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quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Em democracia o disparate é livre, James Watson faz bom uso!

Nesta polémica sobre o James Watson e as suas declarações racistas, o mais patético é de facto defender-se que é uma questão de liberdade de expressão. Que eu saiba ninguém emitiu um mandato de captura sobre o senhor, ninguém o amordaçou, ninguém o impediu de se justificar nas páginas de jornais de grande circulação internacional, num comunicado difundido pela Associated Press. Ninguém o impediu de pedir desculpas e no mesmo passo repetir, ainda que eufemisticamente, os mesmos argumentos eugenistas, ninguém o impediu de criticar o "wishful thinking" na Ciência e escrever um texto que é "wishful thinking" de alto a baixo. Politicamente correcto ou não há uma diferença entre criticar ou discordar de alguém e limitar a sua liberdade de expressão (nem acredito que estou a escrever coisa tão óbvia). James Watson diz o que lhe apetece, quem discorda dele tem o direito de expressar igualmente a sua opinião, foi o que aconteceu até agora. Aliás só quem nunca ouviu falar de Watson, ou quem tem andado distraido, pode achar que alguma a sua liberdade de expressão tenha sido desrespeitada. Se há uma pessoa que ao longo dos anos tem podido fazer comentários racistas, misóginos ou homofóbicos sem que ninguém lhe corte a palavra, esse alguém é James Watson. Foi ele quem disse que um mundo onde a engenheria genética tratasse de fazer todas as raparigas bonitas seria um mundo maravilhoso, foi Watson quem disse que os negros têm uma líbido superior à dos outros (sem qualquer base científica), foi Watson que disse que uma mulher a quem fosse diagnosticado geneticamente que o seu filho seria homossexual deveria ter o direito de abortar. Nunca lhe cortaram a palavra e ainda bem, em democracia o disparate é livre.
Ah, mas há os que se preocupam com o cancelamento das conferências que estavam programadas. Permitam-me que utilize um argumento que os liberais de direita não vão desdenhar: O Museu de História Natural de Londres, e as outras instituições, são livres de convidar e desconvidar quem bem entendem. Não é qualquer Joe Shmoe que tem o direito de apresentar conferências em instituições académicas. Apenas quem estas convidam, e convidam geralmente com base em critérios de excelência científica e intelectual. Se os convidados revelarem que o seu mérito não está afinal à altura da excelência exigida nada mais natural do que serem desconvidados. Será isto a censura posta em prática pela tirania do politicamente correcto? Eu próprio, sabe-se lá porquê, nunca fui sequer convidado para dar uma palestra no Museu de História Natural de Londres, muito menos desconvidado, serei eu vítima da censura do politicamente correcto? Não me parece...

Adendas:
1) Quem quiser ler sobre o real contributo de James Watson para a descoberta da Dupla Hélice, vale a pena ler este post do maradona (na sua nova casa), ou melhor ainda este de Greg Laden (obrigado Rui, pelo link).
2) O prémio do melhor post da semana na categoria "Importa-se de concluir o seu raciocínio s.f.f.?" vai para este post de Victor Cunha (descoberto através do post do maradona).

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Quem é o James Watson, anyway?

Como tinha prometido, aqui vai um post a dizer o que penso de James Watson. James Watson é um Dantas! James Watson é meio Dantas! James Watson permite-se dizer todo o tipo de barbaridades porque foi o descobridor da Dupla Hélice do ADN. James Watson pensa que foi o descobridor da Dupla Hélice do ADN. James Watson era um rapazito de 22 anos quando chegou a Cambridge para se juntar ao projecto em que Francis Crick, e Rosalind Franklin e Maurice Wilkins já trabalhavam há anos (a estrutura do ADN). James Watson mandou uns bitaites e apanhou boleia para o prémio Nobel. Para corroborar o que digo basta ler o livro "A Dupla Hélice" do insuspeito James Watson (o próprio). James Watson não produz nada de cientificamente relevante desde os seus 25 anos. James Watson é racista, James Watson é misógino. A James Watson permite-se que diga todo o tipo de disparates porque James Watson ganhou o prémio Nobel, por ter co-descoberto a estrutura em Dupla Hélice do ADN.

O que nos leva a uma questão porventura mais interessante: Qual é a importância da descoberta da Dupla Hélice? James Watson tem a chancela da autoridade científica por ter feito uma grande descoberta, mas ninguém sabe dizer o que tem de tão especial essa descoberta. É um excelente exemplo de como funciona a mediatização. Toda a gente sabe que é importante mas ninguém sabe porquê. Eu por acaso até acho que o modelo da Dupla Hélice está longe de ser a descoberta mais importante da Biologia Molecular (expliquei porquê aqui, aqui e aqui). A Dupla Hélice é famosa porque é uma imagem bonita, e isso faz de James Watson uma vedeta. Uma vedeta com ideias esquisitas que gosta de atrair os holofotes.