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terça-feira, junho 25, 2024

As muitas Meryls
-- com orégãos e com um animal-mistério a despropósito

 

Não me lembro se a primeira vez que a vi foi no Kramer vs Kramer ou se foi em A amante do tenente francês. Sei que, desde sempre, fiquei fascinada com a sua capacidade de encarnar personagens, sempre com uma intensidade tal que parece que ela é os personagens que representa. Mas, ao mesmo tempo, parece haver nela uma leveza extraordinária, uma graça, uma espontaneidade. Podem ser exigências díspares, pode ser necessário ser o oposto do que foi na última vez mas, em todos os seus papéis, ela está inteira, de corpo e alma.

E agora que estou a escrever, lembrei-me do The deer hunter (que em Portugal acho que era 'O caçador') que creio que também foi dos primeiros. Ou em Manhattan?

Lembrar-me-ei sempre dela no pungente A escolha de Sofia ou no terno e romântico As pontes de Madison County ou no maravilhoso Africa minha ou no divertido O Diabo veste Prada. Ou a fazer a incrível Margaret Thatcher na Dama de Ferro.

E noutros.

Além disso, Meryl Streep, 75 anos feitos esta semana, não é apenas um nome grande do cinema (e também canta...): ela tem sabido usar o seu prestígio para divulgar causas como a da democracia e da cidadania informada ou a dos direitos das mulheres no cinema e não só.

O vídeo abaixo mostra-a em diversas actuações e numa gostosa entrevista.

(Dá para pôr legendas, claro, mas, neste caso apenas daquelas geradas automaticamente o que, já se sabe que, por vezes, são sai lá muito bem)

Meryl Streep: "The Many Meryls" | 60 Minutes Archive


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Enquanto ando, não resisto a ir apanhando mais uns pezinhos de orégãos. Tão bonitos. Hoje até me lembrei de que se um dia voltar a casar-me poderei levar, como bouquet, um molho de orégãos (e, no copo de água, servia caracóis, claro).


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Já agora um mistério. O meu marido, quando andou a caminhar de manhã, encontrou outra vez um esquilo. Estava a andar. Por aí, começa a ser normal. Mas diz que, quando ia a passar ao pé de uma casinha de arrumos que temos cá em cima, não muito longe da casa, ouviu um barulho e, quando se virou, viu o vulto de um bicho grande que se enfiou no meio dos arbustos. Diz que lhe pareceu maior que esquilo ou gato mas não conseguiu perceber o que era.

Foi numa altura em que o nosso cãobeludo de guarda estava em casa pelo que não houve perseguições. 

Resta saber, pois, que bicharada por aqui anda. 

Hoje, por exemplo, estava a cozinhar e no tronco da figueira que está à frente da janela passeava-se um animal que parecia vindo dos Galápagos, nem sei se seria lagarto, se big lagartixa esbranquiçada e escamosa com umas patas de impor respeito. Ou, quando ia lá em baixo, senti o que me faz arrepiar, uma bicha a rabiar no chão, ondulando: uma cobra.

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Dias felizes

quarta-feira, outubro 18, 2023

Quando um príncipe se encontra em frente a um rei

 

Em dia de dúvidas e perplexidades, movo-me para um território mais seguro. Dois grandes, um ainda jovem, outro maduro (maduro mas não a cair de maduro, calma...), numa gostosa conversa.

Está legendado.

Timothée Chalamet & Martin Scorsese Have numa conversação épica | GQ

It's the pairing of a lifetime and Timmy brought notes. Our newest GQ cover star Timothée Chalamet sits down with legendary director Martin Scorsese for an epic conversation. From their collaboration on new Blue de Chanel fragrance campaign to "Killers of the Flower Moon" and the death of "mainstream," the native New Yorkers are equally in awe and inspired by one another during this interview.


segunda-feira, maio 08, 2023

Meryl

 

Penso que a primeira vez que vi Meryl Streep deve ter sido em Kramer contra Kramer. O filme era muito bom e a Meryl e o Dustin Hoffman tinham um desempenho também muito bom, tocante.

Tenho ideia que o vi numa salinha pequena que creio que havia na estação dos Restauradores, lá em cima. 

Tudo tão longínquo que chego a duvidar da minha memória. 

Pode acontecer que já a tivesse visto antes em Deer Hunter (que não me lembro se vi no S.Jorge ou noutro cinema, ou em Manhattan (que creio que vi no Estúdio, que penso que funcionava no Império -- creio que o Satélite era no Monumental). Que vi estes filmes vi mas não sei estabelecer a sequência.

Mas a cronologia aqui é irrelevante. O que me interessa é que fiquei logo rendida ao talento dela.

Por essa altura, mais coisa menos coisa, também fiquei maravilhada com A Amante do Tenente Francês, ela e Jeremy Irons.

Mas depois veio A Escolha de Sofia. Já tinha lido o livro e tinha ficado impressionadíssima. Por isso receei ver o filme. Mas fui ver. E não vim decepcionada. De tal forma que agora, se ouvir falar n'A escolha de Sofia, é em Meryl Streep que imediatamente penso.

A quantidade de filmes em que a vi e em que sempre a achei extraordinária não sei dizer.

Um em que imediatamente penso quando quero pensar num filme inesquecível é o Out of Africa e, aqui, também, o filme é indissociável dela. Magnífica.

Como pessoa, do que tenho visto, sempre conseguiu manter-se normal, sempre conseguiu manter-se afastada do 'estrelato', nunca a vi deslumbrada. 

É extraordinário como ela consegue absorver de tal modo a personagem que tudo flui tão naturalmente que parece que ela, Meryl, se dilui. E isso acontece em qualquer registo. As mulheres que ela representa em As Pontes de Madison County ou em O diabo veste Prada não poderiam ser mais diametralmente opostas. E, no entanto, parece que são pessoas que existem de verdade e cuja existência se justifica de per se, encarnações verídicas de Meryl.

Depois de um domingo maravilhoso, em família, um domingo ameno, com um sol afável, as buganvílias a cobrirem-nos de cor, os pássaros a voarem e a cantarem no meio das flores, apetecer-me-ia pôr-me para aqui a falar de cada uma das pessoas que aqui hoje estiveram, de como me sinto feliz por elas. Feliz, abençoada, agradecida. Mas temo repetir-me e, por isso, hoje vou à boleia da sugestão do Youtube que me mostrou os vídeos que partilho mais abaixo, com excertos de uma entrevista já com alguns anos mas que é bastante actual pois tal como Meryl Streep é intemporal, também as suas palavras o são.

Mas, antes, apetece-me rever os trailers de alguns dos seus filmes maiores.

A fotografia lá em cima é da autoria de Annie Leibvovitz.








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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Boa sorte. Paz.

terça-feira, março 14, 2023

Oscares 2023 - e etc.

 

A minha filha tinha-me dito que o filme Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, filme favorito para os Oscares, ia passar em canal aberto. Por isso, achei por bem ir ver.

Já se sabe que a Covid  -- que, em algumas pessoas, é peninha que mal pousa nos infectados mas que, aqui por casa, pousou com estridência --, ainda anda a sugar a nossa energia.

Tínhamos feito uma soft caminhada aqui à volta. Por isso, ao sentar-me aqui a ver o filme, adormeci profundamente. Até aqui nada de mais: o responsável deveria ser o corona e não o filme.

Contudo, quando acordei o que vi foi uma sucessão de cenas estapafúrdias. Pensei que ainda devia estar pedrada de sono pois tudo aquilo me parecia droga contrafeita. Forcei-me, pois, a aguentar pois o lado bom da fita ainda iria aparecer.

Até que desisti. Maluquice chanfrada demais para o meu gosto e sem perspectiva de haver um twist e aquilo virar coisa aceitável. 

No que se refere a googly eyes, mal por mal, antes os do Marty Feldman.


Afinal ganhou quase tudo - e eu não percebo como. 

Parece que o meu mundo, que eu quero pensar que é um mundo normal em que a racionalidade, a beleza e um módico de harmonia são fundamentais, tende a desaparecer. Em vez dele vai ganhando terreno um mundo em que as coisas não precisam de fazer sentido para existirem, em que a beleza é substituída pelo disparate sem pés nem cabeça e em que, em vez de harmonia, prolifera o caos, o ruído, a desagregação.

Não gosto. Mas a gente do cinema gosta. O filme arrecadou vários prémios e a assistência, gente entendida, aplaudiu. Por isso, o mal só pode ser meu.

Tirando isso, do que vi da cerimónia, gostei da actuação da Lady Gaga que primou pela simplicidade performativa. Hold My Hand.


Também achei graça à desconversa de Hugh Grant ao ser caçado pela Ashley Graham. Deve ser difícil conseguir responder a perguntas parvas quando uma pessoa não está para aí virada.


Quanto a toilettes, gostei muito do vestido, da maquilhagem e do penteado de Cara Delevingne, tanto mais impactante quanto ela surge assim, bela e glamorosa, poucos dias depois da entrevista em que fala da sua adição em relação ao álcool que a fez descer ao quinto dos infernos e de como agora, depois de tratamento muito a sério, se sente recuperada.




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Antes de a coisa começar, o Mário Augusto teve lá umas bacanas muito ao lado e cujo conhecimento da língua portuguesa mostrou ser pouco sólido. Lembro-me, por exemplo, que uma, na maior alegria, disse que 'houveram'. Pensei o que sempre penso: ainda bem para ela que ali está. Mas porque é que a RTP contrata pessoas que não sabem do que falam e, ainda por cima, não sabem falar?

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Um dia bom

Saúde. Boa disposição. Paz.

quarta-feira, setembro 21, 2022

Todo bom

 


Olha-se e uma pessoa não pode deixar de pensar que aquilo ali, de alto a baixo, é tudo bom. É a forma como anda, é a forma como ri, a forma malandra como olha, é a voz, é aquele jeito nonchalant, são as dimensões e a respectiva proporção (embora, claro, eu só possa jurar sobre aquilo que me se tem dado a ver), é a harmonia do conjunto, é tudo. Tudo bom.

Agora anda todo fashionable, todo fora da caixa, todo a deixar toda a gente de olhos postos a ver se percebe. Eu só vejo por fotografia e, para dizer a verdade, tentar perceber é trabalho a que não me dou pois compro de qualquer maneira. Vestido de cor de rosa, vestido de verde. vestido de saia, de chapéu ou sem chapéu, é sempre o máximo. Despido também deve ser.

E depois tem aquela coisa: os homens interessantes melhoram com a idade. Tudo neles ganha um carisma e uma graça que parecem íman. Não dá para explicar. Os homens-meninas com a idade ficam flosôs, totós, umas gatinhas, mas os homens-homens, pelo contrário, encorpam, ganham patine, ficam com gostinho vintage, apetitosos de dar gosto. 

Ele, então... 

Tem 58 anos e nem imagino como estará quando tiver 70 ou 80. Um néctar, coisa premium, lindo de morrer. Só pode.

Acontece que o belo do Brad Pitt agora se saiu à cena com uma que ainda mais deixou toda a gente à nora: toma que também é escultor. E diz que é dos bons. Shockingly, Brad Pitt turns out to be a very fine sculptor. -- diz Jonathan Jones. E depois ainda tem o descaramento de pedir que o belisquem (Pinch me – I must be dreaming, diz ele). Na volta, quer é que o Brad o belisque. Como se não houvesse mais ninguém na fila. Julga que é chegar e pedir um beliscãozinho. É idoso? Está lesionado? Está grávido? Não...? Então que espere pela vez. Com cada um.

Mas só os críticos sem sabedoria podiam ser apanhados desprevenidos. Quem tem olhos de ver está fartinho de saber que o Brad é bom de mãos... Basta olhar e ver. Bom de mãos, mão de pegada. Bom de tudo. Parece que só não de dança. É pena mas, pronto, perdoa-se.

E eu, que não tenho vocação nem conhecimentos para ser crítica de arte, vejo-o na galeria, sorridente ao pé do Nick Cave ou todo gingão e a gozar o pratinho com a surpresa que está a causar, e só penso que deveria era haver um video com o making of daquelas peças, ele todo informal em casa, com sorte até todo à vista, podia ser até com uns shorts, condescendo -- uma sorte para quem visse.


Parece que fez estas peças para excomungar os fantasmas que tinha dentro dele. Não quero saber. Isso é lá com ele. O que sei é que se me sair o euromilhões vou à Finlândia buscar uma obra só para fazer uma selfie com ele. Sou realista quanto às expectativas, já me contento com uma selfie. Posso ser a única portuguesa, quiçá palop, a não ter uma selfie com o Marcelo mas, tomem e embrulhem, teria uma com o Brad, esse coisa mais fofa.

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E, para quem está para aí já de nariz torcido -- os homens, todos prosa, a acharem-se melhores que ele e as mulheres a roerem-se de ciúmes e a acusarem-me de ser toda oferecida -- aqui vai um atestado que posso mostrar a quem achar que estou a exagerar. Ah estou...?

Top 10 Movie moments that made us love Brad Pitt




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Um dia bom
Saúde. Sedução. Paz.

domingo, setembro 11, 2022

Amor, medo, noites sem dormir. O telefone ao lado da cama.

  



“É um triângulo impossível e todos se sentem magoados”, diz ela. “Algumas pessoas conseguem. Eu não. Foi uma situação destrutiva. É preciso coragem. Percebi perfeitamente o dano que isso pode causar. Para cada um de nós, foi doloroso. No entanto, não se consegue parar. É o que é. É como se tivéssemos que estar na frente de um dragão e tivéssemos que enfrentá-lo, sabe?” 

Porque é que não conseguia escolher entre os dois homens da sua vida? 

“Nós amamos de maneiras diferentes, acho que se pode dizer”, responde. “É como perseguir uma necessidade dentro de nós. Quando estamos no meio de uma situação destas, não percebemos porque é que acontece”

Penso no conselho que foi dado a Binoche aos 14 anos por uma amigo artista da sua mãe, quando ela não conseguia decidir entre atuar ou pintar. “Juliette: escolhe fazer tudo!”

Mesmo enquanto Sara está a planear encontros com François, ela convence Jean de que não há nada em andamento, que ela e ele foram feitos um para o outro. Porquê submeter os dois a essa tortura? "Tem que ser", diz Binoche decisivamente. “Ela está perante uma necessidade em si mesma, um apelo sexual, como uma onda de calor, talvez de amor. Tem que ser vivido. Ela tem que perceber o que é. Se ela não fizer isso, ela estaria a colocar-se entre parênteses, ou... no frigorífico! É o que a torna humana e verdadeira.”

 “Permitir-se passar por isso é incrível porque muitos de nós diriam: ‘Não, é muito destrutivo’ ou ‘vou perder o que já tenho’. Tornam-se conservadores antes mesmo de começar. Mas quando uma onda tão grande está a chegar, é difícil não dizer sim, eu acho. Ela pede para ter essa liberdade de ser ela mesma, sem saber qual será o resultado. Isso é tão corajoso. E terrível! Eu sei o quão doloroso e perigoso pode ser.”

Tradução livre do artigo: ‘I fell in love with two men – it was unbearable!’: Juliette Binoche on love triangles and ‘little boy’ Gérard Depardieu. A propósito do filme Both Sides of the Blade


Porque há Leitores que me acompanham há muito tempo não vou entrar em pormenores ao voltar a recordar os épicos tempos em que vivi uma situação de intenso triângulo amoroso. Durou três, quatro meses, não mais, mas foi o que Juliette tão bem descreve: amor, medo, noites sem dormir. 

E é tanto mais difícil quanto se decide expor a situação aos envolvidos. Pretendia ser franca, pensava eu, mas no fundo talvez esperasse que ambos aceitassem a situação. Melhor: nem sei bem o que esperava quando contei ao mais recente que eu já namorava, namoro firme, intenções de casamento já em andamento e quando contei ao legítimo namorado que achava que tinha conhecido o homem da minha vida. Não sei o que esperava quando me despedia de um dizendo que ia passar o fim de semana com o outro ou quando, ao domingo, me despedia deste dizendo que me ia encontrar com o outro no dia seguinte.

Claro que, se o 'intruso' começou por aceitar bem a situação, pois ele é que estava a entrar em terreno ocupado, já o outro aceitou pessimamente desde o início. E digo que aceitaram pois não podiam impedir-me e, portanto, deram por eles a viver essa situação. E claro que o 'intruso' ao fim de algum tempo também já não aceitava bem que eu me despedisse dele para me ir encontrar com o outro. Uma situação que se complicava de dia para dia.

E claro que, por fim, por defesa pessoal e também deles, eu já não podia ser completamente sincera. E não ser sincera dava cabo de mim. E claro que, por fim, já andava era sempre com medo que se cruzassem e que a coisa desse para o torto. Aliás, uma vez quase deu.

Não é fácil. Mas é o que Juliette Binoche diz: quando acontece parece que não há volta a dar, a tentação fala mais forte.

Até que um dia, inevitavelmente, há que tomar uma decisão, fazer uma escolha. 

No entanto, tenho para mim que a escolha só tem que acontecer porque os homens são muito territoriais. Se fossem menos picuinhas, talvez a convivência fosse pacífica. Para quê tanto drama?



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Já agora, e porque Juliette Binoche também pinta e são suas as pinturas que aparecem no filme Words and Pictures também referido no artigo acima citado, aqui fica o trailer desse filme em que contracena com um dos meus xodós, Clive Owen.


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E é verdade, Lucy, Juliette Binoche é uma das mulheres que aos 58 anos continua belíssima e sem problemas em mostrar a idade que tem. Belíssima, sedutora, fantástica actriz.

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A todos um bom dia de domingo
Saúde. Vontade de viver. Paz.

quinta-feira, setembro 08, 2022

Já há um novo 'rapaz mais belo do mundo'... e, caraças, é escandalosamente belo

 


Björn Andrésen tinha catorze anos, chamava-se Tadsio em 'A morte em Veneza' e nunca se tinha visto beleza tão inocente, tão perfeita... tão tentadora. As mulheres enlevavam-se. Os homens sentiam-se atraídos. Não sei se todos, se apenas alguns. Nem sei se todos o confessariam. A beleza do rapaz era talvez andrógina, talvez etérea. Um anjo atrevido, ambíguo.

Mas os anos passaram. Björn Andrésen tem agora sessenta e sete anos e é avô. O lugar de rapaz mais belo do mundo ficou em aberto.

E nem Brad Pitt, que se apresentou jovem e descarado e nos desinquietou em Thelma & Louise, conseguiu destroná-lo.

O lugar tem estado livre.

Mas já não está. 


Timothée Chalamet tem 26 anos, é lindo, talentosíssimo, premiado. Se calhar também tem qualquer coisa de andrógino e, se calhar, isso torna-o ainda mais atraente. Não sei. Pode ser que seja simplesmente muito belo. Mede 1,78m, tem olhos verdes e umas feições de menino. É o namorado preferido de todas as jovens, de todas as mulheres maduras e de todos os homens que gostam de rapazes bonitos.

Nos filmes em que o vi sempre me espantei com a intensidade, com a leveza, com a graça, com a agilidade elegante. 

Acresce que há nele qualquer coisa que faz com que possa vestir qualquer coisa. Apesar de um pouco desengonçado, tudo nele assenta bem. Pode ser um smoking, pode ser um casual, pode ser uma loucura qualquer. Fica lindo, insolentemente lindo de qualquer maneira.

Na Mostra de Veneza arrojou de vez, uma coisa nunca antes vista. Os fotógrafos ficaram malucos e não o largaram. E eu, se lá estivesse, faria o mesmo.


Lindo até dizer chega.

Timothee Chalamet | Beautiful Boy | Let It Unfold You by Bukowski


Top 10 Timothée Chalamet Movies


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E, se apreciam a beleza, queiram continuar a descer: abaixo umas longas pernas vos esperam

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Um dia feliz
Saúde. Beleza. Paz

terça-feira, agosto 09, 2022

Eram jovens, belos, os melhores.
Depois, aqui, já não eram jovens, já havia outros tão ou mais belos, outros igualmente grandes.
Agora já cá não estão.

Tempus fugit

 

Há pessoas que se acham melhores que outras. Acham que são mais jovens, mais inteligentes, mais cultas, mais fortes. Devem esquecer-se que não são eternas, que a vida não ficará estacionada para que possam manter-se no altar reservado aos seres superiores. Por isso, acham que podem desdenhar ou maltratar outras.

Pessoas assim parece que se esquecem que são perecíveis e, de alguma forma, descartáveis. Algures no tempo, perceberão que a sua juventude se foi, que estão a ficar flácidas, enrugadas, frágeis como aquelas que, em tempos, foram por si desprezadas ou, mesmo, insultadas.

Pessoas assim acabam solitárias, amargas, tristes. Aos poucos vão sendo abandonadas por todos. Não foram criados laços de generosidade ou afecto que sobrevivam à passagem do tempo e que sejam a seiva da vontade de viver. Pessoas assim acabam por perceber que, cegas pela sua vaidade ou intransigência, desbarataram todos os seus talentos, afugentaram todos os amigos e amores, ignoraram a finitude da vida.

Quando acordam é tarde demais.

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Para todos os que talvez ainda estejam a tempo de inflectir a trajectória ou que talvez ainda consigam fazer o mea culpa e iniciar um caminho de apaziguamento, tolerância, bondade e respeito pelos outros, aqui fica um vídeo que, pelo menos a mim, me faz ter vontade de aproveitar cada bocadinho de vida, cada oportunidade de harmonia e carinho, cada pequeno momento. Pelo menos a mim este vídeo parece-me um banho de humildade para quem a não tem.

Frank Sinatra interpreta As Time Goes By para Ingrid Bergman

Aqui, Ingrid Bergman e Frank Sinatra tinham ambos 64 anos.  Aqueles que em tempos tiveram toda a beleza e sucesso do mundo, à altura do vídeo, já estavam na fase dos tributos, o tempo já tinha passado por eles. Ingrid morreria apenas 3 anos depois.  Ele um bom par de anos depois. E agora já não estão entre nós e, dentro de algum tempo, já pouca gente se lembrará deles.


Para os que não conhecem ou não recordam a cena de Casablanca, aqui fica (com Humphrey Bogart, outro imortal):


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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Recomeço. Paz.

sábado, julho 23, 2022

Uma traição ao meu gigolo preferido...?
É que nem pensar...

 

Não sou de tentar uma segunda vez. Para o bem ou para o mal, para mim história vivida é história passada. Tenha sido uma história boa com final tranquilo, tenha sido uma história agitada com final atribulado, passou, está passado. Página virada.

As coisas são as coisas e as suas circunstâncias e, se havia uma cola que unia uma pessoa a outra pessoa ou a um livro ou a um filme, tenho sérias dúvidas de que, num outro contexto, a cola se mantenha. Tinha que ter sido uma cola muito intensa que se tivesse dissolvido por um equívoco, por uma acção externa ou por um qualquer acto de deus ou force majeure para que a 'pegação' voltasse a existir em toda a sua pujança.

A excepção em que me parece que a coisa pode funcionar é na música. Muitas vezes, há versões fantásticas que ressuscitam ainda melhores.

Já nas telenovelas ou no cinema a coisa parece-me arriscada. Gosto do Pantanal porque não vi o original. Mas, no cinema, não tenho ideia de ir ver uma reprise de filme de que tenha gostado. E tenho ideia, quando vejo os trailers, que a segunda versão é sempre uma coisa aguada, deslavada.

Há cinquenta mil anos vi com devoção o sexíssimo Richard Gere a encantar -- com cuidados, ternura e uma perícia tentadora -- mulheres de todas as idades. As toilettes Armani assentavam-lhe tão perfeitamente como uma segunda pele e era tão compensador vê-lo com elas vestidas como despidas.

Hoje, vá lá eu saber porquê, o algoritmo do YouTube veio desafiar-me com um outro American Gigolo

Não faço ideia de se a história é a mesma ou se apenas o título é o mesmo. Seja como for, o trailer quase ofende a minha sensibilidade. Obviamente não o verei. Podendo parecer que nem por isso, a verdade é que sou mulher de alguma lealdades.

American gigolo 

A imitação


American gigolo

O original


Há lá comparação possível...? Nem pó!
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Desejo-vos um sábado feliz
Uma vida longa e feliz

quarta-feira, junho 22, 2022

Nudez, intimidade, prazer, sexo (pago)

 

Está a fazer furor. Eles desdobram-se em entrevistas. Mais ela que ele. Compreende-se. Vários aspectos são tabu: sexo, prazer, intimidade, nudez. Tanto mais sendo sexo pago, sexo pago por uma mulher, nudez duma mulher com mais de 60. Tanto mais quanto ela é a Dame Emma Thompson.

Ao ver a apresentação do filme e ao ver algumas das entrevistas, fiquei a pensar. Será que, em circunstâncias idênticas, eu seria capaz de contratar um profissional de sexo? Não sei. Poderia ter vontade, poderia sentir curiosidade, mas não sei, sou um bocado medrosa para coisas assim. Ficar sozinha com um desconhecido, sem conhecer a sua índole, assustar-me-ia. 

E se fosse um ladrão? E se fosse um assassino? E se fosse um violador? E se fosse agressivo? E se fosse estranho? E se fosse um tarado? E se fosse um chantagista? E se fosse um palerma?

Sou um bocado esquisita, ou seja, exigente. Melhor: muito exigente. O diabo está nos pormenores. Se alguma coisa me desagradasse 

(um cheiro pouco convidativo, dentes mal lavados, cabelo pouco limpo, mais do que um pontapé na gramática, sinais de burrice aguda. umas cuecas foleiras, uma tatuagem ridícula, todo depilado, uma camisa com colarinho ensebado, umas meias encardidas, desatento... sei lá, mil coisas) 

já não ia dar. Tem que haver clima. Pode até ser apenas um climinha. Mas tem que haver. E, para haver climinha, não pode haver nada que distraia, nada que perturbe, nada que possa comprometer.

Por isso, com tanto receio, tanta ressalva, acho que não me arriscava a abrir a porta a um desconhecido havendo o risco de, no minuto seguinte, só querer vê-lo pelas costas. 

E se o mandava embora e ele se recusava a ir? Que medo...

Não... acho que o meu espírito de aventura não é para isto. Mas já me pareceria viável conhecer alguém num encontro em público com a intenção de o conhecer, de conversar. Claro que também poderia não funcionar. Ao fim de dois minutos poderia ter vontade de arranjar uma desculpa e desandar. Mas se, por exemplo, me aparecesse alguém com quem se pudesse ter uma boa conversa sobre a situação na Ucrânia e na Rússia, sobre o suicídio do PCP, sobre os problemas ambientais nos próximos anos... coisa assim, já me parece que poderia ser interessante. Poderia nunca passar disso. Mas isso, em si, poderia ter piada.

Mas, pronto, eu não poderia dar a personagem interessante que a viúva Nancy Stokes parece ser. E também não sei se há por aí muitos Leo Grandes.

Agora uma coisa é certa: não sei se, depois de um filme assim --  e falo apenas por ver a apresentação e as entrevistas -- se vai continuar a olhar para os profissionais do sexo da mesma maneira. É censurável que Nancy Stokes tenha recorrido a Leo Grande para voltar a estar nos braços de um homem, para voltar a sentir prazer, para voltar a sentir o aconchego da intimidade?

Falo por mim: não acho censurável.

Mas... se fosse ao contrário? Se for um homem a contratar uma mulher... já o é? Porquê? Porque um homem vender-se para dar prazer a uma mulher é menos censurável do que se for uma mulher a fazê-lo?

Good luck to you, Leo Grande

com
Emma Thompson, Daryl McCormack


Dame Emma Thompson wants to talk about sex. It’s all because of her new film Good Luck To You, Leo Grande. In it, she plays a widow in search of sexual fulfillment. Relative newcomer Daryl McCormack plays the sex worker she hires to help her in her quest.

Desejo-vos um dia bom
Graça. Alegria. Confiança. Paz.

sábado, maio 21, 2022

No fim de mais um dia daqueles, apesar da noite não estar estrelada foi-me oferecido de bandeja um grande discurso

 


Por razões que não vêm ao caso tenho dormido muito pouco. Por umas razões ou por outras, tenho sido forçada a acordar cedo demais, não conseguindo dormir os mínimos dos mínimos. E se antes encaixava bem noites seguidas com poucas horas de sono agora já me custa.

Acresce que os dias têm sido longos demais. Longos, cansativos, stressantes. Esta sexta, por exemplo, começou cedo com um telefonema complicado. Acabou o telefonema e fiquei incomodada. Tentei digerir mas não descia. Liguei de volta para dizer de minha justiça. Não consigo processar incómodos sem soltar os cachorros. Está-me na massa do sangue. E foi uma hora de discussão acesa. Há momentos em que há que encontrar o devido equilíbrio entre ser-se contemporizadora e ter a mão pesada. Eu tendo para a mão pesada pois não creio que faça sentido ser de outra maneira para quem não é leal nem se esforça por ser competente. Ele acha que é preferível tê-los por perto do que afugentá-los e deixá-los à solta a fazer não se sabe o quê. Mas estou cansada e sem paciência para paninhos quentes, para jogos de espelhos.

Mas, enfim, é o que é. 

Por vezes penso na dificuldade que tenho quando os miúdos me perguntam: 'Mas fazes exactamente o quê?'

O que faço é isto. Tomar decisões que nem sempre agradam a todos, questionar quem preferia não ser questionado, não satisfazer as vontades de todos, puxar por quem preferia estar quieto, mandar estar quieto a quem faz o que não deve, tentar que se entendam alguns que não podem nem ver-se. Coisas assim.

Por isso, chego a esta hora e estou off ou quase. 

Hoje, depois de almoço, não tendo nenhuma reunião agendada para a próxima hora, reclinei-me. E adormeci instantaneamente. Infelizmente logo tocou o telefone. Há bocado, aqui no sofá, estava a ver as notícias quando senti que não aguentava. Encostei a cabeça para trás e pimba. Não estaria completamente anestesiada pois estava a ouvir vozes familiares. Mas não conseguia processar a quem pertenciam nem abrir os olhos para tentar esclarecer. Só passado um bocado consegui sentar-me melhor e ver o que se passava. O Masterchef Australia. Não sabia que estava a dar nem faço ideia em que episódio vai. Pena não ter acompanhado de início.

Agora, mais ou menos acordada, estou a ver o Pantanal. Não vi da primeira vez, não sei porquê. Fui ver quando foi e vi que foi em 1990. Eram os meus filhos pequenos. Desses tempos lembro-me é da minha labuta para acompanhá-los o melhor possível apesar do tanto trabalho que tinha, apesar das filas de trânsito, apesar da labuta que me trazia numa correria. Provavelmente à noite, depois de os pôr a dormir, depois de arrumar a casa e preparar as coisas para o dia seguinte, já não me sobrava tempo para telenovelas. Se calhar só para ler um bocado. Não sei.

Antes de jantar, fui dar uma volta no jardim. Agora nem isso tenho podido. Reparei que uns vasos estavam quase secos. Não sei como fui esquecer-me de os regar. Deu-me uma inquietação de verdade. Uns arbustos que escolhi e plantei e tratei com tanto cuidado e fui esquecer-me de os regar. Parece que estava fiada nas pingas de chuva que de vez em quando haveriam de cair. Mas tem estado tanto calor e chuva nenhuma. Fui logo a correr encher o regador, uma e outra vez. Mas não sei. Nem quero pensar. Olhava para os pequenos arbustos, antes tão viçosos e agora ressequidos, uns se calhar já sem recuperação. Como foi isto de me esquecer...?

O tempo não me chega para todas as obrigações. Mas regar os vasos é daquelas que não podia ter-me esquecido -- e esqueci.

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Estive há pouco a ver o que o YouTube tinha para me sugerir e só posso tirar o chapéu às mentes brilhantes que concebem o algoritmo que o movimenta. Já é inteligência artificial (IA) e eu, que tanto me preocupo com os riscos da IA neste mundo ainda tão desregulado no que a isto diz respeito, afinal sou consumidora de produtos que me são dados a comer por um algoritmo. Ele mostra-me o que 'acha' que eu gosto e não me mostra o que 'acha' que eu não gosto. E acerta bastante no que eu gosto. Mas não sei se, mesmo que na melhor das boas intenções, a de me agradar, não me oculta muito do que se calhar eu gostaria de conhecer. Mas, enfim, é um produto que uso gratuitamente e, por isso, não posso esquecer-me de que quando consumo um produto que não pago é porque o produto sou eu. Portanto, adiante.

Estava eu dizendo que estava a ver o youtube e apareceu-me um excerto do fantástico O Grande Ditador. Como o que é bom é para ser partilhado, aqui o deixo convosco.

Charles Chaplin - O Grande Ditador - Discurso final

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Ilustrações de Alireza Karimi Moghaddam (que vive em Lisboa) sobre a vida e obra de Vincent van Gogh 

na companhia de Don McLean com Vincent (Starry Starry Night)

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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Alegria. Serenidade. Paz.

segunda-feira, março 14, 2022

Chocada...?

 

Ao ver a fotografia do William Hurt no Der Terrorist fiquei admirada e, ainda mais, quando vi aquela coisa definitiva que é o intervalo da vida fechado com o ano em que estamos. William Hurt chegou ao fim da sua vida em 2022. 

Fiquei chocada.

De manhã, no parque infantil, o menino mais novo todo contente por ter conseguido uma proeza que ele e eu julgaríamos impossível, disse-me. 'Foi uma surpresa ter conseguido. Para ti também foi?'. Sorrindo, orgulhosa dele, disse que sim. Ele, então, acrescentou. 'Eu acho que estou chocado. Tu também?'. E eu: 'Eu também' e não lhe disse mas pensei que estava também 'chocada' com a riqueza do seu vocabulário.

Há uns fins de semana, quando estávamos longe de imaginar a chacina que a Rússia iria levar a cabo na Ucrânia, tínhamos todos ido ver o irmão jogar num pavilhão. Fui no carro com ele, com a tia e com a irmã. Os pais já lá estavam com os primos, tinham ido antes com o menino atleta. Quando lá chegámos, muita gente nas bancadas, eu disse: 'Onde será que eles estão?. Resposta dele: 'Estão lá em cima. Eu acho que estão... algures.' Também não disse nada mas fiquei igualmente 'chocada'. Algures? Uma criança tão pequena a sair-se com palavras sempre tão apropriadas.

Ele ainda as usa de uma forma inocente, sem receio de as usar de forma indevida, sem se questionar se as usará na gradação certa, ajustada às circunstâncias.

Comigo acontece-me o oposto: ocorre-me uma palavra e, com alguma frequência, fico na dúvida sobre se será apropriada. Não estarei a carregar no fatalismo? Não estarei a ser demasiado ligeira? Não estarei a banalizar o seu uso?

Escrevi que me senti chocada ao saber da morte do William Hurt. E não sei se deveria ter usado esta palavra. William Hurt estava longe de ser daqueles actores que, só por si, me faziam ir ao cinema. Não sabia dele há alguns anos e, no entanto, não tinha dado pela sua ausência.

Mas, ainda assim, ele era um dos amigos de Alex e, só por isso, era uma presença na minha memória. Era, não: é. É uma presença na minha memória. Uma presença silenciosa, com um sorrido contido. 

Uma sensualidade pouco exuberante mas garantida.

Relembro-o naquelas sensuais noites de calor, verdadeiramente escaldantes, com a Kathleen Turner. 


A Kathleen, na altura uma sedutora e uma das vozes mais sexy de Hollywood, está agora irreconhecível. E William Hurt morreu. Ou a vida corre depressa demais com um efeito erosivo sobre algumas pessoas ou extingue-se antes de tempo.
E, uma vez mais, ao escrever isto, hesito. Estarei a usar as palavras justas? Como usar estas palavras nestes dias de hoje, em que assistimos, em directo, a um cenário de guerra que não é ficção mas uma inverosímil realidade.
Relembrei-o naquela comédia ligeirinha e agradável com a Juliette Binoche. Lembro-me de ter ido ver este filme e de termos saído de lá a dizer que não era nada por aí além mas que era agradável, bem disposto, romântico. 


Relembro-o também n'O beijo da mulher aranha. O low profile que, em geral, mostrava esteve ao serviço de uma sensibilidade comovente -- o homossexual que era tão homem quanto o seu viril companheiro de cela, ambos humanos e vulneráveis nas suas dúvidas e carências.
E, uma vez mais, ao escrever comovente, penso que ultimamente tenho usado também bastante esta palavra. E, no entanto, as escalas e as envolventes não poderiam ser mais díspares. Posso usar a mesma palavra para me referir a um argumento ou a uma representação, num filme, e à coragem ou ao sofrimento, muito reais, de pessoas vítimas de uma guerra atroz, sangrenta?

E agora William Hurt está morto. Raul Julia também, há bastante tempo. E Sonia Braga, hoje em dia, já não parece a Mulher-Aranha, muito menos a Gabriela que, apesar de a preto e branco, enchia as casas portuguesas ainda a habituarem-se à vida em democracia, com a cor da sedução, do cravo e da canela.



Antes de, aqui, à noite, ter ligado o computador e a televisão, o meu domingo foi muito bom. Estive com a família e, felizmente, estão bem, bem dispostos. 
A paz é daqueles bens que todos deveríamos poder dar por adquirido em todo o lado e para todo o sempre. Mas, infelizmente, não é.
Os meninos brincaram, felizes. Jogaram à bola, jogaram ténis, jogaram no telemóvel, conversaram. A guerra para eles é qualquer coisa de incompreensível pois, para eles, até aqui, era coisa de filmes, de jogos. Ao almoço, perguntei-lhes o que acham. Têm opiniões já bem construídas. Querem a paz, claro. Mas pareceu-me que acreditam que as coisas se haverão de resolver. E eu também acredito que tudo se há-de resolver. Acredito que, no meio da barbárie, da destruição sem trégua, alguém há-de estar já a preparar a interrupção destes crimes sem perdão. E acredito que, quando isso acontecer, será para bem de todos. Não me sentirei chocada.

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Desejo-vos uma semana boa
Boas notícias. Paz. Saúde.

sábado, fevereiro 05, 2022

Os azulejos portugueses da cozinha de Gwyneth Paltrow

 



Quando eu era bem mais nova gostava das casas tradicionais, perto do estilo dito português suave. Varandas, varandins, terraços, telheiros e, por dentro, as divisões numa disposição tradicional.

Por essa altura, visitei pela primeira vez uma casa de arquitectura moderna. Um amigo convidou-me para ir conhecer a sua segunda casa, uma grande casa no Estoril. Falava dessa casa como sendo a casa de praia e a casa do golf. Tinha sido desenhada por um arquitecto amigo e decorada por uma vizinha italiana com quem tinha uma amizade colorida, segundo ele uma bela mulher que apanhava banhos de sol nua, apenas com um chapéu de palha de abas bem largas.

Era uma casa que parecia ser quase toda aberta, de linhas direitas, em que tudo o que dava para o jardim era de vidro. 

Quando entrei, olhei e não encontrei aqueles elementos que associava ao aconchego, ao conforto, os recantos onde se pode ter um cadeirão, um quadro por cima, um candeeiro de pé alto, uma mesinha de apoio. Ali quase não havia paredes. Também estava habituada a pinturas com belas molduras, por vezes um passe-partout, conjuntos de quadros. Ali, que me lembre, só vi um único quadro. Havia uma mesa comprida e, encostado à parede, um móvel muito comprido. Essa parede estava pintada cor de tijolo. Por cima do móvel, uma pintura moderna, abstracta, gigante, uma coisa insólita de tão gigante.

Havia um conjunto de sofás gigantes, claros, dispostos em U, virados para o grande pano de vidro que dava para o jardim. Não me lembro de lá ver almofadas que era uma coisa que me parecia, e ainda parece, essencial para que as pessoas se acolham e encostem e aninhem. Não me lembro de tapetes, não me lembro de móveis com bibelots. Lembro-me, sim, numa zona estreita de parede, junto a mais uma vidraça, um escultura de pedra. 

Ele orgulhoso da sua casa e eu apenas sentindo estranheza. Não vim de lá convencida. Mais ou menos por essa altura, talvez uns dois ou três anos depois, depois de muito procurarmos descobrimos a nossa casa in heaven, uma casa que nada tem a ver com o harmonioso e tradicional estilo Raul Lino. Esta casa era uma casa acrescentada em relação a um núcleo antigo, várias vezes centenário. Toda ela atípica. E, no entanto, foi atracção imediata de todos nós, os quatro. Um desafio para a mobilar mas tão única, tão especial, que a minha mente de imediato se abriu a novas ideias.

Esta casa em que agora vivo, perto da cidade, é um misto. Mais tradicional que moderna mas, ainda assim, com espaços amplos, abertos, comunicantes. Chegámos a hesitar sobre uma outra, moderníssima, escultural, uma obra de arte. Mas também quase sem paredes, certamente também uma aventura para mobilar e decorar. Felizmente, prevaleceu esta.

Quando passeamos pelas vizinhanças, um dos meninos, o meu pimentinha mais crescido, passa-se com as casas de linhas direitas, estilo minimalista, grandes planos lisos. Diz que é assim que gostará que seja a sua casa, um dia que tenha uma casa sua. Percebo-o. Imagino-o adulto, divertido, culto, sempre com ideias e vontade de as alcançar -- e numa casa assim. Não o imagino com moveizinhos, quadrinhos, almofadinhas. Não. Há-de viver numa casa sofisticada mas isenta de rodriguinhos. Claro que pode ter que fazer concessões à sua companheira mas, se bem o conheço, com a personalidade dominante que tem, há-de convencê-la a aceitar a simplicidade despojada e elegante que ele aprecia. 

Os outros meninos ainda não têm ideias definidas sobre isso, pelo menos que eu me tenha apercebido.

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Em dias complicados, e se o de hoje o foi, chego à noite à sala e só me apetece ver vídeos que não têm nada a ver, que não afloram problemas, nem ninguém fala de crises, depressões, fracassos ou antevisões negras para o futuro.

Não sou grande admiradora de Gwyneth Paltrow. Vi-a no Shakespeare in Love e gostei. -- mas não me lembro de mais. E agora deu em comerciante, por vezes de produtos e conceitos meio bizarros. Goop. As velas com cheiro a vagina e os artefactos sexuais curiosos e envoltos numa prosa meio filosófica são meros exemplos.

Mas hoje fui à boleia do algoritmo do youtube e aproveitei que ela mostrou a casa para a ver. Não acho extraordinária mas é interessante. E tem aqueles azulejos simples, bonitos, portugueses. E só por isso já acho que vale a pena partilhá-la convosco.

Inside Gwyneth Paltrow's Tranquil Family Home 

| Open Door | Architectural Digest


Já agora, também um cheirinho do Shakspeare in love


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Desejo-vos um sábado feliz
Saúde. Boas notícias. Boa sorte. Alegria.