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terça-feira, fevereiro 18, 2020

Muito mal, Miguel Sousa Tavares, muito mal.
À sua conta e à da TVI, o André Ventura subiu mais uns pontos nas intenções de voto.



Ontem, por todos os canais onde se passava, lá estava o ataque à civilização e o Marega e os que não tinham apoiado o suficiente o Marega e mais o racismo!, racismo!, e a repugnância, e o fim da picada.

Parei as minhas leituras e fui ver de que se tratava: Marega, um jogador negro de aspecto possante, foi apupado e insultado e, muito compreensivelmente, fartou-se. E, mostrando que os tem no sítio, mandou os racistas irem dar banho ao cão e saíu do campo. 


Foi isto. A coisa conta-se, pois, em duas penadas -- e o repúdio, sendo veemente e convicto, em menos que isso. 

Pois hoje continua a não se falar noutra coisa. O tema devorou o coronavírus e a eutanásia. Um enxame de #somos.todos.marega e #abaixo.o.racismo.no.futebol invadiu os media. As televisões estão cheias de comentadores exaltados, todos na mesma, em roda: a mastigar, a regurgitar, a voltar a mastigar, a comerem o regurgitado uns dos outros -- em non stop.  Falam, falam e não acrescentam nada. Até porque não há mais nada a acrescentar. A argumentação perde eficácia quando repisada ad nauseam.

Depois, noutros fóruns, discute-se se somos ou não somos racistas. Diz-se de tudo. E tudo é verdade e mentira ao mesmo tempo pelo que vale dizer tudo e o seu contrário. Uma discussão fútil levada a cabo por gente que parece descerebrada. Parece que é preciso pôr um rótulo colectivo e, como não é fácil pôr o mesmo rótulo na cabeça de dez milhões de pessoas, não saem do mesmo sítio. Em algumas pessoas, parece haver necessidade de auto-punição como se, pelo facto de uns serem racistas, todos termos que ser. E, uma vez mais, com generalizações, lá se perde a eficácia e objectividade da argumentação.
Ainda hoje, um conhecido meu, ao falar numa outra situação que nada tem a ver com o futebol, dizia que tinham arranjado 'meia dúzia de pretos' para irem fazer um certo trabalho. Devo ter feito uma cara de espanto pois caíu nele e disse, a rir: 'Caraças, ainda aparece para aí um Marega a chamar-me racista'. 
Ora eu, do que lhe conheço, não consigo dizer que seja racista. É ultramontano e bota de elástico, é provinciano e, cá para mim, tem um parafuso a menos. Mas posso concluir que os portugueses, no seu conjunto, são racistas lá porque um zé-cueca se sai com uma parvoíce daquelas? Claro que não. Por cada um que se sai com tiradas parvas há outros tantos e muito mais que conseguem falar sem dizer parvoíces.
Agora uma coisa que eu acho ainda mais parva, mas mesmo completamente parva, é o Miguel Sousa Tavares, no noticiário da TVI, ter lá levado o André Ventura para o confrontar sobre este tema e sobre a sua reacção. 

Um bailarico. O André Ventura pôs o Miguel Sousa Tavares a rodopiar, a dançar de fininho.

O André Ventura não é parvo. Tem boa memória. É uma verdadeira picareta falante. E não tem escrúpulos. Como bom populista que é, mistura coisas acertadas, fáceis de perceber, coloca-se do lado do zé-povo -- os simples, os bons, os que dizem as verdades -- e contra os intelectuais e políticos que têm a mania que são inteligentes e que só querem mostrar a sua superioridade perante o dito zé-povo. E, logicamente, o que sai dali é um cocktail bom de beber, que escorrega que nem ginjas pela goela dos incautos, ingénuos, desiludidos da vida, rebeldes sem causa.

Portanto, se o Miguel Sousa Tavares pensou que ia enquadrar o André Ventura, esteve muito longe de o conseguir. O que levou foi uma abada. Perante um André Ventura desenvolto e aguerrido, sempre colado ao povo, o que se viu foi um Miguel a ouvir e calar, incapaz de conter a torrente verbal do grande demagogo que é o Ventura. 

Façam muito mais favores destes ao Chega, façam, e depois venham ganir baixinho e chuchar no dedo sem saberem o que fazer perante a ascensão do bicho. Continuem a dar-lhe palco e verão como, num ápice, ele papa o CDS, devora as pernas ao PSD e se torna charneira na Assembleia. 

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Ai Chega, Chega...

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[E queiram descer um pouco mais caso queiram saber de mais uma do 'alarmismo militante da TSF']

quarta-feira, janeiro 29, 2020

Miguel Sousa Tavares praxou o Chicão


Vi a entrevista na segunda à noite, aos bochechos, enquanto acordava e adormecia: na TVI, no noticiário, o Miguel Sousa Tavares praxava o jovem Chicão. Fazendo cara de mau, o Miguel fez uma entrada a pés juntos. O rapazito esgueirou-se, tentou ripostar, tentou a lisonja, mostrou a inocência dos inexperientes. Face a isso, o Miguel, certamente pensando que o jovem é mais novo que os seus filhos, apiedou-se, quase sorriu com as gracinhas do puto, refreou o killing instinct.

O rapazito, com um bonito olhito azul (aliás, com dois), lá se foi desculpando entrevista afora. Às tantas, não querendo mostrar muito mais o seu coração mole, o Miguel tentou armar-se em mau: 'As listas são só de homens. Não gosta de mulheres?'. Truque fácil: sabe que todos os adolescentes temem que questionem a sua sexualidade, ainda por cima em público. O Chicão vacilou mas foi coisa de um breve instante. Assumiu a culpa: trabalho feito à pressa, não tinha tido tempo. O aluno impreparado a espalhar-se na prova oral, o velho professor a passar rasteiras a toda a hora. E nem percebeu, coitado do rapaz, que não foi preciso muito. Para verdinhos, todo o salpico na estrada é casca de banana.

No fim, quando a entrevista acabou, poor boy, quase se sobressaltou, nem estava à espera, já tinha interiorizado que ia sair dali com as tripas de fora. Intimamente deve ter pensado: 'Uffff, sobrevivi...'. Aposto que, a seguir, ligou aos pais e à namorada a perguntar como o tinham achado, se achavam que tinha passado. 

in Flash
E, no rescaldo do grande momento, o que tenho a dizer é que o puto Chicão ainda não está pronto para o mundo dos crescidos. Fiquei também com a ideia que, em pequeno, deve ter calhado meter-se na Jota dos Betos e, por isso, formatou-se para ser de direita. Mas fiquei com a ideia que, no fundo, aquilo ali ainda está em formação e, bem trabalhadinho, guinava à esquerda que era uma pinta. Aliás, ficava bem era ao pé dos gatos do PCP.

Mas uma coisa é certa: talvez por ser bonito (ou melhor, enquanto é bonito), talvez por ter carisma (ou, pelo menos, a graça dos infantes), talvez por parecer que pode dar para vários lados (calma, ó Chicão, refiro-me aos lados políticos), a gente fica com vontade de ver para onde é que aquilo vai evoluir.

Só espero é que aquela que tem pinta de bruxa-má não dê cabo dele para continuarmos a vê-lo com o dentinho encavalitado todo sorridente. Tirando isso, é ver como se esquiva à corte que o láparo, esse inteligente, começou a fazer-lhe. E, por ora, mais nada.

terça-feira, maio 07, 2019

António Costa no Jornal das 8 da TVI com Miguel Sousa Tavares -- aquele toque de qualidade que faz toda a diferença: um grande político, um grande jornalista.
[Boa entrevista também ao artista-sindicalista Pedro Pardal Henriques]


Segundo Pedro Pinto e Miguel Sousa Tavares informaram, a TVI convidou também Assunção Cristas e Rui Rio --- mas ambos declinaram apesar da TVI lhes ter dito que enviaria entrevistadores onde eles estivessem.

Percebe-se. O melhor agora é fazerem-se de mortos, caladinhos, na moita. 

Mas na volta, com a fraca cabeça que mais uma vez demonstraram neste lindo servicinho, a Cristas e o Rio acham que, se Marcelo está em silêncio, então o melhor é seguirem-lhe o exemplo -- e não percebem que entre eles e Marcelo vai uma certa distância. 

Mas isto para dizer que, à entrevista, só compareceu António Costa. E, entre o Pedro Pinto e o Miguel Sousa Tavares, António Costa esteve outra vez seguro, convincente, confiável.

E a graça de todo este processo é ver-se tudo o que é comentador, incluindo os mais ferozes anti-PS, agora a louvarem o político de mão cheia que é António Costa. Todos, mesmo os que costumam triturar o PS e idolatrar a direita, agora enaltecem a inteligência, a segurança e rigor de António Costa. Estou até estupefacta com a vénia que lhe fazem. Dá ideia que viram a luz. 

Em contrapartida, todos dão tareia, mas tareia a sério, no Rio e seus seguidores e na Cristas e seus seguidores. Só lhes falta fazerem a mímica do vómito: chamam-lhes amadores, irresponsáveis, desajeitados, inconsequentes, fazem sorrisos de desprezo. 

Só posso concluir que estes comentadores são também pouco inteligentes pois foi preciso a Cristas e o Rui terem feito porcaria da grossa para perceberem o que, desde sempre, esteve à vista.

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Abro aqui um parêntesis para mostrar a cena da malta à volta da mesa, as esquerdas e direitas encostadas, a cozinharem em conjunto o lindo caldinho que eram para dar à boquinha do Nogueira mas que, afinal, serviram foi de bandeja ao Costa.

Sempre que algum dos líderes envolvidos na Última Ceia vierem com conversas da treta, alguém deverá mostrar-lhes esta fotografia: o bando dos quatro, PCP, BE, PSD e CDS, reunidos para verem como melhor darem um tiro nas contas públicas.

Os cozinheiros do absurdo
(que acabaram aos tiros nos próprios pés):

Do Eco:
 Da esquerda para a direita (sem conotações políticas) na foto (em cima) estão: Ilda Araújo Novo do CDS-PP; um funcionário parlamentar de gravata azul; Ana Rita Bessa também dos centristas; Ana Mesquita do PCP no centro da fotografia; Joana Mortágua do Bloco do Esquerda em pé; Margarida Mano do PSD ao lado da assessora do partido para a área da Educação Eugénia Gamboa (em pé); e, por fim, Pedro Alves, deputado do PSD.

E, para trazer aqui um apontamento de elegância, agora, o que poderia ser uma recriação da cena à volta da mesa -- mas em bom:

The Statement


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Retomo o Jornal das 8 na TVI


E Miguel Sousa Tavares, que esteve lindamente com António Costa, esteve também muito bem com o artista Pardal, o sindicalista-motorista que nunca foi motorista. E assim ficámos a ter a certeza de que aquela reivindicação assente na suposta miséria que ganham os motoristas, só uns euritos acima do salário mínimo, afinal  não é nada disso já que, em cima do ordenado base, há subsídios de tudo e mais alguma coisa e, se bem percebi, no mínimo ganham mil e muitos euros, podendo chegar aos quatro mil.

E ficámos também a saber, por uma simples conta, que aquela conversa de que todos os motoristas (bem, rectificava ele, todos não, a maioria, bem, a média, bem...) fazerem dezoito horas por dia era, afinal, também não é bem assim já que tudo se resume a alguns fazerem, de vez em quando, algumas horas extraordinárias, supostamente, as que se encontram cobertas pela lei e reguladas por equipamentos que têm nos camiões e que são fiscalizados.

Miguel Sousa Tavares, com distanciamento e calma, só com uma ou outa pergunta e desmentindo-o quando a mentira era mais descarada, conseguiu desmascarar a criatura. Um exemplo do que é fazer bom jornalismo

Uma palavra também para a sobriedade e simpatia de Pedro Pinto, um senhor. Estou em crer que este convívio, às segundas-feiras, com o Miguel Sousa Tavares no noticiário das oito vai fazê-lo crescer ainda mais do ponto de vista profissional.

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Ainda só mais um aspecto que nem tem a ver  com isto. Ouço por aí, aos comentadores e papagaios avençados, que a campanha do PS nas Europeias estava a correr mal. Ai é? Estava a correr mal? A sério? Onde? É que, tanto quanto julgo saber, as sondagens não dizem isso (nem é essa a minha percepção). 

Volto a dizer: quando as pessoas confundem a sua vontade com a realidade, geralmente estampam-se. Ou alguém de bom senso acha que a campanha do Nuno Melo e a do Rangel é que estão a correr bem? 

Vamos ver quem é que vai dar com os burrinhos na água. Estaremos cá para fazer o balanço no dia das eleições.

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Dando-me pretexto para me armar em La Palice dizendo que:
nem tudo o que parece é  
        e que

as pessoas evoluem
resolvi 'enfeitar' o texto com imagens que mostram trabalhos que podem não parecer mas são de Piet Mondrian

[E agora até me ocorreu que tenho mesmo que perder uns três ou quatro quilos para que a blusinha que comprei no Rijksmuseum, com aquele belo padrão de uma das suas pinturas mais conhecidas, volte a assentar-me como deve ser. Parecendo que não tenho este meu lado coquette...]


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Pode ser que ainda cá consiga voltar mas não garanto pois agora, sem falta, tenho que ir ali tratar de um assunto 


segunda-feira, junho 18, 2018

Para que ela saiba que continuo a escutá-la


[Este é o amor das palavras demoradas
Moradas habitadas
Nelas mora
Em memória e demora
O nosso breve encontro com a vida]

Quando a visitava e estava sozinha, ela, assim que me via, abria um sorriso que me deixava prostrado de felicidade e de remorsos por a visitar tão menos quanto devia e queria ou podia. Mas ela nunca reclamava, sabia e compreendia. 

Ao princípio, falava muito, queixava-se do país, da política, disto e daquilo, do mau tempo, da falta de sol e de luz. 

Depois, se eu estava de regresso de alguma viagem, queria saber tudo. Embora me tenha dito uma vez uma frase que já citei algures ('Miguel, viajar é olhar'), não queria ver fotografias algumas, que eu não levava, aliás: queria apenas que eu lhe contasse o que tinha visto, como se ela pudesse então ver também. 

[Eis aquela que parou em frente
Das altas noites puras e suspensas.

Eis aquela que soube na paisagem
Adivinhar a unidade prometida:
Coração atento ao rosto das imagens,
Face erguida,
Vontade transparente
Inteira onde os outros se dividem]

Mais do que tudo, intrigavam-na as minhas frequentes viagens ao deserto:

- Mas o que há no deserto, Miguel?

- Nada, mãe.

- Nada?

- Nada. Areia e pedras. E, à noite, há estrelas.

Calava-se, então. Essa era uma das suas características mais pessoais: podia calar-se a meio de uma frase de um interlocutor e ficar assim, como se tivesse partido para outro planeta, sem aviso.

[Devagar, devagar, em frente à luz,
Carregado de sombras e de peso,
Arrancando o seu corpo da raiz.

No extremo dos seus dedos nasce um voo
No vértice do vento e da manhã
Uma asa vai perdida dos seus dedos]

Quem não a conhecia bem, ficava sem chão, sem saber o que fazer. Mas eu sabia, também aprendi com ela que saber partilhar o silêncio é a forma mais íntima de estar com alguém. E, na verdade, por maior que seja o silêncio, nunca deixou de falar comigo. Quanto mais não seja nos poemas que deixou nas páginas dos seus livros, alguns dos quais escrevi nas paredes da minha casa para que ela saiba que continuo a escutá-la.

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Não é primeira vez que aqui tenho estes vídeos mas, se puderem, mesmo que também já os tenham visto, por favor vejam




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Excerto do livro Cebola crua com sal e broa, da infância para o mundo, de Miguel Sousa Tavares
Fotografias feitas este domingo in heaven onde se podem ver poemas de Sophia escritos em azulejos
Primeiro vídeo: "Sophia de Mello Breyner Andresen -- O Nome das Coisas"
Segundo vídeo: Sophia de Mello Breyner Andresen de Joao César Monteiro 

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quarta-feira, julho 12, 2017

As teses de Vasco Lourenço sobre o roubo de Tancos e a sua opinião sobre Miguel Sousa Tavares e sobre os jornalistas em geral.
E, de passagem, a opinião do meu marido sobre os conhecimentos de segurança de Pedro Mexia.
E a minha opinião sobre toda a espécie de papagaios pimpões que se alaparam ao comentário profissional e dali não saem, apesar de já não os podermos ver ou ouvir


No outro dia, íamos de carro e, ao fazer zapping radiofónico, o Pedro Mexia. Falava do roubo de Tancos e opinava em tom convicto dizendo coisas que, com aquele seu ar de rapaz culto e sensato, quase pareciam fazer sentido. Mas tive dúvidas que fizessem. Eram basicamente lugares comuns enroupados pelo seu tom conservador e moralista a que, o tempo excessivo como opinador, já dá um sabor a ranço populista. Logo o meu marido deitou a mão à rádio e mudou de canal, vociferando: 'Mas o que é que este gajo sabe de segurança, pá...? O que é que ele sabe de guardar uma instalação militar?! Falam sobre tudo e acabam a só dizer m..'.


Dei-lhe razão. Muito sinceramente já não consigo ouvir aquelas três araras, semana após semana, a disfarçar a sua ignorância ou futilidade com ironia bacoca, com um humor já usado e relho, com tiradas que tentam arremedar alguma cultura mas que mais parecem coisa de pipoca metida a besta. João Miguel Tavares, Pedro Mexia ou Ricardo Araújo Pereira não passam hoje, para mim, de três papagaios que repetem as mesmas larachas seja qual for o tema.


Outro que eu até gostava de ouvir, o Pedro Adão e Silva, tanto se desunha a opinar -- na televisão a toda a hora sobre actualidade, mas também sobre futebol, sobre música, e também na rádio, nos jornais -- que já enchi. Já chega. Uma picareta falante que, mal lhe dão o mote, desata a produzir opiniões como uma juke box. Não dá. Ou o Pedro Marques Lopes. Outro que tal: repetitivo, banal, saco de vento.


Não costumo ouvir o Miguel Sousa Tavares. Se calhar fala antes de nós, cá em casa, ligarmos a televisão. Como também não compro o Expresso, não o leio. Portanto, não faço ideia do que é que ele anda por aí a dizer.

Mas hoje, na SIC, vi Vasco Lourenço com o Pedro Mourinho e a sua partenaire de quem não sei o nome. E gostei de ver o eterno Capitão de Abril. Nem sempre gosto mas, desta vez, falando de temas que conhece, acho que Vasco Lourenço falou bem.


Disse ele aquilo que a mim me parece óbvio: dificilmente tanto material se rouba num único dia sem que ninguém dê por nada. Um roubo destes não é compaginável com a cena infantil do buraco na vedação, um larápio a fugir com uma granada em cada bolso e uns cartuchos nas mãos. Diz ele que, dada a quantidade do material em falta e não havendo arrombamentos ou violência, não se poderá falar em roubo ou assalto. Melhor chamar-lhe desaparecimento.

E diz Vasco Lourenço que, para ele, ou aquilo foi material roubado ao longo dos tempos e pelo qual ninguém deu (ou fechou os olhos) ou é material usado em treinos ou coisa assim e de que nunca ninguém deu baixa. Diz ele que seria interessante saber se não iria acontecer alguma passagem de testemunho no comando e que tivessem que ser passados os inventários. Diz ele que admite como possível que, estando o inventário de tal forma errado, algum furto teve que ser simulado para disfarçar a gravidade de tamanha incúria. É uma hipótese, diz ele. Outra, mais na linha da teoria da conspiração, é que tivessem engendrado esta macacada para ver se deitam abaixo o governo. Esta, a mim, parece-me um bocado too much. Mas, enfim, há malucos para tudo. Mas, está ele convicto, alguma coisa nesta base foi -- roubo é que não.

E que os responsáveis por isto foram os militares. Frisou: os militares.

O Pedro Mourinho e, ainda mais, a sua comadre de balcão, nem ouviam, só queiram saber se a culpa era do governo. Vasco Lourenço lá fez o enquadramento e lá referiu a responsabilidade política pelas linhas estratégicas do papel das Forças Armadas mas deixando claro o inegável: a responsabilidade por assegurar a segurança das instalações militares é dos militares. Ponto.


Só mais para o fim é que aqueles dois aéreos, fixados que estavam em arrancar a Vasco Lourenço que a culpa era do ministro, lá conseguiram captar o que ele dizia. E ele continuava dizendo que grande parte da responsabilidade na baderna que se armou, enchendo os canais de gente que não sabe nada do que fala, era da comunicação social, de vocês, dizia ele. E referiu o caso de Miguel Sousa Tavares que, segundo o próprio terá dito, nem cá estava e que nada sabe de Forças Armadas mas que, nem por isso, deixou de opinar, só dizendo disparates. Acredito. Miguel Sousa Tavares é outro dos que opina sobre futebol, sobre política, sobre fiscalidade, sobre touradas, sobre incêndios e, de passagem, sobre caça, sobre sentinelas e quartéis. 
E isto degrada a opinião, degrada a inteligência. É como a pornografia que, ao que dizem, queima os neurónios de quem a consome. Esta alarvidade de comentários a eito, dando a palavra a toda a espécie de catatuas, pseudos qualquer-coisa e marionetas para todos os gostos, mina a presciência colectiva. Não se aguenta, digo-vos eu. É que não há quem saiba tudo sobre tudo, por muito oleada que seja a prosa, por muito bem colocada que seja a voz, por muito telegénica que seja a sua presença.
E é isto. Repito-me, sei, mas entendam como um desabafo: não suporto que a toda a hora, sobre qualquer assunto, ad nauseam, as televisões (e as rádios e os jornais) estejam sempre cheias de caga-lumes, de palermas, de papagaios, de gente que vive de opinar, não tendo qualquer rebuço em falar sobre qualquer tema que lhes seja colocado à frente da boca mesmo que não faça a mínima sobre o assunto. 

O meu marido fez tropa durante dois anos e tal. Oficial de Marinha. Numa altura em que já ninguém fazia tropa, recrutaram-no a ele. Não é entendido na matéria mas tem mais experiência das regras nas instalações militares do que meio mundinho de pimpões que por aí anda a falar, sem um mínimo de conhecimentos e sem dois dedos de testa. E, ainda assim, e apesar de ser culto, experiente, de ser sensato e inteligente, de ter uma voz agradável e de ter uma presença bastante simpática, não se sentiria apto a ser opinador a granel. Mas qualquer puto, qualquer descarado, qualquer vendedor de banha-da-cobra, qualquer parvo aceita ser convidado para falar sobre qualquer tema a qualquer hora.

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Uma palavra agora para falar de um senhor que penso ser o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Artur Pina Monteiro. Na conferência de imprensa com António Costa e com o ministro Azeredo Lopes e outros senhores, disse o General Artur que o material roubado (ou parte do material) pouco mais é que obsoleto e que o seu valor não passa de 34.000 euros. Estando eu de fora, diria que também ele está a dizer meia-verdade, a verdade conveniente. Cá para mim, e nada mais é que um feeling,  aquele será o valor líquido daquele material. Sendo material adquirido há vários anos, por valor bem superior a isso, já estará quase totalmente amortizado e, portanto, terá uma valor remanescente baixo. Contudo, esse estará longe de ser o valor da reposição. Digo eu. Mas, enfim, quando se fala para o grande público, sabendo-se o quão relapsa é a comunicação social e quão débeis são as mentalidades de grande parte dos opinadores e avençados, qualquer coisa se pode dizer que ninguém questionará. De qualquer maneira, o que parece é que o fantástico aparato bélico que pareceu estar associado ao material roubado está longe de corresponder à verdade e, mais uma vez, o empolamento ficar-se-á a dever a um fenómeno frequente no micro-clima português: tudo se exponencia quando os pafiosos se juntam, nas suas motivações, aos jornalistas.


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Conclusão: concordo com Vasco Lourenço quando ele diz que esta é uma história mal contada. Provavelmente uma encenação. E digo: se anda o País inteiro enrolado e preocupado com uma história macaca que não passa de uma encenação para limpar culpas de alguém ainda mais sinistro é todo este mundinho mediático em que tudo se exponencia de forma descabelada. Tal como referi quando há uns dias aqui escrevi, penso que há que saber se o que desapareceu saíu na altura em que houve a divulgação do caso ou se aquilo lá é tipo bar aberto e dá para ir tirando aos bocadinhos, ou se, em vez disso, vão usando nos treinos e depois deixa para lá, podes levar para casa, mano, é um recuerdo que pode valer bom dinheiro. Tal como haverá que saber se aquilo saíu em camiões conduzidos por ladrões ou foi saindo às pinguinhas em porta-bagagens (ou mesmo em camiões da tropa...?). Ou o quê. Mas é coisa séria, para investigar a sério. Não é lume mediático para audiências. Não pode ser. Senão acabamos todos consumidos no fogo da estupidez.

E ainda mais desconfortável fico quando se vai sabendo que roubos de armamento, cá pelo burgo, é coisa frequente e que ninguém liga muito para isso. Nem os jornalistas. Até porque os jornalistas só salivam com o osso acabado de atirar: a demissão deste, a demissão daquele, a ministra que chorou e a gente não quer cá gente com sentimentos (por exemplo, os nervos que as lágrimas da ministra Constança Urbano de Sousa causaram à misógina Clara Ferreira Alves...). 


Finalmente: no calor da notícia pedi a demissão do ministro. O meu marido não concordou. A responsabilidade é de toda a linha de comando ligada à guarda do paiol e do quartel, dizia ele. O que é que esses gajos lá estão a fazer? Não é a guardar aquilo...? Se não é, então é o quê? Achas que é o ministro que sabe de quantas em quantas horas fazem rondas ou se há um buraco na vedação? - perguntava ele, irritado.

Seja. Contudo, para mim, tudo isto tem uma responsabilidade política e esta, num caso destes, deve ser assumida. Aliás Azeredo Lopes já a assumiu. É que não pode ficar a ideia que isto é uma rebaldaria, em que desaparece material que dá para encher dois camiões TIR e ninguém dá por nada. Seja um roubo one time shot ou um desaparecimento às pinguinhas, sejam mísseis de última geração ou sejam granadas de há dez anos, tanto faz. Material de guerra tem que estar guardado, à prova de bala. Não é responsabilidade do ministro andar a contar cartuxos mas tem que saber se há inventário permanente e auditorias, se há vigilância e alarmística, se os guardas estão guardados. Etc.


[E espera-se isso sobre os militares a propósito deste filme do roubo de material de Tancos, tal como se espera que alguém se sinta politicamente responsável por zelar por que não haja esquadras pejadas por polícias racistas e torturadores, ou por zelar que os tribunais não estejam infestados por juízes laxistas e abusadores, ou por zelar que a Procuradoria não esteja minada por gente que não se sente responsável por respeitar os cidadãos ou por ser lesta a agir em defesa dos interesses superiores do país. Espera-se isso, mesmo. Eu, pelo menos, espero]

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E um dia feliz a todos quantos por aqui passam.

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segunda-feira, agosto 01, 2016

A reportagem possível num domingo de calor junto à praia
[Antes isto do que falar da entrevista da Teodora Cardoso ao Expresso, ou do coming out peniano do Henrique Monteiro também no Expresso ou do Marques Mendes a querer estragar a vidinha ao Santana Lopes que está tão bem na Misericórdia com um ordenadinho tão jeitoso, com aquela boca de ele ir para a Câmara ]





No post abaixo já falei da vidinha dos muito ricos na América. Ou melhor, vamos lá a falar verdade: falei de uma madame muito muito bronzeada e muito rica que esbanja milhões, que foge ao fisco, que faz caridadezinha, que financia fundações e apoia políticos e que teve à venda um flat que era um miminho e uma pechincha.

E agora estava aqui a hesitar em falar da entrevista dessa malandreca que dá pelo nome de Teodora Cardoso. Mas descurti. Não estou à altura de tão majestática personagem, se ela diz que não se olha para a frente é porque não se olha. Depois pensei falar do Henrique Monteiro que resolveu soltar a franga e dar largas aos pirilaus que existem dentro dele. Que o texto não é ordinário, diz ele. Ok, se ele o diz. Que nem convém que o dito órgão ande demasiado nas bocas do mundo, diz também ele. Está bem, abelha.  O que sei é que achei melhor não me alongar porque não nutro simpatia especial pelo senhor e o tema também não ajudaria. Portanto, adiante. Depois ainda pensei em falar da entrevista do Miguel Sousa Tavares ao DN, na qual aparece com aquele seu ar esbodegado contra uma parede em cor-de rosa-lilás marroquino. Em tempos achei que ele tinha muito charme. Agora já não, parece que virou um canastrão convencido, armado em petulante blasé. Perdeu a graça. Influência da madame-sua-esposa, talvez. Portanto, desisti de falar dele. Finalmente, ainda me apeteceu meter com o pequeno Nóia. Mais um a tirar o tapete ao láparo -- que já ninguém tem pachorra para aquele tom catastrofista e o escambau. Mas a melhor do petiz foi mesmo a de espetar uma alfinetada no Santana que está tão bem onde está, nunca ele esteve tão bem, a ganhar na Misericórdia e na televisão, um pézinho de meia que não é brincadeira, e agora vem o catraio a lançar a ideia peregrina de ele ir para a Câmara. O Flopes até deve ter sentido um calafrio pela espinha abaixo. Aquele Nóia é mesmo um venenozinho em forma de gente. Mas também não me apetece estar a meter-me nas guerrinhas de alecrim e manjerona e nas economias domésticas entre os despojos do psd.



Por isso, fico-me pelas matérias estivais e mostro apenas algumas imagens da Caparica banhada pelo sol neste domingo que se adentrou por Agosto. Nos dias de muita gente na praia não me aventuro. Passeio cá em cima, apanho sol enquanto caminho e vou olhando, de longe, o mar. Não sou capaz de estar na areia rodeada de gente. Tenho um certo lado de bicho-do-mato. E caminhar no meio de uma multidão também não. Ou apanhar um engarrafamento para entrar e sair das praias mais remotas também não. Por isso, antes de irmos petiscar na esplanada do grego, andei como sempre ando, feita turista acidental. O mar muito azul, o céu muito azul, uma aragem que suavizava o calor.

E eu já ia de férias. 

Ia. Mas não vou. Gaita. A ver uns a irem, todos lampeiros, outros já a chegarem, todos no bronze e na boa onda, e eu ainda aqui de pedra e cal. Ninguém merece.

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E relembro: caso queiram colher ideias para decorarem a vossa querida casinha, desçam até ao post que se segue. Eu, por mim, já vi como é que hei-de arrumar os meus sapatos.

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terça-feira, fevereiro 09, 2016

Alô, alô Miguel Sousa Tavares! Eu trabalho numa empresa privada e amanhã, terça-feira de Carnaval, também não trabalho. Apre, MST, que já mal o consigo distinguir do outro, do João Miguel Tavares. Tanto facciosismo e demagogia é para manter o emprego na SIC ou está virado do avesso? Olhe, sabe que mais? Já não o consigo ouvir! E, como deixei de comprar o Expresso, também já não o leio. Vai por bom caminho, vai.


Chegada a casa mais cedo do que é costume, pus-me a ver as notícias. Mas já não estou: ou é futebol ou comentadores a eito. Não se aguenta.

Estava a ver o Miguel Sousa Tavares, na SIC, que falava como se tivesse estado a estudar o Orçamento de Estado e já fosse escolado em Finanças Públicas. Ora, do que ele diz, percebe-se que não deu sequer o primeiro passo: não sabe o que é um orçamento. Um orçamento não é um exercício de divinação: um orçamento é um exercício conjugado de objectivos que se tentam alcançar e que respeita os constrangimentos a que não se consegue fugir.


Quando faço um orçamento (na empresa privada onde trabalho) sinto muitas vezes que me estou a atirar para fora de pé. Mas, se eu quero lá chegar, cabe-me, durante o ano, fazer o que estiver ao meu alcance para o conseguir. Um objectivo é optimista, ambicioso? Ainda bem. Gente medrosa, com medo de falhar, faz orçamentos conservadores. Além do mais, as variáveis interagem umas sobre as outras (por isso são variáveis) e o evoluir favorável ou desfavorável de uma, por inércia, induz efeito sobre as outras. Mas para isso também há gente responsável que age em função dos acontecimentos, podendo agir para anular ou empolar o efeito, consoante o que se pretenda. Ora ouço as maiores boçalidades sobre o Orçamento como se o orçamento fosse a transposição para papel de informações do tarot e como se o Costa, o Centeno ou outros alterassem as ditas informações recebidas quiçá da Maya ou da taróloga Maria Helena. 

Haja paciência.

Mas o que me tirou ainda mais do sério foi quando o Miguel Sousa Tavares (outro que tem mostrado que faz de tudo para manter o lugar de comentador), num afã de dizer mal do Governo, se virou contra a pretensa protecção agora dada aos funcionários públicos, chegando ao populismo de se se virar para o Rodrigo Guedes de Carvalho e perguntar-lhe se, na SIC, lhe tinham dado folga por ser Carnaval. Claro que o outro respondeu que não. Então, o sempre-enfadado Miguel rejubilou com o brilhantismo da argumentação: ora se a SIC não fecha para Carnaval como podem os funcionários públicos não trabalhar?

Claro que, com esta anormalidade, desliguei a televisão. Há uma característica comum nesta chusma de comntadeiros: ou julgam que estão a falar para gente burra ou, então, são eles que não devem muito à inteligência. 

Mas agora aqui estou para dizer umas coisinhas ao cagão do MST, e vou dizer devagarinho.

1. Nas empresas privadas que deram tolerância de ponto no dia de Carnaval, mantêm-se a trabalhar as pessoas que têm que manter as instalações a laborar, nomeadamente em instalações fabris em regime contínuo, por exemplo. Mas, de todas as que conheço e que, por sorte, são geridas por gente com dois dedos de testa, foi dada tolerância a quem, não trabalhando, não prejudica a missão e os resultados da empresa. 

2. Contudo, nos hospitais privados e públicos mantêm-se a trabalhar os que exercem funções necessárias ao funcionamento regular dos serviços -- e, em alguns casos, também as funções administrativas. 

3. Os polícias devem também manter-se em funções e não é por serem funcionários públicos mas, também, pela natureza das suas funções.

4. Da mesma forma, quem trabalha nos centros comerciais  trabalhará porque é bem capaz de ser dia forte de consumo -- e é por isso que trabalham. Mas, provavelmente, quem trabalha nos escritórios não trabalha.

5. E no Brasil? E em Veneza? Achará o catavento Miguel Sousa Tavares que os governos brasileiros ou italiano dão tolerância às populações porque são parvos? Ou porque o longo braço do Costa chega até lá?

Ou será porque é bom para os respectivos países?

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Ou seja, não é por serem privadas ou públicas que as organizações dão tolerância aos trabalhadoras no Carnaval.

Dão-no porque, não se tratando de funções nevrálgicas, não é um dia que faz a diferença na produtividade das organizações. Isso está previsto desde o início e a planificação das actividades tem isso em consideração.

Dão-no porque toda a gente tem direito ao descanso, à diversão, à comemoração de festividades.

Dão-no porque a actividade económica pode ser mais estimulada com um dia de festejos do que num dia normal.

Dão-no porque, por todo o lado, o Carnaval é um dia de descompressão (menos do que devia ser, porque está cada vez mais formatado) e momentos assim são saudáveis nas sociedades. 

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Em tempos, Miguel Sousa Tavares era uma presença interessante na televisão. Agora é um maçador, um demagogo, um enjoado que dá sono, que não acrescenta informação ao telespectador nem valor a quem o contrata. Lamento dizê-lo com esta frontalidade mas é o que penso.


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Entretanto, umas horas depois de ter publicado o post, recebi por mail a referência a um esquecimento meu. Não me esqueci mas achei que o texto já ia longo e que talvez o mal esteja nele mesmo e não que tenha resultado de um processo de osmose. De qualquer forma, transcrevo:
(...) não mencionando, se li bem, que o fulano dorme com uma das maiores TRAULITEIRAS  PAF, e que portanto, é difícil alguém abster-se de influências de coito. O resto vem por arrasto... (arrasto de chinelas de quarto).
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Moral da história: ou as televisões, por alguma epifania, percebem que estão a intoxicar a opinião pública e que esta começa a rejeitar tanta manipulação e estupidez e mudam de direcção, ou, se persistem, é bom que as gentes das esquerdas abram os olhos e passem à acção. Para investir num novo órgão de comunicação social que contrarie a contra-informação que está a ser enfiada pela goela abaixo dos portugueses não é preciso ser de esquerda, é apenas preciso ter olho para o negócio. Mercado é o que não vai faltar.


E o que há a fazer não passa apenas por haver um espaço livre em que a informação seja limpa e o entretenimento não estupidificante: o Governo tem que perceber que há um problema sério a nível de desinformação levada massivamente a cabo pelos caceteiros do PSD e CDS e que, como tal, tem que ser combatido. E o combate tem que ser enérgico e levado a cabo com profissionalismo e criatividade, taco a taco. Tem que ser dada atenção à Comunicação e o mais rapidamente possível e, read my lips, isso não está a acontecer. 

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira de Carnaval.

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quinta-feira, novembro 26, 2015

João Galamba vê-se cercado por João Almeida do CDS (formado em Direito), Miguel Sousa Tavares crítico do novo governo do PS (também licenciado em Direito) e José Gomes Ferreira, alter ego do Láparo (formado em Comunicação Social mas que se arma em Economista). Os três, à uma, atacaram, forte e feio, o João Galamba pelo que o Governo do PS ainda não fez em matéria de Economia (matéria em que ele, João Galamba, é formado)


Eu, se fosse ao João Galamba, não aceitava mais participar num número destes. Não é que não tivesse chegado para aqueles três que falam, alto e bom som e com o maior dos à-vontades, de matérias sobre as quais não estão habilitados - só que estava tão em minoria que mal o deixaram falar. De resto, com a falta de conhecimentos que têm na matéria, mesmo que ele tivesse conseguido exprimir-se capazmente, também não o teriam percebido. Nem estavam ali para o ouvirem mas, tão só, para se auto-ouvirem.

Pasmo com os critérios que presidem à escolha dos comentadores para estes debates que mais parecem um circo. Esta comunicação social atenta contra a isenção da informação e, por tabela, contra os fundamentos da democracia, ao atirar para cima dos telespectadores tanta conversa balofa, tanta peixeirada, papagaiadas, bruá-ás, bla-bla-blas - em suma, desinformação em forma de espalhafato mediático.

Toda a conversa (pelo menos na parte a que assisti) girava em volta dos cenários macro-económicos previstos no que será o programa do Governo do PS. Ora, ainda o Governo não entrou em funções e já a SIC está a atirar três que são do contra às canelas dos socialistas - neste caso, 3 contra 1, uma coisa ridiculamente desigual.

E depois há aquele fala-barato que, com ar de esperto, fala como se percebesse alguma coisa que diz. Quem não o topasse pensaria que, dando-se aqueles ares, estaríamos perante um economista falhado. Mas, qual quê?, qual economista? Leio na Wikipedia o seguinte:
No seu tempo escolar, José Gomes Ferreira auto-caracterizou-se como "um aluno mediano a Matemática. Até tinha dificuldades para perceber equações"
Ora bem. Enquanto estudou matemática (não economia mas matemática, que é um dos principais pilares da economia) o artista em causa nem percebi equações -- e agora já se lhe meteu na cabeça que tem competência para discutir cenários macro-económicos.

O único ali que percebia de economia (e de contas) era o Galamba. Mas viu-se cercado por aqueles três que, sem saberem do que falavam, largavam 'bocas' de toda a espécie, acusando-o nem se sabe de quê.

Será que na SIC ninguém se enxerga? Ninguém percebe que gente destas e espectáculos pimbas destes afastam os telespectadores?

Quanto a João Almeida do CDS, coitado, acabado de sair de um desgoverno falhado, não se pode esperar muito dele e o Miguel Sousa Tavares, não sei se por efeito da influência mulher se do compadre, parece que anda um bocado confundido. Depois de criticar anos a fio o governo PSD e CDS agora parece que está com saudades. Diz-se e contradiz-se sem grande coerência, uma conversa quase desarticulada.

Uma desgraça, esta televisão. Não tirei fotografias deste circo porque estava a jantar.

No post seguinte já falo do que apanhámos no outro canal quanto fugimos a sete pés da SIC: um outro número rocambolesco.

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Entretanto, enquanto acabo de escrever isto, o meu marido pôs-se a fazer zapping e não é que foi dar com o mesmo José gomes Ferreira a entrevistar o Catroga...! Imaginem bem quem ele foi desenterrar...? 


Aquele Cavaquista empedernido -- que se pela por dinheiro como macaco por banana -- para ali está a papagaiar a narrativa que os pafs inventaram, e o outro a babar-se enquanto ouve a história da carochinha pelo troca-tintas-mor que se andava a gabar que o programa da troika quase tinha sido feito por ele para depois, quando a coisa deu para o torto, lavar as mãos como se nem soubesse de que é que se estava a falar. Pois bem: foi este sujeito -- que vai para onde for preciso desde que ganhe o dele (e que seja qualquer coisa com muitos zeros à direita, que ele gosta de ter as continhas bem recheadinhas) -- que a SIC foi buscar para aqui estar a causar orgasmos mentais ao José Gomes Ferreira. Não há paciência. Qualquer dia faço com a SIC o mesmo que fiz com o Expresso: nem mais um tostão para o Balsemão. 

segunda-feira, junho 15, 2015

Clara Ferreira Alves e José Sócrates -- ou quando uma comentadora mostra a sua inconsistência. Foi no Eixo do Mal e parece que lhe deu uma coisinha má. [E ainda, também a propósito do Caso Marquês e do Preso 44, João Garcia e Rosário Teixeira; e Miguel Sousa Tavares e o Estado de Direito]






Ser-se comentador não deve ser fácil, especialmente para quem leve a coisa a sério. É preciso a pessoa manter-se informada, preservar a sua identidade apesar de ouvir opiniões de um lado e de outro, conseguir discernimento para ver um pouco mais além e ter ideias minimamente originais. Caso contrário, é vê-los feitos papagaios, repetindo-se uns aos outros, ou reproduzindo as notas com que os spin doctors presenteiam os media e amigos.

Devo dizer que costumava ter Clara Ferreira Alves em boa conta. De forma geral, gosto de ler o que escreve e até, salvo alguns excessos despropositados em que manifestamente embala e fala como se estivesse a representar para seu próprio prazer como auto-expectadora, gostava de vê-la no Eixo do Mal.

Mas há um tempo para tudo. Tempo demais a escrever o mesmo tipo de crónicas ou a aparecer no mesmo programa deve causar uma erosão anímica (para não dizer mental -- que é mais que compreensível que aconteça).

São anos a mais a opinar, a opinar por obrigação, sobre assuntos que umas vezes lhe devem interessar mas também sobre outros para os quais não deve estar nem aí.

De vez em quando, parece que já escreve ou fala em piloto automático, já sabe o que produz efeito, e, então, parece que já nem se dá muito ao trabalho de se documentar sobre os assuntos. Dá ideia que já vai na desportiva, acreditando que os anos de tarimba e o inegável carisma devem ser suficientes para ultrapassar alguma impreparação.

No outro dia, a entrevista no Expresso ao Houellebecq -- que li em papel mas que está disponível online --  foi uma desilusão das grandes. Partilho completamente a análise que Mestre Plúvio publicou sobre o assunto. Clara Ferreira Alves parecia estar a exibir-se perante a criatura. Claro que está mais do que na cara que Houellebecq estava morto de tédio, a fazer um frete dos valentes, nada naquela Clara lhe deve ter suscitado qualquer interesse para que despertasse do spleen em que se habituou a afogar-se. 

Uma jornalista armada em expert, cheia de teorias, pronta para fazer a festa sozinha, quase a querer demonstrar que sabe mais da obra dele do que ele próprio, foi nitidamente mais do que ele foi capaz de suportar. Cansado de existir, cansado de gente petulante, cansado de divulgar o livro, cansado de falar sobre o que deveria valer por si, cansado da situação em que vive, via-se que estava era deserto por que ela lhe desamparasse a loja. A entrevista foi uma autêntica desgraça.
E ainda eu não me tinha refeito deste passo em falso de Clara Ferreira Alves, eis que, no Eixo do Mal deste sábado, a vejo em mais uma prestação para esquecer.


(Aqui ainda o Nuno Artur Silva não tinha ido para a administração da RTP; agora é Aurélio Gomes, um charme e uma simpatia, que conduz o programa)


Instada a pronunciar-se sobre a situação vivida por Sócrates -- a insistência na prisão preventiva depois dele ter recusado a pulseira electrónica e sobre os últimos episódios -- Clara foi fiel a ela própria: que o que se passa tem sido um espectáculo mediático, logo desde a prisão e, que, por medo dele, fazem de tudo para o lincharem na praça pública, e as fugas de informação, e tudo o resto que se sabe, e aí foi ela disparada a dizer mal da Justiça e de tudo o que veio por arrasto (e, até aí, a conversa estava consistente com as posições que se lhe conhecem).

E, como se já estivesse sem travões, aí continuou a bela da Clara. Falando das paixões que Sócrates desperta (mas como se isso não se aplicasse a si própria) e dizendo que ele é uma verdadeira rock star, mesmo na prisão, aí continuou ela, desabalada, e, às tantas, de carrinho, já se pronunciava sobre a relação de Sócrates com o dinheiro, já se interrogava sobre se Sócrates, sendo leviano com o dinheiro como era, devia ter sido primeiro ministro numa altura em que o país estava quase na bancarrota, e que mau que era pedir tanto dinheiro ao amigo, e já falava de adjudicações directas e mais não sei o quê.

Ou seja, tendo começado por dizer que todo o processo tem decorrido de uma forma inaceitável, levando a que Sócrates seja condenado na opinião pública mesmo que, de facto, não exista ainda sequer acusação formulada, acabou ela própria a condená-lo sem provas, fazendo fé no que lê no Correio da Manhã e no Sol, e mais do que isso, até já a fazer juízos políticos retroactivos.

Mas a inconsistência não se ficou por aqui.

A seguir falou Pedro Marques Lopes (que, por acaso, até não estava naqueles dias que levam Mestre Plúvio a dizer, com aquela língua afiada e a graça que se lhe conhece, que, por efeito feromónico da vizinhança prolongada vem menstruando cada vez mais sincronizado com Clara Ferreira Alves) que falou com lucidez, denunciando o perigo deste poder justicialista que pode mandar uma pessoa para a prisão sem a acusar de nada, que pode mantê-la presa durante o tempo que entender, que vai alimentando a opinião pública de forma a justificar a prisão e a destruir a vida da pessoa, etc.

E aí, a bela da Clara, entusiasmada, foi atrás do Pedro e já se indignava contra quem condenava Sócrates sem provas, contra isto de as pessoas já darem por provado tudo o que vai saindo para os jornais do costume, etc, etc, e por pouco já parecia ela a mais indignada das pessoas por haver alguém que acredite nisso tudo e condene Sócrates antes sequer dele ter sido acusado (como se não tivesse, ela mesmo, acabado de fazer isso).

Juro: ouvi tudo aquilo perplexa. Que inconsistência: uma coisa e o seu contrário ditas com igual veemência, convicção, como se as suas intervenções fossem consistentes.

Eu sou tolerante com muita coisa, esforço-me por compreender as circunstâncias, o contexto, a cultura, o que for que possa justificar as atitudes das pessoas, mas, juro, tenho muita dificuldade em ter paciência para a inconsistência. E parece que cada vez há mais gente inconsistente: num dia anunciam uma coisa, dois ou três dias já aí estão, lampeiras, fazendo o contrário, ou prometem fazer alhos e, com a maior cara de pau, fazem bugalhos, ou começam uma intervenção dizendo uma coisa e, se for preciso, acabam-na a dizer o contrário. Não tenho paciência. Perco a confiança: como é que se pode acreditar no que dizem se, de seguida, as poderemos ver a dizer ou fazer exactamente o contrário?

Não dá. Risco-as do meu interesse, o meu radar deixa de as assinalar. Desisto delas. Desligo-me. Por isso, Clara Ferreira Alves: bye bye.

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Já agora, sobre o disparate que é este Processo Marquês (e de que as últimas saídas para os jornais, com aquelas indigentes perguntas, dando a ideia que a investigação anda aos apalpões, a atirar barro à parede, sem uma linha de rumo, sem se perceber como é que aquele labirinto ridículo pode acabar), transcrevo, do Expresso, um excerto da última crónica de João Garcia (que passou a Director da Visão) intitulada 'O Tudo ou o Nada':


A caricatura feita a Rosário Teixeira é a do magistrado que pergunta ao suspeito quem lhe fez o fato, como o pagou, de onde veio o dinheiro, onde comprou o tecido e depois pede o levantamento bancário das contas do alfaiate e da retrosaria num 'follow the money' que tem dificuldade em parar. De seguida abre um processo relativo aos sapatos e por aí segue alegremente.

É o que está a suceder na 'Operação Marquês', que passou por Paris, já anda na Venezuela, na Parque Escolar, em casas do Algarve, na urbanização de Vale do Lobo, em viagens a Veneza, na quinta que pôs Duarte Lima nas bocas do mundo, e tudo mais que lhe levantar suspeitas, numa viagem por contas bancárias que parece não ter fim. O caso que envolve José Sócrates não parece estar a ter outra estratégia.

(...) Num processo mediático e que tanta controvérsia suscita, cada dia que passa é um dia a menos para a credibilidade da Justiça.


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E também, já que estou numa de Expresso, transcrevo um pequeno excerto do artigo de Miguel Sousa Tavares a que, muito justamente, chamou 'O Preso 44 e o Estado de Direito':


Uma coisa é a convicção, mesmo que esmagadoramente sustentada pela opinião pública, de que ele é culpado; outra coisa é a prova de tal. Mas, face ao que se tem visto, a questão primeira é saber se José Sócrates alguma vez terá direito a um julgamento isento. E, se for o caso, a uma condenação baseada, não em suposições ou manchetes do 'Correio da Manhã', mas nessa coisa comezinha, chata e difícil de produzir, porém essencial, que se chama provas. O Estado de Direito não é um chá das cinco.

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Caso queiram assistir ao referido Eixo do Mal, deixo aqui o vídeo do programa. A intervenção de Clara Ferreira Alves sobre este assunto começa para aí aos 25 minutos. E daí para a frente é o que se verá.

O Eixo do Mal - vídeo  de 13 Junho 2015



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Talvez porque Clara Ferreira Alves fala sempre com certezas absolutíssimas, como se não duvidasse da sua superior presciência e sagacidade, lembrei-me da gata-Einstein (assim chamada porque deita a língua de fora tal como Einstein aparece numa fotografia célebre), uma gata que se chama Melissa, e que a sua dona, a fotógrafa Alina Esther, gosta de registar na sua pose preferida. É ela que aparece em duas fotografias neste post.

A música, como um sopro de oxigénio, é o Mário Laginha Trio* interpretando o Prelúdio n.20 op.28 de Chopin

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Sobre o funâmbulo francês Philippe Petit, que foi entrevistado para o Expresso por Pedro Mexia, e sobre o que é caminhar sobre o vazio e sobre o que isso tem a ver com religião e sobre as minhas vertigens falo no post abaixo.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já nesta segunda-feira. 
Saúde, sorte, amor e dinheiro para os gastos é o que desejo a todos.

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segunda-feira, agosto 04, 2014

O BES está morto. Viva o NOVO BANCO.





Tal como era esperado, nasce esta segunda feira um novo banco, e nasce limpo de lixo tóxico: o NOVO BANCO.  Para ele transita apenas o que é actividade corrente normal - nomeadamente os depósitos e os empréstimos 'bons' - depois de expurgadas as situações que causaram o prejuízo de que no dia 30 se teve conhecimento.


Para viver, o NOVO BANCO vai receber uma injecção de capital de 4.900 milhões de euros, proveniente do Fundo de Resolução (que é dinheiro dos bancos) o qual, não tendo ainda dinheiro para mandar cantar um cego (não consegui apurar se tinha 180 ou 380 milhões de euros - trocos de qualquer maneira), vai recorrer a um empréstimo a partir do Fundo de Recapitalização que a Troika tinha colocado à disposição da reestruturação da banca (dinheiro público, portanto).


A ser assim, não haverá de facto dinheiro dos contribuintes já que se trata de um empréstimo ao accionista do NOVO BANCO, o dito Fundo de Resolução. 

Mas atenção... isto é verdade se o NOVO BANCO pagar o empréstimo, nomeadamente, se for vendido e com essa verba saldar as contas.
Se isso não acontecer, então, azarinho, será o costume.
Contudo, creio que um banco bem gerido e sem lixarada tóxica é um banco viável, gerador de mais valias, capaz de honrar compromissos e mais apetecível, vendável a curto/médio prazo

No entanto, não é a partir de meia dúzia de palavras que eu consigo estabelecer grandes raciocínios. Só vendo o esquema de montagem bem explicado é que conseguirei perceber de que é que se está, efectivamente, a falar.


O que também percebi é que o Banco de Portugal - que andava há meses, mais concretamente desde Setembro de 2013, a desconfiar que havia gestão fraudulenta e que andou a passo de caracol e foi crédulo para além da conta, tendo autorizado inclusivamente um aumento de capital (num banco cuja gestão merecia desconfianças sérias) - apenas agiu porque o BCE cortou, no final da semana passada, a liquidez ao BES. Isto foi novidade para mim. Ora, se há coisa sem um banco não consegue aguentar-se de portas abertas, ela é a liquidez, dinheiro, pilim. Foi, então, isso que precipitou a resolução que já deveria ter acontecido há algumas semanas...!


Adiante.

Com esta medida, retirando o que é bom para o NOVO BANCO, o BES, agora transformado em banco mau, fica ainda mais falido do que já estava, apenas com lixo. Os accionistas ficam a arder.

Ora, após a concretização do aumento de capital, os accionistas de referência que passaram a deter as seguintes participações directas no capital social do Banco Espírito Santo são: Espírito Santo Financial Group (25,1%), Crédito Agricole (14,6%), Bradesco (3,9%) e Portugal Telecom (2,1%). 

Ou seja, se a gente pode não ter pena da família Espírito Santo, já nos deveremos preocupar com os demais accionistas pois vão encaixar prejuízos sem terem tido responsabilidades de maior e, pior que isso, vai ficar claro que o sistema financeiro português é de risco e que a regulação não funciona - e isso não é bom para quem precisa de se financiar nos ditos 'mercados'. E há uma outra empresa portuguesa a levar mais uma machadada, a PT. Quem tem acções da PT vai de mal a pior.

Mas os accionistas de referência andam pelos cerca de 50% do capital. Ou seja, há outros 50% que o não são. Os restantes serão fundos, empresas e pequenos accionistas - e que, pensando antes que tinham ali um activo seguro, agora se vêem sem nada. É isto o mercado de capitais: um casino com cartas viciadas.

De resto, do que ouvi a Carlos Costa, vejo que está a tentar limpar-se. Que o Ricardo Salgado e a anterior gestão desobedeceram, praticaram actos que se prefiguram danosos e que, dado o tipo de actos e a engrenagem em causa, era difícil dar com ela - lastimou-se ele e lastimou-se ao longo de parte significativa da sua intervenção.


Pois bem. A Família Espírito Santo, a gestão do Grupo Espírito Santo e, em particular Ricardo Salgado, o ex-Dono Disto Tudo, mostraram que, onde se pensava estar-se em presença da fina flor da elite financeira europeia, estava-se afinal perante perfeitos exemplares da fina flor do entulho. Arrogantes, habituados a esquemas, a pôr e dispor, a tudo saber contornar na maior impunidade, destruiram o que se pensava ser uma imensa fortuna mas que, afinal, não eram senão dívidas. Mas, pior que isso, deram cabo de muitas empresas, deram cabo de grandes fortunas que neles confiaram, deram cabo de muitas pequenas economias. E usaram instrumentos sofisticados, aproveitaram cada pequeno interstício que a regulação permitia e desobedeceram a todas as indicações que receberam. Concordo.

(Nota: Miguel Sousa Tavares, no Expresso deste sábado, falou do GES e do BES e referiu que a família pensou que estava ainda num ambiente fechado e protegido como conheciam antes do 25 de Abril, não percebendo que não conseguiam nem sabiam gerir um grupo com a dimensão que alcançou e não perceberam que uma coisa é gerir fortunas e outra, muito diferente, é gerir dívidas. Depois de eu ter referido a semana passada que, provavelmente dadas as relações familiares, Miguel Sousa Tavares estava a evitar um assunto tão crítico, aqui fica a referência ao que ele escreveu esta semana)


Mas se ninguém pode esquecer os actos fraudulentos de Ricardo Salgado e dos que estiveram com ele à frente da gestão das empresas (nem esquecer, nem admitir a impunidade - caso se venham a confirmar os actos de que são suspeitos), convém não esquecer que, para garantir a estabilidade financeira do sistema bancário, existe a regulação e a supervisão - e que estas, de facto, deixaram muuuuiiiiiito a desejar. Se a CMVM e o BdP desconfiaram, avisaram, andaram a vigiar, etc, deveriam ter agido atempadamente para evitar a hecatombe e o prejuízo brutal a que se assistiu nas últimas semanas em que milhares de milhões de euros se esvaíram - atempadamente e coordenadamente, não ao retardador e sem se organizarem entre si.

[A ver vamos se não vão aparecer queixas (e pedidos de indemnizações) relativas à permissão de aumento de capital ou venda de obrigações quando havia tão sérias desconfianças sobre o que se passava no BES]. 

Esperemos que agora, aqui chegados, saibam conduzir as operações como deve ser. Como disse há bocado, no post abaixo, não estou a perceber que empresa (do ponto de vista jurídico, administrativo, contabilístico, informático ) é que vai estar a operar esta segunda feira. Presumo que seja o BES tal e qual ele era. Quando dizem que é o NOVO BANCO não percebo de que é que estão a falar pois não houve tempo para criar em toda a sua extensão um novo banco.

Também, quando Carlos Costa diz que todos os trabalhadores do BES vão transitar para o Novo Banco, não sei se será bem assim. O BES velho vai ficar com tanta coisa para tratar, tantas carteiras de títulos, tantas operações por liquidar, tanta questão por resolver, que alguém tem que tratar disso. Para além disso, vão certamente chover queixas e litigâncias de toda a espécie e feitio. Claro que serão essencialmente juristas a tratar dos assuntos jurídicos, mas não só: vão precisar de elementos de suporte e de uma estrutura preparada para os fornecer. Só se são pessoas do Novo Banco (ex-BES) cedidos ao BES, agora BES-mau.

Mas, enfim, é uma dor de cabeça com que as equipas jurídicas, financeiras, informáticas, administrativas, de recursos humanos, e organizativas vão ter que lidar nos próximos tempos. Tomara que se consigam organizar para que isto, assim feito do pé para a mão, não venha a transformar-se numa enchavelhadela de todo o tamanho.

Finalmente: os depositantes  que tinham contas no BES superiores a 100.000 euros podem estar tranquilos (os que têm contas inferiores a 100.000 estavam sempre garantidos). E o Novo Banco, limpinho de porcaria, tem condições para ser um bom banco. E isso é importantíssimo para o regular funcionamento da economia.


Contudo, nada de ilusões. Nada disto virá de borla: será certamente posto em marcha um plano de reestruturação exigente, pelo que muitos apoios, sponsoring, prémios, etc, e pior que isso, muitas agências e alguns trabalhadores podem vir a ser sacrificados. 

Uma palavra ainda para Passos Coelho: uma vez mais, demonstrou não estar à altura do lugar que ocupa. Devia ter aparecido publicamente ou ele ou Maria Luís. O sistema bancário sofreu um sério rombo e a solução que está a ser posta em prática, passa por uma intervenção pública - e era bom que alguém do Governo dessa a cara por ela. Mas, enfim, eles são o que são, e não vale a pena esperar que dali nasçam flores. Quem não sabe perceber os sinais, os indícios, as implicações do que se passa à sua volta, dá a toda a hora provas de que não sabe do que fala. Englobo nesta apreciação não apenas Passos Coelho mas também a ministra das Finanças e Cavaco Silva e todos quantos papaguearam a mesma cantilena (o BES não é o BPN, o BES não é o GES, o BES tem uma almofada, o BES está blindado, o BES não foi contagiado pelo GES) o que veio a revelar-se inconsistente e não verdadeiro. Ao irem na conversa crédula de Carlos Costa e ao não terem sido capazes de impor uma coordenação conjunta (BdP+CMVM+Governo) do problema grave que se estava a avolumar de um dia para o outro, não apenas permitiram um descalabro desta monta como acabaram a ter que engolir o que antes, com tanta segurança, apregoavam.



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O site do BES, na página de entrada, já nos mostra nova designação: NOVO BANCO. Na homepage podem ver-se um conjunto de Perguntas e Respostas (FAQs). Vá lá... parece que finalmente estão a trabalhar como deve ser, com a crise a ser gerida com algum profissionalismo, com a comunicação a actuar em tempo oportuno. Chamam-lhe Novo BES e não Novo Banco mas, enfim, são pormenores desculpáveis dado o curto prazo para tratarem de tudo isto. Amanhã já isso deve estar corrigido.


Transcrevo uma parte das FAQs:

O que muda para os clientes com a criação do Novo Banco?
Para os clientes não haverá qualquer impacto em termos de qualidade de serviço. O cliente encontrará ao seu dispor a rede de balcões que conhece, será atendido pelo mesmo gestor e utilizará da mesma forma o BESnet, bem como os restantes canais (BESdirecto, MultiBanco, etc). Os clientes manterão o mesmo número de conta bem como os meios de pagamento de que dispõem (cartões de débito, cartões de crédito, cheques, etc). Em suma, nada muda em termos de serviço. Mantém-se a mesma excelência ao serviço do cliente.

Que consequências tem esta medida de resolução para os clientes depositantes do BES?
A medida de resolução aplicada pelo Banco de Portugal garante a segurança dos depósitos que tinham sido constituídos junto do BES. Não foram afetados quaisquer direitos legais ou contratuais dos depositantes. Os depósitos são integralmente transferidos para o Novo Banco.
O saldo dos depósitos dos clientes permanece intacto e disponível para ser imediatamente movimentado, sem quaisquer restrições. 
Assim, e sem prejuízo de disposição legal ou contratual em sentido contrário, os depósitos dos clientes junto do Novo BES apresentarão exatamente as mesmas características que tinham perante o BES: designadamente, o mesmo saldo, prazo e condições de movimentação do depósito.  
Os depósitos transferidos continuam, igualmente, a beneficiar da garantia oferecida pelo Fundo de Garantia de Depósitos, nos termos e com os limites legalmente previstos. 
Os depósitos constituídos junto do Banco Espírito Santo de Investimento, S.A., do BEST – Banco Eletrónico de Serviço Total, S.A. e do Banco Espírito Santo dos Açores, S.A., estão também salvaguardados e não serão afetados, na medida em que a participação social detida pelo BES nessas instituições foi transferida para o Novo BES.

Qual é a implicação da criação do Novo Banco para clientes com investimento em Fundos da ESAF, PPRs ou seguros de capitalização?
O investimento em Fundos de Investimento, Seguros de Capitalização ou PPRs mantem-se como até aqui. Os clientes podem continuar a dar instruções de subscrição ou resgate da mesma forma que o faziam até ao momento.



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Vejo nas estatísticas do blogue que inúmeras pessoas têm escrito questões do género: De que vão agora viver as pessoas da Família Espírito Santo?



Não faço ideia mas vou tentar antever. É pública a utilização de contas em offshores. Do que tem vindo a lume neste escândalo todo - a começar pelo presente de 14 milhões oferecido pelo construtor José Guilherme a Ricardo Salgado e que foi depositado num offshore - é legítimo admitirmos que muitos outros donativos, oferendas, coisas que dão pelo nome de liberalidades e outros trocos do género tenham sido depositados noutras circunstâncias, noutras contas e não apenas nas pertencentes a Ricardo Salgado. Ilhas Caimão, Panamá e tudo o que se queira. E Brasil, Venezuela, sei lá. Como referi, não sei, é mera suposição. Depois, deve haver também o que está em nome não das empresas mas da mulher, do filho, da tia, do sobrinho, da prima, da cunhada. São décadas a precaverem-se para uma eventualidade, e é o apoio permanente da eminência parda do regime, o grande amigo e advogado Proença de Carvalho. 


Contudo, admito que muitas pessoas na família (são sempre famílias numerosas) estejam a passar por momentos de perplexidade e de grande inquietação. Geralmente são pessoas que, de facto, não estão habituadas a trabalhar e que, em situações em que o dinheiro não lhes cai em cima, tendem a ficar paralisadas. Sei de casos em que as pessoas quase acabam na miséria porque, pura e simplesmente, não sabem tratar da sua vida e, quando as circunstâncias se alteram, não sabem viver com menos do que o que tinham, não sabem trabalhar, ganhar dinheiro, não sabem sequer socorrer-se de mecanismos como a segurança social. Dessas pessoas tenho pena pois são pessoas que, por limitações de vária ordem, não percebem a tempo que a vida é curta e incerta para todos e não apenas para os pobrezinhos. E, quando se vêem nessas circunstâncias, não têm - porque nunca os adquiriram - mecanismos de defesa ou sobrevivência. Mas, enfim, acredito que, no caso vertente, não aconteça a muitos, já que devem estar quase todos garantidos.

E, de resto, tirando os que comprovadamente agiram fraudulentemente, os que desrespeitaram a regulamentação e a legislação, não é por as pessoas serem da família de gente pouco séria que devem pagar por isso. Aliás, não devem mesmo. 

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Para não acabar sem uma pitada de qualquer outra coisa, aqui fica o trailer de 
Wall Street 2: Money never Sleeps 



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

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