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quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Foi por desatinos como este que há 101 anos houve marosca


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Depois da Tunísia e do Egipto, a Líbia, finalmente...

Deu-se ontem a tomada de Trípoli pelos líbios revoltosos. Menos um ditador a poluir o meio ambiente. Menos uma ditadura a pesar no ainda desfavorável balanço entre ditaduras e democracias no mundo. Demorou meio ano, 4 meses após a participação da NATO no esforço de guerra dos insurrectos.

O jornal Público pergunta na sua manchete de hoje se «Está o país preparado para governar sem Khadafi?». Como sucede no imediato pós-ditadura em muitos países, surge um vazio de poder. Acontece e costuma ser bem aproveitado para o combate democrático. Parece-me que a pergunta mais importante a fazer é qual o papel que os Estados democráticos estão dispostos a desempenhar para ajudar a Líbia a seguir no bom caminho. Essa sim, parece-me a questão certa. Já chega de sacudirem a água do capote.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Documentário português, do PREC à actualidade


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A PANORAMA - 5.ª Mostra do Documentário Português arranca hoje no cinema São Jorge, sob o mote «Como se relaciona o documentário português com o mundo de hoje?».
Na secção dos «Percursos no documentário português» será exibida uma série de filmes sobre o cinema «no pós Abril». O filme de abertura dessa série é Cenas da luta de classes em Portugal, de Philip Spinelli e Robert Kramer.
Até 10 de Abril há muito para ver, como revela o site do evento, cheio de surpresas.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Who's next


Um interessante artigo no Le Monde, do Michel Cahen, sobre as diferenças entre os motins de Setembro passado em Moçambique e os processos revolucionários actuais no Maghreb.
« Os sujeitos de hoje (serão) os cidadãos de amanhã » ?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As revoluções do momento: Líbia, Barhein e Iémen

E outras se seguirão, é quase certo (esperemos que sem a violência oficial do caso líbio).
Estamos a assistir a algo de muito especial na história mundial. Pela sua génese, pela sua extensão (do Magrebe ao Próximo Oriente), pela sua duração, pelo seu impacto plural, a um tempo político, social, económico, cultural. E, last but not the least, pelo avançar do laicismo, num quadro em que ainda se agitam os fantasmas do fundamentalismo islâmico, sem base alguma, como se pode colher da opinião dos arabistas.
Este é um impacto que não se fica só pela arábia mas que contagia actores sociais de paragens distantes, alguns bem inesperados, como a ocupação do parlamento de Wisconsin (EUA) pelos sindicatos.
A propósito da Líbia, as chancelarias ocidentais têm reagido com muita apreensão, por este ser o 4.º produtor africano de petróleo (a seguir à Nigéria, Angola e Argélia, salvo erro). O surto do preço dos combustíveis fósseis serve como prova* dos perigos dum prolongamento da violência líbia (p.e., caindo numa demorada guerra civil, o cenário mais temido). Mas as ditas chancelarias ocidentais também têm a sua quota-parte de culpa no cartório. Porque foram cúmplices destes regimes até ao máximo do grotesco, como nas recepções aos ditadores árabes, cheias de segurança, mordomias e silêncios, ou na excessiva proximidade aos mesmos (vd. caso Michèle Alliot-Marie). Deviam ter tido mais cuidado, ter instado a mais reformas políticas. Agora parece que é tarde, o que não veio pela porta da frente está o povo a arrancar a ferros, pela porta dos fundos.
Parece que é tarde mas não é; ainda podem tomar medidas: pressionar para o congelamento de contas desses figurões e a restituição dos fundos aos tesouros nacionais; estabelecer acordos conjuntos sobre recepção de imigrantes árabes; dar mais força à Turquia para servir de mediador nos conflitos; dar mais poder à ONU para promover reformas pró-democracia onde as ditaduras duram há tempo demais. E para aprofundar a democracia em todo o mundo. Pois só mais democracia trará mais esperança e segurança a todos.
*Embora seja estancada dentro de 2 semanas, por colocação de mais petróleo no mercado por parte da Arábia Saudita. Além disso, as convulsões podem ter efeitos diversos: no caso egípcio, a redução da laboração fabril e nos transportes possibilitou aumentar a sua quota de exportação de petróleo.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dos motins às revoluções

Mesa-redonda dos motins às revoluções

A partir dos mais diversos pontos, de Roma a Tunes, do Cairo a Oakland, de Londres a Beirute, de Buenos Aires a Atenas, de Maputo a Sana, um conjunto muito significativo de lutas, manifestações, greves, ocupações tem vindo a ter lugar. Um elemento comum, além da assinalável capacidade de mobilização, parece ser o facto de muitas destas acções assumirem, formal e substancialmente, o questionamento não só da ordem estabelecida, mas também do padrão normalizado da luta política legal e confinada aos limites do poder de Estado. Num contexto de crise do capitalismo global, a ordem pública é confrontada com uma desordem comum que toma as ruas como o seu espaço, resgatando palavras como «revolução», «revolta», «motim». O debate que propõe a UNIPOP passa por procurar identificar que outros pontos de contacto têm estes diversos focos de luta, bem como quais são os seus limites, e perceber em que medida é que um certo efeito de arrastamento pode ou não ter como consequência a constituição de uma resposta emancipadora à crise do capitalismo global, ou seja, que articulação têm estes movimentos com o paradigma da «revolução» e de que modo o reconfiguram.

participantes: Miguel Cardoso | Pedro Rita | José Soeiro | Manuel Loff | Paulo Granjo | Ricardo Noronha
Casa da Achada # sábado, 19 de fevereiro # 15h # entrada livre
organização UNIPOP e revista imprópria (ver localização aqui)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O povo está na rua e não se vê caos nenhum, é simplesmente a festa da cidadania

E viva a festa do soberano!!!

Aguardemos as cenas dos próximos capítulos...

...noutras paragens!

Os generais ou o caos

É assim que os opinion makers conservadores tugas estão a descrever a actual encruzilhada egípcia. Não sei se é papaguear dalguma cassete alheia (tipo Fox News), mas a coisa torna-se irritante, se tivermos em conta que 1) hoje é dia de festa para todos os amantes da liberdade e da democracia, 2) o dualismo não tem correspondência com nenhuma realidade histórica.

Primeiro, louva-se o povo nas ruas, corajoso e legítimo; uma vez deposto o poder fora de moda, dá-se o salto no discurso: o poder não pode cair na rua, senão é o caos. Mas o que é a rua? Simples: é a sociedade civil que tanto confusão faz a ditadores, militares e... opinion makers conservadores!

É preciso dizer que a oposição egípcia foi a votos em 2009, ao fim de 29 anos de poder autárcico e que, apesar dos resultados terem sido distorcidos por Mubarak, essa oposição foi assim reconhecida politicamente pela própria ditadura. Depois, dizer que um dos líderes oposicionistas, El Baradei (com uma frase memorável no seu twitter: «Egypt today is a free and proud nation»), é justamente reconhecido como um dos grandes quadros saídos da ONU. E a Irmandade Muçulmana, movimento islâmico, foi tão moderado no apoio à insurreição popular que passou despercebida! Os jovens adultos foram um (não o único) dos grupos sociais mais dinâmicos, como sucede em muitas mudanças políticas, nem mais nem menos, e não é a hipótese de não estarem organizados que lhes retira legitimidade e impacto.

Portanto, a questão não é a sociedade civil, mas sim o que os militares farão. Não esquecer que foram eles que apoiaram esta ditadura durante 30 anos. Resta agora saber que papel estão dispostos a representar: imporão a sua solução governativa ou serão a instituição que assegurará a transição do poder para novas elites políticas legitimadas pelo povo? Através do voto, claro, antes de Setembro, de preferência. Em eleições limpas, participadas e justas.

Há um problema no meio disto, que é o futuro da relação com Israel e EUA, mas isso não está no cerne da urgência de mudança exigido pelo povo egípcio, a julgar pelos múltiplos indícios difundidos pelos media, incluindo os árabes. Que o cinismo não vingue: não se misturem as coisas.

Tudo o resto, «caos», «poder na rua», é conversa bota-de-elástico. E para bota-de-elástico basta o Mubarak. By the way, onde pára o cromo?

Hora H no Egipto

É já hoje a investida popular sobre o palácio presidencial e outros edifícios oficiais. Povo e exército estarão então num frente-a-frente decisivo e dramático. O que farão os militares? Repressão? Tolerância? Diálogo? A seguir com ansiedade, na estação da hora.
Entretanto, Mubarak está já fora de jogo, resumindo, veio à tv pedir para que possa ser enterrado na sua terra. Até isso estava em perigo...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Iémen, a revolução que se segue

Enquanto na Tunísia a mudança alastra e no Egipto um poder cego lança as suas milícias contra o povo nas ruas, a revolta popular tornou-se irreversível no Iémen.
Tal como no Egipto, também agora o presidente que estava há 30 anos no poder diz com ar cândido que é contra mandatos vitalícios e por isso abandonará o poder (vd. aqui e aqui). Um discurso assim é sempre de desconfiar, até porque o ditador não desmarcou a apreciação parlamentar da sua revisão constitucional, marcada para a 1 de Março e susceptível de viabilizar uma eleição vitalícia do presidente e o poder hereditário (cf. aqui). E porque tem usado o dinheiro do povo para comprar lealdades e não para desenvolver o país. Por isso, o dia de hoje mantém-se como o Dia da Ira, apelando a grandes manifestações. Entretanto, a pressão popular e da oposição vai marcando pontos: o simulacro de legislativas que estava marcado para Abril foi adiado sine die, que exige uma reforma política séria antes da realização de eleições.
No Egipto, perante o aparente alheamento do Exército e a obstinação do ditador Mubarak em lesar o seu povo, a pressão popular e internacional aumentou dramaticamente nas últimas horas, dado o grau de violência das milícias governamentais (vd. acompanhamento aqui). Para sexta-feira está marcado novo dia de marchas a nível nacional, com o único fito de exigir a demissão do ditador. Será mais um ultimato pacífico.
Depois da Tunísia, o país-líder do contágio pela liberdade passou a ser o Egipto, como se pode ler nesta reportagem do El País.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O efeito dominó

Quem diria, apenas há umas semanas atrás, que a revolução tunisina iria contagiar toda a arábia? Ainda por cima, feita pelo povo, contra ditaduras que se eternizavam. Com coragem e dignidade. Com e pela internet e a Al-Jazira. Com e pela rua. Por direitos básicos, incluindo a paz e sem transições amnésicas.
Apesar de percalços perigosos, a liberdade está a passar por aqui...

sábado, 15 de janeiro de 2011

A Intifada do Jasmin (e a Wikileaks)

Segundo a Wikipédia, a Revolução do Jasmin é também conhecida pela "Revolta Sidi Bouzid" ou "Intifada de Sidi Bouzid". E porque não a "Intifada do Jasmin"? Intifada é um levantamento popular, e esta é-o na mais genunina das formas. Mas, por trágica que seja - e é - a morte de Mohamed Bouazizi, há algo de poético nesta revolta que começa pelo acto desesperado de um homem que se imola pelo fogo e acaba na queda da ditadura de Ben Ali. Se esta revolta se vai transformar em revolução é o que vamos ver nos próximos tempos. E já agora uma pequena questão acessória que me parece interessante: Qual a importância das revelações da Wikileaks sobre o regime de Ben Ali no desencadear desta revolta? Há pouco ouvi Mansouria Mokhefi (especialista em política do Margrébe) na BFM TV referir que as revelações da Wikileaks foram largamente retomadas pela blogosfera tunisina. Haverá uma ligação entre as duas coisas?

A revolução de jasmin

Foi preciso quase um mês de luta para derrubar 23 anos de ditadura na Tunísia. Caiu com dezenas de mortes, mas de modo pacífico pelo lado do povo. A luta foi por coisas simples: pão, trabalho, habitação, liberdade. O ditador, Ben Ali, fugiu e foi-se refugiar na Arábia Saudita. Onde é que já vimos isto?

Agora, o primeiro-ministro (e actual presidente interino) anunciou eleições dentro de meio ano.

Para o Magrebe e o mundo, é uma boa notícia. Os povos árabes têm aqui um bom motivo de esperança. Já os seus líderes têm um bom motivo de reflexão. Esta mesma opinião é avançada por estudiosos árabes. Melhor ainda; subscrevemos por baixo.

PS: para quem gosta de paralelismos, que tal pensar nesta frase dum manifestante: «Have you ever seeen!? A president who treats is people like idiots!!!».

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Quem tem medo do debate historiográfico?

Isto tudo começa na peça «A História de Rui Ramos desculpabiliza o Estado Novo?». Mas vai mais longe do que o mero registo, já agora, se dão licença...
Ao contrário do que parecem supor alguns jornalistas, nem todos os historiadores temem o debate historiográfico, ainda que tenham que recorrer a meios menos convencionais, como a blogosfera, para o relançar nos tempos actuais. A tal propósito veja-se este debate encetado no blogue Fuga para a Vitória, nos idos de 2006: «Modernidade, resistências e ambiguidades» e «Da natureza do salazarismo (revisão da problemática)». Ou, sobre a Guerra civil de Espanha, este post de resumo duma controvérsia à portuguesa: «Estavam mesmo a pedi-las, ou Luciano e a sua cruzada purificadora».
Outros espaços foram sendo ocupados em debate de ideias: assim de repente, lembro-me das revistas Ler História (nos seus tempos de juventude...), História (p.e., o debate sobre o acesso ao Arquivo da PIDE/DGS) e Vértice (p.e., sobre a natureza do regime de Salazar e Caetano). Já para não falar dos inúmeros congressos, colóquios, encontros e afins que marcaram este último trinténio.
Para rematar, dizer apenas que mais uma vez o debate está a ser muito afunilado pelos media mainstream, esquecendo-se outras obras entretanto saídas e como um confronto conjunto poderia dar um debate bem mais interessante. Para dar alguns exemplos, de âmbito também geral, iniciou-se uma inédita história de Portugal de António Borges Coelho, cujo 1.º de 7 volumes se intitula Donde Viemos. De âmbito mais circunscrito, porventura onde o debate é mais profícuo, temos um número considerável de novas obras sobre a I República, até agora o período mais mal estudado do século XX português. E o alcance desta produção pode ser tal que arriscamo-nos a que o período menos conhecido passe a ser o pós-25 de Abril...

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um livro para ajudar a esclarecer a história recente

»«

Falo de Álvaro Cunhal, sete fôlegos do combatente. Memórias, de Carlos Brito, hoje mesmo lançado em Lisboa.

Pelo que pude ler das primeiras impressões (p.e., aqui e aqui), este testemunho ajudará a esclarecer a história recente de Portugal através duma espécie de dupla 'viagem' biográfica, a do autor e a de Álvaro Cunhal, ambos dirigentes do PCP durante o meio século abordado na obra. Se outro contributo não tivesse, este já seria meritório. Mas parece-me que o livro vai mais além, permitindo ter uma versão mais desapaixonada e distante da história dum partido político que suscita controvérsias pontuais e emoções fortes junto de muitas pessoas. E também contribuirá para esclarecer a posição deste partido num período histórico sobre o qual paira ainda muitas sombras e pouca prova documental diversificada, que é o do PREC. Mais inf. neste post de Nuno Ramos de Almeida.

domingo, 2 de maio de 2010

Grupo de Acção Cultural: a música da revolução

Há alguns meses que queria escrever sobre este grupo que juntou parte dos melhores músicos dos anos 70, com José Mário Branco à cabeça, num projecto de composição e canto colectivo no período revolucionário. Agora surgiu o pretexto ideal: a publicação em 4 cd's da discografia (quase) completa, i.e., abrangendo os 4 lp's saídos entre 1974 e 1978: «A cantiga é uma arma», «Pois, canté!», «Vira bom» e «Ronda da alegria!!» (chancela da i play). Toda a informação sobre esta edição atribulada mas de grande oportunidade musical aqui. E digo oportunidade dado o contexto actual de recuperação da memória de tempos cidadãos (incluso nos concertos Três Cantos) e porque as novas gerações estavam sem acesso a essas músicas, uma vez que só existia edição em vinil (e umas quantas audições fanhosas no youtube, como esta, esta e esta).

domingo, 25 de abril de 2010

Casas decentes para todos!

Olá! E eis que passados 36 anos sobre a revolução de Abril surge uma inesperada reportagem de media mainstream sem visão acusatória sobre o movimento de moradores e a questão da habitação no período revolucionário. Chapeau! A reportagem em apreço chama-se «As casas que o povo quis», é de Luís Francisco, saiu no Público de hoje e tem ainda a proeza de fazer a ponte entre passado e presente.
Novamente, só a versão impressa tem o texto integral, mas aqui pode ficar-se com um cheirinho.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Em caso de dúvida, marque tripla

ps: já agora, um blogue com inf. útil para acompanhar, pelo menos durante este ano...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Anos 70 – Atravessar Fronteiras

Cai o pano sobre a mostra  Anos 70 – Atravessar Fronteiras, dedicada à arte portuguesa duma década algo esquecida, ou desvalorizada. É hoje o último dia para se poder apreciar esta revisitação alargada, comissariada por Raquel Henriques da Silva e patente na FCG.
A visão panorâmica que nos é dada é enriquecedora, tal como a contextualização e a diversidade de suportes e artistas; plus, há obras pouco vistas, como as colagens irónicas de Eduardo Nery e Artur Varela.
Depois, há René Bertholo, com as suas máquinas lúdicas, António Costa Pinheiro com uma inesperada Citymobil (1967/8), Ana Harthely com as suas icónicas Ruas de Lisboa (mas, estranhamente, sem um vídeo sobre o PREC que antes estava no CAM), Emília Nadal e o seu detergente ideológico para brainwash (Skop, 1979),  João Abel Manta e as suas incontornáveis caricaturas sobre a ditadura, o mural de Belém de 1974 recuperado a partir de fotos de Novais. Mas há mais: Lurdes Castro, Álvaro Lapa, António Palolo, Alberto Carneiro, Rogério Ribeiro, Paula Rego, Helena Almeida, as performances de E. Melo e Castro e Alberto Pimenta, etc., etc..
De Nikias Skapinakis escolhi a imagem que ilustra o post, uma reprodução do quadro Delacroix no 25 de Abril em Atenas (1975).
Para quem quiser dar uma vista de olhos nalgumas das obras pode ir aqui.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Palma Inácio, o último romântico aventureiro da resistência (1922-2009)

Era uma das figuras lendárias da resistência antifascista portuguesa, com merecimento. Faleceu hoje, aos 87 anos de idade.
Hermínio da Palma Inácio começou cedo a sua luta antiditatorial. Tinha 25 anos quando participou numa tentativa de deposição de Salazar, a Abrilada de 1947. Foi dos poucos a cumprir a sua parte, sabotando 20 aviões da base aérea de Sintra. Fracassado o golpe, passou à clandestinidade, mas seria preso em Setembro. Por pouco tempo: consegue fugir do Aljube 8 meses depois, numa fuga aparatosa. Refugia-se temporariamente em Casablanca, daí partindo para os EUA, onde tira o brevet de aviador civil. Pressionado para ser deportado, escapa-se para o Brasil, onde conhece Henrique Galvão e Humberto Delgado, ex-tenentes do 28 de Maio, bem como outras figuras ligadas ao anti-salazarismo.
É aquele brevet que abrirá portas para o 1.º acto de pirataria aérea internacional, desviando um avião da TAP que fazia a ligação Lisboa-Casablanca, aproveitado para o lançamento de folhetos anti-Salazar sobre Lisboa e várias cidades do Sul, no final de 1961, já depois do início da guerra colonial.
Antes, dera-se o assalto ao paquete Santa Maria, o 1.º acto de pirataria marítima internacional. Nele participaram Galvão, Camilo Mortágua e antifranquistas, todos eles ligados ao DRIL- Directório Revolucionário Ibérico de Libertação.
Palma Inácio identificava-se com esta faceta da resistência antifascista, na sua opção pela ousadia e a acção armada, e no seu relativo distanciamento face ao comunismo, que então inspirava grande parte dos movimentos guerrilheiros.
Seja como for, e dado o seu gradual afastamento face a Delgado e Galvão (que pontificavam no Brasil), dedide retornar à Europa para formar uma organização revolucionária ligada à acção directa, a Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR). A LUAR estreia-se com o assalto à dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz, em 1967, arrebanhando 30 mil contos (hoje, 150 mil euros), uma maquia então avultada. Detido pela Interpol, em Paris, é solto pouco depois, dado que o tribunal considerou o acto um assunto político.
No ano seguinte, e apesar das desavenças com outro correligionário, Emídio Guerreiro, resolve entrar de novo em Portugal e ocupar a Covilhã, ponto estratégico para uma acção de guerrilha inspiradora duma insurreição geral. Falha, é de novo preso, e de novo volta a escapar-se, para Espanha. Aí é preso, sendo libertado um ano depois. De França regressa a Portugal, em 1972, para nova operação audaz (o rapto de figurões do regime), mas é de novo detido. Dos calabouços só sairá com a revolução de 1974. Nesta fase, deixa de se identificar com a linha assumida pela LUAR e inscreve-se no PS, mas abandonando em definitivo a «política activa».
A 1 de Maio de 2007 fora-lhe prestada uma homenagem, com uma mostra documental e a atribuição do seu nome a um largo da sua vila natal, Ferragudo.
Para mais detalhes vd. entradas específicas no Dicionário de história do Estado Novo (esta feita por moi-même!) e no Dicionário de história de Portugal (suplemento) e a reportagem «Radiografia de um golpe de charme», por Paulo Moura.
Nb: imagem retirada daqui.