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domingo, 23 de janeiro de 2011

Do horror

O escritor sueco Stig Dagerman colocou à entrada do seu romance A Ilha dos Condenados a seguinte epígrafe: «Há duas coisas que me enchem de horror: o carrasco dentro de mim e o machado por cima de mim.»

Também no meu país há muita gente cheia destes horrores. E ainda outros: a mesquinhez e o ressentimento exibidos na hora da vitória, a hipocrisia, a má fé, a indiferença perante o destino colectivo.

Mas…

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Muda o disco e toca o mesmo

Uma peculiar relação com a despesa pública: vós poupais, eu gasto, a imprensa amocha, a coisa passará incólume.

As ligações perigosas de Cavaco: um esclarecimento definitivo, se ainda fosse preciso, sobre a particular fixação de um político não-político numa coisa distante chamada BPN, e que se declina em compra-vende, 140% e vivenda BPN.

A ideologia de Cavaco: o lugar da mulher na vida pública é... na cozinha, e, vá lá, no larzito, a cuidar da prole numerosa...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Se isto é lealdade institucional, ou «cooperação estratégica», vou ali e já venho...

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Que falta de chá medonha, credo!

A gestão do BPN, agora criticada por Cavaco Silva, foi entregue à Caixa Geral de Depósitos, após a nacionalização do banco, há dois anos. Faria de Oliveira, o presidente da Caixa, nomeou então dois administradores do banco público para a liderança do BPN, Francisco Bandeira e Norberto Rosa. Tanto Faria de Oliveira como Norberto Rosa fazem parte da comissão de honra da candidatura presidencial de Cavaco Silva. [notícia da RTP]

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Se o ridículo matasse...

Embalado pela campanha eleitoral, o presidente Cavaco Silva decidiu multiplicar-se em acções em prol dos pobrezinhos, indo a casamentos de sem-abrigos, lanches com idosos em lares, admoestações contra a existência de pobreza, etc.. Como o acussassem de eleitoralismo, respondeu que «a pobreza é uma preocupação sua desde o início do mandato». Sim, sim, porque os pobres também podem e devem ser competitivos, ter empreendedorismo (sobretudo os sem-abrigo, que andam dum lado para o outro todos os dias), etc. e tal.

Lembrei-me de ir ver então os seus discursos. Comecei pelo primeiro, que, a certa altura diz «Caros concidadãos»... Cá está a prova! É que concidadãos também inclui pobres e sem-abrigo. Certo?

«Penso eu de que».

terça-feira, 13 de abril de 2010

Novo blogue para reflectir à esquerda


Ele aqui está, a somar a outros anteriores*. Com bons textos, bom grafismo e bom ideário! Que mais se pode pedir?

*p.e., ops! revista de opinião socialista e Manuel Alegre.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Um candidato para o futuro

Com o discurso de hoje, Fernando Nobre é o 3.º candidato presidencial independente que se afirma como representando a sociedade civil nestes 36 anos de liberdade reconquistada em Portugal. Os anteriores tinham sido Otelo Saraiva de Carvalho e Maria de Lurdes Pintasilgo*.
Embora Manuel Alegre não tenha este perfil, pois é militante co-fundador do PS, ele assumiu-se desde 2006 como um candidato da cidadania e pró-democracia participativa. Além disso, tem outros pontos a favor: 1) fez um acompanhamento crítico da governação desde então; 2) foi um defensor da intenção mais democrática do texto constitucional enquanto deputado (ainda que pouco activo fora disso); 3) lançou um movimento cívico (o MIC), no qual apresentou propostas de convergência para uma esquerda solidária e pró-activa e análises críticas de políticas públicas (basta ver a revista de opinião socialista Ops! ou manifestos sectoriais como este); 4) colaborou em plataformas de convergência unitária à esquerda.
Ora, nada disto consta do cv de Fernando Nobre, além de ser monárquico assumido... Todavia, a sua actividade filantrópica, enquanto presidente e co-fundador da ong AMI (Assistência Médica Internacional) tornou-o conhecido e um dos principais activistas da sociedade civil organizada. Isso confere-lhe a dimensão de alguém empenhado e com experiência na resolução de problemas da sociedade, com uma visão humanista da vida, apartidário mas que assume valores, princípios e compromissos solidários e cívicos (outros prós e contras de ambos os candidatos podem ser lidos aqui).
Em suma, a sua não é uma canditatura viável para 2011 mas pode ser-lhe útil que entre já, por permitir-lhe granjear experiência e espessura política para uma opção mais séria em 2016. Apesar de ser um candidato que os soaristas procuravam para ajustar contas com Alegre, e de poder retirar votos essenciais a Alegre para uma vitória eleitoral, seja na 1.ª ou na 2.ª voltas. Enquanto manobra de diversão do sector soarista acaba por encerrar um parodoxo irónico: é um indício mais do esgotamento duma certa forma de fazer política, monopolizada pelos directórios partidários, em circuito fechado, auto-centrado e de conflitualidade amiúde narcísica e vazia.
*Manuela Magno em 2006 viu anulada a sua candidatura por razões formais, pelo que não conta.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Depois das parlamentares, as autárquicas

É verdade, o ciclo eleitoral 2009 ainda não terminou em Portugal: faltam as autárquicas, a 11 de Outubro. Até lá, nova campanha, agora com novos figurantes, folclore redobrado e mais sondagens... Como gostamos de eleições, resolvemos dedicar-lhes uma nova série de cartoons. Esperemos que gostem!

Ontem, Zé Socas fez bem em puxar para o palanque «extraordinário» o seu candidato alfacinha, António Costa, pois as coisas não estão nada de feição para ambos, apesar dos corações bem intencionados. Pelos resultados destas eleições, Costa perderia a câmara para a coligação PSD/PP: 40,4% contra 34,8. Aqui está uma má notícia para a esquerda: é que a pressão para o «voto útil» à esquerda vai voltar e em força. De pouco adiantará dizer que os putativos vereadores do BE e CDU possam ser cúmplices construtivos duma governação séria, ou oposição crítica a uma má governação. Precisarão mesmo de fazer boas campanhas, começando por 'marcar' taco-a-taco Costa e Lopes, que, mesmo em tempo de eleições legislativas, não pararam de mandar propaganda para os media. E, talvez, esperar que as sondagens se alterem alguma coisa. Ou não. A ver vamos.

A vez do parlamento, num quadro político menos abafado

Com os resultados das eleições parlamentares de ontem, Portugal acordou com um ambiente menos abafado. Muitos resumos taxativos foram já emitidos, todos redutores, claro. Proponho um exercício diferente: a aplicação da teoria do «copo meio cheio, copo meio vazio» (que até condiz bem com a vivência destes momentos...).
Assim, na versão «copo meio cheio» todos venceram: o PS porque ficou na frente; o PSD porque teve +deputados (3), votos (c.6 mil) e percentagem (29,1%, em vez de 28,8); a CDU idem (1/ c.14 mil/ 7,9% em vez de 7,6); o CDS idem (9/ c.177 mil/ 10,5% em vez de 7,3); o BE idem (8/ c.93 mil/ 9,9% em vez de 6,4).
Na versão «copo meio vazio», o PS vence, mas por pouco (perde a maioria absoluta e meio milhão de votos e tem a 2.ª vitória mais baixa desde 1975); o PSD porque assumiu a derrota dum modo que revelava expectivas injustificadas, dada a péssima campanha (arrebanhando um dos piores resultados do seu historial); a CDU porque desce para 5.ª força; o CDS porque não consegue fazer uma coligação maioritária de direita; o BE porque não conseguiu ser a 3.ª força, nem formar maioria com PS e porque ficou aquém das expectativas íntimas de muitos.
Algures, o veredicto de cada um de nós combinará partes disto. Já o dos comentadores encartados dos media tem tendência a inclinar-se para o conservadorismo e os «srs. responsáveis», como lhes chama Rui Tavares.
Além disso, em termos factuais, a bipolarização erodiu-se bastante, e com ela o «voto útil» (embora este ainda tenha funcionado à esquerda, sobretudo quanto às expectativas existentes); a maioria eleitoral continua de esquerda, c.57% dos votos e 60% dos deputados (isto, claro, se inserirmos o PS neste segmento), ligeiramente menor mas mais à esquerda (como realça o Renato, esta teve +de 1 milhão de votos), devendo ser aí que se deveria procurar entendimentos (por muito difíceis que sejam, e devendo ser o PS a fazer convites); e a direita radicalizou-se, com o CDS a reforçar-se significativamente, permitindo-lhe ser parceiro para maioria absoluta.
Outro mito que ruiu: muitos insistiam em dizer que o sistema eleitoral português é anti-maioria absoluta. Discordo: ele é sobretudo a favor da bipolarização. Ora, vejam-se os resultados eleitorais e o modo como os partidos mais pequenos têm muitos menos deputados.
Nb: faltam apurar os resultados dos círculos da emigração, mas que não deverão alterar significativamente este panorama; a imagem é de miss red.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Prognósticos...

Em final de campanha, o corropio de palpites domina o espaço público. Há-os para todos os gostos. Evitemos os mais hipotéticos, porque só temos um post para isto (não, não é racionamento, é economia pessoal).
Os cenários mais prováveis são: 1) governo minoritário PS, com acordos pontuais; 2) Bloco central; 3) governo de direita. Tudo o resto é delírio ocioso, atendendo ao contexto.
Como o primeiro será o mais provável, aqui vai: Guterres I (1995-99) em versão reloaded. Ou seja, com acordos aqui e ali, mais à direita do que à esquerda (foi isso que então ocorreu, e repetiu-se em Sócrates I, mesmo tendo maioria absoluta), mas durando uma legislatura inteira e tendo obtido ganhos relevantes nas políticas social e cultural. Por muito que doa a Vital Moreira, que veio na 3.ª feira* anunciar o apocalipse no Público que o PS tanto incensa, é o melhor que lhe sairá na rifa (entretanto refez o sermão: é conforme o freguês e a quebra de lucidez).
Como inesperadas transferências de voto são pólvora rara (e, por estes tempos, estoirada nas europeias), a única certeza é que murchou de vez o Marquês de Pombal recauchutado. Na próxima reencarnação, quando muito, teremos um Intendente Pina Manique reloaded. E já não é mau, que o homem parece que também tinha uma costela benemérita... É o que há, por ora...
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*Vital Moreira, para a posteridade próxima: «embora seja possível a formação inicial de governos minoritários, a sua sustentabilidade é escassa [...] trata-se de governos enfraquecidos, sempre na iminência de serem desfeiteados no Parlamento e, até, de serem obrigados a executar políticas aprovadas pela oposição contra si. [...] Os únicos governos que garantem a estabilidades e consistência governativa são os governos monopartidários dotados de maioria parlamentar. Nenhuma outra solução governativa pode dar garantias iguais ou aproximadas. Ou são governos efémeros, ou governos fracos, ou ambas as coisas».

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Políticas públicas: as propostas partidárias em tempo de campanha

Depois dos 10 debates televisivos, que permitiram vislumbrar perspectivas genéricas dos programas partidários, a campanha para o parlamento português tem patinado num cornucópia de casos. Ao precedente caso TVI sucedeu a polémica em torno da 'imunidade' madeirense à asfixia democrática; à discórdia em torno do TGV sobrepôs-se a alegada compra de votos nas eleições internas do PSD. E a coisa irá continuar.

Mas há mais vida para lá do casuísmo, por muita luz que este possa trazer quanto a atitudes e posicionamentos políticos e éticos face à vida pública. Por isso, é de aplaudir a preocupação dalguma imprensa (e dalguma blogosfera, onde sobressai o Ladrões de Bicicletas) em aprofundar o debate, divulgando declarações dos partidos parlamentares sobre várias políticas públicas.

Em Agosto, o Jornal de Negócios deu o tiro de partida, como bem destacou Ricardo Paes Mamede (posts I e II).

O Público seguiu-lhe as pisadas esta semana, com a rubrica «Partidos respondem às perguntas do PÚBLICO» (no início chamava-se «Líderes partidários respondem às perguntas do PÚBLICO»). Até agora centrou-se na política económica e suas declinações. Como tem interesse, deixo aqui a lista de temas até hoje:

2.ª) política macroeconómicaHá cada vez mais sinais de que a pior fase da actual crise internacional já terá passado. Que política macroeconómica é que defende como forma de potenciar o previsível período de retoma que se seguirá?»);

3.ª) política de empregoApesar da melhoria que é esperada, o desemprego, por reagir mais tarde, deverá manter-se em crescimento ainda durante algum tempo. Que soluções alternativas às actuais defende como forma de protecção dos desempregados?»)

4.) política de apoio às PMEAs pequenas e médias empresas são as que mais empregam e mais contribuem para o crescimento económico. Indique as três prioridades que defende para apoiar estas empresas?»)

5.ª) política fiscal (introduzida dum modo algo enviesado: «Quais considera serem as condições mínimas para ponderar uma baixa de impostos?»)

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Quando o humor inesperado esmiúça a campanha, e tem um ar revolucionário, dá confusão na certa

Foi o que sucedeu esta tarde à dupla «Homens da luta», na sessão de campanha de Zé Socas no Seixal. A coisa deu balbúrdia tal que a sessão acabou mais cedo (ver vídeos aqui e aqui; notícia aqui).

«Homens da luta» são, entre outros, o cantor Neto (aka Jel) e o músico Falâncio (aka Nuno Duarte), cujo singularidade humorística reside em andarem pela rua a improvisar canções de nonsense revolucionário, de megafone em riste e guitarra, e em provocarem as pessoas com isso. O programa que os projecta, «Vai Tudo Abaixo: os Homens da Luta», já tem anos, passa actualmente no Sapo Vídeos, estreou-se na SIC-Radical e tem resmas de vídeos na Internet. Mas há quem não dê por isso e não tenha sentido de humor.

Já agora, e para quem os quiser conhecer melhor, aqui fica uma dica: a canção «E o povo, pá?».

domingo, 13 de setembro de 2009

10 debates depois...

... ficámos mais informados sobre os programas e a perspectiva dos líderes dos principais partidos a votos. Nesse sentido, todos os líderes ficaram a ganhar. Quem neles queria ver um meio expedito para poupar trabalho e esclarecimento, pode tirar o cavalinho da chuva. Os debates não só foram equilibrados como não decidem nada por si mesmos: apenas são mais uma referência para reflexão.

O último debate, que opôs os líderes do centrão, não fugiu à regra. É claro que cada um usou a táctica que julgou mais conveniente. O actual premiê achou que ganharia mantendo a sua pose arrogante e agressiva, versão «moderada». Como se confirmou neste debate, aquele que teimava em fazer oposição à oposição por esta ser «maledicente», resolveu ser ele próprio a abusar da maledicência (como bem nota Daniel Oliveira). Assim conseguiu pôr os seus oponentes em guarda (e obter um ou outro deslize) mas daí resultou que foi o que menos expôs o seu programa. Se calhar não lhe convinha: é mais do mesmo... Na ânsia de arrebanhar votos, Sócrates conseguiu um inédito: despachar em directo os seus ministros, dizendo que, se ganhar, convidará novas caras, isto para dar um ar de renovação, de homem moderno, atrevido e ousado. A coisa foi tão exagerada e ambígua que hoje já teve que refazer a pintura.

Do debate há a reter alguns pontos. O 1.º remete para a segurança social: Ferreira Leite assumiu que manterá a recente reforma da mesma, para manter a confiança das pessoas, embora a tenha criticado por assentar no prolongamento do tempo de trabalho e na redução das reformas (daqui a 10-12 anos será apenas c.50% do salário bruto, enquanto antes era 70-80%). Assim marcou pontos no terreno do adversário, que não soube retorquir. Por sua vez, Sócrates esteve bem em trazer à colação o papel do Estado, em geral e numa situação de crise em particular. A sua resposta assenta na manutenção dos serviços públicos na saúde (embora queira cortar na ADSE), educação e segurança social, em geral, e no investimento em grandes obras públicas e apoios às PME's e pessoas mais carenciadas, para o segundo. A líder do PSD contrapôs a prioridade absoluta no apoio às PME's, e descartou as grandes obras por achar que há pouco dinheiro e o que há deve ir para as PME's. Denunciou a pressão espanhola para Portugal avançar no TGV, pois só uma linha transfronteiriça terá mais apoios comunitários. Mas fê-lo dum modo um quanto exagerado (o outro deslize foi quanto à desistência de portagens nas SCUT's). E criticou o rol de auto-estradas que o PS quer continuar a construir. É a lógica do fontismo a ser recusada por um dos seus antigos apoiantes...

Já a relação entre Estado e sociedade civil é resumida, pelo centrão, ao estímulo à iniciativa privada. De fora ficou mais uma vez a economia solidária, um vector relevante da sociedade que, porém, não foi esquecido pelos restantes partidos. O BE e a CDU pretendem mais apoios ao associativismo, em especial ao cooperativismo (sendo o programa da CDU mais detalhado: vd. p.17). O CDS propõe o recurso às misericórdias para reforçar a rede hospitalar coberta pela prestação pública e para certas consultas e operações, como as oftalmológicas (nb: não consegui aceder ao programa do CDS).

Na imagem: símbolos de partidos concorrentes às eleições parlamentares de 1975, retirada daqui.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Até que enfim - os esmiuçadores chegam já na próxima 2.ª!


quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Dêmos as mãos, mas cuidado com os papões

Foi um debate intenso aquele que opôs Sócrates a Louçã, mas também crispado. E a crispação, provocada pelo actual premiê, serviu uma estratégia, a de impor-se pela agressividade e a atemorização, procurando assim estancar a fuga de votos para o BE e evitar a repetição do desfecho das eleições europeias.

O conflito de personalidades que lhe subjaz diz mais da atitude de certas elites do que propriamente do eleitorado, mais poroso, comprovado na votação presidencial de Alegre e nas últimas eleições europeias (e como referiu André Freire em comentário na RTPN). Mas é justamente por ser poroso que o premiê resolveu ser agressivo como foi.

Sócrates preocupou-se mais em tentar descredibilizar e desqualificar o BE do que em apresentar as propostas do PS. E fê-lo não só pela estafada dramatização do «voto útil» (ou nós ou vem a direita; os resultados das europeias mostram que, apesar do PS ter perdido, a direita ficou apenas com 40%) como tentando provar que o BE é um partido radical, e, surprise!, um autêntico papão da classe média. Aqui foi ainda mais insistente do que com Portas, apresentando a proposta do BE de eliminação das deduções fiscais em sede de IRS como sendo um ataque à classe média. De nada valeu Louçã explicar que assim não era pois o BE propunha em paralelo a gratuitidade do acesso à saúde (extinguindo as taxas moderadoras) e educação (acabando com as propinas e ofertando os livros escolares) e a substituição dos planos de poupança reforma (vulgo PPR's) pela revalorização do aforro público (que o actual governo esvaziou). O líder do PS achou por bem repetir a 'denúncia' mais 2 vezes, pelo menos (é claro que o tema seguinte era o desemprego...). E Louçã esteve bem quando referiu que o IRS é um «sistema cheio de armadilhas», um puzzle kafkiano talhado para peritos ou para quem se disponibilize a contratar 'assistência técnica' (contabilista, advogado, etc.), pois só assim se consegue aproveitar de forma completa e sem dores de cabeça.  Além da simplificação do sistema fiscal, o líder do BE defendeu ainda a necessidade dum imposto sobre as grandes fortunas, questão sobre a qual o PS é omisso. E devolveu os mimos a Sócrates, criticando o seu governo por falta de transparência e de rigor.

Outra 'denúncia' esgrimida por Sócrates foi a da alegada nacionalização da banca, seguros e energia proposta pelo BE. De nada valeu a Louçã referir que no programa estava tornar público ou reforçar a intervenção pública nestas áreas, dando como exemplo o facto da Caixa Geral de Depósitos dever reduzir as taxas de juro e tornar o crédito mais acessível para as PME (pequenas e médias empresas, o grosso do tecido empresarial) em vez dos esquemas com grandes empresários. Louçã criticou o facto da Galp ter sido privatizada por acordo directo com José Eduardo dos Santos e Américo Amorim, privilegiando interesses de poucos em detrimento das pessoas e das empresas, que têm de recorrer a energia mais cara fornecida em regime de monopólio privado; Sócrates justificou-se dizendo ter-se assim evitado «que a Galp caisse em mãos de estrangeiros», como se Angola ainda fosse uma colónia portuguesa. Outro caso de ajuste directo referido foi o do terminal de Alcântara, com Sócrates a dar novo tiro no pé dizendo que foi «a melhor forma de defender o interesse nacional».

Depois do ataque cerrado e das constantes interrupções, cortando o raciocínio ao oponente e ao arrepio das regras que impôs aos debates, o premiê pôs-se em tom de virgem ofendida acusando o BE de ter eleito o PS como o «inimigo principal» e de, em tempos de crise, apresentar com um programa radical, em vez de dar as mãos e pôr de lado essa coisa supérflua da alternativa política, imagina-se. Haja dó!

Louçã esteve ainda bem quando contrariou a euforia socrática do fim da recessão económica, dizendo que a recessão é o desemprego. O qual superou o meio milhão de desempregados, com certos grupos sociais sem protecção (jovens à procura de emprego ou com empregos de curta duração) ou com fraca protecção, como o caso do subsídio social de desemprego, que se fica pelos 240 euros num país em que o salário mínimo é de 450 euros. O único ponto de acordo foi o da necessidade de reforçar o investimento público para combater o desemprego (além da desastrada visita de Manuela Ferreira Leite à Madeira).

Em lugar de argumentar e expor, Sócrates privilegiou o ilusionismo e o amedrontamento. O aproveitamento da proposta de eliminação dos benefícios fiscais (que até o social-cristão Bagão Félix já quis acabar: vd. aqui um post oportunamente repescado por Daniel Oliveira) foi tiro ao lado. Já a má formulação programática do tema das nacionalizações, bem como a carga controversa que este ainda tem devido ao ocorrido no PREC, pode ter amedrontado algum eleitorado ainda indeciso. No geral, porém, o premiê pode ter ganho em termos de ofensiva, mas perdeu em termos argumentativos e de exposição do seu programa. Embora tenha sido o debate mais animado, não foi o mais esclarecedor.

E os comentadores pós-debate das tv's (SICN e RTPN), já por hábito predominantemente de direita, voltaram a sê-lo, o que se torna ainda mais ridículo sendo este um debate supostamente decisivo à esquerda, tal como bem relembram Bruno Sena MartinsDaniel Oliveira.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Arrancou o debate televisivo de eleições parlamentares, o 2.º desta era democrática

É isso mesmo, parece estranho mas é assim: o frente-a-frente televisivo de hoje entre os dirigentes partidários José Sócrates e Paulo Portas corresponde apenas à 2.ª edição na história da democracia portuguesa, enquanto relativo a eleições parlamentares em regime constitucional em que há duelos entre todos os candidatos com assento parlamentar. A anterior foi em 1999, e dela ficou de fora o Bloco de Esquerda, pois ainda não tinha representação parlamentar.
O debate foi interessante, conseguindo romper com as amarras de regras e regrinhas minuciosamente negociadas anteriormente pelos representantes partidários, impostas pelo partido ainda no poder. Parece-me que ganhou Portas, aos pontos, pois foi mais assertivo e directo. Do debate falarei noutro post.
Os comentadores encartados da SIC foram unânimes em considerar que este não era, porém, um debate crucial para o ainda premiê, por não estar em perigo a ponderação crítica do seu desempenho por uma parte relevante do eleitorado que antes votara no PS, apontando os debates decisivos como sendo os entre Sócrates e Louçã e entre Sócrates e Ferreira Leite.
Para informação útil, deixo aqui o calendário dos restantes debates, todos neste mês, e respectivas tv's transmissoras:
– Louçã-Jerónimo (5.ª, 3, SIC); Sócrates-Jerónimo (sáb., 5, TVI); Louçã-Ferreira Leite (dom., 6, TVI); Portas-Jerónimo (2.ª, 7, SIC); Louçã-Sócrates (3.ª, 8, RTP); Ferreira Leite-Jerónimo (4.ª, 9, TVI); Portas-Ferreira Leite (5.ª, 10, RTP); Louçã-Portas (6.ª, 11, RTP); Ferreira Leite-Sócrates (sáb., 12, SIC).