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domingo, dezembro 15, 2024

O tocante e digno testemunho de uma mulher sozinha

 

Passei todo o dia num virote. 

Os meninos não dão tréguas. Em especial, ela que que é toda líder, toda voluntarista e determinada, logo que chegou anunciou que vinha tratar das decorações de Natal, dentro e fora de casa. Foi ela para a cave e foi de lá trazendo caixas e baús. 

E foi buscar o escadote e depois, claro, precisou de ajudantes.

E desencantou pais-natais de que se lembrava de, quando era pequena, ver na nossa outra casa, bonecada de que eu já nem me lembrava. 

Mas ela estava feliz pois o rever estes enfeites despertou nela uma certa nostalgia. 

E contou a toda a gente, inclusivamente por telefonema, que tinha descoberto os pais-natais da outra casa, e adorou também encontrar as bolas grandes que ultimamente não tinham saído à cena.

E agora há bolas numa árvore, fitas noutras, uma coroa natalícia num portão e um laço no outro. E há de tudo um pouco e a casa está alegre e festiva, com luzinhas que são uma graça.

E para o jantar anunciou que ia fazer cebola caramelizada para pôr por cima dos hambúrgueres e, sozinha, cortou cebola, muniu-se de ingredientes e fez o que eu não sabia que se fazia assim: com manteiga, açúcar mascavado, vinagre balsâmico. E ficou espetacular. E ajudou a rechear os hambúrgueres feitos à mão com queijo da ilha ralado. Isto com o cão a chatear e a ter que ser posto fora da cozinha.

E depois de ter tomado banho, pediu para lhe secar o cabelo, coisa que faço de gosto e que sempre acorda em mim o gosto de ser cabeleireira.

Os rapazes estiveram mais sossegados, a guardarem-se para atacar à hora das refeições.

Agora já dormem pois amanhã dois deles têm programa bem cedo. E ao almoço já cá estão de volta, desta vez também com os pais. 

E se agora conto isto é porque esta é a minha realidade, diametralmente oposta à de Jenny Jackson. 

Esta mulher já apareceu noutros vídeos desta série e sempre me espanto com a sua franqueza, com a sua incrível humildade e, ao mesmo tempo, orgulho e dignidade. Vive sozinha. Habitou-se a viver sozinha. Gosta de viver assim. Sente-se independente. Mas, ao ficar com muitas dores nas costas, agora que a idade já avançou um pouco mais, sentiu que precisava de ajuda. A forma como ela fala disso, tão sincera, tão espontânea, é tocante.

O vídeo é, em minha opinião um testemunho fantástico, e talvez nos ajude a perceber como podemos ajudar os que estão sozinhos e têm receio de perder a sua independência (ou a sua dignidade) caso peçam ajuda.

Está legendado de origem em português pelo que se vê (e ouve) lindamente.

I OWE you my LIFE

There comes a moment in every life when the weight we carry feels too great to bear alone. In these moments, a choice appears: to keep struggling in silence or to open ourselves to the strength and kindness of others.

This story is about that choice — a journey of discovering the beauty in being vulnerable, and in finding that this simple act can transform not just ourselves but those who stand ready to help.

It’s not easy to let go of the walls we build to protect our independence, but when we do, something remarkable happens. Bonds, delicate yet enduring, can be forged; a quiet, gentle exchange of giving and receiving becomes a shared act of humanity, binding us ever closer to one another and reminding us that we are not alone.

Featuring Jenny Jackson.

Filmed in Hermanus, South Africa.


This is the fifth film that we have made together with Jenny.  If you've missed the others, you can see them here:

domingo, março 10, 2024

Dia de não-reflexão... Antes, dia de sentimentos profundos

 

Dia efectivamente mais calmo. E muito bom. Almoçámos juntos num restaurante familiar, muito agradável, com comidinha boa. Comi um prato de que gosto imenso e que já não papava há que tempos: pescadinhas fritas de rabo na boca com arroz de tomate. Que bem me soube. 

Depois fizemos um pequeno passeio a pé que teve que ser encurtado pois desatou  a chover e... imagine-se: tínhamo-nos todos esquecido dos chapéus de chuva no restaurante. Portanto, voltámos lá e seguimos para casa do meu filho.

Os rapazes jogaram futebol na PlayStation e depois futebol a sério no corredor com uma bola mole (sendo que, aqui, já não foram só os rapazes pequenos que se digladiaram com o esférico como pretexto). Entretanto, a minha filha tinha ido comprar cenas com a sobrinha que, quando chegou, vinha radiante: um gloss com sabor a cereja, um gloss que refresca e faz efeito de plump up (ou lá como se chama) nos lábios e, ainda, um rímel transparente. 

E ainda houve lanche: a minha filha tinha levado uns biscoitos e a minha nora fez um delicioso bolo de laranja.

E, da horta, ainda trouxemos couves e brócolos que este domingo já marcharão com bacalhau com batatas. 

Portanto, uma tarde daquelas de que eu estava completamente a precisar. Cheguei a casa muito retemperada, mais leve, a cabeça mais descansada. E a caminhada feita depois, com o dog, ao frio e à chuva, só fez ainda melhor. 

Não reflecti nada a nível de eleições pois a minha decisão está tomada ab initio. Só espero é que a malta vá votar e, já agora, que vote com a cabeça e não com os pés.

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Entretanto, enquanto vejo a votação para o Festival da Canção (em que a Filomena Cautela ou está grávida ou está atrapalhada dos intestinos pois não tira a mão da barriga), vou partilhar um vídeo que vi há pouco e que me agradou bastante. Calma, tranquilidade, amor à natureza.

Feeling deeply

That’s what the world tells us. There's been a movement to watch our thoughts and feelings, making sure that we're positive at all times. We receive messages that we must shift these ‘bad’ feelings and find better ones. But when we do this, we close down and shut off parts of ourselves, suppressing the fullness of our emotions. To feel whole and be whole, we must honour all of it - good and bad.  All emotions are beautiful and create a fullness and wholeness in our experience.  

They are powerful forces that our bodies can use as fuel for action and healing. Our thoughts create reality, not the other way around. So when our reality doesn't look the way we want it to and brings up emotions that are unpleasant to us, that is the message we are being given to start building a bridge between what is and what can be. 

Taking time to be aware of our reactions, thoughts and emotions will bring us into a space of clarity and balance where we can make informed decisions guided and supported by our soul... decisions that will usher in release and healing for ourselves and all of life around us.

Featuring Phoebe Barnard (www.phoebebarnard.com)

Filmed in Mount Vernon, Washington State, USA.

The poem read at the start of this film is called 'The Peace of Wild Things' - by Wendell Berry.


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Um belo dia de domingo

Saúde. Boa sorte. Paz.

terça-feira, dezembro 26, 2023

Agradecer e abraçar

 

Afinal o dia de Natal não foi cá em casa. Eu com dores de garganta, meio engripada mas sob controlo. O meu filho, depois de bem atacado, já quase bom, embora ainda com tosse, mas a minha filha pior, a sentir-se doente, a sentir que não devia sair de casa.

Estávamos a ver as coisas mal paradas. Natal sem estarmos juntos e, em especial, sem que a criançada esteja junta não é Natal. Mas, felizmente, tudo se resolveu pelo melhor. Fomos nós ter com ela. Esteve com máscara e almoçou fora da mesa, embora perto de nós, não fosse contagiar os demais (os demais que ainda conseguem aguentar-se livres do bicho).

Eu e ela provavelmente apanhámo-lo nos hospitais por onde temos andado. Parece que está meio mundo apanhado.

De tarde, ver a minha mãe, por via das dúvidas, só meu filho e a minha nora. Encontraram-na menos queixosa, melhor encarada. Face ao estado em que a vimos, quase parece milagre que esteja a recuperar tão bem.

O meu marido foi para o parque com os rapazes. Não passam sem uma futebolada. Até o mais pequeno já gosta de se pôr à baliza. Se daqui por uns anos derem conta de dois irmãos mais dois irmãos, primos uns dos outros, todos guarda-redes, provavelmente dois pelo Sporting e dois pelo Benfica, já sabem que serão os meus quatro queridos rapazes.

Desta vez, despassarada e atordoada como tenho andada, incapaz de atinar com combinações, foi o meu filho que cozinhou as carnes. Óptimas, no ponto, saborosas e bem cozinhadas. É um chef, o meu filho. Eu limitei-me a fazer batatas raclette e molho de tomate.

Desta vez não levámos o cão maluco. Impossível num apartamento cheio de gente, com miúdos barulhentos, com o momento de agitação que sempre é o da troca de presentes, com bolas de futebol à mistura, com comida à mão de semear, com um movimento permanente. Portanto, foi mais tranquilo pois se, em cima disso, tivéssemos um cão a querer abocanhar tudo e toda a gente a zangar-se com ele, teria sido mais complicado.

Quando chegámos a casa, de noite, o bichinho, coitado, estava como sempre está nestas ocasiões: nervoso, amedrontado, com receio de vir à vontade ter connosco. Temos que lhe fazer festinhas e fazer-lhe perceber que não ficou de castigo, que não estamos zangados com ele. Quando percebe isso, fica numa alegria desmedida, salta e atira-se para o chão para lhe fazermos festas, brinca à nossa volta. Fomos fazer uma caminhada nocturna, o ar gélido, eu agasalhada e a recear piorar. E se calhar piorei mesmo. Estou para aqui cheia de frio, cheia de arrepios. Já bebi um chá quentinho e daqui a nada vou chupar outra pastilha. A ver se isto não se complica para aqui.

Entretanto, enquanto escrevo, vou vendo o que os meus amigos vão enviando sobre os seus natais, outros vão publicando piadas. E a minha filha encaminhou a fotografia de uma amiga comum, em casa, com as suas crianças. Todos muito bem vestidos, chiques, mesmo, as meninas vestidas de igual, todos sossegados, direitinhos, a fazerem pose para a fotografia. Fico sempre intrigada. Como conseguem? As nossas fotografias são o desconchavo habitual, uns sentados no chão a jogarem ao 'vírus' (se é que percebi bem), outros estendidos no sofá relax, um deles quase a fazer a cambalhota, por fim esse em tronco nu. Tinha pensado que neste dia de natal iria tentar que ficássemos na escada, todos sentados, a família toda junta. Afinal não aconteceu. A ver se no ano novo.

Não falei dos doces. Estou desconcentrada e a sentir-me meio adoentada. Gaita. Adiante. A minha filha tinha pavlova de chocolate e arroz doce e eu levei dois bolos da padaria portuguesa. E a minha nora levou mousse feita pela mãe. E bombons. E, uma coisa muito boa, um prato de belas bolachinhas, muito saborosas, feitas pela minha menina mais linda, tão querida, que gosta de também colaborar na confecção da ementa natalícia. Com tudo isto, sobraram muitos doces. Trouxe algumas bolachinhas e o que sobrou dos dois que levei, e congelei. Descongelo no ano novo.

E, com isto, a semana começa numa terça-feira. Não parece, não é? Diria que, no máximo, seria segunda-feira. Mas não senhor. Terça feira. Continuo desfasada das rotinas mas, agora que parece que a esperança numa recuperação não é ficção, a ver se consigo encaixar as idas ao hospital sem quebrar a rotina da piscina ou das leituras ou da escrita. Não sei bem como consegui-lo mas acho que terei que tentar porque senão parece que nem sou bem eu. Isto já para não falar que há não sei quanto tempo que não conseguimos ir ao campo, à nossa maravilhosa casinha in heaven. Enfim. Uma coisa de cada vez. É o que me dizem, é o que a minha filha está sempre a dizer-me: um dia de cada vez.

E pronto. O Natal já passou e daqui a nada o ano também já se foi. Mas estamos aqui e isso é o que importa. Agradecer e abraçar. E seguir em frente. É isso, não é?

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Maria Bethânia - "Agradecer e Abraçar"


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Muito obrigada pelas vossas palavras simpáticas e não levem a mal que não agradeça a cada um, está bem?

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Um dia feliz
Saúde. Força. Paz.

sábado, dezembro 23, 2023

Telefonemas, mensagens... e a vida a seguir num carril paralelo...

 

Estou muito cansada. Não foi a manhã nas compras com a minha menina linda, quase da minha altura, ligeira e apressada. Ela gosta de fazer compras e, por isso, o presente não será tanto o que compra mas o prazer de andar às compras. Decidida, objectiva, pragmática, ela já traz a lista das lojas onde quer ir. Chega, olha em volta, circula, vai direita àquilo que lhe agrada, pega no que lhe interessa e vai aos provadores. Isto se for roupa, claro. Como as medidas que levou são as dela, veste, fica-lhe bem e, sem hesitação, decide: 'Por mim, está feito'. 

Nos adereços ou nas agendinhas a mesma coisa. Depois ajudou na escolha de presente para os manos. 

Depois fomos almoçar e é também ela, sem pestanejar, que resolve o que vai comer. 

Um prazer andar às compras com ela. Sempre bem disposta, sempre conversadora, sempre com ideias.

O irmão mais novo andar às compras é coisa que não pratica. Para o do meio, se tem que ir, é uma tortura, fica furioso, impaciente. Os primos são igualmente despachados e resolutos. Nem vale a pena eu tentar sugerir alguma coisa pois a resposta é invariavelmente: 'Com todo o respeito, Tá, mas eu teria vergonha de usar isso'. 

Como a mãe do menino do meio tinha sugerido para esse filho uma camisola de malha, no outro dia aproveitei as compras com os primos para me ajudarem a escolher uma camisola à maneira. Ficaram estupefactos. Não acreditavam. Não podia ser, já ninguém usa camisolas de malha, diziam-me os dois. Por mais que eu lhes pedisse que se deixassem de preconceitos e me ajudassem a escolher, recusaram-se: 'Com todo o respeito, mas não vamos sujeitá-lo a isso. Uma camisola de malha? Vão gozar com ele.... Com todo o respeito mas já ninguém se veste assim...'. Liguei ao meu filho, passei-lhe o sobrinho mais velho, ele que ajudasse a esclarecer. Disse que esse era pelouro da mulher. Passou o telefone. Ouvi o mais velho a falar com a tia. Não estava nada confiante. Quando desligou, vencido mas não convencido, disse: 'Diz que é para ele vestir quando for almoçar a casa dos avós... Só mesmo se for para isso...'.

Lá arranjámos uma solução de compromisso. E só espero que não façam daqueles comentários junto do primo que vai receber a dita camisola....

Este ano as compras foram feitas sem grande (ou pequena) inspiração. Nem decorações natalícias ainda fizemos. Temos duas árvores estilizadas que se ligam e ficam com luzinhas e são as únicas que aqui temos.

Temos que arranjar mais qualquer coisa mas a verdade é que não nos tem sobrado tempo. 

A tarde inteira foi como as anteriores. Para agravar, um trânsito dos diabos. Depois, como é natural, muitos telefonemas, amigos de longa data a telefonar, a dar notícias. E depois quem sabe do que se passa a desejar bom natal e a querer saber da situação. E as mensagens. Várias, amigas, palavras de conforto e estima. Gosto, fico sensibilizada, aquece-me o coração. Mas estou a falar com uma pessoa e, ao mesmo tempo, várias outras chamadas a quererem entrar. Às tantas fico em stress. o meu marido enerva-se, diz que não sabe como consigo estar tantas horas ao telefone e trocar dezenas e dezenas de mensagens. Mas é natural: juntam-se os votos de boas festas aos votos de boas melhoras. 

Lá, no hospital, a minha mãe pediu para eu fazer chamadas em nome dela, a algumas amigas. Não me é fácil. Estava ao pé dela. Por isso, como é lógico, não entro em pormenores, relativizo, aligeiro. Mas há um esforço permanente para não usar nenhuma palavra a mais nem a menos, não mentir mas também não falar verdade, não desvalorizar mas não valorizar. 

Um dia, mais tarde, não sei quando, hei-de conseguir falar destes tempos tão complicados, tão difíceis. Nos primeiros dias ia-me completamente abaixo, não tinha mão em mim, não era sequer capaz de falar com os médicos, estava arrasada, incapaz de processar. A minha filha é que teve que se chegar à frente. Mas agora está constipadíssima tal como o meu filho. Ambos apanhadíssimos. Portanto, hoje fui sozinha. Não fazia sentido ir o meu marido. Não costuma ir. Se o visse, a minha mãe era capaz de estranhar e preocupar-se ainda mais. Portanto, enchi-me de coragem e fui sozinha. 

Dito assim pode parecer uma fragilidade ou cobardia excessivas da minha parte. Pode parecer e, se calhar, é. Quando eu for capaz de falar de forma explícita talvez compreendam a especificidade, o insólito e inesperado da complexa situação e o brutal impacto que está a ter em mim.

Mas começo a reagir. E, como sou extrovertida, falo sobre os assuntos e, por isso, a quem me pergunta como estão as coisas, a algumas das pessoas que sei que têm capacidade para compreender, conto e ouço o que me dizem -- tal como leio com muita atenção e carinho os comentários que aqui me deixam ou os mails que me enviam --- e, portanto, parece que o peso que me caiu em cima começa a pesar-me menos. Sinto-me mais conformada e resistente, talvez mais corajosa e, até, talvez comece a ganhar a capacidade de encarar as coisas com algum pragmatismo.

Mas a longa tarde lá e os longos telefonemas e as múltiplas mensagens deixaram-me muito exausta. 

Fomos caminhar à noite, quando chegámos. Um gelo ártico. Mas soube-me bem. Tal como me soube bem o banho quente a seguir. Temos comprado comida pois nem há horários nem disposição para culinárias. Valha-nos isso pois, a seguir aos banhos, o jantar está só à espera de ser aquecido.

E agora está a começar a dar-me o sono. 

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Um dia feliz

Saúde. Coragem. Força. Paz.

sexta-feira, setembro 15, 2023

Passarinhos (uns esvoaçantes e outros cagões), uma arvorezinha despistada, e eu sem saber como, dentro de água, me manter direita como um fuso enquanto bato pernas e braços

 



Uma amiga disse que tinha uma árvore e mostrou-a de bonita que era. Pelo nome, antevi que cheirasse muito bem. Ofereceu-se para me arranjar uma. Agradeci.

Quando a recebi, linda, não percebi a razão do nome que tinha. Pelo que dizia no vaso, o ilustre nome em latim, percebi que ela estava equivocada. Não era o que ela dizia, era outra, porventura não tão carismática mas mais mimosa, mais bonita.

Está plantada no meu jardim e já deu florzinhas desde que ali está. Tomara que vingue e se faça linda. Para sempre ficará como a ilustração de como é essa minha amiga, generosa, alegre... e um tudo-nada um bocadinho despistada.

Há bocado, ao fim da tarde, fui ver se um mini-sistema de rega estava ligado. Ao aproximar-me, levantaram-se do chão dezenas de passarinhos. Ao vê-los a elevarem-se e, depois, a voarem, pareceu um bando. Fiquei contente por estarem ali no meu jardim. Fico feliz quando vejo que os animais, sejam quais forem, gostam de estar no espaço que habito, admito que seja porque reconhecem que aqui há um respeito absoluto pela natureza.

No entanto, há um mas. Todos os dias de manhã, no terraço, debaixo do alpendre, sempre no mesmo sítio, aparece um grande cocó de pássaro.  Não percebemos onde está o pássaro quando ali vai fazer as suas necessidades. O ninho fica longe, não há onde se apoie e, digo eu, não é provável que faça cocó suspenso no ar, sempre no mesmo sítio. O meu marido fica furioso.

E, por falar em estar suspenso, creio que já referi que optei por outra modalidade de ginástica na piscina, agora em suspenso, sem pé. É mais puxado, cansa um bocado. Mas tal como tive grandes dificuldades quando comecei na outra, dificuldades ao nível da coordenação, agora estou a enfrentar outra complexidade. Ao passo que os meus colegas estão direitinhos como um fuso, na vertical, fazendo todos os exercícios sem sair do mesmo lugar, comigo é uma festa. Passeio pela piscina. Por exemplo, se o exercício for fazer movimentos de abrir e fechar as pernas, isto na vertical e sem pé, relembro, e ao mesmo tempo, com os braços abertos, fazer movimentos circulares de levantar a água, para fortalecer os músculos dos braços, faço tudo mas os movimentos que faço levam-se a deslocar-me. Por vezes vou parar à ponta da piscina. Enquanto os outros estão a fazer um exercício, estou eu a nadar para me reposicionar. Outras vezes tenho que parar para não atropelar os outros que ali estão, verticais e aprumados. Já perguntei a vários deles, incluindo ao professor, qual o truque para não andar de um lado para o outro. Não sabem dizer. Descansam-me, dizem que com o tempo vou conseguir, que é intuitivo. Ora isto é desconhecer que isto é física pura, estamos perante uma questão vectorial, de forças e impulsos. Presumo que tenha que me inclinar um pouco para trás ou para a frente ou fazer qualquer outra coisa. Mas ainda não percebi o quê.

Tirando isso, posso ainda contar que ao jogar ao disco com a minha neta, com receio de atirar para longe, atirava curto demais. 

Ela ficava sempre admirada: 'Mas o que foi isso...? Daqui a nada vou dar-te uma aula de musculação...'. E eu disse que sim, estava curiosa. Mas, afinal, esquecemo-nos. Não faz mal, fica para a próxima.

Resumindo: foi um dia bom.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Alegria e simplicidade. Paz.

segunda-feira, julho 03, 2023

Um dia preenchido e feliz
(com uma peça de teatro pelo meio e uma menina muito segura em palco).

E uma casa que muda com as marés

 

Afinal o meu marido não escreveu sobre o SNS... De manhã saímos para irmos assistir à peça de teatro em que entrava a nossa linda menina. E devo dizer que tem um à vontade em palco que me deixou de boca aberta. Quer a postura corporal quer as expressões e a forma como fala, bem como a segurança nos textos deixaram-me um pouco admirada pois, ao contrário dos irmãos e dos primos (e aqui refiro-me aos que são meus netos, pois, para além destes, têm mais quatro primos) que são totalmente desinibidos e onde chegam conversam logo com toda a gente, ela é mais tímida. Mas em palco está completamente à vontade. E mesmo quando tinha que dançar, dançou tão ou mais animadamente do que quando está em família.

Quando saiu tinha a família à espera. Vinha um pouco a vogar, como é natural depois da adrenalina em palco. E vinha feliz. Pois claro, com tanto aplauso e tanto carinho, não haveria de estar...? Mas vinha também transpirada, tal o calor que lá estava.

Estava muito calor cá fora e lá dentro.

Ainda assim, aproveitámos estarmos naquele sítio para darmos um pequeno passeio por ali, para conhecermos a evolução a nível urbanístico/paisagístico que foi significativa nestes últimos três anos. Mas íamos ficando assados, grelhados, fritos, cozidos, estufados, escalfados. Que calor brutal nesta Lisboa... Parece que estamos no norte de África.

Almoçámos num restaurante muito agradável onde antes do confinamento íamos muito. Foi bom voltar a comer a mesma comida, no mesmo fresco e amplo lugar, servidos pelas mesmas simpáticas pessoas que antes.

E depois também apanhámos trânsito.

E, quando chegámos, ainda fomos passear o dog que tinha ficado em casa.

Quando chegámos, ainda fui estufar carne.

E depois começou a chegar o pessoal das pilhas que duram, duram, duram... Não sei onde é que estes jovens (e alguns dos adultos...) arranjam energia para tanto exercício, tanta brincadeira. Se calhar, quando tinha a idade deles também eu a teria. Não sei. O que sei é que agora me espanto.

Para o lanche fizemos tostas e vou explicar como as fazemos, pois eles adoram-nas e pode ser que vos seja útil. Vamos com pratos cheios delas e, num ápice, desaparecem.

  • Tosto ao de leve fatias de pão, de preferência pão rústico ou de mistura (muitas fatias!)
  • Faço uma emulsão de tomate, assim: 

Num copo misturador ponho dois tomates grandes, bem maduros, cortados aos bocados, com pele. Junto uma pitada de sal, um pouco de orégãos. Com a varinha, trituro bem e depois vou juntando um fio de azeite enquanto continuo a mexer. Fica uma 'pomada' vermelha.

  • Numas tostas, com uma colher, ponho uma generosa colherada de emulsão de tomate por forma a cobrir com fartura cada fatia.
  • Por cima, 

- numas fatias, ponho queijo mozzarella fresco (desmancho as bolas com as mãos e espalho por cima do tomate), 

- noutras ponho uns bocados de queijo fresco de barrar com ervas, 

- e noutras ponho salmão fumado.

  • Hoje fizemos também um paté (que se revelou curto para a adesão que teve): 

num copo misturador pus uma lata inteira de sardinhas em conserva a que escorri parte do azeite. Juntei maionese e um pouco de vinagre balsâmico de Modena. Triturei até ficar uma papa macia. Espalhámos por fatias até onde deu.

  • No fim passo um leve fio de azeite por cima dos pratos e polvilho com orégãos.

Para acompanhamento por parte dos meninos: bongo. Alguns dos adultos, mini.

No fim comeram uma peça de fruta (pêssego, no caso) e comeram um gelado (sandwich de gelado).

E, como sempre, fiquei feliz por vê-los juntos, a conversarem, a brincarem, sempre na boa, sempre com bom apetite. Momentos abençoados.

Parte do pessoal saiu daqui para ir ainda apanhar a praia ao fim do dia e outros ficaram até à noite, tendo terminado o dia com sandes em bolo de caco de carne estufada.

Cheguei aqui ao sofá da sala por volta das dez e picos da noite. Como é bom de ver, não vi televisão nem li notícias. Mas estivemos a ver o documentário sobre o Grupo Wagner que, entretanto, com o que aconteceu há dias, está desactualizado pois termina dizendo que Putin nunca admitiu a ligação do Kremlin. Ora não apenas agora o admitiu como teceu comentários que ou são incongruentes ou ainda há muita ponta por onde puxar.

Mas, tirando isso, a essa hora, não tenho grande paciência para ouvir sobre a situação em França ou sobre as desgraças que rebentam do chão como cogumelos.

Por isso, enquanto não vou dormir (e acho que daqui a nada vou mesmo dormir porque a pestana não está a dar-me descanso), estive a ver uma casa fantástica. Durante muitos anos alimentei o sonho de um dia ter uma casa sobre as rochas, sobre o mar.

Passou-me. Agora não quereria. Com a subida das águas, ter uma casa em cima delas não é propriamente uma ideia muito segura. Mas, sobretudo, em famílias com muitas crianças e adolescentes, deve ser um pesadelo, sempre com medo que caiam à água. 

Provavelmente em Portugal, um projecto como o desta casa não seria aprovado. Tenho ideia que as nossas normas, transpostas das europeias, são mais restritivas, mais atentas à segurança. Mas, enfim, não sei.

Mas, pondo de lado essas preocupações, a casa é uma maravilha. Eu não usaria o tom rosa na decoração da forma como a dona da casa o usa mas isso é lá com ela.

Convido-vos a ver. Não está legendado mas as imagens falam por si.

The Alaska ‘Vanity House’ That Changes With the Tides | WSJ Mansion

Esta luxuosa propriedade à beira-mar no sudeste do Alasca, com piso de betão e uma cozinha rosa, custou US$ 2,07 milhões para ser construída e mobilada. A casa inclui uma parede de morango, uma cadeira flutuante que custa mais de US$ 3.000 e vista para o mar de todos as divisões.

A proprietária Kristi Linsenmayer descreve as alegrias e os desafios de construir uma casa personalizada sobre a água na zona rural de Ketchikan.


Desejo-vos uma boa semana, a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Tranquilidade. Paz.

sábado, junho 24, 2023

Num dia de calor de ananases, qual a melhor forma de o acabar...? Qual é? Qual é?

 

Não é só o que é, e o dia foi complicado, é também o calor. Já estive para adormecer mil vezes mas lá me vou aguentando.

Aqui ao lado, num dos grupos de whatsapp, sucedem-se as mensagens. De manhã à noite. Tive que tirar as notificações pois não suportava o plim plim constante. De cada vez que espreito já há mais umas quarenta por ler. e muitas não leio.

Por um lado uma efervescência omnipresente e vários dos intervenientes a combinarem coisas a toda a hora para todos os dias, e, por outro, as minhas horas que não dão para encaixar mais e a minha cabeça que já não consegue acomodar mais. Não que não gostasse. Gostava. Mas tinham os dias que ter cinquenta horas pois, para além do que tenho que fazer, tenho carências. 

Por um lado a questão do sono. Continuo com mais sono do que me parece normal. A última vez que fui ao médico contei que tinha tido covid e que daí para cá tinha ficado apanhada pelo sono e ela disse-me que, quando isso era um dos sintomas relevantes da doença, acontecia que subsistisse por mais um três meses. No meu caso já vai em quatro meses.

Por outro lado, a minha necessidade de ter algum tempo para mim, tempo para escrever (nomeadamente estas irrelevâncias), tempo para descansar alguma coisa. 

Chegámos aqui por volta das seis e meia ou sete, não sei, depois de ter ido ao supermercado e depois de uma conversa sui generis com a minha mãe que, embora esteja mais que óptima nos seus noventa anos, se compara com quando tinha menos trinta ou quarenta e se lamenta e manifesta profunda amargura por achar que tudo lhe acontece e que já não é o que era. Consome-se a olhar para o copo meio vazio e recusa-se a olhar ou a valorizar o copo meio cheio. Para além disso, teme qualquer sintoma, por mais banal que seja, como se fosse sinal de alarme e anúncio de uma fatalidade iminente, desestabilizando-se a ela e a mim.

Antes tivemos lá meninos em casa, uns fofos, sempre uma lufada de alegria. A minha menina foi para a cozinha e foi ela que cozinhou as costeletas que ficaram mesmo boas. Claro que, pelo meio teve o mano do meio a moer-lhe a cabeça, mas isso faz parte daquela dinâmica tão típica dos manos.

Mas, voltando aqui, depois de arrumar as coisas, ainda consegui ir apanhar orégãos (e a ver se este sábado consigo apanhar mais uma braçada) e já os pus a secar em cima de um lençol em cima da mesa da casa de jantar. E já está aquele perfume fresco e limpo e, ao mesmo tempo, cálido e mediterrânico, que tanto me agrada. E que me lembra que já passou um ano desde a última vez. Tempo do caraças que corre mais do que deve.

Está um calor de ananases. Mesmo agora a esta hora, a aragem que entra vinda da noite não é fresca. E isso não ajuda.

E tudo isto para dizer que não tenho cabeça para mais que isto. Salvam-se os vídeos com que me entretive a rir sobre danças do caraças. Divertidas, malucas, ou tradicionais mas tão extraordinárias que a gente vê e tem vontade de se questionar sobre o seu sentido e acaba a rir, como eles.








domingo, fevereiro 19, 2023

Crónica de um sábado
[E como se pode estar sozinho no meio de uma multidão]
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A minha neta ligou-me, dizendo-me que podíamos ir às compras. Disse-lhe que este sábado só se fosse ao fim da tarde pois antes disso estaria com a sua bisavó. Perguntei se não seria preferível a segunda-feira. Que não, hoje ao fim do dia estava bem.

Depois de deixarmos a minha mãe em casa fomos até casa do meu filho buscá-la e lá fomos as duas para as compras. Quando chegou ao carro disse que tinha feito a lista com as lojas a que queria ir.

Contei-lhe que comecei a escrever, que quero escrever um livro. Não estranhou. Para ela tudo o que eu faça é normal. Mas perguntou: 'E pintar? Não queres voltar a pintar?'. Disse-lhe que tenho vontade mas que depois não sei o que fazer aos quadros. Respondeu-me, de imedito, que podia vendê-los no OLX. Respondi-lhe que é uma ideia e que depois ela logo me ajuda nesse processo. Disse que sim e contou um peripécia de quererem comprar um carrinho para o irmão mais novo quando há algum tempo foram a Berlim e temiam que ele se cansasse de andar o dia todo no passeio mas que um carrinho era de brincar e noutro só lá devia caber uma criança de dois anos.

E lá fomos às compras. Focada, determinada, despachada. Não perde tempo, não hesita, não vacila. 

Depois fomos ter com o avô e com o cão e, a seguir, fomos pô-la a casa de uns amigos dos pais que, entretanto, já lá estavam porque o pai é que ia cozinhar. Eu disse: 'Ai é?'. E ela: 'Sim, ou era isso ou era frango assado do Pingo Doce. Por isso o pai vai cozinhar, vai fazer carbonara'. 

Farto-me de rir com ela. Relata as coisas com ar desprendido não deixando de fora os pormenores que acrescentam graça à conversa.

Quando lá fui levá-la, uma algazarra. Pelo que ela me disse, deviam ser uns vinte. 

Entretanto a turma da minha filha está a curtir as mini férias por terras do Alentejo e fomos recebendo fotografias não apenas da paisagem como, à hora de jantar, do lauto repasto. Com o apetite que os rapazes têm só mesmo um buffet à vontade. Estou mesmo a ver o mais velho a incentivar o mais novo: 'É enfardar...'

E nós, uma vez que já passava das oito e não tinha deixado nada feito para o jantar, fomos comprar uma pizza.

E agora vou dormir pois já é uma da manhã e o dia foi preenchido até dizer chega, tendo começado bem cedo. E eu, em vez me despachar e ir cedo para a cama, não senhor. Estive a ver a final do MasterChef (a muitas milhas do de Austrália, que adoro ver) e depois a dar uma vista de olhos nas notícias. Mas não me apetece comentar nada.

Já há bocado partilhei mais um vídeo com imagens extraordinárias do encontro de um grupo de gorilas com uma pessoa. E agora partilho um daqueles vídeos que gosto de ver da Green Renaissance. Ainda não tem tradução em português, é muito recente.

Sozinho no meio de uma multidão

The world is more connected than it's ever been before.  We can communicate instantly with our friends and family who live miles apart, thanks to the power of social media. And yet... why do so many of us still feel lonely? 

Feeling lonely is a normal human experience - it is something we all go through. And it's not simply a function of being alone. You can feel lonely in a crowd. Because loneliness is a feeling of being alienated from others, not feeling understood or connected - it’s a feeling that something is missing.

But loneliness is also a message that our body sends us, letting us know that we are important, and we need to become friends with ourselves again.  When we feel isolated or alone, we can choose to have compassion for ourselves. We can recognise our emotions without judging them.  When we accept where we are at and what we are struggling against, without berating ourselves, we can then begin to change.

In order to defeat loneliness, we have to listen to its message - You are complete, nobody is needed, you are enough!

Filmed in Groot-Marico, South Africa. 

Featuring Johann Moolman (https://www.art.co.za/johannmoolman/) -- que é também o autor da peça do início deste post

 

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segunda-feira, dezembro 26, 2022

Ementa do almoço de Natal -- um post culinário com reportagem fotográfica

 



Estou aqui a ganhar coragem para desencostar a cabeça do sofá para escrever. Acordei bem, provavelmente ainda sob efeito do paracetamol da noite mas, para a tarde, o torcicolo começou a mostrar os dentes e agora está aqui a morder de uma maneira... Tenho que tomar outro mas, como também estou com sono, prefiro escrever agora e, só depois, quando for para a cama, o tomar.

Não levem a mal que não agradeça os comentários ou não responda aos mails. Vai a caminho da uma da manhã e estou um bocado incapacitada. 

O dia foi muito bom, talvez dos melhores dias de Natal. Todos bem dispostos, todos com tempo, todos a mostrando gostar de estar na conversa. A lareira estava óptima, a deitar um quentinho bom e, aos poucos, fomo-nos juntando ao redor a contar histórias e recordações, a rir, os miúdos contentes por ouvirem histórias da família.

Claro que isto foi já à noite, quando a maltinha miúda já tinha gasto parte das pilhas. Alguns dos meninos receberam jogos de cartas e jogos de palavras e, por isso, houve uma animação doida com o pessoal em volta da mesa. Depois de almoço e durante um bom bocado, os decibéis estavam delirantes, tamanho o entusiasmo. A minha filha também trouxe hastes de rena que punham na cabeça e argolas para os outros acertarem, atirando-as de longe. Uma festa.

E houve filmes, houve montagem de legos, um dos bisnetos a resolver fenómenos "inexplicáveis" do telemóvel da bisavó, a tia a fazer penteados à sobrinha e houve tudo o que de bom acontece quando todos estão disponíveis para conviver em harmonia.

E naturalmente houve troca de presentes (e até e pequena fera os recebeu e na foto está já a usufruir de um) e houve contentamento e alegria pela troca e pelo prazer não apenas em receber mas, sobretudo, em dar. 

Desta vez, durante um parte do dia, pusemos o ursinho na rua, senão seria o fim da picada com as mesas cheias de comida à pata de semear, com papéis e sacos all over. 

Claro que não está habituado e ficou infelicíssimo. Subiu para um parapeito e pôs-se ali e encher-nos de remorsos. 

A minha filha fotografou-o e aqui está, em baixo, coitadinho.

Quanto ao repasto, penso que gostaram da comida e isso é uma coisa que me enche de alegria. Abriu-se a mesa grande e teve que se trazer mais uma mesa grande lá de fora. E ter assim uma mesa enorme cheia de gente é daquelas coisas que me enche o coração. A mesa redonda ficou a servir de mesa de apoio, onde nos íamos servir. 

Vou contar o que foi o almoço. Uma vez, ao descrever o repasto alguém disse que era comida a mais. Por acaso sobrou alguma coisa que, quando saíram, à noite, levaram. Mas é preciso não esquecer que é muita gente e, felizmente, todos uns bons garfos.

De entrada, tínhamos polvo no forno, tostas e embrulhinhos folhados. De prato principal, açorda de galinha do campo. De sobremesa, uma menina fez arroz-doce, outra doce de chocolate, outra bolo de cenoura e vieram também filhoses, sonhos e bolo-rei, broas. E havia uvas, bombons e etc.

Quando estou a cozinhar é sempre num registo contra-relógio pelo que nunca me dá para fotografar. E quando a comida é disposta, logo várias vivalmas se acercam de prato na mão para se abastecerem. Por isso, de comida nada tenho para mostrar. 

Tentei fotografar algumas luzinhas para vos mostrar mas não ficaram grande coisa pois há sempre alguém a passar. Ficam aqui as possíveis.

Mas vou contar como fiz o que eu fiz:


Tostas

Usei pão, salvo erro de massa mãe que fatiei, finamente, no supermercado. Foi ao forno até as fatias secarem. Cá fora, cobrimo-las de queijo mozzarela ralado. Voltaram ao forno para o queijo derreter. Quando saíram, reguei ao de leve com um fio de azeite e polvilhei com orégãos. A seguir, cobriram-se umas com presunto serrano de cura longa e outras com salmão fumado. Por muitas que se façam voam num ápice.


Polvo no forno

De véspera (de véspera apenas porque tive que ir adiantando serviço) cozi o polvo, depois de descongelado. Segui o ensinamento do meu filho. Põe-se a água a ferver. Mergulham-se os polvos e retiram-se. Deixa-se que a água volte a ferver. Novo mergulho e cá para fora. Depois de ferver, vai de novo mas desta vez fica por cerca de 45 minutos, até que fiquem macios. No fim, juntei um pouco de sal. E ali ficou até que hoje escorri e coloquei num tabuleiro de ir ao forno. Coloquei dentes de alho (com a sua pele), folhas de louro, um pouco de alecrim e azeite. Envolvi bem. Deixei ficar um niquinho do caldo. Ficou um bocado (20 a 30 minutos, talvez) no forno. Quando estava com ar tostadinho e cheiroso, retirei, cortei aos bocadinhos, retirei o louro e os alhos e coloquei numa taça.


Embrulhinhos folhados

De véspera coloquei num tacho três cebolas grandes, dois alhos franceses fatiados, bastante salsa fresca, folhas de louro, um bocado de vinho branco. Sobrepus uma belo naco de cachaço de porco no qual dei uns golpes fundos para melhor cozinhar. Cobri com outra grande cebola, sal, azeite, um pouco de alecrim. Depois de levantar fervura, baixei e ficou a cozinhar lentamente até a cebola e o alho francês estarem desfeitos, a carne muito macia e o caldo bastante reduzido. Depois de desligado, com um garfo andei à volta para a carne ficar desfiada. Ficou no frigorífico. Fiz de véspera também para adiantar e para que não estivesse quente quando usasse como recheio.

De manhã, usei massa folhada fresca que comprei no supermercado. Cortei cada uma em bocados e, em cada bocado, com uma colher colocava o estufado que estava quase com uma papa. Fechei bem para cada embrulhinho ficar selado. Alguns ficaram como bolinhas, outros mais irregulares. Entretanto, numa taça juntei umas colheradas de mel, azeite e gemas de ovos. Bati para ficar um espécie de polme caldoso. Num prato coloquei sementes de sésamo. Então, envolvi cada embrulhinho naquele 'polme' dourado e depois passei pelas sementes. Na grelha do forno, que estava quente, coloquei papel vegetal e acomodei o melhor que consegui uns quarenta e tal embrulhinhos. Ficaram até estrem bem dourados. Por acaso, uns quantos ficaram um pouco tostados de mais. Tem que se estar de olho e foi na fase dos presentes, distraí-me por uns minutos.

Aprovados. Numa tigela tinha polme de maçã que penso que fazia uma boa combinação com os folhadinhos.


Açorda de galinha

Encomendei duas galinhas do campo. Não sabia bem o tamanho. Acontece que, no conjunto, tinham sete quilos e tal e, por isso, acabei por não as usar na íntegra. Mas quase.

Mal me levantei, o meu marido tirou da última prateleira da despensa, o maior tacho que temos. Coisa tipo quartel. Uma vez mais, cebolas grandes, umas quatro. Um alho francês. Umas três ou quatro cenouras grandes às rodelas. Um belo bocado de salsa. Galinhas, aos bocados, lavadas e lá para dentro com água que deitei já a ferver, água abundante, quase até acima. Um pouco de sal. Depois de levantar fervura (mais de meia hora para isso, imagine-se), baixei. Ficou ali cerca de duas horas. Ao fim desse tempo, quando a carne já mostrava despegar-se do osso, juntei um bocado de chouriço aos bocadinhos, uma farinheira (poucos enchidos pois eram mais para temperar do que para serem ingrediente principal), ovos, um por pessoa mais dois de bónus, para escalfar no caldo. Já perto do fim, juntei uns cotovelinhos (massa) e deixei que cozessem. No fim, escorri um frasco de grão de bico cozido e juntei. Juntei um molho de hortelã fresca e mexi bem para perfumar o caldo.

Entretanto, num tigela juntei azeite e coentros finamente picados. Numa outra, o mesmo mas com um bom dente de alho picado (isto porque alguns não gostam de alho). Mexi bem cada uma. Cobri o fundo de dois tabuleiros grandes e fundos com fatias de pão alentejano. Cobri-as com o azeite com coentros (um tabuleiro sem alho e o outro com). Por cima do pão, colocámos (o plural é porque esta fase já foi a duas mãos, com o meu filho) os pedaços de carne, os ovos, as massinhas, o grão, a cenoura, os bocadinhos de chouriço, rodelinhas de farinheira e, por fim, regámos com o caldo.

Devo dizer que ficou boa e creio que o grande mérito tem a ver com a qualidade da carne de galinha do campo. Nada a ver, nada, nada, nada com as galinhas de aviário. De tal forma que a minha filha, estava a comer e até achava que seria outra carne. Uma carne escura, compacta, muito saborosa.

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E foi isto. Comeu-se, conviveu-se, curtiu-se e, bem vistas as coisas, aviou-se mais um Natal. Daqui a nada estaremos no próximo, ouçam o que vos digo.

E eu agora vou tomar o desejado paracetamol a ver se tenho posição na cama pois preciso meeesmo de dormir.

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Desejo-vos uma boa segunda-feira

Saúde. Boa disposição. Paz.

sábado, agosto 06, 2022

Avó e neta

 

Fui ontem fazer compras com a minha menininha linda. Adora fazer compras. Eu agora já estou a deixar-me disso -- não quero, não preciso -- mas, ainda assim, não posso esconder, é coisa de que gosto. Chegar a uma loja, deitar um olhar panorâmico, um vol d'oiseau clínico, perceber onde está aquilo que pode interessar, depois ir até lá, pegar na peça, imaginá-la em mim, ver-me ao espelho, depois seleccionar o que pode ter a hipótese de ir até ao provador. O gosto de coisa nova, eu com uma imagem nova. Coisa boa.

Assim é ela, a minha menininha.

Como presente de aniversário, compras. Afinal já está crescida, já vai fazer doze anos. Em vez de lhe oferecer roupa para a rentrée escolar, coisa que faz sempre falta, a possibilidade de ser ela a escolhê-la. 

Tal como acontece comigo, ela não teme o que é diferente. Também não lhe ocorre temer a opinião alheia. Ao contrário das crianças desta idade que querem, sobretudo, alinhar-se com a opinião dominante no grupo de amigas, ela sente-se especialmente atraída pelo que é diferente. 

Por exemplo. Na secção de adultos, viu uma saia comprida. Adorou. Fiquei na dúvida. Será? Olha que não sei... Será que vai ficar bem? Toda eu dúvidas. Ela não. Dúvidas nenhumas. Eu gosto. Pegou para provar. Também na secção de adulto, uns calções elegantes em azul marinho. Gostei. Vou provar. Vi um macacão em tecido fino, levemente plissado, de alças, calças soltas e largas, decote assimétrico, em azul claro turquesa e verde água, um pendant perfeito com a cor dos olhos. Ela estava a provar umas calças de ganga, pretas, levemente à boca de sino, esfiapadas nos joelhos quando lhe levei o macacão à cabina. Olhou, apreciadora, e disse: 'Eu gosto...'. Pegou nele para provar a seguir. Quando vestiu, fez uma pose ao espelho, saiu para mostrar ao mano do meio e ao avô que desesperavam no interior da loja. Fez uma pose. Eles olharam, ar surpreendido, fizeram ar aprovador. Foi o que lhe bastou. Foi para o provador: 'Gosto. Levo.'

Quando eu tinha a idade dela não havia todo este abundante pronto-a-vestir. Muitas coisas que usei eram feitas a partir de modelitos avistados em revistas de moda. Escolhia, íamos a lojas de tecidos desencantar algum que se adaptasse, íamos à modista com os materiais e a revista. Vestia-me de maneira diferente das minhas colegas e ainda hoje me lembro bem de vestidos bem engraçados, por exemplo um que tinha o corpo em malhinha em fio de linha preta e saia às flores muito coloridas e manguinha curta igual. Ou de um conjuntinho de calções curtinhos com uma camisa igual, de manga curta, tudo em azul claro com malmequeres pequenos em branco. Dava um nó à frente com as pontinhas da camisa. Não queria cá saber do que as outras meninas pensavam.

Esta minha menininha é, também nisto, uma mini me

Agora diz que, quando for grande, quer ser gestora -- porque quer mandar. Diz isso.

Avisei-a que mandar nem sempre é coisa boa. Muitas vezes não sabemos, ao certo, o que melhor decidir. Todos à espera da nossa decisão e nós cheios de dúvidas. Outras vezes, achamos que estamos a fazer bem e as pessoas, afinal, não concordam, criticam-nos, acham que decidimos mal. Ela encolheu os ombros. Disse que não se importava. Antes dizia que queria ser pediatra e eu isso achava melhor. Mas sabe lá a gente o que é melhor. Eu, desde cedo, depois de me passar a vocação de merceeira e a de cabeleireira, imaginava-me em ambiente empresarial, a decidir, a mandar. Pelos vistos, ela sente o mesmo apelo. Se se mantiver nesse rumo, nem sabe a vida de chatices que a espera.

Agora dorme aqui ao meu lado. Deita-se, vira-se de lado e adormece. Não lhe incomoda a luz ou o barulho. Até nisso é parecida comigo. Quando tenho sono, também basta encostar-me. O sono desce instantaneamente.

Os manos dormem no quarto dos rapazes. O urso cabeludo dorme a sono solto no corredor. Mas os meninos não são os únicos a pernoitar. Tem mais. Na volta ainda devia ter era mais camas...

Quando viu a toalha em cima da mesa grande, o mais pequeno exclamou: 'A toalha dos anos...?'. Referia-se à toalha de exterior -- que parece de tecido mas é plastificada -- que a minha filha me ofereceu pelos anos e que foi usada nos meus anos, nos anos do meu filho, nos anos do menino mais crescido. Passou a ser a toalha dos anos. Hoje não festejámos nenhum aniversário mas, não tarda, estará a ser usada de novo com esse propósito.

E eu, depois de uma semana de trabalho, só penso que felizmente já estou com um pé no fim de semana. Trabalhar em Agosto é coisa que sabe a disparate, a coisa de gente destituída, gente que não sabe fazer mais nada do que trabalhar, coisa do mais contranatura que há. Felizmente tenho a maltinha por perto e, com eles, o ar de festa e de férias está sempre presente. Tão bom.

E estou é capaz de também me encostar já aqui e deixar-me ficar a dormir, tal neta, tal avó. 

Ah, já contei? De um lado tem um brinquinho, do outro tem dois. Não quer cá saber se dói, se não dói. É para fazer, faz-se. Queria mais um piercing ali daquele lado e agora já o tem. Coisa mais linda, mais fofa, mais decidida.

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A magnífica fotografia, que me deu o mote para o que escrevi, é da autoria de Joseph-Philippe Bevillard (Ireland) e mostra Julann e a neta Lucia. Foi feita em Birr na Irlanda. Foi feita este ano e pertence à série 'Mincéirs'

"Julann and her granddaughter Lucia just got dressed for a wedding. As part of their lifestyle and custom, all members of the family are dressed in flamboyant style, the little girls mimic their mother's and other siblings' fashion. Hairpieces, high heels, full makeup, false tan, nails, and eyelashes are showcased by all ages."

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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Alegria. Paz 

domingo, julho 03, 2022

Luzinhas, amorzinhos, casinhas para passarinhos

 


Aquele pequeno prolongamento do terraço ficou muito bonito. Acolhedor. Ganhou vida. É agora um lugar onde é bom estar. Penso que uma das coisas que mais contribui para ser tão agradável ali estar à noitinha é aquilo que arreliou o meu marido. Agora já concede que fica bonito. São grinaldas de bolinhas brancas que se iluminam à noite. Funcionam com energia solar. Na sexta-feira, trouxe da loja um outro candeeiro que estava em promoção. Trouxe-o por cinco euros. O meu marido logo a torcer o nariz. Sendo quase cem por cento minimalista, assusta-se perante a perspectiva de ficar com os espaços transformadas em arraial. Mas não. Também sou um bocado discreta. Este consta apenas de uma bola branca, grandinha, talvez uns vinte centímetros de diâmetro. Pode ser o globo que encima um pé que se enterre no chão. Mas eu não usei o pé, limitei-me a pô-la encaixada num vaso branco. Quase parece uma mono-peça. Se não me esquecer, amanhã fotografo para vos mostrar. À noitinha ilumina-se e dá uma luz bem boa. Ao fundo do jardim também está uma grinalda de luzinhas solares. 

Acho uma graça, as luzinhas brancas que, de dia, nem se vêem e que, à noite, como que por magia, ficam luminosas.

Tenho cá três meninos a dormir. Jantámos lá fora e depois deixámo-nos lá ficar até já passar das dez da noite. Fomos conversando, eu penteando-a, ela penteando-me a mim, eu penteando o mano mais novo. Estávamos todos num cadeirão lounge comprido e largo. Obviamente que o urso felpudo não podia faltar. De vez em quando saltava para se ir pôr a ladrar ao cão da casa ao lado. Mas depois vinha pôr-se ali no meio dos meninos. O meu marido também esteve. Depois a menina esteve a pentear o mais cabeludo que se ia virando de um lado e de outro para ela o escovar bem.

Por volta das dez e tal, viemos para casa, vestiram-se para dormir, lavaram os dentes e ela juntou-se aos irmãos no quarto dos rapazes para ouvirem mais uma história da Margaret e do seu irrequieto cãozinho. Eles é que escolhem o tema. E eu desenvolvo. Margaret vai ao oceanário. Depois quiseram mais uma: Margaret no Zoo. Fartam-se de rir. O mais novo conta coisas suas a propósito do que vai ouvindo. Os irmãos mandam-no calar-se receando que se perca o fio à meada. Claro que o urso felpudo estava no chão, enroscado num canto, também a ouvir s histórias. É a encarnação viva do irrequieto e querido cão das histórias da Margaret. A meio de uma história, o mais novo disse: 'Gosto tanto dele. Vou dar-lhe uma festinha.' e levantou-se e foi mesmo fazer uma festa ao seu amigo.

Depois ela foi para o quarto dela e o dog de guarda foi pôr-se no corredor entre as portas dos quartos deles. Algum tempo depois acabou por entrar no quarto dela. Está deitado no chão, ao lado da cama. Ela ficou contente. É a orgulhosa madrinha dele e gosta de ver estes sinais de atenção por parte do seu afilhado.

Hoje está com as unhas pintadas de azul claro. Disse-me que é um verniz vegan. Não faço ideia do que isso significa. Mas é uma cor bonita e fica-lhe bem.

No outro dia, disse-lhe que tinha pensado, um dia que deixe de trabalhar, pintar o cabelo de cor de rosa  claro. Perguntei-lhe a opinião. Disse-me que sim, que acha bem. Mas depois acrescentou: Mas eu acho que preferia em azul. É cá das minhas, não se preocupa com a opinião dos outros, pensa pela cabeça dela. 

Teve notas altas, vários cincos e vários quatros. Mas a EVT teve três. Admirei-me pois adora desenhar e pintar. Perguntei-lhe que matéria deu para não ter gostado assim tanto. Disse-me: 'Perspectivas e assim'. Depois encolheu um pouco os ombros e esclareceu melhor. 'Prefiro o abstracto.' Achei um piadão. Nestas coisas, acho que esta miúda tem muito de meu. 

E hoje fico-me por aqui pois estes passarinhos acordam cedo. Hoje estavam cansados. O mano do meio foi finalista e teve nesta sexta-feira o seu jantar de despedida. Toda a turma e respectivos pais e irmãos. Foi festa até à uma da manhã, dança e brincadeira. Apesar disso, no sábado, praia com eles. Portanto, agora à noite estavam de olho gordo, mesmo com sono. Ela é que agarrou uma espertina das brabas. Diz que não sabe porque não dormia porque até estava com sono. Acontece. Mas estão habituados a levantar-se cedo pelo que mais vale que eu esteja preparada para me pôr em pé quando der por eles já acordados. 

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A beleza de viver

Rugas, linhas, cicatrizes - há muitas formas através das quais o tempo deixa a sua marca nos nossos corpos. No entanto, a cultura dominante teme envelhecer - somos instados a combater o processo de envelhecimento e muitos sentem-se pressionados a mentir sobre a sua idade. Mas, como disse Betty Friedan: "O envelhecimento não é a 'juventude perdida', mas um novo estágio de oportunidade e força".

Com a idade pode vir a confiança e a liberdade para perceber quem realmente somos. À medida que envelhecemos, desenvolvemos um tipo mais profundo de beleza que funciona de dentro para fora. É uma beleza mais autêntica porque irradia de dentro. Então vamos celebrar vidas bem vividas. E sintamo-nos com sorte por acordar todas as manhãs para apreciar o que o novo dia tem para nos oferecer.


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As casinhas de pássaros são algumas das que podem ser vistas no artigo Home tweet home: birdhouses designed by artists – in pictures e estão na companhia de Three little birds. O vídeo, como é bom de ver, é da Green Renaissance

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Desejo-vos um feliz dia de domingo

segunda-feira, maio 09, 2022

Dias em família -- e eu à espera de um milagre
(e não me refiro a arranjar um amante mais novo)

 




O Verão chegou antecipadamente, todo ele calor, corpo a pedir pouca roupa, cheiro a terra quente e cheiro a mar, meninos em cima uns dos outros, adultos numa boa onda, todos na brincadeira, dias a crescerem, o ursinho felpudo a brincar e a receber carinho, uma luz doce no ar.

Estive com todos, cozinhei para eles, vi-os a comer de gosto, sentei-me à sombra, ouvi os passarinhos, vi as flores, vi como os meninos crescem de dia para dia, vi como o afecto entre eles se mantém.

E passeei com a minha mãe à beira mar, e fomos às compras e conversámos. Está cada vez mais jovem, veste-se agora como não se vestia quando tinha trinta anos: calças frescas, túnicas claras, ténis brancos, bolsinha no tom. Viu um casaquinho todo aberto em verde entre o alface e o pistachio e logo o agarrou, o provou e comprou. Gosta agora de se vestir com cores alegres e luminosas. O meu marido admira-se por desatarmos a falar quando nos encontramos e seguimos conversando até que nos despedimos. Acho que mais ela que eu. E espanta-se porque isso também acontece entre mim e a minha filha. Não percebe como temos sempre assunto. Ele pergunta: 'Tudo bem?' e, pela resposta -- que pode ser apenas 'tudo' -- ele já se dá por contente. E a verdade é que percebe se é mesmo 'tudo' ou não. Mais do que isto já lhe parece conversa a mais. Outras vezes o cumprimento é ainda mais minimalista: diz apenas o nome da pessoa. Mas a verdade é que às vezes presta atenção à minha conversa com os outros pois ao fim do dia ou no dia seguinte vem perguntar-me o que é que estávamos a dizer sobre algum assunto. Mas é assim. Como espectador à distância ainda vá que não vá. Para mais do que isso já não tem muita paciência.

O urso felpudo a andar em duas patas para tentar ver o cão que ouve na casa dos vizinhos do lado


No sábado a minha filha organizou com a miudagem um Taskmaster. Uma das várias tarefas que foi inventando era ver qual deles me punha a rir mais depressa. Só dela ter essa ideia já me deu vontade de rir. Ainda eles não tinham tentado já eu me desfazia a rir. O que me deu mais vontade de rir foi eles verem-me a rir ainda eles não tinham feito nada. E só de pensar nisto já estou a rir-me. 

Não tentem perceber. Não há explicação. Rio-me só de pensar que queriam fazer-me rir e que, antes de terem começado, já eu estava quase a chorar de rir -- o que os deixou desconcertados sem saberem como superar a prova. E isto dá-me imensa vontade de rir (que querem que eu faça...?)

Portanto, desistiram. Então a minha filha teve uma nova ideia: não era fazerem-me rir a mim, era fazerem rir o avô. E aí a coisa fiou mais fino. O que me ri. Eles a contarem piadas, a fazerem palhaçadas... e  o avô impávido e sereno. Por fim lá assomava um sorriso. E eles queriam que ele risse mesmo. A minha filha disse que o sorriso chegava, que era o máximo que iam conseguir dele. O que me ri...

No outro domingo eu tinha-lhes dado a grande novidade: tínhamos descoberto um programa e tínhamos ambos estado o tempo todo a rir. Claro que eu rio e ele sorri mas, lá está, isso para mim é igual a riso. O Taskmaster. E eles todos: 'Mas está já a acabar! Isso já dá há umas semanas. Não perdemos um episódio. Fartamo-nos de rir.' -- e isto quer do lado da casa da minha filha quer da do meu filho. E, portanto, pelos vistos toda a gente conhecia o programa menos nós dois. Vimos a semana passada e vimos esta, de facto o último episódio. A ver se vem aí nova série pois é divertidíssima. Também tem a ver com o sentido do humor dos participantes. Estes eram mesmo boa onda.

A minha menininha mais linda tinha descoberto uma app que via o match entre um casal. Pensava eu que seria por signos, por algum questionário, qualquer coisa. Mas não, apenas a partir do nome. E, então, estava a mostrar à tia como era e a fazer o exercício com casais conhecidos. No meu caso salvo erro deu oitenta e tal por cento com o avô. Pareceu-me bem. E, por acaso, até acho que os nomes são relevantes. O meu primeiro namorado tinha o mesmo nome que o terceiro, aquele com que me casei. Dois grandes amores. O do meio tinha um nome que não me dizia grande coisa. Ou melhor: que feria a minha sensibilidade. E, no entanto, é um nome normal. Mas uma pessoa com aquele nome não podia ter sido feita para mim. No caso do meu marido, quando a namorada dele da altura estava a descrever o namorado, pela descrição, achei que só poderia estar a falar daquele que me trazia enfeitiçada. E quando lhe perguntei o nome dele e ela o disse, tive a certeza que era ele. Na verdade, ao tê-lo visto e ao ter pensado que era o homem da minha vida, sempre soube que não poderia ter outro nome. Por isso, e não quero cá saber de coisas, também acho que os nomes são determinantes na vida de uma pessoa e na probabilidade de alguma coisa vir a dar certo entre duas pessoas. 

Com estes esoterismos e conversas malucas pode parecer que estou a renegar a minha vida de pessoa racional, dada à ciência e a rigores. Mas não estou. Simplesmente há coisas que não têm explicação.

Tirando isso, já é dia 9 e vamos ver o que nos traz. O que eu queria que trouxesse não posso aqui dizer até porque é coisa impossível. Mas gostaria que trouxesse um milagre. Não acredito em nossas senhoras encavalitadas em cima de azinheiras ou coisas assim. Mas acredito em milagres verdadeiros, sim. Existirmos, cada um de nós, é um milagre. A vida das flores é um milagre. Eu estar a pensar e escrever e vocês aí desse lado a saberem destes meus pensamentos sem saberem quem sou e sem me verem ou ouvirem é um milagre. Tantos milagres. Porque não acontecer um milagre bom que salve vidas e abra espaço para a reconstrução do futuro de todos quantos perderam tudo? 

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Mas, enfim, não dormi muito nem descansei muito neste fim de semana (e a semana tinha sido obra) pelo que passo já para a apresentação de um filme que deve ser uma graça: o amor entre uma mulher digamos que já com alguma vida vivida e um homem bem mais novo. A ver se consigo descobrir como ver este filme.

Se eu, por uma birra qualquer, me separasse do meu marido 

(coisa que me parece improvável pois toda a vida tivemos birras e sempre me esqueço delas na meia hora seguinte. Às vezes tenho a vaga impressão que teria razão para estar chateada com ele mas já não me lembro exactamente porquê. E na hora seguinte nem disso me lembro. Poder-se-ia dizer que é demência, coisa da senilidade. Mas acho que não, sempre foi assim)

e fosse uma separação para valer, acho que, para arranjar novo namorado, teria que ser bem mais novo, talvez uns vinte anos a menos. Senão mais valia fazer as pazes e voltar a aturar o velho, ou seja, o actual.

Les Jeunes amants

Shauna, 70 ans, libre et indépendante, a mis sa vie amoureuse de côté. Elle est cependant troublée par la présence de Pierre, cet homme de 45 ans qu’elle avait tout juste croisé, des années plus tôt. Et contre toute attente, Pierre ne voit pas en elle “une femme d’un certain âge”, mais une femme, désirable, qu’il n’a pas peur d’aimer. A ceci près que Pierre est marié et père de famille.

 

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Fotos feitas cá em casa, aqui na companhia de Ludovico Einaudi com The Water Diviner

Nota: Tentarei responder aos comentários durante o dia de amanhã

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Saúde. Paz. Esperança. Um milagre