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segunda-feira, junho 28, 2021

Um Blue Prince a acompanhar de alto uma bela sardinhada

 


A Bromélia branca, que eu achava tão bonita, começou a ficar branca demais. Até as folhas começaram a passar de verdes a esbranquiçadas. Fui informar-me. Em tempos consultava livros de jardinagem. Agora googlo. As bromélias daquele tipo não gostam de muita luz directa e eu tinha-a posto no lugar com mais luz do jardim. 

Tirei-a de lá. Passei-a para o vaso sem história mas bonitinho que trouxe na sexta-feira. Está numa zona mais resguardada, no degrau acima daquele em que pus o vasinho verde onde coloquei a hortênsia, entretanto renascida.

No vaso exposto ao sol coloquei uma echeveria perle von nurnberg. Os nomes das flores são todo um programa. Não estou certa de que este seja o melhor sítio para a ter mas vale a pena tentar.

E arranjei outra floreira, uma rectangular, onde juntei uma blue prince e restinhos e estacazinhas de outras. O prazer que isso me dá talvez não seja fácil de perceber por quem me lê. Até para mim isto é novidade.

Antes, eu vivia num apartamento no alto de um prédio e tinha o rio na minha janela. Não sentia vontade de ter plantas aprisionadas. Não tinha vasos. Preferia, ao fim de semana ou nas férias, dedicar-me às árvores e aos arbustos do campo. Tinha, desde sempre, um sonho: inventar um bosque, criá-lo do nada, fazê-lo nascer num lugar em que parecia impossível, ver as árvores crescer, caminhar à sua sombra. 

Agora, nesta casa, mantendo o jardim que aqui encontrei e que é fruto de anos de dedicação e amor por parte dos anteriores proprietários e que, por isso mesmo e porque me identifico perfeitamente com a estética e o romantismo do lugar, tento introduzir o meu cunho mas sem desvirtuar o equilíbrio que aqui reina.

E, de repente, eu que era toda azinheiras, cedros, aroeiras, orégãos, rosmaninho e alecrim, descubro-me curiosa por toda a espécie de flores, com vontade de conhecê-las, de saber como se cuidam. Sempre me tinha visto como não tendo especial sensibilidade para as subtilezas das flores. Receava que me morressem sem que eu percebesse porquê. As flores eram para mim assim como os gatos: se não interagem nem mostram que percebem as nossas dúvidas ou vontades, como lidar com eles?  Mas, afinal, descubro, com algum alívio, que as flores que cá estavam têm mostrado que se dão bem comigo e que as que tenho plantado têm vingado e estão bonitas. Só uma begónia soçobrou, não sei porquê. Mas como foi só uma não me senti desmoralizada. 

Ando, pois, muito contente com as minhas flores. Aquelas onde a mangueira chega são regadas todos os dias, um chuveirinho ligeiro. As outras, as que têm que ser regadas a regador, são mais problemáticas pois não arrisco o regador dos dez litros, não vá dar para aqui algum mau jeito e, então, vai uma quantidadezinha mais leve que me obriga a várias idas e vindas. Mas é de gosto. O meu marido zanga-se, que é um disparate tanto vaso, ter que andar sempre a regar. Digo-lhe que também ele come todos os dias e não me ouve protestar contra isso. Acha a comparação um disparate mas eu digo-lhe: 'olha que não... olha que não...'

Tirando isso, poderia falar da festa que houve na casa aqui ao lado. Mas não vou entrar em pormenores, e isso por vários motivos.

Estava, no sábado, lá fora, a ler os contos da Silvina Ocampo e a ouvi-los, divertidos, bem comidos e, creio, melhor bebidos. Um dia conto, mais tarde, para que não se perceba que é deles que estou a falar. 

Por vezes parece que voltei aos tempos da minha infância e adolescência. Vivíamos numa moradia, aquela em que a minha mãe ainda vive. Chamamos quintal ao jardim das traseiras, onde chegámos a ter uma pequena horta mas que depois foi relvado e tem um limoeiro, duas laranjeiras e flores, e jardim ao da frente, o que sempre teve flores. Da casa vêem-se os outros quintais e jardins e, se as pessoas falarem mais alto e estiverem na rua e nós também, ouve-se o que dizem.

Na cidade, o apartamento era sonoramente estanque e morávamos no último piso. Não se ouvia nada de nada dos outros apartamentos. E no campo é como se estivermos no céu.  Estava, portanto, habituada a não ouvir nada da vivência dos vizinhos. Aliás, mal os conhecia. Aqui não. Aqui, quando se está no jardim, ouve-se o que dizem nos jardins adjacentes. É uma coisa bizarra. Mas aqui ninguém se importa com nada disso. É normal ver pessoas em fato de banho, a apanharem banhos de sol, e nós irmos a fazer a nossa caminhada e passarmos muito perto -- e tudo tranquilo. 

Adiante.

O meu marido andava a dizer-me que não arranjasse nenhum programa para este domingo. Queria ver o futebol descansado. Isto apesar do jogo ser às oito. Mas diz que já sabe como é e, portanto, que me abstivesse de combinações. 

Contudo, o meu filho sugeriu uma sardinhada e pareceu-me uma ideia simpática: andava mesmo com vontade de umas belas sardinhas, gordas e boas. Além do mais, o programa pareceu-me compatível. O meu marido, quando soube, ficou logo impaciente e pôs como condição que acabasse às seis para irmos levar a minha mãe, e poder, no regresso, instalar-se sem stress, com tempo, com calma, disponível para ver o jogo desde o início. Tem sempre receio de apanhar trânsito ou qualquer outra contrariedade que o impeça de estar postos bem antes do apito de arranque.

Fomos buscar a minha mãe antes de almoço. O meu filho trouxe as sardinhas, douradas e carvão biológico e assou tudo, eu cozi as batatas de pele vermelha conforme ele pediu, fiz salada de tomate maduro com orégãos. Ele assou também pimento. A minha mãe trouxe cerejas e bolo de chocolate, a minha filha trouxe queijadas vindas dos Açores.

Um peixinho bom, uma bela almoçarada, cada grupo em sua mesa mas as mesas perto umas das outras, sempre na rua, a animação habitual. A trupe do meu filho, pelo sim, pelo não, ainda fez o teste rápido na farmácia antes de vir. E, sempre que andamos a circular por entre o pessoal, andamos de máscara. Não se pode facilitar já que apenas a minha mãe tem as duas doses. O meu marido ainda só tem uma e eu não digo enquanto não estiver esclarecido se o que me aconteceu teve a ver com o estupor da vacina ou não. De resto, ainda mais ninguém está vacinado.

De tarde, a rapaziada foi andar de bicicleta e eu fiquei a maquilhar e a pentear a minha princesinha mais linda. Fiz-lhe um penteado à Frida, com buganvílias e tudo. 

Depois houve vólei, houve lutas, houve brincadeiras sobre um sofá insuflado que, em vez de ser para relax como era suposto -- e cujo enchimento foi um complicado desafio apenas transposto pela menina mais engenhocas da família -- foi mais uma fonte de brincadeira. 

E depois lanche e, quando parte já tinha ido, ainda espaço para massagem ao rapazinho que pouco antes andava a voar a atirar-se ao tio como se fosse um ninja, depois uma massagem mais breve ao mano mais crescido e... depois... às seis lá fomos levar a minha mãe. 

E conseguimos estar cá mais do que a tempo e horas e... foi com tristeza que vimos que Portugal ficou pelo caminho. Sei a expectativa com que os meninos estavam e imagino a desilusão. Mas faz parte da aprendizagem perceber que há sonhos que são curtinhos mas que isso não tem mal pois todos os dias nascem sonhos novos.


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Uma boa semana feliz a começar já por esta segunda-feira

segunda-feira, setembro 21, 2020

Uma mulher poderosa encanta-me no dobrar de mais um dia em que tentei (mas não consegui) esfolar um rabo que está pendente e que não se compadece com as minhas beautiful flowers

 




Tenho cada vez mais para mim que se todos nós, colectivamente, fizermos um esforço para não perdermos tempo com tretas como as lágrimas do populista-achegado ou com outros pseudo-eventos ou com outras pseudo-pessoas-importantes mais depressa essa gentinha perderia protagonismo e melhor saúde mental todos teríamos. 

Cheguei aqui, agora, e todas as notícias internas me parecem treta. Pura treta. Não estou nem aí.

Mas, reconheço, também pode ser porque dias como o de hoje me deixam a deitar por fora.


Apesar de não ser nada de novo ou interessante, conto porque é que o meu dia me foi tão sobrecarregado: as idas à outra casa (eu para separar roupas para dar, outras para o lixo, outras para trazer, o meu marido com selecção de papeladas, projectos de arquitectura transactos, dossiers e dossiers de trabalhos em versões anteriores à definitiva, coisas assim) esgotam-me. Horas. Sacos e sacos e sacos. O meu marido também exausto. Tudo o que é trabalho pesado sobra para ele: carrega com sacalhões pesadíssimos, uns para os contentores da rua, outros para o carro. 

Mas, enfim, pelo menos já trouxe os meus casacos de malha, os meus blasers, as minhas calças. É que a prioridade tinham sido louças, coisas de cozinha, livros, bibelots, candeeiros, móveis essenciais. De roupa tinha trazido sobretudo a de verão, que era o que fazia falta. Mas o outono já aí está e eu já andava sem saber bem o que vestir. Mesmo aqui em casa, quando anoitece e esfria, eu olhava para o guarda-roupa sem saber bem a que deitar mão. E esta semana tenho compromissos presenciais que me exigem que as minhas toilettes anteriores saiam à cena. 

E depois há alguns fatos completos de que, embora já me estejam à justa, não quero desistir assim tão facilmente. Aquele elegantésimo e superlativo fato Armani que foi presente do meu marido, que conseguiu acertar com o meu tamanho e que, ousando à grande, sem que eu tivesse minimamente suspeitado de tal ousadia, conseguiu que me assentasse como uma luva -- esse tive que trazer, claro. Ou aqueloutro que comprei em Madrid depois de ter percorrido os costureiros da Serrano e de me ter posto nas mãos de uma bicha fantastique que adivinhava todos os meus gostos -- que conjunto mais lindo, aquele - quando fui a um casamento de sonho em Seteais, esse também teve que vir. Peças assim, intemporais. Não gosto de coisas tchanan...!, gaiteiras, espaventosas, datadas. Prefiro peças que não passam de moda. Ou seja, dessas, apesar de já me caberem à justa, não ia desfazer-me. E quem sabe, um dia destes, alguma das meninas da família não precisa de alguma destas fatiotas para uma ocasião especial?

No fim, quando já não aguentávamos mais -- cansados, desidratados, saturados -- e enquanto o meu marido andava abaixo e acima, ainda varri, passei com a esfregona, garanti que as casas de banho estavam impecáveis, que as luzes estavam apagadas. Fechei a porta e vim. Aquela casa, que era a minha casa de sonho até há pouco tempo, agora já pouco me diz. Quando viro as costas e fecho a porta, o que fica para trás é passado. Apesar de gostar de visitar as minhas memórias, a verdade é que parece que sou toda feita de futuro.

Como já era tarde, encomendámos uma pizza e, a caminho da casa nova, fomos buscá-la, a pizzaria já a fechar. 

Depois foi aquela frustração: o hall e o corredor da casa nova uma vez mais atafulhados de sacos, mais coisas para arrumar, eu já sem saber como distribuir as coisas. Na cozinha, algumas peças sem caberem onde faria mais sentido e, claro, a impaciência a ir ganhando terreno. Cansaço e fome à mistura é do pior que há.

Enquanto a pizza foi apanhar um aperto no forno, nós fomos tomar banho. E, com isto tudo, acabámos a almoçar às cinco da tarde. 

Não vejo a hora de esvaziar os armários todos, de trazer tudo e deixar a outra casa finalmente vazia para poder usufruir de tempos livres sem ter a necessidade de os anular, sempre a tratar de tudo o que há sempre para tratar. Até porque, quando for vendida, não pode lá ficar nada. O meu filho que, quando saíu de casa, não tece paciência para levar nada nem escolher o que era de guardar ou deitar fora, continua sem paciência para se atirar a isso. Dossiers da faculdade, livros, coisas de computador, sei lá o que para lá ainda há. Hoje, ao abrir gavetas do quarto da minha filha, dei com roupa interior dela. Não a deitou fora e eu não gosto de deitar fora coisas que não são minhas. Hoje aproveitei algumas peças. O resto, que estava ainda em bom estado, pus num saco também para dar. 

Na verdade a casa parece quase vazia mas, na verdade também, ainda com coisas que não acabam.

Bem.

Ah, e fiz o jantar em dose XL para dar para o almoço também de amanhã. 

E, finalmente, quando o sol estava de fugida, ainda fui para a espreguiçadeira ler mais um pouco. Uma bênção. Uma meia hora de descanso e bem-aventurança. 

Depois fiz telefonemas enquanto passeava para trás e para a frente no jardim, fotografando as flores que me trazem apaixonada. Tão lindas, tão perfeitas. Divindades silenciosas.

Mas tudo o que é bom não pode ser em grandes doses pelo que, de seguida, tive que entrar em casa para passar a ferro e sei lá mais o quê.

Portanto, como é óbvio, com este programa de festas, não quero cá saber de minudências e banalidades. E, assim sendo, para aqui tenho estado a ouvir música. Música poderosa, intérpretes poderosos. Em especial uma mulher poderosa. Poderosa em todos os sentidos. A destemida Yuja Wang mostra como se atira a tudo com uma energia que contagia. Mulheres poderosas e, ainda por elegantes e femininas, são uma graça. E um perigo.


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E nada mais a declarar. 

Quando voltei ao jardim já a noite vinha descendo. Lá em cima, entre o piar discreto das aves nocturnas, uma nesga de lua. Fotografei-a. Ainda não tinha reparado na lua desde que aqui vivo. Gostei. É uma boa companhia, boa como todas as companhias que são cheias de subtilezas.


Desejo-vos uma boa semana, com muitos momentos bons, com boas notícias. 
E que a saúde e a boa sorte vos acompanhem.

domingo, maio 15, 2016

Fernanda Câncio, Sócrates, o Caso Marquês, a Visão, o Correio da Manhã
- ou o longo lamento de uma mulher fatigada




Ando num tal estado que parece que nada do que interessa à comunicação social me interessa a mim. Não pego num jornal em papel há que tempos. Passo uma vista de olhos pelos jornais online para ver o que está a acontecer à superfície da terra mas sinto-me frequentemente descoroçoada com o relevo que os jornais portugueses dão a vacuidades.

Por isso, a notícia publicitada pela Visão sobre o artigo de Fernanda Câncio a propósito do pretendido envolvimento no Caso Marquês não fez tocar, em mim, nenhuma campainha. Depois, os destaques e o que li na blogosfera também não, continuei indiferente. 


Contudo, mão amiga -- a quem agradeço -- fez-me chegar ontem o dito artigo. Li-o há pouco. E li com algum desconforto e, sobretudo, pena. Agora li o que Fernanda Câncio, a propósito, escreveu no Jugular -- o processo marquês e eu (e a visão) -- e o que sinto é a mesma coisa. Sobretudo pena.


Há neste caso qualquer coisa de trágico. 

Fernanda Câncio namorou José Sócrates. Tê-lo-á amado. Como qualquer namorada, ter-se-á sentido apaixonada por ele, ter-se-á sentido bem nos seus braços.

Depois afastaram-se. Acontece.

O que seria normal seria que, tendo-se afastado, cada um fosse à sua vida. No entanto, ao que se vê, Fernanda Câncio continua a viver com a sombra de Sócrates enleada em si.

Sócrates é um homem inteligente, carismático, voluntarioso e que sempre despertou ódios e paixões. Depois de, no seu primeiro mandato, ter sido um primeiro-ministro bem sucedido e, depois de, na sequência da crise financeira internacional, ter suado as estopinhas e lutado como um leão, por vezes como um leão acossado, e de ter caído às mãos de uma espúria aliança esquerda/direita, poderia ter finalmente atingido o momento da sua vida em que poderia descansar (até se abalançar a novos voos).

Contudo, qualquer coisa nele sempre parece atrair a blasfémia, a injúria, a tempestade.

Poderia isso ter terminado ao ir para Paris. Mas não. Os jornais perseguiram-no, as investigações também.

Não sou de ir em conversas. Penso por mim. Julgo o que tenho a julgar. Sócrates para mim foi e é um político e é como político que o avalio. E avaliá-lo politicamente é, sobretudo, votar ou não votar nele e, no intervalo, avaliar a justeza das medidas que defendia ou implementava. Votei nele das duas vezes e continuo a achar que, de cada vez que foi a votos, era a melhor alternativa. 
Não sou de me abster nem de me distrair com utopias. 
Se nas eleições vão a votos A e B, é entre A e B que escolho. 
Se não estou muito satisfeita com A mas sei que, se o apear, virá B que é pior, pois que, até haver melhor opção, fique A.

Depois, indícios que podem levantar suspeições relativas a ilícitos são para ser avaliados judicialmente. Não politicamente, muito menos na praça pública.

Não faço juízos de valor nem condenações morais a partir do que o Correio da Manhã ou o Jornal i lançam para a opinião pública. 

Custa-me que uma pessoa, ao ser detida, tenha a televisão a filmá-la, custa-me que a pessoa seja difamada e acusada na praça pública e que, ao fim de ano e meio, ainda não esteja acusada de nada.

Ninguém deveria estar sujeito a tal insanidade.

Madoff foi indiciado, julgado e condenado em quanto tempo? Se não estou em erro, em três meses.

Sócrates já esteve preso como se fosse um bandido e agora, apesar de em liberdade, continua com a vida em suspenso. Sem poder trabalhar, vive a aguardar que um omnisciente e omnipresente Juíz Alexandre (sobre quem caem todos os casos de peso neste país) se decida a não sei o quê e que um falhado Rosário Teixeira continue a investigar o rabo da pescada que a amiga de Sócrates deixou no prato depois de almoçar num restaurante que, vendo bem as coisas, pertence a um sujeito que já foi sócio de um outro que veio das Beiras e que deve ter conhecido o primo do amigo do tio de Carlos Santos Silva. Um filme que, se não fosse dramático para quem o vive por dentro, seria uma comédia.

E, em volta de Sócrates, vão caindo como arguidos ou potenciais arguidos todos os que mais próximos estiveram dele: a ex-mulher, a ex-namorada e mais uma mão cheia de pessoas.

Fernanda Câncio, depois de, ao longo de penosos meses, se ter visto envolvida em insinuações e acusações por parte das bocas infectas do Correio da Manhã, tremeu nos alicerces e sentiu que devia explicar-se.

No longo texto que escreveu, transcreve as acusações, desmonta-as, nega-as. Lendo-a, fica à vista a sabujice mental e a paranóia torcionária do jornalismo que se pratica no Correio da Manhã.

No entanto, não sei se Fernanda Câncio fez bem em fazê-lo. Eu, penso eu, não o teria feito -- pelo menos daquela maneira. No entanto, sei lá eu como é viver uma situação destas.

A questão, em meu entender, é que agora vê-se a ela própria na capa de uma revista, vê-se a ela própria envolvida numa coisa com que nada tem a ver.

Penso também que escusava de ser tão extensa na explanação das suas razões e, sobretudo, escusava de ter deixado subjacente um juízo moral sobre a utilização de dinheiro emprestado por parte de Sócrates. Ao fazê-lo, propaga, junto da opinião pública, o seu juízo moral a propósito de um homem que, em tempos, amou. Ora, para além do mais, o seu juízo moral sobre o homem que namorou não é tema público nem acrescenta nada ao que está em causa.

Se Sócrates cometeu actos ilícitos pois que o acusem e que vá a julgamento. E que, se for julgado culpado, que pague. 

Mas que se despachem com o processo dito Marquês. É inadmissível o tempo da justiça em Portugal. E não é só com Sócrates, é com tudo. Uma vergonha.

E que, se nada houver contra Sócrates (como tantas vezes acontece com estas longas investigações em que desgraçam a vida das pessoas a troco de coisa nenhuma), pois que nunca mais exerçam justiça neste País porque serão comprovadamente incompetentes, insensíveis e desumanos.

Quanto a Fernanda Câncio, compreendo que, sendo jornalista, não consiga alhear-se do mau jornalismo que se pratica em Portugal. E, até por isso, é trágico o que lhe está a acontecer. Agora queixa-se do sensacionalismo de que foi vítima por parte da Visão que, no fundo, se vem somar ao sensacionalismo do Correio da Manhã. No entanto, ao querer defender-se, veio, afinal, ajudar a alimentar o dito sensacionalismo.



O que eu lhe aconselharia -- até porque simpatizo com a sua maneira de ser frontal e a sua escrita talhada a direito (embora, por vezes, em minha opinião, não colocando em perspectiva a importância de algumas causas) -- seria que, se conseguisse, se lembrasse sobretudo de viver a sua própria vida, pôr tudo isto para trás das costas, retomar uma vida normal, recuperar a alegria, esquecer esta teia putrefacta em que se tem visto envolvida. O mundo existe para além do que os jornais como o Correio da Manhã e sucedâneos relatam e, até, para além de José Sócrates.

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Lá em cima Renée Fleming interpreta a terceira das 'Vier letzte lieder' de Richard Strauss sob condução de Claudio Abbado.

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Já dei seguimento à minha história mas não está fácil arranjar fotografias para a ilustrar, e agora tenho que parar com isto e ir para outra. Mas daqui a nada, já a publico.

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Contudo, entretanto, desejo-vos já, Caros Leitores, um belo dia de domingo.


quarta-feira, março 23, 2016

Sob a pele
- um passo no sentido da impossibilidade


No post abaixo falei do atentado terrorista de Bruxelas e de como me parecem fátuos os fogos de indignação que se elevam pedindo que seja olho por olho, dente por dente. Quando escrevo sobre estes temas dói-me a impotência que sinto por me sentir fechada num mundo manietado por gente estúpida.

Por isso, se me permitem, mudo de registo, parto para outra. Sinto necessidade de respirar ar puro. Ou de me alienar - como queiram.




Milhões de horas já foram certamente despendidas a definir arte e nenhuma foi a definitiva nem alguma vez será. Identicamente nunca será definida de forma última a escala de valor para a arte. Estamos no domínio da subjectividade e cada um fala por si. Pode o ‘mercado’, como um deus cego, desprezar uns ou idolatrar outros, podem os homens, alguns, tentar impor algum nivelamento ou ditar modas, podem os tempos estabilizar numa relativa uniformidade de apreço e tudo isso, de alguma forma, estabelecer uma base valorimétrica -- mas uma coisa será sempre certa: nada disso será alguma vez passível de definição ou explicação inequívoca.

A olhos leigos tudo é relativo. No outro dia, na Casa da Cerca, em cima dos bancos de pedra, junto à janela, estavam uns rolos de pano ou umas coisas com cordas (já não me lembro bem e, pelas fotografias, não consigo perceber). Percebi que era uma instalação da Ana Vidigal.


Não percebo se tem valor comercial ou se tem algum sentido ou valor estético. Podia não ter mas eu gostar. Contudo, a mim nada me diz. E, no entanto, Ana Vidigal é um nome sólido nas artes nacionais. Também há umas duas semanas, ao vermos uma exposição  de peças atípicas ou vídeos do além, deparámo-nos, junto a uma das paredes, com um balde e uma esfregona. A minha filha, na brincadeira, perguntou se seria também uma obra de arte e os miúdos olharam para saber a resposta, talvez admitindo que pudesse ser. E não sei se era. Também na Casa da Cerca vi descrita como escultura uma ‘cena’ que era um grande livro com pedras entre as folhas.



Olho esse género de coisas com estranheza. No entanto, várias pessoas acharam normal ou gostaram e por isso as expõem. Não sou fundamentalista, não me choca, não generalizo: apenas passo à frente.

Mas já me aconteceu muitas vezes ficar caída de amores por uma peça de arte e ver, com espanto, que os outros a olham com indiferença ou desprezo. Tantas vezes isso.
Nessas alturas tenho que refrear os pensamentos que, indignados, ladram no meu ouvido: ‘há com cada uma… quem diria que me ia sair um burro encartado desta maneira…?’. Depois censuro-me, penso que gostos não se discutem, que não tem nada a ver e penso, uma vez mais, que tenho pensamentos que me deveriam envergonhar.
Um dos artistas que encaixa neste género é Rui Chafes. Gosto dele. Mas conheço pessoas que o acham desinteressante, pouco artista. Contudo, as suas obras têm, a meus olhos, uma beleza intangível que não sei situar em categorias ou descrever por palavras.


Para já, têm aquilo que me atrai: não se parecem com nada. E é disso que eu gosto: aprender formas, corpos, sombras, desequilíbrios.

Explico-me. Se virmos a estátua de Catarina de Bragança na Expo, cuja fotografia há tempos aqui coloquei, perceberemos o que quero dizer: é perfeita, uma mulher bonita esplendidamente passada para um material que a perpetuará.


Acho interessante que se queira eternizar a imagem de algumas pessoas em pedra ou metal. Contudo, estátuas como esta deixam-me indiferente. É quase como ver uma fotografia a três dimensões. Nada de extraordinário, apenas a mestria de quem fez o exercício.

No entanto, vejo um volume pesado, metálico, suspenso, sem forma reconhecível, sem propósito, e logo eu fico parada, agradada, com vontade de assimilar a estranheza.

Desde que tive contacto com a obra de Rui Chafes logo me senti intrigada, e do pasmo logo nasceu a vontade de ver mais, para me admirar, para  não reconhecer o que de indefinido cobre aquelas peças. E logo senti que as suas palavras seriam também assim, estranhamente vindas de dentro da terra, do fogo dos elementos, fascinantes como se incompreensivelmente familiares.

Portanto, sempre que vejo as suas palavras escritas logo me abeiro, e logo vou como se entrasse num lugar desconhecido, esperando ser surpreendida: talvez uma gruta com figuras suspensas, jogos de luzes místicas, água correndo em silêncio, caminhos levando ao centro do mundo ou procurando a luz, reflexos de origem obscura.


Este livrinho parece um missal. Pequeno, escuro, uns tons de azul que encerram o mistério das palavras de Rui Chafes, compacto como retratando a personalidade e a obra do escultor onde nada parece supérfluo, onde parece haver uma coerência intrínseca. Sou muito sensível ao grafismo, ao toque dos livros. Falo de ‘Sob a Pele’, Rui Chafes, conversas com Sara Antónia Matos, uma edição Documenta, Cadernos do Atelier-Museu Júlio Pomar.


O primeiro prazer começa logo na dimensão, o sabê-lo transportável dentro da carteira. Anda comigo. Assim que posso, abro-o, leio umas palavras ao acaso -- como agora.

O artista é um predador?
     
      Pode dizer-se que o artista tem um olhar de rapina. Dou, muitas vezes, por mim a olhar obcecadamente para um pormenor de uma pessoa, de uma planta, de uma parede, de um edifício, do que for. Fico parado a estudar a forma como a sombra de uma coluna se projecta no chão, fico preso nas qualidades de um determinado material, pode até ser o puxador de uma porta, por exemplo. A atenção pode deslocar-se, simplesmente, para um gesto da pessoa, uma ruga, um traço de expressão, um dente, uma mão, para a forma como o cabelo de uma rapariga cai sobre o pescoço, etc. Deixo de ouvir, momentaneamente, o que a pessoa está a dizer, o olhar torna-se mais importante. 
     Sempre defendi a ideia do artista-ladrão (talvez predador, como dizes). O que um bom artista faz é roubar imagens ao mundo e esconder as provas. É o roubo perfeito, no caso dos melhores artistas .... [sorriso]

Ainda dentro da temática do corpo, o que separa desejo e pornografia?

    Distância. Tenho de falar de distâncias, é isso que está em causa.
     O erótico envolve poesia e esta nasce, ou advém, da distância (...). A poesia é sempre um passo no sentido da impossibilidade e, portanto, se não houver esse espaço de inacessibilidade, que separa o sujeito do objecto pretendido, não há poesia nem erotismo. Há um colapso entre sujeito e objecto, que resulta da anulação da distância, e que corresponde ao 'já', ao 'aqui e agora', e à consumação imediata do acto ou do pensamento pornográfico.


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Viagem aos confins de um sítio onde nunca estive 

Filme de João Mário Grilo sobre a exposição 'O Peso do Paraíso' de Rui Chafes
CAM -- Centro de Arte Moderna, Lisboa 2014

 

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Lá em cima Renée Fleming, com a Prague Symphony Orchestra, interpreta 'Morgen' de Richard Strauss
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E permitam que me repita: para temas tristemente actuais queiram, por favor, descer até ao post seguinte onde afloro o que penso sobre a forma como acho que deveríamos olhar para isto do terrorismo na Europa (e só falo da Europa porque, se disto porque entendo, imagine-se a minha ignorância relativamente a outras geografias)

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quarta-feira, dezembro 16, 2015

A entrevista de José Sócrates na TVI: o amigo, os dinheiros, a vida faustosa em Paris, as suspeitas. A Justiça. O Estado de Direito.


Se no post abaixo, ao ver uma tal Sofia Vala Rocha e a Raquel Varela, me mostrei intrigada com o nonsense a que se chegou, nas televisões, com a inexplicável selecção de comentadeiros (neste caso com cada uma mais destemperada e descompensada do que a outra), agora aqui vou falar da entrevista que Sócrates concedeu à TVI.

Aliás, acho que não posso dizer que vou falar porque, para isso, teria que pensar melhor, teria que me organizar antes de me pôr para aqui a escrever. Mas, como não tenho tempo para elucubrações, vai mesmo assim, ao correr da pena.

Mas, com vossa licença, vamos com música, que sempre vamos melhor.




Quem por aqui me costuma ler sabe bem que, salvo situações pontuais, de forma geral sempre apoiei Sócrates enquanto Primeiro-Ministro, em especial no seu primeiro governo - já que o segundo foi atípico, estava em minoria, isolado na Assembleia, permanentemente acossado pelo Presidente da República, e cercado por uma violenta crise financeira internacional, com os fundos especuladores, verdadeiros abutres, à perna e com o BCE ainda imobilizado, com as rotativas paralisadas.

Contudo, o facto de eu achar que ele foi um bom Primeiro-Ministro não tolda a minha consciência. Se eu sou crítica em relação ao meu marido e aos meus filhos, pessoas de quem sou tão próxima e a quem estou tão emocionalmente ligada, obviamente que, por maioria de razão, acho que mantenho o distanciamento que me permite olhar para Sócrates com a necessária objectividade.

Portanto, disto isto, volto ao que já aqui disse mil vezes: não faço ideia se ele é culpado de alguma coisa. Aliás, ainda nem acusado foi. Está sob suspeita e, à pala das suspeições, está a ser investigado faz tempo, já esteve um ano enclausurado, e agora nem sei já como está, creio que ainda com termo de identidade e residência. As suspeições têm variado e, ao que se vai sabendo e pelo que ele confirmou, são bizarras. E, no entanto, tanta escuta, tanta busca a tanta casa, tanta gente detida e interrogada ainda não deu em nada.
Chocam, chocam, chocam, mas nascer algum pinto, está quieto.
Na segunda-feira, na TVI 24, gente credível e com conhecimentos na área, juristas prestigiados, confirmaram, uma vez mais, que, à luz do que se conhece, não havia matéria nem fundamentação para a prisão preventiva, os prazos foram ultrapassados, os preceitos desrespeitados e que aquilo a que se está a assistir é a uma inqualificável transformação da Justiça numa assustadora justiça-justiceira.

Este terça-feira, Sócrates falou dos dinheiros, da vida em Paris, do dinheiro que a mãe lhe deu, do dinheiro que o amigo lhe emprestou. Não me espanta que ele gastasse muito dinheiro já que vivia num país estrangeiro com os filhos, todos eles a estudarem, a viverem bem, ele a andar para a frente e para trás de avião, etc. Agora uma coisa é certa: não tenho nada a ver com isso nem me passa pela cabeça fazer juízos morais sobre factos pessoais da vida de pessoas que não conheço. E achar que uma pessoa gasta mais ou menos dinheiro não dá a ninguém o direito de a acusar na praça pública de corrupta, muito menos de o prender, de dar cabo da sua vida.

Vou extrapolar. Já não é a primeira vez que alguém deixa aqui comentários, em tom de censura, sobre o meu nível de vida. É um facto que nunca escondi: face aos padrões médios nacionais, vivo bem. Eu e o meu marido exercemos cargos de gestão, temos ordenados razoáveis. Vivemos do nosso trabalho e descontamos mais de metade do que ganhamos. Ou seja, mais de metade do ano trabalhamos para outros, para quem precisa, para os que não têm a sorte que nós temos. Acresce que os meus pais também não vivem mal. Ajudaram a comprar as minhas casas. Acredito que, quem viva com dificuldades, possa olhar para quem viva melhor com algum desconforto, quase sentindo vontade de acusar quem vive melhor como se daí adviesse a causa da sua própria pouca sorte. É um erro. Não haver uma classe média forte, paralisa a economia interna de um país. Mas esse agora não é o ponto, o ponto é que o que tenho foi obtido por via legítima e, de facto, não é nada de especial. Viver faustosamente, e eu conheço quem o faça, é ter propriedades com milhares de hectares, com cavalos, com caça, é poder ter lá grupos de amigos a passar férias e fins de semana e lá organizar caçadas, é ter grandes veleiros e poder contratar tripulações para grandes viagens, é passar temporadas na neve em requintadas estâncias, é perseguir o tempo quente à volta do mundo na companhia de um grupo de amigos, é ter uma casa em Paris, um apartamento em Nova Iorque e uma fazenda no Brasil, etc, etc, etc. Ou seja, viver faustosamente não é viver desafogadamente: é muito, mas muito mais, que isso. No entanto, viver faustosamente também não é crime se os bens tiverem sido obtidos por vias legítimas e se se pagarem os impostos devidos. 

Portanto, por muito que custe a quem viva com grandes dificuldades ou que viva com um orçamento apertado ou a quem não tenha visto de perto o que é ser mesmo muito rico, a verdade é que não faz sentido lançar um manto de suspeição geral sobre alguém, apenas porque se acha que essa pessoa vive melhor do que o comum dos mortais ou porque se embirra com ela ou porque se acredita no diz-que-diz-que do Correio da Manhã. Não faz sentido. 

Um colega meu, há algum tempo, estando a falar-se de um ex-ministro, dizia que o fulano estava cada vez mais abichanado e, a seguir, disse que um outro também. Reagi: Disparate! Esse pode ser um estupor mas bicha não é! Ele deu uma gargalhada e disse: Pois não! Mas pode espalhar...

E assim, por vezes na brincadeira, outras por despeito ou por rivalidade se pode lançar um boato, uma injúria, uma difamação. 

No outro dia, por acaso, fiz uma viagem, que durou quase três horas, na companhia de dois jornalistas meus conhecidos, um ainda no activo, o outro não. As coisas que eles contaram... Se eu não tivesse escrúpulos, teria matéria para aqui ir deixando cair informações ao longo de meses. Claro que não o farei. Mas uma coisa vos posso dizer: que não haja dúvidas quanto a serem plantadas 'falsas pistas', 'falsas informações'. Sabe-se de quem, quando a coisa aperta para o seu lado, seja exímio em lançar perfídias sobre outros, apenas para lançar confusão, distrair as atenções.

Quantas pessoas foram vítimas disso? Pessoas que viram as suas vidas arrasadas apenas porque, a dada altura, alguém se lembrou de lançar os seus nomes para a praça pública, para que as atenções se concentrassem aí e não onde não lhes convinha.

Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso são dois casos exemplares. Eu própria, aqui, uma vez, cometi um dos actos de que mais me arrependo na minha vida ao admitir que poderia haver alguma verdade nas insinuações em relação a um dos nomes. Mil vezes me arrependo da minha estupidez, mil vezes, mil vezes. Ainda nesse dia um dos jornalistas me falou nisso, em como esses dois homens foram tão ignobilmente difamados, tão, tão injustamente. E, acrescentou que eles, jornalistas, foram, nesse processo, ultrajantemente manipulados, e que, para venderem jornais, deixaram passar insinuações que sabiam terem sido forjadas, 'plantadas nas redacções'. 

Sócrates, com o caso Freeport, foi vítima de notícias forjadas. Conhece-se onde nasceu a infâmia, conhece-se a perseguição que lhe foi movida.

Não sei se agora, no caso Marquês, estamos perante a mesma indecência e malvadez. Se estivermos, é de admirar a resistência anímica deste homem, a sua energia inquebrantável. Ele luta, luta, luta, e sempre de pé, sempre com uma surpreendente inteireza. Mas, estejamos ou não, temos que nos levantar para dizermos que não é admissível a devassa na praça pública, a difamação persistente, a privação da liberdade - e, ainda por cima, sem que haja culpa declarada, sem que haja, sequer acusação.

Não é admissível uma situação destas num Estado de Direito. Qualquer cidadão, seja ele qual for, tem que estar defendido da arbitrariedade, da prepotência, do abuso de poder. A Justiça deve funcionar no respeito pela liberdade e pelos direitos dos cidadãos. A Justiça não pode ser um poder sinistro, difuso, que espalhe a ignomínia sobre quem quer que seja, deixando-o impotente, indefeso, à mercê de prazos que se violam, de fugas de informação, de injuriosas capas de jornais, sem poder trabalhar, tendo que pagar a advogados, arriscando-se a perder família e amigos, vendo a sua honorabilidade posta em casa.

Se alguém cometer um crime, que seja acusado, julgado, que pague por isso. Mas que o seja em tempo útil e no respeito pelos seus direitos. 
Contudo, que nunca se maltrate na praça pública, como nos pelourinhos de antanho, ou condene injustamente um inocente, privando-o do seu direito a viver a sua vida em total liberdade e de cabeça erguida.

E sobre a entrevista e sobre todo este processo o que tenho a dizer é isto: que lamento a devassa pública da vida de um homem, que lamento que alguém se veja sujeito a um processo conduzido desta forma.

José Alberto Carvalho deixou Sócrates falar e fez bem, outra coisa não faria sentido. Uma entrevista é isto, não é o atropelo sistemático do entrevistado.


Mas, no fim, o que a mim me fica, sobretudo, é a sensação angustiante que, se isto acontece a alguém que já exerceu o cargo de primeiro-ministro, imagine-se o que por aí não haverá de situações vergonhosas, infames, imagine-se o risco que todos nós corremos. 

É o funcionamento da Justiça em Portugal que tem que ser seriamente repensado. A Democracia e Liberdade não se conjugam com uma Justiça que funcione como a Justiça em Portugal está a funcionar.


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As fotografias são de Gabriel Isak que sabe captar a melancolia como poucos.

Lá em cima Yo Yo Ma interpreta Don Quixote de Richard Strauss 

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E, à semelhança do que fez a TVI 24 depois da entrevista com Sócrates, queiram, por favor, descer agora até à secção das desvairadas comentadeiras avençadas. É já a seguir.

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sexta-feira, dezembro 04, 2015

O que oferecer a uma pessoa que gosta de livros e a quem não queremos dar um livro (pode a pessoa já o ter ou não gostar dele ou quelque chose)? Difícil...?! Nada difícil: montes de possibilidades. Ora confira aqui, se faz favor.


Portanto, agora que já cumpri a minha boa acção diária -- falando dessas duas figurinhas deprimentes, os bff PPC e PP, ou seja, mais concretamente, o láparo a rir à porco e o ex-vice armado em puto das internetes -- posso dedicar-me a falar de coisas de que gosto. 

Quem, só com esta introdução já ficar mortinho de curiosidade, pode já saltar daqui para lá. 

Aqui, agora, a conversinha é das boas como são boas todas as conversas que metem livros. E, como tenho sentido prático, deixo também os links para os sites onde os artigos que vou mostrar podem ser adquiridos. Contudo, alguns talvez consigam ser improvisados ou adaptados em casa por gente habilidosa.

NB: Claro está que não ganho comissão nenhuma. Isto de eu aqui ter os links é mesmo só altruísmo. Afinal, é Natal, ora bolas.

Livro lâmpada
[COMPRAR]


[Mas, antes, uma notícia: apareceu A Selva. Por isso é que eu, quando me desaparece qualquer coisa cá em casa, já não me inquieto: sei que quem é vivo sem aparece.]

A Selva  de Ferreira de Castro com ilustrações de Júlio Pomar

Tanto que procurei ontem o livro e não o descobri e, afinal, hoje fui ver de novo onde eu pensava que estava e... lá estava mesmo, o magano. Ontem devia estar ceguinha. Só pode.

(Na fotografia pode não parecer mas o livro é mesmo grande e a letra idem: quem for pitosga de todo conseguirá ler mesmo sem óculos)



E verifiquei que fiz uma coisa mesmo parva: apaguei a dedicatória do meu ex-namorado (é que o livro hoje teria ainda maior valor já que na altura ele era um ilustre anónimo e agora é a modos que uma sumidade). Adiante. E vamos com música, que vamos melhor.


Don Quixote de Richard Strauss numa interpretação de Yo Yo Ma
com a Philadelphia Orchestra conduzida por Christoph Eschenbach



Eu gosto imenso de oferecer livros: aos meus filhos, aos meus netos, à minha mãe, a amigos, a quem calhe. E gosto de escolher livros que acho que serão do agrado dos destinatários. Mas não gosto muito que me ofereçam a mim, a menos que sejam livros originais ou especiais (mas mesmo especiais; por exemplo, recebi, já por duas vezes, livros de poemas de um Leitor e adorei). A questão é que sei que tenho um gosto meio peculiar e acho que as pessoas, em geral, podem não acertar com ele e não gosto de mostrar má cara se receber um livro 'ao lado'. Imagine-se se alguém acha que eu vou gostar do último da Margarida Rebelo Pinto - como é que eu conseguiria disfarçar? Aliás, acho que nunca mais conseguira olhar para a cara dessa pessoa sem pensar que não era, de certeza, boa da cabeça. (tenho cara de quem gosta de livros da Rebelo Pinto?). Aliás, uma vez, uma pessoa, com ar entendido, perguntou-me se eu tinha lido O Alquimista. Respondi que não -- e a pessoa fez um ar francamente desolado, dizendo-me, com ar de quem nem sabe como falar face a tanta ignorância da minha parte, que não apenas era um best selller como era a minha cara. Que cara terei eu feito ao ouvir isso? Nem imagino. Mas, em geral, não costumam oferecer-me livros pois, como sabem que tenho muitos, receiam que eu já tenha. 

Pensando nas pessoas que têm esse problema, não saberem o que oferecer a uma pessoa que adora livros e que já tem muitos, aqui vos deixo uma pequena selecção de presentinhos de Natal. 

1. Marcadores que permitem que se marque o exacto sítio onde se interrompeu a leitura



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2. Canecas com dizeres alusivos ao gosto por livros



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3. Cadeirão-estante



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4. Estante-balança



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5. Estante suspensa



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6. Encosto para livros



COMPRAR 

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E, pronto, de sugestões fico-me hoje por aqui mas, quem queira ver mais, há muitas no sítio onde vi estas.

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E, já agora, deixo-vos com o vídeo: A mild case of bibliomania

(E eu fico a pensar que, se este é um caso de mania levezinha, então eu sou normalinha: nem vícios nem manias por livros, nada, normalinha, normalinha)



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E de livros, por hoje é isto. Caso vos apeteça sofrer um pouco, queiram, então, descer até aos Best Friends Forever, a dupla Láparo & Ex-Vice, um despropósito em forma de deputados.

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