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quarta-feira, novembro 30, 2022

Como a menopausa afecta o cérebro.
[Não sei é porque é que os estudos não se debruçam sobre como a menopausa afecta o tamanho dos seios...]

 


Sobre a minha menopausa já aqui falei várias vezes. Não sei ao certo que idade teria. Cinquenta e picos, por aí. O período foi ficando incerto. Às tantas já nem me lembrava bem. Creio que calhou quando andava a fazer uma pós graduação num período em que também andava cheia de trabalho, quando veio o diagnóstico do meu sogro com o que se lhe seguiu, muito stress à mistura. Mas também pode não ter tido nada a ver com isso, pode ter tido apenas a ver com o relógio biológico. Foi-se. Naturalmente. 

Um descanso.

Uma vizinha, por causa disso, do espaçamento que até nos leva a esquecer e a desvalorizar, engravidou. Pensava que a loja estava fechada, distraiu-se. Veio uma bebé quando os filhos eram crescidos, adolescentes, tal como os meus. Poucos meses depois, andava ela de bebé ao colo, a barriga mantinha-se estranhamente grande. Escondeu enquanto pôde. Uma vez disse-me: 'Até tenho vergonha... Que me tenha distraído uma vez, enfim, é estúpido mas acontece... Mas uma segunda vez...? Logo a seguir...? Não há explicação. Tenho vergonha...' Fartei-me de rir, mas percebi-a. 

Depois dos partos, a menstruação desaparece por algum tempo. 

Ainda me lembro de quando nasceu a minha filha, era ela bebé de colo, eu a amamentar, e, um dia, vi sangue. Fiquei assustada. Contei ao meu marido a minha preocupação. Pensei que estava doente, gravemente doente, com alguma hemorragia. O meu marido é que se lembrou: 'Não será a menstruação?'. Já nem me lembrava de tal coisa. Depois dos nove meses da gravidez, creio que já ia em seis ou sete meses depois do parto, e nada. Tinha-se-me varrido. Claro que era! Que burra, credo.

Às tantas também poderia ter engravidado nessa altura. Imagine-se, então, isso numa altura em que a pessoa pensa que já está na menopausa...

Também já contei que a menopausa se me deu uma meia dúzia de afrontamentos foi muito. De todas as vezes, que me lembre, foi ao fim da semana quando ao fim do dia íamos para a nossa casa no campo. Davam-me uns calores brutais, tinha que abrir a janela, quase pôr a  cabeça de fora. Aquilo durava uns segundos, não mais que isso, mas, enquanto durava, era uma onda de calor avassaladora que avançava dentro de mim. Parecia que ia pegar fogo. Depois passava. Assim como vinha, assim ia.

Mas teve outro efeito: aumentei de volume. Antes vestia o 38, depois passei para o 40, depois para o 42, agora, frequentemente, já o 44. Olho para o que vestia antes e espanto-me: tão fininha, tão estreitinha. Como é que eu cabia ali? Agora há ondulação a la Rubens a bombordo, a estibordo, you name it. 

Mas parece que os danos não se ficam pelo volume. Parece que no cérebro a coisa pode fiar mais fino. O que a neurocientista Lisa Mosconi explica ajuda-nos a perceber muitas coisas e a evitar outras. Menos mal: parece que, uma vez mais, a dieta mediterrânica opera milagres. Isso e uma vida activa, tranquila... e, claro, dormir bem (e, neste particular, pela parte que me toca, reconheço: tenho que me esforçar por ir para a cama mais cedo)

Convido-vos a ver o vídeo abaixo pois é muito interessante. Não interessa apenas a mulheres na menopausa mas a quem um dia lá há-de chegar bem como a todos os homens que lidam com mulheres. E, desta vez, milagre, milagre... está legendado.

[E aqui abro um parêntesis para elucidar os Leitores que às vezes se queixam que escolho versões não legendadas. Muitas vezes não é isso, muitas vezes tem que ser o próprio a ir às definições (a rodinha dentada que aparece em baixo, à direita, no vídeo) e escolher a opção das legendas e a língua]

How menopause affects the brain | Lisa Mosconi

Muitos dos sintomas da menopausa - ondas de calor, suores noturnos, insónia, lapsos de memória, depressão e ansiedade - começam no cérebro. Como exatamente a menopausa afeta a saúde cognitiva? Compartilhando descobertas inovadoras da sua pesquisa, a neurocientista Lisa Mosconi revela como a diminuição dos níveis hormonais afeta o envelhecimento do cérebro - e compartilha mudanças simples no estilo de vida que você pode fazer para apoiar a saúde do cérebro ao longo da vida.


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Pinturas de Rubens ao som da banda sonora da 2ª temporada do White Lotus

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segunda-feira, outubro 11, 2021

O rabo da Madonna e a atrapalhação de Jimmy Fallon
[Os vídeos aqui estão para que possam formar a vossa própria opinião]

 



Devo dizer que gosto da Madonna. Lembro-me de o dizer ao princípio e de ouvir os entendidos a torcerem o nariz, como se eu estivesse a ceder ao facilitismo dos passos de dança, dos corpos de baile, dos espectáculos de luz. Diziam-me: pode ser muita coisa mas boa música não é. E diziam que cantava pouco, que aquilo era só fogo de vista. Não sei. Mesmo que Madonna fosse sobretudo uma performer, eu gostava das performances dela. Gosto do descaramento e da energia. Sempre houve nela vontade de virar a mesa, de partir a louça, de provocar.

Discos propriamente ditos sou capaz de ter só dois. Mas gostava dos espectáculos. Um fogo e uma irreverência que valem por muitos acordes afinados.

Mas das canções, tirando umas quatro ou cinco (assim de repente, acho que não me lembro de muitas mais), penso que são boas se a gente estiver a vê-la a dançar naqueles seus espectáculos mirabolantes.

E achava-a uma mulher interessante. Ainda é interessante mas modificou-se de uma maneira que é difícil prestar atenção ao que diz ou faz sem que a gente, mesmo sem querer, tente perceber se há algum ângulo em que a coisa pareça razoável. Confesso que acho que as plásticas não lhe têm feito bem à cara. Isto das plásticas é sempre uma questão. 

À medida que o tempo passa é impossível que não apareçam algumas rugas. Podem eliminar-se -- mas isso à custa de quê? De enchimentos que deixam as pessoas quase sem feições? Ou alguma flacidez. Combate-se a flacidez enchendo as maçãs do rosto? Se calhar sim. Mas não fica mais feio do que se tivesse rugas? Não fica um rosto insuflado, artificial?

Eu acho que sim mas, lá está, isto do gosto é muito discutível. Com todo o dinheiro que tem, ela pode pôr-se como quer e, no entanto, parece que é assim que se gosta de se ver.

E há ainda o cabelo. Longe vão os tempos em que o tingia por igual, ou toda de louro platinado, toda Marilyn, ou toda morena.  Agora não: o cabelo está comprido, amarelo, grandes raízes pretas. 

Bem sei que está na moda aparecer com as raízes por pintar. Mas só posso dizer que acho horrível, parece desmazelo. 

Comparando com a forma como se arranjava antes (por exemplo, aquando das fotos que se podem ver neste post que podem ter alguns apontamentos mais polémicos mas em que se via uma certa harmonia e cuidado estético), agora olho-a e nem sei o que me parece. Ou melhor, saber eu sei, não quero é dizer.

E depois está muito roliça. Claro que isso não tem nada de mais. As mulheres, em especial depois da menopausa, aumentam de volume. Parece que tudo aumenta: a largura das costas, o perímetro abdominal, o tamanho dos seios. Mesmo que se faça dieta e se fique bem, esse 'bem' já não é o 'bem' que era antes. Acho que, depois, a coisa regride. Lá para os setentas e muitos ou oitentas, a julgar pelo que vejo acontecer à minha mãe, volta-se a ficar com a dimensão (3d's falando) dos verdes anos.

Portanto, com sessenta e três anos, a Madonna está como estão muitas mulheres da idade dela: a transbordar dos soutiens, a transbordar dos vestidos. 

Só que eu, se me sinto a tender para a opulência, em especial em algumas partes do meu corpo, procuro alguma coisa que me vista com alguma discrição e um mínimo de elegância, tentando que nenhuma parte do meu corpo dispute a atenção às restantes partes. A Madonna não: sai-lhe tudo por fora e tudo ela exibe na maior insolência. Dir-se-ia que uma mulher quando chega àquela idade deveria adaptar o seu outfit às circunstâncias do seu corpo. Mas ela não, ela faz o contrário. Toda ela ao léu. E marimbando-se para a idade. Deitada em cima da secretária do pobre do Jimmy Fallon, depois a mostrar o rabo. Ou seduzindo-o à descarada, Madonna é aos 63 o que sempre foi: Madonna.

Já passou aquele patamar do decoro e das boas maneiras que se respeita até certa idade ou dentro de certos contextos, e, portanto, tal como tem os namorados que lhe apetecem, tal como tem as casas ou os cavalos que lhe apetecem, tal como tem as roupas e os cabelos lhe apetecem, assim pratica os actos ou tem as conversas que lhe apetecem, no tom mais provocador ou tentador que lhe apetece.


Nestas coisas há sempre aquela linha que não sei se é vermelha se é o quê: a que separa a saudável irreverência do mau gosto. É aquela linha em que quem sabe e gosta de provocar e por isso era admirado se torna, simplesmente, patético, uma caricatura do que foi, digno de comiseração. Tenho alguma esperança que a Madonna ainda não tenha saltado essa fronteira e que as pessoas, em geral, ainda olhem para ela como a mulher de fogo que quebra tabus e a que, nem a idade, coloca freios.

E depois, pensando bem, se é o que lhe apetece fazer, porque haveria de não o fazer? Só temos uma vida. Para quê desperdiçar um dia que seja a tentarmos ser quem não somos?


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Mas aqui estão os vídeos (recentes, quase a escaldar): de antologia

Madonna on Madame X and Getting Into Good Trouble  | 
 | The Tonight Show Starring Jimmy Fallon





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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

terça-feira, julho 02, 2019

Temas que são tabu. Coisas de mulher.





Há temas tabu. Nem sei se tabu é o termo. Na volta, é apenas uma questão de reserva, de decoro, de intimidade. Não sei. 

Sei é que, nas mulheres, há coisas de que não dá muito jeito falar. Ou, então, se alguém fala, os poetas, por exemplo, é para fazer um filme. Estou a pensar na menstruação, por exemplo. Há belos poemas sobre isso: o sangue a nascer do corpo de uma mulher fértil, o ventre fonte de vida a jorrar uma seiva rubra. E tudo isso é, na realidade, uma coisa extraordinária. Sendo coisa comum, encerra em si mil significados, cada um mais fantástico que os outros. Mas isso é se a gente quiser pensar como os poetas. Ou se uma mulher quiser ver-se como é, um animal divino.

Contudo, na realidade dos dias que correm, a coisa é bem mais prosaica.

No meu caso, foi fonte de inquietação enquanto não me apareceu. Devo ter sido a última da turma. Todas já muito mulherzinhas, muito encorpadas, muito cheias de segredos. E eu, triste, ansiosa, toda ainda muito menina. Namoradeira, cheia de amores e, por dentro, cheia de medo de nunca mais ser mulher. 

Mas, algures lá para os meus catorze anos, portanto no equivalente ao actual nono ano, lá me apareceu o tão desejado sangue entre as pernas.

A partir daí deixou de ter história. Era aquela maçada todos os meses, aquela moinha no baixo ventre nos primeiros dias. Só intervalou durante cada gravidez e nos meses seguintes. Quando foi da minha filha, foram os nove meses e, talvez por estar a amamentá-la, tardou ainda uns seis meses. Quando reapareceu, assustei-me. Disse ao meu marido: 'Estou preocupada. Deitei sangue.'. E ele olhou para mim, ar apreensivo, e depois: 'Olha lá, não será a menstruação...?' E claro que era.

Até que a partir de dada altura, creio que já mais para o fim da era fértil, não me lembro bem, para aí na véspera ou antevéspera do dia,  aparecia aquela irritação que me deixava capaz de odiar a humanidade em geral e, muito em particular, os humanos que me estavam mais próximos. Ondas de raiva. Felizmente, esvaíam-se mal sentia o sangue a escorrer de mim. Li depois que era a tão mal afamada TPM. Puxa, nem quero lembrar-me disso, eu ficava mesmo brava. 

Tenho ainda a relatar aquele dia de que creio que aqui já falei. Uma coisa de que, quando me lembro, hesito entre desatar a rir ou fechar os olhos de horror.

Teria eu uns trinta e tal anos e usava o cabelo comprido. Era verão e eu tinha uma saia branca de tecido fininho. Não me lembro o que tinha vestido naquele dia para além da saia mas presumo que alguma blusa justinha, de alças, decotada. A saia era pelo joelho e abotoada à frente, desabotoando eu alguns botões para que as pernas melhor se movimentassem.  Eu estava a gerir um projecto e tinha passado toda a manhã em reunião com colegas, todos homens. Às tantas, já hora de almoço, quiseram ver qualquer coisa que eu não tinha ali mas que estaria no arquivo da minha secretária. Levantei-me e fui lá. Estava eu a procurar nos dossiers, aparece um colega que, muito corado, muito atrapalhado, me disse: 'Queria dizer-te uma coisa...'. E eu: 'Sim. Diz.' E ele, olhos baixos, tímido, 'É uma coisa um bocado íntima...'. E eu a pensar: 'Olha-me este... mas querem lá ver...?' e a dizer: 'Diz lá. O que é?'. E ele, a rebentar de corado, 'É que tens a saia... suja...'. Por uns breves segundos não percebi. Mas foram mesmo uns breves segundos porque logo percebi. Estava menstruada e, tantas as horas ali sentada, na volta o penso deveria ter-se desviado, sei lá. Ali mesmo com ele especado e atormentado à minha frente, rodei a saia e vi. Uma enorme mancha de sangue. Vermelho vivo. Poderia ser uma bela e rubra flor, uma flor de carne viva, em sangue. Mas, curiosamente, não me senti envergonhada. Não me lembro o que disse mas deve ter sido: 'Olha o disparate. Que chatice. Tenho que ir ver se lavo'. E fui para a casa de banho. 

E, pedindo a todos os santinhos para não aparecer ninguém, ali mesmo, no lavatório, lavei a grande mancha. Levei imenso tempo primeiro que a saia ficasse imaculada. O pior é que ficou encharcada e, sendo o tecido muito fino, ficou a colar-se-me às pernas. Um filme. Miss saia molhada. Pensei: 'Olha a barraquinha, agora vou para lá com a saia quase transparente, colada às pernas.  Quase pior a emenda que o soneto'. Mas tive uma esperança: 'Com um bocado de sorte, fartaram-se de esperar e debandaram'. Mas não. Sentados, bem comportados. Sentei-me e retomei e assim fizeram eles. E até hoje nenhum tocou mais no assunto. Presumo que, em privado, gozões como sempre os conheci, tenham gozado que nem uns perdidos mas, à minha frente, nem uma palavra. Vá lá.

Tirando isso, nada mais a reportar. Só que, para o fim, começou a menstruação ficar mais incerta, umas vezes abundante, outras vezes mais escassa, intercalando meses sim com meses não.
Lembrava-me de uma vizinha minha, com filhos da idade dos meus, que um dia começou a parecer-me um bocado barriguda. Nunca me ocorreu que fosse o que era até que apareceu com um bebé nos braços. Quando me viu e eu mostrei o meu espanto, revelando que nunca tinha desconfiado que estivesse grávida, ela explicou que até tinha vergonha, com aquela idade, de se ter deixado engravidar. Contou que achava que estava na menopausa, descurou, e que, mesmo durante os primeiros meses não suspeitou que estivesse grávida, achou que era mesmo assim, bye bye menstruação. E que depois foi o susto, o risco de engravidar naquela idade. 
O pior foi que, andando de bebé ao colo, pouco tempo depois, teria a menina pouco mais de um ano, a vejo outra vez com um bebé recém-nascido. Não me passou pela cabeça que fosse dela. Pensei: 'Será da filha?'. Mas não, era dela mesmo. Dizia ela: 'Nem me diga nada. Já viu este desnorte? Depois da outra bebé nascer, nunca mais apareceu o período, achei que desta vez é que tinha sido. Como andava ainda com a barriga grande da gravidez nem percebi que estava grávida outra vez. Uma pouca vergonha, uma mulher da minha idade, nem quero pensar no que havia de me acontecer...'. Passado algum tempo mudou de casa. Não apenas a casa tinha ficado pequena para dois filhos adultos e duas filhas bebés como, dizia ela, até tinha vergonha de encarar os vizinhos.
Por isso, mantive-me cuidadosa até ao fim. Sempre tive vontade de ter montes de filhos mas, se me fiquei pelos dois enquanto estava em idade razoável, não era já na fase da menopausa que iria meter-me em trabalhos.

E a partir da altura que a menopausa se instalou, também mais tarde do que a maioria das minhas conhecidas, foi um descanso. Felizmente não padeci de efeitos secundários. Não tenho irritabilidades nem afrontamentos. Só ao princípio e, que me lembre, ao todo para aí uma meia dúzia de vezes e, também que me lembre e não me perguntem porquê, sempre quando ia no carro ao fim de semana. Ou seja, não era eu a conduzir. Sei que subia por mim uma onda de calor, uma coisa abrasadora. Tinha que abrir imediatamente a janela, quase pôr a cabeça de fora, parecia que ia pegar fogo. Ao fim de uns segundos a onda esvaía-se e tudo voltava ao normal. Mas, como digo, foram pouquíssimas vezes e só ao princípio. Agora nem me lembro de tal coisa, só sei que é bom, uma liberdade de movimentos maior. Não faço tratamento hormonal porque nem eu nem a ginecologista achamos que faça falta. E sinto-me tão mulher (sexualmente activa, quero eu dizer) quanto sempre me senti. 

Por isso, se a menstruação é tema tabu e a menopausa também, eu não sei porquê: são fases da vida de uma mulher e nem uma fase nem outra comportam desgraças ou vergonhas que devam ser escondidas ou, sequer, evitadas. É tudo na boa.

O outro tema tabu é o dos pêlos. Cresci com essa de os pêlos femininos serem para ser arrancados. As minhas amigas, em especial as mais morenas, sofriam tormentos com os pelos das pernas e os das axilas. Eu, apesar da farta cabeleira na cabeça, no resto do corpo não me posso queixar. Por isso, mais uma vez via as minhas amigas a partilharem métodos eficazes de depilação, aflitas com o castigo dos pelos -- em especial, na altura da praia -- e eu, com uma penugem pouco mais que rudimentar, com pouca sapiência e sem inquietações ou experiências para partilhar. Nessas alturas, ansiava por ter 'problemas' de mulher para não me sentir a criancinha do grupo. Aquela que mais sabia do assunto, tinha uma tia que, segundo ela, era mestre na depilação com açúcar derretido. Eu antecipava o horror do açúcar a escaldar. Na altura não havia aquelas maquininhas maravilhosas que puxam o pêlo pela raiz, as silk epil. Usava, então, uma luva que, se bem me lembro, quase lixava a pele (em sentido literal) e que deixava um cheiro estranho. Lâmina nunca usei, a minha mãe dizia que, se usasse, em vez de penugem clara, ficaria com barba escura. Mais tarde, comecei a arrancar com cera. Depois converti-me à maquininha. Agora uma coisa é certa: apesar de não ser peluda, não conseguiria ver-me com pelos grandes nas axilas ou nas pernas (muito menos, claro está, nas virilhas). Não gosto. Acho inestético.

Também já aqui contei. Tenho uma amiga, psiquatra, que tem, na verdade, uma grande pancada. Sendo bem gira, bem elegante, bem inteligente e senhora de uma bela voz e de umas belas pernas, é, vá lá saber-se porquê, doentiamente ciumenta e insegura. Quando era casada, apesar de ser uma brasa ao lado do marido, roía-se de ciúmes e atormentava o pobre coitado. Por ser como era, volta e meia andava zangada com ele, o casamento sempre em crise. Uma vez, naquelas alturas em que andava possessa com ele, foi buscar-me ao emprego, queria desabafar e saber a minha opinião. Tinha um carro pequeno, desportivo. Sentei-me ao lado dela, claro. Bancos baixos, em que as saias naturalmente sobem. E foi, então, que vi, horrorizada, as pernas dela. Usava saia curta e, até onde a saia normalmente cobria, tinha as pernas depiladas. Acima, umas pernas que me pareceram quase animalescas. Tenho ideia que dei um grito, assustada: 'Que é isso?!?!' E ela, com naturalidade: 'Não estou para depilar tudo, ninguém vê...' Tenho ideia que lhe disse: 'Pudera, com umas pernas dessas que até metem medo, como é que tu queres que alguém as queira ver?'. O meu marido sempre disse que ela era mais maluca que os doentes.

Resumindo: se nos homens não gosto de depilações, prefiro tudo au naturel, já nas mulheres é o oposto. Mas isso, claro, é uma questão de gosto. Ou de hábito, sei lá.

A Billie, marca de lâminas para depilação feminina, saíu-se com um novo vídeo que me faz encolher-me de desconforto visual.

A ideia é boa: cada mulher é como é, magra, gorda, pançuda, peluda e ninguém tem nada a ver com isso. Mas, caneco, aquela mata pubiana ali nas virilhas de algumas é tão inestética... Ou será preconceito meu? Na volta, é. Mas olhem, se for, paciência.



Aliás, já o vídeo anterior, de há uns meses, provocava algum impacto.

Seja como for, tem graça e não ofende.


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E vivam as mulheres -- em qualquer estado, em qualquer idade, em qualquer situação.

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E dias felizes para todos.

domingo, setembro 24, 2017

Caminhos difíceis levam, por vezes, a belos destinos


Acontece por vezes eu estar a passar por situações complicadas. Ainda não há muito. Eu toda angústias, medos, ansiedades. No entanto, claro que tinha que continuar a viver. Um dia vinha do supermercado e pensei que, por fora, devia estar normal. Pelo menos, via-me normal. Cruzava-se com pessoas que também me pareciam normais e pensava que nunca sabemos o que vai no íntimo das pessoas. Nem elas sabiam o que ia dentro de mim nem eu delas. Pensei: 'usamos máscaras'. Depois pensei outra coisa: 'somos fortes'.

E agora que escrevo isto lembro-me de uma coisa que não tem nada a ver mas que me ocorreu. Quando tive a menopausa não tive sintomas e, ainda hoje, não os sinto. Não faço daqueles tratamentos hormonais de substituição. Penso que deve ter a ver com o meu funcionamento hormonal mas, se calhar, não tem nada a ver. Se soube já não me lembro. Também quando estive grávida nunca tive enjoos, desejos, inchaços, mal estar, dores nas costas. Nada. Do princípio ao fim, sem outro sintoma que não o da barriga que crescia desabaladamente. Mas, na altura atrás referida, tinha uma colega que estava também a atravessar a menopausa e que sofria horrores. Afrontamentos de ficar doida, tamanha a onda de calor que subia por ela acima -- e desculpem-me o pleonasmo mas era assim que ela dizia, abanando-se: 'De morrer. Não se aguenta. Uma insolação que sobe por mim acima.' E abria a boca, quase à beira do colapso. Dizia que só lhe apetecia tirar a roupa toda, despejar garrafas de água pela cabeça abaixo. E dizia que pasmava (e, por dentro, enfurecia-se) por ver que, quando estava em reunião, as pessoas em volta dela pareciam não dar por isso. Pensava: 'Mas será que esta gente não percebe o estado em que estou...?!'. Em vez de se calarem e, em sinal de solidariedade, deixarem que a aflição lhe passasse, continuavam a falar como se nada fosse.

Se calhar de fora não se via o calor que ela sentia.

Bem.

Isto tudo para dizer que a todos nós, em certos momentos, a coisa não corre especialmente de função. Mas a vida continua e ainda bem que o mundo continua a girar normalmente e que há, aqui e ali, apontamentos de cor, de graça, de esperança.

Ao passear no Ginjal pensei que nada para melhorar a disposição do que andar por aqui, sentir a frescura do rio, deixar que a alma descanse perante a visão de uma paisagem tão magnífica e apreciar os sinais que outros vão deixando nas paredes, pintando-as, enfeitando-as, deixando testemunhos da diversidade que havida o tempo e o espaço. 









Minha alma canta apenas em sinfonia.


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