O meu dia foi repleto. Saí de casa cedo e foi todo o santo dia com coisas, umas a seguir a outras. Mas a noite foi boa. Não jantámos cedo. Lugar bonito. Às tantas senti como que uma tontura, nem percebi bem o que estava a sentir. Perguntei: 'Será que isto está a balouçar...?'. O meu marido disse que sim, que visse pelas luzes lá fora, a subirem e a descer. Depois parou. Ele dsse: 'Deve ser quando passa outro barco'. Não posso dizer que a comida tenha sido excepcinal mas o lugar é privilegiado. Quando veio a sobremesa, a menina disse que estava tão cansada que, se não tivesse percebido que estavamos num jantar romântico, pedia se podia sentar-se um bocadinho connosco. O meu marido disse que se sentasse mas ela que não, que estava a brincar. O meu marido perguntou, então, se está sempre assim tão cheio. Ela disse que ao fim de semana talvez mais mas que está sempre cheio, que costuma sair entre as duas e as quatro da manhã. Pergunto-lhe a que horas entra. Por volta das dez e meia, que têm muito que limpar da noite. Quando se afastou, o meu marido disse que provavelmente ela não ganha mais que o salário mínimo. Mas, apesar de cansada, estava sorridente e brincalhona.
Depois passeámos à beira do rio, mesmo rentinho à água. Cheirava a maresia e a noite estava bonita e silenciosa. Fotografei os barcos que pousavam serenamente sobre a superfície apenas parcialmente iluminada, fotografei as árvores que à noite se tornam tão belas e misteriosas. Gosto de passear à noite. Rimo-nos muito. O meu marido não é de muitas palavras mas tem um sentido de humor que sempre me atraíu muito, aquele humor imprevisível que, freqentemente, é tangencial ao absurdo. Desato a rir e ele fica contente. Os meus filhos por vezes gozam: o pai gosta de fazer a mãe rir. No outro dia até ele se surpreendeu com o que tinha dito e, ao ver-me a rir de gosto, disse: 'Podias fazer uma compilação do que eu digo'. E eu pensei que devia, sim, mas, cabeça de alho chocho como sou, mal acabo de me rir, passado um bocado já não me lembro.
À vinda para casa, ouvi alguém a cantar uma canção de que gosto muito. Vinha a cantarolá-la baixinho para tentar perceber quem estava a cantá-la. E no fim ouvi uma coisa surpreendente: Marlene Dietrich. Pensei que não podia ser, que me tinha distraído e o nome correspondia a outra coisa e não ao que tinha ouvido. Agora fui ao Youtube e confirmei: era mesmo ela a interpretar ao 'Luar no Sertão'. Incrível.
É muito tarde, não desenvolvo. Gostava de ter aqui o Pablo Neruda a dizer um poema pois nada como ter um caranguejo a dizer um poema a outro caranguejo. Mas estou com falta de pontaria, não apanho vídeos sóbrios sem slides pirosos por detrás, só a voz dele. Por isso, desisto. Daqui por um ano talvez tenha preparado melhor o trabalhinho e me saia um post mais aperaltadinho. Por ora, é isto.
Um bom fim de semana a todos