Mostrar mensagens com a etiqueta azul. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta azul. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, junho 20, 2024

Azul que te quero azul

 

Há momentos feitos de sonho, há recordações douradas pelo sol. Há imagens que nos chegam em fragmentos, há o que não sabemos se são sonhos, desejos, doces memórias. Há sorrisos suspensos no tempo, há palavras que nos chegam como suaves melodias. Há danças que são inventadas, gestos que ficaram por cumprir, subtis movimentos desenhados com as cores dos mistérios escondidos na luz.

Não há melhor, mais suave, mais dócil manto para envolver os segredos mais preciosos do que o que é feito de silêncio e de azul, dos muitos tons de azul. 

The Rarest Pigment in the World | Colour the Spectrum of Science | BBC Science

Lapis blue rocks are equivalent to the price of gold and can mainly be in the mountains of Afghanistan. The unique combination of sulphur with other elements produces this deep rich blue we call ultramarine.


quinta-feira, maio 14, 2020

Lentidões, chuvas, azuis, um quarto com vista, um sonho dentro do sonho






Na volta, a chuva desfaz as ondas espaciais e o que aqui chega já vem deslassado, uma rede desmanchada. Mal consigo fazer alguma coisa no blog. Esta lentidão também me deslassa a vontade e o pensamento. Chove que deus a dá. Todo o santo dia. Escuro chuvoso, frio. A net, que é móvel, está empanada, sem mexer.

Há bocado, depois de um dia de trabalho e estando a janta despachada, sentei-me no sofá a ver se via as notícias, o meu marido ao meu lado. Ao fim de cinco minutos estava perdida de sono. Encostei a cabeça e foi tiro e queda. Passados uns minutos, ouvi os meninos e a minha filha a rirem. Admirados, como é que consigo dormir assim, sentada, a cabeça para trás. Elucido: quando me sinto cansada, basta encostar a cabeça, adormeço instantaneamente. Dormi uns dez ou quinze minutos e foi pena que fossem tão poucos. Mas soube-me bem.

Agora aqui, passa da meia noite e nada aqui mexe. O blogger está mudado e, até para escrever um post, me vejo à nora sem descobrir onde foi parar o lugar disso. Tenho que arranjar um turn around. Temo que um dia também desapareça esse subterfúgio e que fique sem ter como continuar a escrever. Coisas esquisitas que acontecem. Em cima disso, volta e meia fica tudo branco, a bolinha pensadora a andar è roda. Impaciento-me com isto tudo. 


Chove com força. Sei que houve para aí cena armada em volta do Centeno mas nada disso me assiste. Apanhei as parangonas mas com desinteresse. Cá em casa ninguém liga a nada disso. Frioleiras, vizinhices, futileiras, cagadinhas em três actos. Não sei de que se trata mas entre o Centeno, com o seu ar de bom algarvio, com mil provas mais do que dadas, e a Mortágua com ar de dominatrix, a Drago, histérica a cansativa, ou outras que tais dou o meu voto ao Centeno. E isto sem saber de razões. A competência a e honorabilidade de um homem (ou de uma mulher) está muito acima do mediatismo, do imediatismo, do populismo, das cegadas que animam os media e pagam avenças a comentadeiros a metro mas pouco esclarecem. Nisto do BES ou Novo Banco quem fez porcaria, e porcaria da grossa, quem agiu levianamente (e, cá para mim, até ilegítima e a ver se não criminosaente) foi aquela maltosa dos PàFs com o beneplácito dessa alforreca que dá pelo nome de Carlos Costa. Tirando isso pouco mais tenho a dizer. Que Rios, Louçãs e demais acólitos se catem.


Tenho ainda a dizer outra coisa: não há pingo de pachorra para o ar e tom do rodrigo Guedes de Carvalho. Deu em pastor evangélico do reino de são covid. Sermões por tudo e por nada. Mal se percebe que vai começar com o sermão, fugimos a sete pés. Não sei o que lhe deu mas é insuportável. Beato, sentimentalista, padrecas, catequista, mestre escola do tempo da outra senhora. Nem sei. Não consigo aturar mais do que um minuto.

De resto, tenho a dizer que, a nível profissional, se prepara o regresso mas tudo na base do devagar-devagarinho, da prudência. Não consigo imaginar bem como vai ser a nossa vida. Nem quero pensar bem nisso.

Nesta vida protegida, consolo-me a ver como os meninos andam felizes, rosadinhos, bem dispostos. Vejo-os nas aulas, vejo-os brincalhões, queridos. E recebo fotografias de desenhos do bebé e encho-me de saudades dos que não estão aqui comigo. Essa é que é essa.


O meu marido foi ao supermercado à hora de almoço. Não trouxe metade do que pedi e, do que trouxe, trouxe em dose dupla. Pedi uma pá de porco, por exemplo. Trouxe duas, ambas gigantes. Para quê? Para andarmos a comer coisas repetidas? Não faz sentido. Fiz logo uma para o jantar. Assei no forno com batatas normais e doces, também assadinhas. Ficou um tabuleirozão quase a deitar por fora. Quando apareceu na mesa, cheiroso e dourado, despertou a gula. Mas acharam um exagero de muito. Pensei o de sempre, na minha inocência: a ver se dá para o almocinho de amanhã. Mas comeram de dar gosto. Sobrou mas não que dê para todos. Só depois me lembrei que eu devia era ter jantado chá. Por isso, amanhã ao almoço não digo que chá mas talvez kefir com fruta fresca e frutos secos. Se bem que os frutos secos também me insuflem. Se, ao menos, eu pudesse fazer big caminhadas sempre ia derretendo. Mas, com esta chuva, nem isso. Como é possível que este ano chova tanto...? A nossa terra vai ficar limpinha, despoluída, lavadinha. Está coberta de um musgo dourado, macio e bonito. As árvores e os muros têm líquenes. Os pássaros cantam de dar gosto. Só não é bom o frio e que fique tudo tão escuro. Faz-me muita falta o sol, a luz, o calor.

Tenho muito trabalho. O meu marido e a minha filha dizem que não faz sentido eu trabalhar tanto. Talvez. O meu filho também acha que não deveríamos trabalhar tanto, há tanto tempo. E, por vezes, sinto-me exausta, sem tempo para mim. Repito-me, não é? Passo a vida a dizer o mesmo. Mas a minha vida agora é isto e pouco mais tenho para dizer. Acho que mal me apanhe mais à solta e com bom tempo vou ter muita dificuldade em não mandar o corona à fava.


Isto está tudo desconexo. Uma mantinha de retalhos. Mas não dá para  mais. Duas e tal da manhã. A net mais do que a pedal, quase não consigo mexer nisto. O editor do blogger todo desaparafusado. Uma lástima.

Vou mas é preparar-me para ter um sonho bom, a dream within a dream do Edgar Allan Poe. Rodeei-me do azul do Klein e, por causa das coisas, do Room with a view do menino Yiruma. Bem acompanhada estive. 


E  um bom dia.

quarta-feira, maio 01, 2019

Entre os azuis de Monet, nos bosques com Liziqi





Uma pessoa que conheço há anos contou-me a sua história e eu ouvi sem perceber como pode uma coisa assim acontecer. Há pessoas que se acham especiais e com uma vida que deveriaa dar direito a um livro. Há outras que se acham normais, sem nada que as distinga. Eu incluo-me neste segundo grupo. Contudo, isso de uma pessoa ser normal é coisa que não existe. Acabei de ler nos onlines a história do assassino do Tagus Park, uma coisa assustadora e tremedamente triste -- e os colegas dizem que ele era uma pessoa normal. Sempre que há crimes, roubos ou desmandos, os vizinhos e familiares aparecem a atestar que os fora de lei são pessoas normais, pacíficas, tranquilas e, se necessário for, até acrescentam a pérola do costume: amigo do seu amigo.


Mas, enfim, ressalvas à parte, pelo menos da roupa para fora eu acho que sou normal; e a pessoa de quem falo também. E, no entanto, a sua vida, pelo menos até certa altura, foi singular, estranha, difícil. E eu, agora que sei disso, espanto-me que ele seja normal. E fico a pensar: quando se conhece uma pessoa, como podemos garantir que a conhecemos? E quando é que a pessoa é mais ela: quando se desliga da sua história ou quando a recorda? E a verdade é que não tenho respostas. 

E, logo a seguir a ter ouvido aquelas revelações surpreendentes, desliguei e continuei o meu dia como se não tivesse sabido nada e como se nada daquilo tivesse importância. E só voltei a lembrar-me disso ao jantar, quando contei ao meu marido. E fiquei também surpreendida comigo porque a minha cabeça parece que tem alçapões por onde desaparecem as coisas, por mais extraordinárias que sejam, fazendo com que os meus dias sejam 'normais', sem nada que os marque. E agora estou a pensar no tema enquanto escrevo e a pensar que não devo contar aqui nada já que é a vida mais do que privada de uma pessoa e não tenho direito de a expor mas sei que um dia, daqui por algum tempo, falarei nisso -- mas que, até lá, o assunto eclipsar-se-á no meio de todas as outras coisas que vou descobrindo e vivendo no meu dia a dia. E a importância relativa de cada coisa dilui-se na amálgama em que tudo parece transformar-se.


No entanto, e podem crer, preocupações não me faltam. Mas sobre umas nada posso fazer e sobre outras também não e as outras, sobre as quais posso fazer alguma coisa, em boa verdade não me preocupam, apenas me incomodam ligeiramente.

E, portanto, com tudo isto (que assim descrito dá ideia que espremido é nada -- e, quando visto em perspectiva, é), a verdade é que chego aqui à noite e, antes de ir dormir (e como já no outro disse), apetece-me adentrar-me no meio de bosques verdejantes, longínquos, inacessíveis, apetece-me ver formas de vida que desconheço e me atraem, apetece-me seguir os gestos tranquilos desta jovem aqui abaixo que faz gestos seguros e sábios, manuseando ervas, ingredientes, bagas ou fazendo misturas que me deixam intrigada, sem conhecer nada, sem perceber nada. E sou capaz de me deixar ficar assim durante imenso tempo.


Gostava de perceber quais as ervas que ela apanha, quais as técnicas de cozedura, quais os temperos, para tentar reproduzir. Mas, na volta. se soubesse, talvez deixasse de achar tanta graça. Acho que há ali tanta serenidade, tanta segurança, tanta elegância nos gestos que olhar para isto me descansa a alma. E que é bom não quebrar o mistério.


............................

[A quem apeteça uma escapadinha ao Algarve ou ao Porto recomendo que faça o favor de descer até onde a Vogue ou o Guardian nos recomendam]

...................................................

sexta-feira, março 22, 2019

Qual a palavra para dizer azul, silêncio, limpidez?





Nos outros, eu gosto de ler textos curtos, palavras soltas. Mas eu, quando me ponho a escrever, não sei ser contida. Falta-me um freio, falta-me um filtro, falta-me a sabedoria para destilar as ideias. 

É como na pintura. As que escolhi e comprei aqui para casa são neutras, claras, simples. Eu, se me ponho a pintar, desfaço-me em cor, incapaz de controlar a torrente.

Não sei que é isto em mim, este excesso. 


Por exemplo, agora estou com vontade de escrever sem ser por nada e gostava mesmo era de ser capaz de saber dizer palavras silenciosas, transparentes. Estou a escrever e a parar, a pensar, sem saber como escrever para que, quem leia, se sinta como se estivesse a contemplar, em silêncio, uma lâmina de gelo azul, límpida, perfeita. Pétalas de azul efémero.

Também gostava de saber falar sobre a paz. Não a impossível paz no mundo mas, sim, apenas, a paz entre duas pessoas talvez unidas por invisíveis e inconfessáveis laços feitos de palavras. Mas não sei. Acredito que seria preciso muito mais do que sei. Não sei alcançar as quimeras, não sei como aproximar-me do transcendente. Nem sei se a palavra transcendente aqui faz sentido pois desconheço as letras que deslizam, frescas, azuis, que se unem, que formam palavras puras. Afecto, luz, paz, água, azul, olhar, silêncio. Ou fogo.


Uma cama azul, infinita, amores perfeitos e intangíveis, palavras cegas, perdidas, procurando o gesto, o tacto, o remoto olhar. Soubesse eu qual a palavra, a única palavra, soubesse eu dizer pouco e numa única palavra guardar dentro o reflexo, a saudade, o sonho, o murmúrio, o fogo. Mas não sei.

Talvez a palavra amor.

Mas não sei.

_________________________________________________________________

As fotografias mostram o gelo a quebrar-se no Lago de Michigan
_________________________________________________________________


________________________________

terça-feira, junho 05, 2018

Ao anoitecer as montanhas cobrem-se de azul.
O azul é a cor do silêncio.
O azul é a cor mais quente.






Quando cai a noite, as árvores começam a cobrir-se de azul. O mistério envolve-as. Os vultos agigantam-se, os pássaros aquietam-se. Apenas leves rumores, aragens suaves fazendo ondular a folhagem, o lento ranger dos troncos como doces gemidos. O azul tomba sobre as árvores, sobre as almas. 

E as montanhas também. Nas casas da minha vida há sempre, ao longe, uma montanha. Sei bem como a luz as desvenda e a noite as veste de veludo, sei como, então, os contornos se perdem, difusos. Por fim, apenas a nostalgia.
Olha-se o vulto feito de sombra e pensa-se: aconteceu? foi apenas um sonho?
Fecho os olhos, tento recordar. O fulgor da luz, as palavras, os sorrisos, as flores. Manhã luminosa e mil promessas.

Depois entardece. As saudades, a melancolia. Uma serra ao longe. Murmúrios que atravessam a distância. Laços intangíveis perdidos nas brumas.

Chegam os lobos, silenciosos, os olhos brilhando, o bafo azul ardendo na noite. Vultos súplices rondando os corações melancólicos, tingidos de blue.


Ou o mar. O mar a ficar galante ao cair do dia, os azuis mais profundos, os verdes rendidos, a encostarem o corpo, a pedirem uma quebra, um lânguido quebranto, um beijo de espuma macia, longo, infinito. A escuridão a pousar sobre as águas, o horizonte a perder-se na lonjura, os azuis a enegrecerem, tentadores, tentadores como a mágoa mais ardente.

O mar à noite é como uma serra. Um volume imenso, uma solidão distante, inumana, uma presença magnífica. Um abraço prometido. Ao longe, ao longe. Sempre presente. Um abraço quente, azul. O perfume de um corpo expectante.

E depois. Depois, lentamente. O despertar. Os primeiros raios, o amanhecer. 

Musgos que antecipam o afago, cristais indefinidos que a aurora descobrirá, o azul a esvair-se, devagar, devagar. Limos, algas, fetos, heras, a seiva verde a despir-se da noite, os lobos a recolherem-se, os azuis a esconderem-se, inocentes como bichos sinuosos. O silêncio perde-se. O alvo frescor começa a chegar. As flores, inocentes, deixam escorrer o orvalho da madrugada. Os bluebirds que habitam os nossos corações sacodem os restos de noite. O azul nasce de novo, claro e inocente, vem quase branco.

Outro dia.


-----------------------------------


...........................................................................................................

Pinturas de Zao Wou-Ki


.................................

Lá em cima é Harmen de Boer com a Nieuw Sinfonietta Amsterdam que interpretam o Adagio do Concerto para Clarinete de Mozart

...................................................