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segunda-feira, dezembro 30, 2024

Dia super feliz in heaven.
E a relação entre os signos e a gastronomia.

 

Entre sexta e sábado foi limpeza a fundo: os outsides todos varridos e lavados e esfregados, nos interiores, spray de cera de abelhas nas madeiras, limpeza de vidros, tudo sacudido, limpo, lavado, spray de lixívia em uniões e juntas das casas de banho e todo um vasto etc. e etc.

Fomos também ao supermercado da vila onde têm carnes excelentes. Também costumam ter bons peixes e afins mas não tinha o que eu queria (choquinhos pequeninos para fazer com tinta). Pena o senão do vagar das empregadas que conversam com os clientes que conhecem. Uma pessoa desespera sem saber quando é que a confraternização vai acabar. Mas ninguém parece ter pressa. Olho em volta e vejo toda a gente na boa, à espera. Parece que só eu é que ainda não aprendi a aguardar serenamente.

Este domingo foi dia grande, desde cedo a maltinha toda reunida in heaven. Corte de árvores, queima. Um avanço na limpeza que foi um gosto. Tanto o trabalho que um dos jovens trabalhadores até andou, parte do tempo, em tronco nu.





E o mais pequeno já anda de bicicleta que dá gosto, por lá anda, sozinho, em caminhos estreitos, subidas, descidas, curvas. E os mais crescidos fizeram corridas de trotinete e depois todos jogaram ao Monopólio para Batoteiros, coisa que dá muita luta e que até levou à expulsão do batoteiro-mor.... 

E o almoço foi um regalo, com o meu filho, uma inesgotável força de trabalho, que, depois de serrar, carregar, queimar, se atirou ao barbecue. 

Dia maravilhoso. Frio mas, ao sol, suportável. E em casa bem.

Mas vinha eu a pensar que já o meu pai, que era caranguejo, adorava cozinhar e ter-nos lá todos em volta da mesa. E eu e o meu filho também somos assim. Claro que o meu marido e a minha filha e a minha nora também gostam tal como a minha mãe também gostava, são todos muito bons anfitriões. Mas creio que não há aquela 'coisa' muito intrínseca de queremos dar de comer aos 'outros', parece que queremos ter a certeza de que se alimentam bem e de que temos aquilo de que gostam, 'coisa' essa que esses 'outros' nem sempre compreendem ou aceitam bem. 

Pois agora, ao ver a Madame le Figaro, vejo um artigo em que se fala na relação de cada signo com a gastronomia. Transcrevo a descrição de como é o Caranguejo. Por mais surpreendente que possa parecer para alguns, supostamente existe uma ligação entre a astrologia e a gastronomia. A astróloga Amélie Weill fez dela o tema do seu primeiro livro, Astro food (Éd. Flammarion). E, segundo ela, as sete estrelas da constelação em forma de panela da Ursa Maior seriam o sinal supremo.

Caranguejo

O Caranguejo, o primeiro signo de água do zodíaco, leva-nos ao território das emoções. O que mais gosta é de unir as pessoas e fazê-las felizes. O Caranguejo preocupa-se com os outros e, para ele, a comida é cuidado. Atento, adivinha e antecipa as necessidades de todos, e até se questiona porque é que os outros não fazem o mesmo... Em suma, não se limita a cozinhar, coloca amor em tudo o que faz.

A sua fantasia secreta? Vivendo numa antiga casa de pedra, rodeada por um magnífico jardim e repleta de amigos e crianças, todos se reuniam à volta de uma mesa para saborear os bolos da avó, desde mil-folhas gourmet a tarte de mirtilos acabada de sair do forno. O pequeno guilty pleasure alimenta a sua vida diária... E se não gosta do que ele lhe preparou, não lhe diga, nem use luvas de pelica. A cozinha é como uma família, não se lhe toca!

Só neste último aspecto é que não me revejo: não me importo que critiquem. Aceito bem críticas, reprimendas e sugestões. Claro que nem sempre as sigo (porque, como é óbvio, há coisas que são mais fortes que eu) mas, enfim, esforço-me e não levo nada a mal, até agradeço.

Para quem tenha curiosidade, aqui está o link para o artigo com todos os signos: Nos préférences et compatibilités culinaires signe par signe, selon une astrologue

E uma semana para todos!

sexta-feira, setembro 20, 2024

Alô, alô Marcelo Rebelo de Sousa: a Senhorinha Margarida Blasco ainda é ministra da Administração Interna?

 

Pergunto.

E a todos os que têm memória e dois dedos de testa, peço que façam um exercício de comparação entre Constança Urbano de Sousa e esta senhorita que não apenas deixa que roubem computadores das suas instalações (não apenas do Ministério como agora também, mais recentemente, de um armazém da Unidade de Controlo Costeiro e de Fronteiras (UCCF) da GNR, em Santos, Lisboa) como notoriamente, a propósito dos incêndios, a única coisa que sabe fazer é um relato póstumo sobre números (bombeiros, carros, aeronavesnvolvidos nas operações). Para além disso, diz que não comenta. Por muitas perguntas que lhe façam, ri-se com ar meio atoleimado e diz que não comenta.

Ouve-se a senhorinha e fica-se com a sensação de que não pesca nada de nada de coisa alguma e não apenas isso como anda em estado de desnorte, sem sequer saber o que anda a fazer.

Sobre o Secretário de Estado da Protecção Civil, já ontem o meu marido fez uma chamada de atenção ao seu curriculum vitae em que fica patente que a experiência em situações que requerem intervenção da Protecção Civil é nula.

E fica-se com a noção de que a esta senhorinha bem como ao seu chefe, o Rambo de Espinho, nem lhes ocorre pensar na gestão dos incêndios, no que deve e não deve ser feito para os prevenir, para os controlar. Julgam que o problema se restringe a algumas pessoas terem tido comportamentos pirómanos? Serão tão básicos, tão limitados, tão ignorantes?

E anuncia a criação de grupos que, afinal, já existem? Que ridículo. Que reincidência.

Tudo isto é desconcertante, embaraçoso.

Marcelo Rebelo de Sousa que foi indesculpavelmente injusto para ministros tão válidos de António Costa, agora enfia a viola no saco e deixa que tantos erros de casting estejam a ocupar cargos críticos no país?

quinta-feira, setembro 19, 2024

Marcelo aprecia o estilo Rambo de Espinho de Montenegro?
Não percebe que estamos entregues à ramboiada?

-- A palavra ao meu marido --

 

Temos um governo que, como disse o Marques Mendes 'até agora só passou cheques e baixou impostos' (obviamente que estava a incluir a baixa de impostos decidida pelo PS), um primeiro-ministro  que julga que é o Rambo e um PR que é o pior dos últimos cinquenta anos como afirmou o José Miguel Júdice. 

De facto, não parece haver razões para optimismos. Os que votaram AD acreditando no que o Montenegro disse na campanha eleitoral -- e rapidamente se percebeu que existe uma enorme diferença entre o que ele disse em campanha e o que (des)disse quando chegou ao governo -- não devem estar satisfeitos. 

Este Verão, nas áreas em que a comunicação social e a AD mais criticaram o governo do PS e fizeram crer que tudo se resolveria com a mudança do governo, a situação piorou. 

  • Na Saúde, a ministra, incapaz de assumir qualquer responsabilidade e originando conflitos desnecessários, criou o caos. Fecharam muito mais  urgências e, no caso da pediatria e da obstetrícia, a situação tem sido desastrosa. 
  • Na área da Justiça assistimos estupefactos à fuga,  em pleno dia, de cinco presos usando escadas e lençóis, pasmámos com a demora com que a informação foi transmitida às forças de segurança e quase arrancamos os cabelos quando nos informaram que o mandado de captura foi emitido oitenta e três horas depois da fuga. A ministra apareceu passadas alguns dias culpando os serviços, falando em inquéritos mas não se pode dizer que, para variar, tenha assumido qualquer responsabilidade politica. O costume. 
  • Na Educação, o regresso às aulas foi o que se viu. Dezenas de milhares de alunos sem professores e o PR a dizer que não percebia qual a razão de concurso extraordinário (?) ainda não ter sido lançado. Há um ano o Montenegro dizia que, para não haver problemas com o 'início das aulas', bastava mudar de governo. 

Montenegro foi para primeiro-ministro e os problemas aumentaram. 

Com a coerência que lhe é reconhecida, agora afirma que para resolver os problemas com a falta de professores é preciso uma legislatura. De novo, o costume. 

Após várias anos em que felizmente a situação com os incêndios foi menos gravosa, nos últimos dias o País passou por situações terríveis. E faço notar que estranhei não ter havido uma presença da MAI nos media nem que fosse apenas para termos a certeza que existe e que não serve só para passar cheques aos policias, e isto independentemente de haver um conjunto de causas que também contribuem para a situação, nomeadamente atividades criminosas,  desleixo das pessoas ou condições climáticas,

No meio da incapacidade dos diversos ministros, temos um PM/ Rambo que se faz fotografar em botes de borracha (uma atuação absolutamente inqualificável) e que refere, passando um atestado de incompetência aos serviços, que foi ele que, num acesso à autoestrada quando viu o fogo, mandou cortar estradas e contactou as autoridades locais (só alguém que não tem nenhuma noção de como se actua nestas situações pode ter proferido estas afirmações) e que, de punho cerrado, ameaça perseguir os criminosos que ateiam fogos qual justiceiro desrespeitador da lei. 

Até o André Ventura fez comentários menos tendentes a originarem atitudes irrefletidas por parte da população. Com este discurso do PM corre-se o risco da população tentar fazer justiça pelas próprias mãos. Tomara que uma notícia que li agora de que um grupo de 20 populares perseguiu e ameaçou de morte uma mulher, incendiando-lhe a casa, não seja já fruto disso.

No intervalo, o PM vai desdizendo tudo o que disse quando era candidato a presidente do PSD sobre a aprovação do orçamento. Nessa altura referiu que jamais aprovaria um orçamento do PS. Agora pede ao PS que aprove o orçamento e que não faça o País cair numa crise política, embora, dia sim, dia sim provoque o PS e tente humilhar a oposição. O PM é capaz de afirmar com a mesma convicção uma coisa e o seu contrário (foi assim com a baixa de impostos, com a resolução dos problemas do SNS em sessenta dias e com o início do ano escolar sem problemas). Para além desta incoerência ainda é capaz de utilizar situações dramáticas para fazer política, o que deveria ser motivo de penalização por parte dos portugueses. Não tem perfil para PM.

E o PR, tão contundente para com o Governo de António Costa nos incêndios de 2017, o qual, segundo os especialistas, ocorreram em situações mais gravosas que as actuais, agora, quando a situação também não correu bem, só sabe apoiar o governo e nem consegue proferir qualquer critica. Ainda bem que está quase a chegar som fim do mandato.

Não se pode esperar nada de bom destes protagonistas. 


PS 1 -- Por curiosidade, recomendo que se veja o CV do Secretário de Estado da Protecção Civil (advogado, presidente da distrital de Setúbal do PSD, com experiência num cargo qualquer do Vitória de Setúbal, num Centro de Emprego durante um Governo PSD, deputado, vereador em Palmela, etc). Ou seja, do que se vê, conhecimentos de Protecção Civil: zero.

PS: Uma coisa me espanta: não ter visto o Montenegro na Ponte 25 de Abril a chefiar os agentes policiais que detiveram os assaltantes da ourivesaria de Fátima.

quarta-feira, setembro 18, 2024

Uma pergunta a Marcelo Rebelo de Sousa, na sequência da sua participação no Conselho de Ministros extraordinário:
então agora não vai andar por aí a pedir a demissão de Constança Urbano de Sousa?
Então, afinal, não é ela a responsável por todos os incêndios e desgraças que acontecem em Portugal?
Ou essa sua apregoada beata solidariedade estratégica e institucional é só com o Montenegro e Cia.?

 

É que eu tenho memória, Senhor Presidente.

Da próxima vez que for a Fátima bater no peito e pedir desculpa pelos seus inúmeros e imperdoáveis pecados, não se esqueça de pedir perdão pela brutal injustiça, pela injustificável falta de solidariedade e pela vergonhosa desumanidade que, em 2017 e em idênticas circunstâncias, demonstrou para com a ex-Ministra Constança Urbano de Sousa.

E só espero, Senhor Presidente, que, tal como eu, os portugueses em geral também tenham memória e, também tal como eu, não tenham a capacidade de perdão de Nossa Senhora de Fátima que, de resto, também já deve estar pelos cabelos de o ver sempre a pedir batatinhas, reincidindo a seguir na leviandade, no cinismo, no oportunismo político.

O mínimo que podia fazer, o mínimo, seria apresentar um público pedido de desculpas a Constança Urbano de Sousa. O mínimo.


[E queiram continuar até A versão dantesca de Sol na eira e chuva no nabal]

A versão dantesca de Sol na eira e chuva no nabal

 

Enquanto noutros países chove que deus a dá, levando tudo à frente, um dilúvio que deixa toda a gente assombrada com a tenebrosa força bruta das águas, por cá está como se tem visto, o fogo inclemente a devorar florestas, matos, casas, carros e, infelizmente, também algumas vidas -- humanas e, mais do que provavelmente, também não humanas.

O calor de brasido, a raiva furiosa das chamas que avançam a uma velocidade medonha, tudo é um pavor.

Por muito que se queira encontrar culpados próximos (e há-os certamente, em primeiro lugar os criminosos que ateiam os fogos), creio que não restam dúvidas de que estamos às portas do mundo que nos espera, em especial as gerações que nos seguirão. 

Medidas estruturais, de fundo, disruptivas, terão que ser levadas a cabo para tentar travar estas alterações no clima pois eventos extremos de calor, de vento, de chuva não podem ser apaziguados com lenitivos.

A woman next to her home in Covelo, Gondomar, northern Portugal. Photograph: José Coelho/EPA

Fotografia integrante do artigo do Guardian: 

Portugal wildfire deaths rise to seven after firefighters trapped in blaze


More than 50 people injured as 54 fires burn across country amid hot, dry and windy weather
(...)

Scientists have said human-caused climate breakdown is supercharging extreme weather across the world, driving more frequent and more deadly disasters, from floods – as seen this week in central Europe – to heatwaves, droughts and wildfires.

Human-caused climate breakdown is making heatwaves more likely and more intense, with some – such as the extreme heatwave in western Canada and the US in 2021 – all but impossible without global heating.

quinta-feira, agosto 25, 2022

O algoritmo de Patrícia Gaspar, a Serra da Estrela que vai ficar melhor segundo Mariana Vieira da Silva e, já agora, a ciência dos incêndios florestais

 

Com os fins de semana passados no campo, com a família toda de férias, com o trabalho a continuar, tentando retomar o hábito da leitura e estando em fase de dar início a uma nova actividade, ando como que em suspenso sobre a realidade. Pouca televisão tenho visto e o interesse que 'as gordas' me despertam é muito relativo.

Entretanto. hoje a temperatura baixou um pouco e disseram-me uns familiares que, de tarde, entre Coimbra e o Porto, apanharam alguma chuva. Menos mal. Nada do que é preciso mas, pelo menos, não agravou a triste situação de seca prolongada.

Claro que a situação dos incêndios melhorou. Mas houve dias em que se olhava para o mapa dos fogos e havia chamas por todo o lado.

No meio desta situação dramática, em que parte do país arde, duas coisas parece terem provocado uma excitação colectiva, pelo menos junto da oposição mas, estou em crer, também junto das redes sociais: a Secretária de Estado Patrícia Gaspar ter revelado que, de acordo com os algoritmos, seria expectável que a superfície ardida fosse maior em cerca de 30% e a afirmação de Mariana Vieira da Silva sobre as melhorias que espera que ocorram depois do plano que o Governo tem para a recuperação da Serra da Estrela.

Quando leio algumas reacções, geralmente por parte de gente muito burra que fala como se fosse muito inteligente, fico irritada. 

Explico porquê.

Sobre o algoritmo: 

  • Mal fora que, perante a avassaladora progressão de sinais de que as alterações climáticas já cá estão e vieram para ficar, com consequências muito complicadas, ninguém tivesse criado modelos de previsão e análise de impactos. Mal fora. O que se espera é que geógrafos, biólogos, zoólogos, matemáticos et al se juntem em equipas de trabalho e criem algoritmos que apoiem os decisores. Com medições localizadas e linhas de tendência para temperaturas, para níveis de humidade no ar, no terreno, na vegetação, índices de florestação, homogeneidade das culturas, com indicadores reais e previstos para a velocidade do vento, etc., não será difícil prever a extensão e velocidade de propagação dos incêndios caso se verifique a pouca sorte de haver a primeira chama, a infeliz faísca, a inoportuna brasa.

O facto de Patrícia Gaspar falar nisto apenas me tranquiliza. Não estou tranquila quanto ao desastre das alterações climáticas nem quanto à dificuldade de aceder a alguns locais em que os fogos avançam imparáveis. Estou tranquila é com o facto de haver algoritmos para modelizar esta triste e perigosa realidade e termos governantes que valorizam os bons algoritmos como ferramenta de apoio à decisão.

Sobre a afirmação de Mariana Vieira da Silva:

  • Mal fora que, perante a destruição a que se assistiu na Serra da Estrela, havendo a oportunidade de mitigar os riscos e melhorar as condições de prevenção e combate aos incêndios, tal não fosse aproveitado. Introduzir espécies vegetais mais resistentes, florestar de forma racional, criar caminhos, adoptar a sério a prática dos rebanhos sapadores, ter postos de vigia melhor localizados e preparados, ter sistemas de detecção e ataque primário mais rápidos e mais eficazes -- é o que se espera. E fico mais tranquila ao ouvir a ministra dizer que a Serra da Estrela vai ficar melhor preparada para resistir a esta tendência de haver cada vez fogos florestais mais difíceis de controlar.

Por isso, penso que só gente mentecapta ou com a mente deformada pela prática da maledicência pode achar que a afirmação de Patrícia Gaspar conflitua com a de Mariana Vieira da Silva ou que alguma delas se 'espalhou' ao dizer o que disse.

Há algum tempo, recebi um mail de alguém que dizia que eu, quando falo de gente burra, pareço arrogante. Lamento que isso aconteça pois a mim própria não me vejo como arrogante. Contudo, claro, a forma como me vejo de pouco servirá se for diferente como  maioria das outras pessoas me vir. Gosto de pensar que sou humilde, que estou sempre disposta a aprender e a ouvir os argumentos dos outros. Mas há um mas, reconheço. Quando falo nos outros com quem estou sempre disposta a aprender excluo os burros, aqueles ignorantes inconscientes da sua ignorância que juntam ao seu desconhecimento das coisas de que falam o vício da maledicência.

Patrícia Gaspar e Mariana Vieira da Silva são duas pessoas competentes, preparadas para as funções que exercem, inteligentes, fortes, abnegadas na forma como se dedicam ao que fazem. Temos sorte em ter pessoas assim no nosso Governo.


Acresce que só gente com palas de lado e por cima dos olhos é que pensa que o problema dos incêndios florestais é um problema português com causas atribuíveis ao governo português. Melhor fora que assim fosse. Mas não é. É um problema que atravessa várias regiões do mundo e que, infelizmente, já entrou naquele loop em que as coisas são ao mesmo tempo causa e consequência.

Recomendo a visualização do vídeo abaixo. Tudo está muito bem explicado.

The climate science behind wildfires: why are they getting worse?

We are in an emergency. Wildfires are raging across the world as scorching temperatures and dry conditions fuel the blazes that have cost lives and destroyed livelihoods.

The combination of extreme heat, changes in our ecosystem and prolonged drought have in many regions led to the worst fires in almost a decade, and come after the IPCC handed down a damning landmark report on the climate crisis.

But technically, there are fewer wildfires than in the past – the problem now is that they are worse than ever and we are running out of time to act, as the Guardian's global environment editor, Jonathan Watts, explains

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Um dia bom

Saúde. Paz.

terça-feira, julho 19, 2022

10 mandamentos...
Só...?
Não devia haver um a proibir tanto comentário na televisão...?

 

Parte da Europa a sul está a arder, aliás como desde há algum tempo se sabe que iria acontecer, e as televisões mais os seus comentadores avençados andam numa fona a ver se descobrem o culpado. Passei de raspão e fiquei estupefacta. Esta gente não tem noção. 

Bastaria que se informassem para perceberem que a discussão que importa é outra: como travar a anunciada desertificação destas zonas, como travar o desastre que já aí está? 

Bastaria consultar a imprensa internacional para ver que, tal como por cá, na Grécia, em França e em Espanha o calor prolongado é excessivo, as terras estão secas, a vegetação seca é o combustível infalível e os ventos são o abanico perfeito para melhor atear todos os fogos. Perante o que por aí se vê, ainda muita sorte temos tido.

Inteligente seria que estes países se juntassem (se calhar também com Marrocos) para, em conjunto, estudarem uma forma de garantir a habitabilidade humana por mais umas décadas nestas regiões que tão seriamente ameaçadas estão. 

Felizmente há o Pantanal para me ajudar a ir para a cama gostosamente alienada. Aqui não há conversa fiada, não há gente inteligente que se vê obrigada a baboseirar, não há políticos que apenas dizem banalidades, não há jornalistas que querem a todo o custo atiçar todos contra o Governo. No Pantanal há vida ao ar livre, natureza, saudades, paixão, música de roda, mulheres que viram onça, velhos que viram sucuris. 

Isso ou alguns vídeos de parte-a-louça ou rebola a rir. Coisa que pode não ginasticar o neurónio mas ao menos não embrulha o estômago nem revolve a entranha.

Os muito apertadinhos que fechem já a porta e voltem para sua casa que agora, aqui, a malta da Porta dos Fundos vai chegar com a língua a precisar de pimenta e as mãos a precisar de umas boas reguadas. Maltinha mais mal-comportada.

10 Mandamentos

Amar o próximo. Ok, mas quão próximo? 3 metros? Até a esquina? Ou 5 km? Seria na verdade um recado para nunca voltar com o ex? Já são 10 anos esperando Deus ser mais específico nessas orientações


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Desejo-vos um santo dia

quinta-feira, março 25, 2021

Pessoas como nós

 

Não há o que se possa dizer. Há uma crueldade profunda em todos os que condescendem com o que se passa aqui -- em todos nós. Vêem-se as imagens e percebe-se o autismo de que colectivamente padecemos ao vivermos normalmente como se ignorássemos as condições em que vive parte da humanidade. Somos todos corresponsáveis. Somo-lo tal como foram todos os que fingiam ignorar o que se passava nos campos de extermínio em tempos não muito longínquos. Podemos não ser individualmente responsáveis mas, colectivamente, não podemos deixar de ser considerados cobardes, cruéis, desprezíveis. 

Não sei como é possível que se viva como se vive aqui ou em qualquer outro campo de refugiados. É tão mau, tão humilhante (para os que lá vivem e para os que ignoram), tão desumano. E é tão vergonhoso, tão, tão insuportável vergonhoso que custa a ver.

Não vou dizer mais nada. Não há palavras que se possam dizer ao ver estas imagens. É tudo de uma dimensão avassaladora. É devastador. Deixa-me reduzida a nada.


Hundreds of people missing after Rohingya refugee camp fire

At least 15 people have been killed and another 400 are missing after a fire tore through Balukhali camp near Cox’s Bazar late on Monday. More than 17,000 shelters were destroyed, leaving 45,000 people displaced. Emergency services, volunteers and Red Cross staff worked for several hours to control the blaze. The camp houses about 124,000 people, although the surrounding area shelters approximately 1 million Rohingya refugees


terça-feira, abril 28, 2020

Viver é, afinal, o sentido da vida?
Será?
O grande mistério não é, afinal, mistério nenhum?







Ao fim de semana o meu marido afadiga-se a desbastar árvores, a podar silvas e tojo. Tem posto os sobrantes num monte que não se queimava porque ele tinha esperança que isto do covid aliviasse e que se fizesse uma grande fogueira quando cá estivessem todos. Os meninos gostam imenso de ver, sentem aquele misto de susto e vontade de vencer o medo. O meu filho também gosta.

Mas o monte de mato já era uma montanha, não dava para continuar a amontoar, e hoje decidiu produzir a sua queima. Inscreveu-se no site e, tendo obtido o ok, ao fim da tarde atirou-se a isso.


Quando foi lá para baixo, fui com ele. Estava um resto de sol, um entardecer agradável. Ele a queimar mato e eu a caminhar pelos caminhos em volta. Ia pensando: caminho por caminhar, não com o objectivo de chegar a algum lugar mas apenas pelo prazer de andar. Andar em volta como numa oração mas com a mente desocupada de palavras ou ideias.


Ouvi, então, um carro a parar lá em cima, na estrada. Desviei-me. Era o vizinho que vinha de acomodar as vacas lá em baixo. Pôs-se a falar com o meu marido. Falavam alto, de um para outro, para se ouvirem. Mas não muito alto. Sem qualquer outro ruído, a voz propaga-se bem e, mesmo à distância, ouviam-se bem. Percebi que falavam dos isolamentos e que o meu marido dizia que aqui, por estas bandas, no campo, o bicho não entra. Enquanto caminhava por entre as árvores, pareceu-me perceber que o vizinho respondia que não era bem assim, que um senhor da aldeia o tinha apanhado, que até foi levado para o hospital, que a família está toda sob suspeita. Ficaram a conversar, a espaços, com silêncios pelo meio. Quando se despediram, aproximei-me, intrigada. Na aldeia? O meu marido confirmou. Fiquei impressionada, parece-me uma coisa impossível. Tantas vezes que eu digo que por aqui, tudo tão longe uns dos outros, não há perigo algum. No outro dia, eu disse que podíamos ir à aldeia ver se por lá vendem feijão verde, cenoura e batata doce, coisa que consumo em excesso. Dizia eu que qual máscara, qual carapuça, qual cuidado, qual carapuça, aqui o ar é limpo, não há quem pegue bicheza.

Afinal.

O meu marido também estava admirado.


Depois andei a fotografar as florzinhas, os troncos lavrados das árvores cheias de vida, a descobrir outros cogumelos que, confundidos com este tempo outonal, desataram a ressuscitar. A ouvir os passarinhos.

Por acaso, por ali em silêncio, até apanhei um susto. Um restolhar ruidoso, um barulho que quase parecia uma moto aérea. Um pássaro grande levantando um apressado voo à minha passagem. Que som curioso, aquele intenso bater de grandes asasa.

Já aqui estou, de seguida, há tantas semanas e todos os dias me maravilho com o que vejo. Tantas coisas novas, tanta beleza, tanto milagre.

Ah, por falar em milagre. Hoje aconteceu-me mais um. Tomei banho e, como sempre, fui estender o lençol de banho na corda que vai do plátano ao abrunheiro. Passado um bocado, de repente, caíu uma chuvada brutal. Um daqueles aguaceiros tão violentos que pensei que até podia ser, outra vez, uma bátega de granizo. Uma coisa brutal. Estava a ter uma reunião e quase nem ouvia o que diziam tal a força da chuva. Passado um bocado, o meu marido passou ao pé de mim e, olhando lá para fora, disse: podias ter apanhado a toalha. Só então me lembrei dela. Entretanto, tinha parado de chover. Fui lá fora sem saber se a deveria trazer para dentro ou deixá-la, a ver se, com algum bocado de vento, secava. Pois bem, para meu total espanto, estava seca. Seca. Disse ao meu marido. Não acreditou. Eu afiancei: seca. Foi lá fora ver. Seca. 
Não tenho explicação. Não há explicação. À noite contei à minha filha. Ela perguntou: qual é a explicação? Respondi que não há. Perguntou se estava debaixo das árvores. Não, está no espaço aberto entre as árvores. Não há explicação. É um daqueles milagres que por aqui acontecem.

Mas voltando à queima. Gosto daquele cheiro de fogueira, em especial quando se dissolve pelo ar, pelo meio do arvoredo. Na minha cabeça é um cheiro que se mistura aos perfumes do campo, leva-me até à infância, leva-me até memórias que não consigo situar.

Quando regressei a casa, quase ao anoitecer, fiz os telefonemas do costume, os familiares e mais um ou outro profissional. E depois por aqui andei, com aqueles pensamentos meio desencontrados, a querer gostar de aqui estar, apesar do confinamento e da saudade, mas sem querer assumir que gosto. Talvez porque a jornada acabou ligeiramente mais cedo e, portanto, o dia me foi menos pesado, cheguei à noite menos revoltada, muito mais tranquila.


Entretanto, já estive a trabalhar para preparar o dia de amanhã que começa cedo e vai acabar tarde e agora, aqui, como habitualmente, para descansar a cabeça, resolvi espreitar os vídeos. E, treco-lareco, na mouche. Adivinhando que a minha disposição está para peace and love, natureza e harmonia, bucolismo e tranquilidade, tinha para me sugerir daqueles vídeos em que não percebo nada do que dizem. Mas sem problema. O primeiro tem legendas mas são tão miudinhas e o meu computador tem um monitor tão pequenino que não pesco uma. Mas não sinto falta. Gosto na mesma. Já vi duas vezes. Tão bonito. A casa, a luz, as fotografias, os gestos vagarosos, as grandes janelas, as árvores, os verdes, os trabalhos manuais. Uma tal paz. 


Penso: será que um dia vou ser assim, como a senhora deste vídeo? Feliz, apaziguada, vagarosa, toda eu tempo para tudo, para passar as mãos ao de leve sobre as coisas, olhando lá para fora. Fazer pão. Será que um dia me vai dar para fazer pão, para fazer compotas, para organizar as fotografias? Será que um dia vou deixar outra vez crescer o cabelo e fazer uma trança? Quando era adolescente usava muito uma trança. Uma trança de ouro velho como estava escrito num poema. Quando desmanchava a trança, o cabelo caía-me pelas costas, ondulando como fogo. Gosto dessa recordação.


E depois a Liz Qi que, por sinal, também usa uma trança. Aqueles gestos intuitivos, aqueles movimentos decididos, aquelas mistelas, flores com leite de não sei o quê, aqueles cremes com ar de serem doces, saborosos. Ela cultiva, ela colhe, ela monda, ela separa, criva, filtra, ela ferve, ela separa. E eu, sem perceber o que ela está a fazer, deixo-me dicar a ver. Gosto. Se ela morasse na serra, aqui perto, talvez eu lá fosse pedir-lhe que me aceitasse como discípula. Acho que era capaz de passar dias inteiros a aprender com ela.


Uma vez mais partilho algumas das fotografias que por aqui vou fazendo. Gosto de fotografar porque acho tudo muito bonito. Espero que, para quem vê, não seja uma seca. Gostava que também gostassem. Significaria que talvez víssemos o mundo com o mesmo tipo de olhar, um olhar embevecido, agradecido.


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Desejo-vos uma boa terça-feira.
Saúde e alegria.

segunda-feira, janeiro 06, 2020

O futuro está a chegar depressa demais: algumas evidências


A realidade é fractal mas, quando nos aproximamos do que nos é familiar e perdemos a perspectiva do todo em que nos inserimos, esquecemo-nos disso e preocupamo-nos é com os nossos problemas, com os nossos sentimentos, com os looks das colegas, com as jogadas faltosas da equipa adversária ou com os dichotes das estrelas mediáticas sejam elas artistas de telenovela, deputados ou comentadores televisivos.

Acontece também que nos habituámos à fartura de assuntos: hoje é o crime que a televisão propaga, amanhã são as eleições internas numa qualquer agremiação, depois de amanhã é a negligência médica na clínica A ou a agressão à médica no hospital B. 

Se um assunto destes prende as atenções, todos se atiram a ele como cão a osso. Até que o público diz que já chega. Chega-se a um ponto em que não há paciência para um mesmo assunto repetidamente sob os holofotes. Impacientes e sempre ansiando por assunto novo, por novas stories, por novo post, as pessoas facilmente se desinteressam pelos anteriores. 

A futilidade tem vindo a tomar conta de nós. O foco da atenção anda rasteiro e, por isso, tudo rapidamente se torna repetitivo, déjà-vu, uma seca.

Mas, se subirmos na árvore fractal, perceberemos que mais do que a repetição das petites histoires em cada ramo, há uma denominador comum e esse denominador é uma rápida erosão das condições de habitabilidade do planeta. O clima está a alterar-se de uma forma que desestabiliza o equilíbrio do habitat que nos tem assegurado a sobrevivência.

Não é de hoje. Não se chega aqui de um dia para o outro: foi uma trajectória. Ainda é nela que estamos. 

Os baixos custos, a globalização, a competitividade necessária, o consumo como motor de desenvolvimento. Que haja emissão de gases que provocam efeito de estufa, que se degradem e infestem os solos, que se poluam os rios e os mares, que desapareçam espécies e coisas assim são apenas algumas das consequências. 

É este o modelo que conhecemos, é nele que nos sabemos mover. Não somos apenas as vítimas deste modelo: somos os agentes, os responsáveis. 

Mas os efeitos desse modelo no planeta estão à vista. 

E é bom que o percebamos para que tenhamos coragem para abdicar de convicções que julgávamos certas e inabaláveis, para abdicar do conforto em que nos movemos, para abrirmos a mente a diferentes formas de pensar, para sermos capazes de influir na agenda política.

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Inundações com uma gravidade incomum, incêndios que duram meses e que vão alastrando a outras regiões, glaciares a quebrarem e a desaparecerem, tempestades violentas -- este já não é o futuro que temíamos, este já é o presente.

Os vídeos do Guardian que abaixo escolhi são apenas uma amostra






Não há panaceias simples. Que ninguém pense que com medidas avulsas, isoladas, temporárias, se consegue inverter a tendência. Não. Temos que ter a consciência de que é preciso muito, muitas mãos, muitas medidas, muita criatividade, muita inteligência, muita coragem, muito despojamento para se conseguir travar o vendaval, o fogo, o degelo, o dilúvio. 

Mas há gestos que, não sendo a panaceia, são isso mesmo: um gesto. Um gesto bom. Plantar árvores. As árvores certas, nos sítios certos.


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Usei imagens de fractais que encontrei na net sem conseguir identificar a sua autoria

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Até já

sábado, janeiro 04, 2020

Sobre a importância das férias dos primeiros-ministros na resolução dos incêndios ou das suas consequências.
Sobre a compreensão dos efeitos das alterações climáticas.
Sobre os principais riscos a nível global, segundo o The Global Risks Report 2019 do World Economic Forum


Escrevo aqui há muito tempo e tenho ideia que, excepto na noite em que estive internada na sequência de uma cirurgia e foi porque estava sedada, sempre aqui vim. Umas vezes venho porque tenho alguma coisa para dizer, outras porque me apetece descansar a cabeça e escrever descansa-me, outras venho para me divertir, outras para espairecer, outras, mais esporadicamente, porque me dá para ficcionar e, enquanto ando numa de folhetinar, não sossego enquanto não deixo os personagens usarem da vida própria que adquiriram.

Como é óbvio, no decurso desses anos, já sofri inquietações diversas, algumas por razões colectivas e outras por razões muito pessoais. Tenho passado por situações muito complexas e tristes, tenho perdido familiares muito queridos e amigos próximos.

Mesmo em dias de grande aflição, eu vim aqui e, nesses dias, falei de outras coisas, podendo até ter esparvoado, gozado com palermices. 

Mesmo a nível profissional já passei por situações complicadas, situações de incerteza, situações de grandes alterações que me inquietaram ou de decisões bem difíceis de tomar. E quando aqui vinha escrever não era disso que falava mas de coisas que nada tinham a ver.

Sempre penso que, haja o que houver, a vida continua e que o melhor a fazer é seguir em frente, se possível de cabeça fresca para melhor enfrentar as dificuldades e as angústias.

Mesmo quando acontece uma infelicidade à qual temos que dar todo o nosso apoio e em que contam com a nossa entrega, o melhor é que não nos deixemos afundar na angústia pois isso a ninguém aproveitaria.

No meu trabalho creio que nunca ninguém percebe se tenho preocupações familiares ou outras nem se tenho problemas profissionais que não vêm ao caso. Podem estar a acontecer crises num sector e eu continuo a lidar nos outros como se nada acontecesse. E acho que é assim que deve ser. Bola para a frente. A vida continua e é bom que continue com a normalidade possível.

Mas isso é a minha maneira de ser. E sou eu a pensar. Mas há quem pense o contrário.

Perante uma situação difícil há quem meça os actos dos outros pela exibição do luto continuado, pela ladainha. Mas exibições de luto ou públicas ladaínhas são de pouca utilidade quando o que é preciso é acção e, além disso, cada um reage como é de sua natureza reagir. Mais: se é importante que a pessoa esteja tranquila para que mantenha a cabeça no lugar para todas as outras decisões que tem que tomar no seu dia a dia, então, é mesmo importante que não se deixe enterrar nos problemas.

Diferente é quando a pessoa, perante desgraças que acontecem e por cuja resolução ou mitigação é responsável, em plena crise, por motivos fúteis, se ausente do cenário de horror e, ao regressar, em vez de dar mostras de perceber as causas dos problemas ou de relacionar as consequências com as causas, mostre ignorar que são as suas políticas que propiciam o desencadeamento das dramáticas crises a que se assiste.

À frente de um país não temos que ter super-homens. Não precisamos de quem não necessite de descansar ou de estar com a família de quando em vez. Necessitamos, isso sim, de pessoas inteligentes, que se saibam rodear de gente bem informada, gente com capacidade de decisão e visão de longo prazo. 

Trumps, Bolsonaros, Scott Morrissons ou outros governantes que teimam em negar a gravidade das alterações climáticas ou se recusam a perceber que as suas políticas económicas, que ignoram os efeitos ambientais, são um perigo para a humanidade. Mas quem os apoia e, com o seu apoio, os mantém em funções, está ao mesmo nível. Ou quem não percebe que isso é o mais grave, que isso é que é o verdadeiramente imperdoável e não tanto o terem tirado uns dias de férias com a família ou não os termos vistos aos abraços e beijinhos no meio dos despojos ou dos carros dos bombeiros. 

Transcrevo para se ter uma ideia do que é grave (e, note-se, como também é relevante que se façam sondagens ou estudos de opinião para conhecer o pensamento ou o sentimento da população):
Polls show a large majority of Australians view climate change as an urgent threat and want stronger government action to combat it. The catastrophic fire conditions have put an intense focus on the Australian government’s failure to reduce emissions of carbon dioxide, which traps heat when released into the atmosphere and contributes to global warming. Prime Minister Scott Morrison, a conservative, has made it clear that Australia’s economic prosperity comes first. Even as his country burned, he has said repeatedly that it is not the time to discuss climate policy.
Do mesmo artigo transcrevo ainda mais, uma coisa um bocado do além (sendo certo que são aves que sabem imitar sons):

According to the Guardian, the birds have learned to imitate the fire sirens. (...)


Australia is not a preview. It is not a glimpse of the future. It is not a cautionary tale. Australia is a climate disaster, ongoing and in real time. The future, in Australia, is now. (...)
The nature and scale of this bushfire season in Australia is unprecedented. Scientists have cited the lack of moisture in the landscape – following years of drought – as a key reason the fires have been so severe. Intense heat, dry conditions and strong winds have created conditions where the fire risk is considered extreme or catastrophic. (...)
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Em Davos discutem-se anualmente os temas mais relevantes, os emergentes, os que causarão impacto no mundo. Em Davos percebe-se quais as preocupações do mundo, endereçam-se possíveis soluções  ou redireccionam-se tendências.
The World Economic Forum Annual Meeting in Davos-Klosters convenes world leaders to discuss the global, regional and industry agendas at the beginning of each year. The World Economic Forum's mission is to improve the state of the world, which has driven the design and development of the Annual Meeting objectives.
Participants come together at the Annual Meeting to address the most pressing issues on the global agenda. They do so in an exceptional atmosphere and in the “Spirit of Davos”, featuring interdisciplinary, informal and direct interaction among peers.
Partilho convosco o que, no início de 2019, foi identificado como sendo os riscos mais graves a nível global. O gráfico mostra, no eixo vertical, a gravidade do impacto e, a nível horizontal, a probabilidade de ocorrência. Portanto, no canto superior direito teremos os piores riscos, aqueles que terão o maior impacto e os mais prováveis de acontecer. E o que vemos é que os piores dos piores são as ocorrências extremas a nível climático, os desastres naturais e o nosso falhanço na mitigação ou adaptação às alterações climáticas. A seguir a estes riscos extremos, e sem surpresa, seguem-se os relacionados com a cibersegurança.

A imagem não é a melhor possível mas talvez dê para perceber.



Seguidamente mostro partes de um quadro único que mostra a evolução dos top risks (top em termos de probabilidade de acontecerem e de gravidade de impacto), ao longo dos anos, desde 2009 até agora. Como o quadro, para caber aqui todo, ficaria muito pequenino e mal se veria, coloco apenas os três primeiros anos analisados (2009, 2010 e 2011) e os três últimos (2017, 2018 e 2019).

E o interessante é ver-se como, no decorrer dos anos, mudam os riscos globais, ou seja, os riscos percepcionados para o mundo. Se no início os riscos eram sobretudo de cariz financeiro (estava-se a entrar no pico da crise financeira mundial), agora os grandes riscos têm sobretudo a ver com a severidade dos efeitos das alterações climáticas (fenómenos extremos, desastres naturais, incapacidade em lidar com isso) seguidos dos riscos de roubos e fraudes através de ciberataques.

Os primeiros anos:


E os anos mais recentes:




Deixo aqui o link para o The Global Risks Report 2019, É um documento bastante interessante e, em minha opinião, a comunicação social em vez de dar ênfase a intrigas e coscuvilhices sem qualquer relevância e que distorcem o foco dos assuntos e manipulam as emoções das pessoas, melhor faria em acompanhar temas que, esses sim, pela sua probabilidade de ocorrência, pelo seu impacto ou pela sua real importância na vida das pessoas, deveriam ser discutidos e conhecidos por todos.

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Talvez considerem que o vídeo abaixo não vem muito a propósito mas quem não acha muita piada a gráficos talvez aprecie. Bach. Quem lhes acha graça espero que também.


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As fotografias que usei provêm do The Guardian

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Desejo-vos um bom sábado

terça-feira, julho 23, 2019

Sobre os pascácios que dizem mal de tudo e que apoiam Trump e todos os outros que tais.
[Mais uma paródia do impagável Randy Rainbow]


Ouço o Presidente da Câmara de Mação, a típica esperteza saloia, fazendo de conta que, nas suas funções, não tem nada a ver com o cumprimento dos regulamentos relativos à limpeza dos terrenos e com a protecção civil na sua autarquia, e, todo lampeiro, a apontar o dedo ao Governo -- e pasmo com o palco que os tontos dos jornalistas lhe dão, não havendo um que tenha a presciência de lhe perguntar: 'Ó, faz favor, mas isso não é incumbência sua?'

Nada. Uma corrente de parvoíce: esperteza saloia, o acusador; totós, os que o ouvem; palermas, os políticos de meia tigela que cavalgam a onda da estupidez e, sem saberem do que falam, juntam a voz aos acusadores. E assim vai engrossando a chusma dos descontentes, descontentes e desinformados, que nem se lembram de condenar os incendiários porque o que tem mais sainete é acusar os políticos, de preferência os de Lisboa. Porque condenar os autarcas labregos que falam muito e não fazem nada isso também não é sexy, o que é sexy é acusar os outros, os que estão longe do povo, lá em cima.

Até que, um dia, um qualquer saloio que a malta conhece bem das televisões -- quiçá um daqueles comentadores de futebol, um dos que diz as verdades todas, seja lá o que isso signifique no mundo dos comentadores de futebol --  aparece a dizer coisas com ar muito convicto, a dizer que:
  • também é contra os políticos -- e, se forem dos que se sentam Lisboa, então, nem vê-los 
  • e que está ali para devolver o poder às pessoas, 
  • e tornar o país grande outra vez, 
  • e nada de imigrantes nem de perigosos esfomeados, 
  • e mulheres feias nem vê-las, que a essas nem dá vontade de agarrá-las pela pussy, 
  • e homens que têm a mania que são inteligentes, esses que voltem para os seus empregos de porcaria e deixem trabalhar quem quer ajudar o povo. 

E a malta, que gosta de dizer mal de tudo, vai acolher de braços abertos esse salvador da pátria, um igual a eles, um que também diz mal de tudo, e por mais porcaria que faça, aí estarão a defendê-lo. E, sempre que saírem notícias a denunciar o chauvinismo, a xenofobia, a misoginia, o racismo e a estupidez encartadas da criatura, saltarão a pés juntos para defender o seu ídolo porque tudo o que se diz são fake news
E, claro, também acabarão por achar que isso do planeta é treta, aquecimento global my ass, e, se for preciso, defenderão também que a terra é plana e que isso da evolução das espécies é puro charlatanismo, sendo Darwin o charlatão-mor.
E o que desejo é que, se tal desgraça um dia nos vier bater à nossa porta -- porque ter tanta gente a eleger e a defender alimárias como o Trump ou como o Bolsonaro é uma verdadeira desgraça -- nos apareça alguém tão frontal e tão divertido como o Randy Rainbow.



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segunda-feira, julho 22, 2019

O nefasto papel do mau jornalismo feito em Portugal na vida dos portugueses
(e não me refiro exclusivamente a isto dos fogos)



Um dia, os historiadores, sociológos, antropólogos, psicólogos e afins haverão de analisar o nefasto papel dos jornalistas na degradação da democracia e da cultura das pessoas. Não posso falar das pessoas em geral mas falo, com convicção, das pessoas em Portugal.

E nem vou aqui falar no que os programadores televisivos fazem, promovendo a divulgação de toda a espécie de artistas de meia tigela, sem qualquer qualidade, porcaria sobre porcaria, por esse país fora. Nem vou falar na exploração de desgraças e delinquências que é feita nos programas da manhã e da tarde. Nem vou falar na não divulgação dos bons compositores e intérpretes, dos bons escritores, dos bons pintores, escultores, bailarinos, actores, na não divulgação de investigadores, bons cientistas, inesquecíveis professores, abnegados médicos, grandes arquitectos e engenheiros, excelentes profissionais das mais variadas especialidades.

Não. Vou falar apenas nos espaços informativos.

E o que tenho a dizer é que os jornalistas, para além do mais, estão a degradar a sua profissão. O espaço que os jornalistas dão a comentadores, a gente a quem põem um microfone à frente, é sinistro para o jornalismo e para a qualidade da informação. 

Não me parece que os jornalistas devam monopolizar todo o espaço informativo mas deveriam garantir que a escolha daqueles a quem dão a palavra é criteriosa. Lembro-me, por exemplo, de Fareed Zakaria. Gosto de ver os seus programas. Ele abre espaço a muita gente mas é gente preparadíssima, gente inteligente e culta a quem ele enquadra muito bem, colocando questões pertinentes ou observações irrepreensíveis.

Aqui não. Aqui os telejornais são invadidos por toda a espécie de gente, quer através de reportagens absurdas, em que colocam perguntas estúpidas a gente que apanham na rua, sem qualquer critério, quer através de comentadores-avençados que invadem os noticiários. A uma mulher que não percebe nada de coisa alguma ou a um homem ressabiado com a vida, a gente que, mal se apanha com uma câmara à frente, diz o que lhe vem à cabeça sem saber do que fala, é aberto espaço informativo e/ou de opinião como se fossem representativos de qualquer coisa quando nem a eles próprios sabem representar-se. Uma coisa que não se aguenta de tão nefasta e perversa que é, uma coisa que enerva e que deveria preocupar quem tenha dois dedos de testa.

Eu sei que não devia dizer isto, até porque sou anti-violência, mas é o que me ocorre: nisto dos incêndios quase me apetece que alguém invada o estúdio e dê um par de estalos àqueles jornalistas que para ali estão a empolar, a dramatizar, a atiçar incêndios e a alimentar o ego dos incendiários. Para eles aquilo é um festim, um happening televisivo, mas a mim aquilo revolta-me, enjoa-me, apetece-me nunca mais ver televisão.

Alguém devia explicar àqueles estúpidos que não há incêndios que comecem espontaneamente num monte de palha, num terreno abandonado, no SIRESP ou num ministério. Um incêndio começa porque alguém o provoca. Ponto. E é isso que tem que ser combatido. Um incêndio começa por uma de três razões: negligência, acidente ou má fé. 

Portanto, deveria ser isso que deveria passar nas televisões: 
Não provoque incêndios deliberadamente ou por maldade. Se o fizer, irá de cana e pagará uma multa que o deixerá nas lonas.
Ou: 
Se souber de vizinhos, familiares ou gente parva dada a comportamentos negligentes (fazer queimas ou queimadas em lugares ou épocas desaconselhados para isso, ou atear fogueiras ou coisas do género) ou com taras pirómanas, avise de imediato as autoridades.
E se, em vez de passarem, durante horas a fio, imagens dantescas que incentivam os maníacos e de ouvirem gente a dizer toda a espécie de inanidades, gente maledicente e que gosta de se queixar de tudo e de todos, passassem reportagens sobre o que aconteceu aos que foram apanhados nas teias da justiça por terem pegado fogo a seja o que for, bem mais educativo seria. Mostrem gente que se tenha arrependido, mostrem gente que dê tudo para poder voltar atrás e não ter feito o que fez. Sejam criteriosos, caraças, sejam inteligentes. 

Se os desleixados e doentes souberem a que se arriscam e se se sentirem merecedores de censura e repulsa social, talvez se tratem, talvez se inibam da próxima vez que sintam vontade de fazer porcaria.

E, nisto tudo, volto à mesma: qual a missão da ERC? Nenhuma? Fazerem de mortos? Parece que a qualidade da comunicação social, em especial das televisões, pode ir-se degradando progressivamente que os da ERC não mexem uma palha. Não tem uma acção educativa, persuasiva, influenciadora. Nada. Serve para quê, então? Alguém me diz?

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Já agora: tanto comentador anti-PS que levam às televisões, tantos, tantos, tantos cagalhoças em horário nobre, tantos troca-tintas, tantos engraçadinhos, tanta parvalhona, tanta intelectual de pacotilha, tanto cabotino, tanto pseudo, tanto palhaço, tanto beatinho-apertadinho, tanta gente que, uma forma ou de outra, tenta arrasar tudo o que o António Costa decide ou faz, tudo o que o governo quer levar adiante... e, afinal de contas, as sondagens revelam que os portuguesas se marimbam para essas opiniões da treta e pensam pela sua cabeça: o PS já está praticamente com o dobro das intenções de voto do PSD, o CDS a caminhar para a total irrelevância, um dia destes a valer menos que o PAN. Portanto, se a ideia de enxamear as televisões com aquela gente era dar cabo do PS parece que o tiro está a sair-lhes pela culatra.

Não obstante, algum efeito nefasto tanta falta de qualidade e de boa informação há-de ter na cabeça dos portugueses nem que seja incentivar o culto da proverbial tendência portuguesa para a desvalorização do que é bom e para cultivar a desgraça e o espírito depreciativo.

Portanto, por uns motivos ou por outros, está na hora de alguém fazer aquela gente das televisões mudar de rumo. Penso eu de que.


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As pinturas são da colombiana Fanny Sanín e não precisam de ter a ver com o que escrevi para estarem aqui.

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Bem. E para que isto não acabe num desagradável tom negativo, permitam que, a despropósito, aqui plante uma preciosidade: a Canção da Paciência. José Afonso, um grande de Portugal.


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E até já.