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quinta-feira, agosto 29, 2024

Super best sellers

 

Tenho que confessar: nunca li nada do Stephen King. Não posso dizer se é bom, se é mau. Sei que os seus livros vendem-se como pipocas saltitantes e que há filmes, feitos a partir dos livros, que foram outros tantos sucessos. Também nunca vi nenhum. Provavelmente é preconceito meu. Achando que sou uma mente aberta tenho, contudo que reconhecer que os preconceitos que tenho são mais que muitos. O género, as capas, as cores, tudo ali me afasta. Contudo, vendem-se aos milhões. Deve ser a melhor recompensa para um escritor. E, na volta, se calhar, se me afoitasse, sentir-me-ia surpreendida.

Em relação a Marguerite Duras, escritora também de milhões e de cujos livros também se fizeram filmes (pelo menos de O amante), não tenho preconceitos e já li vários livros. E gosto bastante. 

Imagino que não poderiam ser mais diferentes um do outro. 

Mas que sei eu?

Têm, contudo, em comum -- e isso acho que não oferece dúvidas --, o gosto pela escrita. Falo no presente em relação a ambos embora a Duras já lá esteja faz tempo. Mas os escritores, os bons, são eternos.

Talvez ela seja mais autobiográfica, quase confessional, talvez burile mais a escrita tentando ficcionar a sua própria vida ou a dos que lhe eram mais próximos, enquanto Stephen, aparentemente, tem uma ideia enquanto enfia a primeira perna das calças e, quando enfia a segunda, já está a história concluída na sua cabeça.

Seja como for, gosto sempre de ouvir os escritores. Tenho para mim que os que o são mesmo têm qualquer coisa em si que os torna especiais. Mas também posso estar enganada, claro.

Stephen King reflects on his iconic career and latest release 'You Like It Darker'

Stephen King, has gone on to write more than 60 books and many have been turned into such films as “The Shining” and “Shawshank Redemption.” Jeffrey Brown spoke with King about his latest book, “You Like It Darker,” and the long arc of his career. 

Une vie : Marguerite Duras

"Je crois que l’homme sera littéralement noyé dans l’information. Dans une information constante." Résistante, femme de lettres insoumise et engagée, Marguerite Duras était aussi une visionnaire. 


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Quanto à escolha de Miss Swaps para comissária europeia parece-me coerente com a grunhice e o papalvismo da AD

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Um dia bom

quarta-feira, setembro 10, 2014

O que é a beleza? O que é uma mulher bonita? E se a beleza for fruto da maquilhagem ou de plásticas? E é isso relevante para o amor? Ou para alguma coisa?


No post a seguir falo do primeiro debate televisivo antes das primárias entre os dois candidatos à liderança do PS. Judite Sousa, essa mulher que está a revelar ter rara fibra, moderou as contendas. Debates como estes não esclarecem nada em termos programáticos, dois minutos para cada resposta não dão para aprofundar coisa alguma, mas, em contrapartida, desvendam de forma algo brutal o que é a personalidade e o carácter dos candidatos. António Costa e António José Seguro, de certa forma, desnudaram-se perante nós.


Mas isso é a seguir.

Aqui, agora, retomo o texto que há uns dois dias já tinha começado. Já está um pouco fora de tempo. Vim do Algarve no sábado à tarde mas parece que já foi noutra era. O tempo na cidade corre muito depressa. Por isso, é hoje ou nunca que o completo.

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Um hotel grande e cheio é uma espécie de micro cosmos. Gosto de observar tudo e, muito em especial, as pessoas. Tivesse eu mais descaramento, pedia autorização para fotografar algumas pessoas e fazia-lhes perguntas, tentava perceber a sua história. 









No outro dia, na piscina interior que é a que prefiro quando o tempo cá fora está fresco, estava um casal que podia ser árabe ou talvez indiano, não consegui perceber bem nem pelo tom de pele ou feições nem pela língua que falavam. Mas deveriam ser muçulmanos: ambos vestidos de preto, sentados na escada da piscina, dentro de água. Ele tinha calções justos pelo joelho e blusa de mangas compridas, ela calças justas até aos tornozelos, blusa de gola quase alta e mangas compridas, tudo justo, de lycra, e uma criança de uns cinco ou seis anos também vestida de alto abaixo mas de azul. A criança tinha medo da água, estava com um colete insuflado e não largava os pais. Os pais sorriam. Quando passei por eles, e passei várias vezes, eles sorriam-me e eu sorria para eles. Depois eu fui pôr-me debaixo de uma das cascatas e ela sorria e falavam ambos a sorrir, enquanto olhavam para mim. Quando saí, ela foi a andar pela piscina e foi lá pôr-se, sorrindo imenso, sorrindo para mim como que contente por estar a fazer o mesmo que me tinha visto fazer e o marido sorrindo para ela. A criança chorava desalmadamente ao ver a mãe debaixo daquele cacho de água mas eles sorriam. Depois o marido tentou nadar mas não sabia, dava umas braçadas com grande falta de jeito mas sorria e a mulher sorria para ele. Não estava mais ninguém na piscina, eles estavam à vontade e eu também lhes sorria quando eles sorriam. Poderiam parecer ridículos assim naqueles propósitos mas, a meus olhos, não achei nem um pouco. Fiquei a simpatizar com eles. Quanta diferença para eles a nossa cultura e, no entanto, ali estavam numa situação de compromisso, todos vestidos dentro de água mas tão enternecidos um com o outro.


Passado um bocado chegou um homem enorme, andar confiante, um bocado gordo, seria talvez um alemão. Mas tão alto era que quase não parecia gordo. Nessa altura o casal com a criança saíu da água e foram-se embora, embrulhados em toalhas.

Meio mundo anda agora com tatuagens, nuns casos só se vê quando estão despidos mas há casos de pernas e braços que desfeiam completamente quem os tem. Flores, pássaros, tartarugas, símbolos orientais, frases, desenhos que não entendo. Mulheres com aspecto normal e com as pernas e braços tatuados de alto a baixo. Fica estranho, não vejo beleza naquilo. E, no entanto, lá andam com manifesta auto-confiança, achando belo aquilo que eu acho feio.

Mas o dito grandalhão tinha uma tatuagem horrenda. Uma cara de bebé em tamanho natural e com as cores de uma cara de bebé, cara cor de rosa, cabelo louro, olhos azuis. Mas feio de dar dó. Ora o estúpido é que a criança poderia até não ser feia mas, com a barriga do pai dilatada como estava, a criança parecia deformada, estranha, desumana. Que ideia mais estúpida a daquele homem. Devia ser a cada do filho ou filha em bebé mas deve ter-se esquecido que, para a criança se conservar linda como devia ser, ele teria que se manter esbelto como era quando se fez tatuar. Imagino a cara daquele bebé quando o pai tiver refegos ou peles no lugar da barriga. No entanto, ele, se calhar, ainda gosta de se ver com aquele rosto com aspecto aterrador gravado no seu corpo. Imagine-se, se um dia se separa e volta a arranjar namorada, o susto de horror que ela soltará quando o homem se despir. Credo. E, no entanto, ele parecia ostentar aquela obra de arte com orgulho, como se achasse bonito, como se se achasse bonito com aquilo.


Mas aquilo de que eu me estava a lembrar quando comecei a escrever isto era de um casal de idade indefinida. Não eram já novos, eu diria que uns quarenta e muitos, ele talvez já passasse dos cinquenta e ela, se os não tinha, andaria perto. Ambos pouco dotados em termos de beleza. Num homem disfarça mais - este era mal jeitoso, mal acabado, mas a coisa não era dramática - mas nas mulheres a coisa fica mais exposta. Coitada, mesmo feiinha, cabelo muito fraco e baço, boca com um riso feio, as gengivas de fora quando se ria, pele com problemas, toda ela feiinha mesmo. Tinham um filho, um menino de uns sete ou oito anos, também não muito bonito mas muito simpático, que ambos tratavam com desvelo de avós. Ao princípio, pensei que eram os avós do menino mas logo ouvi a criança a tratá-los por pais. Mas o que me enterneceu mesmo foi o amor entre eles, sorriam-se, trocavam olhares cúmplices, volta e meia as mãos tocavam-se, um afecto indisfarçável. Quando ela se levantava para ir buscar alguma coisa, ele ficava a segui-la, nitidamente achando-a linda. A beleza deles passou para plano muito secundário depois de assistir à ternura entre aquelas três pessoas. De cada vez que o miúdo dizia alguma coisa, eles sorriam embevecidos e olhavam na minha direcção como que para ver se eu tinha ouvido aquilo que eles achavam uma prova da inteligência ou graça do filho. E eu sorria também, para que soubessem que tinha testemunhado o momento e que compreendia a razão de tanto embevecimento.


Sempre trabalhei em empresas com muitas mulheres (não em funções de gestão mas noutras). Havendo muitas, há de todos os tipos. Tenho constatado que é normal que as mulheres feias e mal jeitosas, tenham vidas conjugais mais estáveis e, aparentemente, mais felizes do que as que são espampanantes.

Sempre houve mulheres que se destacaram. Lembro-me, em particular, de uma que era (e ainda deve ser) o chamado avião, aquilo a que dantes se chamava uma brasa. Toda ela, da cabeça aos pés. Ela sabia disso e usava e abusava da sua beleza e do seu corpo escultural. Toda ela era um convite explícito. Eram-lhe atribuídos inúmeros romances e sei, de fonte certa, porque era notório que sim e porque ela o confessou a outros que não fizeram disso segredo, que teve vários casos com vários homens casados, geralmente colegas com posições de relevo na empresa. E, no entanto, com aquele corpo e aquela cara de pecado, devia ser das poucas que não tinha marido, namorado ou relacionamento de que falasse (talvez porque eram sempre clandestinos). Talvez seja a síndrome das mulheres belas demais: são tão desejadas que às tantas querem tudo o que se lhes oferece de bandeja, ou esperam sempre que algum deles largue a respectiva mulher para ficar com ela e geralmente não largam. Era tão bela e, no entanto, aparentemente, tinha uma vida afectiva menos realizada do que as amigas feias com quem trocava truques de maquilhagem. Volta e meia ia para o corredor perto da casa de banho telefonar e por várias vezes a ouvia a discutir, que tu não tens razão, que porque é que dizes isso, que diz lá o que é que eu disse para tu dizeres isso. Mudavam os affaires mas os dramas eram sempre do mesmo tipo.


Vi e fotografei vários casais passeando na praia, especialmente casais de alguma idade. Noto que se tornam quase parecidos tal a afinidade entre eles. Enternecem-me os casais que, apesar da idade avançada, caminham de mãos dadas ou que vão andando e conversando, as palavras como elos de afecto que se vão desdobrando e abraçando aqueles corpos moldados pelo tempo. Interrogo-me sempre: porque é que se desprezam os velhos apenas porque são velhos? Porque se pretende que, por serem velhos, não devem expressar opiniões públicas? Porque se acha que ficam ridículos os velhos se manifestarem jovialidade? Porque é que as mulheres escondem ou disfarçam a idade? Uma mulher ou um homem podem ser tão belos, sendo velhos, enrugados. E a opinião de um velho é preciosa: ela contém uma vida inteira de vivência, contém despojamento, verdade, compaixão.


... & ...



Não sei bem qual a moral da história. Nem sei se há grande ligação entre tudo isto que fui escrevendo sem grandes preocupações de coerência. Não sou boa com coisas do foro da moral. O que sei é que a beleza não é livre trânsito para coisa nenhuma e que ninguém deve sentir-se infeliz por não seguir os cânones de beleza, tal como ninguém se deve tornar vítima da procura de um ideal de beleza que, muitas vezes, é artificial. E sei também que a beleza - em abstracto - é indefinível. Quem o feio ama, bonito lhe parece.

Nesta era de revistas de moda e beleza para todos os gostos, de blogues que têm milhares de visitas diárias por divulgarem dietas, truques de maquilhagem ou sítios onde se vende roupa da moda, há uma campanha que despertou a minha atenção. Chama-se Stop The Beauty Madness e anuncia-se dizendo:


There Comes A Time When You Have Simply Had Enough
Enough of the impossible standards. Enough of the "ideal" image. Most of all, enough of the feeling of NOT ENOUGH when it comes to your own beauty. There also comes a time when an entire culture of women have had it. When blogs and ad campaigns and AS-IS selfie pictures start to change the rules of the game.


Algumas mulheres já aceitaram divulgar as suas fotografias sem maquilhagem e a surpresa é grande. Afinal a beleza que desperta inveja é muitas vezes construída. De facto, quando se levantam, têm as mesmas imperfeição que qualquer mulher normal tem. Algumas já se expuseram: Jennifer Lopes, Kate Perry, Gwyneth Paltrow. Susana Vieira. E muitas mais.







Depois desta conversa e destas imagens todas, e para rematar, escrevi uma frase que tinha a ver com felicidade, beleza, genuinidade, afecto. Mas depois apaguei, soava-me a lugar comum. Não é que as principais linhas mestras da vida sejam incomuns ou apenas possam ser expressas através da grande literatura ou de pensamentos profundos mas, enfim, para dizer o óbvio mais vale ficar calada.


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A canção lá em cima é interpretada por Marta Dias com António Chainho e chama-se Fadinho Simples.

O último vídeo mostra um excerto do filme 'Cet amour-là' com Jeanne Moreau e Aymeric Demarigny fazendo, respectivamente, de Marguerite Duras, então uma mulher velha, e Yann Andréa, um homem jovem, seu amor e companheiro de fim de vida, aqui ao som de Capri, c'est fini. O filme baseia-se no livro homónimo de Yann de quem já em tempos aqui falei.

As primeiras imagens pertencem à campanha Stop the Beauty Madness e as últimas mostram actrizes conhecidas pela sua beleza e sensualidade fotografadas sem e com maquilhagem.


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Relembro: sobre as minhas impressões a propósito do debate entre António Costa e António José Seguro na TVI com moderação de Judite Sousa, é favor descerem até ao post seguinte.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira!


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quinta-feira, novembro 07, 2013

Existem muitas histórias de amor no mundo mas talvez poucos amantes verdadeiros. Eu, cá por mim, capricho na conquista, no fogo da sedução.


Depois de, no post abaixo, ter falado de melancolia, aqui, agora, introduzo o tema do amor. Não uma dissertação que eu não sou doutora (nem sequer mestre) na matéria, apenas uma brevíssima introdução, nada mais que um amuse bouche.

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Há quem ostente ter amado muito e quem se acuse de ser incapaz de amar. Ambas as declarações, ainda que sinceras, denotam uma teatralidade suspeita.

Existem muitas histórias de amor no mundo - apaixonadas, dolorosas, violentas, de mau gosto - mas talvez poucos amantes verdadeiros.



Os mais suspeitos - quase sempre de boa fé como todos os feirantes, efectivamente inflamados e compenetrados do seu papel, quando impingem um pataco qualquer, mesmo sublime - são talvez os corações sempre à caça da paixão que os inebria e os dilacera, aqueles que sentem forte e poeticamente a sedução de toda a vida e do seu vertiginoso fluir e se enamoram de toda a flor no seu variegado desabrochar, de todo o rosto encantador, e de todo o sorriso fugidio, como a nós encanta a luz do meio-dia, o canto das cigarras, as primeiras campainhas-de-inverno.







Eu capricho na conquista
no fogo da sedução

Sou dama da minha vida
deixo nela a minha pista

Senhora de meu desejo
de meu prazer e paixão






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  • A escultura é Le Baiser de Rodin
  • a pintura é de François Boucher, Hercule et Omphale
  • o texto em itálico é parte da crónica 'Os défices do amor' de Claudio Magris in 'Alfabetos', 
  • o trailer refere-se ao filme L'Amant sobre obra homónima de Marguerite Duras. 
  • A poesia é 'Conquista' de Maria Teresa Horta in 'a Dama e o Unicórnio'. 
  • O graffitti 'Follow your heart' é de Banksy 
  • e a música é 'É o amor' de Maria Bethânia. 

Como diria o poliglota e inteligente Passos Coelho: isto é um menu. O amor para todos os gostos, senhores e senhoras.


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Se quiserem agora uma certa dose de melancolia, desçam, por favor, até ao post a seguir.

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Muito gostaria que dessem também uma vista de olhos ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje por lá tenho o Luís Quintais a quem o Pedro Mexia muito justamnete incluíu na colecção de poesia da Tinta da China. Por lá ainda, a seguir, encontrarão a música suave de Mayra Andrade.

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E, por hoje, é isto.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira.
De preferência com amor e pouca melancolia.

sexta-feira, outubro 07, 2011

José Castelo Branco e Lady Betty Grafstein, Duquesa de Alba e Alfonso Díez, Marguerite Duras e Yann Andréas - três heterodoxias extremas


José Castelo Branco, nascido em Moçambique em 1962, veio para Portugal quase criança, trabalhou como modelo e, mais tarde, foi Tatiana Romanova, drag queen no Trumps. Casou-se, teve um filho, divorciou-se. A sexualidade ambígua, o corpo torneado, as feições exóticas e um temperamento extrovertido levaram-no a festas sociais onde conheceu artistas plásticas, de quem acabou por se tornar quase agente e, daí, até se tornar marchand foi um passo.

Por essas andanças, foi conhecendo cada vez mais pessoas, foi entrando no mundo do dinheiro. Há cerca de 15 anos casou-se com a riquísima Betty Grafstein, dona de uma empresa de diamantes e design de jóias, a Grafstein Diamond Company que herdou do marido, um judeu americano já falecido. A firma é gerida pelo filho que, naturalmente, não vibra com o casamento da mãe. Lady Betty é muitos anos mais velha que José Castelo Branco mas não se conhece ao certo a sua idade. Residem entre Sintra e Nova Iorque.

Parece que agora meteu na cabeça ser artista, fez um disco, quer participar em espectáculos e à-vontade, graça e sensualidade são coisas que não lhe faltam. Faltar-lhe-á talento vocal mas isso, para ele, é pormenor e, se calhar, para o género, também é irrelevante. A Tatiana Romanova ainda lhe está na massa do sangue.

As festas em que ambos participam, os reality shows em que ele tem sido estrela dominante, o aspecto de ambos, feitos e refeitos em muitas plásticas, tornam-nos um casal mediático e objecto fácil de ridicularização generalizada.

Ele parece cada vez mais mulher, a última cirurgia que se lhe conhece, segundo ele, foi para fazer umas pommes. Diz que, quando a mulher morrer vai 'para um convento de bichas'. O aspecto dela também a torna alvo fácil de piadas. Tantas plásticas já deve ter feito que o rosto parece ter cristalizado num sorriso patético.


Agora estão ambos envolvidos em mais um filme: José Castelo Branco terá participado em orgias sado-masoquistas em hotéis de luxo, com a Senhora Dona Lady assistindo. Ela diz que não, que mal pode andar.

E toda a gente goza, dizendo que ele é um oportunista, que aquilo é um casamento interesseiro.

Pois eu acredito que sim, tal como todos os casamentos, cada um à sua maneira. Cada um que se casa pensa que vai para melhor. E cada um valoriza os factores à sua maneira (afecto, estabilidade emocional, estabilidade financeira, luxo, apenas amizade).

Ele, que gosta de luxo e de boa vida, beneficiará com o casamento mas acredito que sente carinho por ela. Mas ela tem, certamente, ao lado dele, um suplemento de juventude, de alegria, de vontade de ser bonita, de se arranjar. Com quem, se não com José Castelo Branco, ela circularia em festas animadas, com cantorias, roupas bonitas, maquilhagens, certamente toda a gente a dizer-lhe que está óptima, fantástica? E que mal tem isso, se ela se sentir feliz assim?

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Cayetana de Alba, conhecida por Duquesa de Alba, possui mais títulos do que qualquer outro nobre: é cinco vezes duquesa, dezoito vezes marquesa, vinte vezes condessa, viscondessa, condessa-duquesa e catorze vezes Grande de España.

Teve, no entanto, uma infância triste. Cedo ficou orfã de mãe. Depois, com o pai, exilaram-se em Inglaterra durante a Guerra Civil espanhola; mais tarde, sofreu na pele a 2ª guerra mundial.

Quando voltou a Espanha casou-se, num casamento divulgadíssimo, de luxo. Desse primeiro casamento nasceram os seis filhos.

Depois de enviuvar, em 1978, Cayetana voltou a casar-se com um ex-sacerdote onze anos mais novo que ela, causando na altura bastante escândalo. Mas foi um casamento feliz, o relacionamento entre ele e os filhos dela foi tranquilo, muito bem aceite por todos. Mas em 2001 Cayetana, Duquesa de Alba voltou a enviuvar.

E em 2008 começou a prenunciar-se o namoro entre ela e Alfonso Díez, vinte e cinco anos mais novo, ex-funcionário da Segurança Social. E agora, como amplamente divulgado, no dia 5 de outubro casaram-se.


Mais uma vez, há especulações, há boatos, fofoca, mas o que eu vejo é um casal feliz.

Claro que o rosto da Duquesa - que parece desfigurado provavelmente devido a excesso de plásticas ou enchimentos labiais a botox - se presta a piadolas.

Mas convém que se saiba que é uma mulher muito interessante, ligada às artes, foi modelo, musa e mecenas de pintores, apoia e dança o flamengo e é grande aficcionada de touradas. Ela própria pintava. Possui uma valiosíssima colecção de pintura de que fazem parte, é apenas a título de exemplo, Chagall, Renoir, Picasso.

E, ao ver as fotografias do casamento, com Doña Cayetana feliz, sorridente, um vestido mimoso e elegante, um bouquet tão bonito nas mãos, dançando flamengo, alegre, plena de graça e vitalidade, o marido batendo palmas, olhar carinhoso, o que vejo é um casal que vive a sua vida da melhor forma. Haverá algum mal nisso? Não vejo.
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Marguerite Donnadieu, cujo non de plume é Marguerite Duras (1914 - 1996) foi escritora, dramaturga e cineasta. Nasceu na Indochina francesa, depois dos pais terem ido para lá na sequência de uma campanha que houve em França aliciando os franceses a irem para trabalhar para esse território longínquo.

Contudo o pai adoeceu e morreu, era Marguerite ainda muito novinha. A mãe, que era professora, insistiu em ficar lá com os três filhos. Investiu os haveres numa propriedade remota no Camboja, mas o investimento correu mal e viveram em situação de pobreza.

Foi por essa altura que Marguerida, jovem adolescente, se enamorou por um chinês adulto tendo vivido um apaixonado romance. Deste amor, nasceram várias histórias (algumas relatando situações contraditórias, de alguma ambiguidade, mas sempre francamente sensuais) das quais a mais conhecida é O Amante, Prix Goncourt 1984, também passado a cinema, um filme muito interessante, carregado de um erotismo poético, digamos assim.

Aos 17 anos voltou a França para tirar o curso de Matemática mas desistiu, cursando antes Ciências Políticas e Direito. Adere ao Partido Comunista (de onde, mais tarde, viria a ser explulsa) e enceta uma activa vida política. Casa com um activista, que é deportado. Mais tarde divorciar-se-ão.

Marguerite começa a ter problemas de alcoolismo mas consegue manter-se intelectualmente activa. Entre livros, teatros, filmes, alguns relacionamentos, Marguerite conjuga estas actividades com problemas recorrentes com o alcool. Numa dessas crises, em 1980, telefona a um jovem admirador, que tinha tido contacto com a sua obra quando ainda estudante de filosofia, e que ela tinha conhecido uns meses antes. É Yann Lemée a quem ela tratará por Yann Andreas e que nos últimos cinco anos lhe tinha escrito inúmeras cartas, fascinado pelos seus livros, por ela.


Começa então uma relação de amizade, amor, dedicação, cuidado e carinho. Yann tem menos 38 anos que Marguerite e adora-a.

Durante dezasseis anos cuida dela, apoia-a, inspira-a. Talvez mais que uma relação meramente amorosa, é também, ou sobretudo, uma relação literária.

Yann começou também a escrever mas o reconhecimento apenas veio mais tarde, com o livro em que fala do amor que viveram. Chama-se 'C'est amour là' e foi também adaptado a cinema.


Pego agora nesse livro e leio-vos as primeiras palavras.

"Gostaria de vos falar disso: desses dezasseis anos entre o Verão de 80 e o dia 3 de março de 1996. Desses anos vividos com ela.

Só consigo dizer ela.

Continuo a ter dificuldade em dizer a palavra. Não consigo dizer o nome dela. Só escrevê-lo. Nunca consegui tratá-la por tu. Por vezes ela teria gostado. Que eu a tratasse por 'tu', que a chamasse pelo seu nome. Não me saía da boca, não conseguia. Desenvencilhava-me para não ter que pronunciar essa palavra. Para ela era um sofrimento, eu sabia-o, via-o, e contudo não conseguia fazer de outra maneira. Acho que aconteceu duas ou três vezes, tratei-a por 'tu' por distracção. E vejo o seu sorriso. A infância. Uma alegria perfeita. Por eu me ter permitido chegar a essa proximidade. "

Depois, perto do fim do livro, já depois de Marguerite ter partido, escreve:

"Estou só na cidade, de manhã, à tarde, à noite. À tarde e pela noite dentro, por vezes, tenho pena de estar assim, de não ir no automóvel preto ao longo do Sena, tenho pena de não ouvir o meu nome chamado por si, Yann onde está você, Yann, é preciso ir às compras ao mercado de Buci, Yann já não posso mais consigo, fique, não se vá embora, não fique triste quando eu morrer. Não acredito por um só momento em todas essas histórias da eternidade. (...) Sim, por vezes, a certas horas do dia e da noite, tenho esta saudade. Como uma tristeza que passa. Como um desgosto que volta a certas horas. Imprevisível. E depois escrevo-lhe."

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