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segunda-feira, julho 08, 2024

França agora e na hora de tomar decisões sobre o futuro

 

Não sei bem o que vai sair daqui mas, para já, os franceses levantaram-se e formaram uma muralha contra a extrema direita.

Espero bem que tudo se componha e recomponha no bom sentido. A Europa quer-se democrata, desenvolvida, civilizada, humanista, tolerante, inclusiva. Por muito que se apregoe, que se grite e se blasfeme ou prometa, estes são os valores que as pessoas de bem (seja lá o que isso quiser dizer...) devem preservar a todo o custo.

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A Marselhesa

segunda-feira, março 27, 2023

Marcelo. Macron. O sentido de estado.
[E, só porque sim, como um despropositado intróito, um pouco do meu dia]

 

Estou particularmente cansada, hoje. Quando chegámos a casa, ainda fui regar um pouco, talvez para conseguir ter alguma normalidade no dia ou levar a cabo alguma acção por minha decisão. Há vários dias que ando a reboque dos acontecimentos, horas fora de casa, sempre a sair cedo e a chegar tarde, sempre sem saber o que se segue. 

Quando cheguei a casa, depois de comer um iogurte ao qual juntei frutos secos (pois não tinha almoçado), sentei-me e, estafada como estava, adormeci. Ouvia, à minha volta, o urso cabeludo a ladrar freneticamente... mas o sono foi bem mais profundo, levou a melhor. 

Estava também expectante em relação à chegada do mais velho, que chegava de Paris, e que, fruto da confusão que por lá vai, tinha de lá partido com atraso. Isto depois de dias de farra e alta animação. E tinha pensado que tinha que acordar à hora dele chegar.

Quando o meu marido me foi acordar para ver se queria ir à rua passear com o dog pensei que não conseguia despertar de maneira nenhuma e, muito a custo, disse-lhe que fosse sem mim. Mas vi as horas, vi que estava quase na hora do avião aterrar. Fui logo ver o site. Ainda não tinha chegado.

Então forcei-me a levantar-me do cadeirão, bebi água e lá fui à rua, sempre agarrada ao telemóvel, a ver as mensagens e o site. Só aterrou cerca de meia hora depois. Aí respirei de alívio. 

E liguei à minha mãe a quem tinha deixado, um bocado antes, muito pouco animada, cheia de medos e ansiedades. Felizmente, já estava melhor.

Quando regressei a casa, fui fazer o jantar. 

Quando depois cheguei aqui ligou-me o jovem 'parisiense', rouco, rouco, radiante, feliz da vida, cheio de peripécias. Rico menino. Já quer lá voltar, diz que quer ir com os primos (e com o irmão, claro), quer ir repetir as aventuras, quer voltar a sentir a adrenalina das aventuras mais radicais. Quando tinha a idade dele e andava num ano lectivo equivalente ao dele, a minha excursão foi à Serra da Estrela. Agora vão a Paris. Outros tempos, outros tempos.

E agora estou aqui a lutar para me manter acordada mas não está fácil.

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Tenho andado para ver se conseguia falar de dois temas e gostava que fosse hoje. Vou tentar.

O primeiro tem a ver com as recentes medidas do Governo para mitigar as dificuldades económicas face à inflação, nomeadamente o aumento de 1% à função pública e à redução do IVA num conjunto de produtos essenciais, isto em conjunto com apoios a inquilinos de baixos rendimentos ou a quem tem créditos à habitação que não consegue suportar. E o que tenho a dizer é que, se for só isto, acho algo preocupante. Eu, numa situação de défice baixo, mais baixo do que o previsto, e com o crescimento do PIB acima do expectável, como meritoriamente aconteceu (e sinceros parabéns ao Governo!) centraria grande parte do esforço na redução da dívida. Sempre que se reduz a dívida poupam-se os custos dos seus encargos, libertando-os para outras áreas. Em contrapartida quando se aumentam custos, em especial custos fixos, pode estar a comprometer-se o futuro.

Ora não ouvi falar na redução da dívida e isso preocupa-me pois essa, em meu entender, deveria ser uma grande, grande, prioridade. 

Depois não sei se não se está a concentrar demasiado as ajudas nos sectores mais desfavorecidos, quase numa lógica de dádiva. Penso que fazê-lo de forma quase exclusiva é coisa de vistas curtas. O motor de uma economia é sempre a classe média. É a classe média que puxa pela classe mais baixa, e fá-lo numa lógica sustentável, criando empregos, gerando riqueza replicável. 

Ora parece-me que se está a agir demasiado numa lógica assistencialista e pouco numa lógica de desenvolvimento, de crescimento. E isso, a ser verdade, não é muito inteligente.

Contudo, mal tenho conseguido acompanhar as notícias pelo que posso apenas estar mal informada.

Além do mais, faz mal Marcelo em andar cegamente colado às sondagens e à opinião pública, pensando e actuando apenas numa lógica imediatista. Ele diz que é para contrabalançar a maioria absoluta mas eu acho que ele introduz confusão e ruído minando o terreno, pois, depois do que diz, deixa de ser possível ao Governo agir de forma racional, numa lógica de futuro.

O segundo tópico de que aqui quero falar tem a ver com o que se passa em Paris, com a rua em polvorosa contra a subida da idade da reforma. E o que tenho a dizer é que fico perplexa com aquela violência e disparate. Macron tem razão e nem sei como é que o sistema francês de pensões se aguenta com reformas aos 60, 61 ou 62 anos. Claro que, se não sobem a idade da reforma, é quase inevitável que, daqui por algum tempo, haja problema. Para além do mais, com a esperança de vida tão longa, que mal tem as pessoas trabalharem até aos 65 ou 66 ou mesmo 67 anos? Os actuais sessentas são os antigos cinquentas. 

Os cálculos relativos a pensões de reforma são cálculos complexos e dão sobretudo pelo nome genérico de cálculos actuariais. Há muito trabalho de simulação sobre modelos estatísticos e probabilísticos. E um dos factores que mais influencia os cálculos é, como não poderia deixar de ser, a esperança de vida. Se uma pessoa vive até aos noventa ou cem ou mais anos e se cada vez há mais pessoas a viverem muitos anos, tem que se ver bem de onde vem todo o dinheiro para lhes pagar. Por isso, quanto mais tarde se reformarem, menos pressão haverá. Claro que se a demografia for favorável com muito mais gente nova a trabalhar do que gente a receber a reforma, o problema estará mitigado. Mas acontece que em França (tal como em Portugal) a população vai envelhecendo sem que os novos se reproduzam ao ritmo necessário. Ajudam, nesta matéria, os imigrantes. Mas não chega. 

Não sei como é que Macron não consegue explicar uma coisa tão óbvia. Não sei se há aqui uma falha de comunicação da parte dele e do Governo ou se são os manifestantes que não querem perceber o óbvio. Os franceses deveriam era estar agradecidos a Macron. Ainda bem que ele é um estadista e não um catavento que gira ao sabor da opinião pública. 

Mas o que eu receio, ao ver aquelas inflamadas manifestações em que grande parte parece gente arruaceira, de baixa idade, é que os sindicatos e as ruas estejam infectados com agitadores que, como tem sido divulgado, poderão ter mão russa a agir na sombra para minar as democracias europeias.

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E para animar, um belo momento de dança e alegria.

Jerry Lewis Jitterbug


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Uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Boa sorte. Paz.

terça-feira, abril 19, 2022

Parem tudo! Qual Tony Ramos, qual carapuça... Peludo, peludo é o Emmanuel Macron! Puxa...

 

Está uma pessoa todo o dia a trabucar, envolta em avaliações e em planeamentos, pontos de situação, qui-pi-ais e outras coisas que tais quando, no final da jornada, ao espreitar as notícias, dá de caras com uma peitaça peluda, coisa só vista nos épicos tempos do Tony Ramos.

Uma pessoa pisca e catrapisca os olhos, incrédula, dizendo para com os seus botões: Uóta-faque?

E, então, constata que não é alucinação, não senhor, está mesmo diante da mais improvável das situações: a peitaça é do Emmanuel e a frondosa pelagem preta também.

De perna aberta, todo sorridente, o manganão mostra-se assim ao mundo: jovial, quase informal, bonito, pronto para ofuscar, sem hesitação, a amiga do Putin. 

Depois desta fotografia não sei de que é os franceses, em especial as francesas, vão falar: se da idade da reforma se da inesperadamente cabeluda campanha de Macron.


Força, Macron! Dá-lhe!

terça-feira, abril 16, 2019

Notre-Dame, minha nossa Senhora...!





Devo dizer que nunca entrei na catedral de Notre-Dame. Não tenho ideia das vezes que já visitei Paris mas sei que foram algumas e, no entanto, nunca tive disposição para ver alguns dos must see

Duas das vezes fomos com os meus filhos, uma quando eram pequenos e outra já adolescentes e, para além dessas vezes, só nós, várias em serviço da minha parte ou, sobretudo, a acompanhar o meu marido ou, ainda, em turismo. E, no entanto, nunca subi à Torre Eiffel nem nunca entrei em Notre-Dame nem sequer visitei por dentro o Arco do Triunfo. O meu marido acho que sim, com os miúdos, provavelmente numa altura em que eu devia estar ocupada em trabalho. 


As longas filas à volta de monumentos carregados de turistas funcionam, para mim, como repelentes. Fujo a sete pés. Se estivessem com pouca gente eu ainda me sentiria atraída. Agora assim, perder um dia -- ou meio que seja -- a andar a passo de caracol no meio de uma fila de macaquinhos entusiasmados, a fotografarem tudo o que mexe incluindo a si próprios, e depois chegar lá dentro para ficar submersa por uma horda de gente com auscultadores e máquinas fotográficas ou em bando compacto em torno de guias, vai para além do que consigo suportar.

Mas por fora, à volta, ou fotografando de perto ou de longe, conheço bem Notre-Dame. Aliás, fica bem na confluência dos bairros por onde mais gosto de andar. 


Vejo, pois, com angústia as imagens do incêndio.

Apesar de saber que, por dentro, muito daquilo deve ser combustível puro, custa-me perceber que não possam despejar água ou, não podendo ser água, qualquer outro produto que não destrua ainda mais mas que impeça a combustão de prosseguir. Mas acredito que haja alguma razão para os aviões ou os helicópteros não terem debelado o fogo em três tempos. Provavelmente a grande pressão dos jactos de água poderia comprometer a estrutura dos edifícios e presumo que estejam a querer salvá-la. Não acredito que a calamidade seja total, hão-de salvar a estrutura.


Há pouco ouvi o Miguel Sousa Tavares dizer na TVI que é como se os Jerónimos estivessem a arder. 

E é. Parte da memória colectiva de um país desaparece quando um desastre assim destrói, total ou parcialmente, um monumento que marca a história colectiva de um povo e define a geografia do local. E estou a ser contida pois não é apenas para os franceses e, em especial para os parisienses, que Notre-Dame é marcante. 

Li o 'abraço sentido' que Marcelo enviou a Macron e, como d'habitude, inspirado como sempre não soube ser contido:
"Caro Presidente Macron, meu Amigo: Uma dor que nos trespassa o olhar e logo nos marca a alma, Paris sempre Paris ferida na sua Catedral em chamas, um símbolo maior do imaginário coletivo a arder, uma tragédia francesa, europeia e mundial"

Mas, enfim, cada um é como cada qual. Eu não uso palavras que transmitam emoções superlativas para dizer o que sinto ao ver estas imagens. Fico-me pela tristeza.

E antecipo já a vontade dos franceses avançarem para a reconstrução e restauro, embora sabendo todos que há feridas que permanecerão abertas.

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Foi também Miguel Sousa Tavares que evocou Edith Piaf com a sua Notre-Dame de Paris

terça-feira, junho 19, 2018

François Hollande, o saudoso macho alfa da política francesa


Juro que há coisas que não consigo entender. Mesmo que passem anos, eu continuo a não perceber.

Quando se vê um casal em que não se aproveita nem um nem outro, a minha mãe comentava: há sempre uma meia rota para um pé coxo. Portanto, até aí tudo bem. Por exemplo, se o François Hollande se tivesse tomado de amores por uma matrafona ou por uma zinha qualquer eu não teria nada a dizer.

Assim, não é que tenha -- porque não tenho -- mas não consigo deixar de comentar que não entendo. Do que lhe conheço politicamente, não me parece alguém capaz nem de vender uma coca-cola no deserto quanto mais convencer um céptico a votar no Partido Socialista. 

Portanto, por elán intelectual, arroubo mental, ou entusiasmo partidário não é. E, do que salta à vista, enquanto homem, acho que nem um piropo ele seria capaz de arrancar às profissionais dos ditos, como, por exemplo, às vendedoras do Bolhão, quanto mais a mulheres normais. E mesmo que estivessem em estado de carência total, naquele estado de que se diz que estão capazes de matar cachorro a grito, nem assim eu consigo antever que alguém normal resolva suprir lacunas com um coisola como este pobre
coitado do Hollande.

Conta anedotas, dizem. Tem sempre uma adequada a cada circunstância. Ok, boa. Humor é fundamental. Mas, caneco, não basta. 

Um homem sem sentido de humor é tão grave como ter maozinhas de boneca como o Trump ou outras coisas igualmente grave. Mas se o humor é necessário, uma coisa garanto: não é suficiente. Se, tirando as anedotas, for um chato, se tiver a inteligência de uma galinha desmiolada e se fisicamente não passa de um galarucho emproado, então esqueçam.


E, no entanto, três mulheres inteligentes, bem informadas, independentes, giras, com tudo em cima -- Ségolène Royal, Valérie Trierweiler, Julie Gayet -- apaixonaram-se perdidamente por François Hollande.

E eu não percebo. Não per-ce-bo. Não mes-mo.


Na entrevista Thé ou Café, ele diz que as separações são dolorosas e faz o número do tadinho mas, que eu saiba, foi sempre ele que causou o rompimento por já andar enamorado por outra, causando cenas de ciúmes que me fazem pasmar. Não sou de fazer jura, de fazer aposta ou de me atravessar com afirmações que, mais tarde, me possam condenar mas caraças se não posso afirmar a pés juntos que nem que ele me aparecesse nu (ah, nu ainda deve ser pior), revestido a ouro (havia de ser lindo) ou habilitado a dar massagens dia e noite intercalando-as com recitais de poesia do mais fino recorte, nem assim eu me sentiria tentada a retirá-lo dos braços da agora Julie Gayet. 


segunda-feira, abril 16, 2018

Porque é que não digo nada sobe o ataque dos 3 estarolas à Síria em resposta a um ataque com armas químicas e mais não sei o quê com a Rússia à mistura....?
Eu explico.


The Bathers -- Ahmad Nashaat Alzuaby,1964

Não gosto de falar sobre o que não sei. E a verdade, verdadinha, é que não percebo boi do que se passa na Síria. Só sei que o que lá se passa não é coisa boa, nada, nada boa. Melhor: uma desgraça de todo o tamanho e, pior, sem contornos. Se quisesse remeter-me para o léxico topológico nem saberia enquadrar o que lá se passa, na melhor hipótese diria que se trata de um qualquer espaço homeomórfico que se transmuta consoante quem o olha.

Do nada que sei, não consigo apontar um dedo convicto ao suposto facínora Bashar al-Assad como sendo o único mau da fita tal como não consigo fazê-lo em relação a qualquer um dos outros, terroristas, extremistas, aliados ou bandidos.

Mas uma coisa eu sei e tem a ver comigo: não embarco no que me dizem quando a coisa não é óbvia e quando não têm provas para mostrar (excepto se for gente credível a toda a prova -- o que, convenhamos, está longe de ser o caso). 
Uns quantos resolveram atacar um país e fizeram-no por sua alta recriação; acontece que, ainda por cima, se trata de gente de índole mais do que duvidosa, gente doida, gente parva, gente a quem não se conhecem grandes escrúpulos, -- e isso a mim não me inspira qualquer confiança. 
O espaço político (ou palco de guerra, como se diz) é mais do que conturbado e de lá nunca a informação nos chega escorreita; do palhaço do Trump já mais do que conhecemos do que a casa gasta; sobre o Reino Unido sabemos também bem como aquela tropa anda a deitar a mão a qualquer farsa para afastar o mau olhado do Brexit e a baixíssima popularidade da desajeitada May. Portanto, desculpem mas não vou na cantiga disto de ter sido uma boa coisa terem atacado o arsenal químico da Síria. E não vou por todos os motivos e mais um, sendo que esse um é que podem ter atacado muita coisa mas um arsenal químico não atacaram de certezinha absoluta. Não sou a única a dizê-lo e estou bem acompanhada nisso: não apenas o Pata Negra como várias testemunhas, cientistas e vozes informadas.
Horse market, Syria -- Alberto Pasini, 1893

Portanto, havendo na minha mente a dúvida não esclarecida sobre se este ataque tem alguma coisa a ver com alguma coisa do que é dita ou se é mais uma patranha como a das armas de destruição maciça que justificaram a invasão do Iraque -- e, nessa altura, também com meio mundo a acreditar nos aldrabões que se juntaram nas Lajes pela mão do faxineiro Durão Barroso -- deixo-me ficar calada. Que fale quem souber do que fala.

Outra coisa que eu também não percebo bem é que ideia é a do Macron para meter a França nisto, ao lado do anormal do Trump e do caso-perdido da May. Mas, enfim, nestes tabuleiros tudo se joga e, portanto, alguma é -- e, provavelmente, não é boa.
[Nem por coincidência acabei de receber, por mail, um vídeo desmontando imagens e notícias, tentando demonstrar a manipulação pegada que dali nos chega. Mas como também não sei se é verdade ou não, agradeço a quem mo enviou mas, por via das dúvidas, não o mostro].
No meio disto tudo o que lamento, mas lamento de coração, é a destruição de tantas vidas e de tantas cidades. Houvesse maneira segura de interromper este ciclo de loucura e restaurar uma vida digna e feliz naquele país e era isso que eu apoiaria. Agora isto...?

Syria — Ruins by the Sea
Frederic Edwin Church, 1873/1874

domingo, julho 16, 2017

Quando os caranguejos atacam





Agora está a dar-me a fome. Ao fim do dia fomos petiscar. Comi caracóis como se não houvesse amanhã e não quis mais nada. Apenas comi o rabinho que sobrou de um dos pregos que aqueles esfaimados devoraram. Como, ao almoço, tinha tripudiado outra vez em cima da dieta e, inclusivamente, tinha comido uma generosa fatia de chocolatíssimo e os restos da da minha filha, resolvi que devia tentar contrabalançar. No espaço de três semanas já vamos na terceira festa. Quando os caranguejos começam a atacar é de seguida. E, ainda por cima, poucos dias antes de termos entrado na era caranguejeana, uma gémea também em festa. Portanto não há linha que aguente tamanhas tentações. Um autêntico festival gourmet que dura mais de um mês. Claro que, logo de seguida, sem dar tréguas, avançarão os leões. Uns poucos. Mas os caranguejos não se ficam por aqui. Aliás, de tarde, para desmoer, fomos uns quantos para a Decathlon para escolher presentes a pedido para o caranguejinho da semana que vem. Um filme. Um de trotineta, o outro a fazer do cesto com rodas um carrinho, o outro à cata de chuteiras e ela a falar muito alto, sempre com muitas coisas para dizer. E eu sempre a tentar contá-los, não vá algum tresmalhar-se. É certo que éramos quatro adultos para quatro crianças mas no meio daquela parafrenália de corredores, com tanta gente, é uma canseira. Além disso, um dos adultos também andava à procura de uma coisa e, portanto, para o efeito não contou. É que as crianças encaram a Decathlon como um gigante parque de diversões. E a tentação maior é irem para o sítio das bolas, tudo a jogar à bola. Verdade seja dita que até eu tentei encestar mas, talvez devido à desconcentração, atirei foi a bola para o corredor. 

Quando estávamos na caixa, eu exausta e o meu marido a queixar-se, 'estou estafado', a minha filha disse: 'pior será quando também vier o outro...'. Nem percebi: 'Qual outro?!'. Ora, pois claro, o bebé. Foi um dos que ficou em casa mas, do que dá para perceber, também vai ser fresco. Só quer andar ao alto, de preferência virado para a frente. No outro dia estava numa birra e eu, já sem conseguir calá-lo, perguntei à mana: 'O que é que a mãe faz quando ele está assim?'. Diz ela: 'Leva-o a ver as vistas'. Mas é mesmo. Quer estar à janela ou a cirandar, para ver tudo, mas não gosta de andar ao colo normalmente, só ao alto, com as costas encostadas a nós, para ver tudo de frente. Ou gosta de estar a ver de perto as brincadeiras dos outros. Ri-se como se estivesse a participar. 


Bem. 

Com isto, chegámos outra vez a casa já tarde. O meu marido queixa-se: 'Por isto ou por aquilo, um gajo nunca descansa'. É verdade.

Há bocado chamou-me. Ia comer alguma coisa, não queria eu também qualquer coisa? Não quis. Pensei que me aguentaria. Agora já foi deitar-se. Também, acorda cedíssimo. Mas a verdade é que está a dar-me a fome e acho que não me aguento sem ir à cozinha desforrar-me. Talvez fruta e umas amêndoas. 

Estou para aqui com esta conversa que não vos deve interessar para nada mas não tenho disposição para me pôr a falar de coisas espertas. De resto, nem sei o que são coisas espertas. Só as reconheço quando as vejo escritas em blogs alheios. Tanta gente sempre com vontade de  dizer coisas inteligentes ou profundas -- espanto-me com isso.

Adiante. A minha filha enviou-me um sms, quer ver fotografias de hoje e do outro dia. 

Já lhe enviei.
Mexem-se muito, vejo-me aflita para os apanhar sossegados. Quando estão na rua, luz com fartura, não há problema. Hoje, o almoço foi no quintal mas depois fomos para casa, em casa estava mais fresco. Além disso, encostaram as portadas para não dar o sol. Por isso, com pouca luz, não é fácil captar aquele revirote permanente. Mas fica o registo. E fica o testemunho de como crescem a olhos vistos. Ela também me enviou umas que me tirou com o bebé ao colo. Gosto, eu toda derretida e ele todo sorridente. Gosto muito de ter fotografias minhas com as crianças. Estou sempre a rir, a olhar para um, para outro. 
Bem. Vou interromper para ir morfar. Noutros tempos, comeria queijo com fruta, talvez um iogurte. Agora, os produtos lácteos estão interditos. Claro que volta e meia, rompo a interdição. Ainda hoje. Para levar, fiz uma espécie de tiropitas. Massa folhada. Ricotta e salmão fumado, um pouco de coentros picados -- isto para o recheio. Enrolo. Por cima, mel e sementes de sésamo e papoila. Vai ao forno. Fica uma delícia. Corto aos bocados. Ia lá eu fazer boquinha desinteressada a um petisco destes... eu não. Comi uns bocados, então não...? (E foi apenas um dos pecados, esse; outro o do chocolatíssimo; e fossem só esses...).


Pronto. Agora é que vou. Não sei se ainda volto porque também estou um pouco 'estafada'.

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A música é Julia dream dos Pink Floyd

As fotografias mostram os filhos de Alex Sumner que as fotografou

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Regresso para aqui partilhar convosco uma coisa que já tinha visto ontem e que, por se ter metido a série de posts sobre a praia ao fim do dia, ficou no deixa para lá. Agora já estou mais composta, uma vez que já me banqueteei com dois suculentos alperces e com uns miolos de noz e de amêndoa. Voltei à sala e liguei a televisão. Estava a acabar o Eixo do Mal e referiam a maravilhosa 'cena' que podem ver abaixo: Trump com cara de quem não percebia tamanha maluqueira e Macron todo divertido. Pela parte que me toca acho o máximo que no dia de França, num local onde também evocavam a chacina do ano anterior e na presença de uma alta (embora anormal) individualidade, a Banda da Armada Francesa tivesse escolhido tão divertida e desconcertante performance. De vez em quando percebe-se que a malta, apesar de poder parecer que não, ainda está viva. Só me apetece dizer: Vive la Republique!



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E um belo dia de domingo a todos quantos aqui me acompanham

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segunda-feira, maio 08, 2017

Macron em França.
Eu, mãe-galinha, num piquenique com os pintos e pintainhos e não só.
[E, com vossa licença, uma pitada de gastronomia para a caldeirada ser completa]





Claro que Macron ganharia pois, embora a Europa esteja pelos cabelos, nomeadamente a França que já mostrou não aguentar mais os galaruchos pimpões que lhes calharam na rifa nas últimas eleições, ainda não se atingiu o grau zero em que vale tudo -- tal como aconteceu nos EUA, ao elegerem a mais estúpida das criaturas.

Portanto, embora os partidos 'normais', 'históricos' e 'sérios' tenham desaparecido do radar eleitoral, entre a xenófoba Marine le Pen e o civilizado Macron, claro que a França iria optar por Macron.

Terão votado, sobretudo, na maman Marine aqueles que mais teriam a sofrer com ela. O populismo tem destas coisas: sabendo dizer o que as pessoas mais vulneráveis querem escutar, chega-se à perversidade suprema que é ter o antigo eleitorado de esquerda, os mais pobres, os mais desamparados, os mais explorados e indefesos a votar naquela que, se eleita, representaria para eles o maior perigo.

Contudo, não há qualquer garantia de que Macron seja antídoto para o marasmo em que a Europa se encontra ou que consiga levantar o orgulho francês, que anda de rastos. Embora pouco saiba dele, temo que não tenha estaleca cultural e política para mobilizar um país como a França para conseguir dar um pontapé no feudo burocrático em que a Europa se tornou. 

Os chefes de secção de antanho, prepotentes, mangas de alpaca, burocratas empedernidos que, na prática, quase controlavam as organizações, parece terem-se travestidos em eurocratas, tiranetes obscuros que se têm mostrado surdos e cegos aos anseios do povo e, com arrogância e em roda livre, têm imposto verdadeiras torturas a quem mais precisaria de apoio. Sem líderes políticos fortes, sem visionários humanistas e cultos, a Europa tem andado a reboque dos interesses alemães (onde Merkel reina como a governanta insubstituível) e a toque de caixa das cinzentas figuras que ocupam infinitos edifícios em auto-gestão.

Que os povos europeus se querem ver livres disto e de quem lhes cheire a gente fraca que se vergue e se deixe ir na onda e anseiam por ter à frente dos destinos da nação alguém com coluna vertebral, com pulso firme, com a cabeça no lugar, com algum coração e que saiba estar à mesa, isso é mais do que óbvio. 

Portanto, sem ousar pedir muito mais (porque não há muito mais), os franceses escolheram Macron.


O que se irá seguir, é uma incógnita. Pior do que Hollande não deve ser. Portanto, é desempenho a observar com atenção. Optimista como sou, ainda espero que venha dali algum sopro de modernidade. Sendo formado em filosofia, espera-se que saiba pensar, ver as diferentes perspectivas, Também já mostrou ser pessoa determinada e respeitar os valores sagrados da França livre. Portanto, aguardemos, façamos figas. Pode ser.

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E este domingo não foi só dia das eleições em França. Enquando num corredor, o mais largo, vai desfilando a grande História, nos outros corredores, mais estreitos, vão desfilando muitas outras pequenas histórias. E há ainda os corredores só nossos, que mais ninguém vê, onde vai andando a nossa vida.

Este domingo foi dia da mãe. Não ligo nada a ser dia da mãe. Mal fora. Um dia da mãe para mim que sou mãe-galinha todos os dias? Mãe e filha. Todos os dias ligo duas vezes à minha mãe para saber se está tudo bem. E todas as semanas lá vou a casa. E, com os meus filhos, se passa uma semana em que não lhes ponha os olhos em cima já eu ando numa saudade que só vista. E falo todos os dias com eles. Todos. Ou eles me ligam ou eu lhes ligo. E se estou muito ligada a eles, estou-o também à família que eles formaram e, em especial, aos meus cinco lindos pimentinhas, sangue do meu sangue, amores lindos do meu coração. 

Calhou hoje podermos estar, outra vez, todos juntos. Dia de piquenique num pinhal com campo de futebol por perto, parque infantil, terreno atapetado de caruma, espaço à larga, bom tempo, sem pressa. Depois, juntaram-se-nos outros muito queridos a todos.

De manhã, foi a correria habitual nestes dias pois o catering ficou a nosso cargo. 
  • Levámos duas pizzas gigantes que comprámos numa pizzaria de forno de lenha: uma com frango, queijo de cabra e nozes e outra com salmão fumado, mozzarela, sumo de limão e manjerição. 
  • Depois levei dois tabuleiros de massa 
(massa de desenhos diversos cozida à qual misturei bifes de frango e perú, que antes tinha assado no forno a 160º com tomate, alecrim e azeite, cortados finos, juntando também os tomates assados, mais presunto fatiado desfiado, e tomate cherry, tudo regado com o caldo de assar a carne e um pouco de azeite fresco, e, no fim, polvilhei com orégãos) 
  • e empadas fofas, umas de espinafres e presunto e outras de salmão 
(leite com ovos e farinha com uns grãos de sal batidos até fazer um líquido homogéneo e espesso, depois o recheio -- espinafres salteados com presunto ou, então, apenas, salmão -- depois natas light batidas com ovos e, por cima, queijo ralado e polvilhadas com sementes. Posto em forminhas antes lambuzadas com Planta e farinha e para o forno a 180º até estarem com ar dourado e saboroso)
  • E, no fim, morangos frescos (sem açúcar)
Mas, depois disso, queixaram-se que não havia nada doce e o meu filho foi comprar gelados para todos.

Claro que, para mim, levei comida separada. Afinal a dieta ainda vai no início, não ia já prevaricar à descarada. Mas como não nasci para obediente, muito menos para santa, não resisti e tasquinhei para lá umas quantas coisas. Azarinho.


E foi o de sempre. Conversa, cantorias, brincadeira de miúdos e graúdos, futebolada da grossa, uns descalços, outros preparados para marcar golos, luvas de guarda-redes e tudo, o bebé todo palrador e a dar às pernas e aos braços dando mostras de querer avançar para o meio dos outros, ela a brincar com a tia, e tudo tranquilo e em paz.

Quando me vi de regresso, mal o carro arrancou, caí num sono profundo. O meu marido não conseguiu fazer o mesmo, teve que esperar até chegar ao sofá,

Cá em casa, tratei do que tinha a tratar e, depois de roupas e comidas despachadas, vim passar as fotografias para o computador. 178. Depois a minha filha pediu que mandasse as melhores e então fiz uma selecção e enviei para os piqueniqueiros.

E, portanto, para mim foi isto. Antes tinha estado a falar ao telefone com a minha mãe com quem tinha estado no sábado. Estava tudo bem. Tirando isso, mais uma ou outra coisa, e nada de mais. Concluindo: um dia bom.

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E viva a França.


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[E, se ainda não estiverem fartos de me aturar, queiram descer, por favor, saber das minhas sósias e das sósias de Lúcia, também conhecida por Doris].

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segunda-feira, abril 24, 2017

Emmanuel e Marine


Marine le Pen (21.7%) e Emmanuel Macron (23,9%), agora é com eles.
 2ª volta das eleições em França



Não tenho muito a dizer sobre o resultado das eleições em França. Apenas um breve apontamento e só para aqui deixar o registo do momento. Pouco sei sobre o tema que me leve a achar que devo aqui botar faladura.

Sei apenas que compreendo a grande percentagem de votos em Marine le Pen.

Hollande foi uma lástima, um frangote que não consegiu afirmar o orgulho francês, a quem não se conhecem ideias que fiquem para a história, que deixou que a França andasse a reboque das vontades de Merkel. Com ele, o PS esvaziou-se. A falta de liderança dá nisto, desgasta as forças dos que os circundam. Uma abulia que alastra.


Do lado conservador, depois do carisma de Sarkozy que se foi diluindo entre o charme da mulher e as acusações em que anda envolvido, nada sobreveio. Fillon foi um tiro de pólvora seca que, ainda por cima, se viu desgastado com as situações de favor à família.

Depois Mélenchon. Pouco sei dele. À esquerda dos socialistas, foi uma surpresa. Fui sabendo das sondagens mas, mea culpa, não tive vontade de saber mais. Qualquer coisa nele me pareceu torná-lo pouco credível para a função. 

Para além de outros não relevantes em termos de expressão, fica Emmanuel Macron e Marine le Pen.

Quando as pessoas vão votar em alturas de perturbação social, insegurança e medos querem natural mente alguém que lhes inspire confiança. 

E, do pouco que conheço, estes dois eram os que inspiravam mais confiança.


Para as comunidades rurais ou mal informadas, Marine é a maman, a mãezinha que afirma querer restabelecer o orgulho francês, repôr as fronteiras, abolir a baderna europeia, lutar contra imigrantes e terroristas. Marine é a figura que se apresenta firme, peito feito, sorriso protector. E, para além da imagem de lutadora destemida, adoça o conjunto, mostrando-se em fotografias em casa, num ambiente simples e acolhedor, com gatos passeando na secretária onde escreve ou com ternurentos gatinhos ao colo, Para quem vota escolhendo quem se lhe afigura mais capaz de domar os medos e ser a maezinha protectora, Marine aparece como a escolha certa.



Depois há Macron.


Para quem quer mudar mas mantendo os valores europeus da liberdade, do humanismo inclusivo e de uma certa acalmia social, Macron aparece como uma escolha sensata. Acresce o lado romântico que, diz-me a minha intuição, influenciará o eleitorado feminino. O facto de Emmanuel, aos 15 anos, ter caído de amores por Brigitte, uma professora de 40, casada, com 3 filhos, e de ambos terem escondido o amor até ele ter 18, e o facto de ela se ter divorciado para se casar, anos depois, com o seu ex-aluno, sendo um casal inseparável, orgulhoso e elegante, de certeza toca, digo eu, o coração de muita gente.



Portanto, para resumir. Os partidos, essa massa amorfa que se mantém unida à custa de interesses tantas vezes desarticulados e egoístas, deveriam ter a inteligência de saber repensar-se, reorientar-se, aproximar-se e perceber os anseios populares. Da forma como estão, máquinas anquilosadas, os partidos mantêm-se a marcar passo sem sair do mesmo lugar enquanto o eleitorado evolui ao sabor das crises económicas, das ameaças externas, das preocupações pessoais e sociais. E, assim sendo, a condução dos países vai caindo, cada vez mais, nas mãos daqueles que, de uma forma ou de outra, conseguem perceber a linguagem que diz alguma coisa aos eleitores. Terreno fértil, pois, para a demagogia. Com alguma sorte, aparecerá alguém minimamente equilibrado que não dê cabo do país. Parece que, pelo menos por agora, França conseguirá livrar da populista chauvinista Le Pen. Mas, enfim, reconheçamos que o consolo não é extraordinário.

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E, enquanto Juncker e Merkel desejam "boa sorte" a Macron, os media começam a debruçar-se sobre o estilo da sorridente e elegante Brigitte Trogneux, a mais do que provável Primeira Dama francesa.


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E, sobre galos, queiram descer até ao post seguinte.
Não é do coq gaulois mas de galos jeitosos que ali se trata mas saibam que é com garbo que eles se apresentam.

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quinta-feira, março 16, 2017

Alô, alô Tim Tim no Tibete!
Também quero daquelas máquinas que dão fitas literárias.
Please, vá lá a França ver como é, traga para cá, espalhe-as por aí. Please





Li uma notícia espantosa. No meio de tanta maluqueira, uma notícia que me faz sorrir, que me faz querer saber mais, que me faz ter vontade de ir ver in loco. Infelizmente está um bocado longe, não está nos meus planos ir para aquelas bandas tão cedo. Mas é uma coisa que me parece um verdadeiro ovo de colombo.

Então para quem, como eu, gosta de livros e tem um bocado a compulsão da leitura isto parece uma ideia deveras extraordinária, uma daquelas ideias que eu gostava de ter tido. Ou, pelo menos, que gostava de usufruir.
Mas já conto.

Hoje entrei numa livraria para ir à procura de um livro. Entrei sabendo exactamente o que queria. Afinal, vá lá saber eu porquê, quando cheguei perto, tive uma branca. Sabia que era poesia, que era uma tradução de Cesariny, mas, mais do que isso, nada. Pesquisei no telemóvel. Nada. Ocorria-me Michaux; mas não porque esse eu tenho e a tradução é de Margarida Vale de Gato. Depois parecia-me que tinha um R e lembrei-me de Ronsard mas sabia que Ronsard não, faltava-lhe o som do au em francês e Ronsard tenho numa tradução de Vasco Graça Moura. Tentei ver nas estantes mas a poesia internacional está em baixo e não me apeteceu estar de gatas. Contudo, passando os olhos em vol d'oiseau, não vi nada que me fizesse tocar a campainha. Perguntei, então, a uma das empregadas. Disse-me que só com essa indicação era curto. Ainda foi ver ao computador mas claro que não descobriu. Andava por lá uma pessoa com ar entendido e eu, com a vontade que tinha de trazer o livro comigo, podia ter-lhe perguntado. Mas imagine-se que a pessoa andava por ali, naquela zona, ao engano, que andava era à cata do livro do grande escritor Gustavo Santos. 
Estou a gozar. Por acaso, não, tenho até a sensação que era mais do género alternativo que aprecia os clássicos, mas não estive para fazer figura de parva, ah sabe de um livro de poesia de que não me lembro do nome do autor, nem do nome do livro, só do tradutor... 
Fui-me embora contrariada e já quase atrasada. Pois mal me sentei no carro, saltou-me: Rimbaud. Caraças. Lá está o R e o au que eu tinha na cabeça. Mas pronto, nada a fazer, terei que fazer nova incursão; e até já sei onde encontrá-lo.

E isto para dizer que é esta doença. Aqui cheia de livros e, volta e meia, esta urgência que parece que não poderei ter descanso enquanto não tiver o livro nas minhas mãos. Vá lá explicar-se uma pancada destas.

Mas, então, dizia eu.

Estava eu preguiçando no sofá, vagueando por aqui e por ali, lendo um bocado do Amok, olhando para a televisão, picando um site, um blog, uma aleatória quelque chose, quando dou com a tal notícia extraordinária.


Tenho vontade de transcrever mas sei que muitos Leitores meus não atinam bem com o francês e, portanto, eu conto.

Em França, um pouco por todo o lado, nas estações de transportes públicos, em repartições públicas, nas Câmaras municipais, nos hospitais, em centros comerciais, é possível chegar ao pé de umas pequenas máquinas dispensadoras, quase parecidas com as que vendem bilhetes, e escolher se se quer ler um conto que dê para 1 ou 3 ou 5 minutos. Então a máquina debita uma fita de papel que varia entre 30 centímetros e 1 metro. Não sei se diga fita, se diga tira. Uma espécie de talão comprido, pronto. Há histórias (ou poemas) de 16.000 autores, dos quais 10.000 clássicos; muitos anónimos, desconhecidos, que se registam na plataforma da empresa que produz e vende as máquinas.

Acho isto notável. Notável! Assim se fomenta o gosto da leitura. Assim se leva a cultura a todos. Gratuitamente!

Leio que Francis Ford Coppola já encomendou uma máquina destas para o seu Cafe Zoetrope em San Francisco.


Coppola, o padrinho da Máquina que oferece Histórias Curtas


(Na altura tinham menos autores do que actualmente já tem)


Acho que o Ministério da Cultura português (alô, alô, Tim Tim no Tibete!) bem podia ver como adoptar a ideia para Portugal. Li que se trata de uma ideia e de uma produção de uma start-up francesa, a Short Edition.




Não dá para escolher o autor ou o género ou, lá está, o tradutor, mas tanto faz: chegar ao pé de uma máquina, carregar num de três botões, escolher um número (1, 3 ou 5) e obter leitura para esses minutos parece-me uma ideia do mais genial que há.

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A máquina da 1ª  fotografia, lá em cima, é a dita doseadora de literatura.
As outras fotografias são apenas bibliotecas como eu gostava de ter cá em casa, arrumadas, organizadas.

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E agora, para ouvirmos juntos, um poema de Rimbaud dito por um grande diseur, Serge Reggiani


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O vídeo que se segue não tem a ver com o texto em si mas com Rimbaud. Tenho estado para aqui a xeretar e dei com documentários sobre a vida de Rimbaud e com um filme de que nunca tinha ouvido falar e que trata do romance entre Rimbaud e Verlaine. Mas presumo que Rimbaud se tenha tratado com as mezinhas do pároco de Castanheira de Pêra porque, num outro vídeo, vi uma fotografia da que diziam ser a amante dele, anos mais tarde.



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E hoje, que já não tenho alergias e estava numa de responder a todos os comentários, logo havia de ter dado com este assunto. E tal o entusiasmo que não tenho feito outra coisa senão andado à procura de 'cenas'. Portanto, meus queridos Leitores, desculpem esta vossa escrevinhadora desnaturada que quase parece que não vos liga nenhuma -- quando afinal está aqui até às tantas para partilhar coisas convosco.

Mas desculpem-me, está bem?

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E tenham um belo dia.

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sexta-feira, outubro 14, 2016

O que é que ele tem que a gente não consegue ver...?


Marie-Ségolène Royal - 63 anos

Julie Gayet - 44 anos

Valérie Trierweiler - 51 anos

-- As mulheres mais ou menos 'oficiais' de François Hollande --



Ao sair um livro sobre o franganote, o assunto volta à ribalta: refiro-me ao misterioso efeito que Hollhande desperta em algumas mulheres, pelo menos nas três que se lhe conhecem.

Entre confidências, desabafos e mémoires, Hollande resolveu mediatizar-se um bocadinho mais, dando-se a conhecer mais de perto através de um livro em que expõe pensamentos privados ('um presidente não deveria dizer isto...').


E, portanto, como referi, uma vez mais o espanto volta. Hollande, o decepcionante presidente francês, esse homenzinho em quem o povo francês não vê rasgo nem chama nem golpe de asa ou de rins nem força (ou seja, em síntese: em que não se detecta ponta de carisma), é afinal um sedutor a cujos pés caem belas, inteligentes e vibrantes mulheres.

O que vêem as mulheres num homem assim? -- é a pergunta que se impõe.


Podia ser o songamonga que se vê e o choninhas político que se conhece (tanto que, qual caniche, gostasse de se esconder debaixo das poitrines de matrafonas alemãs) mas, à vista desarmada, ser um garanhão, a réplica presidencial de um bombeiro de calendário, um irresistível galã -- e aí a gente até poderia perceber. Ah, por debaixo daquela maneirazinha de ser, esconde-se afinal uma bomba sexual...! - diríamos então.


Mas não. Nem na personalidade nem no físico Hollande impõe respeito. E os apontamentos pessoais que vão vazando do palácio mostram-no como um homenzito que gasta descabeladas verbas com um cabeleireiro que sempre o acompanha para manter no sítio a sua farta juba, um homenzito que, durante reuniões de estado, envia sms pueris às suas ex, que se porta como um adolescente retardado que fica vidrado nas namoradas mesmo quando deveria ter a cabeça em assuntos sérios, que gosta -- como Valérie já antes tinha contado e agora voltou à carga, exibindo sms dele -- de se armar em snob tratando os pobres por desdentados.

Isto é o que a gente vê.

(É certo que as fotografias que a imprensa escolhe para o retratar também não ajudam muito.)


E, no entanto, apesar de parecer não passar desta fraca figura, a verdade é que a firme e suave Ségolène é ainda uma leal amiga e a sua eterna companheira, a mulher que o apoia discretamente, a bela e tempestuosa Valérie é ainda uma mulher apaixonada e ciumenta e Julie Gayet é a namoradinha que se derrete ao falar dele, quase como se ainda tivesse rebuçadinhos e memória de beijinhos na boca.


O marialva rebelde não quer casar-se e elas nem piam, é um engatatão encartado e elas até parecem tentadas a desculpá-lo, não tem um pingo de graça e elas, sorridentes, parecem achá-lo o máximo.

Imagino que o livro vá vender como pãezinhos quentes, toda a gente desejando saber qual o segredo desta figurinha, toda a gente a querer ler aquelas passagens em que ele descreve os ciúmes que Valérie tinha de Segolêne, sempre com medo que ele voltasse para a mãe dos seus filhos, ou em que fala num tom que parece ser paternalista em relação à sua mais  recente conquista, a menina Julie dos croissants.


Dizem que sabe anedotas que se farta e que, mal chega a algum lugar, desata a armar-se em engraçadinho, contando secas atrás de secas. Mas, mesmo que uma ou outra tenha graça, será só por isso que elas caem que nem rolas peitudas aos seus pés?

Pois eu não sei. Fico perplexa com a saída que um coisinho destes tem. De resto, também não sei como chegou a presidente da República Francesa -- e isso é capaz de ainda ser pior e pior não apenas para a França mas, também, para a Europa. 

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Já agora, para quem não conheça a actual namorada do presidente francês, Julie de sua graça, aqui fica um vídeo muito recente, de 11 de outubro

Shooting Beauté Julie GAYET 

 3 looks maquillage et coiffure - ByCalliste


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E, se me permitem, acabamos com uma música dedicada a todos os que se amam em Paris

Les amants de Paris


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E queiram agora descer, se para aí estiverem virados, claro, até ao post abaixo onde desfalo do Nobel da Literatura, o inesperado Bob Dylan.


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quarta-feira, agosto 24, 2016

Crónica de um dia a precisar de férias
[E, para não dizerem que vêm aqui para nada, deixo-vos o caminho para um teste-revelação:
Responda a 21 perguntas e descubra se é brilhante, mediano ou tótó de todo]




Chego de novo ao computador por volta da meia noite. Mais uma festa de aniversário. Se não estou em erro, entramos agora numa época de pousio. Claro que comi uma fatia de bolo de anos. Mais umas calorias mas, enfim, foi de gosto, não podia deixar de ser. 

Mas chego a esta altura do ano e parece que a partir de certa hora já preciso de descanso. Os miúdos quando se juntam são uma inesgotável fonte de energia ruidosa. E estavam outros. E um quase a nascer dentro de uma barriga enorme. As meninas brincam sossegadinhas mas os rapazes... minha mãezinha... Jogam à bola no hall, zangam-se, fazem barulho. Depois, junta-se-lhes o tio e a coisa ainda se complica mais. Claro que a bola é mole mas o ambiente é o de um estádio de futsal. Despique, faltas e por pouco não há também agressões. 

Quando chego a casa, venho ansiosa por tirar os saltos altos, o colar, os brincos, por escovar e apanhar o cabelo, por me refrescar, e, claro, por me estender no sofá de frente para a aragem que sopra do aparelho mágico ali de cima. Durante mil anos lutei, não queria cá camafeus na parede, não queria ares condicionados dentro de casa. Até que me rendi e, para supremo gáudio do meu marido, já não passo sem ele (neste caso, a ele, ar condicionado).

Na televisão, enquanto escrevo, um filme francês na 2. Não estou a prestar atenção mas gosto de ouvir. Gosto muito de ouvir e de falar francês. De resto, gosto muito de França. A Paris já fui no verão. Qu me lembre já fui duas vezes em pleno verão. Não gostei, nem parecia Paris. Gosto em qualquer estação menos no verão. O passeio que mais gostei de fazer em França foi à Normandia, às praias do desembarque. Foi no ano em que a minha filha se casou. Por isso, ela não foi.
Nesse ano também houve muitos incêndios em Portugal. Na televisão, lá, víamos o nosso país em chamas. Uma coisa dolorosa. 
O meu filho e o meu marido sabiam tudo sobre todos os locais que visitávamos e, nas praias, sabiam onde havia bunkers mesmo que nem se vissem. E depois descobriamo-los, estavam mesmo onde eles diziam. E comemos ostras, frescas, sobre gelo, uma tentação, e bebíamos cidra. O Pipoco, ao que parece, agora anda por lá. Quando por lá andámos, pelas praias, pelas vilas, por aqueles lugares tão bonitos, pensei que gostava de lá voltar. Gostava de passar uns dias em Saint-Malo pois só lá ficámos dois dias, mas gostava de lá estar em dias de invernia, com o mar estiver revolto. E eu à janela do quarto do hotel a ver a força das ondas.

E gostava de voltar a jantar tripas à moda de Caen numa esplanada ao pé de uma igreja de madeira, em Honfleur, entre canteiros de flores.

... e é isto.

Já viram uma conversa destas a esta hora...?


O que se passa, como está à vista, é que estou a precisar de férias. Já meio mundo regressou de férias, tudo no bronze, e eu branquinha de neige, já sem paciência para nada. E toda a gente fresca, tudo a vir falar comigo, conversas longas, coisas de trabalho mas intermináveis, e sai um, entra outro, e eu a ver o tempo a passar e a ter contratos para ver para serem enviados, autorizações para dar para que trabalhos prossigam ou pagamentos sejam feitos, documentos para ler antes de reuniões para as quais não posso ir em branco. E eu a ver o relógio a avançar. E, então, penso que devia colocar uma coisa de senhas à porta do gabinete e um cronómetro. Mas não. Porta aberta, sempre. Até hoje nunca ninguém deixou de entrar nem nunca deixou de dizer o que quis. Mas o tempo que isto me consome, senhores... E eu a precisar tanto de férias.


Todos os dias eu e o meu marido falamos que temos que resolver o que vamos fazer nas férias mas o tempo passa e ainda não sabemos. De manhã, quando vou a caminho, penso que, se tivesse uns minutos de sossego, tentaria pensar no assunto. Claro que agora, em vez de estar aqui, poderia estar a fazer algumas pesquisas mas também não me apetece.

Na verdade, apetece-me estar no campo, a varrer as folhas secas e a ler livros à sombra da figueira, ou a ir a praias com pouca gente ou a dar passeios por onde calhar.

Há lugares onde me apeteceria ir mas que requerem planeamento. Ontem, uma simpática contou-me de um cruzeiro maravilhoso que fez e eu, ouvindo-a, pareceu-me bem. Mas parece que os barcos partem de Barcelona e não acredito que seja chegar ao cais, entrar e lá dentro pagar um bilhete. 

Ou seja, vou mas é jogar no euromilhões a ver se me sai para eu contratar um assistente para me tratar desses aspectos administrativos e logísticos, para fazer prospecções e etc.

Resumindo: uma vez mais estou para aqui a escrever sem dizer nada.

O meu marido, mais esperto que eu, já dorme a sono solto. Mas também levanta-se com as galinhas enquanto eu me levanto a horas normais. É a diferença entre um diurno e um noctívago.

Bem.

Para não me virem ainda pedir de volta o dinheiro do bilhete já que voltou a não haver motivo de interesse por estas bandas, deixo-vos o link para um teste engraçado. Cliquem aqui abaixo e, depois de lá estarem, no Let's Play.



E fiquem Vossas Senhorias a saber que ou o teste é marado ou quem por aí ache que eu não tenho os cinco alqueires bem medidos está muito enganado. Pois acreditem ou não, o que a mim me deu foi:
Based on your answers, we found that you're absolutely BRILLIANT! (...) You're good at working with numbers and are adept at putting your skills to use while solving problems in all sorts of real world situations. You don’t waste a lot of emotional energy fretting about the future. Instead, you focus on getting the most out of life right now. 
Portanto, não sei, se calhar isto dá sempre a mesma resposta e qualquer maluco que dê para aqui umas respostas ao calhas recebe sempre a resposta de que é brilhante.

Mas tentem a ver o que vos dá a vocês. Se calhar é tudo de genial para cima. E é verdade. De uma maneira ou de outra, somos todos brilhantes e geniais. Malucos são os outros.


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É muito mau; devia aqui pôr o nome dos autores das esculturas que são das mais espantosas do mundo; mas é tardíssimo, já não vai dar. Se tiver tempo, amanhã logo ponho. Ou então, podem vê-las no Bored Panda.

Para me acompanhar enquanto escrevia, escolhi a Ella Fitzgerald & Louis Armstrong e, para aqui partilhar convosco, Dream A Little Dream Of Me.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quarta-feira.

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