Escrevo aqui há muito tempo e tenho ideia que, excepto na noite em que estive internada na sequência de uma cirurgia e foi porque estava sedada, sempre aqui vim. Umas vezes venho porque tenho alguma coisa para dizer, outras porque me apetece descansar a cabeça e escrever descansa-me, outras venho para me divertir, outras para espairecer, outras, mais esporadicamente, porque me dá para ficcionar e, enquanto ando numa de folhetinar, não sossego enquanto não deixo os personagens usarem da vida própria que adquiriram.
Como é óbvio, no decurso desses anos, já sofri inquietações diversas, algumas por razões colectivas e outras por razões muito pessoais. Tenho passado por situações muito complexas e tristes, tenho perdido familiares muito queridos e amigos próximos.
Mesmo em dias de grande aflição, eu vim aqui e, nesses dias, falei de outras coisas, podendo até ter esparvoado, gozado com palermices.
Mesmo a nível profissional já passei por situações complicadas, situações de incerteza, situações de grandes alterações que me inquietaram ou de decisões bem difíceis de tomar. E quando aqui vinha escrever não era disso que falava mas de coisas que nada tinham a ver.
Sempre penso que, haja o que houver, a vida continua e que o melhor a fazer é seguir em frente, se possível de cabeça fresca para melhor enfrentar as dificuldades e as angústias.
Mesmo quando acontece uma infelicidade à qual temos que dar todo o nosso apoio e em que contam com a nossa entrega, o melhor é que não nos deixemos afundar na angústia pois isso a ninguém aproveitaria.
No meu trabalho creio que nunca ninguém percebe se tenho preocupações familiares ou outras nem se tenho problemas profissionais que não vêm ao caso. Podem estar a acontecer crises num sector e eu continuo a lidar nos outros como se nada acontecesse. E acho que é assim que deve ser. Bola para a frente. A vida continua e é bom que continue com a normalidade possível.
Mas isso é a minha maneira de ser. E sou eu a pensar. Mas há quem pense o contrário.
Perante uma situação difícil há quem meça os actos dos outros pela exibição do luto continuado, pela ladainha. Mas exibições de luto ou públicas ladaínhas são de pouca utilidade quando o que é preciso é acção e, além disso, cada um reage como é de sua natureza reagir. Mais: se é importante que a pessoa esteja tranquila para que mantenha a cabeça no lugar para todas as outras decisões que tem que tomar no seu dia a dia, então, é mesmo importante que não se deixe enterrar nos problemas.
Diferente é quando a pessoa, perante desgraças que acontecem e por cuja resolução ou mitigação é responsável, em plena crise, por motivos fúteis, se ausente do cenário de horror e, ao regressar, em vez de dar mostras de perceber as causas dos problemas ou de relacionar as consequências com as causas, mostre ignorar que são as suas políticas que propiciam o desencadeamento das dramáticas crises a que se assiste.
À frente de um país não temos que ter super-homens. Não precisamos de quem não necessite de descansar ou de estar com a família de quando em vez. Necessitamos, isso sim, de pessoas inteligentes, que se saibam rodear de gente bem informada, gente com capacidade de decisão e visão de longo prazo.
Trumps, Bolsonaros, Scott Morrissons ou outros governantes que teimam em negar a gravidade das alterações climáticas ou se recusam a perceber que as suas políticas económicas, que ignoram os efeitos ambientais, são um perigo para a humanidade. Mas quem os apoia e, com o seu apoio, os mantém em funções, está ao mesmo nível. Ou quem não percebe que isso é o mais grave, que isso é que é o verdadeiramente imperdoável e não tanto o terem tirado uns dias de férias com a família ou não os termos vistos aos abraços e beijinhos no meio dos despojos ou dos carros dos bombeiros.
Transcrevo para se ter uma ideia do que é grave (e, note-se, como também é relevante que se façam sondagens ou estudos de opinião para conhecer o pensamento ou o sentimento da população):
Polls show a large majority of Australians view climate change as an urgent threat and want stronger government action to combat it. The catastrophic fire conditions have put an intense focus on the Australian government’s failure to reduce emissions of carbon dioxide, which traps heat when released into the atmosphere and contributes to global warming. Prime Minister Scott Morrison, a conservative, has made it clear that Australia’s economic prosperity comes first. Even as his country burned, he has said repeatedly that it is not the time to discuss climate policy.
Do mesmo artigo transcrevo ainda mais, uma coisa um bocado do além (sendo certo que são aves que sabem imitar sons):
According to the Guardian, the birds have learned to imitate the fire sirens. (...)
Australia is not a preview. It is not a glimpse of the future. It is not a cautionary tale. Australia is a climate disaster, ongoing and in real time. The future, in Australia, is now. (...)
The nature and scale of this bushfire season in Australia is unprecedented. Scientists have cited the lack of moisture in the landscape – following years of drought – as a key reason the fires have been so severe. Intense heat, dry conditions and strong winds have created conditions where the fire risk is considered extreme or catastrophic. (...)
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Em Davos discutem-se anualmente os temas mais relevantes, os emergentes, os que causarão impacto no mundo. Em Davos percebe-se quais as preocupações do mundo, endereçam-se possíveis soluções ou redireccionam-se tendências.
The World Economic Forum Annual Meeting in Davos-Klosters convenes world leaders to discuss the global, regional and industry agendas at the beginning of each year. The World Economic Forum's mission is to improve the state of the world, which has driven the design and development of the Annual Meeting objectives.
Participants come together at the Annual Meeting to address the most pressing issues on the global agenda. They do so in an exceptional atmosphere and in the “Spirit of Davos”, featuring interdisciplinary, informal and direct interaction among peers.
Partilho convosco o que, no início de 2019, foi identificado como sendo os riscos mais graves a nível global. O gráfico mostra, no eixo vertical, a gravidade do impacto e, a nível horizontal, a probabilidade de ocorrência. Portanto, no canto superior direito teremos os piores riscos, aqueles que terão o maior impacto e os mais prováveis de acontecer. E o que vemos é que os piores dos piores são as ocorrências extremas a nível climático, os desastres naturais e o nosso falhanço na mitigação ou adaptação às alterações climáticas. A seguir a estes riscos extremos, e sem surpresa, seguem-se os relacionados com a cibersegurança.
A imagem não é a melhor possível mas talvez dê para perceber.
Seguidamente mostro partes de um quadro único que mostra a evolução dos top risks (top em termos de probabilidade de acontecerem e de gravidade de impacto), ao longo dos anos, desde 2009 até agora. Como o quadro, para caber aqui todo, ficaria muito pequenino e mal se veria, coloco apenas os três primeiros anos analisados (2009, 2010 e 2011) e os três últimos (2017, 2018 e 2019).
E o interessante é ver-se como, no decorrer dos anos, mudam os riscos globais, ou seja, os riscos percepcionados para o mundo. Se no início os riscos eram sobretudo de cariz financeiro (estava-se a entrar no pico da crise financeira mundial), agora os grandes riscos têm sobretudo a ver com a severidade dos efeitos das alterações climáticas (fenómenos extremos, desastres naturais, incapacidade em lidar com isso) seguidos dos riscos de roubos e fraudes através de ciberataques.
Os primeiros anos:
E os anos mais recentes:
Deixo aqui o link para o
The Global Risks Report 2019, É um documento bastante interessante e, em minha opinião, a comunicação social em vez de dar ênfase a intrigas e coscuvilhices sem qualquer relevância e que distorcem o foco dos assuntos e manipulam as emoções das pessoas, melhor faria em acompanhar temas que, esses sim, pela sua probabilidade de ocorrência, pelo seu impacto ou pela sua real importância na vida das pessoas, deveriam ser discutidos e conhecidos por todos.
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Talvez considerem que o vídeo abaixo não vem muito a propósito mas quem não acha muita piada a gráficos talvez aprecie. Bach. Quem lhes acha graça espero que também.
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As fotografias que usei provêm do The Guardian
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Desejo-vos um bom sábado