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segunda-feira, 26 de julho de 2010

Músicas do mundo disponíveis na internet

Chama-se World Music Archive e é uma nova página da rádio pública inglesa que disponibliza gratuitamente um precioso acervo de programas e gravações dedicado às músicas do mundo, registado pelos jornalistas da BBC3.

Basta um simples toque no rato do computador para acedermos a um «fakir sufi, Saina Zahoor, a tocar a sua tumba, instrumento de três cordas, em Pakpattan, no Paquistão; [aos] coros masculinos da Geórgia, interpretando canções com 2000 anos; [à] música dos pigmeus Baka, nos Camarões, ou ao gamelão de Java e Bali», como refere Mário Lopes. Ou ao grande Ali Farka Touré...

Resta dizer que já há alguns anos atrás a mesma BBC3 disponibilizava gratuitamente o acesso ao registo áudio de programas e dos concertos do seu excelente festival de músicas do mundo intitulado WOMAD-World of Music and Dances. Em 2006 chamei a atenção para um desses concertos imperdíveis, dos fabulosos Bajofondo Tango Club, uma banda de mais de 20 músicos argentinos e uruguaios das margens do Rio de Prata que mistura tango, electrónica e o que mais lhes der na gana.

Além deste, sugiro a audição dos concertos dos congoleses Ba Cissoko, do indiano  Purbayan Chaterjee, do maliense Salif Keita ou dos beninenses Orchestre Poly-Rhythmo de Cotonou. Não percam, por nada deste mundo!!!

domingo, 12 de julho de 2009

Ensaio sobre a «cornice»


Há mais de uma semana que parte da imprensa nacional e estrangeira gasta tinta e energia a tentar resolver um enigma: que raio é que quis dizer Manuel Pinho quando levou os dois indicadores espetados à testa, em plena sessão parlamentar?
Este poste é um subsídio para tentar resolver a magna questão que inspirou uma peça de antologia da BBCnews aqui. Li o texto imaginando-o recitado por um daqueles apresentadores vestidos com uma camisa de mangas curtas e calções que costumam aparecer nos documentários da National Geographic e com um daqueles esplêndidos sotaques adquiridos nas public schools. Neste caso o objecto documentado é uma particularidade dos costumes da fauna mediterrânica. Não falta o douto comentário do correspondente da BBC em Roma nem o depoimento de um editor de política do Diário de Notícias.
O texto não esgota no entanto todas as interpretações possíveis de um gesto que em Portugal possui grande densidade simbólica. Há uns anos um aluno de Direito de Lisboa, em pleno em exame, virou-se para o professor e perguntou-lhe: «O professor está a marrar comigo? Por que é que não vai antes marrar com o comboio de Chelas?» Apanhou um ano de suspensão. Neste caso o aluno sentiu-se acossado, tal como Pinho. A diferença é que o ministro da Economia, ao contrário do aluno, ocupava o lugar de poder. O gesto para Bernardino Soares, dirigente do PCP, pode também significar que Pinho lhe chamou «diabo». Se foi essa a intenção, a ofensa é ambígua, pois O Diabo foi um justamente prestigiado jornal da esquerda intelectual nos anos 30. Se Pinho chamou a outra pessoa diabo é porque se viu a si mesmo no lugar de Deus. Bendita portanto a demissão, em nome do Estado laico.
Muito haveria a reflectir sobre o sentido dos cornos e apercebo-me agora a falta que me fez não ter lido Nos Cornos da Vida, de Beatriz Costa, um relato autobiográfico com o qual certamente todos teríamos a aprender e que desde já recomendo a eventuais correspondentes da BBC que voltem a escrever sobre o tema.