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segunda-feira, maio 26, 2014

Resultados das Eleições Europeias 2014 - a minha análise (a quente) face aos votos apurados em Portugal


Às horas a que escrevo, os dados ainda não são definitivos pelo que, dentro de pouco, estarão desactualizados. Contudo, creio que não variarão significativamente.


Lamentate, por favor




Não me vou pronunciar sobre os discursos dos líderes partidários pois foram vazios de conteúdo. Todos, sem excepção, disseram banalidades, palavreado para contentar as próprias clientelas, inutilidades. Não aprenderam nada com o que se tem vindo a passar nos tempos recentes. Nem vão aprender. É gente que vive muito feliz no seu casulo, provavelmente nem percebendo que vivem num casulo.

Vou, portanto, olhar para os números - que, podendo parecer que vivo num mundo de palavras, a verdade é que o meu raciocínio assenta muito nos números.

O que vejo eu dos números?

Mas, antes, uma ressalva: duvido que o número de eleitores esteja certo e esse é o denominador dos cálculos que vou efectuar (e que são cálculos do mais simples que há). Estão contabilizados 9.674.986 e não vejo como. Presumo que seja inferior. Há também o elevado número de pessoas que emigraram e que certamente não actualizaram o seu domicílio. Mas dou de barato pois as conclusões poderiam não ser tão espampanantes com um número de eleitores inferior mas não andarão extraordinariamente longe do que vou dizer nem alterariam muito as respectivas proporções.


A abstenção foi 66,1% e isto é o mais dramático de tudo o que se possa dizer. Há mais de metade dos eleitores que não querem saber, que não se revêem nos actuais partidos, que não sentem que o seu voto seja relevante.


De entre os que votaram, 4,4% votaram em branco e 3,1% votaram nulo (ou 1,5% e 1%, respectivamente, no total dos eleitores). São pessoas que querem saber do que se passa, que se dão ao trabalho de ir votar mas que querem mandar os actuais partidos, ou seja, o actual regime político, às malvas.

Se eu somar o número de pessoas que se abstiveram às que votaram branco ou nulo, chego a uma percentagem de 68,6%. Gente que não se sente representada no actual quadro partidário.

Sobram 31,3% de pessoas que conseguem escolher um partido para as representarem.

(O total não dá os 100% que devia dar por causa de arredondamentos às décimas - e porque não estou para estar com grandes preciosismos face à margem de erro implícita)

Vejamos agora como votaram estas pessoas. Não vou calcular a percentagem face aos que votaram mas face ao total de eleitores porque a leitura feita pelos órgãos de comunicação social encobre os números da brutal abstenção. Ora, as pessoas que se abstêm são pessoas que pensam, que sofrem, que sonham, que têm direito a ser ouvidas (mesmo que decidam não votar). Então, o que se vê é que:

  • 10,7% votaram no PS
  •  9,4% votaram no PSD+CDS
  •  4,3% votaram na CDU
  •  2,4% votaram no MPT
  •  1,5% votaram no BE
  •  3,0% votaram nos outros pequenos partidos



Ou seja, no total de eleitores:

  • apenas 9,4% apoiam as políticas do actual governo.

  • 22% escolhem outros partidos. 

Se somarmos a estes 22% os brancos e nulos, teremos que 24,5% não se revêem de todo no PSD e no CDS.

  • Se a estes (25,5%) somarmos as pessoas que se abstêm (66,1%), teremos que 90,6% dos eleitores não querem dar o seu voto à coligação que governa Portugal.



Números são números.

Que 90,6% de eleitores não votam no PSD e CDS (ou porque não querem saber ou porque acham que há melhor) é uma verdade que deveria ser encarada de frente e daí tirar ilações.

Podem dar voltas e reviravoltas, apontar o dedo à fraca expressão da vitória do PS, inventar desculpas, o que quiserem - mas a verdade é esta: 90,6% dos eleitores não votou neles.


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Façamos agora uma análise a aspectos que, face aos anteriores, são quase irrelevantes. Mas ainda assim, falo deles:




- Um partido que não é nada, o MPT, que é um homem bem falante e pouco mais, que mal fez campanha, que é exterior ao sistema (e é ele como poderia ser um actor de telenovela ou um comentador televisivo, ou seja, alguém conhecido do grande público), de repente aparece e coloca-se em 4º lugar na grelha dos partidos, com mais de metade dos votos de um PCP (que existe há anos e anos, com gente que trabalha que se farta, que têm um projecto e uma escola). E teve quase com o dobro dos votos do BE. 
O que significa isto? Significa que há muita gente que se agarra a qualquer resto de esperança, gente que não acredita no PS, nem no PCP, nem no BE, que quer qualquer coisa que venha de fora deste regime anquilosado, Há, pois, muita gente que acredita que alguém fora dos aparelhos partidários, com uma presença forte, está melhor posicionado para alimentar alguma esperança, talvez porque acreditem que Marinho Pinto saberá falar grosso e defender os interesses dos eleitores. E isso, para essas pessoas - e são muitas - é o que interessa: uma voz forte, uma figura paternal que as defenda contra todas as injustiças.


- O PS bem pode juntar uma sala cheia de gente com ar de quem comeu e não gostou mas que, ainda assim, bate palminhas, bem pode clamar vitória, bem pode dizer que mata e que esfola. Balelas. Vitória? Sim, mas pífia, muito pífia. Poucos mais votos teve que os ignorantes e incompetentes que têm desgraçado o País, pouco mais de 120.000 votos, uma ninharia, uma vergonha. 
O que significa isto? Sejamos objectivos: significa que a actual liderança do PS cheira a mofo, é frouxa, não oferece confiança. A actual liderança teve 3 anos para desmascarar o embuste que tem sido a prática do PSD e do CDS e não foi capaz de o fazer, tal como não foi capaz de convencer o eleitorado de que é alternativa. Ou seja: esta liderança do PS não serve. Tenho pena de o dizer mas é o que os números dizem. Seguro ganhou estas eleições? As regras eleitorais assim o dizem. Mas a mim não me parece que os resultados possam ter o doce travo da vitória. Acho que alguém, no PS, deveria explicar a António José Seguro que está mais do que na hora de se ir embora.


- A CDU teve um resultado razoável no contexto atrás referido e isso deve ser saudado. São coerentes e isso não é pouco. Cerca de 4,3% da população entregou o voto ao PCP. Mas 4,3% são 4,3%. Trabalham, trabalham, lutam, lutam (e são espertos na luta, tiveram a esperteza de arregimentar imensa gente nova que dá um ar rejuvenescido a um partido que sabemos ser, de facto, empedernido), mas, de facto, depois de 3 anos de ataques imorais aos direitos dos trabalhadores, de ataques inaceitáveis à dignidade dos desempregados, dos pobres e dos reformados, quando até seria normal que conseguissem capitalizar a revolta e aparecessem com um resultado extraordinário, descolam modestamente, uma coisa, de facto, sem grande expressão.
O que significa isto? Que o PCP também ainda não percebeu que as pessoas têm memória e que, por muitos jovens que injectem nas suas fileiras, os eleitores não deixam de pensar que são sectários, que não representam um modelo que se possa replicar ou no qual as pessoas desejem algum dia viver. O comunismo, em termos de ideal, pode ainda fazer algum sentido, mas tem que ser outro, adaptado aos tempos do capitalismo financeiro, sem rosto. Já não é o capitalismo do patrão que se conhece mas um capitalismo perverso, invisível, sem rosto, sem moral. Face a esta realidade, o PC não pode aparecer com laivos de antanho.


- O BE teve um resultado triste tal como triste foi o resultado do Livre ou como foram tristes os resultados dos outros partidos nos quais as pessoas desperdiçaram votos. Se o BE conseguisse conjugar-se com o Livre e com alguns dos outros talvez conseguisse alguma expressão. Mas, assim, é uma tristeza, votos que não têm expressão, o mesmo que nada. 

O que significa isto? Que são partidos de franjas e que daí não conseguem sair. Olham para o próprio umbigo, entretêm-se a defender as suas causas, cultivando diferenças em vez de procuraram pontos de contacto, em vez de cruzarem e abarcarem diferentes pontos de vista, em vez de se abrirem à diferença, em vez de cativarem mais eleitores. Não se consegue trabalhar para os outros quando o próprio ego é o motor daquilo que se faz.

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Conclusão? As pessoas, em geral, não se revêem nos actuais partidos, na actual forma de fazer política. Não vale a pena dizer o contrário. O regime tem que se recriar, reinventar. Ou desaparecerá.



Enquanto os partidos estiverem entregues a gente medíocre que se rodeia de outros medíocres, ou a gente agarrada ao passado sem perceber que o mundo é outro, ou a oportunistas, sabujos, lambe-botas, e outros que tais, a situação não deixará de se degradar. 

A continuar-se assim, a abstenção irá subindo ou as pessoas irão desperdiçando o seu voto, riscando-o, entregando-o em branco, entregando ao primeiro que apareça a falar grosso.

E depois não nos admiremos que apareçam extremas-direitas, nazis, ultras.

Há uns anos seria impensável que algum governo tivesse a ousadia de roubar pensões, cortar ordenados, aumentar impostos para além do razoável, quase deixar morrer à míngua os desempregados, atacar os professores, o sistema de ensino, desprezar o conhecimento, arrasar a sociedade afrontando-a sem respeito ou consideração. O ponto de abulia, de desânimo, de desinteresse a que chegámos permite que isso aconteça sem que uma revolta a sério se faça ouvir.

A continuarmos assim, o caminho vai ficando cada vez mais aberto para todos os roubos, todos os ataques soezes, todos os atentados à liberdade e dignidade dos cidadãos.


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A música lá em cima é de Arvo Pärt: Lamentate

As imagens mostram obras (extraordinárias!!!!) de Alexandre Farto, também conhecido por Vhils


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Para verem as minhas primeiras impressões, ao ter tido conhecimento das sondagens de abertura dos telejornais das 20, é descerem, por favor, até ao post já a seguir.

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Isto saíu-me um bocado longo e provavelmente foi, para vós, uma seca das antigas. Se assim foi, as minhas desculpas. Apeteceu-me alinhavar estes meus pensamentos e só agora, ao intercalar as imagens é que vi a extensão da coisa.

Este domingo andei passeando por esta Lisboa tão bela e cheia de vida e fiz umas fotografias que ainda pensei que teria tempo para vos mostrar. Mas, com isto, já são quase 2 da manhã e a amanhã é dia de trabalho. Por isso, por agora, fico-me por aqui.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta semana.


domingo, maio 25, 2014

Primeiras impressões sobre os resultados das eleições europeias 2014 (ou melhor, sobre as sondagens já que pouco passa das 20h)


Tal como se esperava, os votos dispersaram-se e fugiram para os fora de sistema. 

Em Portugal, o vencedor terá sido o PS mas, se querem que vos diga, face à devastação que esta gente do PSD + CDS tem levado a cabo no País, só ficaria satisfeita se os da dita Aliança Malvada tivessem uma votação abaixo dos 20%, qualquer coisa como a corrida em osso que a França deu ao Hollande. Que depois disto tudo, Seguro pouco se distancie dos outros incompetentes só revela a fragilidade de Seguro. Aqui em casa não querem que eu veja isto assim. Querem que eu veja que o PSD e CDS foram eleitos nas legislativas com maioria e que agora devem levar uma tareia à volta dos 20%. Certo. Só que eu acho que devia ser muito mais.


Ganhador foi também o misterioso MPT que nunca deve ter pensado eleger um, quanto mais dois (se for aos 2). Que o Marinho Pinto, tonitruante e demagogo, tenha ganho um lugar ainda faz algum sentido já que arrasava com tudo quando era Bastonário da Ordem dos Advogados e, segundo me disseram, é comentador nas manhãs da TVI e é sabido que a televisão vende tudo. Agora, se elegem um segundo, começo a ficar mesmo perplexa: as pessoas vão perceber que votaram num partido de que não se sabe bem a quantas anda. Mas Marinho Pinto é um bocas, distribui bordoada à direita e à esquerda e as pessoas, saturadas como andam de Passos, Portas e Seguro, já votam em qualquer coisa.


Ao que parece, também um grande resultado para o PCP. Também me parece compreensível. Encarna a revolta face à tirania imposta pelo euro, ao garrote imposto pela troika, e, para além do mais, tem muita gente nova de qualidade.

A liderança bicéfala do BE parece ter sido fortemente penalizada e tenho alguma pena, tal como também tenho alguma pena pela não eleição de Rui Tavares. É gente um pouco vacilante face a actos concretos mas é gente que pensa bem, com boas intenções.

Não falo do CDS, esse partido que já mal existe e que, para esconder a miséria em que se transformou, foi a eleições debaixo da saia do PSD, esse partido que se porta como uma galdéria de perna aberta e, portanto, a dizer qualquer coisa seria para ainda os felicitar, a eles, CDS, e ao PSD, pois têm, de facto, muita sorte: só em Portugal, com tudo o que os portugueses têm sofrido às mãos daqueles incompetentes, é que os partidos de um governo como o desgoverno português poderiam ter um resultado como o que tiveram. Foi fraco? Talvez nem 30%? Claro que é uma votação fraca. Mas devia ter sido metade do que foi.

E por aí fora?


Em França parece que a direitista radical Marine Le Pen da FN passou para a frente, logo seguida da direita mais civilizada.

O Partido Socialista francês foi corrido para um vergonhoso terceiro lugar, uma votação miserável, um pontapé no cu do Hollande como não há memória.

Uma vergonha o que os líderes fracos fazem aos partidos (e aos países).

Esta situação em França é assustadora. Sendo a França um dos pilares da união europeia, como fica a UE com a França entregue à extrema direita, uma extrema direita que quer que a Europa se lixe, que quer o fim do euro, que é contra todos os ideais que estiveram na base do ideal europeu? Não faço ideia mas temo que tudo isto não esteja a caminhar no melhor sentido.


Na Grécia a revoada foi também significativa com a esquerda do Syrisa a passar para a frente mas com os nazis também lugar de relevo, salvo erro em 3º lugar.

A Merkel soma e segue. Não sei se foi à larga mas ganhou. Pudera. Defende a Alemanha com unhas e dentes e a população agradece-lhe.



Bom, agora vou arrumar umas coisas, acabar a sopa, pintar as unhas, passar as fotografias que fiz hoje para o computador, etc e tal, e logo volto mais logo.