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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ai que confusão vai nessas cabeças...

Até custa dizê-lo, de tão óbvio, mas aqui vai: sexo oral não é sinónimo de escravidão, e muito menos de escravidão pelo tabaco!!!
A quem achar estranho esta alusão faça favor de ir ver esta campanha francesa alegadamente pró-não fumadores (mais informações aqui).
Nós, que não perdemos uma campanha, aqui lavramos o nosso protesto, essencialmente por razões lógicas... e estéticas (o kitsch já era, meus amigoze).

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

São quase todos pretos, Ou quase pretos, Ou quase brancos quase pretos de tão pobres

O Haïti é aqui!
Nada como uma catástrofe natural para por a nu as desigualdades; não me lembro de exemplo mais claro do que este sismo no Haïti.
A primeira república de negros, escravos que se revoltaram e declararam a sua própria libertação quando a Revolução Francesa ainda hesitava se haveria de abolir a escravatura ou não. Em 1794 a revolta dos escravos na então Saint Domingue levou à abolição de facto da escravatura antes que ela fosse declarada oficialmente em Paris. Toussaint Louverture foi o líder que começou a organizar um estado digno desse nome na então próspera colónia francesa. Quer dizer, próspera para os 30000 colonos brancos, mas autêntico inferno para os 500000 escravos negros. Quando Napoleão Bonaparte decidiu re-estabelecer a escravatura (1803), os ex-escravos recusaram o regresso à antiga condição, e venceram o exército de Napoleão (chefiado pelo seu cunhado). Toussaint Louverture, esse foi preso pelos franceses e não sobreviveu: primeira das tragédias do Haïti, mesmo antes de nascer. Mesmo sem Louverture a República do Haïti foi declarada em 1 de Janeiro de 1804. Pagaram caro a ousadia, pagam ainda hoje. A génese do Haïti só pode parecer bela para os idealistas que ignoram a realidade e as coisas práticas. Por exemplo, em 1825 para que a França reconhecesse a independência e renunciasse à soberania da antiga colónia, o Haïti teve que pagar 90 milhões de francos-ouro (inicialmente o valor era de 150 milhões), o que demorou mais de 60 a pagar e com as consequências que se pode imaginar nas finanças do país. O Le Monde publicou um excelente artigo sobre a história do Haïti, que talvez ajude a perceber como chegaram as coisas ao estado actual. Talvez esteja na hora de, finalmente, a comunidade internacional dar uma mão ao Haïti.

Deixo o link para mais duas organizações, a acrescentar a muitas outras, que procuram donativos para colaborar na ajuda humanitária ao Haïti: a HERO, para as necessidades imediatas, e a fundação "Architectes de l'urgence" para o esforço de reconstrução, que esperemos não tarde muito (pode ler-se aqui uma entrevista do presidente desta organização).

A foto é retirada do Flickr de Carel Pedre, um jornalista Haitiano, que tem conseguido manter-se ligado com o mundo através da internet.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Memória da escravatura

Comemora-se hoje em França o fim da escravatura, em referência à segunda e definitiva abolição da escravtura em França. Segunda, a de 1848, porque já durante a Revolução Francesa a escravatura tinha sido abolida (1794) para depois ser re-estabelecida em 1802. Quem, senão o Bonaparte seria capaz de tamanha enormidade? Essa enormidade conduziu aliás à revolta dos escravos e independência do Haiti. A 27 de Abril de 1848 foi decretada então a abolição da escravatura no território francês, mas a data de 10 de Maio foi escolhida por a nesse dia de 2001 ter sido aprovada a lei Taubira, que declara a escravatura como um crime contra a humanidade. No entanto há um movimento que pretende a comemoração do fim da escravatura a 23 de Maio, e não a 10. Este movimento é composto essencialmente por franceses oriunudos das Antilhas, por regra franceses descendentes de escravos. A razão desta divergência é simbólica, e revela toda a importância dos "pequenos" simbolismos. Entre a aprovação e o decreto da abolição em Abril de 1848 e a sua aplicação efectiva passou algum tempo e os escravos tomaram conhecimento da abolição. A 23 de Maio, na Martinique, e a 24 de Maio, na Guadeloupe, e depois noutras colónias francesas, houve um levantamento popular dos escravos, o que levou os governadores das colónias a anteciparem-se aos procedimentos legais e admnistrativos e declararem a abolição sem serem cumpridos os trâmites, sob pressão popular. A questão que se discute é portanto a de decidir se se deve comemorar o dia em que as instituições da República, na capital, reconhecem o crime da escravatura ou se o dia em que os próprios escravos tomam consciência da sua liberdade, se erguem e ganham o seu primeiro dia de liberdade efectiva. Deve comemorar-se o ponto de vista do estado que foi esclavagista ou do ponto de vista do escravo que alcançou a sua liberdade? Pour moi c'est simple, c'est le 23 Mai!

Nota: O colectivo "Comité Marche du 23 Mai 1998" vai buscar o seu nome ao seu momento fundador, quando em 1998 pelo 150° aniversá do 23 de Maio, dezenas de milhares de pessoas, mais de 40.000 só em Paris, antilheses na maior parte, se manifestaram pela adopção de 23 de Maio como data para comemoração da memória da escravatura. A mobilização foi uma supresa para todos, a começar pelos organizadores.