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quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Dia de Carnaval in heaven

 


Pois o que tenho a dizer é que, mal abri a porta, senti o frio que vinha lá de dentro. Frio, frio, frio. E húmido. Uma coisa mesmo desconfortável. Tanto tempo fechada e logo na altura em que a temperatura esteve tão baixa, não admira que tenha guardado o frio nas paredes e no ar interior. Melhor na rua que dentro de casa.

No chão, algumas laranjas, nenhuma em bom estado. Apanhei as que subsistiam na laranjeira. Só uma é que tinha laranjas. Na tangerineira ainda duas pequenas tangerinas. Mexericas, escreveu-me no outro dia quem disse que estava a beber um chá com casquinhas de mexerica. Ela, ao cheirar as mexericas que lhes tínhamos dado, disse que cheirava a bergamota. E é. Cheirinho fresco, cítrico, floral, delicado.

Os folhados estão floridos, lindos, lindos. Parecem bouquets de noivar. 

Ao contrário do que temíamos, o mato não está assustador. Andámos à caça de tojo e, enquanto eu fotografava aqueles curiosos folhos que nascem nos troncos cortados, ele cortava silvas e tojo. 

Mas não são apenas folhos, alguns esverdeados, outros em tom acobreado. Há outros seres que brotam de troncos aparentemente mortos. Não sei se são cogumelos, líquenes, fungos, habitantes de um mundo oculto, vestígios de flores que não chegaram a ser, vultos brancos que irradiam luz nas noites em que os lobos saem em busca de sombras. Não sei. Fotografo tentando adivinhar.

Há muitos musgos. São lindos, de um verde sumptuoso de que gostaria de me vestir. Têm em cima folhinhas, pedrinhas, pequenas pétalas. Um mundo de recordações. Fotografo encantada. 

O silêncio ali é mais silêncio. Os pássaros ali cantam em maior inocência e liberdade. A serra envolta em neblina, mal se via, em toda a volta. Um vulto imponente, uma presença magnífica, quase apenas imaginada.

Um prazer tão tranquilo, estar ali. Uma largueza, uma quietude, uma paz.

Depois, não sei porquê, olhei em volta e deu-me uma daquelas minhas que não sei de onde vêm mas que se impõem, de imediato, como incontornáveis: uma vontade de mudança. Neste caso, mais simples do que da última vez: pintar tudo. A casa é uma casa de campo, rústica. De origem, as paredes são rugosas. Não gosto, nunca gostei. São práticas, sempre me disseram. Mais fáceis de manter, disseram-me. Mas nada disso me convenceu. O que me convenceu foi dizerem-me que era preciso lixar tudo, estucar de raiz. Demorado. Muito pó. Uma maçada prolongada. Avessa a maçadas e, ainda por cima, prolongadas, fui tolerando, pois. Até hoje. Hoje deu-me uma impaciência. As teias de aranha infiltram-se nas rugosidades. Maçada é manter as paredes sem teias de aranha. Tudo liso, branco, simples, isso sim. E não só. Também as portas e os rodapés brancos. Tudo mais claro. E, de repente, olhei para o quarto e tive vontade de também me desfazer dos móveis antigos. Pareceu-me escuro. Se calhar é porque o tempo estava cinzento, com ar de quem quer chover. Mas achei que a culpa também era da mobília. Já não gosto de coisas que não sejam luminosas, claras. Depois olhei para a sala de jantar e tive vontade de pô-la também toda branca. Mas aí travei-me. Falei ao meu marido. Assustou-se. Receia estes meus ímpetos. Quando pensa que estamos a entrar num tempo de alguma acalmia, apareço eu com vontade de tsunamis. E, no que se refere em concreto à sala de jantar, não lhe parece bem que fique em branco. Gosta dos móveis. Também eu: são muito bonitos, de boa madeira, invulgares, até. Talvez se puser um tampo de mármore no aparador já aclare. Mas a mesa, que é tão bonita, já é pequena demais. Tenho que pensar no caso da sala de jantar até porque liga com a zona da lareira e aí há cadeirões e banquetas que não são propriamente brancos ou minimalistas.

Mas o resto, incluindo paredes exteriores, telheiro, portões -- tudo a precisar de limpeza, de pintura. Quiçá algumas janelas também novas. Estão a precisar. Quando fui fechar janelas da parte mais antiga, estavam um bocado empenadas. São de madeira, vidro simples. Não queria desfazer-me delas, sempre as achei bonitas. Mas já não estão com nada. Hoje reconheci-o.

Claro que esta altura não ajuda nada. Não nos podemos deslocar facilmente. Esta terça-feira fomos até lá porque podia circular-se entre concelhos, porque fomos de casa a casa, porque temos que enviar contagem de água e electricidade, porque estávamos preocupados com o mato, porque queríamos certificar-nos que estava tudo bem com a casa. 

Bem, para dizer a verdade, fizemos uma pequena paragem pelo meio. Passámos por casa da minha mãe. Levei-lhe uma camisola que lhe tinha dado pelo Natal e que lhe estava apertada. Troquei-a logo a seguir mas já não consegui levá-la. Hoje, sim. E queria ensiná-la a tirar fotografias com o telemóvel e anexá-las a mails. E queria ensiná-la a usar a lanterna do telemóvel, E, claro, queria estar com ela. Desde o Natal que, tirando as video-conferências, não a via. 

Está óptima, estava toda bonita, tinha estado a ter aulas na universidade sénior. Gostei de revê-la. Foi por pouco tempo porque todos os cuidados são poucos. E estivemos de máscara, claro. E, tão ou mais importante, com as janelas abertas.

Tenho ainda a declarar uma coisa: quando íamos a passar ao pé daquela tasca ao lado da bomba de gasolina onde, antes, às vezes íamos comer caracóis, choco frito e outros petiscos, deu-me uma vontade enorme e achei que poderiam ter take away. O meu marido achou que eu era maluca, nem queria parar. Mas, face à minha insistência, fez-me a vontade. Lá fui. A porta estava aberta mas com uma mesa à porta. Lá dentro escuro. Ao ver-me, a dona, que estava sentada a uma mesa, levantou-se. 'Têm comida para levar?', perguntei. A senhora, que é também quem atende na bomba, olhou para mim com um ar espantadíssimo e, passados uns segundos, disse com ar de quem nem percebia a pergunta: Não....!

Quando entrei no carro, sujeitei-me àquele riso de gozo que tão bem conheço: 'Não me digas... não têm take away...?'. E, pronto, foi isto. 

Continuei a leitura vagarosa das cartas de RMR mas hoje já não vou pôr-me para aqui a transcrevê-las, não é?

Vou pregar para outra freguesia até porque daqui a nada tenho que estar a pé. Mas, antes de me ir, gostava de partilhar um vídeo que está em fase com a minha disposição: leve, pronta para tempos melhores, com vontade de dançar, vontade de rir, vontade de renovação.

Rudolf Nureyev e Anthony Dowell 

[em Valentino]

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Se me permitem, recomendo que desçam até ao post seguinte pois é de futuro que ali se fala

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Desejo-vos um dia feliz


sábado, fevereiro 18, 2012

Passos Coelho e o desemprego; Cavaco Silva, os meninos da Escola António Arroio e um apelo a que se façam mais (meninos); Pedro Reis do AICEP e as buzzwords mais maçadoras e inúteis que há. E, a seguir, Nigel Farage, as marionetas e os vilões que governam a Europa; a declaração do político gay; e Rudolph Nureyev e o Muppet Show


Sou assim. Sou optimista, lutadora, gosto de defender vigorosamente o meu ponto de vista, sou bem disposta, adoro rir à gargalhada, até as lágrimas de preferência, entusiasmo-me com os desafios, sempre curiosa com o que é novo, sempre predisposta a encarar com tolerância a maluquice desde que pacífica (que me atrai mais que a vulgaridade comezinha) – mas sou assim se estiver bem. E geralmente estou. 

Acho sempre que há solução para tudo: fecha-se uma porta, abre-se uma janela, chega-se ao fim de um caminho, dá-se a volta e vai-se por outro, e raramente desisto ou desanimo. 

Por pouco cinéfilos ou pouco literários que estes estados de alma sejam, é assim que sou. Mas se algum rude golpe me atinge onde sou mais vulnerável, então fico com a energia no nível mínimo. E isso prende-se sempre com a morte, aí quando não há mesmo nada a fazer, em que a única saída é aceitar, é reajustar a vida encaixando essa perda, e depois seguir em frente.

Foi o que aconteceu esta semana. Down, down, down. Uma tristeza muito grande seguida de um cansaço devastador. 

Mas eis que, ao fim de três dias e de nove horas de sono profundo (de quinta para sexta-feira), me sinto a recuperar e a voltar ao normal.

Submersa por uma situação que absorveu todo o meu tempo e disponiblidade, mal dei pelas notícias.

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Sei que o desemprego oficial já está nos 14%, não contabilizando umas centenas de milhares de pessoas - ouvi mesmo falar num milhão de pessoas. Uma tragédia. Passos Coelho diz que ainda vai ser pior. Um País a ser governado contra o povo. Um País de velhos, reformados, de pobres, de desempregados, de espoliados, a ser governado por um grupo de pessoas que faz tudo ao contrário do que devia e que, mais grave ainda, não faz a mínima ideia do que anda a fazer. Um perigo. Mais um buraco negro na história deste País.

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Um dia à noite, a esse respeito, acho eu, ouvi o Luís Filipe Menezes, com ar compenetrado de grande político e com aquele seu ar vagamente chorão, a dizer que era normal que isto acontecesse e que ainda ia piorar e que era natural que assim fosse, que aos anos de regabofe se seguisse agora este período de punição e sofrimento (bom… ele, obviamente, não usou estes termos). Mas eu, apesar do estado em que estava, ainda consegui sentir um incómodo. 

Mas quem é este senhor para falar assim? À frente de uma autarquia altamente endividada, quem é ele para vir agora falar assim? E que sabe ele de políticas económicas ou de história económica para andar por aí a perorar a favor destas políticas miserabilistas?

Esta gente ainda não percebeu que não é com miserabilismo que se corrige a situação de desequilíbrio em que vivemos? Que não sabem a teoria já nós damos de barato. Mas não conseguem perceber com a observação dos casos práticos? Não vêem o que se está a passar na Grécia e em todo lado em que a economia é sorvida pela austeridade?

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Também me dei conta que, sabendo que havia uma manif à porta da António Arroio, Cavaco Silva deu meia volta e recolheu aos aposentos. E se não foi isso, também não se sabe o que foi. Um faits divers sem importância que apenas é chato porque deveríamos ter um presidente forte (face à fraqueza do governo que temos) e não um personagem que se desgastasse em sucessivas peripécias infelizes. Mas enfim, poupemo-lo para ver se um dia que seja preciso, ainda podemos contar com ele.

Hoje parece que andou, à porta fechada, a discutir com uns artistas convidados, a melhor forma de incentivar os portugueses a procriar. Fica-lhe bem e é uma causa inteligente. Mas, uma vez mais, são coisas ad hoc, desintegradas, que acontecem no meio das maiores contradições. Cavaco quer que se façam filhos, o Governo diz que os filhos mal estejam criados devem pôr-se ao fresco. É a chamada soma nula.

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Há pouco estava na SIC N a ver o Expresso da Meia-Noite e ouvi um pouco aquele senhor, um gémeo separado à nascença (embora com alguns anitos de diferença, coisa que, para o caso, pouca diferença faz) de Freitas do Amaral, Pedro Reis de seu nome, actual responsável pelo AICEP, e que, só de ouvir, se percebe logo que pouco mais sabe do que citar jargões, buzzwords estafadas, e tudo com ar blasé, voz de betinho afectado: um desastre. Quem fala assim não merece confiança de quem se move no mundo dos negócios reais e as notícias do que se está a passar no País fazem mesmo temer o pior (ainda hoje a Peugeot revela que vai despedir mais 350 pessoas). O País precisa de acção e de inteligência e só vejo disto.

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Passeei pela blogosfera e também poucas novidades. Aqui e ali uns apontamentos mas nada de muito entusiasmante porque nada de entusiasmante acontece por estas bandas. Divagações, recordações, dissertações, acomodações, alienações, provocações e pouco mais. 

Mas como outra coisa quando o País definha entediadamente?

O País envelhece, deprime-se, empobrece - e tudo pacificamente, no meio do maior spleen.

Por delicadeza deixamos que nos estraguem a vida, é o que é (quase como aconteceu ao outro, ao Rimbaud, o que dizia que par délicatesse j'ai perdu ma vie). Assim estamos nós. Que maçada.
  
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Ora bem. Apetece-me gente que parta a louça. Ou que faça qualquer outra coisa com piada. Vamos?



Não haverá por cá nenhum dissidente do género do Nigel que parta a louça toda nas sessões com o Doce Coelho, com o Relvas, com o engenheiro civil Moedas (que gosta de se travestir de expert económico-financeiro) e com o Gas-pa-ri-to?


Oh senhores....não? Mas nem um ministro ou deputado que venha assumir publicamente, com uma mulher matrafona ao lado, um deslize numa casa de banho...? Nada? Não temos por cá ninguém que nos faça rir?


Por amor da santa... !
Ok, já nem peço políticos...
Mas nem ao menos um bailarino que pegue na Popota Merkel e a faça rodopiar assim....?
Estamos assim tão mal?
Já batemos mesmo no fundo? Ui....
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Divirtam-se meus Caros e tenham um bom sábado!