O que é a beleza?
Não sei responder. Poderia tentar mas ficaria sempre aquém
do que qualquer outra pessoa diria. É uma coisa tão subjectiva. Eu gosto de
amarelo porque, para mim, é luz, é alegria. Para outras pessoas o amarelo pode
ser considerado berrante, uma cor de mau gosto. Ou acho um homem moreno mais sexy mas haverá quem os prefira lourinhos.
Quando há uns anos andei à procura de casa, vimos dezenas
de casas, novas ou usadas. Algumas das usadas ainda estavam mobiladas e nós
ficávamos espantados com a fealdade do que víamos. Móveis escuros em chão escuro ou com carpetes
escuras, portas escuras, bibelots soturnos, quadros horríveis pregados quase
junto ao tecto, sofás medonhos, etc, e no entanto as pessoas mostravam as casas
com o desvelo de quem mostra uma coisa muito bonita, muito querida. O que para
nós era horrível, para eles era a casa dos seus sonhos. Uma vez fomos parar a uma moradia que, pela descrição parecia uma maravilha. Quando lá chegámos só não virámos costas de imediato por boa educação. O chão era de mármore mas todo cheio de efeitos especiais, as portas tinham vidrinhos encaixados em metal, puxadores trabalhados de um dourado reluzente, no hall vitrais do mais duvidoso que se imagina, e cortinados cor de rosa no quarto e uma colcha inenarrável e tudo cheio de enfeites, quadrinhos de péssimo gosto, uma coisa que só vista . Por onde passávamos, eu só não ficava de boca aberta porque sei comportar-me em público. Pois a senhora, que me contou a sua história (o marido tinha-a trocado por outra e, para efeito de separação de bens, ela não tinha como compensar o marido caso ficasse com a casa pelo que a iam vender). E, ao falar em desfazer-se da casa, a senhora chorava, era a casa que tinha escolhido, que tinha decorado com tanto carinho, uma casa tão boa, tão bonita. Eu ouvi-a e senti a sua genuína angústia, era como se estivesse a desfazer-se de uma parte de si. Ela não compreenderia se soubesse que eu achava a casa horrorosa.
É como a caligrafia. O que é 'ter-se uma letra bonita'? Bem, em abono da verdade se diga que é questão que quase não se põe, dado que quase não escrevemos à mão. Mas, ainda assim, o que é uma letra bonita?
Há poucos anos frequentei o curso de Grafologia no Centro Nacional de Cultura, ministrado pelo Dr. Alberto Vaz da Silva. O local é óptimo, as instalações lindas e o professor uma pessoa interessantíssima. Pois bem, aprendi que a letra de uma pessoa revela muito do que ela é. Uma pessoa solar terá uma letra solta, fluida, as letras juntando-se umas às outras com elegância e naturalidade, uma escrita rápida. Pelo contrário, uma pessoa com amarguras terá uma escrita mais densa, uma letra mais apertada, mais incerta. E há a escrita ascendente e a inclinada para a frente que significa um apelo pelo futuro, pela novidade, uma vontade de seguir em frente, e há o contrário que já indica o peso do passado ou alguma depressão. E há a forma como se terminam as palavras e as margens à direita e à esquerda e a forma como se assina e o local em que se assina e tudo tem o seu significado. Uma letra pode ser muito certinha, muito bem feitinha e isso significar que a pessoa ainda é um bocado imatura ou que é muito sujeita a convencionalismos ou que é artificial, prezando, acima de tudo, as aparências..
(O estudo da grafologia é aliciante. Sempre que posso, pratico estas análises e, de facto, sabe-se muito de uma pessoa pela análise dos seus manuscritos. Só ainda não fiz a análise da minha escrita; acho que corria o risco de ser tendenciosa)
(O estudo da grafologia é aliciante. Sempre que posso, pratico estas análises e, de facto, sabe-se muito de uma pessoa pela análise dos seus manuscritos. Só ainda não fiz a análise da minha escrita; acho que corria o risco de ser tendenciosa)
Por isso, o que é uma letra bonita?
Resumindo, a beleza não existe enquanto tal: é algo que varia
consoante a pessoa que a aprecia.
O que eu sei é que a beleza proporciona um bem estar
mental e emocional, eleva-nos, apazigua-nos. Apetece-nos estar perto, tocar,
deixarmo-nos envolver pelo que é belo. Um quadro, uma paisagem, uma escultura,
um filme, um rosto, uma expressão, um movimento.
Por isso, mais do que teorizar sobre o conceito abstracto
‘beleza’, vou antes exemplificar mostrando-vos algumas coisas que acho belas, estando eu muito certa de que alguns dos que
me estão a ler acharão que, de belo, o que vou mostrar não tem nada. Seja.
Rodin - La danaide (a pedra macia que se transforma em carne de uma alvura transcendente) |
Degas - Bailarinas (a cumplicidade e a feminilidade em toda a sua graça, a harmonia da cor e do movimento) |
Annie Leibovitz - Kate Moss (a leveza da imagem que capta a essência do retratado) |
Fractal - a beleza abstracta que se desmultiplica (ou que se divide? ou que se multiplica? |
Joana de Vasconcelos e os seus Corações Independentes (Brilho, luz e leveza nas formas tradicionais - filigrana ou talheres de plástico? Que importa?) |
Jardim Botânico do Príncipe Real em Lisboa - a beleza sem tempo de um fresco, mágico, intemporal jardim |
Sophia de Mello Breyner - a caligrafia de uma mulher livre, inteligente, sensível, lutadora, única |
Van Cleef and Arpels - Colar de diamantes, a beleza de uma jóia perfeita. Será cara, esta...? :) |
O Piano - dirigido por Jane Campion
Grupo Corpo - aqui dançando 'Mi corazón'
Procurem a beleza e sintam-se bem, sim? E tenham, meus Amigos, um belo sábado! Divirtam-se!