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domingo, maio 23, 2021

Mariana, a Mortágua que Louçã gostava de ter como Ministra dos Porquinhos, e as suas bizarras Comissões de Inquérito em que se inquirem clientes de empresas privadas.

[E o comentário de MPDAguiar]

 



Há coisas que sabemos que não estão bem. Por exemplo, uma pessoa ir no carro e, esquecida que aquilo é um habitáculo envidraçado, pôr-se a tirar macacos do nariz é do mais embaraçoso e censurável que há. Alguém dizer quaisqueres é muito mau. Dizer há-dem também. Dar puns num local público não é lá muito bem-educado. Comer ruidosas pipocas no cinema é igualmente mau. De cuspir para o chão, então, nem se fala. Roubar creme anti-rugas na farmácia ou chocolate no supermercado, uma vergonha. Entrar à cara podre numa fila de trânsito, muito reprovável. Estacionar em segunda fila, impedindo os outros carros de saírem, é um abuso. Um homem coçar as partes pudibundas em público ou levantar a perna de lado como se estivesse com os pelos púbicos presos no elástico das cuecas também é altamente desagradável, especialmente para quem assiste e tem que fingir que não está a ver.

Tudo coisas que, pensando bem, deveriam merecer não apenas veemente censura pública como é óbvio que os seus autores estão mesmo a pedir para ser expostos debaixo dos holofotes e à frente das câmaras da televisão para levarem um valente aperto da Agente Mortágua. 

Tanta coisa a saber:

não pensou no que fazia, quando fez? 

quando é que disse? 

porque é que disse? 

ao pé de quem é que  disse? 

quando fez? 

onde fez? 

não viu que não devia fazer? 

desde quando faz? 

nunca ninguém lhe disse para não fazer? 

esqueceu-se? esqueceu-se como...? 

Claro que haverá uma ou outra ujm, os desmancha-prazeres desta vida, que dirão que a Assembleia da República não é lugar para inquirir sobre aqueles temas -- mas é certo e sabido que logo saltarão para a arena os que acerrimamente dirão que ora essa, que é ali mesmo, que é bom que saibamos quem são os espertalhões, os relapsos, os trapalhões, os porcalhões, que assim, quando os virmos por aí, já saberemos do que são capazes.

Mas eu -- lamento dizê-lo -- não concordo. 

Acho que à política o que é da política, à justiça o que é da justiça, à escola o que é da escola, à psicologia o que é da psicologia. E etc. Acho que quando aceitamos que haja uma entidade que se sinta acima de tudo e de todos e ultrapasse toda a separação de poderes e saberes para que, do alto da sua cátedra, julgue e condene tudo e todos, estamos a abrir a porta a poderes ditatoriais e, talvez sem nos darmos conta, a minar a democracia e, en passant, a estender a passadeira a todos os populismos.

A propósito do que escrevi sobre a inquisidora Mortágua, o Leitor MPDAguiar deixou o seu comentário que eu não apenas agradeço como vou permitir-me repescá-lo para o corpo aqui do blog.

E faço-o por uma razão muito simples: acredito que não basta a gente, segundo os nossos próprios princípios, achar que uma pessoa não agiu da forma mais correcta, seja em que vertente da sua vida for, para aceitarmos que uma qualquer pessoa, sem que nada a autorize a tal, se arme em justiceira, inquisidora, polícia de costumes, e, de forma castigadora, sujeite o outro a interrogatório público, a pressão, a humilhação.

Cada um deve responder pelos seus actos mas deve fazê-lo nos termos e nos locais em que a legislação o determine e não conforme nos passe pela cabeça.

Por exemplo. Um banco é uma instituição financeira, no caso uma empresa privada, que tem gestores. Os gestores respondem em última análise perante os accionistas. A gestão é auditada por entidades independentes. E há depois as entidades reguladoras.

No BES falharam algumas coisas, quiçá algumas bastante graves. Provavelmente falhou a política de crédito, provavelmente falhou a gestão de risco, provavelmente falhou a gestão de topo no seu todo. E falharam as empresas que auditaram as contas e a gestão. Falhou a CMVM e falhou sobretudo o Banco de Portugal. E falhou Cavaco que incentivou à participação popular no aumento de capital numa altura em que os sinais de alarme já tinham disparado. E falhou, de novo, o Banco de Portugal e falhou o Governo de Passos Coelho ao partir para uma suicidária resolução do banco que, mal feita e nunca antes testada, só poderia conduzir ao buraco que se viu.

Os gestores levarem uma empresa para a beira de um precipício não é inédito, acontece quase a toda a hora. Contudo, a quase totalidade das situações de crédito malparado, de incumprimentos, de insolvência, passa à margem da política -- e é natural que assim seja. 

Passa para dentro da esfera política quando está em causa um dos grandes pilares financeiros do país e, sobretudo, quando todos os reguladores e poderes que poderiam e deveriam agir estavam entregues a nabos, a totós, a nódoas que nada fizeram e que, quando finalmente agiram, foi para fazer porcaria. E passa quando o poder político chama o zé-povo a tapar o buraco.

E, aí chegados, haveria que perceber o que falhou tão estrondosamente. Era a altura da política agarrar o assunto. Muitas questões sobre as quais reflectir e decidir. Muitas. Infelizmente, aos dias de hoje, grande parte ainda sem resposta.

- Como é que ninguém deu por nada, desde os auditores aos reguladores? 

- Os mecanismos que usam são os mais adequados? 

- E como é que um grupo de ignorantes encartados chefiados por um desqualificado láparo  tem margem de manobra para, na maior leviandade, fazer a resolução de um banco daquela dimensão sem que o regulador os tenha obrigado a pensar duas vezes antes de atirarem tudo o que estava envolvido, e era muito, precipício abaixo?

- Que cenários foram estudados pelo Governo e pelo Banco de Portugal? Que estudos de impacto foram feitos? Mostrem-nos. Ou nem se lembraram de os fazer...? Ou fizeram-nos e estavam todos errados?

Isso, sim, deveria ter sido percebido pelos deputados. E não para causar um festival público mas para ver como impedir que um desastre destes pudesse ter acontecido sem que antes houvesse mecanismos de prevenção que tivessem actuado. Isso, sim, tem que ser percebido.

- Como são feitas as auditorias? Quem audita as auditorias?

- Para que serve o Banco de Portugal se não dá conta de nada? Quem vigia o que faz (ou não faz...) o Banco de Portugal?

- O que foi feito, desde então, para garantir que não volta a acontecer? 

Isto é o que interessa. E interessa para que possamos estar descansados de que isto não volta a acontecer.

O resto é puro carnaval. É poeira. É circo pour épater les bourgeois.

Se o banco emprestou dinheiro sem exigir garantias suficientes, a culpa não é do cliente, seja quem for o cliente. Se o cliente deu como garantias bens que não eram sólidos, a responsabilidade é da gestão de crédito e da gestão de risco do banco e das auditorias e dos reguladores que não exerceram as suas funções. Não é um tema político.

(Nota: E caso se suspeite que os fanfarrões que por aí andam e andaram com a boca cheia de empreendedorismo, todos cagões a darem lições de liberalismo, não passam de uns chico-espertos então que a comunicação social faça o seu papel -- a comunicação social, não a Assembleia da República.

E se o cliente, seja ele quem for, faltou às suas obrigações de forma fraudulenta, então estamos perante um caso de polícia e aí a coisa deve passar para o patamar judicial -- não para o político!)

Os deputados estarem a chamar clientes de uma empresa privada é de uma estupidez sem precedentes. Está a entrar-se num registo pidesco. Digo-o com todas as letras: pidesco. 

E isso é muito perigoso. E tanto mais perigoso quanto parte da população acha bem que isso aconteça.

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Mas passo, então, à transcrição do comentário do MPDAguiar 

Nos termos da lei 5/93 os inquéritos parlamentares têm por função vigiar pelo cumprimento da Constituição e das leis e apreciar os actos do Governo e da Administração. 

Ora, se bem entendi o post da UMJ, ela insurge-se contra o facto de a deputada Mariana Mortágua parecer empenhada em apurar, por exemplo, quanto é que LFV (ou o NV) devia ao BES, e como conseguiu que lhe emprestassem dinheiro (BES sociedade de direito privado, e com accionistas privados, note-se), e que garantias deu, e para que serviu o dinheiro, e porque não pagou ( fazendo-o para mais com uma cara e uns modos de directora de escola primária dos anos 40 a tratar com alunos relapsos) em vez de se empenhar em saber porque razão é que o BES foi objecto de resolução em 2014 (Passos Coelho PM) antes da directiva DRRB. 

Isso é que era! e já agora, também seria interessante que a senhora deputada procurasse saber porque razão o então PR se arvorou em garante do BES e da tutela do BP sobre o mesmo, e porque razão causaria alegadamente tanto dano ao sistema financeiro deixar o BES falir (afinal na Islândia faliram diversos bancos e a ilha não se afundou...), e já agora, porque não foi assegurado um mecanismo de controle público sobre determinadas decisões (prémios aos gestores, por o banco "conseguir" ter prejuízos, p.ex.), em contrapartida dos "empréstimos públicos" (Costa dixit). 

O estilo Mortáguas/Martins é insofrível, e o único consolo é que de vez em quando levam um banho de humildade quando lhes cai em cima um caso Ricardo Robles, ou um caso Luís Monteiro. Mas não aprendem, pois aquelas cabeças acham que foram ungidas com todas as virtudes e são o reservatório moral, ético e jurídico da nação, sempre prontas a apontar a dedo aqueles que não correspondem a tão altos valores. 

MPDAguiar

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Conto-vos um segredo: estou aqui com uma vontadinha de escrever mais uma historinha da Serva-Mor e do seu pequeno servo... O pior é que a inspiração me está a querer levar para maus caminhos... A ver se consigo resistir

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A bicharada que aqui está a assistir às Comissões de Inquérito é da autoria de Linda Bouderbala e o que lhes vale é a companhia de Jorge Palma, apesar dele estar

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Pode ser que seja até já

sexta-feira, maio 21, 2021

Quem é que a Mariana Mortágua acha que é para se pôr naquela posição de inquisidora-mor...?
Pergunto.

 

Já várias vezes aqui exprimi a minha dúvida: para que servem as comissões de inquérito da Assembleia da República?

Ou bem que há suspeita de crime e aí a investigação deve correr por outras vias, nomeadamente pelas da justiça, ou há curiosidade pública e aí a comunicação social pode dar uma ajuda. Na Assembleia da República só se houver uma questão política, digo eu. Mas se há questões políticas, as comissões devem decorrer com urbanidade, com um mínimo de elevação, com a inteligência própria dos que compreendem o que é a política.

Agora o que vejo nestas comissões é uma mesa cheia de deputados geralmente enfadados ou entretidos com o telemóvel e alguém a ser inquirido persecutoriamente pela sinistra Mortágua e, em consequência disso, a ser trucidado, humilhado, violentado.

Poderia até ser o maior bandido a ser inquirido que eu acharia na mesma que aquilo que ali se passa, da forma como se passa, é insuportável -- e deveria ser inadmissível.

Se algumas pessoas que por ali têm passado (alguns dos deslustrados amigos do Cavaco, o inútil, cego, surdo e mudo Carlos Costa, espertalhaços encartados como o Berardo, alguns ex-yuppies e golden boys hoje todos caídos em desgraça, etc, etc) são pessoas a quem se conhece um historial pouco abonatório, a verdade é que, em relação a qualquer delas, eu pergunto: quem é a Mortágua para lhe ser permitido fazer o que faz às pessoas que têm a pouca sorte de a ter pela frente? Ela acusa, ela ofende, ela martiriza, ela tortura a pessoa que inquire. 

Pasmo como ninguém se insurge. E sinto-me envergonhada quando vejo um banana como o Negrão, banana, banana, mil vezes banana, a não ser capaz de introduzir ali um mínimo de decência democrática e republicana, permitindo que uma deputada trate daquela forma um cidadão que foi chamado a prestar declarações.

E repito: pode o cidadão ser o Nuno Vasconcellos (pessoa com quem nunca simpatizei especialmente), pode ser o especialista em desviar armas e fazê-las aparecer, pode ser a Madame Grilo ou um vulgar 'carteiras' do 28. Tanto faz. Ninguém tem que aturar a prepotência e perfídia da Mortágua. Que eu saiba ela não é a justiceira do regime, alguém ungido com todos os saberes e poderes para que esteja acima de tudo e de todos. De uma penada, ela julga a gestão das empresas e ela julga os clientes das empresas. Ela julga e, acto contínuo, ela condena, ela decreta sentenças. Passa por cima dos órgãos de gestão das empresas, dos conselhos fiscais, das assembleias gerais, dos revisores de contas, dos auditores. Como um carro triturante, ela posiciona-se acima de tudo e de todos e, sem hesitações, aplica a sua moral para trucidar na praça pública quem ali exposto (e, na prática, indefeso) mal consegue abrir a boca sem que ela faça esgares de desprezo, imponha a sua moral, censure, ataque, esmague.

E, no fundo, se nos dermos ao trabalho de espremer tudo aquilo, o que sai de todo aquele sinistro espectáculo? Relatórios? E aqueles relatórios servem para quê? Sim, em termos objectivos, aquilo serve para quê? Para que quem assiste, o povo, se ponha do lado dos que acusam cegamente os 'poderosos' como se fosse tudo farinha do mesmo saco? Para escancarar as portas ao populismo? Que outra coisa fazem as populistas manas Mortáguas e a Catarina senão estenderem a passadeira a tudo o que é populista?

O Bloco de Esquerda tenderá para zero, e cada vez mais rapidamente, enquanto estiver nas mãos de duas sinistras criaturas como as Mortáguas e de uma populista como a Catarina. Os portugueses podem às vezes fazer-se de parvos ou de distraídos mas, no fundo, são espertos como um alho e chega o dia em que se fartam de criaturas que começam de mansinho, fazendo-se de especiais e diferentes, mas que, ao fim de algum tempo se desmascaram e se mostram como são: impróprias para consumo.

Mas que o Bloco de Esquerda se extinga às mãos deste trio estou-me bem nas tintas. Agora que a Assembleia da República se preste a ter salinhas de inquisição e tortura já me chateia. Caraças, chateia-me mesmo. Não será mais do que altura de Ferro Rodrigues dar um murro na mesa e dizer que já chega? 

sexta-feira, maio 15, 2020

E sobre esta pseudo coisa entre o Marcelo e o Centeno não há nada a dizer?
Pouco. Muito pouco. Tenho mais que fazer. Por exemplo, escolher o tipo de máscara mais indicado para mim.
Ou ouvir o que Arthur C. Clarke previu em 1964.
Mas, entretanto, daqui lanço um desafio: bora lá tratar de coisas sérias, Senhor Presidente...?


Há problemas e o que está a acontecer é uma fractura na linha do tempo. O mundo está a mudar e, se não está, devia. Há reflexões a fazer e elas têm que ser feitas. Se não as fizermos revelaremos menos inteligência que o corona, esse merdinhas que nem gente nem bicho é. 

Do que há a pensar ou a equacionar não faz parte as abelhudices do Marcelo, as birras do Marcelo ou os chiliques que envolvem uns tantos quantos ou as tesões do mijo de uns e umas comentadoras que vivem de chafurdar no que está a dar. 

Não há pachorra para andar por aí a querer fazer ao Novo Banco o que os de má memória fizeram ao BES. Não há pachorra para conversas da treta, ainda por cima por motivos estúpidos e fúteis. Os tempos em que uma zinha qualquer ligava à miga para que ela assinasse de cruz o fim de um banco já lá deviam ir. Rebentar com um banco não é só dar um tiro no meio da testa de uns quantos privilegiados: não, é mais, é muito mais, é dar um tiro na testa de muitos milhares de pessoas que lá têm as economias de uma vida, é dar cabo de muitas pequenas e micro empresas que lá têm os seus bens, é dar cabo de uma instituição onde trabalham muitas pessoas. Só gente irresponsável, ignorante ou populista é que o defende sem sequer avaliar as consequências do que está a defender.

Que um banco, muito mais um banco que esteja a ser apoiado, deve ser auditado, disso não restam dúvidas. Deve ser auditado e espera-se que o zombie Carlos Costa esteja, por uma vez, a assumir a sua responsabilidade, garantindo que a entidade a que preside esteja a fazer o seu trabalho. Admitindo que isso está a ser cumprido, então resta aos demais cumprirem com as suas obrigações. Se a obrigação, aceite e aprovada em sede de OE, passa por fazer o que agora anda por aí nas bocas de uns e outros, então não é tema.

E o Marcelo, uma vez mais, anda a ceder à sua veia de comentador e à sua atração fatal pelo mediatismo. Fica-lhe mal. Zinhices não ficam bem a um presidente.

O que eu gostava mesmo de o ver a patrocinar era outra coisa: era discutir o futuro. 
Os nossos hábitos de consumo, a nossa forma de viver, viajando como doidos, poluindo, consumindo absurdamente, dependendo em absoluto do que vem de fora, passando a maior parte do dia fora de casa, no trânsito, longe da família, sem tempo para nós.  
E, por outro lado, meio mundo trabalhando na sombra, anjos invisíveis, trabalhadores provisórios, precários, mal pagos, trabalhando horas e horas na sombra, nos bastidores do mundo, de madrugada ou durante a noite, incógnitos e esquecidos. 
Este é o mundo que queremos?

Era para discutir isto que Marcelo deveria convocar a sociedade.

Organize debates, organize grupos de trabalho, dê visibilidade às suas discussões, Professor Marcelo.

Escolha os melhores. Cientistas de todas as áreas, sociólogos, urbanistas, humanistas, artistas, estrategas de verdade, filósofos, gente de bem, jovens, gente madura, gente velha. Gente que seja inteligente. Burros não fazem falta numa discussão deste tipo. Chame-os. Desafie-os. Peça-lhes propostas. Garanta que as melhores propostas são testadas e, se provarem, que sejam passadas à prática.

Se o fizer, já sabe, cá estarei para lhe enviar daqui a minha força.

NB: O João Miguel Tavares não encaixa em nenhum destes grupos, ouviu, Prof. Marcelo? Não o chame para isto que isto é areia demais para a camioneta dele. OK?

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Mas, entretanto, convido-vos a ouvirem o que o Arthur C. Clarke disse vai para um montão de anos. Há gente que vê ao longe.


Será que isto era mesmo ele a falar ou é tanga, alguém agora a fazer lip sync?

Sei lá, já não digo nada.


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Matthias Kretschmer anda a inventar máscaras à maneira, á razão de uma por dia.
Sarah Cooper também se tornou viral: misturou o corona com o Trump e deu nisto.
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E uma feliz friday!

terça-feira, junho 25, 2019

As inteligentes perguntas do PSD a Sócrates.
As úteis e inteligentes Comissões Parlamentares de Inquérito


Ouvi na televisão que os deputados da Comissão de Inquérito à CGD querem lá o Sócrates e, não querendo ele oferecer-lhes o pratinho e optando por responder por escrito, vão enviar (ou já enviaram) perguntas.

Uma coisa meio maluca. Tudo isto é maluco, desprovido de senso. Ao fim de não sei quantos anos, os deputados resolvem acordar para a vida e, virgens de primeira viagem, ficam numa excitação, coisa adolescente, pueril, parvoíce de juventude retardada e bobinha.

Nos tempos áureos da alavancagem financeira, em que as universidades (e polvilhem tudo de um bom catolicismo) ensinavam que bom, mas bom mesmo, era as empresas endividarem-se, endividarem-se até ao tutano, com ou sem garantias palpáveis, em que a publicidade invadia todos os espaços com empréstimos para toda a gente, empréstimos a perder de vista, até para quem não tinha dinheiro nem para mandar cantar um cego  -- nessas alturas, os senhores deputados não viram nada, não juntaram dois e dois. Olhinhos wide closed, como é seu costume. Nem o fizeram os comentadores económico/financeiros que sabem tudo mas só depois de toda a gente o saber. Nessa altura, os senhores deputados haveriam de andar entretidos com outras questões póstumas porque só reagem muitos anos depois, quando do morto já nada resta, só memórias esfumadas.

Nesta altura há questões presentes, profundas, que se não agarradas a tempo impactarão intensamente os tempos futuros mas que é lá isso...? Não são temas mediáticos, não são a espuma dos dias. E os senhores deputados só se interessam pelo que já lá vai. 

Agora que os bancos até já estão razoavaelmente sanados, em que os tempos dos créditos à tripa-forra já lá vão e em que os bancos até se uniram para tentaram, pelas vias normais, ressarcir-se dos buracos causados pelos grandes caloteiros do regime, é que os deputados acordaram e querem saber, ao pormenor, quem é que fez ou desfez nos idos de já nem sei quando. 

Não digo que não haja coisas a saber agora. Há. Por exemplo, seria interessante como foi possível dissolver um grande banco da forma como foi, com ministros de férias e a assinarem de cruz. Ou como foi aquela divisão entre o bom e o mau, em que o bom ficou cheio de coisas más que parece que não cabam e que, agora que o banco foi vendido nem sei bem a quem, é preciso continuar a meter lá dinheiro. Isso seria interessante saber. E não foi assim há tanto tempo. Agora é que seria de questionar a Marilú e o Láparo, ou até a Cristas, amiga, assina lá, enquanto a memória deles ainda estiver fresca. Ou a nulidade do Carlos Costa, esse que passou por todo o lado em que houve buraco sem nunca se ter dado conta de nada e indo acabar no Banco de Portugal onde elevou a sonsice até a um nível de manhosice insuportável.

Mas não. Os senhores deputados armam-se em investigadores, em juízes fora de água e, para ali estão, horas a fio, entretidos com um exercício de auto-exibicionismo e onde também oferecem palco a exibicionistas falhados, a gente que já não se lembra de nada (* e já vos explico porque é que acredito que não se lembrem mesmo), um exercício que volta e meia é de pura prepotência, maldade gratuita e humilhação dos inquiridos, um exercício que dá canal, que garante partilhas nas redes sociais, que alimenta a indústria do comentário político, que alimenta a rábula, a graça fácil -- e que, em termos práticos, não passa disso.

E tudo isto culmina na parvoíce mais completa ao quererem que Sócrates, que deixou de ser primeiro-ministro há oito anos e que, desde então, tem sido escrutinado, virado do avesso, inquirido, inspeccionado, trespassado por raios x e ressonâncias magnéticas, scanneado, espiolhado, bisbilhotado, trespassado, passado a ferro, posto atrás de grades, vigiado à distância e à lupa, agora responda a puerilidades como esta:
Sr. Eng. recebeu quantias monetárias ou outros bens por parte do Grupo BES, Grupo Lena ou Vale do Lobo?
Agora, meus Caros, digam-me: isto não é de gargalhada? Estarão à espera de que resposta? 

Olhem, só me ocorre isto: LOL 😂😂😂😂😂 (a ponto de ir às lágrimas)


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* Por razões que agora não vêm ao caso, não devo conseguir escapar de ser testemunha de um caso que se passou há uns quatro anos. Quando chegou a notificação, chutei para canto. Quando me perguntaram o que sabia eu do caso, a minha primeira reacção foi que pouco ou nada sabia, que tinha acompanhado a coisa já no rescaldo. Foram-me fazendo perguntas e eu fui puxando pela cabeça e, aos poucos, fui-me lembrando de alguns episódios. No outro dia, numa reunião com advogados, tentaram que me lembrasse de mais coisas. Às tantas eu disse que só tinha tido algum envolvimento já o caso estava consumado, para aí a partir do verão de há uns três anos. Uma das advogadas olhou-me como se não acreditasse, dizendo-me que não lhe parecia provável que no prazo de um ano não tivesse havido nada e que eu não soubesse de nada. Um hiato de um ano? Fiquei a pensar que, de facto, era estranho. Mas não me ocorreu nada em que eu tivesse participado nesse período. Fiquei de procurar mails antigos. Pois bem. Resmas, paletes. Tive conhecimento, participei durante o dito ano em que juraria ser-me totalmente alheio. Estive a reler os mails e fiquei perplexa. Não me lembrava de nada de nada de tudo aquilo. Ao reler, claro que as memórias se foram reconstruindo mas, antes, juro: zero. Como explicar isto? Penso que é simples. Para mim, aquilo era marginal. Sendo caso grave, muito grave mesmo, para os lesados e para os directamente envolvidos, para mim aquilo era coisa em que participava sobretudo como expectadora. E, de lá para cá, todos os dias acontecem coisas. Quantas outras crises, quantos outros problemas? Mal de nós se mantivéssemos vivos todos os registos de tudo o que fazemos em todos os dias da nossa vida. Acho que até tenho boa memória e, no entanto, apesar de todo o meu envolvimento naquele caso durante um ano, só me recordava, e sem grande pormenor, do que se passou de há três anos para cá e apenas porque passei a ter intervenção na primeira pessoa. Portanto, acredito e mais do que acredito que aquela gente que vai à Comissão e que não se lembra do que se passou há oito ou dez anos, em reuniões iguais às que se têm todos os dias de todos os meses e de todos os anos, está a falar verdade.

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As duas últimas imagens provêm do mui saudoso We have kaos in the garden

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sábado, março 30, 2019

O bright side of Brexit e o tão esperado encontro com a Rainha




Mais uma cegada para os lados do Brexit. Não há explicação para o que se está a passar. Entretanto, nas ruas, uma maltosa altamente suspeita desfila a gritar 'Shame on EU'. Parecem hooligans, malta de gangs, de claques, fazem saudações que metem medo, dizem que foram traídos, querem sair da Europa. Outros são apenas excêntricos. Ou tias fora de tempo. Ou velhos nacionalistas desfasados da realidade. Ou gente que parece que chegou atrasada para os festejos de carnaval. Um grupo esparso e inconsistente. E vendo quem assim ainda continua a defender o Brexit percebe-se ainda melhor o tremendo disparate que os britânicos fizeram. 

Já tenho visto, nas empresas, cometerem-se erros incríveis. A gente tenta perceber como foi possível ter acontecido uma decisão tão absurda e, mesmo depois de se ter percebido o erro que se cometeu, continuar a persistir-se nele, e não percebe. 

Imagine-se isto a uma escala muitas mil vezes superior.

Que não haja uma figura acima disto a pôr fora de jogo quem já mostrou não saber jogar e a escolher melhor alternativa é coisa que ainda assusta mais. A rainha? Onde pára a rainha?

A vulnerabilidade dos povos é grande. Deixam-se empurrar, avançam determinadamente em direcção ao abismo e, mesmo que toda a gente veja o triste destino que se avizinha, permanecem incapazes de mudar de rumo. Muito preocupante isto a que o mundo está a assistir.

Mas já estamos no fim de semana e eu, depois de de um dia em parte preenchido por avaliações, eu como avaliada e eu como avaliadora, tudo coisas às quais não acho especial graça e tendo ainda em cima de mim o peso de saber que a parte pior é ainda a que me espera, nomeadamente o ter reuniões destas com algumas figurinhas complicadas, chego aqui, a esta hora, e falta-me vontade para dissertar sobre o tema.

Hoje, ao fim da tarde, alguém  espreitou à minha porta e, do nada, perguntou-me: então agora o que é que vai acontecer depois do que sucedeu hoje? Embrenhada que estava nas minhas coisas, levantei a cabeça, admirada: o quê? Ele disse: isto do brexit. E eu, apesar de admirada, disse: alguma coisa vai acontecer pois não creio que caiam mesmo no caos.  Ele seguiu e eu fiquei a pensar que, se calhar, daqui por algum tempo, vou lembrar-me do meu optimismo inocente.

Não será a primeira vez.
Há uns anos, estávamos numa reunião e um disse que estava preocupado pelo rumo que as coisas estavam a tomar a nível do BES, com o Banco de Portugal a agudizar a crise. Desvalorizei. Ainda vivia naquela tonta ilusão do 'too big to fail'. Lembro-me de ter dito que se o Banco de Portugal continuasse entregue às indefinições daquele que viria a revelar-se o Emplastro-Mor -- o tal que está em todo o lado mas está só por estar, para aparecer, para ser visto, para fazer número -- o Governo haveria de intervir. Não se deixa cair um banco daquele tamanho, sabendo que a sua queda arrastaria a queda de várias empresas, de ânimo leve. E, no entanto, aconteceu. O impensável aconteceu. E, no entanto, apesar da leviandade e incongruência da decisão, tanta gente apoiou, tanta gente ainda acha que foi dado o passo certo. E, no entanto, apesar dos custos brutais que a decisão acarretou e ainda acarreta, ainda há muita gente que não percebeu a dimensão do erro cometido.
São muito manipuláveis, as pessoas. Portanto, vulneráveis.

Mas isto não é tema para fim de semana, bolas. Se é para falarmos de desgraças que são tão estúpidas que até dão vontade de rir, então que entre quem sabe do assunto. E que entre também a Rainha, caraças, que se esta situação não está a pedir um gesto real então não sei qual é que pedirá.


segunda-feira, maio 07, 2018

Sócrates, Pinho, a Justiça, a populaça




Assusta-me ver como há tantas pessoas que condenam na praça pública sem necessidade de julgamentos de verdade. Assusta-me ver a superficialidade de grande parte da população que se acha dona da verdade e da capacidade de julgar, dispensando provas, contraditórios, testemunhos. Assusta-me perceber como qualquer pessoa pode, na realidade, tornar-se vítima de processos que se julgariam apenas possíveis na imaginação de escritores. Assusta-me ver como é fácil trucidar alguém, lançando notícias no Correio da Manhã. Assusta-me perceber como tanta gente confunde os planos e da censura ética, baseada em factos conhecidos, tão facilmente parte para a condenação judicial no pelourinho da comunicação ou das redes sociais, e isto com base em partes de factos, as partes que alguns jornalistas seleccionam.

Assusta-me ver como, da simples defesa do funcionamento do Estado de Direito em todas as suas vertentes, há quem infira que, quem o faz, é incondicional de A ou de B e, de imediato, essas pessoas sejam incluídas na claque de A ou de B e, provavelmente, tão 'culpados' quanto eles.


Do caso Sócrates, tal como agora do caso Pinho ou de qualquer outro, a minha posição é a mesma de sempre: para julgar existem os tribunais e, até prova em contrário, todas as pessoas são inocentes. 

E não é qualquer um que é juiz nem é qualquer um que está em condições de decretar sentenças. É preciso ter formação e é preciso estudar os casos.

Nem eu, nem o Dâmaso, nem a maior maioria de quem fala (ou escreve ou sentencia contra qualquer dos arguidos mais conhecidos) é juiz ou conhece todas as peças dos processos. Portanto, não me sinto habilitada a pronunciar-me -- e assusta-me ver como os cuidados que eu tenho são ignorados pela maioria das pessoas. 

O que digo desde sempre é o mesmo: que quem for culpado, seja condenado. Que até ser condenado pelos tribunais, ninguém o seja na praça pública. E que seja devido respeito a todos os cidadãos.

Os tempos estão mais para o populismo e para a consequente regressão democrática do que para a ponderação e recato que situações complicadas requereriam, mas a mim não me verão a percorrer o caminho mais fácil. Não alinho em julgamentos populares.


Fui crítica em relação a situações dúbias em termos éticos e que, no entanto, eram aceites pela comunidade:

  • Gente 'influente' nos meios do poder, com uma boa 'agenda' (leia-se: 'contactos'), era (e já não é?) convidada a fazer parte de conselhos de admistração, conselhos fiscais, mesa da assembleia geral ou cargos de assessoria de tudo o que era grande empresa. Ninguém comenta(va), tudo normal.
  • Deputados em part-time têm poiso em tudo o que era (e já não é?) escritórios de advogados ou cargos aqui e ali -- e, enquanto isso, decidiam e legislavam sobre dossiers sensíveis. Tudo normal para o comum dos mortais. 
  • Deputados e jornalistas a passearem por aqui e por ali, pagos por empresas (e não: não era só o BES que pagava essas moromias!) -- tudo normal. Ontem e, presumo, ainda hoje. 

Ninguém diz nada ou, se dizem, falam baixinho. Uma situação que se presta à promiscuidade, aos jogos de favores -- e tudo a céu aberto. E ninguém vê até algum cair nas malhas das suspeições e ficar na mó de baixo.

Quantos dos meninos do Expresso e de outros jornais que hoje tanto comentam estes casos não andaram a viajar à conta, a andar de barco à conta, em bons hotéis à conta, em bons restaurantes à conta? Corrijo: andam. Poderia dizer nomes. Poderia porque sei. A hipocrisia dos que falam do alto da sua cátedra contra A ou B incomoda-me sobremaneira, especialmente por saber como sabem ser servis para com quem os leva a conhecer do bom e do melhor. 


Outra coisa. Que o BES empregou meio mundo era mais que sabido. E dava garantias de reingresso a todos quantos de lá saíam para cargos políticos. Mas qual a novidade disso? E, na verdade, qual o mal disso? Se alguém tem um bom emprego numa empresa, vai largar essa estabilidade folgada para se ir enfiar num governo sujeitando-se a trabalheiras, maçadas e decréscimo de nível de vida e arriscando-se, quando de lá sair, a ficar desempregado? Só se for maluco. Além do mais, para essa empresa, é bom ter de volta, aos seus quadros, alguém cujo CV terá sido enriquecido pela experiência e pelos contactos adquiridos. Mas, e que mal pergunte... era só o BES que fazia isso...? Olhem que não... olhem que não... Alguém que pesquise o que se passava com todas as outras grandes empresas verificará que, afinal, não era só no BES que isso acontecia.

Não conheço pessoalmente nem Sócrates nem Pinho, excepto por ter estado para aí umas duas vezes em eventos nos quais ambos estiveram. Deles apenas posso falar enquanto cidadã, por me ter sido dado assistir à governação que cada um, a seu nível, levou a cabo. O juízo que fiz sobre Sócrates, em particular, expressou-se nas urnas.

Se fosse amiga pessoal dele, teria questões a colocar-lhe pois há aspectos que vieram a lume na sua conduta pessoal que me deixam um bocado perplexa. Mas não sou sua amiga, nem pessoal nem sem ser pessoal.

A nível criminal, espero que a Justiça funcione pois estou curiosa para saber qual o desfecho do processo Marquês. Estou mesmo muito curiosa para saber quais as provas que existem pois, até hoje, ainda não ouvi falar de uma única.

Quanto aos pilares do Estado de Direito, espero que se mantenham firmes e saudáveis apesar de toda a onda de populismo que por aí grassa e pelo gosto de espectáculo e de pisar quem cai em desgraça que a populaça sempre demonstrou.

E, tirando isso, por hoje, nada mais a dizer.


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Fotografias deste domingo feitas in heaven
Guardian angels de The Triumph of Time and Truth (HWV 71) de George Frideric Handel (1685-1759) com Sophie Bevan como soprano
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sexta-feira, novembro 03, 2017

Tópicos de um dia com coisas boas no meio de complexidades
(que se calhar são da treta)





Dias complexos cheios de assuntos complexos, estes meus.
Claro está que isto é tudo relativo. A minha complexidade vale menos que uma casca de caracol para si, meu Caro Leitor, e vale seguramente também menos que zero para quem esteja doente, desempregado ou se sinta irremediavelmente abandonado. Mas, dentro desta relatividade, a complexidade que teima em querer tomar conta dos meus dias é complexa demais para o meu gosto.
No entanto, quando me vejo imersa à força num caldo de complexidade, o meu ser profundo chega a um ponto em que, sem stress e grandes anúncios, diz devagarinho e acho que só eu é que o ouço: que se lixe a complexidade. E, lixando-me eu para a complexidade, arranjo maneira de, por um bocado, geralmente à hora de almoço, saltar fora.
Sabendo disto, e por outras ponderosas razões, só aceito almoços de trabalho se não tiver como me escapar. Caso contrário, é um bocadinho de tempo meu, só meu, e azarinho para o resto.
Pronto. Quero eu com isto dizer que, à horinha em que já estava pelos cabelos e com vontade de mandar bugiar quem se aproximasse com mais gaitas (e digo gaitas para não dizer tretas ou, mesmo, merdas), peguei na carteira e nas chaves do carro e ala moça que se faz tarde.


A hora de almoço foi curta e, para ajudar à festa, foi um filme para conseguir descobrir lugar para deixar o carro. Portanto, o almoço foi naquela base, não mau de todo mas rápido; e ainda a última garfada ia a caminho do esófago, já eu ia a caminho de uma livraria.

Minutos sagrados que me salvaram o dia. No entanto, a realidade teima em querer estragar-me a flanação:eu a entrar e mais um telefonema e mais conversa e mais conversa e logo uma em que não pude furtar-me a dar uma desanda em quem me ligou. Mas mal a desanda estava despachada, já eu circulava entre as novidades e já eu salivava perante os pitéus que ali se me ofereciam. Em momentos assim desaparecem complexidades, maçadorias, ralações. Tudo. Disso não resta nada. Se alguém me abordasse naquele momento e me perguntasse se eu tinha coisas que me preocupassem, espontaneamente diria que não. Durante aqueles breves minutos sou livre, despreocupada e feliz.

Trouxe:

Nova Antologia Pessoal de Jorge Luis Borges, edição Quetzal  

Entrevistas da Paris Review, 3, edição Tinta da China

Que alegria. É como ir a um mercado e descobrir um peixe fresco, fantástico, raro, e umas hortaliças tenras e perfumadas como poucas vezes aparecem e umas frutas maduras, sumarentas, gostosas, a saberem mesmo a fruta, e vir para casa toda feliz da vida, sentindo que o dinheiro gasto foi uma pechincha face à qualidade das iguarias descobertas.


Mas logo tive que ir à pressa para o carro e, mal comecei a conduzir, já estava a fazer outro telefonema e logo, de novo, enfiada até à ponta dos cabelos na complexidade. E depois mais uma tarde daquelas.

Há bocado, já na minha rica casinha, estava a despir-me no quarto e a falar com o meu marido, toca o telemóvel. Pensei que era a minha filha que não me tinha atendido quando eu lhe tinha ligado, ao ir no carro. Quando cheguei ao pé do telemóvel, calou-se. Afinal não era ele. Era aquele com quem tinha falado no carro depois de almoço, que anda enterrado em complexidades ainda piores do que as minhas e com quem estarei numa reunião em que amanhã vamos estar e que, pelo tema e pelos intervenientes, se adivinha extraordinária (para não dizer tendencialmente tenebrosa).

Depois, então, ligou a minha filha. Depois o meu filho. E aí a mãe-galinha que eu, acima de tudo, sou, ficou mais tranquila sabendo-os bons, os meninos também bons, tudo bom (desde ontem...), e já me parecia que, estando o dia a acabar em paz, nem uma só guerra tivesse havido durante o dia.
Ser primária tem coisas boas. Aliás, acho que só tem coisas boas.
Entretanto, já jantei e já escolhi a roupa para amanhã, que me levanto cedo, não tenho tempo para grandes experimentações e, nisto, não pode haver lugar a riscos.

Com isto tudo, só há bocado é que consegui sentar-me no sofá e, obviamente, passados uns minutos, estava a adormecer. Talvez cinco minutos mas o suficiente para agora me sentir acordada.

Tenho aqui os dois livros que serão certamente altamente estimulantes. Mas, se agora me ponho a lê-los, sou capaz de adormecer de novo.


Portanto, tenho aqui o Borges ao meu lado e só não me sinto envergonhada por não estar a dedicar-lhe a merecida atenção porque sei que ele, por três razões que me abstenho de explicitar, não me vê. Quanto aos escritores entrevistados, limito-me a passar-lhes a mão pelo lombo. Melhor, pela lombada. Melhor, pela capa. Tem uma textura que me agrada. Tomara que chegue o fim de semana para me atirar a eles.

Tirando isto, o que tenho a dizer é que, enquanto jantava, vi um pouco de uma reportagem sobre os tarefeiros na Saúde e o que tenho a dizer é que nunca percebi estas opções e que, em geral e em abstracto, é tema que me enoja. O mundo derrapou para uma encosta de acentuado declive onde as decisões assentam numa absoluta subversão de valores que nunca podem levar senão ao buraco. Não é só na Saúde: é em todo o lado, não apenas do Estado como em muitas empresas. Recorre-se a empresas de negreiros que exploram mão de obra barata e a vendem como 'serviços'. Não quero falar mais disto aqui porque senão não me calo e o post já vai longo demais. 


Também vi um bocado de uma reportagem que me deu alguma satisfação: tinha a ver com o BES e com a possibilidade (presumo que remota) de anular a resolução do BES. Era bonito. Juro que gostava. Sempre achei que a resolução do BES foi uma aberração, uma leviandade, um nonsense pegado, um monumental erro. E gostava, mas gostava mesmo, se as sardinhas voltassem ao prato. Julgo que tal seria já materialmente impossível mas juro que gostava que fosse não apenas possível como mandatório.


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Parece que esta sexta-feira, finalmente, vai haver chuva que se veja. Tomara, que já não se aguenta este tempo mais estranho.

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As fotografias são da autoria de Alex Robciuc

Tom Waits interpreta Strange Weather

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E agora vou ver se acordo a sério para ver se me inspiro para continuar com a historinha que comecei ontem.

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sexta-feira, abril 14, 2017

O feiticeiro mentiroso


Há coisas de que não quero aqui falar. Se tenho isto de não me identificar não é para, depois, vir para cá relatar situações incómodas, com detalhes que podem levar a identificá-las.

De resto, calma, não tenho conhecimento directo de nada que tenha provocado danos alheios ou que configurem ilicitudes.

Bernie, Ruth e os filhos quando eram uma família feliz



Mas já tenho testemunhado situações em que alguém por fútil fanfarronice, por mesquinha ambição ou, apenas, por pura burrice, embarca numa situação cujos contornos não são tão lineares quanto é suposto.

Muitas vezes, a coisa é detectada e morre logo ali. Mas acontece, por vezes, que, porque naquelas circunstâncias convinha que aquela ficção fosse uma ideia viável ou porque se não quer apear as expectativas de quem lançou as sementes do embuste, quem teria o dever de cortar, cerce, a ficção, a deixe caminhar.

E, por essas circunstâncias, por vezes difíceis de explicar, a ficção começa a caminhar como se tivesse pernas de verdade.

Quem lhe é externo e não conhece da história o suficiente para a desmascarar, nada diz. Não tem o que dizer. E, quem teria a capacidade para a desmistificar, por vezes, ao fazê-lo, é apodado de desalinhado, de avesso à mudança. E, por vezes, é afastado.

Acontece também que cada vez mais pessoas comecem a trabalhar para dar corpo à ficção. A essas não convém desmascará-la pois a sua vida passa a depender disso. E, quem a conduz, cada vez tem mais dificuldades em assumir que está a alimentar uma fraude pois já envolveu muita gente, e já muita gente depende de se fazer crer que está tudo bem.

Pode ainda acontecer que a comunicação social comece a louvar a 'empresa', que muita gente comece a apostar nela, que as forças vivas da região divulguem o sucesso do empreendimento.

E acontece que o tempo vá passando, o embuste seja cada vez mais difícil de esconder mas, na directa proporção, cada vez é mais impossível assumir, fazer o mea culpa, deixar que tudo se extinga, aceitar o vexame de passar publicamente por mentiroso, por desonesto.

Então, quem está metido nela, embarca em optimismos que parecem louváveis, mostra resiliência, produz discursos articulados nos quais assume, com o que parece ser uma desarmante  sinceridade, dores de parto, dores de crescimento, mas, garante, o futuro é promissor e vamos todos dar as mãos e seguir em frente que o caminho se faz caminhando  e em equipa somos todos mais fortes. Um líder.

E, quem conservou algum distanciamento e, por isso, se encontra distanciado do inner circle do poder, assiste perplexo ao que se passa. Cegueira colectiva? Protecção mútua entre culpados? Instinto de sobrevivência? 

Talvez tudo junto.


Já quando aconteceu a queda do BES eu falei nisto. Do que conheço de meios relativamente parecidos (embora, como referi, sem o mesmo impacto e sem os mesmos contornos), penso que, ao mais alto nível, não há a ideia de querer prejudicar alguém. Pelo contrário, tudo farão para que ninguém saia lesado. O móbil diário passa a ser manter a máquina em movimento, não deixar que pare porque, se parar, morrerá. E não deixar que se descubra: E empurrar os problemas com a barriga, evitar o opróbrio generalizado, fazer de conta. Fazer de conta. A vida passa a ser, acima de tudo, isso: fazer de conta.


Do pouco que, na altura, li sobre Madoff, penso que foi mais ou menos isto que terá acontecido. 

Bernie Madoff geria uma empresa próspera. A mulher e os filhos não conheciam o âmago da questão. Para eles, Madoff era um bem sucedido homem de negócios. Viviam uma vida luxuosa e a sociedade não regateava o reconhecimento perante tão simpática e generosa família.

Até que veio a crise e o dinheiro deixou de entrar. Pelo contrário, os clientes começaram a querer resgatar os seus investimentos.

Como qualquer esquema Ponzi, isso é o que faz cair a pirâmide pois o que mantém a ilusão de bom funcionamento é o dinheiro entrante com o qual se vão pagando bons rendimentos aos que antes o lá meteram.

Daí ao fim foi um ápice. Madoff confessou à mulher e aos filhos o que se passava antes de o confessar às autoridades. Sempre assumiu integralmente toda a culpa.

Perderam toda a sua fortuna. A mulher passou pela vergonha de ver as casas e os bens vendidos. Os filhos ficaram arrasados. Um suicidou-se. Outro morreu tempos depois. Ruth, a mulher que era feliz e milionaríssima perdeu os filhos, tem o marido preso e anda agora sozinha às compras deslocando-se num pequeno carro

Michelle como Ruth
Ruth Madoff agora




O caso está agora em filme e o elenco promete: Robert de Niro e Michelle Pfeiffer.



The Wizard of Lies será lançado a 20 de Maio



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Talvez até já para vos mostrar por onde andei a cirandar ao fim do dia.

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quarta-feira, março 15, 2017

Enquanto o sector financeiro se afundava, Passos Coelho defecou para o tema.
E quando o presciente e intelectualmente veloz Carlos Costa resolveu rebentar com o BES, os ministros resolveram dar o ok por mail, também defecando para os riscos do que aí vinha.
Esta é a gentinha que desgovernou Portugal durante 4 anos.



Tantas vezes, ao longo do desgoverno de Passos Coelho, quando eu via que tudo o que faziam estava errado -- e não apenas errado do ponto de vista social mas também tecnicamente errado -- eu me interrogava se aquilo era má fé, coisa intencional para sacanear os portugueses, ou se era sobretudo ignorância, estupidez em estado puro, burrice pura e dura.

Quem por aqui me acompanha desde essa altura, sabe desta minha dúvida. Por um lado, aqueles desalmados faziam o jogo do capitalismo desregulado, vendendo as melhores empresas ao estrangeiro, vulnerabilizando os direitos dos trabalhadores, favorecendo as fugas de capitais a par do êxodo dos jovens melhor preparados, ofendendo a classe média e os idosos, etc, etc, como, ao mesmo tempo, davam mostras de não perceber nada do que se estava a passar, verdadeiros desmiolados.

Pois bem. A entrevista de Assunção Cristas -- a herdeira do saudoso ex-Irrevogável Portas e confiável líder do CDS -- ao Público é muito esclarecedora.


A conversa da Madame Cristas da Coxa Grossa revela que provavelmente o que tivemos foi mesmo um governo de burros, de gente completamente impreparada, de gente do mais medíocre que há, que não percebiam nada nem do contexto, nem de como lidar com ele.

Com a banca a estilhaçar-se por todo o lado, vem a Madame Cristas dizer que isso era coisa que não assistia ao láparo. Nem BES, nem Banif, nem CGD: “O Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca”. Como se a banca não fosse o indispensável pilar financeiro de qualquer economia, aqueles irresponsáveis continuaram a dançar no convés enquanto o navio se afundava. E fossem também eles lídimos descendentes do brioso almirante, tio-avô do Bruno, eram até moços para vociferar: 'bardamerda para o banquismo'.


E mesmo perante uma decisão absurda, gravíssima, insensata como a que foi a de rebentar com o BES, aquele gentinha assinou de cruz, sem equacionar alternativas, tudo na base 'ó miga, põe lá aí o bacalhau no tiro ao fundo ao BES, que é como quem diz, dá lá aí o ok ao mail'. E a miga Assunção não quis cá saber de nada, estava a banhos, e se a pinóquia Albuquerque dizia para ela dar o ok, ela dava e a malta lá do banco e do escambau que se catasse.


Tudo assim, mais coisa menos coisa, na maior ligeireza.

Podiam ter decidido vender o país à República Popular da China, também assim na mesma base, na base do 'olha, tou-me a cagar, se o amigo lá das 3 Gargantas do Mexia diz que é para vender, a malta vende e bora lá malta, assinem lá de cruz que já tá mas é na hora de calçar a havaiana e ir curtir um bronze para a manta rota'. Ainda tivemos foi sorte.

E foi esta gentinha que deu cabo do País durante 4 anos para, depois de tantos sacrifícios impostos aos portugueses, não ter conseguido resolver um único problema e, pelo contrário, ter deixado rebentar parte do sector financeiro e de mais uma série de grandes e pequenas empresas, para além de ter deixado sem casa muitos portugueses... e sei lá que mais.

E é esta mesma gentinha que ainda por aí anda desfilando pelas ruas a sua estupidez e falta de tino (de tininho, diria a Madame Cristas que gosta de pôr diminutivos nas coisinhas, até quando critica qualquer coisa é só um bocadinho e quando espeta alfinetes envenenados nos ex-sócios de governo é devagarinho).
Ah, sim, e mais outra: a Madame Cristas recebe mais sms de apoio quando se arma em varina na Assembleia, insultando a torto e a direito...? Ok, calma aí ó pessoal, que ela já aí vem cheia de força na goela que o que ela gosta é de sms de apoio -- e o decorozinho que se lixe.
E agora, se me é permitido, pergunto eu: a malta do PSD e do CDS aguenta tão incapazes e anedóticas lideranças?
Mas é uma pergunta retórica. Sei bem qual a resposta: Ai aguenta, aguenta...
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E, portanto, resumindo e baralhando, os Conselhos de Ministros da altura de Passos Coelho deveriam ser mais ou menos uma coisa esperta, assim como abaixo se vê, impostos, impostos e mais impostos e sem perceberem um boi do que estavam a falar  -- só que não falavam em inglês, que aqueles lá, sabido é, arranhavam o português e olha lá.


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Mas pronto, como sou caridosa, aqui deixo o meu conselho aos PàFs:
desçam até ao post seguinte e vão passear o cão, ok?

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