Esta terça feira fui ao cinema. Mas não me apetecia ver um daqueles filme mainstream, Lincoln, Mentor, Hitchcock, todos muito bons mas, não sei porquê, com alguma probabilidade de serem também uma seca. Quando toda a gente diz muito bem, a mim passa-me a vontade. Acho que não sou elitista mas, se calhar, sou.
O meu marido não estava com muita vontade de ir ao cinema, muito menos para ver filmes longos, sérios, potencialmente chatos.
E eu também estava sem paciência para ir a cinemas onde toda a gente entra ruidosamente e de balde na mão, ou melhor, baldes, um com pipocas e outro com coca-cola.
Por isso, depois de ver o que está em cena, optei pelo filme Barbara. Claro que, quando disse que era um filme alemão, o meu marido disse logo que isso não augurava nada de bom. Quando, já sentados na sala, lhe disse que tinha ganho um prémio no Festival de Berlim, resmungou, ainda pior.
Já antes, quando o meu filho me tinha perguntado o que é que íamos ver e eu lhe disse, ele franziu o semblante e perguntou se não seria alguma intelectualice. O meu marido disse logo que devia ser. Na altura ainda estava convencido que ia arranjar maneira de me demover.
Mas não demoveu, nem conseguiu que nos atrasássemos e, por isso, lá fomos.
Cinema King ali ao Maria Matos. Um clássico, dos poucos que sobreviveram.
Sala 3. Para lá chegar passa-se pelo espaço tão agradável do barzinho, livraria.
O simpático barzinho do Medeia King (antes King Triplex, acho eu) |
Aqui pouca gente mas, lá ao fundo, algumas pessoas lanchando. Claro que não fotografei para não ser expulsa (nem daqui pelas pessoas fotografadas, nem de casa pois o meu marido fica incomodado quando faço coisas do género)
Ainda um dia hei-de ir com tempo para poder estar ali sentada, à meia luz, a ter uma conversa inteligente |
Depois na sala uma surpresa: a sala muito composta, muito mais gente do que seria de esperar.
Aqui, ao contrário do que acontece nos Cinemas Lusomundo, não há, antes do filme, carradas de anúncios de outros filmes, geralmente filmes para gente com QI abaixo da média ou gente de gostos estranhos (diálogos abaixo de cão, vampiros com sangue a escorrer dos dentes, gente à pancada, carros a espatifarem-se contra vidros, bonecos assustadores, tretas, barulho, um barulho ensurdecedor). Aqui não, há anúncio de um ou dois filmes, bons, e depois, logo de seguida, passa-se ao que nos leva lá.
Um dos belos filmes que vi recentemente (enfim, não tão recentemente como isso: para aí há uns 6 anos) foi também um filme alemão, A Vida dos Outros.
Pois bem, este filme, Barbara, é também um belíssimo filme. Nada a ver com as tretas habituais que quase não têm história. Este tem. E tem muito bons desempenhos. E tem cadência. E tem ambiente. O ambiente da vida vivida sob observação, da vida vivida sob o forte desejo de alcançar a liberdade, da vida cercada onde, apesar do medo, desponta o amor.
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Nina Hoss é Barbara, a médica da RDA |
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Ronald Zehrfeld é Andre, o médico por quem Barbara acaba por se apaixonar |
Transcrevo a sinopse:
Título original: Barbara
De: Christian Petzold
Com: Nina Hoss, Ronald Zehrfeld, Rainer Bock
Outros dados: ALE, 2012, Cores, 105 min.
1980, República Democrática Alemã. A exercer medicina em Berlim, Barbara tenta arranjar um visto que lhe permita ir ao encontro de Jörg, o namorado, à Alemanha Ocidental. Após a recusa do Governo, é desterrada para um hospital de uma localidade rural, longe da capital. Enquanto Jörg tenta encontrar um plano de fuga, ela aguarda pacientemente, evitando tudo o que a possa ligar àquele lugar. Porém, com o passar do tempo, acaba por se sentir atraída por Andre (Ronald Zehrfeld), um colega particularmente caloroso que se esforça para que ela se sinta em casa. Mas, mesmo quando acaba apaixonada por ele, Barbara não consegue entregar-se totalmente, obcecada com a hipótese de ele ser um espião contratado para seguir os seus passos. Assim, à medida que Barbara se vai deixando levar pelos sentimentos que a ligam a Andre, acaba por ser forçada a tomar uma decisão que mudará, irremediavelmente, a sua vida.
Um filme do alemão Christian Petzold ("Yella", "Jerichow"), que acabou por arrecadar, em 2012, o prémio de melhor realizador no Festival de Berlim. (PÚBLICO)
Não encontrei o trailer com legendagem em português mas, apesar disso, incluo aqui a versão com legendas em inglês. Sei que deve ser filme que provavelmente não vai sair do estrito circuito da Medeia em Lisboa e, se calhar, também não sairá o DVD mas, aos que podem, recomendo que não deixem de ver. Saí de lá com uma lagriminha no canto do olho e foi com pena que vi que tinha acabado.
Um belo filme, é o que vos digo.
PS 1: O meu marido gostou.
PS 1: O meu marido gostou.
PS 2: Porque é que os filmes alemães, franceses, italianos, etc, não entram normalmente no circuito normal de distribuição em Portugal? Porque é que somos sujeitos a esta permanente banhada de filmes americanos? E não me refiro aos filmes bons como os que comecei por referir no início deste texto mas a todo o inominávle lixo que alastra pelas salas de cinema? Se isto não é uma forma oculta e perversa de colonização... (e olhem que sou aversa a teorias da conspiração...)
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Uma chamada de atenção: este já é hoje o meu 4º post.
Por isso, se tiverem curiosidade, não fiquem por aqui, deixem-se deslizar pelo écran abaixo
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E ainda: muito gostaria que me suportassem ainda um pouco mais (eu sei, eu sei que é dose...!). Hoje, no Ginjal, pela mão de David Mourão-Ferreira, e há lá melhor mão?, as minhas palavras atravessam todas as águas e, se lá forem, verão porquê. A música, senhores!, a música é genial e genialmente interpretada. Bach por David Fray. Uma maravilha.
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E já chega, não é? Tenham, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira.
Vivam bem cada bocadinho da vossa vida, sim?