Gostei do comentário. Gostei mesmo, é original, tem graça. Muito obrigada.
No título da mensagem transcrevi a citação mas não acrescentei o autor. Está aqui: Jeanne Siaud-Facchin
E, já agora, esta fotografia e a outra lá em baixo são da autoria de Lucien_Clergue.
Tal como diz quem escreveu o dito comentário, eu também penso que 'o outro' não tem historial. Por isso, confesso, não vou tranquilizada. Vou numa de 'pagar para ver', numa de 'vamos ver'.
De vez em quando temos que negar a inércia. O mundo anda. As ideias, as atitudes e a nossa visão sobre o mundo também têm que mudar. Agora ia dar um exemplo mas não posso pois, supostamente, estamos a reflectir. Mas o que eu queria dizer é que, quando o mundo anda mas nós não, acabamos por ficar a falar sozinhos.
Para que as coisas mudem, alguém tem que arriscar. Depois, se a coisa correr bem, outros virão atrás. Arriscar é isso mesmo: correr o risco. Se der para o torto, a gente arrepia caminho e corrige a rota. Se correr bem, bora, vamos lá.
O mundo hoje já não é o mundo que existia quando eu comecei a trabalhar. Agora é o mundo no qual os meus filhos trabalham. E há de ser aquele em que os meus netos trabalharão. Não posso continuar a pensar nos problemas que havia antes e a manter-me agarrada a soluções para esses problemas quando agora há mil novos problemas, mil novos desafios.
A minha decisão representa, para mim, um salto impensável. Ontem acrescentei no título a última parte (a explicitação de quem, obviamente, não seria contemplado) pois a minha filha alertou-me para que eu deveria deixar isso bem claro, não fosse alguém ainda pensar que eu tinha ficado destravada de todo. E, há pouco, o meu filho, que, tal como a irmã, me conhecem a apontar sempre no mesmo sentido desde o início dos tempos e que não tinha lido o que eu ontem escrevi, tendo-lhe eu comunicado a minha decisão, ficou pregado ao chão (ou ao tecto -- não sei, não vi, a conversa foi por telefone). Tentou chamar-me à razão, assegurar-se de que eu estava plenamente consciente da minha decisão.
Mas é assim mesmo. Estou consciente.
Quando eu trabalhava, uma vez tomei uma decisão que fez o vice-presidente de uma gigante multinacional enfiar-se num avião e, sem aviso prévio, aparecer-me, ao fim da tarde, no gabinete. As empresas tinham uma parceria de longa data que definia que, em condições de igualdade, cada uma daria primazia à outra na celebração de negócio. Ora, uma vez, estava em jogo um negócio várias vezes milionário e a empresa dele estava a querer impor condições muito favoráveis para eles e não muito para nós. E eu ameacei que ou eles se ajustavam ou eu avançaria com o principal concorrente deles. Não acreditaram pois tínhamos uma sólida parceria, de anos. Mas eu não vendo jogo branco. Trabalhar com outra empresa, com a qual não estávamos habituados, ferir a parceria que era sólida e duradoura, era uma facada numa empresa que era uma fiel amiga e era, sobretudo, um arriscado tiro no escuro. Mas dei-o.
Quando ele me entrou no gabinete, pela primeira e única vez na minha vida profissional senti-me intimidada. Fisicamente, ele devia medir para cima de um metro e noventa, era um homem com um grande charme, um francês de se lhe tirar o chapéu. Sempre tínhamos tido um relacionamento cordial, afável. E, de repente, tendo perdido um negócio importante, tendo ficado evidente no mercado que não nos tinham na mão, ele não estava disposto a digerir o que sentia como um atentado.
Estava furioso, varado. Vinha exigir explicações. Creio que, até, vinha pedir a minha cabeça. Mas, obviamente, eu tinha cobertura. O presidente com quem eu trabalhava na altura, um temível homem de negócios, dizia que a minha frieza, ao negociar, o assustava. (A mim também. Mas sentia, também, uma adrenalina à qual não conseguia fugir).
O francês extraordinário não me matou. E eu consegui esconder que, por dentro, me sentia um pouco intimidada. Pelo contrário, ele percebeu que voltaríamos a fazer negócio sempre que fosse bom para os dois, não apenas para ele. Acabou a chamar-me la femme infidèle. Dizia o meu nome em francês e acrescentava, sorrindo, 'la femme infidèle'. Fizemos muito mais negócios e habituou-se a que, quando não conseguia acompanhar a concorrência, a coisa lhe fugia das mãos. Mas mantivemo-nos amigos, embora nunca mais tivesse deixado de me tratar por mulher infiel.
Se calhar, é o que vou também fazer este domingo: ser infiel. Seja.
Não garanto que não vá arrepender-me. Estarei cá para avaliar se é opção a merecer continuidade. Se não forem merecedores, na próxima não contarão comigo.
Não sou conservadora. E acho que não sou medrosa. Também acho que não sou burra de todo. Portanto, vamos ver. Bola para a frente.
Para já, cá estão elas, as zebras, o tema deste post. Magníficas, na verdade.