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domingo, junho 09, 2024

As Zebras, esses animais maravilhosos e indomáveis.
Têm listras particulares que podem salvá-las de muitos perigos. São magníficas e devem orgulhar-se disso.

 

Gostei do comentário. Gostei mesmo, é original, tem graça. Muito obrigada.

No título da mensagem transcrevi a citação mas não acrescentei o autor. Está aqui: Jeanne Siaud-Facchin

E, já agora, esta fotografia e a outra lá em baixo são da autoria de Lucien_Clergue.

Tal como diz quem escreveu o dito comentário, eu também penso que 'o outro' não tem historial. Por isso, confesso, não vou tranquilizada. Vou numa de 'pagar para ver', numa de 'vamos ver'. 

De vez em quando temos que negar a inércia. O mundo anda. As ideias, as atitudes e a nossa visão sobre o mundo também têm que mudar. Agora ia dar um exemplo mas não posso pois, supostamente, estamos a reflectir. Mas o que eu queria dizer é que, quando o mundo anda mas nós não, acabamos por ficar a falar sozinhos.

Para que as coisas mudem, alguém tem que arriscar. Depois, se a coisa correr bem, outros virão atrás. Arriscar é isso mesmo: correr o risco. Se der para o torto, a gente arrepia caminho e corrige a rota. Se correr bem, bora, vamos lá.

O mundo hoje já não é o mundo que existia quando eu comecei a trabalhar. Agora é o mundo no qual os meus filhos trabalham. E há de ser aquele em que os meus netos trabalharão. Não posso continuar a pensar nos problemas que havia antes e a manter-me agarrada a soluções para esses problemas quando agora há mil novos problemas, mil novos desafios. 

A minha decisão representa, para mim, um salto impensável. Ontem acrescentei no título a última parte (a explicitação de quem, obviamente, não seria contemplado) pois a minha filha alertou-me para que eu deveria deixar isso bem claro, não fosse alguém ainda pensar que eu tinha ficado destravada de todo. E, há pouco, o meu filho, que, tal como a irmã, me conhecem a apontar sempre no mesmo sentido desde o início dos tempos e que não tinha lido o que eu ontem escrevi, tendo-lhe eu comunicado a minha decisão, ficou pregado ao chão (ou ao tecto -- não sei, não vi, a conversa foi por telefone). Tentou chamar-me à razão, assegurar-se de que eu estava plenamente consciente da minha decisão.

Mas é assim mesmo. Estou consciente.

Quando eu trabalhava, uma vez tomei uma decisão que fez o vice-presidente de uma gigante multinacional enfiar-se num avião e, sem aviso prévio, aparecer-me, ao fim da tarde, no gabinete. As empresas tinham uma parceria de longa data que definia que, em condições de igualdade, cada uma daria primazia à outra na celebração de negócio. Ora, uma vez, estava em jogo um negócio várias vezes milionário e a empresa dele estava a querer impor condições muito favoráveis para eles e não muito para nós. E eu ameacei que ou eles se ajustavam ou eu avançaria com o principal concorrente deles. Não acreditaram pois tínhamos uma sólida parceria, de anos. Mas eu não vendo jogo branco. Trabalhar com outra empresa, com a qual não estávamos habituados, ferir a parceria que era sólida e duradoura, era uma facada numa empresa que era uma fiel amiga e era, sobretudo, um arriscado tiro no escuro. Mas dei-o.

Quando ele me entrou no gabinete, pela primeira e única vez na minha vida profissional senti-me intimidada. Fisicamente, ele devia medir para cima de um metro e noventa, era um homem com um grande charme, um francês de se lhe tirar o chapéu. Sempre tínhamos tido um relacionamento cordial, afável. E, de repente, tendo perdido um negócio importante, tendo ficado evidente no mercado que não nos tinham na mão, ele não estava disposto a digerir o que sentia como um atentado.

Estava furioso, varado. Vinha exigir explicações. Creio que, até, vinha pedir a minha cabeça. Mas, obviamente, eu tinha cobertura. O presidente com quem eu trabalhava na altura, um temível homem de negócios, dizia que a minha frieza, ao negociar, o assustava. (A mim também. Mas sentia, também, uma adrenalina à qual não conseguia fugir).

O francês extraordinário não me matou. E eu consegui esconder que, por dentro, me sentia um pouco intimidada. Pelo contrário, ele percebeu que voltaríamos a fazer negócio sempre que fosse bom para os dois, não apenas para ele. Acabou a chamar-me la femme infidèle. Dizia o meu nome em francês e acrescentava, sorrindo, 'la femme infidèle'. Fizemos muito mais negócios e habituou-se a que, quando não conseguia acompanhar a concorrência, a coisa lhe fugia das mãos. Mas mantivemo-nos amigos, embora nunca mais tivesse deixado de me tratar por mulher infiel.

Se calhar, é o que vou também fazer este domingo: ser infiel. Seja. 

Não garanto que não vá arrepender-me. Estarei cá para avaliar se é opção a merecer continuidade. Se não forem merecedores, na próxima não contarão comigo.

Não sou conservadora. E acho que não sou medrosa. Também acho que não sou burra de todo. Portanto, vamos ver. Bola para a frente.

Para já, cá estão elas, as zebras, o tema deste post. Magníficas, na verdade.


Um belo dia de domingo a todos

quarta-feira, novembro 01, 2023

Nudez e cumplicidade nos balneários.
E receita rápida e boa para um jantar de halloween

 


Os balneários da piscina são todo um mundo. Em locais assim, mesmo sem querer, fico 'antenada'. As conversas são uma delícia. Muitas vezes acho que são altamente disparatadas, outras que são cúmplices e interessantes.

Há agora muito mais pessoas que antes. Hoje, quando cheguei já o meu cantinho estava ocupado, tive que ir para uma zona para onde nunca tinha ido, para junto de pessoas com quem nunca antes tinha falado.

A zona dos duches já não alberga todas ao mesmo tempo.

Continuo a não ser capaz de me pôr nua no meio das outras. Passo-me por água com o fato de banho vestido. Mas ao meu lado, a escassos centímetros e a toda a volta, as minhas companheiras ensaboam-se alegremente, lavam a cabeça, põem amaciador, viram-se e reviram-se. Algumas levam aquelas coisas que não sei como se chamam (não é esponja, mais parece uma espécie de rede plástica). Há uma senhora, diria que talvez mais velha que eu, que é relativamente baixa e muito gordinha, aliás bastante, bastante gordinha. Para lavar o rabo e os genitais faz uma ginástica extraordinária, baixa-se, curva-se toda, para conseguir chegar com aquela redinha cheia de espumada às partes baixas... E, enquanto está nestas acrobacias continua a conversar como se nada fosse. Fico espantada com o à vontade delas.

Hoje, já no balneário, uma mulher simpática, neste caso bem mais nova que eu, conversava comigo sobre o peso que já perdeu desde que faz hidroginástica e natação livre. Contava-me que todos os dias, à hora de almoço, vai para ali, dois dias de hidro e três de natação. Que gostava de fazer caminhada mas estava com excesso de peso, doíam-lhe os joelhos, deixou de caminhar, cada vez mais sedentária. Então resolver mudar de maneira de viver. Mudou a alimentação, começou com a piscina, ao fim de semana caminhada. E dez quilos já lá iam... E, enquanto conversava comigo, toda nua, aplicava hidratante em todo o corpo, na maior das calmas. E eu, com uma toalha gigante cobrindo a minha nudez e vestindo-me, por dentro da cortina do toalhão. Não sei porquê isto. Que pudor meu é este que não me deixa despir-me, lavar-me, hidratar o meu corpo em público?

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Hoje o meu dia foi mais tranquilo. Mas ando num estado em que parece que estou sempre em estado de alerta total, sempre à espera que as coisas descarrilem e que me veja, uma vez mais, em stresses. Por isso parece que não chego a desfrutar bem os instantes de tranquilidade. Até o meu sono anda inquieto, sempre com sonhos em que há situações de preocupação ou susto, acordando meio sobressaltada. Por isso, quando acordo, agora, volta e meia, estou com dor de cabeça.

Mas, enfim, hoje não foi mau de todo pelo que tenho é que aprender a conseguir desligar nos momentos tranquilos, nem que seja para recarregar baterias para quando tiver momentos intranquilos.

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Antes de terminar, conto o que cozinhei agora para o jantar, num instantinho e que ficou bom.

Tinha trazido lombos de atum congelados.

Descongelei. Numa tigela, coloquei cebola-doce cortadas às rodelas, os lombos de atum, mais rodelas de cebola, salta picada, um pouco de sal, um pouco de azeite e o sumo de duas limas. Ao fim de um bocado, se calhar aquilo estava ceviche e comer-se-ia bem assim. Mas não arrisquei.

Depois coloquei num tacho azeite e a cebola que estava a cobrir o atum e, em lume muito brando e com o tachinho tapado, deixei a cebola amolecer. 

Entretanto, noutro tacho cozi batata com casca cortada em rodelas largas. Quando estavam cozidas, escorri, temperei com azeite e orégãos.

No tacho em que estava a cebola, coloquei os lombos de atum marinado, depois piquei um tomate grande, maduro e esguichei um pouquinho de ketchup. Em lume brando, tapado. Ao fim de uns minutos, não sei se chegou aos cinco, desliguei. Deixei ficar tapado, envolvendo tudo bem, umas coisas nas outras.

Digo-vos que estava mesmo bom. O atum mal passado, macio, a saber a lima e ao tempero bom, o tomate picado ainda com leve sabor a fresco, as batatinhas com todos os sabores absorvidos.

E foi num instante...


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Ainda há bocado estiveram a tocar-nos à campainha. Devem ser os miúdos aqui do burgo. Ao fim da tarde, noite cerrada, vimos dois grupos de fantasminhas, serezinhos diabólicos, ruidosos mascarados. 

Para descelebrar o dia, plantei aqui graffitis que talvez tenham alguma coisa a ver com o dia das bruxas, Creio que são da autoria de Plast (Buenos Aires). 

Acompanha-nos Philip Glass com Musicbox.

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Desejo-vos uma boa quarta-feira

Saúde. Serenidade. Paz.

sábado, agosto 19, 2023

As mamas das mulheres são assustadoras?
Os seios desnudos de Eva Amaral incomodam alguém...?

 

Já não faço topless em público. De resto, apenas o fazia em praias com muito pouca gente. Gostava, isso sim, era de, nessas praias, nadar nua. Mas isso, acho eu, ninguém via.

No campo, no verão, quando estamos só os dois, ando frequentemente nua. Tenho um lado muito naturista e um outro muito reservado. Ou seja, acho que, na verdade, tenho alma de bicho do mato. Deveria poder viver num recanto do mundo onde essencialmente só houvesse bicho para não correr o risco de ser olhada. Os bichos não olham, só aceitam.

Ainda não contei: no outro dia o meu marido viu um esquilo grande e um esquilo mais pequeno. Não sabe se seria macho e fêmea ou mamãe e seu filhote. Diz que subiram pelo tronco de um cedro, perto dele, na maior descontração. Acho isto extraordinário. 

Roem pinhas como se não houvesse amanhã. Deve ser um exército deles pois é impossível que só dois fossem capazes de tamanho estrago. 

Continuo a deixar, à sombra, uma banheira de bebé cheia de água para poderem refrescar-se. Espero que apreciem.

No outro dia, quando lá chegámos já havia pequenos seres a nadar dentro dessa água. A natureza, a vida, tudo isto são acasos extraordinários. Milagres, propriamente ditos.

Despejei a água para pôr água fresca mas fiquei a pensar no que sairia dali se deixasse aqueles seres desenvolverem-se à vontade. Na volta, um dia chegava lá e dava com carpas gigantes. Ou com rãs.

Mas estou a falar como se estivesse in heaven e não estou. Estivemos fora mas hoje, depois de almoço, regressámos à civilização. O pessoal já cá estava. Tivemos uma festa de anos atrasada pois a aniversariante, no dia dos anos, estava fora.  

Estivemos juntos, festejámos. Tão bom. 

Por aqui não há esquilos. Mas há gatos. Agora, de vez em quando, aparece um gato completamente branco. Até no parapeito, do lado de fora, já se pôs com os meninos todos do lado de dentro. Ficaram um bocado intrigados.

Hoje de noite, depois de termos jantado (lá fora, no terraço) e, creio, já depois dos parabéns a você, a fera pôs-se acocorada a olhar fixamente para algo que estaria atrás de um vaso grande. Quando isso acontece é bicho. O bicho fica paralisado e ele, porque os bichos se põem onde ele não os alcança facilmente, fica à espera de um movimento em falso para lhes saltar em cima.

Mas a coisa levantou voo. Todos atrás. A coisa entrou em casa. Todos atrás, pessoas e cão. Um alarido, palpites, que se abrissem todas as janelas, que se acendessem todas as luzes, que se afastassem alguns móveis. Uns saltavam, outros corriam. Para as crianças, é o delírio. 

Quem viu achou que era um morcego pequeno.

Tudo à procura, o meu filho de chinelo na mão e eu não queria que ele matasse o morcego e cada um a dizer sua coisa, as opiniões divididas.

Até que um quadro se mexeu. Concluíram que a coisa estava lá atrás. O meu marido tirou o quadro, a coisa tombou e o meu filhou deu-lhe uma sapatada.

Era um grande insecto, não sei qual. Bonito. Tamanho gigante. Não era gafanhoto, era bem maior. Um tom entre o platinado e o leve esverdeado, brilhante. Foi apanhado com um papel.

Se fosse um morcego seria estranho. Imagino que não se soubesse bem o que fazer com ele.

Bem. Isto para dizer que os animais estão bem é a viver em liberdade na natureza.

E depois há isto: parece que isso faz sentido para todos os animais mas, vá lá saber-se porquê, parece que se acha subversivo as mulheres andarem de mamas ao léu. 

Cresci com essa condicionante. Logicamente não me daria jeito andar por aí em tronco nu. Uso é cada vez menos soutien. Não há pachorra para andar condicionada. Só quando não quero que se perceba e receie que fique uma situação constrangedora é que o ponho.

Mas acho uma burrice, uma ignorância, uma estupidez os movimentos moralistas, as plataformas moralistas armadas em censoras de coisas inócuas e tudo o que tresanda a atraso de vida que impede as mulheres, que o desejem, de, em determinados contextos, terem o peito à vista.

Num espectáculo em Espanha, a cantora desnudou-se e actuou assim. E eu, para dizer verdade, acho que, se ela o quis fazer 8e ela explicou as suas razões) e se sentiu bem, pois não fez ela senão bem.

‘I don’t know why our boobs are so frightening’: why musicians in Spain are going topless as a radical gesture


Eva Amaral se desnuda en Sonorama por la libertad de las mujeres: "Nadie puede arrebatarnos la dignidad"

"Somos demasiados, y no podrán pasar...", entonaba la noche del sábado Eva Amaral sobre el escenario y a pecho descubierto. Un gesto que revolucionó al festival Sonorama Ribera, donde el duo aragonés Amaral echó mano de su carácter más reivindicativo. El concierto que debía conmemorar sus bodas de plata con la música, 25 años transcurridos desde que vio la luz su primer disco, con el que compartían nombre, se transformó en un clamor por la dignidad y la fortaleza de las mujeres.

In the middle of her performance at the Sonorama festival in the northern Spanish town of Aranda de Duero on Saturday, Eva Amaral was about to lead her band Amaral into her song Revolución when she took off her red sequin top and threw it on the floor.

“This is for Rocío, for Rigoberta, for Zahara, for Miren, for Bebe, for all of us,” she said, listing the names of fellow artists before uncovering her breasts. “Because no one can take away the dignity of our nakedness. The dignity of our fragility, of our strength. Because there are too many of us.” In a concert marking the Spanish band’s 25-year career, going topless was a way of defending women’s dignity and freedom to go nude, and “a very important moment”, Amaral later told El País. 
But it was also a show of solidarity with a growing number of Spanish artists who are resorting to nudity to defend women’s rights, and have been censored or attacked as a result.
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Desejo-vos um bom sábado

Saúde. Alegria, Paz.  

quinta-feira, abril 06, 2023

Aconteceu aquilo que, até aqui, só tinha acontecido nos meus piores pesadelos

 

Já o confessei: parece que ando meio aluada. Muita mudança em simultâneo, alguma perturbação na rotina, algumas preocupações, alguma falta de energia. Tudo junto dá este cocktail em que parece que não ando completamente com os pés na terra. E é que, em simultâneo com isto, tenho sempre muita coisa para tratar -- as que andaram a acumular-se durante tanto tempo à espera destes dias mais as que, de repente, me caíram em cima.

Levanto-me (e, por incrível que possa parecer, sempre cheia de sono e a sentir-me a modos que meio desorientada), tentando organizar-me face ao programa de festas do dia e do que lá terei que encaixar.

Claro que, depois das abluções matinais e antes do pequeno almoço, costumo vestir-me normalmente.

E, nos dias em que tenho a hidroginástica, logicamente antes de ir, visto o fato de banho e preparo o saco, guardando a roupa interior, a toalha, a touca, os chinelos, a bolsa onde guardo o telemóvel e as chaves. 

Pois bem. 

Neste último dia, vendo que estava bom tempo resolvi vestir logo o fato de banho e ir assim tomar o pequeno almoço lá fora, ao sol. E não é pelo bronze, é mais pela vitamina D. 

E até aqui, tudo tranquilo.

Antes de ir para a piscina, arrumei o saco, verifiquei se tinha o cartão de acesso. Menina organizada.

Lá chegada, despi a roupa de fora, calças brancas e túnica fininha, guardei tudo no cacifo, coloquei a touca, calcei as chinelitas e ala moça, piscina com ela. Tudo jóia.

A aula voltou a ser puxada. Ora trabalham os abdominais, ora os ombros, ora se fortalecem os braços, ora as pernas ou, o pior de tudo, a coordenação e a concentração. A última que me deixa de cabeça à nora é saltar a abrir e fechar as pernas em tesoura, para o lado e juntar, abre para o lado, fecha e junta, e, ao mesmo tempo, os braços, não a acompanharem esse movimento mas, para a frente e para trás, desencontrados. Uma coisa terrível. E se estão para aí a rir, experimentem. Vão ver como é difícil... Mal dou por mim, estou com os braços a fazer o mesmo que com as pernas. E quando finalmente consigo atinar, lá vem o 'E troca!', ou seja, os braços a abrir e fechar ao lado do corpo e as pernas uma para a frente e outra para trás, e salta e salta e salta. E troca. Caraças.

Bem. 

No fim, para fazer o gostinho ao meu lado nadador, fui dar umas braçadas. Já aguento um pouco mais.

Portanto, quando saí da piscina já os meus companheiros e companheiras estavam nos respectivos balneários.

Quando lá cheguei para o meu duche só de água com o fato de banho vestido, já as minhas parceiras estavam quase no fim do seu duche, naked way, com gel e shampoo ou, outras, a vestirem-se. Cada um é como cada qual e eu sou pudica. Fazer o quê?

Dirigi-me, então, para a zona dos cacifos para me vestir.

Tirei o saco, a roupa, coloquei tudo no banco. Retirei a touca, abanei a cabeça para soltar bem o cabelo, e, com a toalha pelas costas, discreta e pudica, retirei o fato de banho. Só que, quando fui à procura do saco de plástico que costumo levar para pôr o fato de banho encharcado, a touca e os chinelos, onde estava ele...? Vi que me tinha esquecido. Portanto, tudo encharcado para dentro do saco.

Mas o pior... muito pior... estava para vir. 

Quando fui à procura das cuecas e do soutien... que é deles...? Espreitei. Nada.

Por um instante, nua debaixo da toalha, fiquei paralisada. Percebi que me tinha esquecido.

O que fazer? 

Para vestir, só as calças brancas, por sinal com o fecho meio estragado. Fecho-o mas, ao mínimo movimento, abre-se. Com uma blusa mais comprida ou uma túnica, não há problema, não se vê.

Mas sem cuecas...? Ui...

E por vezes não visto soutien mas, nesse caso, visto um top para evitar o efeito das transparências das blusas. Mas que é também do top...?

Sem soutien e só uma túnica fininha...?

Palavra...

Ainda hesitei, seria de voltar a vestir o fato de banho encharcado...? 

Não. Não ia passar pelo incompreensível vexame de voltar a vestir um fato de banho ensopado. E não me ia vestir por cima de um fato de banho carregado de água.

Então, foi o que teve que ser. 

Ali, ao pé das minhas parceiras desinibidas, eu, a pudica da turma, vesti as calças sem cuecas por baixo, e a túnica também sem soutien por baixo. 

Calcei os ténis, desejei boa páscoa e zarpei a todo o gás dali para fora. Na volta ficaram a comentar que, no fim de contas, o que sou é um espírito livre, nem cuecas uso...

Quando cheguei ao pé do meu marido vinha a rir à gargalhada. Quando lhe contei, ele nem queria acreditar. 'Ao fim de duas semanas de piscina já de lá vens sem cuecas...'

Expliquei-me: foi aquilo de ter vestido logo o fato de banho. Nos outros dias, quando visto o fato de banho, dispo as cuecas e o top e guardo-os. Assim... varreu-se-me... Ele, gozão: 'Sim, sim. Desculpa-te.'

Ainda por cima as calças com o fecho aberto. 

Espectácuuulo....!

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Levitating - Dua Lipa (1920s Style Cover) ft. Sweet Megg


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Um dia bom
Saúde. Espírito livre. Paz.

terça-feira, dezembro 06, 2022

Patti

 



Para mim, durante algum tempo, Patti Smith era apenas a amiga especial de Robert Mapplethorpe. Sendo ele homossexual, não era claro para mim se alguma vez tinham sido friends with benefits ou se eram almas que se completavam sobretudo por partilharem aquele registo alternativo, chique, decadente, com agudo sentido estético.

Dela pouco sabia, pois. Era (e sou) grande apreciadora da obra dele e não senti curiosidade em conhecê-la. Era a amiga, o suporte e a musa dele e isso chegava-me. De aspecto andrógino, com feições ambíguas, com um corpo que não segue os cânones da feminilidade, Patti Smith tornava-se interessante sob a lente de Robert Mapplethorpe.

Depois foi envelhecendo e o seu carisma foi-se acentuando. Não sei se não se preocupa com a imagem ou se o que parece quase negligência é um produto trabalhado para ser assim. 

Seja como for, é uma pessoa interessante. E, estranhamente, já tem 75 anos. Estas pessoas quando envelhecem surpreendem-me. Patti Smith bem podia ter ficado para sempre naquela idade indefinida em que já tinha um passado bem desfrutado e ainda muita vida para viver. E olho para ela e é assim que a vejo. Não consigo pensar nela como uma idosa ou a caminho disso. Os seus cabelos caídos e compridos são um pouco estranhos, dir-se-ia que não a favorecem, dir-se-ia também que as suas feições são cada vez mais toscas. E, no entanto, olho para ela e não reparo nisso. Reparo, sim, na forma como sorri ao falar, na ternura e na serenidade da sua maneira de conversar. Creio que até a acho bela. É certo que é uma beleza não convencional, não óbvia. É uma beleza intemporal. E é uma simpatia. Gosta de arte, vive para a arte. E isso dá a quem assim vive aquela leveza e luz que abre os corações de quem a ouve.

Como cantora não a acho extraordinária. Mas acho-a uma intérprete especial. Gosto do grão da sua voz e das pausas e da densidade com que desfia as canções. 

Gosto de ouvi-la porque transporta a diferença. E transporta também a indiferença perante a banalidade. Não procura a perfeição e toda ela parece assumir orgulho, em toda a linha, na sua magnífica imperfeição. Faz o que quer e isso é do melhor que há. 

Salve Patti.

O vídeo abaixo mostra uma entrevista muito interessante e penso que dá uma boa ideia de quem é Patti Smith.

Patti Smith On Losing Her Voice & Mainstream Recognition | Explains It All | Harper's BAZAAR

Patti Smith's life changed when she stepped foot into an art museum as a little girl- and from that moment on, she committed her life to creation. Watch as Patti recalls her experiences with mainstream recognition, using Instagram for the first time, and what it was like losing her voice as a vocalist. 

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E queiram descer até Noé & Deus - uma parceria win-win

É caso para dizer: benza-os Deus.

sexta-feira, setembro 23, 2022

Branca e radiante vai a noiva

 


Antes de me casar, fui a lojas na Baixa e experimentei alguns vestidos de noiva. Mas andava tão habituada a vestuário num outro comprimento de outra onda que, ao ver-me ao espelho toda cheia de saias armadas, folhos e rendas, me senti mascarada. Não me ocorreu maçar ninguém para vir comigo. Por isso, foi sem conselho alheio que resolvi que casar era casar, não era armar uma festarola à qual deveríamos comparecer fantasiados. Assim, optei por uma espécie de jeans bem justinhos, brancos, e uma túnica linda, branca, justinha, com uns belos bordados manuais, made by Augustus. Ou seja, apesar de tudo, toda em branco, comme il fault. Tenho ideia que nesse dia da túnica a minha mãe foi lá para dar a sua bênção. Tenho até ideia que a minha tia, que eu tinha escolhido como madrinha, também foi. Preferiam que eu me apresentasse vestida de noiva mas, a não ir, tenho ideia que, mal por mal, a túnica foi aprovada. Mas havia uma questão. Era totalmente transparente. Se fosse hoje, isso não seria transparente. Quanto muito colava uma estrelinha ou um coração em cor nude sobre os mamilos. Mas, naquela longínqua altura, não havia autocolantes para os mamilos nem se admitiria o escândalo de uma noiva aparecer em transparências. Naquela altura também não havia a profusão de tops em lycra que hoje há. Foi, pois, com alguma habilidade que a minha mãe conseguiu improvisar um top de algodão, fininho, justinho, sem alças, que me permitiu ir sem soutien e quase transparente mas discreta e 'decente'. Noblesse oblige.

Já aqui o falei: não faço ideia do paradeiro dessa minha túnica. Agora só em fotografias. Tenho pena porque era muito bonita, mas não sei que sumiço levou. A minha mãe diz que não a tem, diz que não a deixei lá em casa. Não a separei da roupa normal e, às tantas, nalguma vez em que me desfiz do que já não me servia nem reparei que fazia parte da minha toilette de noiva, e lá vai disto. 

Quando a minha filha se casou já a oferta era outra, ampla. O vestido foi comprado numa das lojas de noiva da capital mas adaptado ao seu gosto. E era lindo, intemporal, elegantíssimo. Branco, não transparente, mas leve, flutuante. E um véu de renda belga lindíssimo. Não podia olhar para ela sem me sentir comovida. Sobretudo, sabia como era um sonho dela, casar-se com um lindo vestido de noiva. Foi um casamento maravilhoso, desde a igreja muito bonita e muito bem arranjada, os coros à entrada e à saída vindos do balcão superior da igreja, pareciam cânticos descidos dos céus. Copo de água num palácio fantástico, um cocktail numa tarde dourada nos jardins, jantar com grupo de cordas  acompanhar, creio que músicos da Gulbenkian, um jantar milimetricamente escolhido com um menu sofisticado e saboroso, um baile animadíssimo. E ela sempre elegante, sorridente e ondulante no seu belo vestido de noiva.

A seguir foi a minha nora. Grávida de cinco meses, encantada com o seu estado, tenho ideia que ainda hesitou sobre como deveria ir vestida. Já o contei mas repito-me. O meu filho, desde que me lembro dele a falar nisso, sempre disse que não queria casar-se. Não tinha paciência nem via necessidade. A minha nora acabou por aceitar embora manifestasse alguma pena em poder vir a ser mãe solteira. Viviam juntos, felizes da vida, até que ela engravidou. Perante os factos, um bocado contrariado, o meu filho lá condescendeu -- mas seria coisa de nada, restrita, pais e irmãos e mais nada. Avisou-me bem avisada: nada de ideias, seria coisa limitada aos mínimos. Nestas coisas cada um sabe de si e se para ele seria tamanho sacrifício fazer um casamento a preceito pois que remédio. Mas tenho ideia de que também sempre lhe disse que, se a namorada gostasse de ter casamento mais alargado, achava que ele deveria ter isso em atenção. Não sei como foi que a ideia foi fazendo o seu caminho, mas a verdade é que fez, combinações lá entre eles. O que sei é que devem ter sido umas duzentas pessoas, um casamento a preceito, animadíssimo, uma festa, uma alegria. E a noiva, linda, vestida de noiva com a sua orgulhosa barriga bem evidente. Nada de transparências mas tudo em leveza e alegria.

Vamos ver como será quando chegar a vez da minha neta. Do que lhe conheço, escolherá a seu gosto sem querer saber nem de convenções nem de opiniões alheias. E terá o meu apoio.

Mas, entretanto, eis que os vestidos de noiva se despem de 'decências' e de ocultações e se apresentam em toda a sua feliz transparência. Na semana passada, na Igreja da Ascensão na 5ª Avenida em Nova Iorque, uma noiva desfilou com um vestido inabitual, completamente transparente. Cindy Kimberly, modelo seguida por sete milhares de seguidores no Instagram, formas generosas e prazer em arrojar, vestiu-se com um belo vestido branco e transparente que deixava perceber uma pouco subtil asa delta, cobriu o cabelo com um véu e deixou toda a gente de queixo caído. Marcelo Gaia foi o criador. E as fotografias aqui estão para o testemunhar.

E eu fico feliz com estas coisas e só espero que nunca o mundo civilizado ande para trás para que a liberdade das mulheres usarem o seu corpo como lhes apetece nunca seja posta em causa. O mundo poderia ser um lugar pacífico, tranquilo, onde todos pudéssemos ser livres e felizes. Podia... não podia?

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E não tem nada a ver... mas deixem lá isso

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quarta-feira, junho 22, 2022

Nudez, intimidade, prazer, sexo (pago)

 

Está a fazer furor. Eles desdobram-se em entrevistas. Mais ela que ele. Compreende-se. Vários aspectos são tabu: sexo, prazer, intimidade, nudez. Tanto mais sendo sexo pago, sexo pago por uma mulher, nudez duma mulher com mais de 60. Tanto mais quanto ela é a Dame Emma Thompson.

Ao ver a apresentação do filme e ao ver algumas das entrevistas, fiquei a pensar. Será que, em circunstâncias idênticas, eu seria capaz de contratar um profissional de sexo? Não sei. Poderia ter vontade, poderia sentir curiosidade, mas não sei, sou um bocado medrosa para coisas assim. Ficar sozinha com um desconhecido, sem conhecer a sua índole, assustar-me-ia. 

E se fosse um ladrão? E se fosse um assassino? E se fosse um violador? E se fosse agressivo? E se fosse estranho? E se fosse um tarado? E se fosse um chantagista? E se fosse um palerma?

Sou um bocado esquisita, ou seja, exigente. Melhor: muito exigente. O diabo está nos pormenores. Se alguma coisa me desagradasse 

(um cheiro pouco convidativo, dentes mal lavados, cabelo pouco limpo, mais do que um pontapé na gramática, sinais de burrice aguda. umas cuecas foleiras, uma tatuagem ridícula, todo depilado, uma camisa com colarinho ensebado, umas meias encardidas, desatento... sei lá, mil coisas) 

já não ia dar. Tem que haver clima. Pode até ser apenas um climinha. Mas tem que haver. E, para haver climinha, não pode haver nada que distraia, nada que perturbe, nada que possa comprometer.

Por isso, com tanto receio, tanta ressalva, acho que não me arriscava a abrir a porta a um desconhecido havendo o risco de, no minuto seguinte, só querer vê-lo pelas costas. 

E se o mandava embora e ele se recusava a ir? Que medo...

Não... acho que o meu espírito de aventura não é para isto. Mas já me pareceria viável conhecer alguém num encontro em público com a intenção de o conhecer, de conversar. Claro que também poderia não funcionar. Ao fim de dois minutos poderia ter vontade de arranjar uma desculpa e desandar. Mas se, por exemplo, me aparecesse alguém com quem se pudesse ter uma boa conversa sobre a situação na Ucrânia e na Rússia, sobre o suicídio do PCP, sobre os problemas ambientais nos próximos anos... coisa assim, já me parece que poderia ser interessante. Poderia nunca passar disso. Mas isso, em si, poderia ter piada.

Mas, pronto, eu não poderia dar a personagem interessante que a viúva Nancy Stokes parece ser. E também não sei se há por aí muitos Leo Grandes.

Agora uma coisa é certa: não sei se, depois de um filme assim --  e falo apenas por ver a apresentação e as entrevistas -- se vai continuar a olhar para os profissionais do sexo da mesma maneira. É censurável que Nancy Stokes tenha recorrido a Leo Grande para voltar a estar nos braços de um homem, para voltar a sentir prazer, para voltar a sentir o aconchego da intimidade?

Falo por mim: não acho censurável.

Mas... se fosse ao contrário? Se for um homem a contratar uma mulher... já o é? Porquê? Porque um homem vender-se para dar prazer a uma mulher é menos censurável do que se for uma mulher a fazê-lo?

Good luck to you, Leo Grande

com
Emma Thompson, Daryl McCormack


Dame Emma Thompson wants to talk about sex. It’s all because of her new film Good Luck To You, Leo Grande. In it, she plays a widow in search of sexual fulfillment. Relative newcomer Daryl McCormack plays the sex worker she hires to help her in her quest.

Desejo-vos um dia bom
Graça. Alegria. Confiança. Paz.

quinta-feira, junho 02, 2022

Libertar as mamas, tapar os mamilos


Nada contra uma coisa ou outra. Mamilos tapados ou mamilos destapados, maminhas beatamente cobertas ou mamocas descaradamente ao léu. Tudo está bem quando acaba bem. #Freethenipples. #Coverthenipples. 

Posso já não ser praticante mas sou admiradora. Como em tudo, há que usar o que se usa com elegância e dignidade. Mais do que usar uma moda, há que ter atitude. So they say.

Pela parte que me toca, o que posso dizer é que gosto de decotes grandes e que agora pouco uso soutien. Só o uso em dia de festa ou afim tal como, por exemplo, reunião presencial. Livre sempre fui mas agora ainda mais me sinto.

Para o trabalho, tempos houve em que usei roupa que, em meu entender, dispensava o soutien Tinha um vestido de que gostava muito. Já não me cabe mas não o deitei fora. Tenho esperança que alguma outra mulher da família ainda tenha prazer em usá-lo. Era de uma malhinha de algodão preta, um vestido bem justo, liso, com um decote nas costas em V profundo, com umas tiras horizontais para unir as duas partes do decote dorsal. Usava-o com um cinto largo de pele macia em bordeaux. Claro que era incompatível com soutien dado que as costas estavam muito a descoberto. Na altura,  mil vezes não usar soutien do que ir com ele à vista. Agora isso também já não choca. Nessa altura, lembro-me bem, já tinha os meus filhos, eram pequenos, e nem trinta anos eu devia ter. Vestia-me assim, na maior descontração. Claro que, olhando para mim, se percebia que a única coisa que tinha vestido para além do vestidinho eram as cuecas que, de resto, eram escolhidas a dedo para não se notarem. Gostava de o usar. 

Também tinha um vestido branco sem mangas nem alças, um cai-cai com um franzido na zona do peito e depois solto para baixo. Gostava de o vestir no verão, quando estava um pouco bronzeada. Claro que o soutien também não tinha ali qualquer cabimento.

Se agora tivesse vinte ou trinta ou quarenta anos seria uma alegria para as liberdades vestimentais de agora. Há uns anos, eu vestir-me como por vezes me vestia era coisa que envolvia alguma ousadia pois não havia muita gente que se aventurasse.

Já o contei e conto outra vez pois na altura achei graça e nunca mais me esqueci. Aos trinta fui nomeada directora de uma grande empresa. Era uma directora multiplamente atípica. A direcção tinha umas vinte e tal pessoas e na altura tínhamos também sempre estágios curriculares, geralmente jovens finalistas e, por coincidência, porque me mandavam os melhores alunos e os melhores alunos eram raparigas, tínhamos geralmente um par delas. E trabalhávamos com empresas de consultadoria, a maior parte deles não portugueses. Havia, pois, para além de mim mais umas meia dúzia, pelo menos, de mulheres muito jovens, algumas estrangeiras, gente desempoeirada e muito bem disposta. Havia uma, estagiária, que usava saias e vestidos tão curtos e tão justos que tinha que andar sempre a puxá-los para baixo. Havia uma outra que morava ao pé da praia e andava sempre bem morena, com um cabelo muito louro, muito comprido, que usava sempre vestuário que destapava mais do que tapava. Eu tinha um gabinete mas o resto do pessoal estava numa ala grande, em open space. E foi por essa altura que um colega, um já com alguma idade, uma vez me disse com sorriso malicioso: gosto sempre de vir para estes lados, é como se estivesse a ir para o Meco. Para quem não saiba, a Praia do Meco é uma praia conhecida por se praticar nudismo. Achei um piadão.

Mais recentemente, eu já vestida com a discrição que a idade aconselha  (a idade e 'a posição social'  -- como dizia a mãe do meu amigo) pasmava com as roupas reduzidas de algumas raparigas que trabalhavam no escritório. E pasmava por o fazerem para tentarem partido disso. Isso deixava-me chocada. Uma, quando lhe chamaram a atenção para a saia reduzida num dia em que ia ter uma reunião importante, disse: 'Então... tenho que fazer pela vida...'. Fiquei deveras incomodada. Acho isso uma subversão e um atentado. A antítese do que deveria ser sempre o gosto de vestir.

Eu sempre me vesti para me sentir bem, porque gostava de me ver assim. Claro que sentia que despertava alguma atenção e isso não me desagradava. Mas não era isso, tal como não é hoje, o que me motiva. O que me motiva é o prazer de me sentir bem. Nunca me passou pela cabeça tirar qualquer partido da situação. Sentir-me-ia indigna se sentisse que estava a exibir-me para que alguém me promovesse pela minha aparência.

Provavelmente se hoje fosse uma jovem mãe e não uma idosa avozinha não iria trabalhar em tronco nu, apenas com uns tapa-mamilos. Mas para a praia iria, talvez até ousasse um modelito assim numa saída nocturna. Não sei...

O que sei é que acho uma graça, uma libertação, uma alegria. Felizes os tempos e as sociedades livres que o permitem. 

Contudo, quando se lê o título Breast in show! How nipple pasties went from underwear to outerwear. The self-adhesive covers are normally used in lieu of a bra, but celebrities from Cara Delevingne to Doja Cat are proudly flaunting them on the red carpet, sobre o facto dos tapa-mamilos deixarem de ser um adereço de underwear para passarem a moda à vista, pode pensar-se que é coisa recente, de agora. Mas não. Veja-se, por exemplo,

Miley Cyrus leaves Jimmy Kimmel flustered by wearing heart-shaped nipple pasties for chat show


Tenho ainda a dizer que fiquei agora a saber que há tapa-mamilos que são usados para fazer um lift instantâneo e não invasivo. Funcionam na base da fita cola e parece coisa bem prática. Aqui fica a dica a quem quiser aparecer espevitada das ideias e do frontispício. Não ponho o vídeo porque o youtube, que é algoritmo todo metido a besta, pudico que só ele, quer atestado de idade para o incluir no blog. Não estou para isso. Fica só a fotografia.


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E viva a vida
Saúde. Alegria. Paz.

sexta-feira, março 05, 2021

Homens & Mulheres

 



Grande parte da minha vida profissional tem sido passada maioritariamente entre homens. Conheço bem a sua maneira de agir, em geral. Em lugares de gestão ou de poder, a larga maioria, a esmagadora maioria, é de homens. Durante muitos anos eu era a única mulher numa equipa de gestão totalmente masculina. Aliás, toda a sociedade foi, até há não muito, uma sociedade maioritariamente dominada por homens. Se calhar até deveria dizer: até aos dias de hoje. Basta ver a percentagem de mulheres que, por cá, já ocuparam os primeiros lugares da hierarquia de Estado. Se arredondar às unidades, zero. Na Igreja, então, o atraso de vida é ainda maior. Nas Forças Armadas, idem.

No entanto, tenho que reconhecer que, apesar de tudo, tem havido consideráveis avanços. Custa até pensar como, até não há muito, as mulheres não podiam votar ou careciam de autorização do marido para exercer direitos que hoje parecem básicos.

Mesmo se me situar no domínio das artes, ao longo dos tempos, quantas mulheres artistas ocultaram a sua identidade pois também não era aceitável que as mulheres pudessem ombrear com os homens na criação artística?

Como foi possível que os homens exercessem tão absurdo domínio durante séculos é enigma dificilmente explicável.

Com o pretexto da sua maior força física e com notável espírito de corpo, os homens blindaram todo o espaço que tinham ocupado recusando a entrada das mulheres. No fundo, os homens sentem-se intimidados perante as mulheres. Sentem-nas imprevisíveis, destemidas, versáteis, ousadas, persistentes, determinadas e sabem que, perante uma mulher desinibida e focada num objectivo, pouco podem. Temem-nas, não o duvido. Sabem que, além disso, as mulheres encerram mistérios, sabem de manhas ancestrais e sabem fazer uso de forças que lhes nascem das entranhas. Os homens temem as mulheres por tudo o que elas são.

Podem os homens, nos bastidores, fazer grupo, uns com os outros, fingir que desdenham delas, ensaiar ares de superioridade, gozar com o que dizem ser os seus humores ou hormonas. Mas é tudo disfarce. No fundo, sabem que jamais terão pior adversário do que uma mulher que lhes faça frente.

Pretextos, enredos, intrigas, tudo tem servido para manter as mulheres a bom recato, inofensivas à força. Quando penso que tempos houve em que o sangue menstrual era pensado como impuro, motivo de repulsa, motivo para o afastamento das mulheres... Como é possível? Impuro o sangue que sai do ventre de uma mulher? Como pode ser impuro? Quando penso que talvez ainda hoje se preterem mulheres para algumas funções por poderem ter filhos, afectando a sua produtividade... Como é possível...? Há lá mérito maior do que poder gerar uma vida? Como falar de improdutividade a propósito de alguém que produz uma vida? 

Só por ignorância, obscurantismo ou muito medo alguém pode pensar assim. 

Gostava de ainda poder ver, no meu País, uma mulher como Primeira-Ministra ou como Presidente da República. Ou, no mundo, uma mulher como Papisa, talvez não entre os luxos do Vaticano mas num lugar modesto.

O mundo seria um lugar tão mais de paz, tão melhor, haveria tanta mais criatividade e generosidade se houvesse mais mulheres em lugares de poder. 

Eu sei que a própria palavra 'poder' tem más conotações, como se fosse sinónimo de ganância, prepotência, nepotismo, coisas que tais. No masculino, de facto, muitas vezes é bem assim, Mas 'poder', no sentido que aqui refiro, significa apenas influir ou determinar o rumo das coisas. 

Por isso, foi com particular prazer que ouvi as palavras de Eduardo Galeano no vídeo abaixo. E a música que acompanha as palavras também é de se lhe prestar atenção.


La vida según Galeano



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Fotografias de Alba Yruela ao som de O viridissima virga, Hildegard Of Bingen

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Uma boa sexta-feira.

sexta-feira, novembro 13, 2020

Uma experiência homossexual...?

 


Do que me conheço, em abstracto diria que seria altamente provável que eu fosse pansexual: ou seja, que gostasse de pessoas independentemente do seu sexo ou orientação sexual. Crio, naturalmente, uma forte conexão com pessoas de quem gosto. Pelo contrário, sinto repulsa, que é mesmo repulsa física, se verdadeiramente antipatizo com alguém. Não é frequente sentir uma antipatia assim, visceral: tenho que sentir, no meu mais íntimo, que é uma pessoa parva, oca, narcisista, destituída de inteligência, de genuínos sentimentos, de valor de qualquer espécie. Aí nada a fazer, só peço a todos os santinhos para nunca me aparecer à frente. Em contrapartida, se a pessoa é inteligente, se tem sentido de humor, se é generosa, simpática, se desenvolve empatia em relação aos outros, se é boa companhia, se sabe surpreender-me, então, tem a minha simpatia e facilmente me relaciono com ela.

Mas uma coisa é simpatizar, outra é sentir atracção física. Aí, nesse capítulo, sou muito selectiva. Quando eu desdenhava de muitos que toda a gente achava o máximo, havia sempre alguém que dizia: hás-de deixar-me ver o teu caixote do lixo. Para eu me sentir atraída por alguém tem que essa pessoa ser muito de muitas coisas e nada também de muitas coisas. Na atracção física sou fundamentalista. Não há meio termo, não faço concessões. Tem que fazer o pleno dos fundamentais. 

E, até hoje, isso só aconteceu com homens. Nunca me senti atraída por uma mulher. Identicamente, nunca me apercebi de que alguma mulher se sentisse atraída por mim. Que eu saiba, de entre as mulheres com quem me relaciono mais de perto apenas uma é homossexual, mas não assumida. A mim tanto se me dá. Não me faz qualquer impressão nem uma coisa nem o contrário. Simpatizo com ela por ser como é.

Se me forçar a pensar no que poderia ser a minha reacção se uma mulher se apaixonasse por mim ou pretendesse tocar-me de uma formais sexualizada, sinto incómodo. Penso que sentiria repulsa. Mas lá está: nunca aconteceu, o que pense sobre isso é em abstracto. Contudo, a verdade é que face aos antecedentes e à minha muito marcada inclinação hetero, julgo ser altamente improvável que alguma vez venha a ter alguma experiência homossexual. Para o ter, julgo que deveria haver da minha parte, a priori, alguma predisposição e não há. Ou melhor, até hoje nunca houve.

Mas, também em abstracto, uma coisa eu digo: se houvesse essa tal predisposição, não haveria da minha parte qualquer preconceito que me levasse a rejeitar, à partida, uma tentativa. Em abstracto, imagino que o melhor dos mundos deverá ser o mundo dos pansexuais: uma pessoa apaixonar-se e desejar uma pessoa só porque a pessoa nos cativa, nos dá vontade de estar próxima, abraçada a nós, bem apertadinha, nos apetece a sua companhia, nos apetece rir e conversar e passear e construir sonhos e projectos conjuntos e tudo isso pela pessoa em si e não por ser homem ou mulher ou gostar de homens e mulheres; isso parece-me um conceito irrecusável, a maravilha das maravilhas. Cá para mim, felizes os pansexuais. 

Agora que escrevi isto ocorreu-me uma dúvida: ser pansexual será a mesma coisa que ser bissexual? Deve ser, não é? Não sei se conheço alguém bissexual. Se conhecesse e se quisesse falar sobre o assunto, aproveitaria para satisfazer a minha curiosidade. 

Mas, pronto, não conheço, não sei. Não digo mais nada. Limito-me a partilhar um vídeo com as meninas mais prá-frentex de que há memória: Gilda, 78 anos, Helena, 92, e Sônia, 83.

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As fotografias são da autoria de Mario Finazzi na companhia de Portrait of a Lady on Fire (ao som de Vivaldi) e de Carol

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E tudo de bom para vocês, ok?

terça-feira, setembro 22, 2020

O apelo de mulheres menos belas e não tão jovens

 


Apesar de possuir um apurado sentido estético e de ter preferido desde sempre as raparigas muito jovens com o seu encanto primaveril, não deixava também de reagir perante o apelo de mulheres menos belas e não tão jovens. Durante os bailes sucedia por vezes deixar-se prender por uma qualquer rapariga desanimada e sem frescura, que ninguém desejava e o conquistava pela via da compaixão, e não só da compaixão, mas devido também à sua eterna curiosidade. 
A partir do momento em que se dedicava a uma mulher -- fosse por semanas ou apenas por horas --, ela tornava-se bela aos seus olhos e a sua entrega era completa. A experiência ensinara-lhe que todas as mulheres eram belas e capazes de dar prazer, e que mesmo a de aparência insignificante, desprezada pelos outros homens, podia revelar um ardor e uma entrega inauditos, e que mesmo aquela que perdera já o viço da juventude era capaz de derramar uma doce ternura melancólica e mais que maternal; no fundo, todas possuíam um segredo e um encanto cujo desvendar o fascinava.

Nesse aspecto eram todas elas semelhantes: havia sempre um gesto especial capaz de compensar qualquer falta de juventude ou beleza, embora nem todas o prendessem durante o mesmo tempo. A menos bela não lhe inspirava menos amor e gratidão do que a mais jovem e graciosa, a sua entrega era sempre total. 


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Excerto de Narciso e Goldmund, Hermann Hesse; Bodyscapes de Carl Warner;  F Major de Hania Rani

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quarta-feira, julho 15, 2020

Que idade tem a UJM?
Ui....
Descubra... (e, de caminho, descubra também a sua).
E, já agora, descubra também algumas coisas muito úteis e que nem lhe passam pela cabeça...





Dias de calor, de tranquilidade. Ontem lavei cortinados, lavei vidros, lavei um tapetão de arraiolos. Hoje não, hoje foram reuniões de seguida, não houve intervalos para limpezas. Talvez esta quarta-feira consiga. Mas tenho várias outras coisas para fazer, para além de trabalhar: tenho telefonemas, agendamentos. Contudo, por onde passo vou diagnosticando: devia varrer ali ao fundo, devia lavar o outro tapete, devia pôr reparador de móveis ali, devia fazer uma boneca e limpar teias de aranha na clarabóia. Só que, entre isto e aquilo, o tempo acaba por não chegar. Amanhã, para além do resto, quero escrever um mail. Mas tem que ser coisa bem feita, devidamente objectiva e sintética. Não pode ser feita no meio de uma ofensiva com a esfregona ou enquanto o caldo não levanta fervura.


Com isto, por incrível que possa parecer, ainda não peguei no livro novo. Não sei que mistério é este: dantes parece que tinha tempo para tudo. Agora não tenho tempo para nada. O meu marido, que agora partilha o mesmo espaço de trabalho que eu, diz: tempo demais ao telefone. Talvez. Mas se me ligam e falam, falam, falam, ia eu ser deselegante e inventar desculpa esfarrapada para atalhar a conversa? Não, não sou capaz. Não sou de inventar desculpa, dizer que me estão a chamar. Nunca fui disso. Aguento firme só porque não sou capaz de forjar argumento para interromper. Problema meu, estou certa. Problema meu não ser capaz de omitir opinião, de usar disfarce. Não consigo dizer outra coisa que não a verdade, ou, pelo menos, aquilo que o meu entendimento considera verdade. Se acho que é preto e que está frio não consigo fazer de conta que é cinzento e que até está morninho. Colega que me conhece muito bem tenta aconselhar-me, dizendo-me frequentemente: não precisa de dizer tudo o que pensa, deixe estar. Outras vezes, lembra-me: ter razão antes de tempo é, geralmente, igual a não ter razão. E eu pergunto-lhe: 'Mas, acompanhando as minhas opiniões, os meus 'desalinhamentos', as incompreensões de que, volta e meia, sou vítima, a posteriori o que tem a dizer das minhas razões?' E ele diz: 'Então, já sabe, reconheço que tem geralmente razão. Mas como a tem antes dos outros lá chegarem, passa por não ter'. Acresce um outro defeito muito meu: como quero evitar que os outros se estampem, insisto nos alertas, esfarrapo-me para que se previnam contra males que antecipo. E, afinal, as pessoas não querem ser alertadas, querem é bater com a cabeça na parede. Ele diz, para me consolar: 'Mas já sabe que é assim, já devia estar habituada'. Pois. Não estou. Ainda não aprendi a ficar calada, ainda não aprendi a desinteressar-me dos problemas que sei que vão acontecer. E, quando acontecem, fico doente, furiosa comigo mesmo por não ter sido capaz de evitá-los, por não ter sabido ser persuasiva, por ter sido tão directa que fiz com que as pessoas me julgassem alienada.


Já vi empresas irem pelo cano, prejuízos de milhões, quando anos antes previ que ia acontecer e arduamente batalhei para que se evitasse o avolumar do prejuízo, alertando, isolada, para que era um fiasco quando todos falavam em sucesso -- e, por isso, fui muitas vezes chamada a atenção por ser desalinhada. Tal como já vi gente cair em desgraça e ser apontada e corrida como um flop quando desde há anos vinha alertando para que aquilo ali era era um bluff. Mas o meu amigo tem razão: serve para quê a gente ver antes dos outros ou vermos o que os outros não querem ver... se a verdade é mesmo esta: se os outros não querem ver antes de ser impossível não ver, para quê insistir? O ensaio sobre a cegueira tem muitos casos de estudo.

Ocorre-me, então, que, se calhar, ainda não conquistei aquele calo que endurece a alma, que a envolve, a adormece, a impede de se manifestar. Aquela indiferença.  Aquele deixar andar. Ver e ficar calada, na minha. Pensar: se querem estrepar-se pois que se estrepem. Fingir. Fazer de conta que não vejo. Alinhar-me. Ser figurante num filme que sei que não vai acabar bem mas, até que acabe, fazer de conta que acredito que vai ter final feliz.


Falta-me, na volta, atingir aquele grau de maturidade que impede a malta de fazer ondas, que faz com que se fique de bico caladinho haja o que houver.

E, para me ajudar a perceber em que etapa de maturidade me encontro, eis que o meu amigo algoritmo, sem que qualquer indício da minha curiosidade eu lhe tivesse dado, me aparece a sugerir um teste para descobrir a minha idade mental. Nem mais. Acreditem ou não, liguei o computador, abri o Youtube e cá estava este vídeo. Não resisti. Pensei: tenho ideia que já uma vez me tinha dado que sou pouco mais que uma teenager. Mas hoje pensei que, se calhar, já estou é para lá do prazo de validade, demente, cheché, já vejo mas é as coisas deturpadas. Talvez vista cansada, espírito derreado, cabeça esvaída. Sei lá.


Mas não: idade mental entre 21 e 35 anos. 
Segundo ali se diz: estou a caminho de consolidar a minha personalidade adulta, estou a descobrir o que é bom para mim, sou séria e responsável quando devo sê-lo; mas também sei divertir-me!
E toda esta conversa apesar de ter sérias dúvidas a propósito do rigor de tudo isto... Mas sei lá. Os mais 'sérios', 'conceituados' e caros assessments não são baseados em perguntas por vezes também tão insólitas...?

Por isso, aqui está o teste. Façam-no, avaliem o que dá para o vosso caso, ajuízem. e, se for caso disso, esqueçam.


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Mas também pode dar-se o caso de que esta conversa mais psi não seja bem a vossa praia e que prefiram coisa mais concreta e útil. E, assim sendo, aqui vai a segunda sugestão do camarada algoritmo, um vídeo daqueles que vejo com atenção do princípio ao fim pois descubro coisas em que nunca tinha reparado e que me parecem de inegável utilidade.


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Não vou dizer que as fotografias de © Emmie America são a cara do texto mas também garanto que não estão aqui para amofinar os mais apertadinhos. Estão aqui apenas porque gosto delas. E o mesmo digo de Listen to the Grass Grow na maravilhosa interpretação de Catrin Finch e Seckou Keita: gosto, sem mais explicações.

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E desejo-vos, a todos, um dia sereno, bom.