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terça-feira, março 14, 2023

Oscares 2023 - e etc.

 

A minha filha tinha-me dito que o filme Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo, filme favorito para os Oscares, ia passar em canal aberto. Por isso, achei por bem ir ver.

Já se sabe que a Covid  -- que, em algumas pessoas, é peninha que mal pousa nos infectados mas que, aqui por casa, pousou com estridência --, ainda anda a sugar a nossa energia.

Tínhamos feito uma soft caminhada aqui à volta. Por isso, ao sentar-me aqui a ver o filme, adormeci profundamente. Até aqui nada de mais: o responsável deveria ser o corona e não o filme.

Contudo, quando acordei o que vi foi uma sucessão de cenas estapafúrdias. Pensei que ainda devia estar pedrada de sono pois tudo aquilo me parecia droga contrafeita. Forcei-me, pois, a aguentar pois o lado bom da fita ainda iria aparecer.

Até que desisti. Maluquice chanfrada demais para o meu gosto e sem perspectiva de haver um twist e aquilo virar coisa aceitável. 

No que se refere a googly eyes, mal por mal, antes os do Marty Feldman.


Afinal ganhou quase tudo - e eu não percebo como. 

Parece que o meu mundo, que eu quero pensar que é um mundo normal em que a racionalidade, a beleza e um módico de harmonia são fundamentais, tende a desaparecer. Em vez dele vai ganhando terreno um mundo em que as coisas não precisam de fazer sentido para existirem, em que a beleza é substituída pelo disparate sem pés nem cabeça e em que, em vez de harmonia, prolifera o caos, o ruído, a desagregação.

Não gosto. Mas a gente do cinema gosta. O filme arrecadou vários prémios e a assistência, gente entendida, aplaudiu. Por isso, o mal só pode ser meu.

Tirando isso, do que vi da cerimónia, gostei da actuação da Lady Gaga que primou pela simplicidade performativa. Hold My Hand.


Também achei graça à desconversa de Hugh Grant ao ser caçado pela Ashley Graham. Deve ser difícil conseguir responder a perguntas parvas quando uma pessoa não está para aí virada.


Quanto a toilettes, gostei muito do vestido, da maquilhagem e do penteado de Cara Delevingne, tanto mais impactante quanto ela surge assim, bela e glamorosa, poucos dias depois da entrevista em que fala da sua adição em relação ao álcool que a fez descer ao quinto dos infernos e de como agora, depois de tratamento muito a sério, se sente recuperada.




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Antes de a coisa começar, o Mário Augusto teve lá umas bacanas muito ao lado e cujo conhecimento da língua portuguesa mostrou ser pouco sólido. Lembro-me, por exemplo, que uma, na maior alegria, disse que 'houveram'. Pensei o que sempre penso: ainda bem para ela que ali está. Mas porque é que a RTP contrata pessoas que não sabem do que falam e, ainda por cima, não sabem falar?

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Um dia bom

Saúde. Boa disposição. Paz.

domingo, julho 31, 2022

O que é que as pessoas insanamente ricas compram e de que as pessoas pobres não têm nem ideia?

 



O título promete mas quando percorri o conteúdo do artigo What Do Insanely Rich People Buy That Poor People Have No Idea About? fiquei um bocado decepcionada. Estava à espera de coisas mais bombásticas. Ali ou vejo quase banalidades ou vejo estereótipos.

Conheço algumas pessoas muito ricas e algumas das coisas que elas compram ou o estilo de vida que seguem não estão ali plasmadas.

Um, por exemplo, tem como residência habitual uma moradia numa das zonas com mais cachet da Grande Lisboa mas, para férias e alguns fins de semana, tem uma casa quase normal numa aldeia na zona da Costa Vicentina. Quem o veja de calções, tshirt puída, chinelos nos pés, a vir do pequeno mercado local de saco na mão, preparado para ir assar peixe no jardim, nem sonha que o seu nome consta da lista dos mais ricos do país. 

Um outro, e já aqui falei dele, tem um grande herdade com coutada no Alentejo profundo. Esse usa parte do dinheiro para proporcionar vida de rico a uns quantos amigos. Falei nele a propósito do Sócrates quando as pessoas se espantavam com o amigo do Sócrates que lhe proporcionava uma rica vida. Este de que falo é isso mas ainda em maior escala. Há um casal em especial mas também um outro, embora em menor escala, que conhecem o mundo e o que de melhor o mundo tem a oferecer porque o amigo rico e a mulher fazem questão que eles os acompanhem. Não vou entrar em pormenores mas a amizade que liga aquelas pessoas faria ficar de olhos arregalados muito boa gente. Há quem veja oportunismo nos beneficiários. Do que conheço, o que há é já uma habituação mútua. Os que dão gostam de dar e os que recebem já o acham natural. Muita gente que os conhece de longa data e sabe como, ao mesmo tempo que passam férias e fins de semana juntos, por vezes parecem cão e gato, frequentemente a discutirem, a contrariarem-se, a discordarem acesamente, dizem: relação de irmãos.

Outros o que compram é a possibilidade de, na sua vida pessoal, estarem quase isolados do mundo. Quase só convivem com a família e com um ou outro leal e raro amigo. O que precisam é-lhes levado. Jamais vão a supermercados ou lojas. As compras vão até eles. Cabeleireiros, modistas, massagistas, galeristas ou médicos vão a casa. Detestam confusão, vivem quase isolados. 

Sei de um, que já não está entre nós, que, sendo senhor de vasta e diversificada fortuna e de casas imensas (conheço duas delas e são extraordinárias, sem luxos absurdos mas de uma tal dimensão e bom gosto que são quase de cortar a respiração), tinha une petite amie, por sinal pessoa invulgar e simpatiquíssima, a quem comprou um pequeno apartamento onde passou a fazer parte da sua vida e onde ficava a cozinhar enquanto ela não chegava do trabalho.

Claro que há ricos e ricos. Haverá outro tipo de pessoas muito ricas que não estas de que falo. Por exemplo, o Cristiano Ronaldo. Compra carros, compra aviõezinhos, compra apartamentos, compra relógios caríssimos, compra roupa de griffe. Pu aquele dos barcos do Douro e da TVI que comprou uma viagem ao espaço. Não sei se foi ele que comprou se foi uma empresa dele mas isso também agora não vem ao caso, o que vem é a opção. Ir ao espaço. Queimar uma pipa de massa pela experiência de se montar num foguetão e pelo prazer em dar entrevistas, certamente pelo prazer de se achar o maior.

Aqueles de que acima falei são poupadinhos, jamais gastariam fortunas a ir ao espaço. 

Podem fazer uns passeios aqui ou ali, talvez até um ou outro cruzeiro pelo Mediterrâneo, umas férias na neve, mas nada de verdadeiramente extravagante. 

Nunca se ouve falar muito disso mas dá a ideia que o que gostam mesmo é de estar em casa com família e amigos. 

Mais depressa doam dinheiro anonimamente a associações que precisem de ajuda do que qualquer outra coisa que faça notícia. Também raramente dão entrevistas. Só as dão quando o rei faz anos e é tão a contragosto que a coisa nem corre lá muito bem. Não usam roupa com marcas à vista e, sempre que podem, andam com roupas velhas, pendonas. Um, no inverno, quando em registo informal, costuma usar um camisolão de malha, já todo assimétrico e com vários pegões. Aquilo já devia ter ido para o lixo há muito tempo mas acho que ele não repara nisso, deve achar que é confortável e que deve estar ainda muito bem. Têm relógios banais, usam canetas bic, nunca os ouvi gabarem-se de alguma coisa que tenham comprado. Mas se lhes falarem num azeite muito bom ou num vinho que não seja muito caro mas seja bom, aí já ficam interessados.

Há, em algumas pessoas, a ideia de que ser muito rico é coisa má, coisa que só pode resultar de exploração alheia ou de manigâncias pouco transparentes. Ou que uma pessoa muito rica é uma pessoa estúpida, ignorante, fútil. Ora, como em todas as generalizações, isso é um erro. Haverá alguns que sim, alguns que não. Talvez os newcomers sejam predominantemente assim. Aqueles de que falei não são newcomers e não são seguramente assim. São pessoas normais. O facto de serem muito ricos não lhes corroeu a normalidade.

Não quero com isto estabelecer nenhuma doutrina nem pregar contra ou a favor. Digo apenas que as generalizações conduzem muitas vezes a conclusões erradas.

Tirando isso, o que penso é que o país está a ir na direcção correcta. Portugal começa a atrair investimento em mão de obra qualificada, em centros de investigação e desenvolvimento, e, com isso, o nível geral de vida tenderá a aumentar. E isso é bom. Os resultados não serão imediatos mas estou em crer que no prazo de uma meia dúzia de anos haverá menos assimetrias e menos pobreza no país. Não é saudável haver algumas pessoas muito ricas e muitas muito pobres e é contra isso que, de forma racional, construtiva e desapaixonada, temos que lutar.


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E, para terminar com um touch of bela vida, um vídeo que decorre em Portofino, num sítio muito bonito do qual guardo uma curiosa memória:

One-day Diary of Cara Delevingne at Dior Spa Portofino

Cara Delevingne relaxes in Dior at the luxury Dior pop-up wellness space in Paraggi complete with a Toile de Jouy spa treatment cabin right on the beach. Discovering the wonders of Portofino and live la dolce vita in the exclusive wellness spaces!


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Desejo-vos um rico dia de domingo.
Saúde. Sorrisos. Paz.

quinta-feira, maio 05, 2022

Topless, lingerie, espectacularidade, maluqueiras... sobrancelhas descoloradas... e muitos milhõ€$.

 

Volto ao tema do extraordinário desfile de vestimentas que, uma vez mais, teve lugar na mediática e global passadeira vermelha que é a Met Gala. Todos os grandes costureiros lá estão representados através de indumentárias que actrizes e modelos usam. O evento é temático e este ano o tema foi The Gilded Age. Contudo, as interpretações nem sempre são literais. Algumas são subversivas, outras são irónicas, outras mesmo cómicas.

Poderemos ter tendência a desvalorizar liminarmente eventos desta natureza. E, de facto, o mundo do glamour e dos holofotes é um mundo de aparências, de superficialidade, de vaidades. 

Mas é, ao mesmo tempo, uma poderosa indústria, uma actividade que obriga a um permanente exercício de criatividade a nível artístico e a imensos avanços de inovação a nível de materiais e de técnicas de confecção. Como uma das derivadas da alta-costura temos depois a poderosa indústria do pronto a vestir com toda a indústria têxtil e todo o comércio associados.

Como outra derivada, não negligenciável, há a comunicação social ligada à moda em si, aos eventos de moda, aos agentes e actores deste imenso e eterno carrossel.

Se ontem já aqui mostrei o vestido que a socialite Kim Kardashian usou, hoje mostro alguns dos outros modelos mais espectaculares. Destaco dois deles. Melhor: três.

Primeiro o vestido que Blake Lively usou, chegando com ele numa cor e, depois, ao desdobrar-se o laço, ficando com ele, sumptuoso, numa outra cor. 


Estava maravilhosa, com um vestido épico, um Versace de antologia, inspirado em Nova Iorque. 

Destaco também Cara Levingne, em Dior, que, ao despir o blaser, ficou em tronco nu, com o corpo pintado de dourado. Acho uma ideia fantástica. 

Acho que também estava uma graça, com os seus sapatos descarados e a sua insólita bengala (ver-se-á melhor no vídeo).

A terceira foi Gigi Hadid em Prada e Versace. Toda ela estava um espanto. É mais uma daquelas toilettes que ficará para a história. Imperial na cor, no design, no porte (é a primeira fotografia)

Como costuma acontecer nestas coisas, tão ou mais importantes do que a festa oficial são as after-parties às quais as celebridades comparecem com outras toilettes. Aqui imperou a moda que se dá ares de lingerie, sexy e louca, boa para a farra que se estende pela madrugada. Vários foram os modelos aparentemente mais adequados a um ambiente de boudoir do que de copos e fotos noite dentro. De entre eles destaco o que Bella Hadid (irmã de Gigi) usou.

Uma das mais badaladas foi a festa organizada por Naomi Campbell e Kate Moss que agora gosta de aparecer com ar bem comportado, comedida, e que parece ter cedido o passo à sua filha Lila Grace que não tem, nem pensar, o ar malandro que tão bem caracterizava a sua espantosa mãe. 

Curiosamente, Lila Grace, que precisa de usar uma bomba de insulina, desfila com ela bem à vista (na anca), mostrando que na moda não deve haver limitações.

Uma das outras derivadas da indústria da moda tem a ver com a maquilhagem. Também aqui há uma poderosa indústria que tem que estar permanentemente a inovar. 

Desta vez a grande novidade a este nível teve a ver com as sobrancelhas. Tempos houve em que a moda era ter as sobrancelhas bem depiladas. As mulheres tinham que as ter fininhas, sem pelos a mais. Havia e há técnicas infalíveis desde arrancar os pelos com uma linha ou com um nylon, não sei, ou, mais definitivamente, a laser. Depois passámos a ter que ter sobrancelhas marcadas. Pensava eu que era aqui que ainda estávamos. Não há tutorial de maquilhagem que não reforce a cor, a espessura, não simule um desenho mais marcado. Há até quem faça implantes para não ter que andar a desenhá-las todos os dias. 

Como não sou muito disso, nunca fiz nada às minhas. Mas ultimamente, ao ver como devem maquilhar-se as mulheres da minha idade, já começava a interiorizar que deveria compensar as minhas sobrancelhas claras com algum tom que as tornasse mais visíveis. No outro dia, encontrei numa gaveta um lápis de eye liner em tom castanho e experimentei passá-lo nas sobrancelhas. Não gostei. Esbati com o dedo e fiquei a olhar-me ao espelho a ver se parecia mais actualizada. Fiquei na dúvida. Sobretudo achei que, apesar da subtileza, me mudava um bocado o semblante. Ora como tenho a impressão que o semblante tem um bocado a ver com a personalidade, limpei. Mas fiquei a pensar que havia de experimentar numa outra ocasião, a ver se já me encarava com outra abertura de espírito.

Pois bem, nem mais: este ano várias participantes na Met Gala apareceram várias com sobrancelhas descoloradas, despercebidas.

Dizem que abre a expressão, que alisa a sobriedade e abre espaço à sensualidade de um olhar que se mostra nu. Fiquei mais consolada e a pensar que escuso de insistir no reforço das minhas.

[.... Tudo coisas à toa, sem grande profundidade... bem sei... mas é o que há]

The 10 best dressed from the Met Gala 2022 | Bazaar UK


Desejo-vos um dia tão bom quanto possível
Bons sonhos. Boa sorte. Paz.

quarta-feira, junho 23, 2021

A casa de Cara -- e uma certa passagem secreta

 



Trabalhei num sítio. Era um edifício que, por fora, quase parecia normal. Mas não era. A primeira vez que lá fui, foi para ir a uma entrevista. Tinha respondido a um anúncio. O meu pai, num fim de semana, tinha-me levado um recorte do Diário de Notícias. Foi a primeira vez que respondi a um anúncio. Escrevi uma carta à mão e nessa carta devo ter escrito que era professora e que estava a acabar a licenciatura. Devo ter escrito as minhas notas pois pouco mais tinha a dizer. Na volta recebi uma carta a convocar-me para a entrevista. Lá fui. Jeans, blusinha de verão, sandálias, sacola de palhinha, descontração. 

Ao entrar no edifício, fiquei impressionada. Um átrio enorme, enorme, todo em pedra que reluzia, um pé de direito gigante, esculturas e grandes pinturas. Não imaginava que uma empresa pudesse ter uma entrada assim.

Fui seleccionada. No primeiro dia em que fui trabalhar, mandaram-me apresentar num outro sítio, no posto médico e depois no serviço de Pessoal. Aí coloquei todas as questões que, antes, na entrevista e quando me comunicaram que tinha sido seleccionada, nem me tinha ocorrido perguntar.

Mais tarde, contaram-me, a rir, que tinham ficado espantados com as perguntas daquela miúda que se tinha apresentado ao trabalho sem saber se ia como efectiva ou a prazo ou outras questões do género. Nem sei se sabia quanto ia ganhar. E perguntei-o nesse dia pois ia recomendada para não me esquecer pois, quando amigos ou família me faziam perguntas, não sabia nada desses 'pormenores'.

Na altura não fui trabalhar para esse grande edifício. Antes de lá chegar trabalhei em dois outros sítios, qualquer deles marcantes. De qualquer deles guardo gratas memórias. Um dia conto.

Se não estou em erro, foi ao fim de uns sete anos que me mudei para lá. E não fui logo para a ala onde viria a trabalhar durante mais anos, uma ala ampla, um largo corredor todo em mármore, primeiro num gabinete, depois num outro que teria uma área que era cerca do triplo do anterior. De qualquer deles via-se o largo rio. Uma maravilha. Tempos gloriosos. E saudosos.

Nesse edifício havia zonas restritas. Uma delas parecia ser composta por um conjunto de apartamentos, cada apartamento composto por gabinete, sala de reuniões, casa de banho completa, incluindo banheira e duche, sala de espera, gabinete da Secretária e antecâmara.

Outra zona, igualmente restrita mas não tanto, era composta por sala de reuniões with a beautiful view, restaurante, dizia-se que o melhor de Lisboa, biblioteca, sala de estar.

Nessa biblioteca, toda composta por obras de referência, algumas raras, todas preciosamente encadernadas em pele e letras douradas, havia uma estante, igual a todas as outras, que escondia uma porta secreta. Um dia, em segredo, mostraram-me. Passando por essa porta secreta ia dar-se a um compartimento que parecia apenas um compartimento. Mas não era. De lá havia uma outra porta secreta. E dali havia saída quer para o telhado quer para uma escada privativa que, por sua vez, ia dar a uma saída para a rua num sítio absolutamente insuspeito.

De vez em quando passo lá à porta. Tem agora outros donos e outra finalidade. Não faço ideia como estará o seu interior e se esses caminhos secretos se mantêm. Há lugares a que gostaria de um dia poder voltar, e esse seria seguramente um deles.

E lembrei-me disto ao ver o vídeo abaixo. 

Acho um piadão a Cara Delevingne. Já aqui a tive várias vezes e, certamente, mais vezes cá voltará. Tem 28 anos, é modelo, actriz (e canta). Sexualmente fluida, já se lhe conheceram alguns amores de ambos os sexos. Cara não cabe em nenhuma caixa. 

Fisicamente é também um ser em evolução. Os seus cabelos já foram louros, quase brancos, escuros, ruivos, castanhos, compridos, curtos. Já se mostrou sexy, desportiva, bad girl, clássica. Ela diverte-se e não conhece limites. Mas já passou pelo tormento da depressão e já publicamente, de forma aberta e descomplexada, falou disso.

A sua casa é obviamente a sua cara -- e isto não é um trocadilho. Irreverente, louca, sexy, provocante, romântica, divertida: assim é ela, assim é a sua casa. 

Cara é inglesa mas a casa que aqui nos mostra não é propriamente british style. Pelo contrário, é ousada, teatral, cinéfila, bem L.A. 

A passagem secreta de sua casa -- em que se entra por uma vagina e se sai por uma máquina de lavar -- é das coisas mais loucas e divertidas que já vi. Aliás, a sua extraordinária casa é toda ela um excesso, uma alegria, uma casa que é, ela própria, uma companhia para quem lá habita.


Está para fazer dois anos que já aqui tinha mostrado a casa em que, então, ela morava com a mana Poppy. Agora encontramos algumas peças e arranjos que já se viam no outro vídeo, tal como voltamos a ver os seus amorosos cãezinhos. Só não encontramos a irmã. Não sei se a casa ainda é a casa das duas ou se agora vive sozinha. Aliás, ela queixa-se de que agora passa muito tempo sozinha e percebe-se que tem a ver com a pandemia, mas também fala no plural e não sei se se refere apenas a ela, a Leo e a Alfie. A casa não parece ser casa para uma só pessoa pois o que parece destinado à celebração pode virar quase uma provocação se for assombrada pela solidão. Mas, enfim, disso não sei pelo que não vale a pena especular. 

Vale a pena, sim, ver o que é uma casa que mais parece uma homenagem à criatividade mais desbragada e ao espírito livre de quem parece destinado a ser eternamente jovem.

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Inside
Cara Delevingne's Fantastical L.A. Home | Open Door | Architectural Digest


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Desejo-vos um dia feliz

quinta-feira, outubro 17, 2019


A ansiedade de Cara, a bela, e outros casos.
E mitos e verdades sobre a depressão


Porque penso que os exemplos de quem consegue lidar com os seus estados de ansiedade e de quem consegue ultrapassar as crises depressivas são relevantes, partilho o vídeo no qual a modelo Cara Delevingne fala da sua experiência de depressão e ansiedade. 


E porque neste tipo de doenças -- que ainda se encontram envoltas em tabus e que envergonham ou assustam quem as sofre -- é importante que se perceba que há mais quem tenha passado por isso e que ajuda falar, pedir apoio, procurar tratamento, deixo o link para um artigo em que se fala de 30 pessoas famosas que já passaram por elas. E ponho o link para este artigo porque este tipo de pessoas costuma ser visto como se sempre rodeadas de brilho e glamour e, afinal, sofrem dos mesmos problemas que toda a gente.


Hugh Laurie, o Dr. House, 'herdou' a depressão da mãe
e começou a ser depressivo na adolescência
(aspecto para o qual a Luísa tem chamado a minha atenção)

Acresce que estes exemplos ilustram bem uma das características que aparentemente é comum: a capacidade que as pessoas com depressão ou ansiedade têm de disfarçar e que lhes permite apresentarem-se perante os outros como pessoas sempre felizes, desenvoltas, bem dispostas, bem resolvidas. Talvez seja mesmo aquela coisa que o funâmbulo refere: a imposição da ditadura do sucesso e da sua jocosa irmã, a animação 24/7.

Mas se conhecesse outros casos, de gente anónima, que me parecessem ser também um bom exemplo, também deles me faria eco.

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A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva e o psicólogo Alex Rocha falam de
 Depressão - mitos e verdades 


E aqui falam de Suicídio 
(e falar nisto, segundo leio e ouço, nomeadamente neste vídeo, pode ajuda a evitá-lo)

Falemos -- sem vergonha, sem culpas
(como refere a Isabel Pires)



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Não respondi aos comentários nos posts abaixo pois acho que eles falam por si e terão mais força se puderem respirar sem palavras minhas a atrapalhar. Mas a todos muito agradeço. As vossas palavras são muito importantes e acredito que tocarão muito especialmente alguns dos que por aqui nos acompanham. Muito obrigada.

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E a todos desejo um dia muito bom.

quarta-feira, agosto 21, 2019

A casinha das manas Poppy & Cara.
E alguns dedos de prosa a propósito disto, de casas.







Bem, repetir-me-ei se disser que gosto imenso de decoração. Tal como aqui já uma vez contei, em conversa com a Isabel, tenho um movelzinho cheio de revistas de decoração. Art et Décoration, por exemplo. Ou a Casa Cláudia, também por exemplo. Ou a Casa e Jardim. E outras. Tudo coisas que demonstram à saciedade que sou vcc. Mas, desde tempos imemoriais, sempre gostei. E muitas vezes gosto até mais das casas que são o oposto das minhas. Não interessa. Gosto, mesmo que não tenha nada a ver comigo. Se bem que isto de 'ter a ver comigo' tem que se lhe diga. É que mudo. Pode haver coisas de que eu gostava antes e que hoje já pouco ou nada me dizem. 

Por exemplo. Ainda hoje estive vai que não vai para comprar um vestido que, até não há muito, seria incapaz sequer de supor a hipótese de o usar. Hoje até o provei. E gostei de me ver, caraças. Mas é de tal forma extravagante, tem tais cores, é todo ele tão extraordinário que me parece encaixar em mim que nem uma luva. Só não comprei porque o vestido é tão bonito e tão vistoso que não estou a ver que o pudesse repetir muito. Ora estar a comprar um vestido para apenas o vestir quando o rei faz anos, quando ainda por cima nem rei temos, parece-me coisa para quem é dado a luxos, o que não é de todo o meu caso. Mas isto para dizer que me vi dentro daquele vestido e gostei -- quando antes tinha que ser vestido simples, justo, quiçá em preto. Com as casas a mesma coisa. Saísse-me o euromilhões e era ver a casa que eu ia ter. O oposto desta em que estou. No entanto, gosto da minha. Só que acho que a casa cristalizou no tempo e eu não. 
Mas acontece-me ir a casas de outras pessoas e, sem querer, dar por mim a pensar: aquele espelho está acima demais, aquele móvel devia mudar de sítio, aqueles sofás são escuros de mais. E, confesso, é com esforço que me mantenho de bico calado. Bem, na casa dos meus filhos volta e meia dou palpites. É mais forte que eu.

Quando mudámos de casa ou quando andávamos à procura de uma casa de campo vi montes, resmas, paletes de casas.
Já o contei. Repito-me. Sorry.
Mas ficava estarrecida com o que via. Há casas que revelam a vida triste dos que lá vivem. Há casas que mostram quão fictícias são as vidas dos que lá se esforçam por parecer felizes. Há casas que deprimem quem lá entra, nem que apenas por minutos.

Não me lembro se já contei sobre uma casa que me deu muita tristeza. Era uma casa grande, envolta por um jardim relvado. Quem mostrou a casa foi a dona. Uma mulher bonita, vistosa, platinada, bem maquilhada, bem vestida. A casa, mal entrei, deu-me vontade de fugir. Um hall enorme. Chão aos losangos de mármore em preto e branco. Vitrais nas paredes. Uma escadaria hollywoodesca. Uma sala grande com uns sofás de veludo em preto com almofadas também em veludo, umas em dourado e outras, se bem me lembro, rosa choque. Na sala de jantar, uma mesa de vidro com grandes pés dourados. E uns jarrões gigantes que não me lembro se eram chineses ou achinesados. E aquele chão que só por si canibalizava qualquer decoração. E lá em cima os quartos com grandes cortinados vaporosos e uma colcha com folhos. Tudo uma coisa do além, tudo a pretender ser ofuscante, tudo too much. Um kitsch copioso, quase opressivo. E, então, a senhora, comovida, contou que era com grande desgosto que ia separar-se daquela casa de sonho, uma casa que tão carinhosamente tinha decorado. O marido tinha arranjado outra, tinha saído de casa, estavam a divorciar-se, ela não podia conservar a casa. Estava de rastos.


Tive muita pena. Devo ter dito que compreendia o desgosto, e compreendia mesmo, mas escondi tudo o que pensava pois o que, sobretudo, pensava é que aquela casa era um cenário impossível, uma ficção, ali não seria possível viver uma vida a sério. E quase apostava que a senhora era daquelas que quer manter sempre a casa imaculada, nem uma almofada torta, nunca uma toalha molhada, amarfanhada a um canto do toalheiro.
E digo isto, detestando a maneira como o meu marido põe a toalha no toalheiro. Mas, ao fim de algum tempo, desisti. Que se lixe a toalha. Não vou estar a maçá-lo a ele e a mim por causa de uma toalha. E almofadas fora do sítio, cá em casa é mato. Isso e tudo. Mas a casa daquela senhora era notoriamente o cenário de um filme do qual o actor principal fugiu -- melhor, em que qualquer actor fugiria.
Isto para dizer que as casas são importantes na vida das pessoas. Têm que ser boas para acolher a vida, têm que saber respeitar a vida de quem lá vive. E é bom que deixem entrar a luz e o ar, que gostem de movimento, de desarrumação, que tenham cor e que, simultaneamente, sejam lugares, também, de recolhimento e serenidade. Se, pelo contrário, rejeitam as manifestações de vida ou tentam domesticá-la, então, não são casas, são prisões, são gaiolas, são armadilhas, são uma caixa cheia de tristezas. 

Podia ir, aqui, agora, para enfeitar o texto, fazer umas fotografias às minhas almofadas, às minhas caixinhas de música, às minhas clepsidras, às minhas pequenas ânforas de vidro fosco e cor de água, às minhas molduras com gente desalinhada lá dentro, aos meus livros. Mas não me apetece. Estive até agora com um olho no burro e outro no cigano, deliciada a ver um dos meus programas de eleição, a Prova Oral do Alvim. Já vos contei que adoro o Alvim? Love, love, love. Tudo o que é maluco me encanta. E hoje teve lá outro dos meus malucos de estimação, o Pedro Paixão. Que bom, o Alvim e o Paixão juntos. Um pitéu. Um piteuzaço.

E agora, mal o Paixão acabou a leitura do texto sobre o seu amor adormecido (coisa mais boa de ouvir...), virei para o Alone. Está a dar o último episódio. Emocionante. O David vai ganhar. Quem diria? O mais inábil, aquele que eu achei que não ia aguentar. Foi a força da vontade de obter o dinheiro para pagar os estudos dos filhos, foi a força do grande amor que sempre demonstrou por eles e da vontade de os compensar por nunca lhes ter podido dar o que eles precisavam.

Por isso, já estão a ver, não é fácil levantar-me e fazer uma reportagem fotográfica caseira.


Passo, então, à fantástica casa das manas Delevigne, a Poppy e a Cara. Lá está: acho que nunca decoraria a minha casa assim. Acho. Mas sei lá. Até porque, por acaso, até gosto. Caraças. Gosto mesmo. São da casa delas as fotografias que aqui coloquei. E a graça delas...?



Não é tão gira, a little casinha delas?

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Quanto à perspectiva de mais uma greve do Pardal só tenho a dizer que não há pachorra. Enquanto as televisões continuarem a dar-lhe palco isto não vai parar porque é isto que ele quer: palco para poder exercer a sua agenda pessoal.

Isto vai sair do bolso dos pobres dos motoristas que andam a ser instrumentalizados e ainda não perceberam.

E, senhores juristas, uma questão de carácter geral: qual a forma legal de lidar com uma pessoa que pratica a sistemática manipulação ou o desvio da verdade? Pergunto.

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segunda-feira, outubro 15, 2018

O que valeu à Lady Louise é que ia com cuecas da avó.
Imagine-se se aquele golpe de vento revelava um descarado fio dental...



Como não podia deixar de ser, o casamento de Eugenie de York teve alguns momentos fortes. Um casamento das realezas é sempre um acontecimento mediático. Mesmo os republicanos não viram a cara quando uma princesa sobe ao altar. Está certo que todas as noivas, no dia do seu casamento, são umas princesas mas aquelas em cujas veias corre um sanguezinho azul são outra coisa. Não me perguntem porquê porque a minha sabedoria não chega para muito mais nestas matérias.

O pior mesmo foi o vento que ia levando os chapéus, os cabelos, os vestidos e as composturas pelos ares. Os polícias bem tentaram impor algum respeito, ali todos apertadinhos a guardarem o desfile, mas aquela maltinha estava ali mesmo para dar ar à pluma e, com ventinho, a coisa ainda corre mais de feição.


A noiva, que é uma simpatia, ia linda e, para começar, o vestido teve um elemento de surpresa que deixou toda a gente enternecida. Aos doze anos, Eugenie foi operada a um desvio da coluna e o vestido foi desenhado para que a grande cicatriz fosse gloriosamente mostrada. 


Gestos destes fazem mais pela autoestima de quem se envergonha das suas marcas do que mil preleções. É um lugar comum dizer que a beleza de uma pessoa é a que vem de dentro -- e ou se tem ou azarinho, nada a fazer, não há maquilhagem que disfarce a feiura interior -- mas acho que é mesmo verdade. Uma pessoa que se sente bem consigo própria olha em frente, emana uma luz que transporta a beleza. Rugas, cicatrizes, flacidez, peso a mais ou a menos, nada importa quando as pessoas se sentem seguras e disponíveis para ser felizes. Mas, enfim, não são horas para altas filosofias.

Adiante, pois.

Outro momento alto foi a chegada da mãe da noiva que vinha acompanhada pela outra filha. 


Sarah é uma labareda e não me refiro apenas à cor do cabelo. Sarah é excessiva, heterodoxa. Desafiou a disciplina férrea da família, portou-se mal, muito mal, andou às cavalitas de um amante, deixou que ele lhe lambesse os pés. Os tablóides iam dando cabo do coração da sogra com a fogosidade da mulher daquele filho, ele próprio danado para a brincadeira. Mas consta que o ex-marido continua a ser amigo e cúmplice da mãe das suas filhas. Sarah chegou de verde, exuberante, curvilínea, correu a cumprimentar alguém, correu a recuperar o caminho. Apesar de marginalizada pelo inner circle, Sarah mantém-se igual a si própria. Não consegue passar despercebida, nem tenta. E faz ela muito bem.

Claro que o desfile de toilettes e chapéus foi outro acontecimento. Um espanto. Monarquia à mistura com top models e com um toque de Hollywood -- uma inspiração. Ponho-me a ver isto e fico sem vontade de ir comentar a remodelação governamental ou outros funfuns e gaitinhas. Há lá tema mais perfumado do que um royal wedding?
O ministro não sei quê ou a nova ministra que é e não esconde ou a outra que disse o que os outros não disseram ou sei lá que mais... Bahhh. Que discreto charme é que isso tem? Nada. Bola. Usam capelina, elas? Fraque ou casaca, eles? Não...? Então, esqueçam. Não quero saber. O Costa que arrume a casa à vontade que eu não tenho nada a dizer. Acho que faz bem. Também ando numa de remodelações como ontem já disse.

O chapéu de Naomi Campbell era um espectáculo. Aliás todo o outfit era um espectáculo. E ela, linda. Cada vez está mais bonita. Uma verdadeira cougar. Os anos passam por ela com o único propósito de a deixarem melhor. Uma pantera real.

Mas, de tudo, aquilo de que mais gostei foi do chapéu de Poppy Delevingne. Que maravilha. Toda ela estava elegante e divertida. Aquele vestido. Caneco. Lindo. Ousado e lindo. O que eu adoraria poder usar um dia um chapéu assim. Do vestido não digo o mesmo porque teria que ter meia dúzia de quilos a menos e, claro, no mínimo cem anos também a menos. Só tenho pena é de, quando me casei, não haver nada disto. Se fosse hoje, a ver se não ia a bombar numa toilette de deixar todos de olhos em bico.


Por contraste, a mana Cara. Não poderiam ir mais diferentes. A rebelde Cara, que já namorou várias beldades, apareceu com sugestiva toilette masculina e... igualmente divertida.

Mas o momento mesmo inesquecível não foi o da chegada das cunhadas Kate e Meghan e os seus reais e esvoaçantes maridos,




... não foi a graça das crianças que acompanhavam os noivos, príncipezinhos e princezinhas, louros e realmente bonitos (entre os quais, o pequeno George, o possível futuro rei lá do burgo e a mana Charlotte que já revela que herdou o olhar malicioso da sua avó e, tal como ela, também uma real apetência pelo exercício do flirt),


... não foi o da chegada nonagenária Rainha e do seu companheiro de uma vida, ainda ambos bem autónomos, sem bengalas, ainda com energia para aguentar estas cenas que, parecendo que não, cansam, olá se cansam,


... o momento alto foi a subida da escadaria quando Lady Louise Mountbatten-Windsor, que ia a acompanhar as crianças, mostrou mais do que seria suposto. Um desafio. O vento não lhe deu descanso. 


As fotografias e o vídeo (da Madame Figaro) que tenho são mínimos mas talvez dê para ver: umas cuequinhas sem gracinha nenhuma, completamente ao léu. Uma graça de tão desengraçados aqueles culotes. A nobre Lady Louise de cueca à mostra para o mundo inteiro ver. Tanta etiqueta, tanta aula de protocolo, tanta regra, tantas nove horas... e afinal Lady Louise é uma jovem mulher como qualquer outra, usa cuecas e tudo. 

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Bem. E agora que já cumpri com a minha função de serviço público, vou ver as fotografias e os filmes que fiz de manhã e a seguir ao almoço, a ver se se aproveita alguma coisa. Temo que não, estava uma ventania, a voz nem se deve ouvir. E as fotografias não sei. Só se algum flamingo salvar a coisa.

Ou isso ou, se nada prestar, a ver se me ocorre alguma coisa apropriada de que possa falar. E claro que não vou falar das análises do Cagalhoças nem das lições majestáticas do Ex-Vice nem da brutal armadura dos óculos da Judite. Nada disso hoje me assiste. Temos pena.

Só lamento é que não esteja a chover. Nada me inspira mais do que estar aqui e ouvir a chuva a bater na janela. Agora assim. Uma monotonia. Só me apetece mesmo é falar de casamentos reais ou de outras reais pepineiras.

segunda-feira, julho 31, 2017

A entrevista do Marcelo ao DN -- não li, não ouvi, não vi.
Bombas atómicas, conversetas alusivas nem sei bem a quê e o escambau...? Ná. Não me apetececeu.
Apeteceu-me, antes, ver a Cara Delevingne a desenhar pessoas nuas.
Capaz de ser aquela coisa da silly season




No post abaixo já vos contei a minha fona de roda da carumba e no truca-truca com o serrote a ver se dava cabo dos ramiosques.

Dizia-vos eu, no textozeco, que a ver se, decorrido um dia, não aparecia desasada. Está bem, está. Ainda vinte e quatro horas não estão decorridas e um dos ombros já está a dar sinal. A ver. Antes de me deitar, ponho uma pomada. Os meus pais diziam 'dar uma fricção'. Acho que agora já se renderam a outras técnicas ou, então, mudaram de vocabulário. Isto a minha mãe que o meu pai já pouco fala. Sou um bocado dada a tendinites, a ver se não dei cabo do ombro. Ou seja, isto de se pensar que a vida no campo dá saúde deve ser encarado com alguma precaução.

Nos entretantos, a minha filha já aqui esteve a vir buscar os figos que tinha deixado esquecidos in heaven. O mais crescido péla-se e, no sábado, debaixo de um calor de ananases, quis ir à cata deles. Fomos as duas com ele e com a demais companhia limitada (limitada aos miúdos, que o resto do pessoal não é maluco e deixou-se estar no bem-bom, à fresca). Mas os figos ainda não estão no ponto. Só apanhámos para aí um quilo deles e é se for. No fim, ficaram lá. Mas o seu a seu dono e deu cá um salto a apanhá-los. Meu rico menino.


E eu já comi alguns, ainda pouco maduros, directamente da figueira. Mornos e meio verdes. Mas carnudos, belos. Não resisti. Adoro figos. Têm calorias que se fartam. Se a nutricionista soubesse destes meus apetites pelo interdito mudava de táctica. Assim, coitada, confia na minha disciplina.

Agora que tenho aquela balança linda, elegantésima, toda xpto, que me ofereceram pelos anos, até fico triste comigo. Com uma precisão obsessiva, a balança não perdoa um grama. Mas a intimidação que provém do rigor dos números, chapando-me na cara o meu peso sem arredondamentos, tudo até às milésimas, não é suficiente. Tanto zelo nutricional para agora, perante um pratito de figos (hoje, antes de vir, fui caçar mais uns quantos para trazer para mim), mostrar que estou pronta para esquecer todo o esforço transacto. Só me apetece devorá-los, com casca e tudo. É o meu lado animal. Nada a fazer.

E, com isto, ao cirandar pelos onlines, não estive afim do Marcelo. Li as gordas e chegou. Mais do mesmo. Prosa e circunstância. Se calhar tudo acertado, não digo que não, mas, a mim, ou a coisa me cheira a fresca ou vai de volta.  Noutro dia talvez eu aguentasse os recados ou as alusões. Hoje, nem pó.


Preferi antes a frescura irreverente da maluca da Cara. Tanto aparece feminina e sexy como arrapazada, assexuada, tanto parece uma sedutora infalível como uma 'não estou nem aí'. Se na fotografia lá de cima a tínhamos numa de femme fatale (avant la lettre, vá), no vídeo abaixo aparece com o look actual, menina-rapazinho algo traquinas. Vê-se o vídeo e fica-se bem disposto. Não fala de orçamentos nem de bombas atómicas nem de nada que se preste a ser referido pelo Marques Mendes na sua charla dominical que também já não se aguenta. Ou seja, o vídeo com a aula de desenho tem graça, não chateia, ninguém o comentará e, por conseguinte, aos meus olhos tem potencial. Se quiserem acompanhar-me, bora nessa, acho que não se perde nada em a gente pousar aqui os olhos.

Cara Delevingne Draws Nude Models | Vanity Fair



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segunda-feira, maio 15, 2017

O segredo das meninas





Na escola primária onde eu andava, tínhamos aulas de ginástica que eram muito variadas. Umas eram ao ar livre, dadas no campo de futebol que lá havia ao pé, outras no pavilhão desportivo, outras no campo de vólei onde também fazíamos basketball. De vólei nunca gostei mas adorava basket. Também gostava de ginástica. O meu corpo era flexível e ágil e eu gostava de o usar. No entanto, nunca fui capaz de fazer o pino senão com ajuda, parece que tinha medo de tombar para trás e partir-me ao meio. De saltos e corridas também gostava muito. Saltos em altura nem por isso mas em comprimento adorava. No verão íamos para a praia e aí nadávamos e mergulhávamos.


Ele não dava aulas a uma única turma de cada vez. Não. Juntava várias salas e, com a ajuda das professoras, conseguia movimentar toda aquela gentinha, meninos e meninas, uns mais pequenos, outros mais crescidos. Era às quartas-feiras de maanhã, a manhã toda.

Este professor introduziu ainda outra novidade.
Naquela altura, o leite que eu bebia era leite que uma leiteira ia vender a casa da minha mãe. E a minha mãe depois fervia-o num fervedor de alumínio. Quando esfriava, ficava uma película em cima que era retirada. Se calhava eu achar algum bocado daquela pele, eu que odiava leite, ficava agoniadíssima. O leite tinha sempre que passar por um coador. Na escola também nos davam lanche, leite do mesmo género, leite directamente do produtor. Tal como em minha casa, também ali misturavam Ovomaltine para os que não passavam sem isso, tal como eu, senão eram vómitos consecutivos.
Mas esse professor de ginástica trouxe a novidade das garrafinhas de leite Ucal. A meio da manhã de quarta-feira havia um período de descanso. Entre a mudança de actividades, tínhamos que nos sentar e, obrigatoriamente, ir à caixa buscar uma garrafa de leite. Não era daquelas de leite com chocolate que pouco depois conheci e de que fiquei a gostar até hoje. Aquelas eram só de leite e o leite tinha um sabor que me nauseava até às entranhas. Uma professora ensinou-me a conter a respiração e eu assim fazia, tentando beber de penalti numas quantas jogadas. Era o momento de horror naquelas manhãs de que eu tanto gostava.


Mas estes dias tinham uma outra particularidade.

Era normal, na altura, as crianças entrarem para a primária aos sete anos e era também normal algumas não passarem de classe. Tinha colegas uns anos mais velhas, que não ligavam a mínima aos estudos nem se importavam de ser repetentes e isso era coisa que era encarada com naturalidade. Uma delas encontrei há uns anos num restaurante. O restaurante era dela, o marido estava a atender  e ela a chefiar a cozinha. Eu gostava muito dela. Tinha uma irmã gémea, igualmente desligada dos estudos mas que costurava lindamente e fazia fatinhos para as bonecas e para os gatos. Eu achava-as o máximo, sabiam mil vezes mais que eu.


Com rapazes o mesmo. Havia alguns já bem crescidos. Um de que eu gostava imenso fazia toda a espécie de maluquices, andava sempre escalavrado. Uma vez ouvimos bater à porta. A professora abriu a porta e entrou uma senhora, mulher do povo (digamos assim) que, sem o mínimo rebuço, foi lá para pedir à professora para dar ao filho as tareias que fossem necessárias porque a ela, por mais que lhe batesse, ele não lhe tinha já medo nenhum. A professora até ficou emburrada com aquele destempero, dizia que não, que tal não era necessário. E ela insistia que era, que lhe desse com a régua, que lhe desse bofetadas, o que fosse preciso porque, se ele não passasse no exame da 4ª classe, ela tirava-o da escola porque estava farta das desobediências dele. Ele enfiado, os olhos em baixo. Depois do desacato, ela saíu de rompante, da mesma forma como tinha entrado. Fiquei com pena dele. Nunca me passaria pela cabeça que uma mãe pudesse ser assim. Quando contei em casa, a minha mãe também professora, disse com um certo ar de pena: 'Eles, às vezes, fazem-nos perder a cabeça e a vontade é mesmo dar-lhes uns sopapos mas daí até se passar à prática... '

Mas, portanto, nessas aulas a que genericamente chamávamos de ginástica, havia miúdos de diferentes idades. No fim, dividíamo-nos por sexo e íamos tomar banho nos balneários.


E aí era sempre uma festa. Teria eu portanto sete ou oito ou nove anos e estava no balneário com meninas que poderiam ter dez, onze ou doze anos, sei lá se, mesmo mais. O balneário não tinha compartimentos. Eram duas paredes com chuveiros em fiada. Estavamos ao lado umas das outras e de frente para as que estavam na fieira da outra parede. E era uma festa, uma descoberta. Algumas ds mais crescidas, que já começavam a ter maminhas ou pelinhos, tinham pudor, não queriam ser observadas. Mas algumas, mais descaradas, gostavam de exibir o seu desenvolvimento. Por vezes perseguiam as mais pudicas, puxavam-lhes os braços para que todas as pudessem ver. Fugiam umas atrás de outras, havia risos, gritinhos. Lembro-me que, uma vez, uma das meninas mais crescidas não queria tomar banho, dizia que não podia, não queria tirar as cuecas. As outras puxavam-lhe as cuecas, ela já chorava, que não podia. Por vim, já lutavam no chão. Depois, entre lágrimas, ela confessou: estava com a 'coisa'. Eu não sabia do que ela falava. As outras ficaram todas muito curiosas. Ela passou a ser a mais importante. E eu, mesmo sem saber porquê, percebi que isso deveria ser um factor de hierarquização e respeitei, aceitei a sua superioridade, passei a olhá-la com alguma admiração, tentando descobrir mais indícios dessa tal marca distintiva.

Por essa altura o meu corpo era completamente impúbere e era com curiosidade que observava o que se passava no corpo das minhas colegas. Estranhamente não me lembro do que eu fazia nesses duches, provavelmente era um mundo ainda tão distante que me limitava a observar.


Depois dos banhos, umas penteavam as outras. Depois trocavam de roupas, miravam-se, desfilavam, ajudavam-se, umas às outras, a vestir-se. Algumas levavam batons escondidos no fundo do saco de ginástica. Punham umas às outras. Mas a ideia que guardo é que era tudo feito muito à pressa para que ninguém desconfiasse, tudo entre risinhos nervosos e malícias que despontavam. Depois, mal chegavam à porta do balneário, limpavam os lábios, cúmplices. Aí já estávamos todas mais calmas, saíamos de lá a conversar e a rir, desejando que chegasse a próxima quarta-feira.

Nunca comentávamos isto com ninguém. Aquele era um espaço de intimidade e descoberda que era vivido em segredo. Nunca falei nisto até hoje.

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Lembrei-me disto ao ver o vídeo abaixo no qual o fotógrafo Alasdair McLellan fotografa alguns dos novos rostos da moda internacional, aqueles que têm sabido mostrar ter voz própria: The Voices of a New Generation. Algumas dessas modelos estão nas fotografias que escolhi para ilustrar as minhas recordações.


Alasdair’s Girls by Alasdair McLellan and Katie Grand --- para a Love Magazine



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Lá em cima Bernardo Sassetti interpreta Inocência.

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E, se ainda o não fizeram, convido-vos a descer até Silêncio e Tanta Gente.

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