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quinta-feira, julho 11, 2024

O bonequinho das Finanças diz que está a contar com o ovo no cu da galinha e tudo, segundo ele, consequência do "pacotão".
Uma espécie de segunda derivada na lógica do dito bonequinho

 

São onze e tal (da noite) e, ao tentar perceber se o planeta Terra ainda existe e, em particular, se o nosso mini e fofo rectângulo ainda está a salvo da sanha dissolvente do super-comentador Marcelo, dei com a bizarra notícia de que o conhecido Mãozinhas, aka Sarmento, está a contar com um excedente orçamental neste e no próximo ano. Apesar de andar a dar massa a quem pede e a dar borlas fiscais a quem pode (com p), pensa ele que, face ao bodo aos ricos, estes soltarão a franga e desatarão a investir e a aumentar o pagode e que, qual milagre, o pão transformar-se-á em rosas e a água em vinho e, apuradas as contas, vai sobrar dinheiro que será um fartote.

Que o Marcelo se fia na Virgem já a gente sabe e também estamos todos carecas de saber no que a coisa tem dado. Agora o Montenegro fiar-se no bonequinho já me parece risco a mais.

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Provavelmente toda a gente sabe qual o novo significado da palavra bonequinho. Eu, até ontem, não sabia. E porque pode haver por aí, a ler-me, mais gente também desactualizada, eu explico.

Conversando com o meu neto mais velho, um galã que já teve várias namoradas e que tem agora a teoria de que com a dedicação ao futebol (é guarda-redes já na competição o que o obriga a treinos diários e jogos ao fim de semana) e com a necessidade de levantar notas (ah pois), dizia-me ele que, a partir de agora, não vai ter tempo para namoros. Enfim, raparigas isso vai continuar a haver, claro, agora namoros a sério não, não tem tempo e, para ser franco, elas cansam-no um bocado. Presumo que se refira às combinações de idas ao cinema, à praia, aos passeios, aos lanches, às mensagens. E que não percebe isto de alguns amigos, aos 15 anos, acharem que encontraram o amor da vida deles e já pensarem que aquela é a pessoa com quem vão casar. 

Achei muito pragmático. Ao contar à minha filha, disse-me ela que ele já lhe lhe tinha comunicado isso mas que, por acaso, neste momento supostamente namora uma. Mas, portanto, conclui-se que esta deve ser uma das 'raparigas', que isso continua a haver, mas em relação à qual não haverá compromisso.

Mas, continuando a conversar comigo, para ilustrar o excesso de romantismo de alguns colegas, contou que tinha um colega de escola e de futebol, um tipo todo bonequinho. E que se tinha apaixonado por uma miúda também toda bonequinha. Para ter tempo para namorar, o amigo largou o futebol. Imagine-se a maluquice. Vai a miúda, ao fim de três meses, largou-o por o gajo ser obcecado. Por isso, ficou sem namorada e sem futebol. Ganda burro.

Eu ouvi e estava intrigada por ele definir os outros como bonequinhos pois não costuma adjectivar na positiva, muito menos usar termos carinhosos. Perguntei se eram bonitos. Ele muito admirado: 'Não!' 

'Mas bonequinhos não significa serem bonitos?'

'Não. Não. São tipos assim... muito... como dizer...?, assim esquisitinhos... Não estou bem a encontrar a palavra...'

'Nerds?', sugeri eu.

'Não, não. O gajo não é nerd... Não, não é isso. Bonequinho, estás a ver...? Assim todo coisinho...'

'Cromo?', lembrei-me eu.

'Exacto. É isso. Tipos esquisitinhos. Cromos, é isso.'

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Portanto, sobre o Sarmento  tenho dito. O Montenegro que não ponha as barbas de molho que vai ver no que dão as fezadas do bonequinho que lá tem nas Finanças.

domingo, agosto 28, 2022

Um animal que usa desodorizante e lava os tomatinhos. Uns cavalos que se rebolam a rir.

E, peço desculpa pelo despropósito, mas não é que a Suzana Vieira já fez 80 anos...? Dá para acreditar?

 

Lá mais abaixo, depois da curva da estrada, há uns currais. Ao fim da tarde, o dono deve limpá-los pois, se o vento está daquele lado, chega até aqui cheiro a gado, a estrume. Assim aconteceu hoje. Ao descer os degraus para a sala de baixo, que tinha a janela a bascular para arejar a casa, senti o cheiro e disse: 'Cheira a animal,,,'. Nesse instante cruzou-se comigo, a correr, o menino mais velho que tinha interrompido o visionamento do jogo de futebol para ir levar qualquer coisa à mãe. Ao ouvir o que eu tinha dito, disse-me: 'Pus desodorizante...!' e seguiu a correr. Fiquei a rir sozinha durante não sei quanto tempo.

Ao contar à minha filha, ela lembrou-se da célebre história dos tomatinhos. Já a contei aqui mas talvez os que me leem hoje não sejam os mesmos que leram esse sucedido.

Era a passagem de ano e eu estava na cozinha a preparar a comida para o manjar nocturno. A minha filha tinha vindo mais cedo, estava a ajudar-me. Entretanto, era hora dos miúdos tomarem banho. O mais crescido tomou banho sozinho, deveria ter uns seis anos. Foi para o quarto, que antes era o quarto do tio, limpar-se e vestir-se enquanto, na casa de banho, a mãe dava assistência ao banho do mais novo. 

Então, quando fui preparar a salada, gritei para a minha fila: 'Olha lá, lavaste os tomatinhos?', referindo-me aos tomates cherry. Nisto, antes que ela tivesse tempo de responder, diz o puto lá do quarto: 'Claro que lavei...'.

O que nos rimos. Ainda hoje me rio.

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Tirando isso, o que tenho a dizer é que há bocado vi o mais novo rindo, rindo, quase chorando a rir. Veio mostrar-me. Estava a ver um vídeo com um cavalo que parecia cantar e rir ao mesmo tempo. O que ele se ria com o cavalo.

Andei à procura para vos mostrar e não encontrei. Mas encontrei este que também tem uns cavalos que riem à maneira

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E, ao abrir o youtube, aparece-me esta notícia surpreendente: a simpática, divertida e fogosa Suzana Vieira já fez 80 anos. Não dá para acreditar. E não digo isto apenas pela aceleração do tempo que num ápice leva uma pessoa dos quarenta para os oitenta, digo porque olho para ela e não vejo ali uma mulher de oitenta anos. Pelo menos como eu dantes achava que eram as mulheres aos 80 anos. Parece que o tempo não passa por ela. Continua bonita, alegre, com gosto na vida, com esperança de voltar a encontrar o amor. E que bem que o cabelo lhe fica assim. E que bem que os adereços em azul ou verde turquesa ficam com roupa branca.

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Há bocado o menino de onze anos dizia que gostava que eu tivesse bisnetos e dizia-me que se calhar não falta assim tanto, que talvez o irmão tenha filhos daqui por dez anos e que dez anos não é assim tanto. Tranquilizei-o e disse-lhe que pode ser que eu viva muito mais que isso, talvez vinte ou trinta ou até quarenta anos, sabe-se lá... Vi que estava a fazer contas de cabeça. Dei-lhe um beijinho. 

Ontem também disse que gostava que a bisavó conseguisse ser trisavó. A minha mãe exclamou que era bom mas que o irmão não precisava de se apressar, que ainda é muito novo para se pensar nisso.

De uma maneira ou de outra todos os meninos, de vez em quando, dão mostras de se preocupar com a finitude da vida que irá levando alguns dos que hoje se sentam à nossa mesa. Tenta falar-se disto com naturalidade. 

Para mim uma das mais extraordinárias nesta matéria passou-se também com o mais crescido.

Numa das vezes que o meu pai esteve mal e foi hospitalizado, geralmente nos últimos anos com pneumonias, os médicos pensaram que estava já nos finalmentes e informaram que, se queríamos ir despedir-nos, tinha que ser logo. Ele estava nos cuidados intensivos e só podia lá estar uma pessoa de cada vez. Larguei tudo e fui a abrir para o hospital e a minha filha também quis lá ir pra se despedir do avô. Não sei porquê, levou os miúdos. Quando ela entrou, eu fiquei cá fora com eles e com a minha mãe. O ambiente entre nós estava pesado, julgávamos que era a última vez que o víamos, e que estava por pouco. Felizmente, como tantas vezes aconteceu, dias depois estava a ter alta. A resistência daquele corpo era incrível. Mas, nessa altura, ele já estava acamado. Além disso, o barulho lá em casa fazia-lhe muita impressão pelo que, quando lá íamos ao magote, se encostava a porta do quarto. Ele já não ouvia nem via nem gostava que o vissem assim pelo que não levávamos os meninos para o pé dele. Os meninos andavam pela casa ou pelo jardim, lanchavam, brincavam uns com os outros e nós tentámos que a confusão não perturbasse o meu pai.

Pois bem. Qual não é o meu espanto quando, um belo dia, talvez um ano ou mais depois daquele dia, esse menino mais velho se sai com esta: 'Ó Tá, é verdade, tenho-me esquecido de perguntar: naquela vez o avô chegou a sobreviver...?' Fartei-me de rir. 'Ó seu maluco, seu despassarado... Claro que sim, está vivo, está lá em casa... Não estás farto de lá ir depois disso? E não reparas que dizem sempre para não se fazer barulho...?'. Pensou um pouco, 'Ah, sim...' Mas ah sim como podia ser ah não. Foi como se naquela tarde a que assistiu à nossa aflição, ele, tão pequenino ainda, tivesse feito o luto. E virado a página.

E eu acho graça a isto. Enquanto cá estamos é de aproveitar e rir porque, quando virarmos a esquina, já não estaremos cá para nos arrependermos e para gozar os bons momentinhos que não gozámos enquanto podíamos. E rapidamente perderemos a importância que tivemos para tantos dos que nos rodeavam. E isto seja aos 20, aos 30, aos 40, aos 50, aos 60, aos 70, aos 80, aos 90, aos 100 e por aí vai. Cada bocadinho de vida é para ser vivido o melhor que pudermos e soubermos. O resto é conversa.

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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Alegria. Paz.

terça-feira, agosto 23, 2022

Um coração que não sei se é real se é fake. Mandos e desmandos duma geração Z. E uma fera punk e muito fofa


Naturalmente que a excursão do coração do outro até ao Brasil me deixa beige. Para começar, não sei se alguém tem a certeza que aquela miudeza ali já com ar cozido e recozido já esteve mesmo dentro de um qualquer longínquo Pedro desta vida. Quem garante que aquilo não é fake, por exemplo coração de porco...? Não dizem que coração de suíno é tão bom quanto o de nós outros? Quem garante que não pegaram num e o puseram em calda, se calhar feito pickles para ficar mais descorado? Sim, quem garante?

Não digo que não haja por aí, algures, nalguma arca frigorífica ou nalgum cofre com recheio mal cheiroso, algum deslavado coração que seja mesmo o do outro mas eu, se fosse o guardião da real miudeza, não ia arriscar levá-la para perto do Bolsonaro e outros que tais. Vai que o Bolsonoro resolve mandar rezar missa cantada para o defunto coração? Vai que, numa dessas ou num nalgum daqueles comícios manhosos, o dito Jair deixa cair o frasco e a coisa se esparrama pelo chão. Vai que vai a passar um cão, pega a esbodegada coisa e abala a correr com ela na boca? Vai que nunca mais ninguém põe os olhos em cima do cão?

Não é que se perdesse alguma coisa mas isto há gente para tudo, gente com cismas, gente que gosta de guardar tesourinhos deprimentes. O que digo é que eu, se fosse a eles, mandava um coração fake quiçá enfeitado com uma coroazinha imperial, blink blink, para dar mais graça

E, por falar em haver gente para tudo, hoje, não sei a que propósito, veio aquilo do LGBTQ. Ninguém sabia o que era o Q. Indo-se ver, concluiu-se que isso já era. A coisa já vai num comboiozinho mais composto. LGTBQIA2S+. Nenhum de nós ali sabia a que correspondia tudo aquilo. Viu-se no google mas, nem assim, a coisa ficou clara. A realidade vai evoluindo e o nosso conhecimento dela vai ficando para trás. 

Para ilustrar este novo mundo, o mais velho exemplificou com algumas coisas bizarras, descrevendo comportamentos típicos de pessoas da sua idade. O meu marido disse: 'Este mundo está perdido, já bateu no fundo'. O puto concordou, disse que é a Geração Z, uma geração deveras marada.

E ele diz isso sem saber dos que fazem fila na rua para verem aquela miudeza já fora de validade, sem saber dos ildefonsos deste mundo, dos ideologomaníacos, das estátuas de pés de barro, dos malucos que aqui me deixam comentários ofensivos que atiro para o lixo, das beatas que não sabem a quantas andam e de todos os estúpidos que por aí pululam. Um mundo perdido.

Quanto ao resto não sei bem o que dizer. Tenho andado campestre, longe das mundanidades que por aí vejo comentadas. Nos intervalos trabalho. E vou pensando no que fazer: pinto as unhas de carmim? Ou deixo-me disso? Nem um pingo de verniz? Campesina de cabo a raso? E quanto aos olhos? Mantenho-os smoky? Sem rímel, sem nada que se veja? Tento o reverse eye liner?

Pois não sei. As minhas dúvidas são deveras existenciais. Consomem a minha energia, fico sem ânimo para me ocupar dos Mithás desta vida. 

Tirando isso, o que sobra é aquilo dos cães chorarem lágrimas de verdade. Dizem que é quando reencontram os donos que mais acontece. Acredito. Coisas mais fofas, mais amigas. 

Ora vejam o urso mais feroz aqui, derretido, nas mãos do mais crescido que se divertiu a pôr-lhe a melena à punk. Fofos.

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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Uma vida longa e feliz. Paz.

terça-feira, agosto 16, 2022

Uma conversa em família sobre deuses e outras crenças.

[E, no meio disto tudo, o que Michio Kaku acha do nosso futuro também não me deixa lá muito consolada]

 


Hoje, dia feriado, durante a tarde, estávamos todos juntos cá fora quando os meninos começaram na brincadeira. O mais velho, um refilão do mais refinado que existe, queria ir comprar um jogo que não dava para encomendar online. Preparando o terreno para a persuasão, começou, então, a derreter-se em simpatias com a mãe. Creio que foi nessa altura que a conversa divina começou. Tenho ideia que já dizia que a mãe era uma deusa. O mais novo dizia que antes estava eu, a mãe da deusa.

Dizia ele, o mais crescido, que era um contrassenso ter sido batizado e não acreditar em deus. 

[A propósito do batizado surgiu, então, a conversa dos padrinhos. A minha filha lembrou que o pai é o padrinho do neto. O avô ficou muito admirado. E eu também, já não tinha nem ideia disso. Ela explicou que, na altura, tinha querido que fosse o irmão mas que, como o irmão não é batizado, o padre disse que, se era o que ela queria, então na prática era como se fosse... mas que oficialmente tinha que ser alguém batizado. Ela, então, quis que fosse o pai. Com esta explicação, lembrei-me. É verdade, tinha sido isso.

Mas lembrei-me só de metade pois, nessa altura, ela recordou-me que também eu embarquei numa assim: ou seja, sou a madrinha do mais novo. Também não me lembrava. Ela explicou que, nessa altura, a ideia é que fosse a prima a madrinha do menino. Mas a madrinha era quase tão bebé como o bebé a batizar. Tem uns quantos meses a mais. Para além disso também não é batizada. Portanto, neste caso avancei eu. Mas avancei nesse dia e nunca mais de tal me lembrei. Ou seja, quer eu quer o meu marido somos uns padrinhos desnaturados.

Isto dos batizados foi coisa do pai das crianças. Já o casamento foi pela igreja para ele e, para a minha filha, na igreja. Uma nuance que faz a diferença. Ele fez questão e ela não se importou. A mesma coisa com as famílias. A família dele é praticante e a nossa não está nem aí. Excepção talvez para a minha mãe que não frequenta a igreja mas tem a sua fé e faz as suas orações. Aliás, não sei se foi no casamento da neta ou num dos batizados dos bisnetos que, para minha surpresa, foi comungar. Perguntei-lhe se se tinha confessado antes. Na minha cabeça, a confissão era premissa indispensável para a comunhão. Respondeu-me que não tinha pecados. Lembro-me que o sogro da minha filha ouviu a conversa e achou muita graça, tendo-me dito: 'Pois, certamente que não tem'].

E tenho a impressão que foi nessa altura que a conversa derivou para a metafísica pura e dura. O menino mais crescido, catorze anos recém-feitos, já todo peludo, com voz grossa e dúvidas existenciais, perguntou-me se eu acreditava em deus. Disse-lhe que há muitos deuses, cada um acredita no seu deus ou no que quiser, que há quem queira encontrar uma explicação para as coisas e que eu acredito na natureza, na superioridade da natureza. Desatou a rir. Pôs-se a imitar-me, disse que ainda viro uma avozinha hippie, que qualquer dia chega lá, in heaven, e estou eu, toda peace and love, a adorar a natureza, numa caravana, a enrolar uns charros, envolta em cheiro a erva. Claro que o avô, ao ouvir isso, derivou para a paródia e, portanto, uma conversa que tinha tudo para ser elevada degenerou na gozação do costume.

Mas eu, gozem ou não comigo, curvo-me perante a beleza, a magia e a inteligência da natureza, mesmo nas suas mais ínfimas manifestações. Por exemplo, maravilho-me com a existência de esquilos nos nossos pinheiros e azinheiras. Não sei como lá apareceram mas o facto de lá terem aparecido parece-me milagre do melhor que há. Haver tantos pinheirinhos a nascerem a partir daqueles que o meu pai plantou há dezenas de anos é também daquelas que me faz sentir abençoada. E não sei se sou eu ou se é a terra que é abençoada mas para o efeito tanto dá. Ou que as árvores e os arbustos resistam a tanta secura, tanto tempo sem chover, parece-me outro fantástico milagre. 

Os cedros, os ciprestes, os pinheiros, as aroeiras estão verdes, verdes, como se a seiva corresse fresca nas suas veias. Os verdes guardam a memória das chuvas e parecem preservar-se até que elas regressem. Acho isto uma coisa superior. Já para não dizer 'do além'.

Mas alguns arbustos estão com pouco viço, as figueiras daqui a nada estão a deixar cair as folhas, muitas florzinhas estão secas, a terra está ressequida, uma dor de alma. Tenho esperança que, mal venha o outono e comece a cair alguma chuva ou comecem a descer as primeiras névoas matinais, a terra se volte a cobrir de musgos e os cogumelos voltem a rebentar do chão.

Mas claro que estes calores e estas secas continuadas me preocupam. Como não? 

Quando aquele terreno era apenas pedra e mato ralo e rasteiro, imaginava que conseguiria transformá-lo nom bosque onde os meus filhos e os filhos dos meus filhos e os filhos dos filhos dos meus filhos (e por aí afora) haveriam de passear e desfrutar as delícias das sombras das árvores e dos cheiros campestres.

Nessa altura não se falava nas alterações climáticas nem na situação de emergência em que iríamos entrar. Nessa altura jamais me ocorreu que, anos mais tarde, eu haveria de estar preocupada com as condições de vida na terra para os meus filhos, para os filhos dos meus filhos, para os filhos dos filhos dos meus filhos... E, no entanto, estou.

As notícias que chegam de todo o lado não podem deixar ninguém tranquilo. 

E, claro, as previsões de Michio Kaku não me sossegam. Pode ser que o futuro da humanidade resida nos outros planetas. Mas quando? Mesmo que, até que isso seja possível, sobrevivam os exemplares suficientes para se reproduzirem em condições mais viáveis... o que acontecerá a tantos milhões de outros...?

E isto, claro, se até lá um asteroide qualquer não nos mandar a todos desta melhor ou o planeta não secar, não mirrar, não ficar murcho e irrelevante.

Preocupações...

Michio Kaku: The laws of physics doom Planet Earth

Humans won’t survive if we stay on Earth. Michio Kaku explains.

On Earth, extinction is the norm: 99.9% of species eventually go extinct. Even worse, the laws of physics have destined our planet for destruction. Whether it be from a planet-killing asteroid or the death of our Sun, Earth is doomed.

Humanity needs an insurance policy. Ultimately, if we want to survive long-term, we need to inhabit other planets. 

We are entering a new Golden Age of space exploration, but there are obstacles we must overcome.


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Fotografias feitas in heaven na companhia de Gautier Capuçon que interpreta Après un rêve de Fauré
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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Paz.

domingo, julho 24, 2022

Dia de festa

 

As opiniões dividem-se: creio que é quase unânime que hoje festejámos com o primeiro leão mas também já vi dizer que são os últimos caranguejos. Mas inclino-me fortemente para que seja leão. A personalidade parece-me claramente de leão. E se a tem já a querer vincar-se... Assertivo, persistente, focado, entusiasmado, por vezes insistente até à centésima casa, com um sentido de humor fantástico. 

(E com um apetite que não dá tréguas).



Foi o primeiro menino, aquele que nasceu ontem deixando-me em lágrimas de tanta emoção, aquele que me baptizou como Tá, aquele a quem primeiro estamos a ver a dar aquele salto mágico em que as crianças começam a deixar a infância para trás e, de repente, aparecem perante nós já a parecerem gente grande. É que, afinal, imagine-se, já fez catorze anos. Não dá para acreditar. Já está grande, maior que eu, claro, também já a ultrapassar a mãe, daqui a nada da altura do pai. E já com voz grossa. E já a encantar-se, de paixões intensas e súbitas, com meninas que conhece na praia. 

Já a combinar encontrar-se com um amigo que conheceu no hotel, ambos malucos por futebol, cheios de programas -- jogos de futebol, conversas sobre futebol, mergulho e polo quase aquático na piscina, depois a conhecerem as meninas na praia, a trocarem instagrams. Todo um programa. Até há pouco era uma criança e, de repente, tem modos de rapaz e porta-se como um rapaz. 

O irmão, de quem até há pouco não fazia grande diferença, está agora bem mais baixo, ainda uma criança. 

Mas, portanto, foi mais uma tarde de alegria e animação. 

Houve quem se posicionasse na bateria (e até eu, confesso, me pus a tocar, uma coisa boa para deitar cá para fora não apenas calorias acumuladas como raivas não consumadas). E houve quem se ficasse pela guitarra e quem se atirasse ao piano. Afinal parece que quase toda a gente sabe tocar qualquer coisa ao piano menos eu. Ainda me lembro do suplício de quando, em miúda, andei a aprender. Não aprendi nada. Nada. Zero. Tenho pena mas é daquelas coisas para as quais a minha intuição e habilidade falham em toda a linha.

Até o mais novo dança com os seus dedinhos pequeninos sobre o teclado. Um ternurinha. Aplicado, explorando os sons. Foi ele que acompanhou ao piano (à sua maneira, claro), o momento dos Parabéns a Você.

Mas quem, uma vez mais, nos surpreendeu, mas surpresa a ponto de nos deixar de boca aberta, foi o primo do meio.  Não estarei a ser rigorosa nesta designação pois o menino dos anos tem doze primos e este de que falo não se situa a meio da escala. Refiro-me ao do meio do meu filho, que tem três filhos, o menino que, a par de outros talentos, tem um instinto natural para a música. Canta de improviso, toca, dança. As letras rimam, fazem sentido. E canta afinado e com um vozeirão. E expressivo. Quer ele quer o primo que o acompanhou são uns sentimentais, fazem expressões de drama, fecham os olhos com sofrimento. Ele ao piano e o primo à guitarra, só visto. 

Eu e a minha filha, filmámo-los, ambas estupefactas (tal como estupefactos estavam todos os que assistiam). Sempre o soubemos com veia artística mas vem ganhando novas valências e a voz está um espanto.

Ao ver os vídeos farto-me de rir com o sentido de amor e a graça deles (mesmo quando as canções que ele inventa são de fazer chorar as pedras da calçada). Maltinha mais danada para a brincadeira, mais animada.

Como bolo dos anos, o jovem aniversariante pediu para não ser um bolo artístico ou avant-garde: gostava de ter um bolo de anos tradicional, por dentro pão-de-ló e doce de ovo e, por cima, cobertura de açúcar. Então, saiu à cena um bolo do Sporting, coisa que quase causou algum desconforto ao lado benfiquista da família. 


No fim, todos os que se aventuraram a comer o revestimento sportinguista apresentavam-se com a língua devidamente tingida de verde. 

Mesmo os benfiquistas a tinham verde!


Como não comi a cobertura, apesar do meu coração se inclinar para os verdes de Portugal, a minha língua não ficou relvada. 

Quanto à pequena fera cabeluda, deu uma certa luta. Primeiro, o animal está cansado, esta ideia de o pormos a fazer férias connosco não resulta. Vemos pessoas com cãezinhos pequenos, alguns ao colo, sossegadinhos, caladinhos, pequenos e amorosos peluches. Ora este é um brutamontes bom para guardar rebanhos e afugentar riscos verdadeiros ou potenciais. Não é, nem nunca será, um lulu.

Claro que, de tanto ladrar, de tanto saltar, de tanto querer correr, de tanto ser contrariado, de tanto calor, de tanto andar na areia ou a passear, já só quer estar à sombra a descansar. Mas, coitado, não tem conseguido. 

Claro que estar rodeado por tanta gente é para ele uma festa e, ao mesmo tempo, um desafio. 

Por exemplo, hoje, na festa de anos, a sua curiosidade natural leva-o a querer mexer em tudo... mas ninguém quer que ele mexa em nada. 

Toda a gente se acerca da mesa e ele também quer ver o que lá há. E toda a gente pode servir-se e só ele é admoestado. Parece que só está bem quando fica sentado a olhar, infeliz, sem poder tocar.

Mas houve uma menina que deixou um pratinho esquecido com côdeas de piza... e foi o que ele quis. Não me perguntem como, mas mesmo com os olhos cobertos por uma espessa franja cabeluda e no meio da maior confusão, ele descobre sempre, de imediato, o que pode abaratar. Chamou-lhes um figo.

Agora vamos ter uma semana de tréguas mas logo a seguir os leões continuam a atacar e em grande força.

(Escuso de dizer que, tal como acontece com o urso cabeludo, também eu estou capaz é de me deitar no chão, à fresca, sem me mexer.)

Tirando isso, tá-se. A vida passa a correr e, por isso, temos que saber aproveitá-la e que gostar de agarrá-la bem agarrada para a vivermos em estado de encantamento. (Será que era a isto que o Valtinho se referia quando dizia que é urgente viver encantado? Bolas. Vou já rever a frase.). 

Temos que saber viver a vida e gostar de agarrá-la bem agarrada para a vivermos numa boa. E longa vida ao meu menino crescido e a todos os meus meninos e a todos os meninos deste mundo. 

E, a propósito, vai daqui um beijinho especial para a linda Maria cuja fotografia a Lurdes me enviou.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Boa disposição. Paz

terça-feira, maio 12, 2020

Raposas metafísicas in heaven e outras conversas de nada





De manhã eles ficaram no estúdio e nós dois ficámos aqui, cada um nas suas reuniões. A casa estava um sossego. Juntámo-nos um pouco antes do almoço. Acabei uma reunião e, não os tendo visto, fui dar a minha caminhada enquanto ligava à minha mãe, convencida que ia encontrá-los. Mas não. Quando regressei estavam ao pé do miradouro, já tinham vindo do passeio deles.

Passado um bocado, já o mais novo estava numa aula, isto enquanto almoçava. Para conjugar as aulas de um e de outro, as reuniões da mãe e para apanharem uns minutos de sol e esticarem as pernas, a primeira aula da tarde foi com o prato à frente. Coisa, para ele, pacífica.

A seguir, vieram os dois instalar-se perto de mim. Estava eu concentrada, ouço o mais novo a apontar para o tecto: 'Está ali uma aranha com asas...' e o irmão a dizer, como se na continuação da frase '... que se chama melga...' e o mais novo '...e parece que está a saltar...' e o irmão '...chama-se voar...'. 

Farto-me de rir com eles. Logo a seguir já andavam em cima do sofá, de almofadas na mão a tentar dar cabo do animal.

Também encontraram uma caracoleta. Isto no outro dia. Pediram-me uma caixa. A única que arranjei, assim de repente, foi uma caixa de ovos vazia. Pediram-me cenoura e puseram lá o caracol. Deram-lhe um nome e decretaram que iam ser amigos para todo o sempre. Não me lembro se é Budd mas, se não for, é parecido. À tarde, o caracol já era. Contudo, hoje voltaram a descobri-lo. Ficaram todos contentes. O bff estava de volta.

Já viram o gatinho banco e cor de mel. Também já viram muitas lagartixas. No outro dia, quando estávamos a passear, perguntaram-me se também haveria raposas. Contei-lhes que o vizinho da ponta da rua nos tinha dito que às vezes levava a burrinha para o pé do rebanho pois, com a burra por perto, as raposas não se aproximam. Na altura fiquei muito admirada e ainda hoje o estou. Os meninos quiseram saber se cá dentro da quinta também as há e eu disse que não sei mas que gostava que houvesse. E gostava mesmo. Não sei se fazem algum mal mas estou em crer que não. Se tivesse galinhas recearia por elas mas, não as tendo, acho que seria pura fruição. Raposas ruivas e sedutoras ao cair do dia, lobos deslizando pelo escuro, leopardos azuis a atravessarem as madrugadas. Bichos que me cativam e tentam. Rosas abstractas perfumando os sonhos. Digo eu. E eu, já me conhecem, sou assim, dada a rêveries e conversas malucas.

Agora interrompi esta escritaria pois recebi um mail e, antes de aqui regressar, espreitei as notícias e li sobre uma espanhola de 113 anos que recuperou da covid e que o sintoma que teve foi uma infecção urinária.
Voltei a pensar: será que já apanhei a bicha dos totós cor-de-rosa? Conto. Não sei quando, talvez em Fevereiro, andei a sentir-me doente. Não sou de me sentir doente (noc-noc-noc, já bati três vezes na madeira) mas andava mesmo em baixo. Comecei por uma tendinite num ombro. Dores, dores, quase sem conseguir levantar o braço. Sem fazer ideia de como aquilo tinha aparecido. Dias depois, uma constipação e a sentir-me em baixo. Os olhos chorosos e tosse, tosse, tosse. Tosse seca, mas uma tosse absurda. Não sou de me assustar nem de ir facilmente ao médico. O meu marido dizia: vai ao médico. E eu que nem pensar, uma porcaria de uma constipação. Mas uma noite, tais os ataques de tosse, sem conseguir dormir, às tantas quase me asfixiava, sem conseguir parar. Fui mesmo ao médico, já cansada, já aflita de tanta tosse. Tratei-me e fui melhorando. Três ou quatro dias depois uma infecção urinária também vinda do nada. Uma coisa mesmo estúpida e dolorosa. Tive que voltar ao médico. Antibiótico. E três ou quatro dias depois, também do nada, uma dor de garganta insuportável. Nem conseguia engolir. Espreitei. Tinha um enorme ponto branco na garganta, as amígdalas inchadas. A sentir-me doente, sem saber outra vez o que fazer e a achar esta sucessão de coisas muito bizarra, meio envergonhada, quase como se estivesse a inventar doenças, voltei ao médico. Ele também admirado. Perguntei-lhe: 'mas haverá relação entre tudo isto?'. Achou que não mas reparei que estava também um bocado admirado. Tratei-me. Acabei por ficar bem e já lá vai.
Por essa altura uma colega andou também francamente em baixo, constipada, apanhada, uma tosse de dar medo. Foi para casa. Ouvíamos falar do vírus mas era coisa longínqua. Ela com tosse imparável, febre todos os dias ao fim do dia, durante semanas. Ela própria, lendo sobre os sintomas que íamos sabendo da China ou de Itália, estava com dúvidas. Mas o médico disse que era uma bronquite em rescaldo. Mas não parecia bater certo. Não tinha expectoração, só febre e uma tosse seca, enfraquecida e doente.
Nesses dias, um outro colega apareceu doente, com febre, tosse, falta de ar. Teve que ficar em casa, tais os ataques de tosse, tal a febre. Dizia que não tinha expectoração, só tosse, tosse, tosse e febre. Semanas em casa até que o bicho veio oficialmente para cá e entrámos todos em quarentena.

Pode ser que nem eu nem eles tivéssemos estado doentes com o merdinhas. Aliás, a minha filha nem quer que eu disserte sobre isto pois receia que seja pretexto para me deixar de cuidados. E eu, quando a dúvida me assolava, dizia de mim para mim: 'nunca se ouviu falar de sintomas destes associados ao dito, não deve ter sido'. Até hoje, ao ver aquela da infecção urinária na espanhola. Por isso, deixa cá ver. Eu gostava de ter dito e só espero é que um dia que possa fazer um teste se comprove que sim.  Pode querer dizer que já estou livre. Volto a confessar: estou farta destes cuidados, desta coisa de me chamarem a atenção de que mexi e não fui a correr desinfectar a mão, de que toquei e não deveria ter tocado, e eu a achar que, caraças, também não há-de ser bem assim, não está tudo contaminado, bolas, não há problema nenhum aqui, no campo, no meio do nada, e, por dentro, estou é a invectivar o mundo, que se lixe o corona, que se lixe esta porcaria, bolas, que seca.

E, pronto, calo-me já. Vou dormir a ver se, em sonhos, uma raposa vem visitar-me. Uma raposa metafísica. Abstracta, esquiva, com vontade de me contar segredos. Olha, vou contar-te um segredoNão digas nada, ouve só. E eu toda ouvidos, arrepiada, com medo de não saber o que fazer com tamanha revelação. Gostava mesmo.

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Pinturas de Noronha da Costa ao som de Sigur Rós com Ekki múkk
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Be happy. Be safe. Be cool.

segunda-feira, dezembro 22, 2014

Afinal os flamingos também dão leite?


O mais crescido, não lhe apetecendo continuar no laré, preferindo antes ir para casa com o avô (que de bom grado aceitou a proposta), quando iam a caminho e já a pensar no lanche, perguntou:

- Avô, ainda há daquele queijo sem casca?

Responde o avô, Há queijo flamengo.

Espanto total: Flamingo?!?! ...Não sabia que os flamingos também davam leite...!

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Quando ouvi o relato, até me lembrei do jrd que não percebia porque é que a Alice não tinha barco.

E, já agora, confiram também, em comentário abaixo, se os colares espetam.

...

domingo, fevereiro 02, 2014

Para ser coadjuvada na organização do antes e na reconstrução do depois, estou a pensar seguir o exemplo da dominatrix do vídeo que aqui vos mostro. Se ela, só para receber o marido, recorreu a este estratagema, eu, para receber também os meus pimentinhas (e respectivos progenitores), tenho mais do que razões para recrutar uma resma de masocas...!


No post abaixo já vos falei das razões particulares para a animação que hoje (uma vez mais) reinou aqui por casa. 

E, claro, da animação nasce a desarrumação. E antes da animação há a preparação. E, depois de tudo, começa outra fase que é a da arrumação.

Ou seja: agora que aqui estou, a coisa já está minimamente regularizada mas acho que, daqui para a frente, vou adoptar a táctica da dona de casa que aparece no vídeo que vos vou mostrar lá em baixo.

Entretanto, mostro-vos um bocadinho da festa que acontece de cada vez que os quatro pimentinhas estão juntos. 


Chegaram vindos da ginástica e, portanto, supostamente cansados. Mas qual cansaço...? Nenhum. 

Depois de almoço brincam, brincam, pegam-se uns com os outros especialmente quando o sono espreita, fazem as pazes, brincam, brincam. É que nem pensar em dormirem a sesta. Nada. Depois lancham. E, a seguir, brincam, brincam, brincam. Só quando, ao fim do dia, caem no carro é que adormecem, perdidos de sono com tamanha estafadeira.

A minha bonequinha mais linda está grande, doce e sempre muito feminina. 

No meio da maior confusão que os três rapazes armam, ela mantém-se a brincar sossegadinha. 

Hoje estava com o cãozinho de louça que se vê na fotografia. 

É um cão a que achei muita graça uma vez em que estava em Honfleur e com saudades da minha cadelinha que tinha ficado em Portugal. A minha não era nada assim, era uma boxer, mas enfim, cão é cão. 

E então hoje a minha menina pegava-o ao colo, tapava-o, toda maternal a tomar conta do cãozinho. 

Claro que volta e meia se passa com os primos mas é coisa passageira, pois adoram-se. E com o irmão é uma doce, meiguinha que só visto.



O bebé é um pândego. Está quase a fazer ano e meio e já é super-independente. Come completamnete sozinho, seja o que for. Senta-se à mesa e nem é preciso assistência: seja sopa, seja peixe ou carne, seja sobremesa ou iogurte, manueseia a colher como um rapaz crescido. Por exemplo, revira a embalagem de iogurte para limpar tudo com uma destreza surpreendente. Até lambe a parte de dentro da tampa.

E imita a irmã e sobretudo os primos em tudo o que os vê fazer. Ri, 'fala', brinca na maior das alegrias. Gosta imenso de fazer 'moches' ao primo ex-bebé e o ex-bebé, que adora o primo-bebé, deixa-o fazer tudo o que quer. Hoje fazia de cavalo e transportava o primo ou, simplesmente, andavam na brincadeira no meio do chão.


E depois, de vez em quando, são os três mais crescidinhos que começam a fazer desenhos e jogos uns com os outros, compenetrados. 

O mais crescidinho já sabe escrever sozinho, descobrimo-lo para nossa surpresa. Começou a aparecer com frases escritas e coisas da lavra dele (ou seja, não eram palavras copiadas). Ninguém lhe ensinou, aprendeu sozinho. Sabe as letras e, pelos sons, deduz.

Claro que, volta e meio, lanço-lhe desafios a que ainda não consegue ir e fica todo arreliado comigo, acha que estou a chateá-lo (e estou... adoro pregar-lhes partidas e, para ele, são partidas que lhe prego quando lhe peço para escrever coisas a que ele, pela dedução, ainda não chega). Por exemplo: agora não me lembro qual a palavra mas sei que metia um lh e duas vogais juntas. Agora que estou a escrever isto só me lembro de coelho mas não foi, não ia sacrificar a criança com uma malapata dessas. 

E, no meio da confusão, ainda houve lugar para cortes de cabelo. O bebé já estava cabeludo, o cabelo a precisar mesmo de uma aparadela. Não foi fácil porque não pára quieto mas ficou mesmo giro, muito rapazinho, cabelinho todo curtinho.

Quem, de imediato, foi logo buscar um banquinho para que eu lhe cortasse também o cabelo foi o ex-bebé. Adora. Nem se mexe. Até me chama a atenção para cortar mais aqui ou ali para prolongar a sessão. 

Mas, enfim, como eu também adoro cortar cabelos, fico toda contente quando tenho clientela.

Bom, mas voltando à 'cena' da trabalheira que estas movimentações sempre envolvem, dizia eu lá em cima que, de futuro (um futuro muito próximo, a começar já este domingo - pois quer-me cá parecer que daqui a nada já cá os tenho de novo), vou adoptar os truques da senhora do vídeo aqui abaixo.

Ora vejam se não é uma boa (uma boa ideia, quero eu dizer).




Anúncio de Vodka (Wodka Vodka - Dominatrix Cleaning)


*

Sobre festas de aniversário, stripteases e parabéns a você, é favor descerem até ao post seguinte o qual não é recomendado a meninas seja de que sexo forem.

*

Estava cheia de boas intenções, queria responder aos comentários e aos mails. Mas não consigo, estou cheíssima de sono. E ainda quero dar uma espreitadela ao Expresso, sendo mais do que certo que adormecerei a meio.

*

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo, belo domingo.


sexta-feira, dezembro 27, 2013

Um dia de férias (e, se quiserem adivinhar como foi, acho que não vão acertar )




Quando ando em reuniões, para cima e para baixo e com os dias preenchidos como um ovo, penso - como se fosse uma fantasia distante - nuns diazinhos sem nada que fazer, sossegadinha em casa, estendida no sofá a ler ou a arrumar os meus livros, ou a preguiçar, ou a fazer arrumações.

Pois bem.

Como se só soubéssemos andar no farrobodó, metemos este pós-Natal como dia de férias e... aí vão eles todos para mais um programa de grupo. De manhã, ainda tentei dormir até mais tarde mas ou foi a Sephora a mandar-me sms a anunciar descontos nos perfumes, ou o toque de mails a chegarem ou alguém a tocar à porta, a verdade é que os deuses se uniram para me arrancarem da cama. 

Depois, como se quisesse dar corpo àquela ambição de ficar em casa a fazer de dona de casa aplicada, ainda me deitei a arrumar o sítio onde as crianças tinham feito maior devastação e a arrumar o meu roupeiro mas o tempo passou e logo tive que me apressar porque tínhamos combinado ir todos ao Oceanário. A ideia era ir logo a seguir ao almoço, às duas, para apanhar os mais pequeninos antes de lhes dar o sono da sesta.

Por isso, ala que se faz tarde.

Afinal adoraram, não tiveram sono nenhum, e vibraram de tal maneira que só saímos de lá às cinco.


Os 4 pimentinhas completamente encantados
Tinha ido o carrinho a pensar que ao bebé lhe daria o sono. Mas qual quê? O carrinho serviu foi para transportar os casacos. O bebé quis foi andar a pé, encantado, a rir, a apontar os peixes, dando gritos de alegria, apontando para tudo, uma alegria esfuziante. Mas todos eles andavam maravilhados, os quatro encostados aos vidros, chamando a atenção uns aos outros para a grande raia, os tubarões, as tartarugas, as estrelas do mar, as medusas, os pinguins.

Já lá não ia há algum tempo e, de facto, aquilo é mesmo uma coisa fantástica. O Oceanário é caro que se farta, 16 euros por pessoa (salvo erro a partir dos 4 anos). Felizmente eles desencantam sempre vouchers e, por isso, saíu a metade do preço. Mesmo assim, é pesado. Mas percebe-se que seja caro pois manter uma infraestrutura daquelas requer, certamente, um orçamento que não deve ser brincadeira.



Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia

(de Sophia de Mello Breyner Andresen)


No entanto, apesar do preço elevado, estava cheio: muitos turistas mas, também, muitos portugueses. Se algum dos meus Leitores ainda não o conhece, recomendo vivamente que o venha conhecer. Fica no Parque das Nações, vulgo Expo, num local privilegiado, sobre o rio, com um enquadramento paisagístico muito bem conseguido, onde se fazem belas caminhadas.


Os 4 com a mãe de 2 deles
Mas, ia eu dizendo, que todos nós adorámos, mas as crianças, claro, estavam delirantes. 

Contudo, vocês são grandinhos o suficiente para saberem que não há bela sem senão.

Qual o senão?, perguntarão alguns de vocês.

Senhores...! Grande parte dos corredores é às escuras. Às escuras! A iluminação vem dos aquários gigantes. Claro que isso contribui ainda mais para a beleza mágica daquilo. Mas imaginem o que é andar com quatro pimentinhas que querem correr por todo o lado, que querem ir ver o próximo vidro, subir a um banco, espreitar ali, ver o cavalo marinho ali à frente, e aquilo com imensa gente e tudo às escuras... Estão a ver, não estão?

O bebé e a mana
O meu filho dizia que era melhor montarmos a táctica do quadrado, encurralá-los. Mas como? Se a gente se distraía a olhar para alguma coisa, logo havia um que se esgueirava. Eu prendia pelas golas aquele de quem tivesse sido nomeada responsável para não o deixar fugir, já que me sacudiam se eu lhes tentasse dar a mão. A minha nora dizia que, para a próxima, os levamos presos por correntes e com bolas de ferro para os impedirmos de fugir. De facto.

Isto já para não dizer que ela quis fazer chichi, depois cocó, e depois todos tinham fome, e depois sede (felizmente os pais foram com bolachas e água e pacotinhos de leite), e isto tudo enquanto andavam por tudo o que era canto e esquina.

As fotografias com eles ficaram imprestáveis porque sem flash, eles sem pararem um segundo e eu a ter que lhes prestar atenção, ficou tudo desfocado. As únicas que se salvaram foram algumas dos aquários em si ou as poucas de exterior. Enfim, coisa de somenos.

No final, já todos cansados, passámos por uma área que, segundo me pareceu, era dedicada à reciclagem e à economia de água e energia mas que era uma cozinha à escala infantil, com frigorífico, forno com botões para ligar e que acendiam luz, lava-louças, uma casa de banho de brincar, depois uns jogos com bolas, etc. Quem é que diz que os arrancávamos de lá? Ai senhores, nós já quase de gatas e eles outra vez na maior animação, só a quererem descobrir a função de cada coisa, a mexerem em tudo, a brincarem uns com os outros.


Mãezinha... que tareia... !

É que não é só andar com mil olhos a segui-los, é também pegar-lhes ao colo para verem melhor, é responder a perguntas em catadupa, algumas que requerem uma erudição na ponta da língua, numa altura em que uma pessoa já está com a cabeça esvaída.

Ó Tá, porque é que ele está ali deitado sem se mexer?
  - Está camuflado, não vês que é da mesma cor da rocha? 
Ó Tá, mas porque é que ele está camuflado?

  - É para passar despercebido, para se proteger melhor dos perigos.
Ó Tá, mas onde é que estão os perigos?


 - (...Upsss... onde é que estão os perigos...?) Pois, agora aqui não há, não iam aqui ter peixes que os atacassem, senão já viste...?
Não, o que é que acontecia?

 - ... Sei lá, havia bulha, um ainda comia o outro e depois já não havia alguns para os podermos ver. Mas vá, vamos andando, anda ver aqueles ali à frente.
Mais à frente,
Ó Tá, como é que ele se defendia se fosse atacado?
 - Acho que libertava um líquido que provoca comichão.
Ó Tá, mas não dava choque eléctrico?

 - Acho que não.


As enguias é que dão choque eléctrico, não é Tá?
- Talvez, não me lembro bem se é a enguia ou um outro que é parecido com uma enguia.
Como é que esse se chama?
- Não me lembro. Moreia. Será?
Acho que não, Tá, nunca ouvi falar nesse.
- Vá, daqui a nada já não sabemos onde andam os outros.

E assim sucessivamente. Às escuras. 

Este a querer ver tudo e a fazer mil perguntas e a ficarmos para trás, deixando de ver os outros. Ou, quando os via, dando uma corrida e eu a ter que correr atrás dele, depois de nos zangarmos mil vezes para não fugirem. 

Jesus...! 


Felizmente, no intervalo destes labirintos no fundo do mar, há espaços ao ar livre e aí respirávamos de alívio, até parecia que estávamos de férias.

3 deles com as mães
(O bebé estava com o pai)

A zona das morsas ou dos pinguins foi, para nós, um verdadeiro oásis.

Podíamos ver as crianças e, além disso, já que os motivos de interesse estavam bem identificados, eles ficavam mais focalizados nisso.


Depois ainda fomos lanchar e outra vez chichi, e o bebé a querer pôr e tirar a tampa da garrafa de sumo e depois a querer esconder-se e deitar-se debaixo de uma mesa e já nem sei bem o quê.

No regresso, caíram a dormir, claro. Mas, senhores..., estava um trânsito do caraças porque parece que tinha havido qualquer coisa no IC19 que, qual efeito da borboleta que bate as asas no cu de Judas e dá cabo do clima no Restelo, parece que entupiu os acessos de Lisboa de uma ponta a outra. Resultado: cheguei a casa às seis ou depois, nem sei, já de noite.

Quando cheguei a casa, atirei-me logo às minhas arrumaçõezitas, para ver se cumpria o tal desiderato. 

Desta vez, estive a arrumar papelada, junta-se-me papelada que não acaba, senhores, é dentro de carteiras é por todo o lado, credo, eu sei lá como, coisas para ver o que é para deitar fora, coisas para arrumar e, também, depois, organizar os montes de livros que tenho à minha volta aqui na mesa onde escrevo que a coisa estava caótica e periclitante. De organizar livros eu gosto, gosto de lhes pegar, de os rever, de lhes espreitar as entranhas. Ficou um monte para os de poesia que acabaram por ser três montes, outros três para a prosa lusófona, mais dois para os de língua estrangeira, mais um para livros de fotografia ou pintura (e um ou outro de arquitectura ou escultura).

Estes são os que ainda não li completamente ou de todo, nem estão catalogados (o meu marido anda em greve, diz que eu abuso), e que vou lendo, que gosto de ter aqui à minha beira. No momento em que forem para outro lado, receio perder-me deles, como se fossem meninos num recinto imenso, labiríntico, escuro.

Estou, pois, entrincheirada no recanto livre que aqui vêem. É assim que gosto de estar. Já para não dizer que a mesa está ela própria bem guardada, rodeada por estantes.

Resultado: um dia de férias sem um minuto de descanso. E agora, que já passa das duas da manhã, ainda aqui estou. Ai, credo, que maluqueira. Acho que já não sei estar descansada, é o que é. 

Mas fico com o coração cheio, feliz, feliz da vida. E o que a gente se diverte...? Haviam de nos ver. Os miúdos são muito bem dispostos, brincalhões, estão sempre a fazer-nos rir. Dão uma trabalheira mas, ao mesmo tempo, tiram-nos anos de cima.

*

E, por falar em oceanário e em mar, para dar a isto um toque de mais qualquer coisa, aqui vos deixo Andrea Bocelli e Dulce Pontes interpretando O mar e tu


*

Lá em cima, para ver se trazia para aqui a magia do fundo do mar, a música era Sirènes de Claude Debussy.


*

A ver se amanhã consigo tempo para responder aos comentários.

*

E, se me permitirem, ainda gostaria de vos convidar a virem até ao meu Ginjal e Lisboa onde hoje tenho Ana Luísa Amaral por ela mesma e por outros. E, por lá, as minhas palavras falam, justamente, de poetas, esses seres especiais.

*

E pronto. Por agora é isto.
Tenham, meus Caros Leitores, uma bela sexta feira! 
Já agora: se puderem divirtam-se, está bem? É bom.

domingo, agosto 14, 2011

'Mariposa traicionera', sedução e drama como convém a uma novela mexicana (Maná, a borboleta sereníssima e os meus livros, here in heaven)

Há dias, aqui in heaven, uma borboleta entrou para dentro de casa.

Eu e o meu ajudante de campo (*) tentámos conduzi-la, janelas fora, até à rua - mas somos muito pouco nabokovianos e, de divisão em divisão, ela foi mais lesta que nós: sedutora e esquiva, espreitava-nos e nós seguíamo-la e ela, toda charme, esgueirava-se para mais longe; até que a perdemos de vista.

Ontem, quando aqui chego, eis que dou com ela pousada num dos meus tapetes 'a la Rothko'. Boa escolha to rest in peace.

Com cuidado, pego nela receando que se desintegre - porque a beleza é efémera. Mas não. A beleza intacta e, agora, tangível.

Levo-a então, agora dócil, a percorrer alguns caminhos. Escolho cenários, e ela, na sua beleza sereníssima, deixa-se fotografar.

? - Charles Saatchi

Charles Saatchi, empresário, publicitário e coleccionador de arte, responde a perguntas sobre os temas mais variados, numa edição Phaidon. Transcrevo, traduzindo, apenas duas delas:

Berlusconi ou Brown ao leme? - Não percebo porque é que toda a gente não emigra para Itália para ter o Berlusconi a gerir as coisas. É um belo país, jogam muito bem futebol e o Silvio parece que gosta de passar bem o tempo. Provavelmente ele vai para a cama, todas as noites, mais feliz do que o Gordon Brown e, suspeito, que a maioria dos italianos também.

É melhor servir no Céu ou reinar no Inferno? - Reinar no Inferno parece-me perfeito. Com os Diabos, quem é preferiria servir no Céu?


Frida Kaho, 'I paint my reality' - Christina Burrus

(vejam como fica mesmo bem, a minha borboleta no penteado da Frida)

Um belo livrinho da Thames & Hudson, muito bem ilustrado, muito bem composto, sobre a vida e obra da pintora mexicana Frida Kahlo (1907 - 1954). Transcrevo, traduzindo, um excerto de uma carta sua, datada de 1935 e dirigida a Diego Rivera, seu marido, com quem teve uma apaixonada e conturbada relação.

Tudo o que me aconteceu e continua a acontecer, nestes sete anos em que vivemos juntos, todas as minhas fúrias e irracionalidades ajudaram-me a ver mais claramente que te amo mais do que amo a minha própria vida, e que mesmo que tu não me ames da mesma maneira, amas-me um pouco ... não amas? E mesmo que não me ames, eu ainda tenho esperanças que me venhas a amar, e isso é suficiente...

Ama-me apenas um bocadinho. Adoro-te,
                                                                Frida


Na casa de Julho e Agosto - Maria Gabriela Llansol

(Integradíssima e bucólica, cá está ela, a minha colorida mariposa)

Naquela sua escrita desligada das minudências terrenas, Maria Gabriela LLansol (1931 - 2008), vagueando pela escrita como um gato ancestral e sábio, deixa-nos trechos como estes:

Soube, então, Margarida, que não te podia escrever mas jurei enterrar as minhas cartas junto à raiz das roseiras porque 'pelas raízes das roseiras', segundo um dos segredos de Alice, 'passa o mensageiro'.

Margarida, já sabes o que me comove; hoje, atravessava uma sala quando vi uma réstia de sol no chão; o urso não tem comido, olha apenas as operações do sol, durante o dia; nesses instantes, li com a profundidade dos seus olhos que um perigo acerado, mesmo que não seja iminente, nos espera; onde guardarei este manuscrito, ou estas cartas, para que ninguém as leia, nem vivalma?; talvez convenha dar-lhes misteriosa linguagem,
ou simplesmente não escrever,
mas então como comunicarei contigo?


Poesia, Saudade da Prosa - Manuel António Pina

(e lá está ela, a minha borboleta sobre a pintura de Joachim Patinir que capeia o livro)

Da antologia pessoal de Manuel António Pina, extraio o início e o final do poema Emet com que termina o livro:

Here we are for the first time face to face
thou and I, Book,
descansa em paz, e tu, leitor,
não peças mais ao seu cansado coração
do que ele pode dar-te, o que te rouba:
pequenos detalhes entre o espírito e a carne.
(...)
Porque é de noite e estamos ambos sós,
leitura e escritura,
criador e criatura,
na mesma inumerável voz.


# Ainda levei a minha mariposa a passear por outros lugares mas não vos maço mais.


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(*) Sobre o meu ajudante de campo, caso tenham lido o meu post sobre exploração de trabalho infantil, deixem que vos conte.

No outro dia, estavamos a almoçar e ele, o meu querido leãozinho agora já com 3 anos, com ar pensativo. Às tantas diz, pausadamente, com ar de quem está a puxar brutalmente pela memória, papagueando palavras que não compreende: 'Já sei. Exploração do parque infantil.'.

Desatámo-nos a rir e ele muito infeliz: 'Não é...?',

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E agora, para que o papier mâché (como a Margarida, inspiradamente, classificou o Um Jeito Manso nas suas laterais Daily Goods & so on) fique completo, aqui vos deixo, como colante (coleante?) esta canção, Mariposa Traicionera, com um vídeo bem caliente de uma banda mexicana, Maná, que desconhecia mas que não está nada mal para um dia encalorado como hoje.