Só posso concluir aquilo que já concluí há muito tempo: o Corbyn é uma nulidade. Bem podem dizer-me que são as circunstâncias ou que sei lá o quê. Não vou nesse. Nunca fui e agora está à vista no que deu. Não há conjunturas que expliquem que, perante políticas tão erradas, estratégias tão desastrosas e atitudes tão inaceitáveis como são as dos Conservadores e, mais recentemente, potenciadas pelo descaminho que é o trafulha do Boris Johnson, o principal partido da oposição não tenha via verde para o tirar de lá. Devia ter sido piece of cake, canjinha de galinha. Já dizia o outro: até o rato Mickey teria conseguido melhor.

Jeremy Corbyn sempre se mostrou um frouxo, pouco claro, nunca conseguiu traçar um rumo claro e pòr-se em cima dos carris, nunca explicou, de forma inequívoca, o que se propunha fazer caso ganhasse. E veio agora com propostas que lançaram a confusão na classe média, ameaçando-a com medidas que poderiam fazer sentido se fossem para classe alta, altíssima e não para a grande maioria da população contribuinte; e isso e mais um banho de nacionalizações e mais um punhado de medidas desfasadas do tempo. Os eleitores votam não em princípios abstractos mas em pessoas que inspiram confiança e relativamente às quais se sabe o que farão quando se virem com o poder nas mãos. Portanto, o resultado dos Trabalhistas não terem resolvido o problema da sua liderança deu no que deu: um desastre para o Reino Unido. E uma machadada na União Europeia. Mas, se ganhasse o totó do Corbyn, a coisa não seria melhor. Portanto, vou ali e já venho.
E eu, perante esta fatalidade anunciada, não consigo dizer mais nada. Só que tenho pena.

E, se não for sobre isso, nem sei de que fale. Não estou em minha casa. A febre dos jantares e almoços de Natal alastra imparavelmente. Hoje estou a fazer
baby sitting pois temos que ser uns para os outros.
E isto porque me baldei a mais um. Melhor: a dois. Pode parecer mentira mas é verdade. De manhã, quando disse a um que hoje não ia, franziu o nariz, fez-se de desconfortável. Limitei-me a dizer: 'Pois. Mas é assim mesmo. Não vou. Ia ser a tarde em viagem, amanhã a manhã em viagem. Dois meios dias perdidos. Não dá. Ao outro, tinha dito logo de início que comigo não, violão. E ainda não fica por aqui. Isto são modas que vão alastrando. Não tenho ideia nenhuma de há uns anos haver esta moda dos almoços e jantares de natal em tão grande número. Ou, então, era eu que estava mais circunscrita. Não faço ideia.

Os meus meninos já dormem. Foram cedo para a cama. Contei-lhes uma história e, estafados como estavam, foi tiro e queda. Por isso, nem é que me estejam a distrair. Não, não é isso. A questão é que, quando estou desenquadrada e fora do meu sofá, escrevo mas é o que se vê, a coisa parece que não flui. É como quando cozinho sem ser na minha casa.
Parece que a intuição se me esvai, parece que a coisa perde a espontaneidade.
E, assim sendo, uma vez mais fora do meu habitat, sem tema que puxe por mim, só me ocorre referir um artigo que li sobre a lavagem dos soutiens. Ao que parece, é frequente algumas mulheres usarem tempos a fio o soutien sem o lavarem. Sendo de cor não se notará a falta de limpeza. Li o artigo com aquela minha perplexidade de quando percebo que vivo num mundo paralelo. Então alguns especialistas pronunciaram-se: um soutien não precisa de ser lavado de cada vez que se usa mas não deve ser usado mais do que três vezes sem ser lavado. Exceptua-se, claro, a situação em que a dona pratica desporto, transpira, etc. Nesse caso, obviamente, deve ser lavado de cada vez.

Isto há com cada uma.
Ah, lembrei-me agora de um tema sobre o qual ando para falar há algum tempo. Serviço Nacional de Saúde.
Há pouco tempo almocei com uma espanhola que tinha vindo há umas semanas da Tailândia onde tinha estado a passar férias com a família. Uma das filhas contraíu uma bactéria esquisita e ela teve que a levar às urgências de um hospital público em Madrid. A miúda fez uma série de exames, foi medicada e foi para casa onde deveria ficar praticamente em isolamento a tratar-se. Disseram-lhe que em princípio ficaria bem e que telefonariam a vigiar. E assim foi. A miúda não voltou nem ao hospital nem foi a outro médico. Telefonavam, perguntavam pelos sintomas, pela temperatura, etc. Até que a miúda ficou livre de cuidados e teve ordem para voltar à escola. Uma semana depois, quando ela já nem se lembrava, recebeu novo telefonema do hospital a fazer um ponto de situação sobre o estado de saúde da filha. Estava óptima. Ela ficou muito bem impressionada pela eficiência e cuidado. Disse que na saúde, em Espanha, não há crise, não há tempos de espera, não há descontentamento, não há tema.

Fiquei a pensar que, de facto, vai-se a tanta consulta, entopem-se hospitais e centros de saúde, quando, na volta, uma vez diagnosticada a maleita e medicado o paciente já não haverá mais a fazer a não ser vigiar o bom andamento da recuperação.
E, que nem de propósito, a semana passada constatei que esse bom método não vigora só em Espanha, já também por cá está em uso. No outro dia a minha mãe contou-me que estava com um sintoma bizarro. Vi no google e pareceu-me que não seria nada de grave mas que, pelo sim, pelo não, deveria se acompanhado. Sugeri que ligasse para a Saúde 24. Assim fez. E em boa hora. A senhora que a atendeu foi atenciosa, fez recomendações, validou algumas situações. E ficou de voltar a ligar por volta da hora de jantar. E ligou. E voltou a validar alguns aspectos, a aconselhar. E, para surpresa da minha mãe, no dia seguinte, voltou a ligar. Está tudo bem, os conselhos foram úteis, não foi não teve que ir ao médico, ficámos mais descansadas. E surpreendidas.
Portugal o que tem é um problema de organização, não é de dinheiro.
Infelizmente, não é só no SNS, é em todo o lado. Se há área em que Portugal tem um longo caminho pela frente é o da organização. E a organização só se consegue com uma boa liderança e com inteligência. Tenho esperança que estejamos a começar a trilhar esse caminho.
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Entretanto, já estou em minha casa e, como sempre, perdida de sono. Estou com a leve sensação que o tema da lavagem do soutien está aqui a despropósito. Mas também não é agora que vou fazer purgas no texto. Vocês relevem, está bem? Façam de conta que isto é apenas uma conversa sem guião, em que vamos falando das coisas que nos vão ocorrendo. Quantas vezes, quando estamos a conversar, na maior informalidade, os temas vão surgindo em mão e em contramão. Por isso, se estou aqui na conversa convosco, não vou rasurar o que saíu, vou é contar com a vossa tolerância.
Também me apeteceu juntar ao texto as belíssimas fotografias de
Alison Pollack que vê de perto, como ninguém, a hipnótica beleza destes seres misteriosos, irreais. Não têm nada a ver com nada mas a beleza não precisa de ter a ver com nada.
E também me apeteceu ter aqui a voz tranquila de
Sissel. Gosto muito de ouvi-la. Espero que também gostem.
E, por ora, é isto.
Uma boa sexta-feira para si que aí está a aturar esta conversa desconexada.