um lado de mim já deseja é não ser puxado para alta cavalarias.

O horóscopo da Madame le Figaro dize:
Bonnes perspectives professionnelles grâce au bel aspect de Mercure. Bien inspiré, vous prendrez des décisions judicieuses, qui vous feront avancer d'un grand pas dans votre carrière. On vous appréciera.
Enfim, o que for soará.

E depois há outra coisa. O que para quem vive as situações podem ser grandes desafios ou grandes estopadas ou grandes riscos, quando vistas de longe são nada, invisíveis a quem passa ao largo. 

E depois, mesmo quando se vivem grandes divergências e há contendas, gente de má índole no pedaço e temos que estar sempre em guarda pois o ataque pode vir quando menos se espera, temos sempre a possibilidade de relativizar ou de ver o lado lúdico da coisa. Entra-se para um lugar assim com uma de duas atitudes: ou se vai num estado de nervos, antevendo os problemas com que nos vamos deparar, ou vamos na desportiva, sabendo que, haja o que houver, bater não nos baterão e o mais provável é que saiamos de lá com vida. E que, cereja em cima do bolo, quando de lá sairmos, à noitinha, a cidade estará linda e a música na Antena 2 será boa como sempre ou o Alvim na Antena 3 estará impagável também como sempre.

Portanto, as coisas podem correr mal...?

Se calhar podem mas menos mal porque, bem vistas as coisas, podia ser pior.

Ah, agora lembrei-me de vos contar: no outro dia estive com um conhecido que, coitado, estava de pé descalço, no ar, e com muletas. Depois de ouvi-lo, desconsolado, infeliz mesmo, a contar da cirurgia que tinha que fazer, do mês de imobilização, do mês seguinte de quase imobilização e dos meses de fisioterapia que se seguiriam, o melhor que me ocorreu dizer foi que podia ser pior. Felizmente, ele, que tem sentido de humor, desatou a rir. É que poderia ter-me mandado a um sítio feio (e eu compreendê-lo-ia).


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As duas primeiras fotografias são da autoria de David PD Hyde, a terceira é de Anastasia Egle Ellerman, a última é de Guendalina Fiore e fazem parte de The Gucci Beauty Glitch.

Lá em cima, Serge Reggiani  interpreta "Ma liberté" e vá lá eu saber porque me lembrei de aqui a pôr. Talvez seja porque, tendo que me sujeitar a tanta coisa, não posso dizer que seja completamente livre. Mas, enfim, podia ser pior -- além de que, pensando bem, haverá alguém que seja verdadeiramente livre? 

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E, quando pensarmos que as coisas estão a correr mal, pensemos que há mais a quem isso aconteça e que, parecendo que não,  há coisas bem piores. Vejam-se as situações enunciadas neste vídeo:


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sexta-feira, agosto 02, 2019

Ler a mente em dia do caneco e de noite povoada por quimeras




Talvez em todas as eras tenha havido isto de se achar que se está a caminhar para o fim dos tempos, tudo a degradar-se, tudo a entrar num processo de decadência acelerada. Pior: uma desintegração pouco digna. Mas talvez isto aconteça desde sempre. Talvez seja da natureza humana cavar o próprio túmulo. 

Ou, então, sou eu que, como acho de um pacovismo insuportável acharmos que somos melhores ou diferentes do que outros, prefiro pensar que somos iguais desde que nos pusémos de pé e começámos a perceber que pensamos: frágeis, incoerentes, mais irracionais do que os outros animais.

Mas enfim, isto era a introdução. Estou dada a intróitos e nem sei porquê já que, na verdade, estou até em dia pouco dado a frescura.

Estou a tentar pôr para trás das costas tudo o que hoje me caíu em cima. A começar, uma reunião em que algumas coisas ditas de forma ligeira por outros que não eu se prestaram a interpretações ao lado, conduzindo a conclusões erradas e perigosas. Depois, um conjunto de situações que me parecem pouco transparentes para o meu gosto e às quais não quero estar ligada levaram-me a desafiar quem prefere estar instalado, e a expor factos que toda a gente acha que deviam permanecer no limbo opaco onde é suposto habitarem. Acontece que eu, quando desencabresto, sou difícil de agarrar. Agora mesmo disparei dois mails que presumo que, a esta hora, estejam espetados na garganta de quem os recebeu.
Como sempre, não sei quais as consequências disto e podem ser radicais para mim mas, se nunca pactuei com coisas que não me agradam, agora, então, não me limito a afastar-me ou a dizer discretamente porque me afasto. Agora é à bruta, às claras e a bola chutada para o lado de lá e outro que não eu que se atravesse e assuma a responsabilidade por dar cobertura a situações que comigo não, violão.
E, portanto, foi neste desencabrestado estado de espírito que fui à procura de notícias boas que me trouxessem bons auspícios, boa energia, boa onda, coisa cheia de smiles e emojis saltitões. 

Mas está bem, está. Só notícias do caraças, sendo que aqui o caraças é mesmo sinónimo de caneco, de cacete (e, aqui, refiro-me ao cacete mal conotado) -- ou seja, porcaria e da grossa.

Tenho ideia que o nosso estado de espírito atrai. Se estamos numa boa, só nos chega coisa boa, radiosa. Se estamos com as candeias às avessas, só damos com meia rota, jararaca, lâmpada fundida, cocó de cão debaixo do sapato, peixe de olho baço e arremelgado, côdea dura e bolorenta. Coisas assim.

Para atestar, passo a enunciar as trastes de notícias que vieram até mim:

Cientistas cruzaram macaco com pessoa. Chamaram quimera ao ser e, quando viram que tinha vingado, supostamente não o deixaram ver a luz do dia. Supostamente, repito. A coisa deu-se na China onde estas coisas da ética não colhem lá muito. Entretanto, o Japão já deu o ok a que se avance com o mesmo, dizem que é promissor, que vai ser do melhor, que desses híbridos se vão poder sacar órgãos que é um mimo. Se a dita quimera, meio macaco, meio gente, tem ou não raciocínio ou sentimentos isso não interessa para nada. Mas eu, talvez por estar num estado a modos que meio irritadiço, acho que isto é daquelas ideias peregrinas que não pode acabar bem. Parece até pesadelo pronto a virar realidade cabeluda e malvada.

E outra que também é do mesmo calibre é aquela de haver implantes tecnológicos que lêem pensamentos e os traduzem em palavras. Mind reading they say. A Google e o Facebook na competição, anunciando para breve notícia de estalar o mundo. Que pode ser bom para dar voz a quem não a tem, pode, mas que também pode ser diabólico e descontrolado, pode. Diz que é para, num mundo dominado pela inteligência artificial, os humanos poderem alinhar. Diz. Mas pode também ser o caminho aberto para a manipulação absoluta, para a ficção megérica virar realidade, coisa mil vezes pior que filme de terror. Não quero nem pensar. Um precipício negro a desenhar-se à frente dos pés dos estúpidos humanos.

E já nem falo nos robots que falam de uma maneira que parece humana, respondendo a perguntas, na maior das calmas. Ou, como desde hoje em Espanha, drones que nos sobrevoam e multam se nos esticarmos, carregando demais no pedal. Ou câmaras de vigilância que nos filmam e fotografam mesmo em ruas sem luz, reconstruindo a nossa imagem a partir do know how que entretanto adquiriram, machine learning e coiso e tal.

E, portanto, eu que andava à procura de notícia boa -- campo de flores, borboleta multicor a rodopiar em volta, mavioso canto de passarinho, poeminha bom segredado ao ouvido, fotografia de coisa nenhuma, história brava de princesa guerreira, filme de bailarino alado, árvores majestosas cheias de esconderijo dentro, planta do bosque com propriedade mágica e efeito benfazejo -- dei com os burrinhos na água, ou melhor, com a tromba na porta. Dito de outra forma: dei foi com coisa perversa, prenúncio de monstro, nuvem carregada de tempos pesados, caminhos estreitos que vão dar a becos que não auguram nada de bom. Uma chatice, em suma.





E isto aqui abaixo não será novidade. Mas mostro porque não gosto.

Aliás, Alexa, Siri ou Google Home, tanto dá, tudo a dar no mesmo.


 Trouxe aqui pintores mexicanos porque me apeteceu ter cor. Ao menos cor.
Penso que é tudo ou quase tudo de Lourdes Villagómez excepto a do macaco que é do Jose Santos


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E uma happy friday a todos, tá?

sábado, agosto 11, 2018

Pensamentos perdidos, casamentos gays, uma luz dourada e doce sobre o mar, gaivotas.
E o tempo que falta.





Estou com vontade de escrever uma história e isto porque, há bocado, em conversa ao jantar, depois de ter andado a ver o mar e a fotografar tudo o que mexe, me ocorreu uma cena. E tão delirante ou hilariante ela me pareceu que estou com aquela sensação de que tenho que pô-la a ver a luz do dia. E como me parece altamente improvável que, no contexto actual, a possa passar à prática, parece que a única maneira de a valorizar como ela o merece é inventar uma história e implantá-la lá no meio. Uma espécie de obrigação moral que, de repente, me caíu em cima.


Mas acontece também que, tão longo e cheio de arrelias e perplexidades e revoltas e fúrias e desprezos e incompreensões foi o meu dia que, a esta hora, tendo chegado há pouco a casa, o que me apetece é pôr-me para aqui feita maria-zonzinha, atapetada em preguiça, olhando vagarosamente as fotografias e ouvindo religiosamente a música que vai passeando sobre o meu corpo que, involuntariamente, se abandona.

Estava um fim de dia tão bonito. Fresquinho, uma aragem um pouco fria mas com uma luz derramada sobre o areal e sobre o mar quase de cortar a respiração. 
Não. Vou reescrever a parte da luz para ver se a banalidade do corte da respiração não desvaloriza a beleza a que me foi dado o privilégio de assistir. 

A luz era muito bela e doce, quase como se quisesse que mar e céu se fundissem.
Treta. Há dias em que eu devia limitar-me a despejar aqui as fotografias e manter-me de bico calado. Escrevo duas palavras de olhos semi-cerrados e acordo a meio da quarta sem saber bem o que saíu. Quanto mais calorias o meu cérebro consome durante o dia mais esvaziada a cabeça se sente quando a meia-noite se aproxima. Penso que deve ser a esta sensação que se chama boa noite, cinderela.
Olho para a televisão enquanto ouço a música. Um casamento. Cena bonita. Dois homens de uma certa idade casam-se. A seguir um desaguisado com um padre que tem mesmo cara de cínico e isto para não dizer parvo. Agora já estão a comunicar que têm que vender o apartamento. Parece que o barbudo que se desaguisou com o padreca foi despedido.
Pelo meio, estive a falar ao telefone com a minha filha. Fala-me de uma vila que diz que é muito bonita, não muito longe da nossa casa de campo. Tem um nome que também é bonito. Penso que conheço o país e, afinal, a toda a hora me falam de lugares que não conheço. No tempo que usei a viajar por outros países e a ir para a praia noutras paragens devia era ter andado a conhecer o meu país. Houve alturas da minha vida em que fui ainda mais parva do que sou agora. Se é que isso é possível.

Antes, durante o copo-de-água, uma mulher muito simpática disse que só de olhar para a comida engordava. Às vezes penso que isso também me acontece. Outras vezes sou honesta. Hoje sou: assumo que deve ser do bolo de chocolate com morangos que comi ao jantar. Mas foi a meias, só deve engordar metade. Que arrependida fico quando olho para a minha indecorosa barriga aqui mesmo à vista, quando deveria estar discretamente oculta.

Se calhar devia ver com mais atenção. O filme da 2, quero eu dizer. Agora a família discute na escada, naquela solidariedade alheia e fortuita que não dura muito. O que parece o Quintanilha parece que é pintor. A música do filme é bonita. Não sei se é filme ou série. O casal gay é simpático. Na verdade, também tendo a solidarizar-me com os casais gays, talvez porque acho que muita gente os vê quase como se fossem deficientes, uns a precisar de desprezo, outros a precisar de donativos. Eu olho e vejo-os como gente normal. No entanto, cá no fundo, acho que uma relação homossexual não deve ser tão descontraída como as heterossexuais que não precisam de estar à defesa ou envoltas numa carapaça de indiferença para suportarem bem os olhares de través.


Estou a ouvir uma voz que acho que conheço, uma voz bonita, um pouco rouca. Parece a voz da Debra Winger mas a mulher parece quase velha. Não pode ser. A Debra Winger é a jovem do Oficial e Cavalheiro e será forçosamente inocente e teenager para o resto da vida. Tenho que tirar a limpo. Apareceu e desapareceu logo: um papel de meia dúzia de falas, nem deve vir no elenco.

Bem.

Queria ter falado daquele momento que a gente sente, com emoção, que vai ser perfeito: a neblina envolvendo o poente, as silhuetas de navios ao longe, a gaivota a cruzar os ares ou, antes, a luz muito dourada, a cidade do outro lado completamente abstracta, um vago recorte no horizonte, como se fosse não mais do que uma pintura sem gente lá dentro, e o mar muito tranquilo e o pequeno forte a meio e, então, deslizando naquele céu maravilhoso, uma gaivota. Largas asas, largo o vagar, largo o seu tempo, imaterial. E, então, a gente dispara. Suspende o tempo. O momento para sempre eterno.

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Combien de temps...

Combien de temps encore ?

Des années, des jours, des heures, combien ?



domingo, abril 15, 2018

Momentos bons






Se calhar parece contraditório, mas é o que é. E o que é, é que tenho a dizer que há momentos bons na vida e que, sobre eles, não há muita coisa a dizer.
São bons porque se aninham dentro de nós. São bons porque sentimos que ficam guardados em nós, envoltos em sorrisos mansinhos. Porque não carecem de rebuscada adjectivação, explicação ou descrição, porque não obedecem a hirearquias. São momentos bons e nada mais.
Posso falar do meu dia de hoje. Alguns momentos tão bons. Simples e bons. De manhã cedo, a olhar o rio. Os barquinhos, a ponte, tudo envolto em claridade, névoa e harmonia. A cidade branca também envolta em claridade, paz e névoa. Depois a ler sobre o Príncipe, a ver como Angelica surpreendeu todos em Donnafugata com a sua inesperada beleza. Depois a olhar as flores. Trazem de dentro da terra cores impossíveis, quase imaginárias. Depois a andar debaixo das árvores, a desbastá-las, a ver os ninhos, a sentir os cheiros intensos da terra, dos verdes, da humidade. Depos a ver a transformação rendilhada das folhas em cinzas. Depois a olhar a serra ao longe, as aldeias como casinhas de brincar por entre verdes que se diluem em cor de céu. Depois a ver os meninos na praia, brincalhões, felizes. Depois a ver o mais velho a trazer o mais pequeno ao colo, porque ele ia a fugir. Depois a ver os mais crescidos a saltarem da duna ou os rapazes todos, de três gerações, a jogarem à bola. Depois o bebé às cavalitas da mana e a tia a correr atrás, a segurá-lo. Depois todos a falarem alto, ela a tratar os rapazes por 'miúdos', depois todos a rirem, a comerem pão quente com chouriço e a discutirem por causa dos pombos. Depois o mar tão bonito e eu a andar a passear de mão dada, o ar frio carregado de maresia.

Eu agora aqui sossegada,  nada que fazer, tranquila, a ver as fotografias, a ouvir música. A ler poemas que recebo e que, agradecida, tomo entre as mãos. Como este, do Leitor LS

Vinhas vestida de transparência,
O arco-íris no olhar,
Primaveras soltando-se do andar;
Ao mesmo tempo, o fogo e a inocência.
Urânia te chamavas,
Não sei por que razão Urânia.
Apenas sei que esvoaçavas,
Em delírio de cores,
A minha insânia,
Assim como o fazias sobre as flores.
Eras as manhãs alvorecendo
No chilreio de aves imaginadas,
A urze, a giesta, o redoendro
Tocados pelo rocio das madrugadas.
Só me salvava do cântico de sereia,
Ao mastro do meu barco bem amarrado,
De modo a fugir da tua teia
Com o coração amordaçado.

Momentos bons. Tão bons.

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O poema do LS (que me chegou também pela sua voz mas que não consigo colocar aqui) deu-me vontade de ouvir o A une passante de Baudelaire dito pelo Serge Reggiani



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Todas as fotografias foram feitas neste sábado (em casa, in heaven, na praia)

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quinta-feira, março 16, 2017

Alô, alô Tim Tim no Tibete!
Também quero daquelas máquinas que dão fitas literárias.
Please, vá lá a França ver como é, traga para cá, espalhe-as por aí. Please





Li uma notícia espantosa. No meio de tanta maluqueira, uma notícia que me faz sorrir, que me faz querer saber mais, que me faz ter vontade de ir ver in loco. Infelizmente está um bocado longe, não está nos meus planos ir para aquelas bandas tão cedo. Mas é uma coisa que me parece um verdadeiro ovo de colombo.

Então para quem, como eu, gosta de livros e tem um bocado a compulsão da leitura isto parece uma ideia deveras extraordinária, uma daquelas ideias que eu gostava de ter tido. Ou, pelo menos, que gostava de usufruir.
Mas já conto.

Hoje entrei numa livraria para ir à procura de um livro. Entrei sabendo exactamente o que queria. Afinal, vá lá saber eu porquê, quando cheguei perto, tive uma branca. Sabia que era poesia, que era uma tradução de Cesariny, mas, mais do que isso, nada. Pesquisei no telemóvel. Nada. Ocorria-me Michaux; mas não porque esse eu tenho e a tradução é de Margarida Vale de Gato. Depois parecia-me que tinha um R e lembrei-me de Ronsard mas sabia que Ronsard não, faltava-lhe o som do au em francês e Ronsard tenho numa tradução de Vasco Graça Moura. Tentei ver nas estantes mas a poesia internacional está em baixo e não me apeteceu estar de gatas. Contudo, passando os olhos em vol d'oiseau, não vi nada que me fizesse tocar a campainha. Perguntei, então, a uma das empregadas. Disse-me que só com essa indicação era curto. Ainda foi ver ao computador mas claro que não descobriu. Andava por lá uma pessoa com ar entendido e eu, com a vontade que tinha de trazer o livro comigo, podia ter-lhe perguntado. Mas imagine-se que a pessoa andava por ali, naquela zona, ao engano, que andava era à cata do livro do grande escritor Gustavo Santos. 
Estou a gozar. Por acaso, não, tenho até a sensação que era mais do género alternativo que aprecia os clássicos, mas não estive para fazer figura de parva, ah sabe de um livro de poesia de que não me lembro do nome do autor, nem do nome do livro, só do tradutor... 
Fui-me embora contrariada e já quase atrasada. Pois mal me sentei no carro, saltou-me: Rimbaud. Caraças. Lá está o R e o au que eu tinha na cabeça. Mas pronto, nada a fazer, terei que fazer nova incursão; e até já sei onde encontrá-lo.

E isto para dizer que é esta doença. Aqui cheia de livros e, volta e meia, esta urgência que parece que não poderei ter descanso enquanto não tiver o livro nas minhas mãos. Vá lá explicar-se uma pancada destas.

Mas, então, dizia eu.

Estava eu preguiçando no sofá, vagueando por aqui e por ali, lendo um bocado do Amok, olhando para a televisão, picando um site, um blog, uma aleatória quelque chose, quando dou com a tal notícia extraordinária.


Tenho vontade de transcrever mas sei que muitos Leitores meus não atinam bem com o francês e, portanto, eu conto.

Em França, um pouco por todo o lado, nas estações de transportes públicos, em repartições públicas, nas Câmaras municipais, nos hospitais, em centros comerciais, é possível chegar ao pé de umas pequenas máquinas dispensadoras, quase parecidas com as que vendem bilhetes, e escolher se se quer ler um conto que dê para 1 ou 3 ou 5 minutos. Então a máquina debita uma fita de papel que varia entre 30 centímetros e 1 metro. Não sei se diga fita, se diga tira. Uma espécie de talão comprido, pronto. Há histórias (ou poemas) de 16.000 autores, dos quais 10.000 clássicos; muitos anónimos, desconhecidos, que se registam na plataforma da empresa que produz e vende as máquinas.

Acho isto notável. Notável! Assim se fomenta o gosto da leitura. Assim se leva a cultura a todos. Gratuitamente!

Leio que Francis Ford Coppola já encomendou uma máquina destas para o seu Cafe Zoetrope em San Francisco.


Coppola, o padrinho da Máquina que oferece Histórias Curtas


(Na altura tinham menos autores do que actualmente já tem)


Acho que o Ministério da Cultura português (alô, alô, Tim Tim no Tibete!) bem podia ver como adoptar a ideia para Portugal. Li que se trata de uma ideia e de uma produção de uma start-up francesa, a Short Edition.




Não dá para escolher o autor ou o género ou, lá está, o tradutor, mas tanto faz: chegar ao pé de uma máquina, carregar num de três botões, escolher um número (1, 3 ou 5) e obter leitura para esses minutos parece-me uma ideia do mais genial que há.

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A máquina da 1ª  fotografia, lá em cima, é a dita doseadora de literatura.
As outras fotografias são apenas bibliotecas como eu gostava de ter cá em casa, arrumadas, organizadas.

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E agora, para ouvirmos juntos, um poema de Rimbaud dito por um grande diseur, Serge Reggiani


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O vídeo que se segue não tem a ver com o texto em si mas com Rimbaud. Tenho estado para aqui a xeretar e dei com documentários sobre a vida de Rimbaud e com um filme de que nunca tinha ouvido falar e que trata do romance entre Rimbaud e Verlaine. Mas presumo que Rimbaud se tenha tratado com as mezinhas do pároco de Castanheira de Pêra porque, num outro vídeo, vi uma fotografia da que diziam ser a amante dele, anos mais tarde.



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E hoje, que já não tenho alergias e estava numa de responder a todos os comentários, logo havia de ter dado com este assunto. E tal o entusiasmo que não tenho feito outra coisa senão andado à procura de 'cenas'. Portanto, meus queridos Leitores, desculpem esta vossa escrevinhadora desnaturada que quase parece que não vos liga nenhuma -- quando afinal está aqui até às tantas para partilhar coisas convosco.

Mas desculpem-me, está bem?

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E tenham um belo dia.

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sexta-feira, março 11, 2016

Receitas de amor para mulheres tristes
- [2º de Dois Posts]


Depois das receitas do post anterior, prossigo a minha sessão de auto-ajuda.



Mas que cansaço, não tem um minuto. Mentiras. O que não tem é forças para pensar a vida, calma para sentir como corre.

Quando ele não tem tempo, quando ele trabalha muito e mede os segundos como outros medem as horas e os dias, quando é incapaz de se sentar a conversar por um instante, sem ansiedade, não acredites nele. O trabalho é o esconderijo que os homens encontraram para não viverem segundo um rotmo mais humano e decente. É a maneira que têm de estar sós sem terem de dizer que querem estar sós.
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Nas tardes de chuva miúda e persistente, se o amado estiver longe e te afligir o peso invisível da sua ausência, corta da tua horta vinte e oito folhas novas de erva-cidreira e põe-nas ao lume num litro de água para fazer uma infusão. Quando a água ferver deixa que o vapor te molhe as polpas dos dedos, e mexe-a três vezes com uma colher de pau. Tira-a do lume e deixa-a repousar dois minutos. Não lhe deites açúcar, bebe-a sorvo a sorvo, de costas para a tarde, numa xícara branca. Se ao chegares a meio do litro não notares um certo alívio atrás do esterno, aquece-a outra vez e deita-lhe duas colheres de pão de açúcar ralado. Se ao fim da tarde persistir a depressão, podes ter a certeza de que ele não voltará. Ou então voltará noutra tarde e já muito mudado.

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Estas receitas tal como as do post acima fazem parte do livro 'Receitas de Amor para Mulheres Tristes', um livro da Quetzal com tradução de Pedro Tamen.


As fotografias mostram a bela Sophie Marceau. A canção é Maumariée por Serge Reggiani.

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E agora, para algo completamente diferente, desçam por favor para lerem sobre a empresa Gaianima, sobre as manobras e bastidores do bas fond laranja envolvendo algumas das mais carismáticas figuras pàfianas e, de caminho, repescando a Madame-PSD Cristina Ferreira (senhora que, por sinal, consta de um post antigo que nas últimas horas atingiu um número de visitas que me surpreende, para cima de 1.500 à hora a que escrevo)


segunda-feira, março 07, 2016

Como uma ave que se protege da tempestade





Os meus olhos vêem hoje de maneira de diferente o mundo. Ciente de que há muitas vidas escondidas debaixo de cada uma que se vê, olho com mais atenção as coisas, as pessoas.

Uma árvore é um mundo que eu percorro com curiosidade, certa de que jamais vou poder saber toda a sua vida. Nunca saberei dos pássaros que ela abriga nem o que lá se passa entre eles. Muito menos saberei de bichos silenciosos que procuram a sua protecção, os seus sucos, a sua sombra, o seu abraço. Nem dela mesma saberei. O tronco modifica-se, a folhagem renova-se, a aragem fá-la dançar. E, por vezes, dança timidamente, apenas ao de leve, graciosa; mas, se o vento é um bad boy, logo ela, como todas as crazy girls, se deixa ir nos seus braços, se deixa vergar, tonta, frágil.


Antes, se via uma árvore quebrada, tinha um desgosto como se partisse um ser amado. Hoje isso não sucedeu. Aos poucos, vou-me habituando a que a natureza é assim mesmo, vão-se umas, logo nascerão outras. E de uma árvore que se deixou tombar pela paixão, nos braços do vento, se fará lenha que nos aquecerá, e isso também é bom. Outras vezes, os troncos cortados são peças bonitas e ficam por lá, belas na mesma.

Um esguio eucalipto estava caído, o tronco ainda preso por uma língua de madeira, as folhas já sem vida. Quase ia tombando sobre um cipreste; mas os ciprestes são árvores de sorte, predestinadas à eternidade, e não sofreu.

Gosto muito de eucaliptos, são perfumados, deixam um perfume fresco à sua volta e a sua folhagem esguia e colorida ondula ao vento como uma maré.


Adivinho que do tronco quebrado da árvore que tombou rebentará nova folhagem, a árvore renascerá. Imagino que dentro de uns anos ondulará também ao vendo, perfumando o ar.

A natureza é maravilhosa e eu vou aprendendo a compreendê-la, e cada vez a respeito mais, a amo de coração de aberto.


E a primavera está a chegar, as flores despontam, frágeis e coloridas. São efémeras. Devem ser olhadas com desvelo pois um dia destes, quando for à procura delas, talvez já lá não estejam. Assim deve ser todo o amor de verdade: intenso por não saber quanto dura, inteiro por não saber quando se quebra.


O tojo está também todo florido. As flores parecem pontos de luz, de um amarelo vibrante. Pintei, há tempos, um canteiro alto com umas cores indefinidas, azuis, violetas, rosas, que o tempo, esse mestre de todas as artes, tem vindo a esbater; e agora gosto de o fotografar em fundo, os verdes da vegetação vão mudando, as flores não nascendo e morrendo e as cores do meu canteiro vão assimilando o tempo que por ele vai fuindo.


Há um muro pequeno que também está cada vez mais bonito. Não sei de onde vêm os pigmentos que lhe vão trazendo desenhos floridos, às cores. Dantes eram sobretudo manchinhas brancas, líquenes que ali faziam casa. Depois foram aparecendo os amarelos dourados. Agora são maiores, da cor do sol, manchas de luz viva. Uma vez vi uma borboleta amarela ali pousada e achei que a borboleta talvez tenha pensado que eram irmãs suas que ali estavam. Acredito que as borboletas pensam, que têm pensamentos coloridos, sem se aperceberem da brevidade das suas vidas caprichosas.


A rocha grande que parece um bicho está cada vez mais branca e lisa. O sol bate-lhe, a chuva lava-a, o vento deixa-a mais polida, a pele macia. À sua volta nascem arbustos, flores, cheira sempre a urze, a rosmaninho, a cedro. À sua maneira, a rocha também se vai modificando. Existe desde sempre, não tem idade, creio que viverá para além de tudo. Por isso, esconde a sua perenidade com o silêncio, tem a nobreza dos seres superiores.


Nunca quis domar a natureza, nem quando construí pequenos muros para a delimitar. Mas hoje sei mesmo que ela é mais forte do que a minha vontade, ela vive de forma pujante, inteligente, e eu já aprendi a respeitar a sua suprema liberdade. Olho-a com admiração, com comoção.

O dia esteve incerto, frio; e eu passeio, aproveitando o sol. Depois, recolho-me. O meu marido está lá fora, serra o tronco do eucalipto e, por isso, desta vez sou eu que acendo a salamandra. Uso pinhas que acabei de apanhar, troncos de pernadas de outras árvores que ele tinha trazido para dentro. Vejo as chamas, sinto o calor bom, enrosco-me. E leio. Agustina, ainda -- devagar, voltando atrás, degustando, sorrindo.

Depois, já noite, no carro, leio em voz alta. Enigmas, sinais, subtilezas, sorrisos, cintilâncias, brevidades - e a viagem é ainda mais agradável.

Corredor sem limite - Vieira da Silva, 1948

Na gratidão buscamos forças para desarmar os caluniadores. Disse-me um cruel amigo: 'Proteger um artista é subsidiar um monstro.'. Disse isto porque não tinha a glória da gratidão com ele, porque andava por caminhos da cólera. O homem de glória tudo vence com a gratidão, que tudo ama. Às vezes eu vi em Vieira da Silva essa glória. Estava sentada na cadeira de verga, encostada como uma ave que se protege da tempestade, e o seu olhar era insondável. Ninguém no mundo podia interpretá-lo, e, no entanto, eu ousei isso porque pensei: 'só posso conhecê-la, se me conhecer.' 

Veio até mim uma carta do Verão 70, em que Maria Helena dizia: 'eu gostava de conhecer o meu universo, ou mundo através de si... Eu não me vejo, só vejo o que me rodeia, quase já não existo. É melhor assim, não existir. Vou ficando cada vez mais junto ao quadro até desaparecer nele de vez'. É a crucificação que toda a obra exige.


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Multiplicidade
 -- Formas de silêncio e vazio --

Nacho Duato


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E, agora, queiram, por favor (e se para aí estiverem virados, claro), descer até ao post seguinte para conhecer as pessoas que votam em Donald Trump. O vídeo mostra-as bem. Nada que enganar.

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domingo, novembro 15, 2015

Os lobos entraram em Paris - a palavra ao Xilre, ao Pipoco mais Salgado, ao Jumento e ao João Ramos de Almeida no Ladrões de Bicicletas





Xilre


Os que são contra a chegada dos refugiados, encontrarão nos atentados motivos de validação das suas posições; as fronteiras no espaço europeu ir-se-ão fechar, definitivamente; os que fugiram de um dia a dia, nos seus países, idêntico aos horror que ontem se viveu em Paris, continuarão a morrer aos milhares na travessia do Mediterrâneo ou no trajeto por terra; se lá permanecerem, provavelmente morrerão também — porquê ficarem?; os bombardeamentos irão aumentar na Síria, no Líbano, no Iraque; os que sobreviverem a tudo, sobretudo os mais jovens, só conhecerão como horizonte a vingança, o ódio, o desespero, a violência — não terão qualquer perspetiva de educação, de futuro, de normalidade em países inteiramente arrasados. Sem modo de vida na sua terra, traumatizados por anos de guerra (alguém fará ideia do que será crescer em Aleppo?) que farão? Que adultos se tornarão? Onde, e quando, se irão fazer explodir?


in História do Futuro





e

Eu penso em você, minha filha. Aqui lágrimas fracas, dores mínimas, chuvas outonais apenas esboçando a majestade de um choro de viúva, águas mentirosas fecundando campos de melancolia,

tudo isso de repente iluminou minha memória quando cruzei a ponte sobre o Sena. A velha Paris já terminou. As cidades mudam mas meu coração está perdido, e é apenas em delírio que vejo

campos de batalha, museus abandonados, barricadas, avenida ocupada por bandeiras, muros com a palavra, palavras de ordem desgarradas; 

(...) e penso em Paris que enfim me rende, na bandeira branca desfraldada, navegantes esquecidos numa balsa, cativos, vencidos, afogados... e em outros mais ainda!


in Carta de Paris (citando Ana Cristina César, Poética)





Pipoco mais Salgado


Isto não aconteceu em França, aconteceu-nos a nós e à nossa maneira de viver. Isto é connosco, os que podemos escolher se nos apetece ou não crer num Deus e, escolhendo crer, podermos optar pelo Deus que mais nos convém, isto é connosco, que escolhemos gastar o nosso dinheiro em livros, em todos os livros, a conhecer outros mundos ou a dançar tango, olhando nos olhos as mulheres com quem dançamos. Isto é connosco, os que não temos medo do que ainda não conhecemos nem dos que não pensam como nós ou não fazem como nós, os que aceitamos as diferenças porque serão sempre as diferenças que nos inspiram a avançar, mais sábios e mais capazes, os que não têm medo de véus nem de barbas compridas nem de livros estranhos nem de quem nos vem tirar os trabalhos que nunca quisemos ter, os que não precisámos de Paris para saber de que fogem os refugiados.



O Jumento


(...) O Estado Islâmico foi o grupo terrorista que mais foi apreciado pelo Ocidente, ajudou Israel a livrar-se do seu grande inimigo e, muito provavelmente, a anexar definitivamente os Montes Golan, daí que sejam muitos os que apontem o dedo à Mossad. Ajudou a Turquia a matar curdos e xiitas. (...)Os inimigos do Irão, da Rússia ou da Síria, do Hezbollah  ou dos palestinianos  são amigos do Ocidente, de Israel, da Turquia e da Arábia Saudita. Desde que as coisas não passem para a comunicação social podem matar indiscriminadamente, podem matar livremente os alauitas e curdos na Síria, podem fazer desaparecer os Houttis do Iémen, podem eliminar xiitas na Síria, Iraque, Líbano, Israel.

Recordo-me de ver os mesmos chechenos que hoje são os mais extremistas entre os extremistas do Estado Islâmicos serem recebidos na Europa Ocidental como democratas e libertadores vítimas da tirania russa, os fascistas ucranianos que querem fazer desaparecer culturalmente quase metade da população ucraniana e que tiveram um passado de apoio ao nazismo serem agora aclamados como grandes democratas

Só que os terroristas são mesmo terroristas e não hesitam fazer como a aranha Viúva Negra, não resiste à tentação de se alimentar do seu próprio parceiro. Os franceses não foram apenas vítimas dos terroristas, foram-no também de governos feitos de gente suja, para quem tudo vale. Isto é a versão em política internacional do mesmo a que estamos a assistir na economia e em todos os domínios da sociedade. Estas são as consequências da transformação da velhacaria em ideologia do Ocidente. (...)






Ladrões de bicicletas
 - João Ramos de Almeida

(...) Em cada época, cada guerra é devidamente preparada para enlevar a população. Agora é Hollande, um político socialista, que acaba de afirmar que a guerra foi declarada a França. Espera-se mais uns milhões de contratos de armamento, uma expectável maior ousadia militar (sobre a triste figura feita pela França, leia-se o último número de Le Monde Diplomatique). Mais mortes a prazo.

E tudo isto acontece precisamente no mesmo momento em que terminavam as conversações em Viena, nomeadamente com a administração norte-americana e o governo russo, fixando um cessar-fogo na Síria, com um acordo de 3 páginas, prevendo um governo de transição de 3 meses e eleições em 6 meses.  

As guerras podem ser paradas por quem as combate. E nós somos soldados sem o saber. Morremos como soldados, como peões adormecidos na nossa vida pequena.(...)


in Triste Europa


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Serge Reggiani interpreta Les Loups Sont Entrés Dans Paris

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[As notícias que me chegavam à medida que eu ia escrevendo sobre os atentados de sexta feira, 13 de Novembro de 2015 em Paris, podem ser vistas no post seguinte]


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segunda-feira, novembro 02, 2015

Madonna e Sean: um amor inevitável?


Madonna Louise Ciccone tem 57 anos, 4 filhos e uma lista considerável de amores. Dessa longa lista de amores, dois foram seus maridos, o primeiro dos quais Sean Penn. O casamento entre ambos durou apenas 4 anos, entre 1985 e 1989, e foi daqueles em que, tantas as faíscas que se soltavam, as explosões eram permanentes. Entre picos de paixão e de fúria muito foi o reboliço naquelas vidas. Chegou a falar-se em episódios de violência mas tenho ideia que nunca se percebeu quem agredia quem ou se, de facto, tinha havido agressões.

O rompimento era inevitável pois a lava que jorrava do vulcão que era aquele amor queimava demais.

Contudo, tempos depois, quando a tumultuoso relacionamento já tinha chegado ao fim e outros braços já tinham abraçado o seu corpo, ao perguntaram a Madonna quem era o amor da vida dela, quase num murmúrio, ela confessou: 'Sean'.

Sean Justin Penn, que é 2 anos mais novo, quase não se ficou atrás de Madonna: a lista de amores é também considerável embora ligeiramente inferior à da ex.

Mulheres belíssimas têm visto nele o que talvez não seja totalmente visível a olho nu já que não é especialmente bonito nem particularmente bem comportado.

Sean, um democrata engagé, cultiva o estilo bad boy e deve ser muito isso que explica que mulheres como Charlize Theron ou Robin Wright, só para referir duas que são bem conhecidas, se tenham entregado a ele de corpo e alma (apesar do sempre presente tumulto).


Mas eis que agora, insistentes rumores dão como certa a reaproximação entre o Poison Penn e a fogosa Madonna.

Um dos irmãos de Madonna não se mostra admirado: diz também que a irmã nunca deixou de amar aquele seu ex-marido, que ele e só ele, foi o grande amor da sua vida.

Sean tem sido visto em espectáculos dela, têm estado juntos no mesmo hotel e as revistas e televisões de todo o mundo esfregam as mãos: Sean e Madonna de novo juntos...? 

Ainda há amores assim? Impossíveis mas inevitáveis? Incontornáveis? Inegáveis? Ainda há verdadeiros amor de perdição? É possível errar, errar uma vez mais, errar cada vez melhor? Podem duas vidas correr na direcção uma da outra de forma inelutável, inegociável?

Eu acho que sim. Tomara que Sean e Madonna também o comprovem. Não é por nada mas, cá para mim, acho que foram feitos um para o outro. E, assim como assim, ver uma história de amor a acabar bem é sempre um consolo para a alma.

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A propósito da bomba Madonna que tem posto muitas cabeças à volta e muitos corações em chamas mas que, ao que parece, é por Sean que o seu coração bate de verdade, lembrei-me de Serge Reggiani na canção Maumariée.




Ne pouvais-tu
Ne pouvais-tu m'attendre
Ne pouvais-tu
A cet instant comprendre
Que je courais vers toi
Que je courais
Comme vers une source
Ignorant que ma course
Me conduisait là-bas
Au bord de l'eau
Au bord de l'eau


Et je suis là, moi
Je suis là
Avec mes deux mains
Qui ne tiennent rien
Ton image en moi
Qui ne s'en va pas
Avec tout mon corps
Qui regrette encore
Maumariée
Jamais je n'oublierai
Moi, maumariée
Que j'aurais pu t'aimer


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

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