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sábado, julho 13, 2019

Luar sobre o rio




O meu dia foi repleto. Saí de casa cedo e foi todo o santo dia com coisas, umas a seguir a outras. Mas a noite foi boa. Não jantámos cedo. Lugar bonito. Às tantas senti como que uma tontura, nem percebi bem o que estava a sentir. Perguntei: 'Será que isto está a balouçar...?'. O meu marido disse que sim, que visse pelas luzes lá fora, a subirem e a descer. Depois parou. Ele dsse: 'Deve ser quando passa outro barco'. Não posso dizer que a comida tenha sido excepcinal mas o lugar é privilegiado. Quando veio a sobremesa, a menina disse que estava tão cansada que, se não tivesse percebido que estavamos num jantar romântico, pedia se podia sentar-se um bocadinho connosco. O meu marido disse que se sentasse mas ela que não, que estava a brincar. O meu marido perguntou, então, se está sempre assim tão cheio. Ela disse que ao fim de semana talvez mais mas que está sempre cheio, que costuma sair entre as duas e as quatro da manhã. Pergunto-lhe a que horas entra. Por volta das dez e meia, que têm muito que limpar da noite. Quando se afastou, o meu marido disse que provavelmente ela não ganha mais que o salário mínimo. Mas, apesar de cansada, estava sorridente e brincalhona.


Depois passeámos à beira do rio, mesmo rentinho à água. Cheirava a maresia e a noite estava bonita e silenciosa. Fotografei os barcos que pousavam serenamente sobre a superfície apenas parcialmente iluminada, fotografei as árvores que à noite se tornam tão belas e misteriosas. Gosto de passear à noite. Rimo-nos muito. O meu marido não é de muitas palavras mas tem um sentido de humor que sempre me atraíu muito, aquele humor imprevisível que, freqentemente, é tangencial ao absurdo. Desato a rir e ele fica contente. Os meus filhos por vezes gozam: o pai gosta de fazer a mãe rir. No outro dia até ele se surpreendeu com o que tinha dito e, ao ver-me a rir de gosto, disse: 'Podias fazer uma compilação do que eu digo'. E eu pensei que devia, sim, mas, cabeça de alho chocho como sou, mal acabo de me rir, passado um bocado já não me lembro.


À vinda para casa, ouvi alguém a cantar uma canção de que gosto muito. Vinha a cantarolá-la baixinho para tentar perceber quem estava a cantá-la. E no fim ouvi uma coisa surpreendente: Marlene Dietrich. Pensei que não podia ser, que me tinha distraído e o nome correspondia a outra coisa e não ao que tinha ouvido. Agora fui ao Youtube e confirmei: era mesmo ela a interpretar ao 'Luar no Sertão'. Incrível. 

É muito tarde, não desenvolvo. Gostava de ter aqui o Pablo Neruda a dizer um poema pois nada como ter um caranguejo a dizer um poema a outro caranguejo. Mas estou com falta de pontaria, não apanho vídeos sóbrios sem slides pirosos por detrás, só a voz dele. Por isso, desisto. Daqui por um ano talvez tenha preparado melhor o trabalhinho e me saia um post mais aperaltadinho. Por ora, é isto. 


Um bom fim de semana a todos

quinta-feira, junho 13, 2019

Vicente ou António?
E macacos e crianças discutem a questão dos direitos, da justiça e da igualdade de géneros.
Ao som da Francisca, junto ao rio.





Passei de carro numa rua perto da Baixa e, para meu espanto, vi duas mulheres estranhamente vestidas, penteadas, pintadas, calçadas. Vestidas exactamente de igual. Apressadas como se nem se dessem conta que estavam completamente descontextualizadas, no meio de gente que saía dos trabalhos e de turistas em veraneio. Assim de repente, pareceram-me duas gémeas bizarras. Aperaltadas que só visto. Cabelo apanhado, com o que me pareceu ser uma flor no puxo, saia com um farto rodado em godé, num tecido estampado, espampantemente florido, pareceu-me que de tamancas altas. Pensei: Mas onde é que aquelas duas vão naqueles preparo, ó senhores?

Só depois de ter passado por elas me ocorreu: Ehh...! Vão para as marchas, só pode... vão representar algum bairro. 

E tive pena de já terem ficado para trás, de não poder observá-las com o devido cuidado e admiração.


E, naquela de ir distraída no meio do trânsito e de ter sido surpreendida por aquele curioso par de gotas de água colorida, pensei: que estupidez, amanhã é feriado e nem me ocorria que é feriado não por um qualquer motivo abstracto ou facto histórico mas por ser dia do santo da cidade. Estamos nos Santos, caraças. E, por uma breve fracção de segundo, vacilei: Qual é mesmo o santo? O santo de Lisboa...? Vicente? Vicente e os corvos? Mas os santos são João, Pedro e... António. António e não Vicente. E senti como que um buraco negro na cabeça onde as ideias se baralharam, uma espécie de vertigem. Como é possível ter tido uma espécie de branca sobre o santo de Lisboa...? Mas logo recuperei o tino e, convictamente, acertei o passo comigo mesmo: É dia de Sto António e não se fala mais nisto. Mas, logo que pude, no primeiro semáforo encarnado que apanhei, tentei perceber qual a raiz da dúvida: Sto António é o Santo Padroeiro de Lisboa? E percebi a razão da minha perplexidade. Ser o Vicente até é, embora quase ninguém se lembre de tal coisa, mas o carequinha casamenteiro destronou-o no coração dos alfacinhas que são mais dados a casórios do que a corvos esvoaçantes.

E adiante.

Hoje não é véspera de fim de semana mas é como se fosse e, por isso, fomos passear à beira do rio e ver a noite a tombar sobre os veleiros, ver a escuridão a misturar-se com tudo, as luzinhas cintilando. Não fomos dançar, comer sardinhas sobre o pão ou festejar os santos: pelo contrário, andámos ao vento, sentindo o ar frio, conversando.


E se durante o dia algumas arrelias vieram ter comigo e se a impaciência por vezes parece querer toldar a minha consciência, a verdade é que basta um cheirinho de maresia, o olhar deslizando sobre as águas, para logo os incómodos voarem para longe e a serenidade vir pousar docemente sobre a minha pele. Isto de uma pessoa ser completamente primária não é mau de todo.

Enquanto aqui escrevo preguiçosamente vou espreitando a televisão, vou espreitando os livros que, aqui ao meu lado, preguiçam também e hesito em mostrar um vídeo fantástico que me deram a conhecer ou deixá-lo para mais tarde. Se calhar fica para depois, que eu gosto de guardar distâncias e também não quero explicar porquê. Sou de alguns mistérios e tenho as minhas razões para isso.


Mas se o vídeo que gostaria de aqui partilhar a mim me diz muito -- para além de que tem a ver com um tema muito actual, e ponham actual nisso -- para não defraudar a minha vontade de vos mostrar um vídeo com uma mensagem (e agora apetece-me encafuar a mensagem também entre aspas porque acho que isto de as coisas terem mensagem é daquelas coisas cafonas para as quais não tenho o mínimo de pachorra), deixem que partilhe outros dois vídeos, um que mostra como até os animais não aguentam a injustiça de retribuições díspares para trabalhos iguais e outro que mostra o mesmo mas entre sexos.

As escolas deveriam passar a ter aulas de cidadania, ensinando as crianças a lutarem pela justiça a todos os níveis. Isso é que deveria mesmo ser.









E, a todos, um bom Dia de Santo António!

[E um bom Dia Feriado aos sortudos que, tal como eu, têm uma semana santa]

domingo, fevereiro 11, 2018

Seixal
[Tenho que lá voltar e não é só para ir ao Miyagi]




No outro dia, jantar de aniversário, fomos lá, ao Miyagi Seixal. Gostámos. Que restaurante simpático, que gente tão boa onda e que comidinha (dizem eles que street food) mais saborosa. Recomendo.

Acresce que.

Não íamos ao Seixal seguramente há mais de vinte anos. Ia dizer trinta mas talvez trinta seja exagero. Não sei. Não reconhecemos nada do que vimos. Já lá vai o tempo em que as cidades, mesmo sendo abençoadas pela localização, eram tristonhas, mal arranjadas. Agora não. Pareceu-nos bonita e boa para nela se passear. Demos uma leve caminhada à beira rio mas, de noite e com um frio de rachar, não deu para nada.


Este sábado voltámos lá. Mas o nosso tempo é sempre contado. De tarde, mais uma festa de anos (dantes era apenas um aquário, agora já há mais). E, in between, encaixar uma visita aos meus pais.

Portanto, visita rápida, apenas para provarmos mais uns petiscos do Miyagi e para vermos o Seixal à luz do dia. Rente ao rio, praia perfumada a maresia, o passeio ribeirinho muito bem arranjado, os barcos logo ali, uma tranquilidade em que não dá para acreditar estando-se tão perto de Lisboa. Pouca gente, gente sem pressa, uma luz límpida.


De tarde, na festa de anos, calhou estar com quem conhece o Seixal certamente melhor do que a maioria das pessoas. Esteve a contar como não tarda nascerá, no lugar de onde se tem a melhor vista de Lisboa, um parque que, se bem percebi, descerá em direcção ao rio. Acho uma excelente ideia. Se há coisa que procuro quando visito uma cidade são os parques ou jardins públicos. Acho que a qualidade de vida urbana pede sempre um belo parque público.


Na zona habitacional, central, junto ao rio, algumas casas estão a ser reabilitadas e há apontamentos de arquitectura bastante interessantes.

Com o tempo contado, foi fraca a minha reportagem. Do casario os registos foram escassos e mal captados, nem os mostro aqui. 'Anda. Não dá tempo. Anda. Se queres ainda ir a casa dos teus pais, não há tempo para fotografias'. Portanto, o que aqui vêem é quase tudo o que registei.


De tarde, ouvi falar naquela coisa do Benfica, ouvi falar em vários pontos de interesse e a verdade é que não vi nem pitada disso. Mais uma vez apenas deu para uma circulada de carro, um breve passeio a pé pela beira do Tejo e pela zona central. Portanto, uma coisa é mais do que certa: lá voltarei e a ver se, da próxima, é com tempo. 

E aqui fica a recomendação: quem possa, não deixe de visitar. E não é por galdeirice, é mesmo por amor ao nosso belo País.


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Até já.

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