Continuam os dias de trabalho pesado, apesar de pouco sair de casa. O meu marido, à tarde, disse: 'Hoje a coisa não correu bem'. Perguntei: 'Como assim?'. Esclareceu: 'Estavas com a assertividade nos máximos'. Não percebi. Explicou: 'A malta levou pela medida grossa'. Perguntei a que se referia em concreto. Respondeu, com sorrisinho irónico: 'Acho que não escapou nenhum. Parece-me que foi a manhã toda. Levaram todos'. Ainda quis que me dissesse qual o tema, para perceber com quem estaria eu a falar. Disse que não percebia as palavras, mas que o tom de voz falava por si. Acabei por confirmar que, pensando bem, tirando numa breve reunião de meia-hora, em todas as outras expressei a minha contrariedade. Por exemplo, uma faz telefonemas que são de meia-hora se a agente a interromper, senão são de uma hora no mínimo, para dizer que tem muito que fazer e que não tem tempo para fazer tudo o que é preciso. E passa o dia a fazer telefonemas destes. Se não os fizer, é tempo que lhe sobra para trabalhar. Como não mostrar arrelia com uma pessoa que não percebe isto? Ou um que tem mil coisas para fazer e que, em vez de se concentrar a fazê-las, se põe a fazer outras? Ou um que mal tem uma ideia vai a correr dizê-la a toda a gente, criando expectativas infundadas, lançando confusão e, quando lhe pergunto se já falou com alguém, bem sabendo eu que sim, me diz com cara de pau, mentindo à descarada, que com certeza que não. Claro que se eu tivesse estudado diplomacia ou tivesse aprendido a ser beata e paciente, passava por tudo isto sem me torcer nem me amolgar. Assim, é o que é.
Num tacho coloquei azeite e cortei duas cebolas aos bocados. Frigi ao de leve com duas folhas de louro fresco. Juntei um pequeno morceau de bacon aos bocadinhos e deixei que alourasse. Depois juntei quatro lindos tomates maduros. Por cima, três pernas grandes de frango do campo. Por cima, um pouco de sal, um alho francês às rodelas largas e mais um tomate maduro. Reguei com um pouco de vinho tinto e juntei salsa em quantidade generosa. Cozinhou nos próprios sucos até que vi a carne a querer despegar dos ossos. Juntei ervilhas congeladas. Cozinharam um pouco. Verti, então, o caldo que se tinha formado para uma chávena de pequeno almoço. Completei com água até encher. Juntei mais três chávenas de água. Quando ferveu, juntei duas chávenas de basmati. Quando estava seco, desliguei. O meu marido andava de roda da cozinha a dizer que cheirava bem, querendo saber o que era. Soube-nos bem ao jantar, acompanhado de salada de alface e canónigos. Depois comi uma tangerina. Rematei com um quadrado de chocolate bem preto (82% de cacau)
E o que Bethânia diz, senhores, que mulher, que carisma...!
Gostei de tudo mas não posso deixar de destacar o que ela diz do que é a poesia: não apenas o que respiguei para o título como também o que o seu mano Caetano diz: poesia não serve para dormir, poesia acorda.
Naná se derrete, olhando com devoção a grande diva, beijando as mãos da deusa da imensa cabeleira. Uma vez mais é um vídeo um pouco longo mas em que cada minutinho vale ouro.
Mas, antes, um curtinho em que Bethânia pergunta a Naná porquê esta série de entrevistas. E eu, que não fazia ideia de quem era Naná, vejo-a aqui toda vulnerável, toda dengosa, também seduzindo, fazendo amor com as palavras. Bonito de ver. Cá para mim, Naná é que nem eu que do amor gosto é dele carregadinho de expoente.