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sábado, fevereiro 03, 2024

Helena Sacadura Cabral
[E, pouco a propósito, algumas reflexões sobre as lacunas do sistema público de apoio a idosos doentes e não ricos]

 

O meu dia foi muito ocupado. Nem consegui tempo para pegar no livro que estou a ler, A Escrita ou a Vida de Jorge Semprún. Há tempos o meu filho interrogava-se como seria se eu ainda estivesse a trabalhar. Não sei. O tempo que se perde nestas coisas não se imagina. 

Outra coisa que ele me perguntou e que também é de difícil resposta é como é que se gerem situações complexas a nível de saúde e que requerem muitos cuidados e acompanhamento a tempo inteiro quando não se tem dinheiro para residências assistidas privadas.

No caso da minha mãe esteve durante quase quatro semanas num hospital privado pois no dia em que foi internada ia a uma consulta num médico que dava lá consulta e, por estar tão mal, foi desviada para as Urgências e daí imediatamente internada. Felizmente podíamos pagar. Mas, se não pudéssemos, e, estando-se em pleno pico de Gripe A, a minha mãe teria estado horas nos corredores, em macas, provavelmente sem eu poder estar ao pé dela, certamente muitas horas até que se concluísse pelo seu internamento. E mal como de repente ficou nem consigo imaginar como seria... E digo isto pois passei várias vezes pela experiência, quer com a minha mãe quer com o meu pai, de estar com eles nas Urgências de hospitais públicos. Depois de internadas, as pessoas ficam bem amparadas nos hospitais públicos. Mas até que lá cheguem é um calvário. Qualquer coisa vai muito mal na organização das Urgências. Talvez agora com a integração que aí vem com os Centros de Saúde, talvez conseguindo retirar os que lá vão sem necessidade disso, talvez se consiga melhorar.

A minha mãe esteve na ala dos paliativos com um acompanhamento de excelência e esteve até que se considerou que o tratamento que estava a receber lá poderia recebê-lo num lugar em que houvesse enfermagem vinte quatro horas por dia e médico diário. Mas, uma vez mais, o lugar que encontrámos é privado e igualmente muito caro. Muito bom mas caro. Se não pudéssemos pagar não sei como faríamos pois, a nível público, só há Cuidados Paliativos através de referenciação ou pelo hospital público ou pelo médico de família. Mas, após ser referenciada (e isso, em si, também leva tempo), poderiam decorrer um ou dois meses (ou, se calhar, mais). Ora a minha mãe não viveria para lá chegar. E até lá? Impossível estar em casa pois o seu estado requeria cuidados permanentes de enfermagem.

Por isso, com o envelhecimento da população, cada vez (felizmente) havendo mais velhos, cada vez com mais doenças, a sociedade não está apetrechada para acolher tantos idosos com tantas maleitas. É necessário mais clínicas de cuidados continuados e paliativos e residências assistidas para quem não tem posses. Ao ver o estado em que a minha mãe estava pensei muitas vezes como seria se não houvesse recursos para pagar o que foi pago. 

Se calhar só se pensa nisto quando se passa por elas mas, se não morrermos novos e saudáveis, um dia lá chegaremos. É urgente pensar-se nisso quando se pensam em políticas públicas no domínio da geriatria.

A par das creches gratuitas, essenciais para que haja mais nascimentos e para que os pais tenham qualidade de vida, é indispensável que o Estado invista mais em instalações para tratamento e acompanhamento de idosos que requerem tratamento e/ou acompanhamento clínico. E, certamente, também mais lares normais para quem não tem posses.

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Alguns dos meus amigos têm a sorte de ainda terem mães vivas (por acaso só mães, não pais) e, talvez pelo frio que é mau amigo dos idosos, vivem tempos duros. Hoje morreu uma senhora e outras duas estão doentes. E eu vejo-os a passarem pelo que passei. É muito complicado e triste quando percebemos que já ninguém deseja as melhoras das nossas mães. Sabemos todos que, quando se começa a descer a rampa inexorável que leva ao esvaimento absoluto, o melhor que se pode desejar é que não sofra muito.

Por isso, cada vez mais me convenço que a vida tem que ser vivida, o melhor que se saiba e possa, enquanto há vida com um mínimo de qualidade. Há que dar valor à vida. Há que agradecer a vida que se tem enquanto não se entra na rampa descendente.

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Se há pessoa que mostra dar valor à vida é Helena Sacadura Cabral. Podemos nem sempre concordar com ela, podemos não apreciar grandemente os seus dotes literários, podemos não elegê-la como a nossa guru intelectual ou espiritual. Não tem mal. Não deve haver muita gente que cumpra todos os nossos requisitos.

Helena Sacadura Cabral tem 89 anos e vejo-a com alegria, com motivação, com planos, com energia, com sentido de humor, com prazer em partilhar memórias, experiência, acções. E acho isso notável. Penso que é exemplar e todos nós deveríamos pôr os olhos nela.

Por isso, hoje partilho este vídeo que é longo mas que é um gosto ver e ouvir. 


N'A Caravana com Helena Sacadura Cabral #226 Charutos, 89 anos de amor e sacos de alfazema

É licenciada em Economia e ocupou vários lugares de chefia na Administração Pública. Colunista de diversos jornais e revistas e comentadora em televisão, é também autora de vários livros (talvez já vá em 50). Concilia ainda a participação cívica com a atualização dos seus blogues.


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Um belo sábado
Paz. Ânimo e alegria. Paz.

terça-feira, maio 27, 2014

Eleições Europeias 2014: o day after. O que fazer quando tudo arde? Percorrer as noites com longas facas? Contar cartuchos? ...Ou reflectir seriamente...? A Europa treme nestes dias que se seguem ao 25 de Maio de 2014, os partidos agitam-se, desenham-se perplexidades - mas tomara que não fique tudo na mesma




Disseram-me que ninguém analisa os números como eu ontem os apresentei, que as percentagens são sempre calculadas na base dos que votam e não na base do total dos eleitores. Até posso concordar quando a abstenção não grita mais alto. Contudo, desta vez, os valores da abstenção, brancos e nulos, depois de 3 anos de violência, significam mais do que as percentagens ridículas que os partidos obtiveram.

Depois das violações descaradas e dos atentados a tudo e mais alguma coisa a que os partidos da coligação que suporta o governo têm vindo a sujeitar a população, o que seria normal seria que toda a gente se pusesse a caminho e votasse vigorosamente contra eles. O que seria normal seria que o PS, o PCP (e até o BE) tivessem uma votação esmagadora, inequívoca, arrasadora.

Mas não. As pessoas não votaram. Ou, os poucos que se deram ao trabalho de votar, entregaram votos riscados, ou dispersaram os votos. Ou entregaram o voto a um partido cujo programa se desconhece e fizeram-no apenas porque, por algum motivo, acreditaram que esse homem os defenderá. Um cheque em branco.



Desculpem a falta de qualidade gráfica mas não consegui exportar este gráfico que fiz com dados reais da votação das europeias/2014 pelo que fotografei o ecrã e inseri a fotografia (será nabice minha ou não dá mesmo para fazer de outra forma?).

Mas acho que dá para perceber a fraca minoria que apoia este governo assim como a fraca minoria que prefere o PS (o PS é a fatia com o azul mais escuro, que é ligeiramente maior do que a que está ao lado e que é do PSD + CDS) ou as ainda minorias mais insignificantes que preferem o PCP ou a CDU ou o BE



Eu, como provavelmente cada um de vós, sabe de muitos casos de pessoas que estão furiosas com o que se está a passar mas que estão, sobretudo, descrentes face à idoneidade de todos os agentes políticos, os do governo e os outros. 

Poderia falar de vários colegas meus (ex-devotos do PSD ou CDS) que me disseram que se recusavam a votar já que naqueles anormais (sic) do PSD ou do CDS estava fora de questão e no Totó do Seguro só se estivessem parvos. Como são meninos que desconhecem o que é o PCP ou o BE, está bom de ver que se abstiveram. Mais: dizem que isto já só lá vai se esta porcaria rebentar de vez (sic e seja lá o que isso quiser dizer), que então talvez 'eles' aprendam. 


A minha filha, que costuma votar e que é pessoa de mente aberta, não foi votar e disse que pode ser que, se a abstenção chegar aos 90%, 'eles' acordem e vejam que política não é nada disto.

A minha mãe acabou por votar depois de uma feroz campanha anti-abstenção da minha parte. Sempre votou mas desta vez está tão revoltada, acha tudo tão inconcebível que lhe parecia que não votar seria a maior ofensa que 'lhes' podia fazer. Eu disse que não, que era para o lado em que 'eles' dormiriam melhor, que então votasse noutro qualquer. O outro qualquer em que naturalmente votaria seria o do PS mas a resposta fou sempre categórica: Mas aquilo é lá capaz de decidir alguma coisa? É igual ou pior que o outro. Gente sem credenciais. Nem pensar. Referia-se ao Seguro, claro. No sábado, disse-lhe, Não se abstenha, não faz sentido. Se não quer votar no PS, vote no Bloco de Esquerda, no PCP, no do Marinho, qualquer coisa. Respondeu-me com uma pergunta: Qual é o partido do Marinho? Disse-lhe que era o MPT e nem lhe perguntei porque queria saber. No domingo à hora de almoço disse-me que já tinha ido votar. 

O meu filho, rapaz informado, politizado, no domingo à noite, enquanto o Seguro fazia a festa, atirava os foguetes e apanhava as canas, enviou-me um sms de que transcrevo a primeira parte (a segunda é pior, nem transcrevo): Estás a ver o Seguro?? Faz-me o favor de não comemorar no teu blog a vitória de um partido que tem este gajo à frente, a celebrar com uma música tipo filme manhoso dos anos 90.

Nem reparei na música, para dizer a verdade. Reparei, sim, que tudo aquilo me parecia um filme falhado. Aliás, toda a noite eleitoral me pareceu um filme falhado. Tudo ao lado, tudo gente fora de prazo, atitudes fora de prazo.


Os partidos implodem, o regime implode, cá e em todo o lado, a Europa está a pisar caminhos muito perigosos, ascendem os que não acreditam no projecto europeu, o cherne tenta sair de fininho, com comentários e recomendações tão balofas quanto foi balofa a sua actuação à frente da Comissão Europeia. Reina a Merkel mas tem pés que rapidamente se podem tornar de barro e grande parte da Europa vê nela a personificação do Mal.


Uma nódoa em Portugal, Durão Barroso foi alcandorado a um lugar de relevo na Europa onde só fez porcaria, abrindo caminho à destruição da instituição a que presidia e estendendo a passadeira vermelha à extrema direita, aos nazis e, aqui e ali, à esquerda mais radical. 



O que vai ser de uma Europa nas mãos de gente que apenas quer destruí-la ou sair dela?


Gente fraca a fazer política leva à rejeição por parte da população, e quando as pessoas não vêem que os partidos sejam capazes de se regenerar, descrêem. São sempre os mesmos, é tudo igual - é o que mais se ouve dizer. Pode ser injusto para alguns mas, de forma geral é correcto. A gente vê as mesmas caras entrar e sair do governo, rodar no parlamento, nas empresas públicas, nos debates. 

Sempre as mesmas caras ao longo de anos e anos, usando os mesmos argumentos, esgrimindo artifícios verbais gastos.

As pessoas de idade não suportam ver o seu destino entregue a gente impreparada, desrespeitadora, os mais novos não suportam esta forma de fazer política feita por gente em que não se revêem, a classe média que se tem vindo a ver espoliada não suporta a ignorância aboletada no poder.

Eu, que como aqui o refiro frequentemente, a identificar-me mais com algum programa, seria com o do PS. A social-democracia humanista, aberta, moderna, que aposta no desenvolvimento e no conhecimento, que assenta na igualdade de oportunidades e ma liberdade, é o ideal de sociedade que orienta as minhas escolhas.

No entanto, como me sinto distante deste Seguro que parece ansiar que chegue a sua vez de ser poderoso, para saciar a sua fútil ambição e vã vaidade...

Há nele qualquer coisa de postiço, de artificial, de prosápia frouxa que me incomoda. Vê-lo a sair, motorista à espera, bruto carrão... ui, que incómodo.

E, no entanto, não me move qualquer dessa inveja miudinha que tantas vezes turva o raciocínio. Mas, ó senhores, que sentido faz um chefe de um partido da oposição andar num bruto carrão, como se não houvesse austeridade no País? Sentir-se-ia mal se andasse num carro robusto e confortável mas de uma gama mais baixa? São peanuts, sei que são, mas é a imagem, é o que está por trás da atitude. Como pensará ele que os reformados, os desempregados, os jovens, olham para ele todo armado em barão? 


Há por toda a Europa - entregue a políticos já de rabo pelado por tantos bancos do poder por onde tem passado, ou a políticos de pacotilha, jotas que saíram do aviário sem terem passado pela vida, a burocratas não eleitos, a gente que não se percebe de onde saíu - um frémito de revolta que não se sabe como vai acabar. E a bem de todos, seria aconselhável que, a nível dos partidos, os seus líderes e apaniguados soubessem sair a tempo, soubessem ter uma saída limpa.

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A última imagem, como se vê, provem do blogue We Have Kaos in the Garden

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Estava com vontade de falar na FN, no UKIP, nos nazis e nessa malta estranha que agora vai tentar incendiar a Europa mas hoje não estou em condições. No fim de semana fartei-me de pegar nos pimentinhas ao colo e acho que dei cabo de um ombro. Estou a escrever isto completamente aflita pelo que me vou ficar por aqui, vou tomar um comprimido, pôr gelo e meter-me na cama. Nem vou rever. Tenho recebido tantas coisas engraçadas ou comoventes e ainda não vai ser hoje que vou conseguir inclui-los aqui. Nem consegui responder aos mails. A ver se amanhã estou fina.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça feira.


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domingo, setembro 15, 2013

Conheço um sítio isolado, escuro, um lugar onde ninguém conhece ninguém. Um copo de vinho, um rápido abraço. A única coisa que se vê são silhuetas e ninguém quer saber se se está a fazer tarde. Se vos apetece dançar um tango à maneira, batam três vezes e digam num sussurro que vão da minha parte. Chama-se Hernando's Hideaway. Olé!


Hernando's Hideaway é um tango que me faz ter vontade de entrar num espaço clandestino, esgueirar-me até uma pista secreta, quase escura, e deixar-me levar até que, sob as luzes, alguém me fale de amor.


Já não é a primeira vez que aqui o trago a Um Jeito Manso mas de cada vez que desencanto uma nova forma de o interpretar não resisto. E desta vez é mais que isso, é também um presente para outra amante do tango, uma certa Bárbara que facilmente se imagina dressed in red, dançando um sensual tango. Pode ser que, no lançamento de um novo livro sobre o tango, surpreenda toda a gente tendo um bailarico com uns cavalheiros treinados para levarem pela pista pessoas como eu, destreinadas, absolutamente destreinadas mas que adoravam que alguém as conduzisse e fizessem rodopiar, fazendo-as sentirem-se leves e descaradas como algumas destas que aqui abaixo se podem ver.


The Johnston Brothers interpretam Hernando's Hideaway

A dança é uma bem humorada montagem onde o Jude Law aparece a fazer-se de malandreco.


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A origem, uma maravilha:

Carol Haney (Gladys Hotchkiss) e John Raitt (Sid Sorokin)
em The Pajama Game (1957)




I know a dark secluded place.
A place where no one knows your face.
A glass of wine a fast embrace.
It's called Hernando's Hideaway ole!

All you see are silohuettes.
And all you hear are castanetts.
And no one cares how late it gets.
Not at Hernando's Hideaway ole!

At the golden fingerbowl or any place you go.

You'll meet your uncle Max and everyone you know.

But if we go to the spot that I am thinking of
You will be free, to gaze at me, and talk of love.
Just knock three times and whisper low, that you and I were sent by Joe.
Then Strike a match and you will know your in Hernando's Hideaway OLE!

Olé!!!!!

sexta-feira, agosto 30, 2013

Afinal o que é que a Teresa Guilherme fez para estar tão gira? Botox? Cirurgia plástica? Laser? What?! Qual o segredo para ser tão assediada? E quem é afinal o namorado secreto, esse sortudo?.... Ora bem. Apresento-vos as respostas possíveis. [E, de caminho, relato um outro caso verídico a que assisti de perto, e que é uma coisa na mesma base: muita mexida para ficar nova, muito assédio, muito namoro]


No post abaixo falo de mais uma inconstitucionalidade de Passos Coelho, coisa banal. Mas falo ao de leve para não perder tempo com banalidades, tenho aversão a banalidades, só o que é estranho me atrai. Passo, portanto, já para o tema de hoje.

Ontem, aqui no Um Jeito Manso, a propósito da referência que fiz à capa da revista da Lux desta semana que mostra a Teresa Guilherme toda sorridente com o seu novo look - 9 kg mais magra e supostamente intervencionada através de diversos tratamentos estéticos - a Caríssima Helena Sacadura Cabral, desconfiada, deixou cair a pergunta: Mas o que é que aconteceu à Teresa para além de perder 9 Kg? 


Pois. De facto, perguntei-me a mesma coisa ao vê-la: parece igual. Mas ela deve achar que está uma brasa senão não seria capa de revista falando sobre o tema e sobre o que o namorado acha sobre o tema.

Como sou moça de desafios, resolvi investigar: afinal o que é que ela fez, senhores? O que é que mudou nela, que a gente olha e parece que está na mesma? 

O resultado não estava longe. 

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E música,  por favor, que o momento pede acompanhamento musical: 

Quim Barreiros interpreta 'Chupa Teresa' 


Relevem, por favor, aquilo que pode ser tomado como algum excesso de malandrice mas que, de facto, também pode apenas ser uma brincadeira à volta de uns trocadilhos maliciosos, coisa mesmo inocente, coisa de alguém que estava apenas a falar de sorvetes. Lembrei-me dela por ser dedicada a uma Teresa, não que a letra me fizesse lembrar a Guilherme, credo. 




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Eis Teresa Guilherme há alguns anos, seguramente antes de começar a ser intervencionada

(.... Olhando-a aqui até parece que estamos a fazer uma viagem no tempo, ó minha Nossa Senhora)

Leio então: sobre os 9 kg que perdeu, diz Teresa Guilherme que seguiu a regra de fechar a boca; ou seja, passou vários meses de fominha, sem se sentar à mesa, sem ir jantar fora e sempre a “fugir à tentação das mãos, que é agarrar o pãozinho, o queijinho…"




Teresa Guilherme aqui já tinha rejuvenescido um bocadinho
mas parece que a boquinha aqui fechada era só para nos enganar
porque ainda devia estar naquela fase das mãos tentadoras

Quanto ao resto, a apresentadora não tem problemas em falar sobre os vários tratamentos estéticos a que se tem submetido: botox, já “há muitos anos”, laser, uma desintoxicação alimentar duas vezes por ano em Itália e injecções de cocktails vitamínicos.




Não sei se a foto é recente ou se o namorado é este e, se for este, se é um tal de Cóias.
Mas isso agora também não interessa.

E ainda há o caso do namorado de quem, pelo que leio, ninguém sabe quem é: na entrevista à revista “Lux” desta semana, a apresentadora de 58 anos admite que há um homem na sua vida, mas recusa-se peremptoriamente a revelar quem é o eleito. Não diz o nome, nem a nacionalidade, nem sequer a idade…


Teresa desmente apenas que seja um italiano, como chegou a constar na praça, e sugere apenas que se trata de uma pessoa mais jovem do que ela.

A apresentadora, que se divorciou de Henrique Dias em 2008, revela que fez “um ano de luto” mas que, depois, nunca mais parou de namorar. “Sou namoradeira e assediada. Muito!”, sublinha.


Ora bem. Quem diria, hein...?!? 

A Teresinha toda maluca, toda assanhada, toda assediada. Deve ser giro de ver.


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Isso recordou-me uma coisa.

Conheço vagamente uma senhora (e não é a Senhora Dona Lady), alta dama da mais requintada sociedade, que, de tantas plásticas que fez, mais parece já um desenho mal acabado. Parece que está a deixar de ser tridimensional para passar a duas dimensões, aplanada. E a gente não sabe se ela está sempre a sorrir ou se, de tanto a esticarem, já ficou de boca alçada. Rugas não tem mas também não tem coisa nenhuma, muito menos expressão. Toda a gente a toma por meia tonta mas não sei se isso é verdade ou se resulta de ter ficado tão repuxada que parece andar sempre meio a rir mesmo quando está num velório.

Em contrapartida, há uns anos, havia no meu trabalho uma senhora - e creio que até já falei aqui dela - que, quando andaria perto dos sessenta anos, resolveu ter um caso com um colaborador meu que, na altura, andava pela mesma idade. Ao passo que ela era divorciada (e avó) ele era casadíssimo (e também avô). De cabeça completamente perdida por ela, ele largou a mulher e a casa, marimbou-se para a filha e para o neto (pois a família ficou tão chocada com o que ele fazia que lhe pôs a faca ao peito: ou voltava a ter juízo ou, então, que esquecesse a família – e ele esqueceu a família) e pouco tempo depois, apaixonado como um adolescente, foi viver com a dita colega.

Essa colega, bonita não era mas era aquele tipo de mulher de anca larga, perna grossa, cabelo pintado de louro claro sempre muito arranjado, toda ela, aliás muito bem arranjada, e que, apesar do ar de matrona, tinha a sua malícia que agitava um pouco as hostes masculinas mais entradas na idade.

Tinha ela ainda uma outra particularidade. Tinha um ‘amigo’ que era engenheiro (coisa de que ela falava com uma certa vaidade) e que bancava todas as suas extravagâncias. Andava sempre bem vestida, calçada e perfumada, ia ao teatro, ia para fora nas férias e dizia-se que era o engenheiro que ‘entrava’ com tudo (dizia-se porque tenho ideia que era ela, toda orgulhosa, que dizia que eram presentes do engenheiro). 

Essa do engenheiro era uma coisa tão oficial que presumo que o meu colaborador sabia que o seu estatuto era o de ‘o outro’ mas, pelos vistos, não se importava. 

Mas vem isto a propósito de uma outra coisa. Uma vez, ela ausentou-se do País: durante umas férias foi para o Brasil. Coisa normal nela, não era por isso que o regresso era notícia. A notícia é que tinha feito uma plástica num cirurgião brasileiro muito conhecido, que vinha outra, muito melhor.

De vez em quanto, alguém assomava ao meu gabinete para me perguntar se eu já a tinha visto. Tanta a expectativa criaram em mim que fiquei a imaginar que ela já não parecia a matrona produzida que eu conhecia mas que tinha vindo de lá a parecer a Bardot.




Quando veio a propósito ir falar com o chefe dela, via-a então. Estava igual. Ainda tentei descortinar qualquer coisa de melhor mas não. Ela própria me falou, então, no assunto. Que ainda não estava a 100%, que ainda estava um pouco inchada, que também não podia apanhar sol, mas que o esforço, o sofrimento, tinham valido bem a pena. Penso que devo ter feito o mesmo sorriso atoleimado da primeira madame que referi e devo ter dito qualquer coisa simpática mas que não comprometesse muito o meu amor à verdade. Quando entrei no gabinete do chefe dela, ele disparou a rir, ‘Então, que tal a brasa da minha secretária?’. Disse-lhe que, muito sinceramente, achava que estava igual. Ele riu-se, que também achava, mas que ela, coitada, estava tão feliz, que ele, sempre que passava por ela, dizia que parecia que tinha uma secretária nova, uma miúda, e que ela toda se derretia.

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Que nem de propósito li há dias um artigo em que se dizia que tinham feito inquéritos perguntando a pessoas dos dois sexos e de várias idades que idade davam a pessoas quer que tinham feito cirurgia estética quer que não a tinham feito.

Regra geral, nos casos em que davam menos idade às que tinham sido ‘mexidas’, apenas lhes retiravam 3 anos e, mesmo assim, uma parte significativa dava, em média a idade que tinham, chegando até a dar mais.

Ou seja, não é que não desse jeito, de vez em quando, uma pessoa dar uma esticadinha mas, depois, pensando melhor, será que valeria a pena? Anestesias, dores, inchaços, para cima de um dinheirão, sei lá que mais e depois ou não se notar nada ou, então, pior ainda, a pessoa ficar a parecer o Batatinha ou a gémea separada à nascença da Senhora Dona Lady ou da Moura Guedes? Ná…!


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E por aqui me fico que não faço outra coisa senão cabecear, daqui a nada ainda caio da cadeira abaixo (estou a falar a sério....).
A 'cena' do meu passeio por Lisboa by night a ver se fica para amanhã.

Tenham meus Caros, uma fantástica sexta feira!!!

quarta-feira, agosto 07, 2013

Uma toilette muito em conta - ou uma ida aos saldos de verão. Onde, onde? Em lojas de marca...?! ... Ora confiram, por favor.


Seguindo uma muito oportuna dica da mulher de quem se fala, lá fui. O meu marido, quando eu lhe explicava que tinha aquele afazer, perguntou-me 'mas tens alguma falta disso?'. Esclareci-o que tinha mesmo falta. Não acreditou. Reiterei-lhe que estava mesmo a precisar de uma azul. Ele escarneceu 'isso é o que de mais por lá deve haver'. Expliquei que tenho uma azul mas é um azul claro e que preciso mesmo de uma em azul marinho, ou ultramarino (qualquer dos dois tons daria jeito). Gozou 'olha que se procurares bem ainda tens alguma surpresa'. Não percebi; mas ele fez o favor de concluir, 'é que não vai aparecer uma, devem aparecer várias'. Mas eu já não ligo a estas provocações. 

Ontem, regressada de férias, tinha comprado umas calças azuis escuras, justas, pelo tornozelo, com pequena dobra, com risquinha discreta num cinza claro, uma elegância.

Mas, aqui chegada, faço um aviso à navegação. Já o fiz muitas vezes. Gosto de me vestir bem (enfim... eu acho que é bem mas, claro, estou a ser juíza em causa própria) mas não gosto de gastar muito dinheiro a vestir-me. Acho um desperdício gastar fortunas em roupa. Ao contrário de algumas amigas e familiares que não olham a despesas para terem roupa de marca, peças que acham que são únicas, bem confeccionadas e sei lá que mais, e conhecem tudo e são avisadas pelas lojas quando chegam peças novas, etc e tal, eu não entro nesses esquemas. Com o preço de uma blusa de marca, eu compro um guarda-roupas inteiro. 

É que, além de achar um disparate gastar tanto dinheiro, gosto de sentir que faço bons negócios, gosto de andar à procura de coisas a bom preço. E cada vez mais. E cada vez me sinto mais livre de toda a espécie de preconceitos, nomeadamente - porque é disso que agora estou a falar - em relação ao vestuário.

Exemplifico: descobri este ano duas lojas que, antes, para mim, eram apenas para miudagem e, em particular, para miudagem com fraco poder de compra.

No outro dia fui a um centro comercial e o meu marido ficou de se encontrar lá comigo para irmos almoçar. Quando chegou, ligou-me a saber onde é que eu estava, eu disse-lhe que estava numa dessas lojas, descrevi onde é e ele lá foi ter comigo. Quando chegou ao pé de mim, perguntou-me com ar confundido ou perplexo 'mas tu já viste quem é que está aqui a comprar roupa...?'. Não é que ele seja elitista, que não é, nem preconceituoso que também não é. Mas, de facto, olhando à volta, dir-se-ia que a miudagem de um bairro daqueles problemáticos tinha ido ali abastecer-se. Pois bem, desde que descobri essa loja, quase que já passo sem a Zara. Ontem lá fui outra vez. Mas já está tudo muito escolhido, já não vi nada que me agradasse em saldo, coisas de jeito já só da nova colecção. E eu ainda estou virada para as pechinchas dos saldos.

A loja de que falo é a Bershka. 


As blusinhas giras, giras, que lá comprei desde que a descobri, e umas calças leves e macias de viscose, um blusão branco de um tecido que parece seda... E uns preços que não vos digo nada. O que é, é preciso escolher pois há coisas clássicas, discretas, ao lado de blusas justas por cima do umbigo, com as costas ao léu  ou saias que mal tapam as virilhas. Mas escolher é parte do prazer de fazer compras.

A outra loja onde este ano comprei parte da roupa com que me tenho vestido é a Pull and Bear. 

Miudagem, miudagem, também. Mas no meio da roupa do mais básico, vulgar ou exagerado para a miudagem descubro coisas de pasmar. 

Já vos mostro uma blusinha branca de cavas, bordada, uma graça. E os preços são sempre uma agradável surpresa. Esta de que falo custou uns 10 ou 12 euros, mas foi antes dos saldos. Agora, se ainda as houver, devem estar a metade do preço.

E hoje lá fui à Parfois, conforme dica da HSC (que, pelo que vejo, podia ser minha parceira em andanças do mesmo género). Já ontem lá tinha ido mas estava muita gente na caixa e, como já tinha perdido algum tempo na Zara a provar e a pagar as ditas calças, tive que deixar para hoje.


E, portanto, lá me abasteci: carteira óptima em azul, ampla, uma maravilha, com um toque que parece de pele e, ainda por cima, com uma bolsa enorme lá dentro, daquelas que se usam para migrar a tralha de umas carteiras para outras, por 19,90€ e uma leve, macia e suavemente colorida écharpe por 9,90€. De passagem ainda trouxe também um belo e largo anel em ouro branco e brilhantes por 2,90€.

E, chegada a casa, resolvi então fazer uma instalação com estas peças para vos mostrar. Mas fotografar roupa tem que se lhe diga. Não sei bem como as dispôr para ficarem visíveis e perceptíveis.

Ao fim de 3 ou 4 tentativas, esta é a melhor fotografia que consegui arranjar. O fundo amarelo é do coxim do cadeirão (digo isto para não parecer que o amarelo faz parte de alguma das peças de vestuário.



Nas costas do cadeirão, a écharpe Parfois (9,90€)
No braço, à direita: as calças Zara (19€), a blusinha branca Pull & Bear (10 ou 12€, sem ser nos saldos), com colar da Parfois por cima (não foi comprado nos saldos, não me lembro bem do preço, mas tenho ideia de que deve ter andado à volta dos 9 ou 10€)
No assento, de pé, a carteira Parfois (19,9€) e, em baixo, e mal se vê, encostada à perna das calças, a bolsa de dentro que tirei para verem que é uma peça solta




Pode parecer que a risquinha das calças faz um zig-zag mas não, é distorção da fotografia: é uma risquinha finhinha a direito.

Mostro aqui abaixo um pormenor da dita blusinha branca, de cavas, quase transparente mas não indecente. Fica bem por fora, solta, dá um ar mais casual, ou fica bem por dentro da saia ou das calças, neste último caso com um cinto fininho.




Agora que está calor, usa-se assim, só isto. Quando vier o fresco, ficará bem com um casaquinho fino branco, ou um curtinho ou um solto, assimétrico. Ou com um azul escuro, para um conjunto mais sóbrio. Em situações que requeiram algum formalismo, com um blaser azul escuro está a toilette feita. Com sapatos baixos ou com sapato alto azul escuro, tanto faz. 

Um conjunto que, na aparência, é do mais clássico que há e, como se vê, tudo roupa barata de lojas por quem as flausinas não dão um tusto

E digo-vos uma coisa: para o prazer ser ainda maior, o que era mesmo bom era que eu pudesse regatear o preço. Adoro. Mas nestas lojas não dá. É tudo mais que tabelado. Mas tenha eu oportunidade de negociar preços e aí é o delírio.

Faço com cada compra que não vos passa pela cabeça. Se é a nível profissional a coisa não me fica mal. Mas se é a nível pessoal e o meu marido está comigo, afasta-se, vai para a porta, tem vergonha. E os meus filhos são a mesma coisa. Eu até lhes dizia para me deixarem em paz, para eu poder fazer os meus números à vontade.

Bom e por aqui me fico porque a seguir tenho assuntos cabeludos para abordar.

terça-feira, agosto 06, 2013

A entrevista de Helena Sacadura Cabral no Diário Económico: um frete para melhorar a imagem de Paulo Portas, um gesto de carinho de mãe para ajudar o filho que está com a popularidade em baixo ou apenas a opinião de uma mulher livre?


No meu texto anterior, em que falava de outros assuntos, apareceram-me comentários relativos à entrevista de Helena Sacadura Cabral concedida a Cristina Esteves no Diário Económico. 


Fui ver, curiosa. 



The Lady in Violet,
é mãe de Miguel e de Paulo Portas mas é, antes disso, Helena Sacadura Cabral 



Do que li, percebo que foi uma longa entrevista e, por isso, tem sido publicada em 'fascículos'.

O último deles, à hora a que escrevo, pode ser visto aqui (Votaria em José Sócrates contra Durão Barroso) e os anteriores, respectivamente aqui (Fomos um esgoto de ensaio) e aqui (O que o meu filho sofreu até agora só ele e eu é que sabemos).


Cá por casa - não escondo - a opinião que ouvi foi semelhante ao que os comentários deixam transparecer: Paulo Portas viu o País virado contra si, as críticas têm sido demolidoras e, para tentar atenuar o desastre, os experts em comunicação e imagem, sabendo que a mãe é simpática e figura bem conhecida, acharam que, pondo-a a ela a falar na crise e no filho e nas razões que lhe assistiram ao longo deste processo, o zé povinho sentiria compreensão e, de certa forma, perdoaria ou, pelo menos, deixaria de sentir aversão que agora tem demonstrado.

Ou seja, que a entrevista de Helena Sacadura Cabral não passaria de um frete feito para limpar a barra de Paulo Portas.


Claro que eu não sei o que se passou para que esta entrevista acontecesse justamente agora, e nestes moldes, nem tenho procuração de ninguém para dizer isto, aquilo ou o outro.

Não conheço Helena Sacadura Cabral (HSC) pessoalmente. Conheço-a do que ela escreve, dos comentários em torno dos blogues, de a ver em entrevistas na televisão. No entanto, e para que fique bem claro - à laia de declaração de interesses - apesar de apenas a conhecer por esta via, simpatizo com ela. Acho-a inteligente, lúcida, divertida, uma valente, uma mulher de fibra, uma jovem.

Por isso, o que vou dizer decorre do que eu penso racionalmente mas, claro, é influenciado pelo que sinto.

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Música, por favor
(que parece que me vai ser mais fácil escrever se estiver a ouvir música) 

[Não é Bill Evans mas é uma jovem de 30 anos que canta muito bem e cujas canções me encantam]

Alele Diane interpreta Age Old Blue





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1. Até admito que possa ter havido alguma concertação ou conjugação de interesses para que esta longa entrevista tenha decorrido agora. É politicamente oportuna para Paulo Portas e imagino que produza bom efeito. 

Mas uma coisa é certa: se eu fosse jornalista, e sendo a HSC uma mulher conhecida por ser espontânea, bem disposta, bem falante, não se eximindo a opinar sobre política e sobre a actualidade, e sendo a mãe de um ministro debaixo de fogo, eu tentaria entrevistá-la. Seria um sucesso garantido. É tema que desperta interesse. Por isso, acho que é um bom furo jornalístico e pode ter acontecido por razões independentes de interesses partidários. Mas, para mim, isso é-me indiferente.



2. Também admito que ela, mesmo não gostando que o filho esteja na política, e mesmo discordando do que ele defende e mesmo não gostando da sua última atitude, como mãe, sinta vontade de o ajudar.


Eu, que sou mãe de filhos que têm a sua vida profissional, não me passa pela cabeça que me viessem chatear a mim pelo que eles fazem no trabalho. O que é que eu tenho a ver com isso? Ou que me viessem fazer queixas da forma como eles se portam no trabalho - sei lá eu das razões deles. Os meus filhos são maiores e vacinados, agem profissionalmente em total independência em relação a mim. Seria uma coisa absurda virem bater à minha porta para me chatearem pelo que eles fazem no trabalho deles, ou na vida deles.

É a mesma coisa que o meu caro Leitor ser incompetente no seu trabalho ou fazer, por exemplo aqui, um comentário menos agradável e alguém, não gostando disso, achar que deveria ir aborrecer a sua mãe (ou, quem diz mãe, diz outro elemento da família próxima), fazendo-lhe queixa de si, querendo quase que ela assumisse parte da responsabilidade por actos que não são os dela mas os seus. Não faria qualquer sentido, não é?

Claro que fico contente se sei que os meus filhos são bem sucedidos ou que o seu trabalho é apreciado mas isso é coisa mesmo de mãe. E, se alguma coisa lhes corresse menos bem, eu ficaria preocupada por eles, e, se soubesse que a culpa era deles, em privado dava-lhes na cabeça, tentaria que eles percebessem que não deveriam voltar a cair na mesma, mas apoiá-los-ia pois uma mãe não quer que os filhos sofram (mesmo que a culpa seja deles). 

E, como mãe - mesmo que em casa me moesse toda e os moesse a eles, lhes implorasse que tivessem juízo, que se deixassem daquilo, que não voltassem a asneirar, que não me cansasse de lhes mostrar que tinham feito asneira da grossa, que me tinham desapontado, e lhes explicasse que estavam a desperdiçar os melhores anos da sua vida e a dar cabo da minha tranquilidade - se tivesse oportunidade de tentar, em público, atenuar a má imagem deles, fazer com que as pessoas sentissem alguma empatia pelos meus filhos, não tenham dúvidas que o faria. Dúvida nenhumas.



Helena Sacadura Cabral durante a entrevista concedida a Cristina Esteves


[O décor é uma beleza: será em casa dela?
Assim de relance, não nesta fotografia mas na outra que acompanhava a entrevista,
também poderia ser numa salinha do Pestana Palace. Muito bonito.]

3. Dito isto, acredito também numa coisa. Se convidaram a HSC para uma entrevista (tenha sido por habilidade política, tenha sido apenas um furo jornalístico) e se ela a concedeu (e tenha tido a intenção ou não de ajudar o filho), uma outra coisa me parece evidente: Helena Sacadura Cabral já não precisa de provar nada a ninguém. A sua vida tem sido pública qb para sabermos o que pensa, para sabermos que trabalha, que tem opiniões, que é uma mulher livre e que preza a sua liberdade intrínseca. E faz ela muito bem. Grande parte da fantástica energia que se lhe conhece deve provir desse seu amor à liberdade que a tem feito manter-se inteira e fiel a si própria.


Tem o direito de fazer o que muito bem lhe apetece, de dizer o que pensa, o que sente, o que quer, o que não quer, tem o direito de se rir, de hesitar, de barafustar, de ser polémica. Tem o direito de ser livre.


4. Os que me lêem sabem o que penso de Paulo Portas. Não me revejo no CDS, não sou conservadora, não sou de direita, não me revejo na sua forma de fazer política.

Paulo Portas é demasiado errático e populista para o meu gosto, parece não ter uma linha de rumo pois parece comprometer todos os princípios em favor de um cargo de poder e, sobretudo, não aceito e não desculpo a quebra de palavra que demonstrou. 


Não que eu tivesse grandes ilusões acerca dele enquanto político mas, como homem, não esperava tão grande reviravolta, tão espalhafatosa prova de falha de carácter. Quando se toma a atitude que ele tomou em público, não há volta atrás. Além disso, achando o que acho da perigosa condução governativa de Passos Coelho, não consigo perceber o que leva Paulo Portas a contradizer todo o programa político do CDS, aliando-se a tão sinistras e medíocres figuras. Por isso, considero-o co-responsável pelo desastre que está a acontecer a Portugal.

A última sondagem mostra que os portugueses o culpam pela crise provocada (o que nem será inteiramente justo pois quem deu o tiro fatal foi Gaspar, saindo quando e como saíu) e mostram uns ridículos 3% nas intenções de votos.


Mas isto é o que eu penso dele enquanto político. E isto não tem nada a ver com a mãe dele. Ele pode fazer as tropelias que quiser que eu não vou chatear a mãe dele por causa disso. 


E mais: quando aqui me atiro a ele, penso sempre nela. Penso sempre, gaita!, que chato eu estar a escrever isto, que chato para ela saber que as pessoas pensam isto dele. E peço a todos os anjinhos para nunca eu ter que passar pelo que ela seguramente passa, quando tem o filho debaixo de fogo.

Mas o filho anda à chuva, molha-se, e é natural que os salpicos sobrem para ela. São alguns dos horríveis efeitos colaterais de estar na política. 

Mas penso que HSC tem defesas para aguentar. Que remédio. Há tantos anos a levar pela esquerda e pela direita, já deve estar quase couraçada.

Claro que ela, na família, é a brava do pelotão. Tem sobrevivido às mais duras provas e sai inteira. As suas inesgotáveis jovialidade e energia são a sua maior vitória.


E é certamente ao seu conforto de mãe que o filho volta quando sai destroçado de uma batalha (e é natural que o faça; os filhos, quando confiam no saber e no bom senso das mães, gostam de se acolher junto delas).



E deixem-me ser outra vez um bocadinho frívola:
é que não apenas simpatizo, como também gosto das toilettes,
das assimetrias, dos colares, pulseiras, brincos, anéis, dos improvisos
que revelam modernidade e bom gosto

(e aqui a carteira cinza-claro a condizer com a saia fica lindamente,
e faz sobressair o branco do restante;
eu poderia vestir-me exactamente assim)


5. Finalmente: gostei de ler a entrevista, claro. É a Bárbara Helena que conheço (remotamente, é certo), é a mulher de fala franca, riso espontâneo, opiniões abertas, de afectos, de gosto pela vida. 

Posso concordar plenamente com algumas coisas que ela diz ou discordar frontalmente com outras. É natural. Não é por simpatizar com ela que pretendo concordar com tudo o que ela faz ou diz. Nem é por não assinar por baixo (e como poderia fazê-lo? A entrevista é dela, não minha) que não deixo de considerar uma boa entrevista.

E penso que a Cristina Esteves fez uma boa entrevista e está também de parabéns. 


Claro que não mudei um milímetro a opinião que tenho de Paulo Portas mas a entrevista foi à Helena Sacadura Cabral e não a ele. Em relação ao actual vice-primeiro ministro penso ipsis verbis o que pensava antes. 


Se alguém, ao ler a entrevista dela, mudar de opinião em relação a ele, que é que se pode dizer em relação a isso...? Não sei. Talvez que tem cabecinha fraca.



N.B.:  Ainda mais uma coisa: publico quase todos os comentários. Mas às vezes exerço o direito de censura sobre alguns. Foi o caso de hoje. Se penso que os comentários resultam de opiniões políticas ou pessoais e como tal devem ser entendidos por quem os lê, publico-os. Se considero que contêm matéria que pode magoar pessoalmente alguém em particular, tocando onde dói mais, não os publico. Por isso, não levem a mal por não verem todos os comentários que escreveram mas, por favor, percebam que não é só por poderem magoar a Helena Sacadura Cabral, é também porque se me fossem dirigidos a mim, como mãe, eu ficaria de rastos.


***   ***   ***

E, por hoje, aqui me fico. A ver se amanhã reencontro a concentração necessária para voltar a escrever no Ginjal. Sinto falta.

Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela terça feira!!!!

quinta-feira, julho 04, 2013

Paulo Portas ao espelho, ou o monólogo de um homem só, um homem que se desencontrou da sua própria vida [... qualquer diferença entre isto e a realidade é pura coincidência; adoro ficcionar...].


Nos posts a seguir a este, mostro-vos um vídeo no qual Paulo Morais fala do BPN e como, às tantas, aparece o nome de Maria Luís Albuquerque, uma daquelas pessoas que passa de Governo para Governo, que conhece bem muitos dossiers, dossiers sobre os quais sabe calar o que sabe.

E a seguir há mais dois posts nos quais falo da responsabilidade de Paulo Portas e de Passos Coelho no retrocesso da tão propalada 'confiança dos mercados': num único dia os juros dispararam e as acções caíram, representando um rombo de mais de dois mil milhões de euros - da responsabilidade exclusiva daqueles dois, e de Cavaco que permite que por aí andem a fazer tristes figuras, arruinando o País. E falo da humilhação brutal a que Paulo Portas voluntariamente parece sujeitar-se. E falo da improbabilidade de uma recoligação nascida dos escombros.

Mas isso é a seguir.

Aqui, agora, a conversa é outra.
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Confesso que a forma como se tem vindo a desenrolar o caso Demissão de Paulo Portas me deixou estupefacta. Ainda não me refiz. O que se passou na cabeça dele para fazer uma coisa destas sem a cobertura do seu próprio Partido? Sem informar claramente o Primeiro Ministro? Sem informar o Presidente da República? Não se apercebeu que seria visto como o eterno traidor? O escorpião congénito?


Sobre o vexame factual que ele está agora a atravessar falo, pois, no posts abaixo. Aqui, agora, tento pôr-me na pele dele e imaginar o que pensará quando se vê ao espelho. Não me é fácil. Entre mim e ele há um País de diferença, uma vida inteira de opções antagónicas. Mas vou tentar, sabendo que, certamente, vou falhar. O que abaixo podem ler é, portanto, ficção. (Ou não?)




Estou velho. Entrei um, saio outro. A minha pele perdeu firmeza, ganhei rugas, os olhos perderam brilho. Olho-me e vejo um homem triste, cansado. Sinto que perdi as ilusões e quando um homem perde as ilusões, perde a capacidade de sonhar, desinteressa-se do futuro. Em público não o diria. Nem em privado o digo. Apenas o penso.

A vida passa por mim e quase nada fica.

Tenho o País a olhar para mim com perplexidade. Numa tarde arruinei a imagem que, ao longo de toda a minha vida, tanto me tenho esforçado por construir. Outros episódios voltam à memória das pessoas. Sei disso. 

Tenho cinquenta anos, quase cinquenta e um, e pouco mais tenho do que uma vida cheia de nada. Posso iludir-me e falar nos cargos que tive, cargos importantes, nas pessoas que conheci, pessoas ímpares, posso falar no Independente, talvez o período mais feliz da minha vida - mas tudo passa e pouco fica. 

Olho-me ao espelho e não me reconheço naquilo que queria ser. 




Queria um País moderno, evoluído, e queria fazer parte da construção desse País. Lutei desesperadamente por agradar, por ser o que esperavam de mim. Gosto de pessoas, não sou falso quando me aproximo delas. Quero, de facto, que tenham uma vida melhor. Mas não sei como consegui-lo. Todos os caminhos que segui trouxeram-me exaustão pessoal e poucos resultados. 

O poder corrompe, tenho-me visto enredado em teias que me impedem de agir como gostaria. Mas isto ninguém parece compreendê-lo. O exercício do poder acaba por ser um um permanente jogo de cedências. Talvez alguns o consigam fazer preservando a alma, mas em mim a alma, as personas que construo, os ideais que tento preservar, tudo se confunde.

Imaginei um partido à minha medida e tomei-o para mim. Pelo partido já fiz tudo, o que queria e o que não queria. Alguns actos perseguir-me-ão como sombras. Sei disso. Nada por mim. Mas tanto me entreguei ao partido, que eu e o partido já somos um. O que fiz pelo partido, será sempre olhado como tendo sido feito por mim.

Penso muitas vezes: e se um dia me vejo forçado a abandonar a liderança do partido? Depois de tudo? Não imagino. O que faria? O que seria de mim? 

Gosto de ler, gosto de ir ao cinema, mas entreguei-me de tal forma ao partido e aos governos de que fiz parte que não me sobra tempo para ter vida própria. Tento. Mas não é uma vida normal a que eu tenho. Tento não pensar nisso: os telefonemas, as reuniões, os contactos, tudo preenche as minhas horas, não me sobra tempo para pensar.

Ficcionei a minha vida. Eu ministro, eu estadista, eu grande defensor dos pobres, velhos, desvalidos. Em nome dessa ficção, tenho-me sujeitado a tudo. Só eu sei. Sei que dizem que o faço em nome de uma ambição pessoal. Acho que não mas não sei. Ambição, ficção, ideais - já não os consigo distinguir.

O sacrifício sobre-humano que tem sido aguentar-me neste governo, só eu sei. Passos Coelho, Relvas, Gaspar, tudo o que eu abomino. Por fim, já um asco insuportável. 

Tenho amigos de verdade, sei que tenho. Estão no partido. Ouvem-me, ouço-os. Mas não são muitos. O António, por exemplo: um irmão. 




A alguns ouço-os cansado. Em nome de lealdades abstractas tantas vezes calo aquilo que queria tanto falar. Mas não posso. A vida vai passando e eu a olhar a vida que passa. A fingir. A fingir que acredito no que digo, a fingir que acredito no que faço.

Talvez devesse afastar-me por uns tempos. Mas não seria o vazio ainda mais insuportável? Temo o vazio.

Olho-me ao espelho e por vezes parece-me ver um outro olhar, o olhar de alguém que acho que era melhor que eu. Não fazia concessões como eu faço, esse alguém que me parece ver a sorrir atrás de mim, no fundo de mim. Era livre. Eu nunca fui. Sinto falta de afecto, do sossego em família, de sorrir despreocupado. Tento fixar esse olhar, como se fosse uma companhia amiga. Tenho aproveitado tão pouco tudo o que é puro e genuíno e a vida é tão breve.

Tantos anos a esforçar-me. Até há pouco a respirar o hálito do Relvas, sempre a ter que suportar a incompetência absoluta do Passos, a ter que enfrentar em silêncio as críticas, a sofrer enxovalhos e a suportá-los em nome de uma estabilidade podre em que não acredito. Eu, o estadista, eu o governante respeitável, eu a querer mostrar que sou leal, confiável. Sorrio, falo com assertividade, tento ser agradável, sou sempre educado. Mas tantas vezes estou a contrariar a minha natureza. A isolar-me cada vez mais dos outros, de mim próprio.

Apetecia-me falar da minha Mãe cujo apoio nunca me faltou, eu é que lhe falto a ela, embora não se queixe, é uma leoa; mas não falo, é assunto demasiado íntimo para falar mesmo que esteja a falar apenas com a minha imagem no espelho. Além disso, se falo nos meus Pais, nos meus queridos Pais, fico com um aperto no peito. Só eu sei. Queria tanto ter mais tempo para eles. Se o dissesse em voz alta, diriam que é mais uma das minhas falsidades, encenações. Mas não. Ou talvez um pouco. Não sei. De facto, tanto me esforço por agradar que acabo por não saber quem sou. 

Estou muito cansado.




Esta terça feira não aguentei mais. Não aguentei. Tanta estupidez, tanta, tanta, ninguém imagina, tanta, tanta, e tanta desconsideração. Aquilo a que tenho assistido, aquilo a que me tenho sujeitado, só eu sei. E sei que, com aquilo da Reforma de Estado, me sairei sempre mal, devia ter feito o trabalho e não fiz, mas fazer o quê se não acredito em nada disto? Se sei o mal que tudo isto faz ao País? Fazer o quê? O que eu imagino, está a anos luz do que o Passos quer. Um diálogo entre nós é impossível. Falam em traição. Mas não é traição maior o que, em nome de uma lealdade em que não acredito, tenho andado a fazer ao partido e aos País? E Cavaco Silva? Traí-o também, dirão. Mas como posso eu respeitar uma pessoa que não sabe ser o que devia ser? Um medíocre? 

Devia ter sido capaz de aguentar, devia ter conseguido o distanciamento para falar antes com o partido, com o presidente, para me aconselhar, para medir melhor o impacto do acto. Mas foi mais forte que eu. Por um momento foi em mim que pensei. Habituado a ser sozinho, tomei uma decisão sozinho. Esqueci-me que há muito escolhi um caminho que obriga uma pessoa a não ser quem é. Mas não podia suportar mais aquele indivíduo e a sua ausência de capacidades de governação, de liderança, de gestão, de tudo, de tudo. Ninguém imagina. Não aguentei. Sou humano. Foi um momento de fractura. Quebrei. Dirão que foi a pensar na minha sobrevivência, na popularidade, nas eleições. Se calhar também foi. Não sei. Já não sei distinguir dentro de mim as razões, as motivações, as insatisfações - estou muito cansado, sinto-me vazio. 

Agora estou a sofrer as consequências. Humilham-me. Não tenho energia para resistir. Obrigam-me a fazer o que não quero. Não consigo dizer que não. Sinto-me só. Sinto-me cansado, desabitado. Repito-me, eu sei. Por uma vez estou a dizer o que penso. Não estou a escolher apenas as ideias fortes, os sound bites, não estou a querer agradar a ninguém. Estou apenas a tentar olhar-me ao espelho. É-me penoso. Não me reconheço. Devia ser capaz de reconhecer dentro de mim o menino que tinha sonhos - mas já não o consigo. Esse menino perdeu-se nos labirintos em que me deixei perder.

Mas ainda tenho esperança de que, daqui por algum tempo, quando isto acalmar, me sinta melhor com a minha consciência. Talvez consiga, então, olhar-me ao espelho, de frente. Talvez, então, o meu olhar não seja tão triste.


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Ficção. Ou talvez não. Já sei que vou sofrer censuras de todo o lado: que sou muito condescendente com Paulo Portas, que estou a branquear toda a espécie de coisas que ele fez, etc. Talvez. Mas, como já o disse mais que uma vez, tenho mixed feelings em relação a ele. Discordo do que ele faz, não me identifico com o que ele diz, com a forma como age. No entanto, acho que intrinsecamente não é má pessoa. Acho que alguma coisa o tem sempre desviado dele próprio. Mas talvez seja benevolência minha, sim.

Relembro que, nos posts abaixo, falo, num outro registo, nos factos que têm preenchido de estupefacção os últimos dias.

E hoje há Ginjal! Seguindo a dica de um Leitor(a), hoje fui até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair, e, pela mão de António Barahona, segui um homem que entrou por uma janela com uma bicicleta às costas. Ia à procura de silêncio. A seguir temos mais um belo momento de violino: Pavel Sporcl, desta vez tocando Saint Saëns.

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Já é muito tarde. Ou melhor: bastante cedo. Uma vez mais, não vou reler o texto, já não consigo. Fico-me por aqui, portanto.

Tenham, meus Caros Leitores, um belo dia. Bons banhos, boas bebidas fresquinhas.


segunda-feira, junho 03, 2013

Reportagem fotográfica na Feira do Livro em Lisboa: jacarandás com escritores, em dias de muito calor


Desde o início da minha adolescência que frequento a feira do Livro. Comecei por ir com os meus pais. Andava de pavilhão em pavilhão, eles maçados e eu deliciada. assim me recordo: o meu pai impaciente, carregado com os livros que eu ia escolhendo, a minha mãe compreensiva e eu perdida, empolgada no meu mundo. Depois já ia sozinha, e nada se comparava a isso, horas para baixo e para cima, braços carregados de sacos. No primeiro dia, ia de barraquinha em barraquinha, pedindo os catálogos que depois estudava em casa e, quando voltava, para além dos livros do dia e de coisas inesperadas, ia aviando a lista que tinha feito em casa.

Depois passei a ir com um namorado que também amava as palavras. Mas ele, ao visitar a feira, tinha a sua própria agenda e isso atrapalhava-me os movimentos pois eu queria parar nuns e ele demorava muito noutros que não me diziam nada, coisas ligadas a estudos linguísticos, semiótica, e outras coisas do género. Eu queria seguir e ele de roda dos livros onde se explicava como se fazia a autópsia à língua portuguesa. Ou cirurgia, mais do que autópsia. Livros de anatomia e cirurgia da língua, e eu acho que isso destrói o amor na língua. Alguém, para gostar de uma outra pessoa, se põe a ver as suas análises médicas, radiografias, ecografias, alguém precisa de dissecar o outro para o compreender e amar melhor? Eu acho que não. Em contrapartida, se eu parava nos compêndios de Berkeley ou na Teoria da Relatividade ou na Mecânica Quântica ou na Origem das Espécies, matérias que, nessa altura (e ainda hoje) me mobilizavam grandemente, ele queria seguir. Um stress. Não era fácil de compatibilizar.

Tempos depois, a companhia passou a ser outra: a mesma de agora, a mesma de todos estes anos. Mais perspicaz que eu para ver coisas em que não reparo mas com vontade de despachar a feira em três tempos. De longe deita o olho, vê se interessa ou não, e segue, sem paciência para se debruçar à procura de um tesouro escondido. Fica de longe, de olho em mim, a ver se não me perco dele.

Pelo meio, fui também com os nossos filhos. Cheios de calor a quererem água e gelados, interessados em alguns  pavilhões mas o resto do tempo impacientes, queixando-se das secas. Ainda hoje referem os traumas que apanharam nessas alturas. Mas hoje são leitores assíduos, exigentes, e talvez devam um pouco disso ao amor aos livros com que sempre conviveram, desde que nasceram.

Desde que há a Fnac com 10% de desconto e promoções e desde que à hora de almoço vou quase todos os dias ver o que há de novo, a Feira perdeu um pouco daquela novidade. Mas, ainda assim, parece que todos os anos tenho que me manter fiel a este ritual.

No sábado fui de raspão ao fim da tarde. Vinha da Gulbenkian, das brincadeiras do Dia da Criança, já estava cansada. Dei uma volta, espreitei uns livros, vi alguns escritores mas de longe. 

Este domingo resolvi ir lá de tarde para ver se comprava alguns livros.

Almoçámos um brunch (passe a redundância) num restaurante muito agradável, boa comida, variada, à discrição. Não gosto muito de fazer publicidade a restaurantes mas de vez em quando abro uma excepção. Este merece destaque: a Rota das Sedas, na Rua da Escola Politécnica, em frente da Procuradoria-Geral. Ficámos no terraço.



Restaurante Rota das Sedas


Tirei a fotografia numa altura em que as pessoas de uma mesa se tinham levantado para ir buscar comida e apenas mais duas pessoas ao fundo e mais duas junto a nós lá estavam. A seguir, quando estávamos já de saída, a caminho das três horas, chegaram mais pessoas. Se calhar essa é a hora de maior afluência para os brunches. Lá dentro há umas salinhas pequenas, também simpáticas, mas o terraço é melhor. Não é barato mas o sítio é tão bonito e a comida tão agradável que, enfim, fecha-se os olhos, um dia não são dias, bla,bla, bla (21 euros por pessoa, mais as bebidas que são à parte).

Para quem possa, aqui deixo a recomendação.

Depois fomos para a Feira. Um calor abrasador. Embora goste de calor, custa-me andar na rua, ao sol, com temperaturas tão elevadas. Fico impaciente, a minha disponibilidade esvai-se.

Confesso que a configuração actual da Feira me é um pouco estranha. Há muitas esplanadas - o que até pode ser bom para que a mim, talvez por conservadorismo, me parece um pouco demais - e tudo aquilo me parece mais stands comerciais do que barraquinhas de livros. Muitos cartazes, muita cor, muito altifalante.

E depois há os autores. Sempre houve sessões de autógrafos e eu sempre as evitei. Não sei porquê. 

Tenho para mim que o que me importa é o que escrevem, não quem são, não a forma como assinam o nome. No entanto, uma ou outra vez, em todos estes anos, cedi à normalidade e fui pedir um autógrafo. Pedi um à Alice Vieira antes da minha filha nascer e pedi que a dedicatória lhe fosse dirigida. E talvez mais um ou outro. De resto, tenho um pudor, não sei explicar, acho que os escritores não deviam ser obrigados a sujeitarem-se àquela provação. Acho que deve ser horrível estarem ali sentados à espera que alguém os vá procurar. De vez em quando vejo uma mesa com um escritor sozinho e sem que ninguém lá pare. Acho que deve ser horrível, horrível. Passo e nem olho, finjo que nem reparo para que não se sinta que estou a testemunhar o abandono a que está a ser votado.

De alguns escritores gosto muito e gostaria de lhes dizer isso, que gosto deles, mas não quero fazer figuras ridículas, chegar ali e dizer banalidades, ah e tal, aprecio imenso a sua obra, imagino a complacência do escritor, ah muito obrigado, como se chama para eu escrever na dedicatória? Não. Não faz o meu género. 

Mas, enfim, gosto de os ver, de saber como são, e àqueles de que gosto e que não têm muita gente de roda, gostaria de lhes agradecer, de perguntar se querem companhia, de ficar ali sentada a conversar para que não se sintam mal amados, de perguntar se querem que lhes vá buscar uma água ou um gelado. Mas receio que me olhassem como se eu fosse maluca, e, até assustados, me dissessem que não, que me despachassem - não corro o risco de fazer essas figuras ridículas (nem o meu marido me deixaria...). Por isso, limito-me a fotografá-los discretamente.

Naturalmente comprei alguns livros mas não muitos, não tantos como há anos atrás. Tinha curiosidade de ver a Patrícia Reis, li o que ela escreveu ontem (já retirou o post) e estava curiosa de ver como é que ela lá estaria e talvez vencesse a minha resistência e fosse pedir-lhe um autógrafo. Mas ela só chegava às 5 e eu já não aguentava mais o calor. 

De resto, e desejando que os visados não levem a mal a inclusão de fotografias suas aqui, deixo a fotografia de alguns escritores que fotografei. Caso não o permitam, bastará que mo digam que eu as retirarei de imediato.

Começo com os jacarandás em flor que circundam a zona.



Jacarandás em flor no início da à Av. Joaquim Augusto Aguiar, ao Marquês


A seguir mostro a vista geral de Lisboa, do Tejo e da Margem Sul avistados da Feira, para os que não tem possibilidade de a visitar (e não posso esquecer que parte dos meus Leitores não é de Lisboa e, inclusivamente, um número significativo é do Brasil)



A Feira no Parque Eduardo VII, a estátua do Marquês de Pombal de frente para o Tejo, e Lisboa descendo até à beira do rio, a Serra de Palmela ou da Arrábida (ou as duas - não sei) do lado de lá


A relva é aproveitada para banhos de sol e que sol, que calor...



Relvado central do Parque


Estava muita gente quer no sábado quer no domingo. Não me pareceu que as compras fossem extraordinárias, mas talvez fosse impressão minha. Para o meu gosto a feira tem um pouco de animação a mais e isso e o calor desestabilizaram-me um pouco, pelo que talvez tenha ficado com uma impressão imprecisa. Pareceu-me que as pessoas andavam a passear mais do que a comprar.



As zonas de sombra são um alívio nestes dias de calor mas, como se vê, há muita gente na Feira


Não quero deixar de referir que, para além das Editoras mais conhecidas, há outras que desconheço e há outros pavilhões que não têm muito a ver com editoras ou então fui eu que não percebi. Por exemplo, neste aqui abaixo não consegui perceber bem o que se passava. Não sei se são góticos, se era algum escritor que atraía pessoas com esta forma de viver, não sei. Associei ao que J. Rentes de Carvalho escreveu sobre um par de góticos que passaram por ele.



Tenda onde se passava qualquer coisa - mas não percebi o quê,
só sei que estavam quase todos vestidos de uma forma especial


E, por falar em J. Rentes de Carvalho, lá estava ele. Hesitei. Ainda peguei no último livro, que ainda não tenho. Mas pareceu-me que ele estava cansado ou com calor ou saturado, não fui capaz de ir importuná-lo.



J. Rentes de Carvalho


Vi também um filósofo de quem recentemente li um livro bastante interessante, 'Portugal, hoje - o medo de existir'. Devia ter sido capaz de sintetizar em duas ou três frases alguma coisa de inteligente para ele perceber que eu tinha percebido alguma coisa do que li. Mas não me ocorreu nada e também não quis fazer uma figurinha triste como se fosse uma admiradora ocasional. Os escritores merecem-me um respeito que não me parece compatível com chegar ali ao pé deles a pedir um autógrafo como as miúdas que querem um autógrafo de um vip da televisão ou de um futebolista.



José Gil


Junto a ele estava uma das escritoras de quem muito gosto, uma mulher que sai das grutas para brincar com bonecas nos sótãos, ou que brinca à porta de casa com gatos ou que desce ao interior dos bosques para buscar palavras, ou que voa.

Falava com alguém e voava nos gestos, no olhar. Como chegar-me ali, interrompê-la, dizer uma banalidade qualquer? Impossível.



Hélia Correia.
Tirei mais duas fotografias em que toda ela está focada
mas prefiro esta pois aqui ela sorri como uma menina e as mãos voam como pássaros


E, por falar em poesia, na zona da Leya que é uma feira dentro da feira, eis que vejo, discreta, Maria do Rosário Pedreira. Estava ao lado de outras pessoas, talvez escritores, não os conheci. Não quis maçá-la. Mas uma pessoa abeirou-se dela, com carinho, e vi como ela sorriu, um sorriso muito bonito.



Maria do Rosário Pedreira, editora, poetisa


E, por falar em pessoas simpáticas, no sábado vi alguém a quem tinha vontade de me apresentar, de me explicar. Mas no sábado estava cansada, com vontade de ir para casa, sem disponibilidade para conversas. Fotografei-a e este domingo estava com esperança de a ver lá de novo, para, então, me aproximar. Mas já não a vi.



Helena Sacadura Cabral, a Bárbara Helena,
 a quem os jacarandás ofereceram as suas flores para que ficasse assim,
florida de lilás. E jovial e sorridente, como sempre


E já aqui falei desta outra, uma Senhora que escreveu muito para os meus filhos, em especial para a minha filha que a adorava e que eu admiro muito como Poetisa.



Alice Vieira.
A fotografia ficou desfocada pois estavam pessoas a passar à minha frente
 mas quero tê-la aqui pela ternura da sua imagem comendo um gelado, simpática, disponível


Não quero deixar de aqui mostrar um escritor que admiro e com quem me 'encontro' algumas vezes a comentar o Chapéu e Bengala.



Onésimo Teotónio Almeida


Depois havia as vedetas, as que faziam com que os leitores formassem filas. Neste caso aqui abaixo, de uma disponibilidade enorme, sempre pronto para estas sessões, não me teria custado muito... se eu fosse de me pôr em fila, numa tarde de calor abrasador. Não sou.



Luis Sepúlveda


E a vedeta maior, uma fila enorme: o escritor tatuado, da moda, dos clichés. Li os primeiros livros e gostei, li um livro de poesia e gostei mas, a partir daí, acho que se banalizou, que escreve por escrever, que escreve sem que as palavras lhe venham das entranhas, que escreve a metro, não sei bem dizer, parece que as palavras perderam a alma. Ou então sou eu que cada vez sou menos condescendente. Não sei. Talvez seja do excesso de mediatização. Tenho ideia que as luzes da ribalta desvendam as zonas de sombra necessárias aos escritores e, ao desvendá-las, secam-nas. Mas isto sou eu a dizer - e que sei eu disto?



José Luís Peixoto, o escritor que encanta sobretudo 'plateias' femininas


No sábado, já tinha visto uma outra vedeta mas não exactamente da literatura. De qualquer forma, como vedeta, tem virtudes inquestionáveis: é inteligente, é divertido, tem uma presença forte na televisão. Costumo ler às vezes as suas crónicas e ouvi-lo no Governo Sombra. Escreve bem e é acutilante, aquele humor inteligente que dá gosto. 



Ricardo Araújo Pereira, não sei que livros publicou, talvez os livros das crónicas da Visão - mas não sei.
O que sei é que, para além do mais, é um homem bonito


Junto a ele, na Tinta da China, Carlos Vaz Marques, editor e Primeiro-Ministro do Governo Sombra, observava o desempenho do seu irreverente ministro.



Carlos Vaz Marques - o talentoso, trabalhador, grande amante das palavras


E fico-me por aqui que a reportagem vai longa e a noite avançada.

Mas depois de ler o que a Patrícia Reis escreveu sobre aquilo por que um escritor passa nestes dias de Feira, fiquei na dúvida se esta minha atitude de passar, de não querer maçá-los, o meu receio de fazer figurinhas deprimentes, será a melhor atitude. Acho que vou reconsiderar. 

***

Caso sejam uns resistentes e ainda não estejam fartinhos de ler o que escrevo, muito gostaria ainda de vos ter lá pelo meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras vão até a um jardim muito especial e vão guiadas pela poesia de Armando Silva Carvalho, num livro que comprei, justamente, na Feira. A música é especial. Foi um desafio que um Leitor, a quem muito agradeço, me lançou. Levei algum tempo a ganhar coragem: trata-se da música do compositor Luciano Berio. Não é a minha praia como se costuma dizer mas, ainda assim, abre portas pelas quais não costumo passar.

***

E, por hoje, já é até demais, não é...? Por isso, calo-me já mas não sem antes vos desejar uma bela semana a começar já por esta segunda feira.