Mostrar mensagens com a etiqueta Alexander Dugin. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Alexander Dugin. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, abril 15, 2022

Algumas pessoas pensam que as notícias e as imagens de crianças mortas na Ucrânia são falsas -- mas não são

 


Dirão alguns que a culpa é das crianças. Ou dos pais que quiseram fugir com elas, tentando alcançar um lugar longe dos mísseis. Ou do avô que tentou proteger a criança com o seu próprio corpo e não conseguiu. Ou dos ucranianos em geral que não querem abdicar da sua nacionalidade. Pode ser. Quem, perante as maiores atrocidades, não consegue condenar o agressor, arranjará sempre outros culpados. Não vale a pena. O maior cego é aquele que não quer ver. E depois, como diz Dugin, o 'cérebro de Putin', não existe verdade, o que existe é a interpretação da verdade.

Quando o jornalista dizia, numa das entrevistas que partilhei ontem, que um avião que deixava cair uma bomba em cima de uma casa matando as pessoas, civis, que lá estavam dentro era uma coisa factual, o ideólogo Dugin retorquiu que não, que se pode questionar porque é que o avião deitou a bomba justamente ali ou lançar outras questões e que essas questões são também, segundo os russos, uma verdade. Ou seja, em vez de relatarem o que factualmente aconteceu, lançam dúvidas, espalham a confusão. Em bom português diz-se atirar areia para os olhos. Provavelmente diriam que naquela casa se escondiam armas. É a técnica russa: escamotear a verdade, lançar suspeições, distrair atenções.

No outro dia, li um artigo muito interessante no Guardian: Understanding Vladimir Putin, the man who fooled the world. Ali é relatado um episódio que parece insignificante mas que não é, ilustra bem alguns traços de Putin. 

Putin estava incomodado com os jornalistas que lhe colocavam questões incómodas. Um estava a irritá-lo particularmente. Quando esse jornalista lhe fez uma pergunta, Putin disse que antes de responder, queria questioná-lo sobre o anel que ele estava a usar. Toda a sala olhou, intrigada. Putin continuou perguntando porque é que a pedra era tão grande. A sala já ria e o jornalista dava mostras de estar incomodado. Putin continuou dizendo que o jornalista não se deveria importar que ele o questionasse pois, se estava a usar aquele anel, era porque queria dar nas vistas. Toda a gente na sala se ria. Já ninguém se lembrava da pergunta. Diz o jornalista que escreve este artigo que foi uma verdadeira masterclass de distração e bullying. 

O que tem estado a acontecer com a invasão da Ucrânia e a chacina que barbaramente os russos estão a levar a cabo tem dado lugar a muitas masterclasses do género: os russos negam as evidências, lançam a dúvida, insinuam conspirações, espalham a confusão, põem uns quantos a propagar essas dúvidas -- e a condenação, junto de alguma opinião pública, dilui-se. 

Na própria Rússia, sem possibilidade de terem acesso a meios de comunicação independente, é mais fácil. Os testemunhos são incontáveis: pessoas debaixo de fogo cerrado na Ucrânia, com as casas destruídas, falam com familiares que vivem na Rússia e estes não acreditam em nada disso, acham que são fake news. 

Mesmo quando lhes dizem que já foram assassinados milhares de pessoas, incluindo crianças, muitos russos não acreditam. 

Brianna Keilar, conhecida jornalista-âncora política da CNN, enuncia o nome de algumas das muitas crianças ucranianas mortas nesta guerra feroz e, por diversas vezes durante a notícia, não consegue suster as lágrimas. Aliás, tem acontecido com alguma frequência aos jornalistas que, no terreno, testemunham o sofrimento dos ucranianos: quando noticiam o sofrimento, as feridas, as amputações e as mortes das crianças, não conseguem controlar o choro.

Também eu, ao saber destes casos, me emociono. Penso na dor das famílias. Penso na gratuita crueldade de tudo isto. Porquê isto...? Para quê isto...? Não contenho as lágrimas.

Keilar: Some Russians think images of killed children are fake. They are not


___________________________

Lá em cima, Sasha Ivanov toca piano. Tinha 18 anos e foi morto com um tiro na cabeça e dez no peito. Ia no lugar do passageiro. O que lhes aconteceu está descrito  aqui: ’Collect my parents or collect my son’s body’: a Kyiv family’s tragic plight. O fim do artigo é este: Sveta said: “There are some families who the war hasn’t touched. But the war touched our family like nothing else. My mother is disabled, my father is disabled, I’m disabled, and I buried my son.” Lê-se e imagina-se a aflição, o medo, o sofrimento desta e de tantas outras famílias. Não são histórias falsas -- o sofrimento é verdadeiro. Há jornalistas de todo o mundo a verificar no terreno e a divulgar o que está a passar-se.

Um dia haverá livros e filmes sobre estes tempos de horror. Muitos dos que os viveram já não estarão cá para o testemunhar.

A fotografia lá em cima mostra Danyk Rak, um menino de 12 anos, (por enquanto) um sobrevivente, que segura o seu gatinho no meio dos escombros da sua casa destruída por bombardeamentos russos. A fotografia é da autoria de Evgeniy Maloletka/AP

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Mensagem dirigida a Vladimir Putin por uma mulher ucraniana que perdeu o filho em Bucha 


___________________________________

Desejo-vos um dia tão bom quanto possível
Saúde. Discernimento. Esperança. Paz.

quinta-feira, abril 14, 2022

A palavra a Alexander Dugin, o chamado 'cérebro de Putin'.
Ambos seguem a mesma lógica e usam as mesmas palavras: a invasão da Ucrânia era 'inevitável'. Ambos acham que o império soviético não se pode reconstruir sem a Ucrânia. E vão até às últimas consequências mesmo que isso signifique acabar com a vida humana sobre a Terra

 

A Rússia não é comunista, Putin não é comunista. 

O fim da União Soviética foi um drama. A União Soviética tem que se reconstruir para poder constituir-se como um pólo forte no combate ao mundo ocidental. A ideia é a construção da Eurásia

A Ucrânia foi retirada à Rússia para a enfraquecer, é absolutamente indispensável conquistar a Ucrânia. A Ucrânia não conseguiu tornar-se um Estado Soberano pelo que a Rússia teve que ir salvá-la. 

Quando há uns anos a Rússia ocupou a Crimeia fez mal, deveria era ter tomado toda a Ucrânia. 

E, sim, a Rússia está a fazer coisas erradas, a violar o direito ocidental, a ser brutal, a ser sangrenta -- mas teve que ser. Era inevitável.

Sem a Ucrânia o império soviético não pode ganhar força para se reconstituir e para avançar para a Eurásia.

Depois disto, a Europa vai ficar melhor, mais esclarecida. Vai perceber que, apesar do massacre levado a cabo pela Rússia, a Nato não fez nada. Por isso, a Europa vai querer criar as suas próprias forças e sair da Nato. 

Trump é populista, Putin é absolutamente populista

Sim, Putin tem a posição de um monarca ou de um imperador, um monarca natural, não apenas porque ele o quer mas porque a Rússia quer que ele o seja. É uma monarquia popular.

Esta guerra é uma guerra aos Estados Unidos e ao liberalismo ocidental.

A verdade é relativa, a verdade é uma questão de crença, é uma questão de interpretação. A Rússia tem a sua própria verdade.

A Rússia não aceita a ideia de não ganhar esta guerra pois se não ganhar, deixará de haver Putin, deixará de haver Rússia, deixará de haver mundo. É preciso prestar atenção ao que Putin diz sobre a possibilidade de se avançar para uma guerra nuclear caso haja uma ameaça da Nato. A Rússia vai ganhar pois apostou tudo nesta operação e estará nela até ao último sopro. A Rússia vai ganhar ou usará o arsenal nuclear e o mundo acabará. Caso o mundo queira continuar a existir deverá aceitar a Rússia como um superpoder soberano.

Palavras do ideólogo de Putin, o ultra-direitista Alexander Dugin [Aleksandr Gelyevich Dugin, 60 anos] a quem chamam o cérebro de Putin. 

De facto, por diversas vezes, Putin já usou os mesmos argumentos que Dugin tal como reconstrói a história da mesma forma que Dugin o faz. E os actos de Putin têm vindo, na realidade, a seguir o 'guião' Dugin. Por isso se diz que, para conhecer o pensamento de Putin, o que há a fazer é ouvir e ler Dugin.

Já ontem divulguei o vídeo no qual ele, em 2017, já confirmava que Putin seguia as suas ideias: anexar a Ucrânia, encorajar o Reino Unido a sair da União Europeia, tornar o Irão um aliado, dar os passos necessários para dar corpo à Eurásia.

E, à medida que me vou informando, mais confirmo que tudo isto é diabólico. Há nesta gente uma lógica imperialista que a mim me parece demencial. 

Alexander Dugin diz que o ocidente anda indignado com tantas mortes, tanta violência, tanta destruição mas que o que, segundo ele, interessa discutir não é isso: o que interessa é discutir a geopolítica, a necessidade da Rússia ganhar força para fazer frente ao 'ocidente'. 

A insensibilidade ao sofrimento humano destes dementes é um perigo, talvez um perigo maior do que pensamos. Mas não é um perigo apenas para a Ucrânia -- é um perigo para o mundo. 

-------------------------

Lamento que os vídeos (de onde extraí os excertos acima, a itálico) não estejam legendados mas, apesar de ter pena que quem não perceba a língua inglesa não possa ajuizar por si, partilho-os na mesma. Acho importante que se conheça o que pensam e o que motiva estas demoníacas criaturas, nomeadamente no que respeita à sangrenta invasão da Ucrânia e à sanha destruidora de que parece estarem possuídos -- e à criminosa e assumida determinação de levarem a chacina até às últimas consequências.

Alexander Dugin speaking on the Ukraine conflict

The founder of the Russian geopolitical school, Alexander Dugin, at a meeting with Western journalists, explains the geopolitical background of the conflict in Ukraine. 03/04/2022.




Russian Philosopher Alexander Dugin: In Ukraine, Russia Is Fighting the Liberal World Order

Prominent Russian philosopher Alexander Dugin said in a March 19, 2022 interview on Al-Jazeera TV (Qatar) that Russia will either win in Ukraine and be accepted as a sovereign superpower, or “there will be no Putin, no Russia, no world.” He said that any NATO intervention will be responded to "in kind," including the use of nuclear weapons if NATO launches a nuclear attack against Russia. He emphasized: "The decision to continue with the operation to our last breath has been taken." In addition, Dugin said that Russia's war in Ukraine is not against Ukraine as a country, but against "American hegemony" and the "global liberal elites who are trying to take over the world." He also said that Putin is so popular that the people have effectively made him Russia's "natural monarch.” 

Bernard-Henri Lévy vs. Aleksandr Dugin Debate– On Ukraine (2019)


------------------

Aleksandr Gelyevich Dugin (em russo: Александр Гельевич Дугин; nascido em 7 de janeiro de 1962) é um filósofo russo, analista político, professor e estratega conhecido por pontos de vista amplamente caracterizados como fascistas.

Considerado pelo Ocidente como o "cérebro de Putin" ou o "filósofo de Putin", acredita-se que Dugin tenha sido o cérebro por trás da anexação da Crimeia pela Rússia como parte da defesa de Dugin para que a Ucrânia se tornasse "uma parcela puramente administrativa do estado centralizado russo", que ele se refere como Novorossiya. Acredita-se também que Dugin tenha fornecido a cartilha de Putin sobre a invasão russa da Ucrânia em 2022. Dugin clama por um Império Russo totalitário iliberal para controlar o continente eurasiano de Dublin a Vladivostok para desafiar a América e o "atlanticismo" [...]

Tem sido comparado a Grigori Rasputin.