Não gosto de me considerar feminista porque tenho a sensação de igualdade entre homens e mulheres de tal forma interiorizada em mim que quase me parece aberrante tomar partido numa disputa sexista. No entanto, já me explicaram mil vezes que ser feminista não é essa guerra fundamentalista entre sexos que os mais tacanhos apregoam mas é, sim, lutar pela justa igualdade de oportunidades, de direitos e de deveres entre homens e mulheres.
Seja.
A verdade é que prefiro pôr-me ao lado dos homens -- dos civilizados, bem entendido -- e, com eles, lutar pelo progresso de todos. E quem diz dos homens civilizados digo também das mulheres. Das civilizadas.
Vinha no carro, ao início da noite, quando ouvi uma mulher que estava na manifestação, a ser entrevistada. À pergunta de se havia discriminação no seu trabalho disse que sim, embora uma discriminação subtil. E exemplificou: quando está com outras colegas e chega um colega homem, ele faz piadas sexualizantes e que isso a incomoda. E eu é que fiquei incomodada com um tal argumento porque piadas 'sexualizantes' é coisa que pode até ter graça, que pode ser inócua, é coisa que não define uma discriminação sexual no trabalho. Se ela dissesse que, no seu local de trabalho, quando abre uma vaga para uma chefia, escolhem sempre um homem, mesmo havendo mulheres mais qualificadas aí, sim, ela teria mais do que razão para ficar chateada. Agora pretender que os homens fiquem indiferentes às mulheres e não possam galanteá-las, cortejá-las, tentar fazer uma graça ou um agrado, já me parece mais um comportamento assexuado do que feminista -- e amesquinham as verdadeiras razões de queixa das mulheres.
[Não me refiro, obviamente, a homens ordinários que se comprazem a dizer badalhoquices a mulheres. Aliás, penso que já nem os haverá a agir assim em terreno aberto, muito menos estando em minoria no meio de um grupo de mulheres. Homens assim, machistas, parvalhões, são, regra geral, uns cobardolas.]
Mas isto para dizer que, do que frequentemente se vê, grande parte das mulheres que gostam de se armar em super feministas usam uma argumentação tão rasteirinha que acabam por se menorizar. Não gosto.
Gosto é de ver mulheres a lutarem de igual para igual, a mostrarem a sua força, a sua indómita vontade, a não vergarem, a manterem-se inteiras 'mesmo quando os outros se dividem'.
E é verdade: longo tem sido o caminho das mulheres para aqui chegarem. E, em muitos lugares, longo ainda é o caminho a percorrer.
O vídeo abaixo é muito interessante e mostra os riscos que podem ainda estar por vir, em tempos que se antevêem pejados de inteligência artificial. Sendo que a grande maioria dos profissionais das áreas das tecnologias da informação é composta por homens, será de temer que construam um mundo misógino, que não incorpore a visão e os interesses femininos?
On International Women's Day, the author Jeanette Winterson reads an extract from her book, 'Courage Calls to Courage Everywhere', in which she describes the threat to women posed by the future dominance of AI, warning society cannot allow it to become a new exclusion zone
Is AI the 'worst thing to ever happen to women?
Um bom sábado a todos.