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domingo, dezembro 11, 2022

Há vários caminhos e só me apetece ir pelo mais desconhecido

 


Não faço ideia como funcionam as vendas online em regime doméstico (ie, não empresarial). Como não frequento facebooks ou instagrams não estou habituada a ver como é que as coisas se processam. De vez em quando ouço falar em alguém que começa a divulgar coisinhas que faz e que, pouco depois, já não dá mãos a medir. Não sei se abrem actividade nas Finanças, se têm contabilidade, se emitem factura, se há mecanismos de devoluções, etc. Estou habituada a processos certificados e auditados em grandes empresas e padeço de total iliteracia quanto a processos caseiros. E também não consigo meter-me numa situação sem ter a certeza que estou a fazer as coisas como deve ser.

Digo isto porque tenho bibelots que vieram da outra casa e que aqui não tiveram cabimento, tenho quadros e posso vir a ter coisas que me dê na cabeça produzir. 

Nem sei como se divulga uma coisa assim. 

Em paralelo com actividades mais absorventes, podia fazer uma coisa que não me desse muito trabalho, como fotografar uma peça, colocar num site. Mas também não sei como atribuir um preço, como garantir que enviava a coisa e que depois me pagavam, etc. como me manter em dia a nível fiscal. Ignorância total. 

Claro que vou tendo ideias mas, como me falta tempo e conhecimento, ficam em carteira para um dia. Mas é esse absoluto desconhecimento que me atrai. Ir aprender, fazer as coisas de raiz num território totalmente estrangeiro para mim. Foi como quando comecei o blog. Desconhecia tudo o que se relacionava com a blogosfera, outros blogues, técnicas. Mas desconhecia ao nível mais básico: como se fazia, como se inseriam imagens, como se inseriam vídeos, como tudo. E o prazer da descoberta, o perceber que devagarinho as pessoas iam descobrindo o que eu fazia, a quantidade de pessoas que fui conhecendo e que de outra forma jamais conheceria, toda essa descoberta foi (e ainda é) fascinante. 

Quando penso em actividades que posso desenvolver um dia que deixe de trabalhar tenho muito claro que quero fechar completamente a porta a tudo o que tenha minimamente a ver com a minha actual actividade profissional.  Anseio pelo tempo em que posso limitar-me a ser um espírito livre, sem compromissos, sem horários, sem fazer fretes ou sacrificar um milímetro da minha liberdade de movimentos, sem ter que aturar quem não faz o meu género. Anseio também pelo tempo em que possa começar a desbravar novos terrenos, a ir à procura de quem esteja disponível para me ensinar.

Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


The Road not Taken by Robert Frost (read by Tom O'Bedlam)

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Enquanto escrevia isto, o dog de guarda, que dormia profundamente, desatou a ladrar.  Fui ver o que se passava. Sentado, a olhar para a porta, depois para outra porta. Fui ver. Chove de novo a cântaros. Acordou com a intensidade da chuva. Esperemos que não haja problemas como no outro dia. Para quem vive na rua, em casas frágeis ou situadas em zonas de cheias isto deve ser um susto.

Seja como for, e sem querer imitar o outro senhor que disse para a gente intervalar na preocupação pelos direitos humanos, tenho que confessar que gosto de estar aqui à noite, sozinha, a ouvir música... e a ouvir a força da chuva.

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E, pelo meio, vou vendo estes vídeos que me descansam a cabeça e me dão algumas ideias

(Tem legendada mas o português não é de primeira água, vou já avisando)

Parisienne's home tour/Family of three, artist-ceramic artist, full of unique style/ France vlog


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As pinturas são de Gerhard Richter ao som de uma canção de embalar (lobos)

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Desejo-vos um bom dia de domingo
Saúde. Força. Paz.

segunda-feira, janeiro 28, 2019

Casas: as minhas, as dos outros





Quando eu era pequena, quer os meus pais, avós, tios ou quase todos os demais conhecidos viviam em casas que eu achava normais. Entrava-se e toda a casa ficava relativamente à vista. Mas havia uma casa que eu achava misteriosa e da qual nunca percebi os contornos. Tinha divisões em baixo, depois uma escada sempre a meia luz e, em cima, um corredor comprido com muitas divisões de portas sempre fechadas. Lembro-me de algumas vezes estar numa das divisões com a amiga da minha mãe, uma mulher da mesma idade que era modista. Tenho ideia de que estava também a meia-luz embora me tenha ficado a ideia de janelas altas, com portadas de madeira. Essa mulher era a mãe de um menino um ano mais velho que eu, o meu primeiro amigo, o meu grande e inseparável amigo até eu ter dez anos. Tal como a mãe, ele era reservado, silencioso. A minha mãe era muito loura, de olhos muito azuis, muito alegre. A amiga tinha o cabelo escuro, olhos escuros e parecia viver sem prazer. No entanto, isto pode ser a impressão de uma criança pequena. A casa era como ela, sombria, silenciosa e eu gostava sempre de ter oportunidade de lá ir, em especial lá acima, para tentar perceber o que lá se escondia.


Mais tarde, conheci uma outra casa fascinante. Teria eu onze ou doze anos. Uma das minhas colegas de turma era muito rica. Vivia numa casa extraordinária. Vivia no último piso de um dos prédios mais emblemáticos da cidade, prédio que pertencia aos pais. Nos outros andares havia direito, esquerdo e centro e todos enormes; mas, no último piso, onde ela morava, estava tudo ligado. Tinha apenas um irmão. Uma casa imensa para dois adultos e duas crianças. E as criadas. E tinha um terraço enorme e uma estufa e um solário. Eu adorava ir para lá. Tinha uma vista espantosa de toda a cidade. Por dentro, a casa era tão grande que havia uma central com botões correspondentes a cada divisão. Quando alguém queria uma água ou um sumo, tocava uma campainha que soava na central que havia na copa. As empregadas andavam fardadas e, na realidade, eram as verdadeiras chefes da casa. A mãe ou nunca estava em casa ou nunca saía dos seus aposentos. Tinha perdido um filho, anos atrás, e parece que nunca tinha recuperado. O pai era um homem de negócios e também nunca o vi em casa. O irmão dela levava amigos lá para casa e ela também. Mas cruzávamo-nos apenas vagamente pois a casa era francamente gigante. Lembro-me de uma sala que ficava a meio da casa, uma esquina em redondo como redondo era o ângulo do prédio. Nunca eu tinha estado numa sala daquele tamanho. Sempre vi aquela sala sem pessoas, só móveis muito bonitos e bibelots fantásticos que vinham de outros países. E nós por ali andávamos à vontade, usando a casa como se não tivesse dono. Por volta das quatro ou cinco da tarde, não sei, tocava uma campainha e nós interrompíamos o que estávamos a fazer e íamos lanchar à copa. Havia uma mesa grande mas havia também um balcão alto com bancos altos. Era aí que preferíamos lanchar.


Uma outra nossa amiga, que morava entre a minha casa e esta casa gigante, vivia numa casa muito grande de tipo solar, numa quinta também enorme onde havia um extenso laranjal. Aí não íamos tanto. Havia lá muitos cães e eu tinha um bocado de medo. A quinta estava toda murada. A casa grande dava para um grande pátio para o qual davam também as casas dos empregados. Aí havia sempre bulício. Nunca vi o pai. Quer o pai quer a mãe eram bem mais velhos que os meus pais. Tinham seis filhos, todos irreverentes, mal comportados, bem dispostos. Se bem me lembro, a mãe tinha sido deputada na antiga assembleia nacional. Não sei se nessa condição ou na condição de aristocrata e rica, só se fazia deslocar com motorista. Só me lembro de a ver a chegar ou a sair com motorista. Em casa, não me lembro de a ver. Era uma casa em dois pisos, com muita patine, e também aqui, eram as empregadas que tomavam conta da casa e das crianças. Tinha bancos de pedra junto às portadas, tinha grandes tapeçarias, mobílias que deveria ser valiosas. Lembro-me de um grande louceiro, mesmo grande, grande, imponente, com pratos de louça e peças de prata e de uma mesa enorme nessa casa de jantar. Passava-se de umas divisões para outras, parecendo que não acabavam e isso para mim era um grande motivo de curiosidade e interesse.


Depois disso tenho conhecido outras casas fantásticas. De uma, em Sintra, um belíssimo palacete, já uma vez falei num daqueles folhetins que, volta e meia, me dá para escrever. É uma casa de família e ali poderia ser feito um belo filme. De facto, é uma casa tão extraordinária que poderia ser a personagem central de um romance, de um drama, de uma série de televisão. Aí, uma vez mais, passa-se de umas divisões para outras como se fosse uma casa infinita. Quando sou convidada para lá ir, encanto-me. Por minha vontade pedia carta branca para passar lá um dia inteiro por minha conta.

Mas, enfim, escuso de continuar a falar de casas que, de alguma forma, me impressionaram.


Mas, tenho que confessar, talvez por outros motivos, as minhas casas também me impressionaram. Esta, da cidade, foi assim: por causa dos livros, eu andava à procura de uma casa maior, de preferência com seis divisões. Pelos meus filhos, habituados a uma vida de cidade, com amigos e amores, com desportos e actividades sempre por perto, queríamos uma casa na cidade e não no campo. Procurámos procurámos, procurámos. Uma vez, estavam a fazer um prédio na rua onde eu morava. Um dia, ao chegar, estava um carro mal estacionado com indicação de que o dono estava na obra. Fui avisá-lo. Apareceu um homem mais ou menos da minha idade, com um bom ar, simpático. Percebi que era o construtor. Perguntei-lhe se as casas desse prédio em construção eram grandes. Disse-me que eram T4 normais. Perguntei-lhe se tinha ou sabia de casas grandes. Disse-me que sim, uma que tinha sido dele e que estava a reconstruir. Mais tarde haveria de me contar que era a casa onde tinha vivido com a primeira mulher e com a filha e que estava a reconstruir para que a mulher da altura, a segunda, não se importasse de ir para lá (mas que não sabia se nem mesmo assim ela quereria). Mas, naquele primeiro dia, não sei dizer bem porquê, interessei-me logo. Perguntei-lhe onde era. Disse-me e disse-me também que ia lá estar no dia seguinte à tarde. No dia seguinte, apareci lá. A casa estava em reboco, tudo a ser feito de novo. A casa tinha uma deslumbrante vista para o rio e era, realmente, uma belíssima casa. Senti imediatamente que era a casa pela qual eu estava à espera. O que tive que penar pela casa, as surpresas que tive, algumas muito boas, o inacreditável que foi todo o processo até que ele assimilou que a mulher jamais viria viver para aqui e aceitou vender-me a casa, é digno de outro filme. No dia da escritura, chorou ao vender-nos a casa. A mulher acompanhou-o mas não estava nem aí.


A casa no campo foi outra. Sempre tive vontade, ou melhor, necessidade, de ter uma casa no campo. O meu marido nem por isso. Durante anos procurámos. Ou eram caríssimas, ou horrorosas, ou a milhas, ou em lugares recônditos ou com vizinhança nula ou péssima. Já todos, o meu marido e os meus filhos, odiavam que eu persistisse, já nenhum deles tinha mais paciência para continuar a procurar. Até que um dia vi um anúncio. Chamou-me a atenção. Consegui convencê-los a ir ver. Estava de chuva, não queriam ir. Fomos ter com a dona da agência, uma pequena agência local. Quis mostrar-nos primeiro uma outra. Na verdade, um monte, literalmente um monte. Era vendido com o projecto de uma moradia que ela e o marido, que tinham também uma empresa de construção, fariam nascer. Mas eu estava com a ideia no tal anúncio. Lá fomos, num dia muito cinzento e muito molhado. E foi, de novo, amor à primeira vista. Era uma casa muito, muito antiga, com um acrescento recente e legal, uma casa no meio de pedras e mato rasteiro. Os miúdos entraram a correr e um disse: 'aqui é o meu quarto' e outro disse 'e aqui é o meu'. E eu comecei logo a pensar em desfazer-me daqueles móveis escuros e a pensar que tudo aquilo precisava de uma grande volta. E que ali, onde estavam pedras e mato rasteiro, haveria um dia um pequeno bosque. E foi outra luta. Papéis, papéis. Muito, muito tempo. Mas não desisti(mos). É agora o pedaço de terra que sinto como meu, como se tivesse nascido dele.


E talvez por ter esta ligação estreita a casas ou à recordação de algumas, sonho recorrentemente com casas. Sonho que chego a um lugar e que há uma casa fantástica que eu desejo que seja minha e que a vou visitar e que é enorme, sem princípio, meio e fim, com muitas divisões, que tudo ali me encanta, que me ponho à descoberta e que tem recantos maravilhosos e surpreendentes. Adoro ter este sonho. Nem quero acordar, para estar, maravilhada, a descobrir divisão após divisão, móveis lindos, louças e quadros magníficos, janelas grandes, muitas portas.

Mas, se hoje fizesse uma casa de raiz ou fosse escolher uma casa para iniciar uma vida nova, escolhia uma casa diferente das minhas. Talvez escolhesse ter casas como estas dos vídeos abaixo.





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As pinturas são de Gerhard Richter e acho que vão bem com Arvo Pärt, aqui com Pari Intervallo 

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Era para ter falado dos 'Livros Perdidos' mas cheguei tarde a casa, tive mil coisas para fazer, é tarde e espera-me um dia e pêras. Por isso, com vossa licença, vou já direitinha para a cama, apenas não rezando a todos os santos para isto não estar pejado de gralhas porque sei que não seria a reza a editar o texto.

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E uma boa semana a todos a começar já por esta segunda-feira.

quinta-feira, agosto 25, 2016

Vem aí a guerra e só os alemães é que sabem?
Para que é que vão armazenar água e alimentos?
Não sei.
Mas, do que conheço dos alemães, avanço com uma explicação.
[E, atenção, o que digo não é para causar alarme, é apenas para alertar para o que estamos fartos de saber]





Depois de ter louvado a iniciativa de Renzi atribuindo 500 euros a cada adolescente para consumir em cultura, volto-me agora para a notícia que está a causar estranheza e a lançar alguma suspeição nos europeus:

O plano de defesa civil, que inclui o conselho para os alemães armazenarem comida e bebida para dez dias, foi hoje aprovado pelo Governo.


O governo alemão aprovou hoje um plano de defesa civil, que pede aos cidadãos para fazerem aprovisionamentos de água e alimentos, permitindo uma resposta em caso de atentados ou catástrofes naturais. (...)
Entre as recomendações feitas à população, contam-se a necessidade de reservas de água, de "dois litros por pessoa e por dia, por um período de cinco dias". Os cidadãos devem abastecer-se de alimentos suficientes para dez dias.
Prevê também planos de emergência em caso de interrupção do fornecimento de água ou eletricidade, uma série de medidas de segurança em caso de crise de natureza química, atómica ou biológica, ou ainda em caso de ataques cibernéticos.


Soube disto e desde então já ouvi interpretações diversas e comentadores para todos os gostos a especular a razão de ser de tão inusitada medida: que tem a ver com a Ucrânia, ou com a Turquia, ou com o Daesh, ou com severas ameaças às centrais nucleares ou com indícios de terramotos bárbaros, ataques cibernéticos ou, acrescento eu, invasão por marcianos.

Pode ser. Mas, como não tenho espiões debaixo das saias da Merkel, de facto não faço ideia.

Contudo, já trabalhei diversas vezes com alemães, uma das quais recentemente. E já trabalhei em diversos contextos e circunstâncias, algumas vezes durante períodos bem longos.

Já aqui o disse algumas vezes: gosto de trabalhar com alemães embora venha achando que, enquanto organização (isto é, a nível não pessoal), se vêm tornando mais quadrados, tudo muito by the book. A nível pessoal continuo a achá-los descontraídos, simpáticos, até folgazões. Mas, a nível profissional, não brincam em serviço nem sabem desviar-se um milímetro do que antes planearam.

Contudo, se reconhecerem e lhes provarem, mas provarem bem, que uma solução menos ortodoxa parece valer a pena, então equacionam-na, enfiam-na no plano e deixa de ser heterodoxa e, portanto, passa a estar regulamentada, tornando-se admissível. E, uma vez estabelecido um plano, seguem-no ferreamente. Podem levar um ano ou mais a fazer um plano ao pormenor, quando, em iguais circunstâncias, os portugueses o fazem numa manhã, de forma não detalhada para deixar margem para os imprevistos que sempre acontecem. Os alemães não: os alemães elencam previamente todos os passos e todos os possíveis imprevistos e, neste caso, para cada um, estudam qual o antídoto. Só depois se abalançam à acção.

Para além do mais têm a paranóia da segurança e da propriedade das suas coisas. Podem optar por soluções pouco operacionais e pouco económicas mas priveligiam (ou melhor, exigem) a segurnça e o controlo absoluto das situações (a propriedade inquestionável e regulamentada da informação gerada nas suas organizações, a segurança à prova de bala das suas redes de dados, dos seus ficheiros, etc).

Ou seja, do que lhes tenho observado -- e, como disse, do que tenho constatado desde há alguns anos para cá, esta atitude vem-se tornando generalizada e inquestionável -- só se sentem bem se tiverem planos para tudo e, sobretudo, planos que garantam que, haja o que houver, eles estão sempre salvaguardados pois preveniram-se em terra antes de se fazerem ao mar.

Por isso, do que lhes conheço, não precisam de saber de alguma ameaça concreta para desencadearem estas medidas que agora aprovaram. Leio e acredito que isto faz parte de um plano global que vem sendo estudado desde de 2012 (ou seja, há 4 anos) e que visa substituir um outro que estava em vigor desde 1995.

Agir como eles, tem prós e contras. Eu acho que, com alguma frequência, tendem a levar a coisa ao limite do absurdo; acho que perdem a noção de que tamanha pre-ocupação é um excesso de zelo que pode não se justificar. No entanto, acho que entre a despreocupação portuguesa, de deixar tudo muito ao improviso, de não divulgar riscos para não lançar alarme, de se fiarem na virgem e não correrem e a confiança cega dos alemães em que tudo poderão prevenir haverá um meio termo virtuoso.

Por exemplo (e sem, de modo algum, querer cavalgar a onda da tragédia do sismo italiano), refiro um tema do qual já aqui, de resto, falei algumas vezes: algumas zonas do país e, em particular o Algarve, a Costa Alentejana e Lisboa e Vale do Tejo. são de alto rismo sísmico e o não ter voltado a haver um abalo violento como o de 1755 já é uma improbabilidade. Ou melhor, é uma grande sorte que devemos agradecer a todos os santinhos mas é, também, uma improbabilidade. 


Dito de outra forma: pode ser que ainda falte muito tempo e espero bem que sim mas o mais provável é que volte a acontecer e que, acontecendo, possa vir a ter efeitos devastadores.


Por isso, teríamos já mais do que tido tempo não apenas para reforçar as estruturas dos edifícios que não aguentarão um desses tremores de terra valentes como para traçar um plano de contingência e de recuperação (a todos os níveis) em caso de desastre. Mas qual o quê...

Este plano pressuporia ampla divulgação, realização de simulacros e intervenções de toda a ordem. Contudo, portuguesmente assobia-se para o lado e espera-se que, na nossa vida, tal não venha a acontecer.

Não sou eu que o digo, que eu não percebo nada do assunto. Mas ouça-se um dos maiores especialistas nacionais na matéria, o Engenheiro João Appleton:


Tivemos um bom exemplo com a Parque Escolar, em que os edifícios foram, de uma forma sistemática, analisados e reforçados do ponto de vista sísmico, mas esse programa foi interrompido. Foram feitas obras em 200 e tal escolas, mas as outras centenas de escolas estão esquecidas e abandonadas. E o que é que acontece aos hospitais, aos edifícios de bombeiros ou governamentais, onde trabalham diariamente aqueles que tomam as decisões? 
Estou plenamente convicto de que, se sofrêssemos um sismo de grande intensidade agora, colidiriam vários hospitais, vários quartéis de bombeiros, vários edifícios públicos de ministérios, porque não estão preparados para suportar um terramoto semelhante ao de 1755.
Quando acontece um sismo de elevada magnitude num qualquer lugar do planeta, especialmente quando é mais perto, as televisões salivam e a toda a hora são mostrados escombros e pessoas a chorarem. Depois aparecem os comentadores, os senhores da protecção civil, os do INEM, não sei se também o Nuno Rogeiro -- e, passados dois dias, já ninguém se lembra de nada. Ora isto com os alemães seria o oposto e, de certeza, já se iria na 50ª versão de um plano exaustivo, sempre melhorada, divulgada e ensaiada.

Portanto, mais do que enveredarmos por teorias da conspiração e desatarmos a especular sobre o que é que os alemães sabem e nós não, acho que deveríamos reflectir um pouco e talvez seguir-lhes o exemplo pois, em caso de atentados, desastre grave, acts of God ou seja o que for, os planos e as cautelas podem salvar muitas vidas ou, pelo menos, minorar o desconforto de algumas situações.

E tenho dito.

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Lá em cima Marlene Dietrich interpreta uma das minhas canções preferidas de ever and forever: Lili Marlene

As imagens que escolhi para adornarem o texto mostram obras de pintores alemães, desta vez dos modernos. A saber, pela ordem em que aparecem: Franz Marc, Max Ernst, Paul Klee, Hans Hofmann, Tomma Abts e Gerhard Richter.

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E queiram, agora, ir de visita aos antigos. 
No post abaixo falo a propósito de uma extraordinára medida de Renzi e peço ao nosso Ministro da Cultura que se inspire. 

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