Na televisão, o filósofo de outra nacionalidade dizia que de Portugal só chegam notícias felizes. Dizia que Portugal é um exemplo feliz. E eu também acho. Somos um país feliz, luminoso, diverso.
Claro que se fizermos zoom começam a aparecer as pequenas histórias.
A jovem que se enclausurou num compartimento da casa com medo do agressor. A mulher que chora por ter sido agredida e agora a filha, que testemunhou as agressões, está a ser ser obrigada pela Justiça a estar com o pai de quem tanto medo. A mulher que vai fazer um exame médico difícil, que lhe pode trazer más notícias. O homem que vê ser nomeado para seu
chefe o seu colega de quem tem secreta inveja e por quem alimentou durante anos uma imensa raiva. A jovem que sente ter tanto para dar e a quem, no trabalho, tão pouco pedem apesar de haver tanto para fazer. A mulher a quem morreu o marido e que quer reaprender a viver. O homem talentoso que trabalhou numa empresa que era de sucesso e que um dia faliu e que agora se vê atirado para um trabalho que abomina.
Mas isso são as pequenas histórias, coisas das paredes para dentro, coisas da pele para dentro. Ninguém vê.
O mundo muda, sempre mudou. Chegou a máquina a vapor e tudo mudou. E o facto de já ninguém saber o que é uma máquina a vapor também já não interessa para nada. E um dia, tinha eu uma máquina de calcular que fazia cálculo científico e que tinha funções trigonométricas e de todo o tipo e fui dar com dois senhores, numa sala sombria ao fundo de um corredor ao cimo de uma escadaria que partia de um pátio interior, a fazerem registos numa máquina muito grande, parecia um tear, e davam à manivela para a frente para contas de somar e para trás para contas de subtrair. E pareciam que tinham saído de um filme pré-histórico e pareciam realizados e felizes com o que faziam. E eu achei que alguém se tinha esquecido deles ali. E apesar de o sítio onde isso se passou ser agora um edifício abandonado acho que é possível que eles ainda lá estejam a dar à manivela.
E eu vejo à minha volta muita gente nova com conversa nova e hábitos diferentes mas inserida num meio velho, de uma outra era, com métodos e procedimentos calcificados, esclerosados. O mundo muda muito rapidamente. E os jovens vivem num país maravilhoso, luminoso, capaz de mudanças corajosas mas que, vendo em zoom, parece querer manter-se imóvel.
E os programas de televisão e os jornais e os livros e as montras das lojas e a gente na rua -- tudo parece não ser capaz de ir buscar o talento novo, a coragem de irromper, o olhar novo, as palavras que transportam a semente da mudança.
Parece haver um casco que protege o mundo velho e uma película que envolve o mundo novo. E não é quem está dentro do casco que tem que ir revolucionar o mundo. Quem está dentro da película é que tem que irromper e fazer-se ao mundo, soltar as asas, voar.
E os programas de televisão e os jornais e os livros e as montras das lojas e a gente na rua -- tudo parece não ser capaz de ir buscar o talento novo, a coragem de irromper, o olhar novo, as palavras que transportam a semente da mudança.
Parece haver um casco que protege o mundo velho e uma película que envolve o mundo novo. E não é quem está dentro do casco que tem que ir revolucionar o mundo. Quem está dentro da película é que tem que irromper e fazer-se ao mundo, soltar as asas, voar.
Isamaya Ffrench é a maquilhadora que fascina os millennials
Nick Knight é um fotógrafo muito à frente
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E queiram descer para conhecerem um conselho muito útil e o vestido que vou usar para mostrar como é que é.
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