Dia de sol, a primavera a arrebitar. Dia também de muitas aventuras. A minha filha disse que a fauna resolveu aproximar-se de nós. E, com essa aproximação, vieram arrepios, sustos, gritos.
Mas hoje não vou falar nisso pois a reportagem fotográfica com que complementaria o post comportaria imagens de alguma violência e o tema de hoje pede mais o flower power do que perseguições, violências e desfechos fatais.

Também escolhi o meu poiso com cuidado bem como foi com cuidado que escolhi o meu outfit. Uma blusinha sem mangas, decotada, às flores, uma alegres flores amarelas e brancas sobre fundo preto. E o local em que me instalei foi também a condizer. Não me pus com estantes atrás, com pinturas a óleo ou com pesados candeeiros a mostrar que sou pessoa responsável. Não, fui para a rua. Sentei-me num banco de pedra, debaixo de uma azinheira na qual os pássaros cantavam desvairadamente. Como estava uma gostosa aragem, a sombra e o sol passeavam na minha cara. Estive para começar a reunião dizendo que esperava que o canto da passarada não os incomodasse mas não sei porquê esqueci-me de tal mas penso que ficou claro que o local em que se está não condiciona, por si só, a produtividade. Há quem pense que teletrabalho é igual a férias e esteja deserto para retomar a 'normalidade', não percebendo que, se com equilíbrio e uma correcta adequação, o teletrabalho pode ser uma opção bastante inteligente. Claro que nem todos os trabalhos o permitem mas, permitindo, o teletrabalho deve ser equacionado com abertura e inteligência.
Foi, pois, com contentamento que vi que, uma vez mais, Jacinda Ardern mostrou que é uma líder para os novos tempos. Toda a gente reconhece como esta mulher descomplexada, sem preconceitos e com a ousadia que caracteriza aqueles a quem a inteligência não atrapalha, é estimada pelo seu povo e anda sempre uns passos à frente dos líderes de outros países.
Uma vez mais, Jacinda inova e arrisca ao avançar com a sugestão de que, para equilibrar trabalho e tempo pessoal e para ajudar a relançar a economia e o turismo local, os empregadores pensem na semana de trabalho de quatro dias.
Fosse por cá e o meu apoio estava tomaticamente dado.
Tenho centenas de anos de vida profissional e uma coisa posso eu testemunhar: se o trabalho estiver eficientemente organizado, se apenas se fizesse o que é relevante, se se pusesse de parte tudo o que é absurdo e burocrático, se as pessoas se focarem no que têm que fazer em vez de se entreterem com frioleiras e desnecessidades, ou o horário de trabalho poderia passar para cinco horas por dia ou a semana de trabalho para quatro dias. E isto posso eu garantir.
E mais: entusiasticamente estou com a Jacinda. Com mais tempo de lazer ou de descanso, não apenas toda a gente poderia ser mais feliz como o mundo seria outro. Consumir-se-ia mais cultura, mais turismo interno, ser-se-ia mais tranquilo e feliz, haveria menos stress, deixaríamos de passar pela vida feitos estúpidos.
Transcrevo do DN -- e só espero que António Costa, um dos melhores líderes europeus, também perfilhe a ideia e desafie os empresários e gestores portugueses a avançarem por aí:
Numa conversa em vídeo ao vivo no Facebook, Ardern explicou que numa altura em que as fronteiras do país continuam fechadas e o desconfinamento já começou, até porque a Nova Zelândia tem sido dos países mais eficazes a lidar com a pandemia de covid-19 e em reduzir a curva de infetados e mortes, o turismo doméstico ganha importância.
Nesse contexto, a primeira-ministra diz: "Tenho ouvido muitas pessoas a sugerir que deveríamos ter uma semana de trabalho de quatro dias. Em última análise, isso é algo entre empregadores e funcionários. Mas, como já disse, temos aprendido muito com a covid-19 e temos visto uma produtividade e flexibilidade das pessoas que trabalham em casa que é prometedora".
Sendo assim, Ardern conclui que a semana de 4 dias "iria claramente ajudar o turismo no país", daí deixe a sugestão: "incentivo todas as pessoas a pensarem nisso, nomeadamente se é um empregador e está numa posição em que isso pode funcionar na sua empresa".Nem mais. Só espero que os políticos do meu país abram a cabeça e ponham os olhos na Jacinda. A bem do país e dos portugueses, sigam o seu exemplo e incentivem o mundo empresarial. E comecem por dar o exemplo na administração pública.
O mesmo tema pode também ser lido, com maior desenvolvimento no Guardian: Jacinda Ardern flags four-day working week as way to rebuild New Zealand after Covid-19.
This is an opportunity for a massive reset
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As flores vêm pela mão de Brandy Kraft e são para quem tão generosamente me lê, estando aí desse lado a fazer-me companhia.
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Um bom dia com alegria.
E com saúde e motivação.