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domingo, janeiro 27, 2019

Crónica de um dia in heaven com homens a passarem-me à porta do quarto, com um insólito bicho encarnado, um ovo branco e misterioso e etc.
E o meu tapete e um livro com poemas manuscritos.
[Mostro os de Daniel Jonas e Nuno Júdice]





E se eu estava a precisar de dormir até vir a mulher da fava rica. Mas não. Cedíssimo, sozinha na cama -- que o meu marido (felizmente) madruga -- comecei a ouvir uns ruídos não identificados. Tentei apurar o ouvido mas não consegui reconhecer que sons eram aqueles. Depois comecei a ouvir a voz do meu marido. Falava. Mas só ouvia a voz dele. Ouvi: não encontro a chave. E ouvia mexer em chaves. Passado um bocado, ouvi um batalhão de homens no corredor, a passar-me à porta do quarto. Nada de novo a não ser que não esperava que viessem tão cedo. O meu marido tinha-me dito que eu podia dormir porque eles iam lá para cima, não me incomodariam.


Eles eram os homens que vinham arranjar o tecto da parte antiga da casa, uma parte onde estavam os quartos dos meus filhos e uma pequena saleta, parte esta que hoje é pouca usada. Quando choveu mais, notámos que a escada de pedra estava molhada, vinha água desde lá de cima. O tecto, que é de madeira, precisava de ser levantado numas partes.

Acontece que a porta da rua que daria acesso quase directo a essa parte da casa é uma porta que há anos não é usada. 


O senhor que volta e meia vem cá fazer arranjos e que vinha com mais dois, tinha-se lembrado que dava jeito entrarem por essa porta e não pela habitual para não terem que atravessar a casa com escadote, madeiras, ferramentas e, então, tinha vindo mais cedo para limpar as teias de aranha que se tinham formado do lado de fora e era esse o ruído, de uma vassoura a raspar na porta e no telheiro, que me tinha acordado. E o meu marido andava a experimentar chaves do lado de dentro e ele do lado de fora. Por isso só ouvia a voz do meu marido (que, às tantas, dizia que, era uma chatice, mas que a chave se deveria ter perdido).

Só que, às tantas, já depois de ter deixado de ouvir a voz do meu marido, ouvi a voz do tal senhor a dizer para um dos que o tinha vindo ajudar: olha lá, se for preciso, sabes rebentar o canhão de uma fechadura?


Aí, dei um salto da cama, enfiei a roupa às três pancadas, fui à gaveta onde tenho o molho completo de chaves da casa e fui experimentar. Uma era a daquela porta. A seguir cruzei-me com o senhor e acho que nem o cumprimentei: Já abri a porta. Viu o meu marido? E ele: se calhar já foi lá para baixo. 

Fui à rua: estava com aquelas proteções nas pernas, a roçadora ao ombro, e ia lá para baixo. Já devia ter andado nos seus passeios ultra matinais pelos campos, veio a casa para abrir a porta aos homens e agora ia roçar o mato nascente. Ficou admirado por me ver: o que é que aconteceu? E eu: Achas que se consegue dormir com aquela barulheira? E se não me tenho levantado à pressa ainda destruiam a porta. Já encontrei a chave, já lhes abri a porta.

Não ligou. Está um camponês. Ia para a sua lida. Disse-me que também já tinha andado a cortar ramos altos com aquele serrote telescópico que o filho lhe ofereceu. Deve ter-se levantado às seis da manhã.



Entretanto, já os homens estavam a entrar e sair pela porta que não era aberta há anos, e muito barulhentos, uma algazarra pegada.

Portanto, acordei cedo e sobressaltada. A seguir, depois do meu marido ter cortado tojo e silvas, e de eu ter dado um breve passeio, fomos ao supermercado.

Ir ao supermercado à vila mais próxima é, para mim, um exercício de paciência. Tudo muito lento. Por exemplo, quase não há carne embalada. Tem que ser no talho mas há sempre umas vinte senhas à frente. E o pior é que cada pessoa leva carradas de carne, tudo cortado na hora. No peixe é a mesma coisa. Com a agravante de as empregadas serem vagarosas, cumprimentarem toda a gente, estarem a arranjar o peixe na calminha enquanto olham para as clientes, e conversam umas com as outras e com as clientes, tudo no maior vagar. Um desespero.


Regressámos. Fiz uma máquina de roupa, fiz arrumações. Por volta da uma, eles acabaram o trabalho. Mas o senhor, o principal, disse que voltava depois de almoço para acabar lá uma coisa.

Entretanto, também já tinha feito o almoço: pescada fresca cozida com batata, cenoura, feijão verde, ovo.

O meu marido tinha trazido um queijo de ovelha e, quando o abriu, achou que cheirava mal. Cheirei. Cheirava a curral. Talvez demais. O meu marido disse que era impossível comer um queijo que cheirava a m... Se tivesse sido mais barato, ia para o lixo e está a andar. Mas tinha sido caro e, sobretudo, era uma questão de princípio. Por isso, contrariado e irritado, foi ao supermercado.

Eu estava KO: deu-me um sono brutal. Pensei: vou deitar-me lá fora, na espreguiçadeira, e dormir um bocadinho. 


Como o senhor tinha dito que voltava, fiquei em casa, foi só ele. Pensei: o portão está aberto, o senhor sabe o caminho e talvez nem venha já, vou deitar-me ao sol, vou dormir.

Tinha eu acabado de arranjar a espreguiçadeira, toca a campainha. Era o senhor. Resolveu não entrar sem se fazer avisar. Começou a conversar. E a conversar. E a conversar. A contar-me dos filhos, dos netos, dos primos, dos cunhados, de um comendador que era dono de uma fábrica noutra aldeia e que tinha filhos de duas camadas, da primeira e da segunda mulher, e do que tinha uma oficina e da professora que tinha um portão eléctrico e que o tinha chamado. E.... e... e... . Eu mal me tinha de pé, perdida de sono, exausta -- e ele, uma simpatia, a falar em contínuo. Por fim lá pegou na escada e lá foi completar o que cá o tinha trazido.


Sentei-me na espreguiçadeira a ler. Achei que, com ele por ali, não devia deitar-me. Passado um bocado chamou por mim. Estava em cima do telhado. Tinha reparado que o solho no que antes era o quarto do meu filho, na direcção da escrivaninha, estava mais escuro, prova de humidade. Então tinha ido ver o telhado. Disse-me que havia ali uma zona que precisava de ser impermeabilizada. Eu pensava que ele se deveria estar a referir ao chão de madeira, ao soalho. Nunca tinha ouvido chamar solho ao soalho mas agora já vi no dicionário que, de facto, se pode dizer. Aprendo imenso com ele, imenso mesmo.

A questão é que espertei. Quando estou perdida de sono e não consigo dormir, depois já não consigo.

Quando o meu marido regressou, estava ele a sair. Fui para dentro, recostei-me no sofá, comecei a ler e pensei que ia adormecer. Mas não adormeci.


Li. O livro, interessante. A ver se amanhã falo dele.

Depois fui caminhar, fotografar. A lua branca, já por metade. Translúcida, num céu límpido. A vaporosa florzinha do eucalipto. A casca de ovo muito branca, partida ainda de fresco, com outro bocado de ovo lá ao pé. Não sei a que pássaro poderá pertencer. Tão grande. Não é um ovinho de passarinho. Menor que o ovo de uma galinha mas maior do que os ovos de passarinho que costumo ver nos ninhos. E tão branco. E o gato amarelinho que me olhava de longe, um gato silencioso que me observa enquanto ando e que me deixa sempre surpreendida pois não sei de onde vem nem para onde vai (aquela velha questão mas agora aplicada ao gatinho cor de mel). E a flor encarnada, linda. E o bicho espantoso, também encarnado mas com efeitos em preto e branco, espectacular, um daqueles seres vivos que se vêem e em que não se acredita. E um outro pinheirinho despontando numa outra rocha. E tudo tão bonito e sereno.

E fiz o tapete (desforrei-me a fazer enquanto o meu marido via o seu Sporting a ser campeão de uma Liga de que eu nunca tinha ouvido falar, a Liga de Inverno. Ainda lhe perguntei que liga era aquela mas limitou-se a responder: esquece, não ias perceber e eu não insisti porque sei que não ia mesmo perceber), e li e vi televisão. Ainda não adormeci mas já estive várias vezes quase. Espero dormir bem esta noite.  Estou mesmo, mesmo, mesmo, a precisar de dormir muito porque sei que a semana que aí vem vai ser de me deixar a rebentar pelas costuras e, se não recarrego baterias, nem sei como vai ser.


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Mas queria era falar de um livro novo. Não do que estive hoje a ler mas de um outro, um muito bonito, com poemas manuscritos. Eu que gosto tanto de estudar a escrita caligráfica das pessoas fiquei logo rendida ao livro.

Não faço aqui a análise porque seria deselegante fazê-lo mas mostro-vos a do Daniel Jonas (uma letra que me agrada muito e que me deixa contente pois gosto muito da poesia dele) e a do Nuno Júdice (uma letra que espelha bem a pessoa que penso que ele deve ser)

Fotografei os livros que comprei a semana passada (uma pequena recaída) em cima do tapete que estou a fazer na cidade. Se comparem com a fotografia de há dois meses até parece que não andei muito mas, como já referi, como a barra é quase da cor da juta, na altura não reparei que boa parte do preenchimento da barra estava por fazer. Agora já está todinha e já vou para aí num quarto do preenchimento do fundo (a azul escuro).






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Lamento, uma vez mais, não ser capaz de responder aos comentários.

Desejo-vos a todos um feliz dia de domingo.

quinta-feira, junho 28, 2018

O que diz uma assinatura?


Uma assinatura provocadora, irreverente, diferente, ascendente, solar, bem disposta.
Pablo Picasso, uma pessoa ímpar.


Quando estudei grafologia no Centro Nacional de Cultura com o Mestre Alberto Vaz da Silva aprendi a 'ler' o que dizem as assinaturas. Mas não são apenas as assinaturas em si que falam dos seus autores mas, sim, como se comparam com o texto, onde se localizam na página, etc. Contudo, mesmo não tendo aprendido a teoria e a prática da coisa, se prestarmos atenção, qualquer pessoa pode verificar que grande parte das assinaturas fala por si.

Uma assinatura que é uma coisa em forma de assim, a bold, agressiva, esquinada, toda ela a impôr um forte 'quero, posso e mando', um impostor

De vez em quando, alguém que muito bem conhece este meu interesse, sem me dizer de quem é, mostra-me uma assinatura e pergunta: 'O que tem a dizer-me desta pessoa?'  E eu disparo: um infantilóide ou alguém que não é de fiar ou um farsante de primeira ou uma pessoa séria ou uma pessoa solar. Geralmente ele confirma: também me parece.

Uma assinatura que, a bem dizer, não é nada: um faz de conta, uma tentativa de qualquer coisa mas hesitante, meio espalhafatosa, meio parva

Mas, diga-se, geralmente, só me sinto à vontade para responder assim às cegas, descontextualizando a assinatura do resto, quando não sei de quem é pois, se souber, receando deixar-me influenciar pelo que já conheço da pessoa, prefiro abster-me.

Uma assinatura sem disfarces, simples, aberta, humilde mas não subserviente. Gandhi.

O que vos mostro aqui são as assinaturas de algumas pessoas que todos conhecemos. Cada um que ajuíze por si mas arrisco-me a dizer o que, sem rede, me ocorre. Mas, note-se, não é uma análise como deve ser, são meros palpites. 


No artigo de onde as retirei dizia que a mais estranha (que confundia quem a via) era a Angelina Jolie. Confirmo que é estranha. Dir-se-ia que uma pessoa emocionalmente escorreita e segura do seu valor não faria uma assinatura tão desacertada.


Uma que sempre me surpreendeu foi a de Marilyn Monroe. Pela imagem que mais se lhe colou à pele, eu seria levada a esperar uma assinatura com letras quase infantis, desenhadas para querer parecer 'adulta' ou com alguma hesitação ou pontinhos ou qualquer coisa que denotasse alguma insegurança interior, disfarçando através de uma manobra de diversão. Mas, pelo contrário, é toda ela um statement, afirmativa, forte, revelando um forte querer e uma assunção de si própria. E... no entanto... como sabemos, qualquer coisa nela se perdeu, se quebrou.


Ainda no outro dia falei de Johnny Depp. A assinatura mostra bem a disparidade que existe entre as suas personas. Muita coisa e nenhuma. Alguma leviandade. E no sentido descendente.


Uma assinatura que revela um esteta, um elegante depurado, um criativo com gosto de se lançar em altos voos. David Bowie, um ser notoriamente alado.


A assinatura de uma pessoa que se quer afirmar por si, apenas por si, por si em ponto grande -- mas com um nó a prender-lhe a vontade. Amy Winehouse.


A sinistra assinatura de Der Füher. Uma lâmina sempre a meio, um sentido mais do que descendente, quase a enterrar, uma maldade pequenina aplicada com muita força. Hitler, o bandido-mor.

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Bem. Não vou continuar senão isto fica um lençol imperdoável. Mas isto da grafologia é um tema que me entusiasma. Curiosamente, como creio que já aqui o confessei, não consigo analisar nem a minha assinatura nem a minha escrita. Nada. Não consigo. Nem quero.

domingo, setembro 17, 2017

Plúvio desvendou a assinatura de Fernando Medina e eu, inexperiente grafóloga amadora, vou fazer de conta que não vi tão apetitoso pitéu


Aprendi com o meu saudoso Mestre que não se fazem análises grafológicas à pressa, descontextualizadas, olhando só para um aspecto e não observando os elementos no seu contexto. A assinatura deve ser vista em confronto com a escrita em geral, em papel sem linhas, percebendo a localização, a inclinação, o tamanho face ao tamanho da letra no texto que se assina e, de preferência, não analisando uma única ocorrência.

Portanto, apesar de ser pitéu, pitéu -- e, confesso, apesar de me ter surpreendido -- não vou ceder à tentação. Facilitismos, reacções imediatas, descontextualizações podem ser rasteiras numa análise ponderada. 

Portanto, vou fazer de contas que não vi a assinatura de Fernando Medina que Plúvio -- castigador inveterado que não perde oportunidade de soltar o chicote sobre o lombo de quem se põe a jeito -- nos mostrou, comprovando que o seu arquivo deve concorrer em variedade e dimensão com o do Tombo.

Agora uma coisa é certa: ele há coisas.

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quinta-feira, agosto 10, 2017

Deixar-vos-ei palavras





Tenho estado a reler a entrevista que a Anabela Lopes Ribeiro fez, já lá vão uns cinco anos, ao meu querido mestre Alberto Vaz da Silva, pessoa encantadora.


Transcrevo um pouco:


Como é que um rapaz com o seu percurso intelectual, cultural e pessoal não tinha dúvidas?
É muito o meu temperamento e o meu carácter. Há uma grande predominância de fogo na minha textura psicológica.
Olhando para si achei que podia ser água. Porque tem uma leveza, como água que corre. Porquê fogo?
Porque sou um apaixonado, por temperamento. O apaixonado atira-se facilmente para as coisas com confiança, com certezas. Penso que sou uma pessoa modesta, não gosto de dar nas vistas. No entanto, na minha sombra, sempre fui muito seguro do que fiz. Sabia o que gostava, o que não gostava. Se fazia o que não gostava sabia porquê. Se fazia o que gostava ia até ao sétimo céu. Essa pergunta traz-me uma reflexão: tive muita sorte na vida. Muita coisa me foi dada, como a Helena. As coisas caíram-me em cima da cabeça, ou através de pessoas. No meu último livro, sobre a Sophia de Mello Breyner, pus em epígrafe Saint Martin, filósofo do século XVIII, que esteve na base da alquimia e de grandes conhecimentos esotéricos: “Houve certos seres através dos quais Deus me amou”. Aconteceu-me a vida inteira.
(...)
Por coincidência, antes de começarmos a gravar, perguntei-lhe o que é que significa a letra “f”, e disse-me que é a letra mais reveladora, mais importante.
É a mais sintetizadora. É sempre a primeira coisa de que se vai à procura, o “f” minúsculo. O “f” escolar tem um traço inicial, depois vai para cima (o espírito, a imaginação). Depois passa por uma linha (o real, a vida de todos os dias, a actividade). Vai para baixo (os instintos). Volta para cima (mostra como é que a pessoa dominou ou domina os instintos e volta aos outros). Outra vez a linha, agora para a direita. Percorre os quatro espaços da escrita, os quatro pontos cardeais. E também o passado, o presente e o futuro.
Há pessoas que escrevem “f” a mais. O inconsciente tem esta coisa espantosa de empregar despropositadamente uma determinada letra. Quando há “f” a mais é mau sinal: significa que a pessoa ainda não se encontrou. Quer desesperadamente encontrar-se, mas está a lutar contra moinhos de vento. Quando não há “f” é uma tragédia: a pessoa desistiu de si.

Sobre o f, que ele diz ser a letra mais reveladora, já aqui o contei mas repito-me. No fim da aula em que ele se referiu ao f, mostrei-lhe o meu. A sala estava na penumbra, ele rodeado das suas devotas, não me viu antes de observar a folha com a letra e de ter dito. Só depois olhou para mim e sorriu, dizendo-me que eu poderia saber se era ou não. Tinha dito: 'O f de uma sedutora'. Sim, sou. Mas só às vezes. E sei disfarçar.

[Um apontamento pessoal, irrelevante. Não consigo analisar a minha letra. Não quero, não me interessa]

Mas, de fez em quando, na blogosfera há quem mostre a sua forma de escrever. Mesmo sem querer, esboço logo uma opinião. A forma de escrever não engana e eu, que não sou dada a esoterismos de qualquer espécie, não olho isto como uma coisa do domínio da devinação. Somos a forma como nos manifestamos, incluindo através da escrita à mão, é a nossa impressão digital. Não me lembro de alguma vez me terem dito que a minha análise foi ao lado. Só me intimido um bocado quando me ponho a adentrar pelas miudezas das pessoas. Precisava de mais folhas escritas para poder ter a certeza de que não estou enganada e, geralmente, só tenho uma página. Não pode ser levianemente que se escreve que a pessoa é insegura, que disfarça e se arma importante porque receia que percebam o medo que tem que descubram que é frágil e pouco sabedora. Ou que a pessoa receia tomar decisões com medo de desagradar. E dizer isso a alguém que tem um poder enorme, incluindo o de me prejudicar. Neste caso, bastante tempo depois, esta pessoa ainda dizia, como se estivesse a brincar: 'Viu-me a escrita, deu cabo de mim'. E eu: 'Nada... Tanta coisa boa que vi' mas sabendo que o que lá vi o torna um erro de casting no que está a fazer e que, lamentando-o, tive que lho dizer, não explicitamente assim mas a bom entendedor... Ou a outro dizer que é como se fosse bipolar e que é mentiroso e que tem dúvidas quanto à sua sexualidade. Isto a um que encena ser um conquistador. Não é levianemente que se dizem coisas assim. Ou a alguém que parece muito bem disposta que tem que ter cuidado para não se deixar cair em depressão. É quase a medo que me arrisco a dizer. É que posso estar a ver mal...


Outras pessoas são solares. Uma escrita fluida, solta, arejada, bem estruturada na forma, no balanço, no andamento. Olha-se e vê-se ali uma pessoa motivada, realizada, boa companhia. Olha-se e vê-se que olha a direito, que sabe sorrir, que sabe amar, que sabe viver. 

Ver a escrita e a assinatura de Trump é ver tudo. O disparate completo, as contradições, as tentativas de disfarce. Não engana. Compará-la com a de Obama é comparar a noite com o dia.

Já recebi, por mail, digitalizações de páginas manuscritas de leitores. Na medida do possível e apesar de a amostra ser curta, tenho ousado dizer o que vejo da pessoa que escreve. É como um blind date: arrisca-se tudo às cegas, sem conhecer a pessoa e sem ter como aferir se a leitura está a sair correcta.


E, note-se, sendo eu devota das letras, sou, na verdade, uma pessoa sobretudo dos números. A minha formação académica e a minha vida profissional sempre se moveram mais sobre a racionalidade, ou seja, mais sobre a objectividade da análise dos números do que em volta de subjectividades, emoções, sentimentos ou crenças.

Portanto, é colocando toda a minha racionalidade na análise da escrita que digo o que vejo, face ao que aprendi. E o que aprendi nisto da grafologia foi, sobretudo, a ver, a estar atenta aos sinais.


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Mas, enfim. Não era sobre isto que eu vinha aqui falar. Porque hoje tinha uma reunião com um senhor vereador e a reunião foi marcada para uma hora que tornava absurdo voltar ao trabalho, acabei por ficar com tempo livre e, como se estivesse de férias ou em dia feriado, feliz da vida, meti-me ao caminho e desabalei-me para o meu lugar de perdição. Dia de vendaval. Mas quando se gosta de um lugar, gosta-se no matter what. O rio picado, um friozinho intrusivo. Eu de verão, toda frescuras e o vento a percorrer-me a pele. Um sol magnífico, aquele sol dourado do fim da tarde. E eu, sentindo-me turista, a fotografar tudo -- paquetes, veleiros, cargueiros, namorados, gaivotas, gente solitária, o azul das águas e do céu -- por ali andei, matando saudades. Há tanto tempo que não conseguia estar no meu Ginjal.

Talvez seja uma questão de auto-disciplina e imposição mental: forçar-me a colocar em plano de igualdade a minha necessidade de caminhar à beira do rio, de fotografar, de ter tempo de qualidade para mim ao longo da semana e a minha responsabilidade profissional.


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E agora?

(...) 
the tree outside doesn't know:
I watch it moving with the wind
in the late afternoon sun. 
there's nothing to declare here,
just a waiting.
each faces it alone. 
Oh, I was once young,
Oh, I was once unbelievably
young!

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O post talvez tenha acabado por ter um tom nostálgico mas foi por acaso, mesmo sem querer. Se estivesse com mais tempo, escolhia um outro poema. Aliás, tinha escolhido outro mas era de uma tal sensualidade que me pareceu não ter muito a ver com o texto. Então, retirei-o e já sem grande cabeça para puxar por ela, ficou este que é desalentado mas que fica apenas por ser bonito. A verdade é que conjugado com a letra da música que escolhi lá para cima, envolve isto num véu de melancolia e despedida e não é assim que me sinto, caraças, muito longe disso. Não se deixem contagiar, ouviram? Se não fossem duas da manhã refazia isto tudo. Assim, olhem, não liguem.

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As fotografias foram feitas ao cair do dia no Ginjal
Lá em cima Patrick Watson interpreta Je te laisserai des mots
O poema So Now? de Charles Bukowski é lido por Tom O'Bedlam

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E queiram continuar a descer, caso desejem ver o Jim Carrey a sublimar o seu mal de coeur através da pintura.

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quarta-feira, janeiro 18, 2017

As assinaturas dos 'parceiros' que, em sede de Concertação Social, fecharam o acordo que o Passos Coelho quer estourar ao lado do PCP e do BE
[E o quanto eu teria a dizer sobre cada um a partir do que ali vejo]


Num ano feliz, durante uns meses felizes, creio que uma vez por semana (à terça-feira?), eu saía do trabalho um pouco mais cedo -- tinha que contar que houvesse trânsito e, sobretudo, queria garantir que tinha tempo para dar uma voltinha no Chiado -- e ia ter aulas de Grafologia.

Já falei nisso várias vezes. Era no Centro Nacional de Cultura, edifício muito bonito, e o professor era o amoroso e fascinante Alberto Vaz da Silva. Aquelas aulas eram uma viagem pelas suas memórias, pelas suas opiniões e ia ensinando a interpretar a forma de escrita. Não tem a ver com a letra ser ou não bonita mas com a forma como se escreve (a pressão que se põe na escrita, os espaçamentos, a inclinação, as margens). 


Como ele ainda usava slides e um projector à antiga, a sala estava à meia luz. Todo o ambiente era fantástico.

Saía de lá às oito e tal da noite, passava pela Brasileira, encontrava o movimento do Chiado e depois vinha a conduzir pela noite lisboeta, geralmente ouvindo a Antena 2 e pensando no que ele tinha contado.

Do muito que aprendi com ele, registei que não se deve fazer uma análise só a partir de uma pequena amostra nem sequer só a partir da assinatura desligada do contexto pois o próprio sítio onde se escreve a assinatura, a comparação do tamanho da letra da assinatura em contraponto com o da letra do restante texto, tudo isso é fundamental.

Seja como for, mesmo que a análise possível seja curta, não deixa de ser possível.

Olho para a página com assinaturas que o ministro Vieira da Silva publicou noticiando que o acordo estava assinado, e o que vejo aqui é muito elucidativo. Porque não quero fazer análises públicas baseando-me em tua escassa amostragem, vou guardar o que vejo só para mim. Mas, digo-vos, está ali tanta coisa. Tanta.


A assinatura de Carlos Silva da UGT, então, é extraordinária. Sendo em tudo oposta, a de António Costa é também digna de registo. A de António Saraiva, à primeira vista, surpreendeu-me. Depois pensei melhor e deixou de me surpreender.



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Há quem não acredite em nada disto da Grafologia. Pensam que é discipina ao nível do tarot ou de outros esoterismos. Mas enganam-se. A Grafologia é do mais racional que há. Pode não ser possível demonstrar cientificamente o rigor das suas conclusões mas, se percebermos a raiz lógica das análises feitas, percebe-se o seu sentido. 

Já fiz inúmeras análises grafológicas e o que vos posso dizer é que não tenho ideia de algum dos analisados nao se ter revisto no que eu vi.

Volta e meia vejo coisas que me deixam completamente de pé atrás. Até um colega meu, pessoa racional e inteligente a toda a prova, volta e meia chama-se e pergunta-me: 'Olhe para isto. O que é que acha?' e eu olho e digo 'imaturo, gabarola e inconsistente'. E ele fica a olhar e diz 'bem me queria parecer'. Coisas assim. Ou 'mentiroso, não é de confiança, não interessa'. E ele, 'Pois, não me admira. Vou ter em consideração'.

(A assinatura do Marcelo...? Está lá tudo.)


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Para quem não teve o privilégio de o conhecer

Alberto Vaz Silva: decifrador de pessoas



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[Não estranhem, por favor, que eu não responda a comentários ou a mails. Por razões que agora não vêm ao caso, chego aqui à sala e, porque não quero agarrar-me ao computador, tento pôr-me no sofá a ver televisão. Só que, instantes depois, estou a dormir. A dormir a sono solto. Depois, quando acordo, ainda estou tão pedrada que já não dou uma para a caixa. A todos quantos podem pensar que é falta de educação ou de interesse, peço desculpa. Mas não me é possível fazer mais do que isto.]


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terça-feira, maio 10, 2016

Escrever à mão, desnudar-se


Manuscrito de Agustina


Quando, um dia, um namorado meu quis oferecer-me um livro com os seus poemas e pensou fazer uma edição de autor, eu não quis, achei que isso seria quase como lavar as palavras, tirar-lhes o rasto das suas mãos que as tinham escrito. Pedi que mo oferecesse em folhas escritas à mão.

Ele acedeu e fez ainda melhor que isso. Em papel espesso e caneta de tinta permanente escreveu os poemas e depois encadernou-o, uma bela capa em carneira com as letras cravadas. É um livro muito bonito, uma edição muito especial. Depois disso publicou livros e recebeu prémios mas penso que nenhum será tão valioso como aquele livro tão bonito, tão especial, edição absolutamente única.

Sempre gostei de ver a letra das pessoas.

José Afonso

A minha mãe tem uma letra bonita, elegante, desenhada com precisão e leveza. Mas não admira já que é professora. O meu pai tinha uma letra firme, inclinada para a frente, escrita com pressão, muito regular e apressada. O meu marido agora tem a letra legível e até a acho bonita (dentro do género, claro) mas antes era absolutamente ilegível. A minha filha tem uma letra apressada, regular, equilibrada, espontânea. O meu filho tinha uma letra impossível, inexplicável, tão rápida que era incompreensível (agora não sei como é). Acrescia que, quando escrevia à pressa, dava erros ortográficos absurdos, indesculpáveis. Despachava uma folha em três penadas com uns gatafunhos desesperantes e, se os percebíamos, era de irmos ao tecto com o disparate dos erros. Se escrevia pausadamente não dava erros e a letra lá se conseguia perceber. Um mistério.

Quanto ao conteúdo, os meus filhos escrevem muito bem. Os que por aqui andam há mais tempo talvez se lembrem do que eles (e o meu marido) escreveram sobre mim quando o Um Jeito Manso atingiu o milhão de visitas. Independentemente de me terem deixado divertida e emocionada, orgulhei-me por escreverem bem (embora eu não seja a pessoa mais isenta para o dizer, claro).

Quanto à minha letra, não a sei definir. Apenas sei, porque o meu professor de grafologia o disse, que o meu F revela que sou uma sedutora (e, note-se, disse isso só vendo a letra, sem me ver a mim).  

A minha nora tem a letra quase igual à minha e, por isso, quando escreveu uma folha para eu analisar, não fui capaz, pareceu-me que seria quase a mesma coisa que analisar a minha escrita e isso não sou capaz.

Sophia

Já aqui o disse que fiz um curso de Grafologia, um curso a todos os títulos maravilhoso, com o Professor Alberto Vaz Silva. 

Depois disso, já analisei a escrita de muitas pessoas, umas que conheço e outras que não, nomeadamente Leitores que digitalizaram folhas manuscritas e mas enviaram. Acho que nunca me enganei, pelo menos redondamente.

Passo a vida a ver se descubro pedaços de escrita manual para poder avaliar a personalidade dos seus autores. É surpreendente como a escrita espelha tão bem a maneira de ser da pessoa. Ainda no outro dia vi a forma de escrever e de assinar de uma pessoa que eu devia respeitar e que, agora, não sei como vai tal ser possível.

Outras vezes, quando não percebo bem que tipo de pessoa é alguém, fico a aguardar, sorrateiramente, que algum pedaço de escrita me seja dado apreciar. Tiro logo as teimas.

Eduardo Lourenço

Para complementar os meus conhecimentos, encomendei alguns livros franceses sobre o assunto mas, para mim, como funciona melhor é seguir o guião que aprendi no curso e depois fazer uma apreensão global e discorrer segundo a minha intuição.

Mas fica-me sempre a curiosidade: que relação existe, e tão estreita, entre a maneira de ser e forma como se escreve à mão? A que se deve isso? Porque é que a forma como escrevemos nos desnuda de uma forma tão crua? Haverá como que uma ligação directa entre a nossa mente (seja lá o que isso for) e as nossas mãos que exprimem os nossos pensamentos. preocupações e vontades?

Ernest Hemingway

E é que se pode tentar disfarçar, controlar a letra, mas até isso se nota, que a escrita é forçada. 

Por vezes, ao ler alguns blogues, dou por mim a tentar imaginar a escrita caligráfica dos seus autores. Nuns imagino uma letra miudinha, nervosa, noutros uma letra atrapalhada, incerta, noutros uma letra arejada, solar.

De notar que não tem a ver com ter a letra feia ou bonita mas como a letra se difunde na página (e, por isso, tem que ser numa folha sem linhas ou quadrículas), a dimensão das margens, a orientação do texto na folha e da escrita na linha, o espaço entre palavras ou entre linhas, etc. Cada aspecto tem uma leitura, ou seja, uma interpretação.

Philip Roth

Enfim, um dos muitos assuntos que me intriga e que, portanto, me fascina.

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O que abaixo partilho convosco não tem a ver com isto mas com a caligrafia como arte: um vídeo encantador.

Calligrapher Carol DuBosch


For 50 years, Portland native Carol DuBosch has been perfecting the art of calligraphic script. We recently paid a visit to her home studio to observe the master at work. Watch the video to learn about her craft, her process and what she's working on now.


Para mim isto é um outro mundo. Um dos muitos mundos encantados que desconheço.

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Talvez ainda cá volte (mas não garanto).

segunda-feira, junho 29, 2015

Saudades para Alberto Vaz da Silva - diz José Tolentino de Mendonça e digo eu, também. Houve certos seres através dos quais Deus nos amou. Talvez seja isso. Talvez todo o mistério comece por aí.






Há uns quantos anos, resolvi fazer um curso de grafologia. Já aqui falei disso algumas vezes e, inclusivamente, já fiz análise grafológica a uns dois ou três leitores que me enviaram textos manuscritos. Quando agora alguém escreve à mão ao pé de mim até, sem querer, corro o risco de passar por mal educada, dou por mim só a deitar o olho para o que escreveram, não pelo que está escrito mas, sim, pela forma da escrita em si. Não sei porquê mas tenho constatado que, de facto, a forma como uma pessoa escreve revela a sua natureza e o seu estado de espírito.

Por todos os motivos, guardo do tempo em que fiz esse curso as melhores recordações. Nesses dias, às terças-feiras, salvo erro, saía do trabalho um bocado mais cedo, deixava o carro no parque do Chiado e depois ia para o Centro Nacional de Cultura. Tentava sempre chegar um pouco antes para poder dar uma volta por aquelas ruas que tanto amo, em especial ao fim da tarde. Depois havia o lugar onde decorriam as aulas, aquele edifício tão bonito, aquele soalho, aquelas luzes, todo aquele ambiente. Mas, sobretudo, o professor, o querido e especial Dr. Alberto Vaz da Silva. Aquelas aulas, dadas ao lusco fusco, eram momentos extraordinários. Culto, amoroso, de uma delicadeza extrema, todo ele memórias, referências, gestos de afecto - ouvi-lo e vê-lo era um privilégio. Eu assistia maravilhada, tudo aquilo era bem mais do que eu esperava.



Hoje, ao ler a crónica de José Tolentino de Mendonça falando dele, senti a emoção de ter tido a sorte de ter conhecido, ao longo de meses, aquela pessoa tão especial.

Transcrevo alguns excertos:

(...) não é estranho que [Alberto Vaz Silva), sendo licenciado em Direito, ele se tenha tornado um poliédrico e colossal humanista; que tendo exercido advocacia, por mais de trinta anos, ele se tenha sentido renascer no encontro com Rosaline Crepy, sua iniciadora no saber da grafologia, e a partir daí mudado de vida; que tenha viajado pelo hemisfério sul (e por um sem-número de hemisférios interiores) para ver grupos de constelações, como outros viajam pelo interior de bibliotecas ou de árduos e fascinantes problemas matemáticos. 

Ele vislumbrou uma nova relação com o real, feita não já de oposições e distâncias, como se a vida não fosse um mistério único, mas sublinhando corajosamente os traços de união, os hífens inesperados, as continuidades. E assim nos mostra que não há pequeno ou grande, não há cósmico nem quotidiano, não há interno ou exterior: por todo o lado e em todas as coisas está, pelo contrário, latente a mesma espantosa proposta que a vida em si mesma é.

(...) O contributo dele é aproximar na mesma visão, numa nova sintaxe, aquilo que se avista de galáxias diferentes. O que o apaixona é o que ainda não existe ou o que começa a emergir sem que a maioria se dê conta.


(...) Para homens como Alberto Vaz da Silva, a italiana Cristina Campo reserva um nome: imperdoáveis. Isto é, aqueles que possuem e definem um estilo, os habitados por uma força profunda, por um carácter próprio, por uma sabedoria irremovível, aqueles que desenham com as suas vidas um mapa de tal forma original que se torna necessário à viagem dos outros. 

Há uma frase de Saint-Martin, que Alberto Vaz da Silva recorda muitas vezes: "Houve certos seres através dos quais Deus nos amou". 

Talvez seja isso. Talvez todo o mistério comece por aí.




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As pinturas são de António Palolo

Horowitz interpreta Schubert - Impromptu in G flat major D899 No.3

A referida crónica de José Tolentino de Mendonça veio publicada na revista E do Expresso deste sábado, dia 27 de Junho de 2015.


Para quem queira conhecer melhor Alberto Vaz da Silva, aqui fica o link para a entrevista que concedeu a Anabela Mota Ribeiro em 2012, entrevista essa que é referida na crónica de José Tolentino de Mendonça.

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E, se quiserem saber das ameixas, orégãos e outras coisas in heaven, aceitem o meu convite e desçam, por favor, até ao post já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma fantástica semana a começar já por esta segunda-feira. 
Que a vossa vida vire para melhor. 

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sexta-feira, agosto 15, 2014

Como detectar um mentiroso? São os homens mais mentirosos que as mulheres? E são os casados mais mentirosos que os soltos na vida? - ora confira, por favor


Hoje não estou para muitas escrituras, estou cansada demais para isso. Já para não falar que acho que já fui picada, estou cheia de comichões. Bolas. Chegámos já de noite, tivemos que estar com a porta aberta e as luzes acesas e isso é fatal. Mosquitinhos ínfimos mas que mordem como gabirus esfomeados. Tenho para aqui uma coisa que se põe na tomada e que supostamente deveria emitir uns infra-sons que deveriam deixar os mosquitos zonzos mas, cá para mim, já não funciona como deve ser. Gaita. Odeio isto. Tenho que ir encher-me de Fenistil, tenhos os braços e as pernas com uma destas comichões...

Bem, adiante.

Vou falar de um assunto que desperta o meu interesse. 

Há tantos assuntos que despertam o meu interesse que não sei como dedicar tempo a todos. Não sei como é que há pessoas que não conseguem interessar-se por nada.






É isto: gosto de perceber as pessoas, de tentar reconhecer e prestar atenção a indícios de que qualquer coisa não está bem, gosto de ver em que é que posso ser útil. Identicamente gosto de perceber quando alguma coisa não bate certa. Geralmente é a minha intuição que entra em acção, muitas vezes muito antes do raciocínio começar a funcionar.

As pessoas acham que 'apanho do ar' ou que quase adivinho mas não é isso, é a minha intuição que, como não costuma ser contrariada, está sempre livre para agir. E age e eu presto-lhe atenção. Das coisas que mais me chateiam é quando faço afirmações baseada na minha intuição e não me levam a sério porque não tenho provas. Estupidez. Em vez de evitarem que elas apareçam...

Talvez para perceber os mecanismos da minha intuição ou para a exercitar ainda mais, gosto de aprender a decifrar alguns sinais. 

Já vos contei do meu curso de Grafologia no Centro Nacional de Cultura e como, até aqui, tem sempre batido certo. 


Uma vez analisei uma letra complicadíssima. Gosto de fazer as análises por escrito para sistematizar bem as ideias, para validar todos os aspectos (as margens, o espaçamento, a inclinação nas linhas, a inclinação da letra, a assinatura, etc). Por isso, nessa vez também escrevi aquilo que vi: que havia ali uma forte ambivalência e uma grande tendência para mentir, e outras coisas. Fiquei sem grande jeito para escrever isso  mas, com alguma diplomacia, não escamoteei  o que estava a ver. Depois disse que em vez de lhe enviar o papel, gostava de falar com ele pessoalmente para que não ficasse melindrado, para que pudéssemos conversar sobre o assunto. Sobretudo tenho sempre algum receio de estar enganada. Conversando, talvez algumas dúvidas se esclareçam. 
Mas, quando cheguei ao pé dele, devia ir com cara de caso pois ele fez um sorriso nervoso e disse que temia que as minhas conclusões não fosse as melhores. Dei-lhe a ler e disse que ele não ficasse aborrecido, que depois conversávamos. Assim aconteceu.
Depois, para meu espanto, ele disse-me que concordava com tudo. E foi de uma sinceridade desarmante e, daí para a frente, tornámo-nos grandes amigos. Ele sabia que eu o tinha visto por dentro e passei a ser a sua absoluta confidente. Eu muitas vezes ficava até quase chocada com a forma como se desnudava e me confessava as maiores safadezas, as pequenas golpadas, as mentiras. Parte dessa sinceridade excessiva era charme. Mas, uma parte, era fruto daquela nossa conversa inicial. Para ele, eu passei a ser um polígrafo. Para que haveria de tentar enganar-me? Sabia que não conseguia e que, aliás, já se me tinha confessado como se estivesse deitado no divã.

Muitas pessoas acham que a grafologia é o estudo da letra, se a letra é feia ou bonita. Mas não tem nada a ver. Por isso, para se poder fazer uma análise deve haver umas duas folhas escritas à mão, para que haja material suficiente. No entanto, há coisas que são muito óbvias. Delas extraem-se leituras incompletas, mas no que dá para ver, já é interessante. Por exemplo, a assinatura de Marcelo Rebelo de Sousa é uma daquelas que não deveria ser exibida daquela maneira. Há ali muita especificidade exposta.


Isto com o estudo da escrita à mão. Mas há outros aspectos para perceber uma pessoa através de manifestações exteriores. Há tempos li um livro de um agente do FBI especialista em linguagem corporal e, desde aí, reparo também nesses aspectos. A forma como as pessoas se inclinam quando falam uma com a outra, a forma como apertam a mão, como escondem as mãos, a forma como evitam o olhar, etc. - tudo muito elucidativo.

Hoje, como estou muito cansada (saí de casa por volta das oito e picos da manhã, e já carregada com coisas que queria trazer para aqui, nomeadamente uns quantos livros, a máquina fotográfica, os carregadores, etc, e só voltei a pisar solo doméstico, depois das 21h30m, sem jantar e a morrer de fome. Isto depois de uma ida ao supermercado ao fim da jornada de trabalho para comprar sacos e sacos de iogurtes, queijos, leites magros, leites meio gordos, leites de sojas, cérelac, bolachas marias, gelatinas, entrecosto, frango, salmão, dourada, ovos, tomate, abóbora, batatas, cebolas, batatas doce, fruta, gel de banho, etc, etc - e isto tudo em cima de uns saltos altíssimos, que burra que fui que não me lembrei de trazer uns sapatos de cunha ou mais baixos). Já sei ao de leve que o Tribunal Constitucional deixou passar o corte de ordenados aos funcionários públicos e imagino o balde de água fria que foi para eles, tão fustigados que têm sido, e que não deixou passar o aborto da CES. Menos mal. Mas sei isto porque vi aqui num site qualquer. Felizmente, aqui in heaven, não temos televisão por cabo, e por isso não há comentadores económicos, políticos burros, papagaios e avençados. 

Portanto, estive aqui entretida a ver telenovelas brasileiras e, depois, lembrei-me de ver Pamela Meyer.

Pamela Meyer is founder and CEO of Calibrate, a leading deception detection training company based in Washington DC. 

Before writing the bestselling book, Liespotting, she spent years with a team of researchers surveying all of the research findings on deception, and underwent extensive training in facial micro-expression identification, interrogation skills and statement analysis. 
Prior to that she was an Internet and media executive, as founder of Simpatico Networks, a leading social media company. 
She is a Certified Fraud Examiner, has an MBA from Harvard, a Masters in Public Policy.


Não há mentiras que lhe escapem, não há fraseado, olhar, expressão corporal que a enganem.

E, ao exemplificar com situações concretas, a gente percebe melhor o que ela diz.

Clinton é um dos casos paradigmáticos, um caso de estudo. 

Ainda hoje estou para perceber como é que um homem inteligente se meteu numa situação parva daquelas e refiro-me especialmente ao facto de ter falado em público de uma situação que era do foro privado, e, ainda por cima, com explicações que vieram a revelar-se puerilmente falsas. 

Diz-se que Hillary, um dia, fula com tanta parvoíce, lhe pregou um valente estalo - e eu percebo-a. Ter um marido que é um incontinente sexual deve ser uma chatice.



Vou mostrar-vos, no fim, a apresentação que Pamela Meyer fez no TED: Como detectar um mentiroso.


Vejam, por favor, pois vê-se bem e é útil. Ao princípio ela está nervosa, sem controlar bem a respiração mas, passado pouco tempo, já está à vontade e prende a atenção. Era bom que os jornalistas que por aí andam à babugem do Salgado do Holy Spirit  ou de qualquer outro que lhes pareça poderoso (vide a infelicíssima entrevista que Gomes Ferreira, esse 1º ministro do portugal dos pequenitos, fez a Vítor Bento depois deste estar à frente do Novo Banco, esse curioso holograma), ou mesmo os deputados que irão começar a ouvir os suspeitos do costume nas comissões de inquérito, ou mesmo, todos nós na nossa vidinha doméstica do dia-adia.

Também estive a ver uns truques para as flores naturais durarem mais nas jarras ou para as fazer brilhar em artísticos e simples arranjos. Talvez amanhã fale disso. Hoje não que estou mesmo cansada.

Amanhã vou fazer uma limpeza profunda à casa pois no domingo chegam as tropas e não os quero com alergias a pós e acáros.

A seguir, talvez tome um belo banho em água perfumada com óleos ou com pétalas de rosa. E, a seguir, deitar-me-ei para ler o Expresso e dormir uma repousante sesta.






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Pamela Meyer: How to spot a liar





(...) On any given day we're lied to from 10 to 200 times, and the clues to detect those lie can be subtle and counter-intuitive (...)


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A música lá em cima é Needles por Grand Salvo.

As fotografias das flores são de Kathleen Kamphausen.

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E por agora tenho que me ficar por aqui, estou praticamente a dormir.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo feriado.


quinta-feira, setembro 12, 2013

Esclarecimento aos meus Leitores que me enviaram textos manuscritos para eu fazer a respectiva análise grafológica


Há coisas engraçadas. Recebi, de alguns Leitores, textos digitalizados para eu analisar a sua forma de escrever. Eu percebo pois foi a grafologia é uma coisa que desperta interesse.

Contudo, de forma geral, o que me enviaram não me permite fazer nenhuma análise de jeito. Eu explico. A análise da escrita não é a mesma coisa que a análise da letra. O que interessa não é ver se a letra é bonita ou feia, ou se se percebe bem ou mal. Por isso se me enviam apontamentos, ou bilhetinhos, ou um impresso com os espaços em brancos preenchidos, ou um poema ou coisas assim, lamento, mas não dá.

A análise da escrita baseia-se em vários aspectos: a pressão da mão sobre a folha ao escrever, a inclinação da letra, a inclinação da escrita (das linhas, digamos assim), o espaço entre linhas e entre palavras, as margens, a forma como se dirige ao interlocutor, a forma como assina e onde está colocada a assinatura em relação ao texto, etc.



Carta manuscrita que encontrei na net



Depois há também o a dimensão e o formato da letra, de algumas em particular mas, também, a forma como existe constância nas características ao longo do texto.

Por isso, a quem queira ver a sua escrita analisada se pedem, geralmente, quatro páginas. Contudo, eu não tenho paciência nem tempo para análises muito profundas e, portanto, já me contento com uma página escrita sobre papel sem linhas ou quadrículas. E o texto deve dirigir-se a alguém, deve ter assinatura ou rubrica e deve ter um mínimo de linhas. 



Pequena Carta de Milton Nascimento que encontrei na net


Já agora, se quiserem mesmo que eu tente perceber a vossa personalidade e me enviarem alguma coisa para eu analisar, enviem-me por mail para eu ter tudo no mesmo sítio senão, às tantas, se me enviam links ou coisa do género, acabo por não saber a quem me dirigir para responder.

Mas vou também já avisando: não me considero especialista, apenas uma amadora. Por isso, peço que, se estão com problemas sérios ou se têm dúvidas problemáticas sobre a vossa personalidade, não me enviem nada para análise não vá eu enganar-me e influenciar-vos erradamente. Tenham também em consideração que tenho uma vida muito ocupada pelo que não levem a mal se eu demorar muito tempo a responder ou, mesmo, se, às tantas, não responder.

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Ainda cá volto pois, enquanto escrevia estava a ouvir uma coisa na televisão, e quero falar sobre isso. Até já, portanto.