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quinta-feira, janeiro 16, 2025

Nos tempos do Chat GPT que nos coloca toda a inteligência e conhecimento ao alcance das mãos, olhem bem a graça desta cadela que reconhece mais de 200 objectos pelo nome...

 

Quando tínhamos a nossa boxer mais linda e mais fofa, eu dizia: 'Vai buscar o pau'. Ela olhava-me de lado para ter a certeza de que tinha percebido bem e lá ia ela. Andava, andava, até que aparecia com um pau. 

Depois eu pedia: 'Agora a bolinha,' e ela lá andava a espreitar e a cheirar debaixo de sofás e, um bocado depois, lá aparecia com a bolinha. Mas se eu pedia: 'Onde é que está a bola?' ela ia e aparecia, algum tempo depois, com a bola maior. E havia uma coisa a que eu não sabia que nome dar e chamava 'brinquedo'. Ela pensava e lá me aparecia com aquilo. 

Com este cãobeludo, teimoso e temperamental mas que talvez seja mais inteligente que ela, as coisas não são bem assim. Só faz quando lhe apetece. Traz o que é suposto mas só quando está para aí virado. Outras vezes vai buscar o que pedi mas não me dá, fica de longe com as coisas, a olhar para mim. Mas, se eu não lhe ligar, vem-me dar uma mordiscadela para ser eu a ir brincar com ele. 

Penso que identifica todas as pessoas da família e arredores tal como percebe quando lhe digo que vem cá alguém a casa. Outras vezes, apesar de usarmos conversação normal, ele percebe. E quando vamos a casa por exemplo da minha filha ou do meu filho, como o carro fica sempre longe, ele vai a puxar, a puxar, na maior impaciência, e passa por ruas e casas até que, sem hesitação, vai dar a casa deles. 

E tem outra coisa: não gosta que nos afastemos, tenta agarrar-nos, bate castanholas no ar. Quando estou a passear à beira da praia, se começo a ir na direcção do restaurante onde costumo comprar sushi, muito antes de lá chegar, já ele vai a pôr-se à minha frente, a olhar de lado para mim para perceber se vou para lá, quer ele chegar à frente para me impedir. E faz isto com a farmácia, com o talho, com o papelaria. Reconhece o percurso, reconhece as lojas e logo começa a fazer marcação.

Esta border collie é inteligente e fantasticamente obediente. É espantosa. Ver para crer.

A border collie brasileira que sabe 200 palavras e virou estrela de pesquisa

Gaia, uma border collie brasileira de 6 anos que vive em Londres, tem um dom raro: sabe o nome de mais de 200 brinquedos.

Ela faz parte de um pequeno grupo, apelidado por pesquisadores de "cães gênios", com um talento excepcional para aprender nomes de objetos – uma habilidade cognitiva que separa seres humanos de outros animais.

Até agora, apenas 41 cachorros no mundo foram identificados com essa habilidade, segundo um grupo de pesquisa da Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste (Hungria).

segunda-feira, agosto 07, 2023

Há uma inteligências escondida?
As células pensam?

 


Tive um colega com quem me dava muito bem. De vez em quando, lá nas empresas, apareciam modas em que meio mundo queria embarcar, gastando pipas de massa para coisa nenhuma, apenas para não ficar para trás, porque todas as maiores empresas já tinham embarcado e ninguém queria aparecer como os que ainda não tinham implementado aquela metodologia, adoptado aquele processo ou contratado aquelas sumidades.

Eu, como sempre, não sou de embarcar à toa ou encarneirar e, portanto, levantava muitas questões. Esse meu colega também. Claro que olhavam para nós como os que estavam ali só para chatear.

Ele, brasileiro, com aquela forma divertida de falar, dizia-me de forma a que ninguém o ouvisse: 'nós dois somos mesmo a turma do baldinho'. O 'baldinho' era o balde de água fria que nós atirávamos para cima para esfriar os ânimos.

E assim me sinto eu hoje ao trazer aqui um tema que não está com nada. A bem dizer não tem a ver nem com os mega ajuntamentos da JMJ (e com a organização que fez com que tudo corresse lindamente) nem com o calorão de ananases que esteve. Também não tem a ver com mais uma da minha mãe que, em vez de curtir a provecta idade e o bom estado físico em que se encontra, agora panica com qualquer espirro, incapaz de perceber que o problema é o estado de ansiedade em que fica. 

Não. O post de hoje não tem mesmo nada a ver com nada de nada disso.

Não quero retomar a prática do baldinho de água fria que, por acaso, hoje até que talvez não caia mal tamanhas as quentes baforadas que nos têm assolado. Mas, sinceramente, estou exausta (fisica e psicologicamente) e a única maneira de descansar a cabeça é ocupá-la com coisas que me fazem pensar.

Portanto, com vossa licença, deixem que partilhe um vídeo que me parece muito interessante. Talvez explique muitas coisas. Muitas, muitas. 

Tem a vantagem de estar legendado. 

Can cells think? | Michael Levin

Sabemos que os humanos são uma espécie inteligente. Mas este biólogo decompõe a inteligência de cada uma de nossas células – e isso é surpreendente.

Michael Levin, biólogo do desenvolvimento da Tufts University, desafia as noções convencionais de inteligência, argumentando que ela é inerentemente coletiva e não individual.

Levin explica que somos coleções de células, com cada célula possuindo competências desenvolvidas a partir de sua evolução a partir de organismos unicelulares. Isso forma uma arquitetura de competência multiescalar, onde cada nível, de células a tecidos e órgãos, está resolvendo problemas dentro de seus espaços únicos.

Levin enfatiza que reconhecer adequadamente a inteligência, que abrange diferentes escalas de existência, é vital para compreender as complexidades da vida. E essa perspectiva sugere uma mudança radical na compreensão de nós mesmos e do mundo ao nosso redor, reconhecendo as habilidades cognitivas presentes em todos os níveis de nossa existência.


Desejo-vos uma boa semana
Saúde. Bons pensamentos. Paz.

terça-feira, agosto 01, 2023

Já contei porque é que agora não consigo comer polvo?

 

Aprendi na escola e com os mais entendidos que sou um animal racional e que pertenço à única espécie que o é. Contudo, ao longo da vida a minha percepção tem-se alterado.

Vejo nos animais compreensão e sentimentos. E leio que entre as plantas há também um propósito e um entendimento.

Mas se o relacionamento com cães me tem aberto a porta do entendimento para a racionalidade e emoções dos animais, nunca me passaria pela cabeça que um animal tão distante de nós como o polvo -- distante no habitat, na composição e funcionalidades do corpo -- me trouxesse tantas descobertas.

É inacreditável. 

Que mais haverá ainda neste mundo que menosprezamos, ignoramos e que é, afinal, tão relevante e tão inteligente como nós?

Quão petulantes e estúpidos somos quando nos julgamos o centro do universo. Quantos disparates cometemos em nome de um poder que, na verdade, não temos? 

Underwater photographer Justin Hofman  offers hand to a Giant Octopus
 — You Won’t Believe How He Reacts 


Uma boa terça-feira
Saúde. Compreensão. Paz.

domingo, julho 02, 2023

Coisas do meu dia a dia e, ainda, a inteligência dos polvos

 

Entre obrigações familiares diversas, convívios estivais e tentativa de compatibilização com compras e tarefas domésticas, a minha ocupação tem sido total, não me chegando o tempo nem para agradecer comentários nem para aqui escrever muito, até porque chego a esta hora e estou KO.

Poderia falar dos meus pimentinhas, grandes, grandes, divertidos, bons alunos, comilões, transbordantes de energia. São uns amores, os meus amores lindos e muito queridos. Mas giro, giro seria mostrá-los, talvez numa de 'o ano passado' e 'agora'. O salto que deram é incrível. A ver se um dia destes os consigo apanhar sossegados e disponíveis para fazerem o que lhes peço e os fotografo de costas. Ou então, se calhar ainda é o melhor, convenço-os a irem para a janela onde a minha filha os filmou quando o blog chegou aos 5 milhões e a porem-se outra vez de máscara e óculos escuros, só para vos mostrar como estão muito mais crescidos (mas não mais ajuizados...).

Vendo-me aqui meio cansada e sem saber sobre o que escrever, o meu marido sugere-me que eu fale sobre o SNS, provavelmente dada a situação que vivi ontem ao acompanhar a minha mãe. Seria certamente um tema interessante mas estou com as pilhas a menos de 5% e, portanto, sei bem que a energia não chegaria para o esforço que o tema requereria, até porque não podem fazer-se leituras simplistas.

Pedi-lhe que escrevesse ele mas está de caminho para a cama. Pedi que, então, o faça amanhã de manhã. Este domingo vamos sair cedo de casa mas, como ele madruga, mesmo indo passear o urso cabeludo, talvez tenha tempo. Diz que acha que não. Portanto, não sei se sai texto sobre a nossa experiência com o SNS. Temo-la tido tal como a temos tido com o privado pelo que poderíamos fazer uma análise comparada. Mas tudo requer tempo...

Acresce que um grupo a que pertenço tem estado a publicar umas fotografias que são um desafio e, ao mesmo tempo, uma ternura. Ponho-me a vê-las... e depois constato que o tempo passa. A vida é uma coisa extraordinária.

Portanto, dadas todas as minhas limitativas circunstâncias, hoje vou ficar-me por um vídeo em que se prova como os polvos são tão inteligentes. E o que tenho a dizer sobre o tema é que, desde que os sei assim, parece que já nem tenho vontade de os comer. E estou a falar a sério.

How clever is an octopus, really?

Nas profundezas de nossos mares vive uma estranha criatura com dois olhos enormes, um corpo macio e sem ossos, nove cérebros, três corações, oito pernas e um bico duplo dilacerado.

Mais do que apenas um molusco, o polvo é provavelmente um dos seres mais inteligentes do planeta.

Mas quão inteligente é isso?

Há dez anos, Antonio Cribeiro e sua equipe estudam o comportamento dos polvos para tentar responder a essa pergunta.


Desejo-vos um belo dia de domingo
Saúde. Boa disposição. Paz.

quinta-feira, março 02, 2023

A vontade de dar respostas tortas...

 


Na farmácia a que agora vou apareceu um novo funcionário que, na minha modesta opinião, é burro que nem uma porta. 

Na última vez desatinei por completo e acabei por trazer uma coisa que não queria. 

Eu estava um bocado constipada, com a garganta levemente arranhada e, tendo lá ido para comprar uma coisa qualquer, aproveitei para lhe pedir uns rebuçados ou pastilhas que funcionassem como um desinfectante para a coisa não progredir e que me aliviasse a sensação de garganta arranhada. Olhou para mim sem perceber. Repeti sem perceber o que é que ele não tinha percebido. Começou, então, a fazer uma bateria de perguntas em que eu via que ele estava a leste. 

Eu dizia: qualquer coisa serve, mel, eucalipto, qualquer coisa. 

Mas ele não largou: tem muita expectoração? 

E eu: não, não, acho que estou a começar a constipar-me, se calhar, se isto progredir, acabarei por ficar. 

E ele: Então está é a queixar-se de tosse seca. 

E eu: Não. ´É um resfriado ou constipação, sinto que estou a ficar apanhada. 

Ele: Assim, sem dizer bem o que quer, é muito vago.

Eu: Olhe, umas pastilhas quaisquer. 

E ele: Mas com antibiótico? 

E eu: Acho que não, podem ser rebuçados desses banais. 

Respondeu: Assim não percebo, não sei como posso ajudar. 

E eu: Então deixe, não importa. 

Pelo meio, depois de cada resposta minha, punha-se a olhar para as prateleiras atrás dele cheias de pastilhas e rebuçados, pegava numas, lia a embalagem, encolhia os ombros, um tempo infinito. Eu completamente doida com aquilo e sem conseguir libertar-me sem perder a compostura. 

Por fim, quando eu já estava a descompensar, foi buscar uma embalagem: Estas são boas, recomendava-lhe estas, mas são para tosse seca. 

E eu, vencida: Pronto, levo essas. 

12€ para nada.

Hoje tive que lá voltar. Há uma meia dúzia ou mais de balcões. Tirei a senha e fiquei a implorar a todos os santinhos que não me saísse ele. Saiu.  

Começou por me perguntar se eu tinha cartão da farmácia. Disse que sim mas que a receita era para o meu marido. Fez um ar desorientado. Então como é que sei quais os que o senhor costuma levar?

Eu, desconcertada: Mas ele praticamente nunca leva nada...

E ele: Mesmo assim, tenho que saber.

E eu, sem perceber a razão da cisma: Não se preocupe, não é tema.

E ele, com de censura: Dizem isso e depois quando vou buscar o medicamento dizem: 'ah, as caixas que costumo levar não são essas'. E eu é que tenho que adivinhar'

E eu já a ver que a coisa estava outra vez com tudo para descarrilar: Ele nunca levou isto.

E ele: Não? É que, sem ver a ficha, como é que eu sei isso?.

Eu, à beira de um ataque de nervos, expliquei-lhe qual o mal do meu marido, coisa pontual, para ver se o convencia. E rematei: Portanto, como vê, sei eu. Nunca levou nada disto. Dê-me uma marca qualquer ou genérico, se houver. 

Contrariado lá o fez. 

A seguir pedi Ben-u-Ron. Perguntou se podia ser genérico. Respondi que sim. E ele: Não se pode vender de 1gr mas, para aquilo que é, abro uma excepção e vendo-lhe.

E eu: Mas eu até prefiro de 500mg pois é mais flexível.

E ele: E o senhor vai tomar 1 comprimido de 500mg?!?!

E eu: Toma 2.

E ele, a olhar para mim com ar de dúvida: Ai é?

E eu: É. 

Fez um trejeito mostrando um estranho cepticismo.

E assim foi até ao fim. Não há explicação. Quando passou à fase do registo para pagar foi o bom e o bonito. Passou o leitor de código de barras no mínimo três vezes em cada embalagem. Quando me parecia que haveria de sair o talão, ele voltava ao início.

Saí de lá exausta. Cansa-me imenso aturar gente pouco inteligente. E não sei como lidar com estas situações. Não posso dizer que cedo a vez ao cliente seguinte, demonstrando que não quero ser atendida por ele. Nem posso dizer-lhe que atine pois poderá ofender-se.

Não sei. Penso que tenho que descobrir outra farmácia para não voltar a correr o risco de me sair outra vez aquela malfadada fava.

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Isto de que estou a falar não tem a ver com o que se vê no vídeo. Mas revejo-me na impaciência dos actores quando estão sujeitos a entrevistas parvas, em que os entrevistadores fazem perguntas parvas, inconvenientes, despropositadas

Times Celebs Gave Unexpectedly Honest Answers To Interview Questions


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Pinturas de Joseph Stella na companhia de Benjamin Clementine com Atonement

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Um dia bom
Saúde. Paciência. Paz.

quinta-feira, agosto 18, 2022

7 sinais de genuína inteligência que não se conseguem fingir

[E a forma bizarra como Madonna se apresenta nos seus 64 aninhos]



Já fiquei mais descansada. Em alguns dos mais banalizados testes de QI aparecem aquelas figuras de triângulos dentro de quadrados, em que a disposição dos triângulos brancos e pretos vai evoluindo e é preciso descobrir qual a sequência que se segue. Outras vezes são sequências numéricas ou outras. Não sei porquê o meu cérebro rejeita tudo isso de forma tão liminar que se recusa a olhar e a pensar. Sou tentada a responder ao calhas. É que poderia esforçar-me e falhar em toda a linha. Mas não, é pior que isso, é rejeição absoluta. Por algum motivo, acho aquilo tão absurdo para provar o que quer que seja que a pachorra se me evapora instantaneamente ainda antes de começar. E, por esta séria lacuna, sempre pensei que a minha inteligência tinha certamente uma falha fatal.

Agora, ao ver o vídeo que abaixo partilho, não concluo que não tem mas concluo que a falha não se deve, forçosamente, à incapacidade em resolver aqueles irritantes testes.

Felizmente nunca tive que fazer um teste daqueles para arranjar emprego senão não tinha passado da porta de entrada. 

Fiquei também confortada ao ver confirmada uma opinião que tenho sempre que ouço alguém, muito satisfeito consigo próprio, tantas vezes referindo-se a uma decisão questionável que, em tempos, tomou, dizer qualquer coisa como isto: 'A prova que na altura tomei a decisão correcta é que, se fosse hoje, tomá-la-ia outra vez, exactamente igual '. É que até pode ser mas, caraças, o que é que aquilo prova a não ser que quem o diz é uma pessoa algo limitada? Que raio de raciocínio é aquele? As circunstâncias mudam, nós mudamos, os outros mudam. Então porque é que é axiomaticamente acertado tomar exactamente a mesma decisão tempos depois? 

Em minha opinião, os sinais de inteligência de uma pessoa são vários e eu, já aqui o confessei tantas vezes, tenho grande admiração por pessoas inteligentes. A meus olhos, uma pessoa inteligente cintila. 

Em contrapartida, a burrice encanita-me cá de uma maneira... 

Mesmo aqui na blogosfera, não consigo deixar de rosnar entredentes quando vejo coisas que tresandam a burrice. Eu a ler coisas que quem escreveu acha, certamente, o máximo e eu, cá para mim, 'Ca ganda burra. Chiça penico...!'.

Tem razão o Mestre com quem tenho trocado umas ideias ao alertar para os perigos que a inteligência por vezes acarreta. E, concordo, é bem verdade que alguns seres inegavelmente inteligentes foram (ou são) uns estupores encartados. Mas, por outro lado,  se conseguirmos despir-lhes a identidade, o que fica da sua inteligência ilumina a nossa existência.

Claro que, se com a inteligência, vier a bondade, a tolerância, a afectuosidade, a graça e todas essas características que deveriam ser intrínsecas a todos os seres humanos, melhor, mil vezes melhor. Senão, a gente tem cuidado, guarda distância e fica só com o produto que nasce do estafermo, seja palavras, pintura, música -- o que for.

Agora que escrevo isto penso num colega que tive. Sempre que tinha algum trabalho complicado em mãos, algum relatório mais cabeludo para concluir, algum projecto mais crítico para lançar, era de fugirmos dele. Intratável. Rude, cafajeste. Outras vezes, na reuniões, saía-se com coisas que deixavam toda a gente gelada, incomodada. Era de uma franqueza desabrida. Creio que lhe faltava inteligência emocional. Mal o stress passava, era de uma pessoa se deliciar com as piadas, com a ironia oportuna e implacável. Tinha ainda uma particularidade: tinha uma colecção infinita de música. LPs e CDs, milhares. De cada obra tinha todas as derivações que conseguia descobrir: maestros, intérpretes, gravações em estúdio e ao vivo. Para gerir a colecção tinha uma base de dados que mantinha actualizada e que permitia pesquisar por cada um dos parâmetros que, para ele, fazia a diferença. Tinha quse tnto orgulho n bse de ddos quanto na colecção. Agora que os suportes físicos estão a cair em desuso não sei como estará a completar o seu tesouro. Sendo uma pessoa com competências reconhecidas na sua área de trabalho, tinha depois esse seu lado de melómano que o fazia virar outro quando disso falava. Eu gostava imenso de conversar com ele. Tinha sempre uma perspectiva diferente e interessante das coisas e eu aprendia sempre com ele. 

Contudo, sempre que eu falava dele, quase toda a gente se torcia e fazia um esgar de desagrado: 'Esse traste' ou 'Um mal-educado' ou 'Um tipo perigoso'. 
Aqueles ataques de franqueza desassombrada de que por vezes parecia possuído causaram problemas a muito boa gente. Diziam que desferia golpes baixos quando menos se esperava. Nunca me pareceu que o fizesse premeditadamente ou para ajustar contas com alguém. Sempre me pareceu que era simplesmente desligado das conveniências sociais ou de preocupações em relação aos outros.

Outras vezes, quando se queriam referir a ele, diziam-me: 'O seu amigo' pois, de facto, acho que eu era a única pessoa que o suportava. E, ainda por cima, gostava dele. Desculpava-lhe os maus humores.


Mas isto para dizer que, vendo que o Psych2Go me caiu no goto, o menino algoritmo do youtube saiu-se com mais um vídeo daqueles em que se dizem coisas com piada e bem pensadas (textos de Max Gustavo) com uns bonequinhos fofos (feitos por Rose Lam), ditos por uma menina que tem uma vozinha soft e que fala das coisas num tom convincente e empático (Amanda Silvera de seu nome). 

Desta vez, o tema é a inteligência e sinais impossíveis de forjar e que evidenciam que ela está presente.

7 Genuine Signs of Intelligence You Can't Fake

Are you truly intelligent? Intelligence is a coveted thing, and we’re encouraged to “fake it til we make it” with things. But some things in life can’t be faked and real intelligence is one of them.

Here is a short list of the subtle signs of genuine intelligence. See if you can identify these traits in yourself. 

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A propósito de inteligência ou se calhar não tendo nada a ver, já que estamos na silly season, apetece-me agora mostrar a forma estranha como a Madonna está a ganhar idade (e digo assim e não a envelhecer pois a palavra envelhecer parece-me engelhada, mal amanhada). Fez 64 anos e, de facto, não tem rugas nem flacidez no rosto. Mas está inchada, desfigurada e, agora, tem tanta tralha na boca que nem sei o que me parece. E que ande a festejar os seus verdes anos dando beijos de língua a quem se senta ao seu lado só me faz sentir afortunada por nunca me ter acontecido tal golpe de pouca sorte.

Madonna Shows Off Her Custom Birthday Grillz and Reveals What Almost Killed Her Career



Madonna TONGUE KISSES Friends During Italian Birthday Celebration



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Pinturas de Jean-Paul Riopelle na companhia de Sheku Kanneh-Mason, Isata Kanneh-Mason que interpretam Song without Words, Op. 109 de  Mendelssohn

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Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Boa disposição. Paz.

segunda-feira, novembro 23, 2020

A world without intelligence is a primitive place, Doctor, not an enchanted place

 

Se eu fosse Mr. X começaria este post dizendo qualquer coisa parecida com isto: 

"Recebo uma carta com a letra manuscrita na caligrafia cuidada nos clubes de Oxford, onde reconheço a tinta azul da S. T Dupont Olympio de J. Eustáquio de Andrada, professor jubilado do Magdalen College em Oxford..."

mas, plebeia das palavras que sou, não ouso arriscar-me a esse ponto e nem sequer vou referir os títulos académicos do ilustre autor a que a seguir me refiro. 

Limito-me, pois, a dizer que recebi um mail do J. com uma graça que muito aprecio e onde se inclui uma inesperada citação, referências a cinema e a música e, como sempre, a simpatia franca de quem respira o ar limpo e azul das serranias.

Dizia suspeitar que eu acharia a citação interessante. Acertou na suspeição, J.: acho as afirmações -- como direi...? - deliciosas. E tanto que aqui vou partilhar. Revejo-me no que aqui é dito. A inteligência é fundamental. A inteligência e, já agora também a beleza, são essenciais.

A world without intelligence is a primitive place, Doctor, not an enchanted place. Intelligence is part of the advancing scheme of evolution. Without it, nature reaches a plateau very quickly and does not progress beyond raw survival. The full flavor of possibility goes unsavored. And that... is a true shame.

Tal como ele no seu mail, também não vou aqui referir o autor da citação. Contudo, aqui fica uma pista juntando aquilo que refere: 'uma nave a navegar no espaço, uma música de fundo, e uma voz cativante que anuncia:

Space: the final frontier. These are the voyages of the starship Enterprise. Its five-year mission: to explore strange new worlds, to seek out new life and new civilizations, to boldly go where no man has gone before.'

  


Merci, J.

quarta-feira, abril 26, 2017

Hugo Soares e João Almeida, a geração rançosa que não consegue tirar o sarro pafioso que se lhes colou à pele.
E a companhia que procuro para limpar o espírito: John Berger, Michael Ondaatje


John Berger, “Ways of Seeing”

No vídeo abaixo, John Berger conversa com Michael Ondaatje e o que eu gosto de ouvir falar assim. Podia passar dias a ouvir falar pessoas como eles. Quanto mais a poluição me cerca, mais eu preciso de me isolar junto de quem usa palavras limpas.

Talvez o mal esteja em mim que não sei fugir para onde não se ouçam os comentadores e os deputados descarados ou os homens e mulheres dos aparelhos partidários velhos e relhos. De vez em quando distraio-me e dou por mim, sem querer, a ver na televisão gente como um tal Hugo Soares do PSD que, qual Kardashian da política, é conhecido por ser conhecido (e tem como currículo o ser do aparelho do PSD e aparecer a dizer coisas que não significam nada ou que, desinspiradamente, tentam reescrever a história) ou o João Almeida do CDS que, por mais barba que deixe crescer, nunca perde o ar de bebé chorão que não tem um uma ideia fresca naquela cabeça.


Cansa-me tanta falta de qualidade. Cansa-me a Cristas que não tem vergonha e tenta desesperadamente falar por parangonas, cansa-me a Leal ao Coelho que é um dos poucos animais sem vida que o PSD ainda arrasta juntamente com um póstumo Passos Coelho, cansa-me toda essa gente que não percebe que não acrescenta nada, que deslustra a política.

Por isso, agora, a ver se me animo, tenho estado entretida a ouvir gente inteligente. É tão bom ouvir ou ler as palavras de gente inteligente. 

Deixem que partilhe convosco.

John Berger conversa com Michael Ondaatje


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Michael Ondaatje: a música nas palavras



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terça-feira, novembro 29, 2016

Gente verdadeiramente inteligente


Cada vez mais aprecio gente genuinamente inteligente. É rara gente assim.

Eu não devia dizer uma coisa destas mas o que me vale é que isto é anónimo. Que dia o de hoje! Caraças. 

Acreditem ou não, cheguei a casa às dez da noite, acreditem ou não, tive uma reunião que durou oito horas seguidas. E, acreditem ou não, chegada aqui ao computador depois das onze da noite, são coisas como as que aqui partilho convosco que me mostram que, por difícil que por vezes seja de acreditar, ainda há gente inteligente à superfície da terra.

E, note-se, quando digo isto, incluo-me no naipe alargado de gente pouco inteligente porque, se cumprisse os mínimos, outro galo cantaria e a minha vida seria outra.

Bem. Adiante.

A televisão estava nos Prós e Contras. Fiquei com os cabelos em pé. Já não consigo ouvir aquela gente. Falava o rapazelho do CDS, aquele que já foi secretário de estado não sei do quê. Era o que me faltava depois de um dia como o que tive ainda ter que ouvir estes meninos velhos com a cabeça cheia de tralha sem uso possível.


Agora estou a ver nem sei o quê, parece coisa científica,. Olho sem atenção. Vejo gente que me parece civilizada. Fotografia. Parece que falam de Carlos Relvas. Fica aqui. Palavras assim fazem boa companhia.


De manhãzinha, quando ia trabalhar e quando ainda julgava que ia ter um dia normal, ocorreu-me que hoje iria escrever sobre o papel do jornalismo nos dias que correm. Mas agora não consigo, só me apetece falar de gente inteligente.

Vejam estas respostas fantásticas. Ah como eu gostava de lidar, de manhã à noite, com gente assim...


E para quem gosta de matemática...? Até dei uma gargalhada com esta aqui abaixo.


E esta? Pedia-se para desenhar uma linha para a resposta correcta. O máximo.


E, já agora, uma musiquinha num ambiente igualmente criativo e animado. 
Que entrem os meus amigos OK Go com The One Moment.


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terça-feira, outubro 21, 2014

Porque é que há sempre tantos burros a trabalharem perto do Poder? ---- A Lovely Lídia está de volta e enviou-me a explicação. Ora confiram, se fazem favor.


Era uma vez um rei que queria pescar. 

Um dia chamou o seu meteorologista e pediu-lhe a previsão do tempo para as próximas horas. Este assegurou-lhe que não iria chover. 

A noiva do monarca vivia perto de onde ele iria e colocou a sua roupa mais elegante para acompanhá-lo. 

No caminho, ele encontrou um camponês montando o seu burro que, ao ver o rei, e disse: "Majestade, é melhor o senhor regressar ao palácio porque vai chover muito". 

O rei ficou pensativo e respondeu: 

"Eu tenho um meteorologista, muito bem pago, que me disse o contrário. Vou seguir em frente". 

E assim fez. 
Choveu torrencialmente. 

O rei ficou encharcado e a noiva riu-se dele ao vê-lo naquele estado. 

Furioso, o rei voltou para o palácio e despediu o meteorologista. Em seguida, convocou o camponês e ofereceu-lhe emprego. 

O camponês disse: "Senhor, eu não entendo nada disso. Mas, se as orelhas do meu burro ficam caídas, significa que vai chover". 

Então, o rei contratou o burro. 

E assim começou o costume de contratar burros para trabalhar junto ao Poder.

Desde então, eis a razão de burros ocuparem as posições mais bem pagas, em organizações assim como em qualquer governo. 




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As três primeiras imagens pertencem à campanha Dolce & Gabanna Outono/Inverno 2014/2015. Do último, que não sei se é ministro, secretário de estado ou assessor, também não sei o nome.


Agradeço à Leitora Lídia a história que me enviou.

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terça-feira, agosto 26, 2014

O défice subiu outra vez? A dívida não pára de subir? A economia portuguesa continua intrinsecamente débil? Vai haver novo orçamento rectificativo? Fala-se em nova subida de impostos?... Qual o espanto? Relembro uma citação atribuída a Einstein: insanidade é fazer a mesma coisa, uma e outra vez, e ficar à espera de obter resultados diferentes.


A sério: poupem-me. Estou de férias. 

Peace and love ou, complementarmente, coisas divertidas ou inteligentes - é tudo o que eu tolero. Fora disso, é como se fosse picada por melgas, faz-me brotoeja.






Estando hoje na cidade, já tirei a barriga de misérias do cabo. Conversas com Vida, no ETV, com José Gil. A entrevistadora, Tânia Madeira, ainda não tem tarimba, cinge-se ao guião, faz perguntas ao filósofo que encerram toda uma vida com a mesma ligeireza com que perguntaria se ele prefere água com ou sem gás. Mas, enfim, vê-se que é esforçada: faz-se, é uma questão de tempo. Agora prazer mesmo é ver o ar saudável e menineiro de José Gil. E ver a forma aberta como fala de tudo. Gente inteligente é outra coisa. Dizer que ele abomina o que este governo de atoleimados anda a fazer ao País ou que tem esperança no que António Costa pode fazer pelo PS e pelos portugueses seria reduzir a sua interessante conversa a assuntos mais imediatos. Quem tiver oportunidade de ver a entrevista, não dará o tempo por mal gasto. José Gil vai mostrando, ao longo da conversa, como a vida é feita de camadas, umas leves, superficiais, outras mais irrigadas, outras profundas, sensíveis. Um prazer.




Fim de dia na esplanada Nova Vaga, sobre o mar, numa tarde fresca e boa.
As crianças a brincarem na areia e nós ali a curtirmos a beleza destas praias limpas e imensas
O meu lanche/jantar:
Bebida: Somersby on the rocks; comida: sandes de salmão fumado em pão integral com ovo e alface



Ora, depois de um dia tão bom como o que tive, e depois de ouvir falar uma pessoa com um pensamento tão cristalino, com que disposição posso eu falar dos resultados conhecidos relativos aos primeiros 7 meses do ano? O défice orçamental subiu para 5,8 mil milhões de euros e eu limito-me a encolher os ombros.

Depois de andarem mais de 3 anos sem perceberem as causas da crise, sem perceberem boi do impacto na economia das medidas estúpidas que tomavam, sem perceberem que para se levarem a cabo mudanças em sistemas complexos como a segurança social ou o sistema de pensões não basta dar umas marteladas numas folhas de cálculo feitas às três pancadas, têm mesmo que se efectuar estudos igualmente complexos, sem perceberem que, de cada vez que cortam um euro em alguns pontos nevrálgicos, o que estão é a secar a economia - que outra coisa se poderia esperar das acções de Passos Coelho e Companhia? Fazem os mesmos disparates uma e outra e outra vez  e os resultados são sempre os mesmos - claro.

A dívida pública (que foi a pedra de toque de todo este embuste) está cada vez mais alta e não se vê jeito de descer. Da dívida privada nem se fala (e essa, sim, ó meu Deus, é ainda pior, é mesmo de meter medo ao susto). Do lado da demografia (que devia ser uma das 3 prioridades absolutas de qualquer governo decente), os resultados são os piores e não se vê que, com as medidas que esta cambada leva a cabo, possa tão cedo inverter.

Como pirómanos inconscientes vão incendiando e devastando por onde passam. E, se for preciso, ainda dizem, com cara de pau, que tinha que ser, que o mato é que estava grande e se tiveram que lhe deitar fogo, incendiando a aldeia à volta, não foi porque gostassem, foi mesmo porque TINA.

Perante esta desgraça, um país que se afunda na maior tranquilidade, a oposição está a banhos.

  • O PCP anda envolvido no seu grande projecto de vida, a Festa do Avante. Tirando isso, e tirando influenciar a CGTP a fazer umas grevezecas ou umas manifs inócuas, do PCP não vem mais nada. Muita conversa, muito engajamento, muita motivação mas, marcham, marcham, e não saem do mesmo sítio.
  • Do BE até me dói falar. Coitados. É boa gente - mas coitados. Não atinam. Falam bem mas são daqueles que chocam, chocam, mas dali nunca nasce nenhum pinto.
  • O PS é a pouca vergonha que se sabe. O Seguro acha que foi ungido (e foi, em Congresso) e, mesmo perante o resultado das eleições e das sondagens, ainda acha que o lugar é dele e que dali ninguém o tira. Está a arrastar o PS pelas ruas da amargura e a deixar o caminho livre para os indigentes do governo. Tomara que leve uma tareia daqui por um mês. Se não levar, acho que vou fazer um buraco no chão e enfiar lá a cabeça para não assistir a um PS nas mãos de uma criatura que revelou um lado ainda mais medíocre do que se suspeitava.

Por isso, com o caminho livre para continuarem a fazer porcaria, porque haveriam os resultados obtidos por um governo do piorio de ser diferentes?




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No meio disto o que me intriga é o seguinte: esta passividade bovina dos portugueses é burrice ou é inteligência? Se eu pensar nos portugueses como numa raça de animais, o que revela a forma como se acomodam a toda a espécie de imposições, ditaduras, sacrifícios à toa, ultrajes, indignidades? 

Não sei mas até admito que haja nisto como que uma contenção de esforços, uma forma zen de suportar a vergonha, a violência e a dor. Não sei.

Mas também vos digo, a minha cabeça em férias ainda gosta menos de dar voltas ao bilhar grande do que em tempo de trabalho. Por isso, quanto a isto, estamos falados.


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A música lá em cima era Walk on the wild side. Lou Reed

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sexta-feira, julho 18, 2014

Digo 'rosa' e digo qualquer rosa e todas as rosas no universo inteiro.










O que nós então não sabíamos, e por isso não podíamos prever, é que se o genial nos retirava da miséria do quotidiano, das pequenas doenças inerentes ao quotidiano, ao mesmo tempo, nos preparava e infectava doenças maiores, incuráveis, tais como a doença da temporalidade ou a absoluta consciência da finitude, o que é o mesmo, ou próximo.

Só o genial nos podia poupar, embora nunca irreversivelmente e em definitivo, do pavor do tédio.

O que distingue a genialidade da inteligência, mesmo da inteligência superior, agora que volto a pensar nisso, e suspeito, aliás, que me estou mais uma vez a repetir, um dos sintomas mais naturais da idade avançada, talvez por já nada encontrar de novo à sua frente para ser vivido, e tem, assim, de regressar sem fim ao mesmo, que não voltará a ser vivido.






A inteligência é uma espécie de velocidade, de destreza, de facilidade em ligar isto com aquilo, de relacionar o que num primeiro momento não parece relacionável, de encontrar algo comum ao que parece irrecusavelmente dividido, enquanto a genialidade é a invulgar capacidade de construir um mundo, cada génio o seu, onde passa a viver no mais completo isolamento, e solidão.



(...)




Digo rosa e digo qualquer rosa e todas as rosas no universo inteiro. Porque as palavras são a primeira manifestação do espírito, o que pertence, não ao mundo, mas sim ao que está fora do mundo para poder falar dele, dando sentido ao que por si não tem qualquer sentido, uma estonteante acumulação de factos e mais factos. As palavras têm asas, e voam, por isso mesmo que são, não isto ou aquilo, mas sim o voo entre isto e aquilo, entre tu e eu, intrépidas sobre os abismos, ligando o que está separado. 




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O texto pertence ao livro Espécie de Amor de Pedro Paixão.


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A menina lá em cima é russa, chama-se Alisa Sadikova e tinha na altura 9 anos, quando tocava harpa, em 2012, no St. Petersburg State Conservatory: The Fountain Marcel Lucien Grandjany.


E aqui ficam os meus agradecimentos ao Estimado Leitor que tão gentilmente me enviou este vídeo.

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As fotografias são de Man Ray.

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segunda-feira, dezembro 16, 2013

E agora, para ver se levanto o ego dos meus leitores-homens... um filmezinho que mete uma toalha em volta de um corpo nu e etc e tal


Já que as evidências de que os homens são mais espertos que as mulheres não são muitas, aqui deixo um filmezito que parece querer provar a superioridade mental dos homens.

No entanto, aqui lhes deixo um aviso de amiga: fiem-se na Virgem e não corram...



(Dou-te 200 euros se tirares a toalha... - diz ele à mulher do outro)

terça-feira, julho 16, 2013

O que é que o público tem a ver com a vida privada das pessoas que têm uma vida pública? Nada. Nada! E, no entanto, na hora de julgar, as virgens ofendidas saltam todas para exigir a punição daqueles que 'pecam'. Vem isto a propósito da entrevista de DSK concedida à CNN: Dominique Strauss-Kahn, ex-director geral do FMI, (actual presidente do Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento Regional da Rússia), a esta hora poderia ser Presidente de França ou continuar à frente do FMI, não tivesse sido a dificuldade em controlar a sua pulsão sexual e não fosse a consequente crucificação na via pública. Faz isto algum sentido? Pergunto. [texto revisto]



Eu também sou assim: homens inteligentes são uma tentação. E, como, geralmente, com a inteligência vem o sentido de humor, ainda mais me encanto. Adoro que me façam rir. E, se for um homem inteligente a fazer-me rir, então, que coisa agradável que é. E se a isso os homens juntarem uma pitada de irreverência, então, a coisa começa a ganhar um picante quase irresistível.

Sempre fui mais de bad boys do que meninos certinhos. 

O meu primeiro namorado era um caso complicado de bad boy, um malandro, um desafiador, um menino-família que se portava muito mal, muito, muito mal, e as duas noites passadas na esquadra eram, para mim, um feito que o faziam instalar-se definitivamente no meu coração. Andávamos volta e meia de candeias às avessas, a paixão era excessiva, mas, da mesma forma incendiária como nos desentendíamos, da mesma maneira logo fazíamos as pazes e era uma ternura sem fim, um amor eterno. Era de uma inteligência fulgurante, fazia-me rir, fazia-me tremer com as suas provocações e maus comportamentos, fazia com que o meu corpo se revolteasse só de o ver vir na minha direcção.

O namorado que se seguiu era o oposto, bem comportado, muito educado, um encanto para as tias e avós, não me lembro que tenha feito alguma vez um único disparate. Era inteligente, tinha sentido de humor mas era muito by the book, não sabia o que era a irreverência. Não correu bem, como é claro.

O terceiro que chegou como quem chega do nada - e eu não sabia mesmo quem era, como se chamava, ao que vinha - era um revolucionário. Desmedido, provocador, sedutor. Inteligente, sempre a surpreender-me, sempre a fazer-me rir, sempre a desafiar convenções, regras, sempre disposto a correr todos os riscos. Fiquei com ele, está bom de ver.

Mas isto são os homens para meu uso privado.

No entanto, para uso público, é ainda assim que eu os prefiro: inteligentes, com sentido de humor, criativos, irreverentes, desafiadores.

Vem isto a propósito da excelente entrevista à CNN que DSK concedeu há dias e de que as televisões têm passado excertos.




DSK, um homem inteligente por quem os franceses
não se importarão de esperar


O homem é um touro, basta vê-lo a andar, basta vê-lo a conversar com uma mulher, todo ele um sorriso feito de malícia. E sabendo-se da sua inteligência auto-confiante, imagine-se o efeito sobre as mulheres. Contam os testemunhos: uma libido heterodoxa, o gosto pela conquista, a falta de censura interna sempre que o hiperactivo pénis fala(va) mais alto. Festas, orgias, tentativas pouco oportunas - diz-se de tudo. Não sei se é verdade, se há exagero. Mas admito que há um fundo de verdade em tudo o que se diz.

E, no entanto, não me sinto chocada e, muito menos, acho que, por isso, deve pagar e perder as chances de ser presidente de França, director geral do FMI ou o que quer que seja.

Claro que assumo que, apesar de ser um touro sempre pronto a entrar em acção, DSK não é um violador ou um perigoso assaltante da virgindade feminina ou que não compra silêncios com dinheiro. Se fosse, deveria estar na cadeia. Mas creio não ser esse o caso (pelo menos está em liberdade, creio que ilibado das acusações). Será um libertino e isso, francamente, não me incomoda. Dará um fantástico personagem do filme que rodarão sobre ele e, olhando-o como um elemento no meio da ficção, as pessoas apaixonar-se-ão por ele.

DSK era casado com uma mulher cosmopolita, Anne Sinclair, que certamente sabia as coisas de que o touro insubmisso era capaz. Assunto lá deles.




Anne Sinclair, a bela ex-mulher de DSK


O que não vejo, mas não vejo mesmo, é em que é que os desacatos penianos de DSK podiam prejudicar quem quer que fosse (para além dos envolvidos ou respectivos cônjuges). Decerto, depois das suas aventuras estaria muito mais feliz e motivado para trabalhar melhor. Tenho conhecido grandes profissionais que não se ensaiam nada para dar uma pulada de cerca e isso em nada prejudica o seu desempenho profissional - muito pelo contrário.

Não estariam a França e a Europa bem melhores se fosse ele o presidente e não com o Hollande? Ou se a sua visão e liderança ainda se fizessem sentir no FMI?

Por isso, foi com gosto que, na entrevista na CNN, o vi assumir com frontalidade, peito feito, sorriso confiante no olhar, o que lhe sucedeu. Problema com mulheres? pergunta o entrevistador. Nenhum. Claro.

Claro que também gostei de o ouvir dissertar sobre a globalização e de como a Europa não se soube preparar para ela, dissertar também sobre a austeridade, sobre as fracas lideranças da Europa - e é de uma lucidez e de uma frontalidade assim que andamos bem precisados. 

Mas disso talvez fale noutra altura. 


Hoje a conversa aqui tem a ver com este nosso mundo de devassa,

  • em que os serviços secretos dos países espiolham as caixas de correio, as chamadas telefónicas e os sms, os facebooks e os twitters e o que mais lhes aprouver,
  • e tudo sem regulação, e tudo sem que ninguém se preocupe;
  • em que se aceita que gente sem moral ou escrúpulos empobreça os países e destrua futuros de muita gente, 
mas que, depois,

  • se aceita que uns quantos, armados em moralistas, não descansem enquanto não afastam quem apenas se limita a ter uma vida privada pouco ortodoxa, pouco iconoclasta, mas que não prejudica ninguém.


Porque é assim, com mentalidade de sacristia, com a mediocridade à solta, com moralismos bafientos fora das gavetas, com ânsias persecutórias, com os media a darem voz aos novos inquisidores e papagaios para todo o serviço, que se vão triturando e rejeitando os melhores.

Acabam por sobrar apenas os Tozés deste mundo, os Hollandes, os Passos de Massamá, os Rajoy. Muito diferentes entre si, é certo, uns com as mãos sujas, ou com os bolsos atafulhados, outros com esqueletos no armário, outros limpinhos e inocentes como meninos do coro. Mas, em todos, a mesma ausência de visão estratégica, de liderança forte, de rasgo, de golpe de asa. Terão em comum o serem sexualmente contidos. Mas, caramba, o que é que o mundo ganha com isso?


DSK à CNN: I have no problem with women


E eu que sou mulher, pessoalmente, também não tenho nenhum problema com o DSK. Pelo contrário, acho um desperdício para a União Europeia que ele esteja agora a trabalhar para a Rússia

E vejam-se os motivos da contratação que os próprios enunciam:

O ex-diretor do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn,  presidirá o Conselho de Administração do Banco de Desenvolvimento Regional da Rússia, órgão pertencente à maior empresa petroleira do país, a Rosneft. Especialistas do setor financeiro disseram que a figura do executivo tem um importante valor para a instituição, pois, mesmo tendo renunciado à direção geral do FMI por denúncias de abuso sexual contra uma camareira de hotel, representará uma garante de estabilidade e respeitabilidade perante o mundo.


Ele há com cada paradoxo...!


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E por aqui me fico agora. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira.

sábado, janeiro 05, 2013

O que é a inteligência? Sabe-se agora que o QI é muito enganador, é um indicador com falhas básicas. E, ainda, a inteligência emocional, sem a qual um génio erudito não passará de um pobre infeliz. E, de passagem, confesso algumas das minhas limitações.



O que é a inteligência? 




Debato-me frequentemente com essa dúvida quando vejo pessoas que tenho por inteligentes a fazerem coisas completamente estúpidas. Em contrapartida, surpreendo-me com as opções acertadas de pessoas que tenho por, de certa forma, intelectualmente limitadas.

Em relação a mim própria tenho dúvidas. Ponham-me à frente aqueles testes irritantes com progressões de triângulos, rectângulos, bolinhas meias pintadas para ver o que se segue, e acerto as que calharem pois não tenho paciência nenhuma para aquilo, a partir de certo ponto já respondo ao acaso, absolutamente ao acaso. 



Este é de caras...



Mas este já é daqueles que começa a chatear...


E, no entanto, deve haver quem consiga concentrar-se a tentar decifrar aquela parvoíce toda e responda acertadamente. Ora eu acho que só um totó é que desbarata o seu precioso tempo com uma palermice que não interessa ao menino jesus. Acho eu, pois com certeza os testes de QI declararão esse totó muito mais inteligente que eu - e não digo que não seja.

Um outro aspecto que, fosse eu moça para isso, me deixaria inferiorizada é a minha quase incapacidade de, a meio de conversas, fazer citações de cor, referir em catadupa nomes de livros e autores, invocar personagens literárias ou cinéfilas pelo nome, coisas do género. E, no entanto, até tenho uma memória razoável e até sei umas coisas, só que, estando a conversar, numa boa, elas não me aparecem com precisão académica, assim do nada (além disso, também tenho algum pudor, receio parecer que estou a armar ao pingarelho). Mas já, se estiver a escrever, as ideias fluem a bom ritmo e, se me falha algum pormenor, facilmente o repesco com a ajuda do Google. 

Mas tenho amigos e colegas que, a conversar, parecem enciclopédias falantes. Serão eles muito mais inteligentes ou intelectualmente aptos do que eu? Se calhar são.



Atenção que isto é conversa do Oscar Wilde, não minha...


Em contrapartida, o que dizer de pessoas que parecem inteligentes, umas sabichonas emproadas, transpirando semântica e erudição em geral por tudo o que é poro, e que, afinal, têm uma vida cinzenta, apagada, amargurada, ou seja, pessoas que, aparentemente, não têm a inteligência suficiente para gerir a sua própria vida?



Atenção que isto também não é coisa minha, é do Schopenhauer....
Eu não tenho nada contra gente erudita.


&

Parte da resposta a estas questões pode ser vista num estudo publicado há poucos dias na revista Neuron, Fractionating Human Intelligence, da autoria de Adam Hampshire, Roger R. Highfield, Beth L. Parkin, Adrian M. Owen e de que o site Ciência Hoje dá conta.

A investigação baseou-se num estudo de campo sobre mais 100 mil participantes de todo o mundo que foram submetidos a testes de memória, raciocínio, atenção e capacidade de planeamento. 

Este estudo revelou que a inteligência é, de facto, muito mais do que o que se consegue medir através de um indicador tal como o QI, o coeficiente de inteligência, coeficiente este que se costuma medir, justamente através de baterias de testes nos quais se incluem as acima referidas sequências e charadas. 

O que este trabalho nos diz é que a inteligência deve ser analisada, pelo menos, em três componentes distintos, a memória de curto prazo, o raciocínio e a habilidade verbal. 



As cores com que o nosso cérebro se ilumina


A cada um destes aspectos correspondem circuitos distintos no cérebro que foram mapeados e identificados através de scanners cerebrais.

Ou seja, o estudo deixa claro que medir a inteligência unicamente segundo um dos aspectos ou através dos testes que conduzem à obtenção do QI é totalmente errado.

Com um número tão extenso de participantes no estudo foi também possível relacionar as respostas com idade, estado físico, hábitos, etc. as conclusões retiradas são inúmeras. Por exemplo, Hampshire diz que os fumadores têm um desempenho reduzido a nível de memória de curto prazo e de habilidade verbal enquanto as pessoas que sofrem frequentemente de ansiedade têm dificuldades a nível de memória de curto prazo.  

A estes aspectos deve ainda acrescer o aspecto do lado emocional do comportamento ou seja, aquilo a que se chama inteligência emocional e que é tão determinante como a inteligência dita racional.




Transcrevo da wikipedia uma possível definição de inteligência emocional: "...a capacidade de perceber e exprimir a emoção, assimilá-la ao pensamento, compreender e raciocinar com ela, e saber regulá-la em si próprio e nos outros." (Salovey & Mayer, 2000).

Daniel Goleman um dos mais conhecidos especialistas em inteligência emocional diz que para ele, a inteligência emocional é a maior responsável pelo sucesso ou insucesso dos indivíduos. Como exemplo, recorda que a maioria das situações de trabalho é envolvida por relacionamentos entre as pessoas e, desse modo, pessoas com qualidades de relacionamento humano, como afabilidade, compreensão e gentileza têm mais chances de obter o sucesso.

Segundo ele, a inteligência emocional pode ser categorizada em cinco capacidades:


  • Auto-Conhecimento Emocional - reconhecer as próprias emoções e sentimentos quando ocorrem;
  • Controle Emocional - lidar com os próprios sentimentos, adequando-os a cada situação vivida;
  • Auto-Motivação - dirigir as emoções a serviço de um objectivo ou realização pessoal;
  • Reconhecimento de emoções em outras pessoas - reconhecer emoções no outro e empatia de sentimentos; e
  • Habilidade em relacionamentos inter-pessoais - interacção com outros indivíduos utilizando competências sociais.

As três primeiras são habilidades intra-pessoais e as duas últimas, inter-pessoais.



Coloco esta imagem embora saibamos agora, preto no branco,
 que o  lado racional não se mede apenas pelo QI
(ou IQ, consoante seja em português ou inglês)


Ou seja, a falta de inteligência emocional explica porque, por exemplo, pessoas com boa memória, bom raciocínio e boas capacidades de exposição sejam depois umas inaptas na sua vida pessoal ou social. 

Quantas pessoas não conhecemos que, tendo tudo para ter uma vida bem sucedida, por incapacidade de compreensão dos outros, ou por incapacidade de controlo das suas próprias emoções, tomam atitudes precipitadas, desajustadas e, com isso, condicionam gravemente a sua vida?

Ou seja, para resumir, ou melhor, para atalhar - porque não sou especialista na matéria nem estou aqui para dar lições a ninguém, muito menos do que sei apenas pela rama - o que me parece importante é que tenhamos noção da diversidade dos aspectos intrínsecos que influenciam o comportamento das pessoas, não subestimando levianamente os outros, dando a cada uma a possibilidade de se valorizar naquilo em que é melhor e compreendendo o que as leva a não serem tão boas noutros aspectos, se possível ajudando-as a compreenderem os seus pontos fracos e a aproveitarem bem os seus pontos fortes.

A vida é plural e o nosso cérebro também. E, no fim de tudo, o que interessa é que, com mais ou menos limitações, nos sintamos felizes e façamos felizes os que estão à nossa volta.

(Conversa da treta?! Talvez. Ou então sou eu que sou pouco inteligente...)



Mas, se assim for,  isso não me tira a boa disposição e, para mim, está bem assim.

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Se não for pedir de mais, gostaria ainda de vos convidar a irem até ao meu Ginjal e Lisboa. Hoje a minha voz atravessa o silêncio junto às palavras de Herberto Helder. A música é mais um momento feliz, Jorge Palma com Cristina Branco, num arranjo do maestro Rui Massena. Uma maravilha, verão.

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E, por hoje, é isto. Tenham, por favor, um belíssimo sábado, está bem?