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sexta-feira, setembro 06, 2019

Gabrielle. Chanel. E outros



Desde que me conheço que sou muito sensível a perfumes. Sempre os usei. Os cheiros produzem em mim um efeito que não sei descrever. Efeito abrangente, talvez. Uns trazem-me memórias, outros transportam-me para outros mundos. Não sou capaz de sair de casa sem me perfumar. Aliás, até sou. Mas só em férias ou ao fim de semana, e isto se não tenho nenhum programa social. Mas, nesses casos, compenso com cremes corporais com bom cheirinho. 

Durante muito tempo fui experimentando. Uma vez, conheci uma amiga da minha filha, uma miúda gira, moderna, muito alegre. Cheirava mesmo bem e tinha um toque de irreverência. Não descansei enquanto a minha filha não lhe perguntou o que era. Era o Light Blue que ainda mal se conhecia. Usei-o durante algum tempo. Outra vez conheci o One do Calvin Klein. Gostei. Era bom, leve, quase neutro, coisa para o dia a dia.

Até que descobri o Chance da Chanel. Usei-o quase em exclusivo durante anos. Pareceia-me indissociável da minha existência. Mas não sou dada a fidelidades gratuitas, especialmente quando a diversidade é tanta, tão boa, tão apelativa. Ia sarabandeando com outros, mas, obviamente, mantendo a base Chance.

Até que ousei o Nº 5. E aí foi o coup de foudre. Não há outro como o Nº 5. É verdadeiramente intemporal. E o aroma não se adultera ao longo do dia. Há muitos perfumes que, ao fim do dia, já viraram adocicados, outros vulgarizam-se com o contacto com a pele, com a transpiração natural. O Nº 5 não. Altera-se, sim, mas levemente e para melhor, torna-se mais íntimo, mais feminino, diria que mais sensual. Haverá peles onde o Nº 5 se adultere mas na minha não. Do que sei de perfumes, cada pele absorve e transforma o perfume de uma maneira muito própria. Em mim, o Nº 5 é assimilado de forma muito pessoal, muito minha, muito boa. Pelo menos, é assim que o sinto e, naturalmente, falando de sensações, tenho que falar das minhas que são as únicas que conheço na primeira pessoa.

Nos últimos anos, contudo, tenho-me aberto totalmente a novas experiências: há Hermès maravilhosos, há outros Chanel também bons (Nº 19, Allure, Cristalle, CoCo, por exemplo), há um de que gosto muito, Loewe, o que é bergamota, um aroma cítrico que se mantém perfeito ao longo do dia, fresco, elegante. Gosto. Ou o Daisy de Marc Jacobs que tem um toque a violeta. E outros. Experimento. Têm que ser florais, frescos, nada adocicados, nada quentes. Por exemplo, os Armani acabam sempre por se tornar um bocado intensos, intrusivos. Talvez a Acqua di Gioia seja a excepção, porque é, de facto, agradável.

Enquanto escrevo, seguindo o oportuno conselho do Paulo, estou a ver o documentário sobre o Nº 5. ouço que é abstracto. E é isso mesmo. Acho que nenhuma outra característica se lhe aplica tão bem: é abstracto. Aldeído, jasmim. Seja. Mil outras faíscas, também. Mas é a combinação elegante que faz a diferença.

Sou também muito sensível ao lado estético. Os frascos dos perfumes são fundamentais. É como a encadernação, a gramagem do papel, a paginação num livro. Uma coisa deve vestir bem a outra. O corpo certo para encadernar a alma. O frasco do Nº 5 é o certo. É lindo. Sóbrio, elegante, equilibrado.

Quando saíu o Gabrielle fui logo ver, cheia de curiosidade. A Casa Chanel é cheia de novidades, gente arejada das ideias, gente com bom gosto. Mas não me atraíu. É bom, claro. Todos os perfumes Chanel são bons. Mas parece-me um bocado incaracterístico, nada que me apeteça muito ter a cobrir as zonas do corpo onde gosto que me beijem (o que, caso não saibam, é o conselho de aplicação para o Nº 5). Falta-lhe carisma, falta-lhe lampejo, falta-lhe corpo, falta-lhe a inspiração que, quando envolvendo a transpiração, vira arte.

Saíu agora o novo vídeo publicitário e como todos os vídeos Chanel é um encanto. Refere-se ao lançamento do novo Gabrielle: Essence. Realização de Nick Knight, 'uma ode à luz e à liberdade',  com a graciosa Margot Robbie a encarnar a mulher Chanel, uma mulher que, segundo dizem, se caracteriza pela sua graça e carisma. Leio que o filme pretende corresponder à la fragrance aux notes de jasmin, de tubéreuse de Grasse, d’ylang-ylang des Comores et de fleur d’oranger de Tunisie. Um filme muito bonito.



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E aproveito o post para aqui deixar uma fotografia de Diane Kruger feita pelo talentoso Peter Lindberg (falecido ontem) para a Chanel


E até já.

quarta-feira, novembro 30, 2016

As garotas de rosto nu do Calendário Pirelli 2017
- um grito contra o terror da perfeição e da juventude


O meu prazer em fotografar é inversamente proporcional ao de ser fotografada. 


Nunca me apanham em grupinhos a dizer cheeeeese ou ba-ta-ta. Impossível. E se tenho que ser fotografada por obrigação sou incapaz de me produzir para o momento.

Acho que já o contei. Quando o ano passado foi um fotógrafo à empresa para tirar fotografias a cada um de nós, cheguei lá e fiquei espantada com a produção de cada uma das outras mulheres. Muitas tinham ido ao cabeleireiro, vinham aperaltadas, todas de ponto em fino. Eu fui normal. Aliás, ao arranjar-me em casa, foi coisa que nem me ocorreu. Depois, estava numa reunião quando me foram chamar. Fui num ápice dar uma espreitadela à casa de banho. Achei que menos mal. Quando ia a entrar para a sala, pensei que devia ter passado uma corzinha nos lábios. Tarde demais. Pus-me lá no sítio que o fotógrafo disse e começou a dar-me vontade de rir. Ele, profissional, não ligou. Aproximou-se e pôs-me ligeiramente de lado. E eu com vontade de rir. Fiz um esforço para manter uma pose adequada ao status. E, nisto, pergunta-me ele enquanto me fixava com olho clínico: 'Sô-Tôra, não quer afastar o cabelo?' e fez um gesto com a mão, como que para afastar a franja. Fiquei preocupada: 'Mas está mal?' e ele. meio atrapalhado: 'Não... Mas podia querer afastá-lo mais da cara...' Fiquei apreensiva. Tive vontade de lhe dizer: 'Alto e pára o baile. Tenho que ir ver com os meus próprios olhos!'. Mas não, achei que, se afastasse o cabelo, poderia ficar com ar demasiado despido e e não me dispo perante qualquer um. Ficou assim. Agora olho a fotografia e não consigo formar opinião. Algumas colegas odiaram ver-se, exigiram um remake. Eu fiquei depois a pensar que, se calhar, devia ter aproveitado a oportunidade de tentar segunda chance, talvez ficasse melhor. Mas não. Só passar outra vez por aquilo... Não gosto.

Apenas de vez em quando, quando não estou nem aí, é que não me importo que o meu marido ande à minha volta a apanhar-me tal como estou, sem poses ou sorrisos pasmados. 


Acontece-me também, quando me vejo nas fotografias, achar-me diferente do que era tempos atrás. Como já o contei, tendo, então, a protestar com o fotógrafo: não devia pôr-me com o sol a bater-me na cara, não tem cuidado, não me adoça a pele, mostra-me as rugas junto aos olhos, mostra que o meu rosto já não tem a frescura de quando eu tinha a vida inteira pela frente, bem podia apanhar-me em melhores ângulos, com luz mais esbatida. Etc. Ele não liga, acha que fiquei bem. E está dito. Não lhe arranco nem mais uma palavra.

Depois, se calha eu ver essas fotografias anos depois, olho e já acho que ali ainda era uma jovem, cinquenta mil vezes com mais piada do que na actualidade.

E isto contado assim até parece que dou muita importância a isto. Não dou. São pensamentos ou reacções momentâneas que desaparecem na hora.

O que entretanto aprendi é que somos sempre jovens e bonitos aos olhos de quem é mais velho e acabado que nós.

E aprendi, sobretudo, outra coisa: é que a beleza de uma pessoa é francamente subjectiva. 

Gosto de me maquilhar ao de leve pois acho que sem um toque de cor, fico um bocado descorada, as sobrancelhas claras, a pele clara, parece que está mesmo a pedir uma sombra leve na pálpebra superior, um pouco de blush, coisa leve em tom de pêssego e só mesmo nas maçãs do rosto, e, nos lábios, uma passagem de gloss, cor de romã suave. Mas, ao fim de semana, nada, quanto muito um esfumado ligeiro  na pálpebra superior. E, no entanto, a minha filha diz que fico melhor assim, rosto nu. 


Mas não sei se ela tem razão. O meu marido, por seu lado, não se pronuncia. Não tem paciência para os meus inquéritos. E diz que receia responder o que quer que seja pois acha, que diga o que disser, ficará sempre sujeito a mais perguntas, e, se há coisa que o impacienta, é ter que dar justificações das opiniões que exprime. Por isso, tenho que me fiar na minha opinião. Contudo, nunca me deu para carregar na maquilhagem, usar base para disfarçar imperfeições, carregar no rimel, pintar os lábios de cor compacta e desenhando o contorno. Acho que não suportaria o contraste quando, à noite, retirasse a maquilhagem. Penso que deveria parecer-me com um palhaço no fim do circo, no camarim, a desfazer-me do personagem.

Mas a verdade é que tanto faz. Se nos sentimos bem e confiantes, está sempre tudo bem. E haverá sempre quem goste de nós, quem nos olhe com olhos doces de afecto ou apreço. Nem que seja um velhinho, cinquenta anos mais velho que nós (pitosga, taraulhoco, meio deslembrado).

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Vem isto a propósito do Calendário Pirelli 2017. Transcrevo:


This year, Peter Lindbergh became the first photographer to shoot three Pirelli calendars. His 2017 also marks another first for "The Cal", as the images have not been retouched. Lindbergh tapped 14 of his favorite women in Hollywood: Nicole Kidman, Lupita Nyong'o, Uma Thurman, Lea Seydoux, Rooney Mara, Kate Winslet, Robin Wright, Julianne Moore, Alicia Vikander, Charlotte Rampling, Zhang Ziyi, Penelope Cruz, Jessica Chastain and Helen Mirren. Lindbergh also included Anastasia Ignatova, a political theory professor in Moscow, that he met a dinner last year. All the women featured were tasked with sharing their natural beauty for the black and white calendar which he has titled "Emotional".


"Beauty is just commercial interest, as you see in magazines, women are washed out from every experience. That's just the opposite of what I wanted. These are the most talented women that I admire in the entire world. They are emotional and I wanted to show that," Lindbergh said during the official press conference in Paris today.

All the women in this calendar, we're women of all different facets. The calendar is physical, so what are you building inside? It's about the journey." Lindbergh and his subjects all hope to spark the cultural conversation on what real beauty looks like. "Look at this Pirelli calendar," Mirren said, "the reality is we live, we love, we continue, that's the role of women. It is very difficult, for young girls nowadays, incredibly challenging. The only way we can help them along the way is to say, life goes on a long time. You will be many things in your lifetime."

Pirelli Calendar 2017 by photographer Peter Lindbergh


Captured by legendary photographer Peter Lindbergh and featuring equally as iconic women as Nicole Kidman, Julianne Moore, Lupita Nyong'o, Kate Winslet and more.


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E tenham, meus Caros Leitores, um dia muito feliz. Vocês merecem.

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quarta-feira, outubro 12, 2016

Sou bonita?


Pronto, está bem. Agora vou portar-me normalmente e deixar de me armar em missionária, espalhando conhecimentos essenciais à vida humana. 

Depois de ter escrito o post abaixo sobre parte da genitália feminina (e relativamente ao qual espero bem que os mais moralistas não tenham ficado chocados com as imagens de sexo explícito que tive que incluir para conseguir prestar um serviço público de qualidade), estava tentada a prosseguir na senda da divulgação da mais fina joalharia (e aqui refiro-me à anatómica e não à joelharia de Cesariny -- mas, porque já virei a página, não vale a pena pedirem que conte a história, até porque só isso dava outro capítulo.)

Agora, para agitar consciências e desafiar ortodoxias (lol) -- já que no post abaixo o tema não tem nenhuma heterodoxia, é meramente científico -- fico-me pela beleza, esse tema filosófico que tanto me mobiliza.

Olho-me ao espelho de manhã, quando me arranjo. Sempre à pressa, passo um lápis cinzento junto à linha de pestanas da pálpebra superior, depois uma leve sombra lilás, depois um rímel muito ligeiro. A seguir, ponho um blush ultra discreto em tom pêssego e, por vezes, passo um brilho rosado nos lábios. Depois solto o cabelo que prendi para tomar banho (nos dias em que não o lavo) e passo o pente. Se lavei o cabelo, nem o penteio, apenas o ajeito com a mão. Nesses dias, mesmo no inverno, saio com o cabelo molhado. Nunca uso secador. A seguir, revejo o conjunto, passo o dedo nas pálpebras para esbater a sombra, aperto os lábios um no outro para que o gloss fica mais neutro, sacudo o cabelo para que fique mais despenteado. E saio à pressa. Ah, não. Vou a correr ao quarto e ponho um esguinchinho de eau de toilette (geralmente o Nº5). Nos semáforos, ajeito o retrovisor para me ver ao espelho, passo a mão no rosto para que não se note o blush. Quando chego ao meu destino já nem me lembro destes cuidados pois sou logo tomada de assalto. Mas, às vezes, no carro, dou por que me esqueci de passar o brilho nos lábios e penso que, à chegada, devir ir à casa de banho tentar descobrir algum baton na carteira para tentar suprir a grave lacuna. 

E tudo isto porquê?

Para ficar mais bonita? Porque não me acho bonita e penso que só com umas cores suplementares é que lá vou? 

Não sei. Desde pequena que gosto de me arranjar. Mas tem que ser coisa simples, ar natural. 

É isso e usar brincos. Não consigo andar sem brincos. Se acontece esquecer-me, volto atrás. Ir sem brincos seria como ir sem cuecas. O pior é quando, por roçar com o cinto do carro ou qualquer outra coisa, fico sem um brinco e só dou por isso depois. Fico a sentir-me limtada o resto do dia. 

E porquê? Porque fico com medo de perder marido? Porque não bato bem da bola? 

Também não sei.

Tretas genéticas, se calhar. Ou muitos séculos disto, das mulheres gostarem de se aperaltar. Não faço ideia. 

Acho o meu marido um homem bonito e gosto de nos ver aos dois juntos. No outro dia cruzámo-nos com um casal em que eram ambos feios de morrer. Mas feios, feios, feios. Não imaginam: feios de alto a baixo, mal jeitosos, sem remissão possível. E ali iam abraçados, conversando e sorrindo, apaixonados. Saíu-me, baixinho: 'Como é que é possível irem naquele enlevo, feios daquela boa maneira...?'. O  meu marido chamou-me preconceituosa e disse que eu tinha acabado de proferir uma coisa completamente estúpida. E eu sabia que sim. Mas não consegui deixar de pensar isso ao vê-los.

No entanto, sei -- então não sei? -- que isto da beleza é um conceito completamente relativo. Tão relativo, meus lindos.



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A beleza real toca o coração
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A beleza está no que vêem os olhos que amam




Sou feia?

Definam-me o que é a beleza.



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As fotografias mostram Kate Moss num trabalho de Peter Lindbergh para a Vogue italiana.

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E os Leitores homens queiram, por favor, confirmar se o meu é maior que o vosso
E as Leitoras mulheres queiram, se faz favor, pôr-se do meu lado. 
Não é cá hora de divisões.

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terça-feira, outubro 04, 2016

As mãos de ambos
desataram a carícia
que um ao outro prendia






Não me iludo!
Não me iludo!

Não me é permitido mais
do que perdê-lo

- Oh meu anjo amado...

Minha asa de voo
                                   desamparado!




Soletra as ruínas
do próprio peito

a fitar a lonjura
dos tempos
os conflitos do mundo

desse jeito equívoco
e turvo, nesse uivo
ambas as mãos tocando

o absurdo





Ela vai rompendo as trevas
ameias e descaminhos
os atalhos, as entranhas

de florestas e espinhos

Ela vai colhendo as rosas
que lhe mitigam o peito
em torno do coração

Ela vai na desmesura
em busca da razão
que lhe explique a rasura

a devastar-lhe a paixão





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Anunciações, um 'romance' de Maria Teresa Horta
Fotografias de Peter Lindbergh excepto a primeira, de Irving Penn
"Porgi, amor", Mozart, interpretada por Renée Flemming

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Para trás do tempo não havia tempo
nem rasto de algum assombro
só o negrume do vazio absoluto





É como se nós os dois
dançássemos
o perdimento

Tu de rojo a meus pés
e eu erguida num ímpeto
a tentar turbar o tempo

As minhas mãos
a suster 
e as tuas a empurrar

num mesmo gesto sedento

A entrega e a recusa
o corpo e o pensamento




Voas atordoado
à roda de ti mesmo

em busca da minha dissonância
dos ínvios metais das estrelas
das imortais palavras divinas

que te façam esquecer-me

Voas em torno da tua eternidade
olvidada e entretanto...

perdida
rendida




- Vem outra vez!

Chamo-te num grito
quando a saudade desata

e o corpo me precipita
até à fenda da farpa

onde apenas sei
do espírito
esse tudo e esse nada



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Anunciações, um romance de Maria Teresa Horta
For the love of fallen angels, fotografias de Peter Lindbergh
Lullaby de Shostakovich, interpretado por Rimma Bobritskaia

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um dia feliz.

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quinta-feira, agosto 27, 2015

A beleza das mulheres maduras. Peter Lindbergh reuniu 6 beldades dos anos 90 e mostra-nos agora como agora estão ainda mais bonitas




Se o amor ou o sexo ou a paixão ou essas coisas são coisas mentais, tenho a certeza que também a beleza o é. Quem o feio ama, bonito lhe parece. Mas não precisa, sequer, de ser isto. É que mesmo quem é belo pode parecer feio ou desinteressante aos olhos de quem não está nem aí. Os olhos de quem vê contam muito nisto da beleza.

Olho as minhas árvores secas, adultas, ramos cinzentos, troncos rugosos e cobertos de peles caídas e acho-as belas, extremamente belas.

Com a idade pode a carnadura ganhar alguma flacidez, pode a pele ganhar rugas, pode o cabelo branquear ou enfraquecer, pode a capacidade de visão erodir-se um pouco, pode tudo isso - que a beleza dos rostos ou corpos de quem é olhado com admiração ou carinho manter-se-á intacta ou, até, ganhará uma textura de suavidade.

E isto vale para homens ou mulheres. Há muitos homens que são muito mais interessantes na idade madura do que em jovens; e há homens que eram bonitos em novos e que, com mais ou menos cabelo, mais ou menos barriga, serão sempre lindos aos olhos de quem os ama.




Cindy Crawford, Helena Christiansen, Eva Herzigova, Karen Alexander, Nadja Auermann, and Tatjana Patitz juntaram-se e Peter Lindbergh olhou-as, enternecido, agradecido. E mostra-as maduras, belas como sempre. The Reunion




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sábado, junho 27, 2015

O amor ao espelho. Like a painting.








Estava sem saber o que fazer, agora que estás longe. As minhas irmãs vieram fazer-me companhia, tentam sempre animar-me. Animada eu estou, sinto é a tua falta, parece que nada faz muito sentido sem te ter aqui comigo. Durante o dia penso que te devia contar o que pensei, contar-te sobre a música que ouvi, relatar-te as conversas que tive. Mas, depois, ao falar contigo, não ia maçar-te com isso e ficava com tanta coisa dentro de mim, sem as partilhar contigo. Parece que nada vale muito a pena se é para ficar apenas comigo. Há uma dimensão que se acrescenta ao que se vive, que é a que resulta da partilha com quem conhece o nosso coração.

Então elas vieram, buliçosas, e as três escolhemos vestidos de verão, e os vestidos que escolhemos não tinham alças e mal cobriam o peito e então escolhemos blusinhas justas para vestir e despimos os soutiens, e vimos como os nossos seios permanecem iguais, pequenos, mamilos pequenos, peitinhos de adolescente, e rimos, e dissemos graças maliciosas, e depois escolhemos laços para pôr na cintura, cada laço de sua cor, e sapatilhas bordadas com brilhantes, e penteámo-nos umas às outras, e pusemo-nos com ar de noivinhas antigas e, rindo, saímos para o jardim e fizemos uma roda em volta da árvore e cantámos e dançámos. E voltámos a ser meninas, as manas sorridentes, as meninas com uma vida feliz pela frente.

Depois sentámo-nos na varanda, cansadas, e, ao verem-me calada, logo se puseram em minha volta, e desfizeram-me o penteado, e contaram-me histórias, tentaram fazer-me rir. Ri-me para não as preocupar, para que se fossem embora. Sei fazer de conta que estou contente. Mesmo elas, que me conhecem tão bem, não percebem, julgam que desviam o meu pensamento para sítios onde tu não existes. Deixo-as julgar, rio-me com elas.

Vendo-me alegre, foram. Vi-as saírem, conversando, de braço dado, cabelo solto, disponíveis para serem felizes. Viraram-se, fizeram adeus, atiraram-me beijos no ar. Retribuí, rindo.

Mal se afastaram, voltei para dentro. Olhei para o relógio. Vontade de falar contigo. Vontade de saber de ti, vontade de te ouvir a contares-me o que fizeste. Podias dizer coisas simples, assim: atravessei a rua, a árvore ao pé do semáforo está florida, almocei numa esplanada, pensei em ti, depois o sol batia-me na cara, não consegui ler, pensei em ti. Podiam ser coisas assim, simples, que eu ouviria com interesse, como se fossem histórias raras. Mas a esta hora podes estar a trabalhar ou em casa, não posso ligar-te. Tenho que esperar que me ligues, que me escrevas, que te lembres de mim.

Despi o vestido das flores, despi tudo. Fiquei nua. Olhei-me ao espelho, a pele branca, macia, sem préstimo. Senti a falta do teu olhar que acariciava a minha pele, que procurava o meu olhar. Querias perceber se eu te queria tanto como tu me querias. E depois olhavas o meu corpo que dizias que tinha sido feito para ti. Lembras-te de como olhavas o meu corpo? Lembras-te de como querias que eu me despisse devagar para olhares? Lembras-te de como querias aproximar-te e eu te afastava até que não aguentasses mais? Ah, como eu gostava de me despir para ti, de deixar que o sol entrasse para pousar no meu corpo, para que me visses envolta em luz. E tu dizias, afasta-te da janela, ainda te vêem e eu provocava-te, aproximava-me ainda mais, e dizia, pois que me vejam, que vejam como me dispo para ti, para que me vejas nua, tua. E fechava os olhos, e dizia, se eu não vir, também não me vêem a mim, e tu dizias, eu vejo-te, e eu dizia-te, ah, mas eu quero que me vejas, é para ti que danço ao sol, e o sol dançava na minha pele e tu que eu fosse mas é para perto das tuas mãos. E eu dizia, já vou, quando o meu corpo não puder esperar mais, quando as tuas mãos não puderem esperar mais. E tu dizias, já não posso esperar mais. Ainda te lembras?

E, como eu não fosse logo, insistias, vem, traz o teu corpo para os meus braços, vem, vem que não vivo sem o teu corpo junto ao meu, vem que os meus braços ficam vazios sem o teu corpo, vem, vem.

E, então, eu ia, e ia devagar, e ia antecipando o prazer de me ter entre os teus braços que me abraçavam com tanto amor, como se não fossemos separar-nos nunca. Lembras-te?

E assim estive, envolta em lembranças, em silêncio e saudades, em frente do espelho, até que a tarde tombou e trouxe o véu que prenuncia o anoitecer. Sozinha, num quarto quase sem luz, sem a tua voz, sem o teu olhar, olhei o meu corpo inútil. Podia ter tido pena de mim. Mas não tive. Já não te lembras de mim. Não mereces estas minhas tão fundas saudades.

Depois tive uma ideia: vesti o vestido com que um dia me sonhei, e assim, vestida de branco, voltei ao jardim, entrei pelos fetos macios, deitei-me como numa cama feita para o amor, acariciada pelas folhagem macia como os teus dedos. Que saudades tenho dos teus dedos, eu era uma dócil harpa nos teus dedos, lembras-te?

Esperei a noite, que a noite esconde segredos, por vezes traz mistérios que se desvanecem pela aurora. Se me ligares ou escreveres não me encontrarás. Pensei: se um dia voltares a lembrar-te de mim, talvez já eu não me lembre de ti, talvez já me tenha apaixonado pelos mistérios que a noite esconde.

Fechei os olhos e deixei que o sono ou o sonho ou os segredos tomassem o meu corpo. O meu corpo é o corpo de uma mulher livre. Lembras-te disso, não te lembras?



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As fotografias fazem parte da exposição 'Vogue: Like a Painting' que pode ser vista no Museo Thyssen-Bornemisza em Madrid  entre o próximo 30 de Junho e 12 de Outubro.



A primeira fotografia é One enchanted evening, Taormina, Sicilia de Peter Lindbergh, 2012. 
A segunda não sei.

Maria Callas interpreta Madame Butterfly de Puccini

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E, por falar em liberdade, desçam, por favor, até ao post seguinte. 
Ali fala-se da liberdade e da dignidade no berço da democracia e junta-se um link para um magnífico post onde se desvendam alguns mistérios.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um sábado feliz, sereno.

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