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sábado, 18 de julho de 2009

Nisto dos homossexuais serem excluídos da doação de sangue, há uma pergunta óbvia que deve ser feita

O Instituto Português do Sangue (IPS) exclui os homens homossexuais da doação de sangue. Ministério da Saúde alega agora que há estudos científicos que demonstram que a homossexualidade masculina é um factor de risco na transmissão de doenças por transfusão de sangue. Há uma pergunta óbiva, que ainda não vi ninguém colocar (seguramente distracção minha): Que estudos científicos são esses?
Gabriel Olim (presidente do IPS) repete a ladaínha das evidências científicas, sem nos dizer de que estudos científicos fala. Se por hipótese - no mínimo improvável - houver algum estudo empírico sério que demonstre que um homem ser homossexual, e não os comportamentos de risco, são predictivos da doação de sangue contaminado, então a posição do IPS é aceitável (Miguel Vale de Almeida e Fernanda Câncio, por exemplo, recusam esta hipótese por uma questão de princípio, mas nestes casos acho que os dados empíricos valem mais do que os princípios). Acontece que Olim não fala de factores que permitam predizer o risco de contaminação por transfusão, mas de uma vaga taxa de prevalência de patogenes e de umas risíveis "razões anatómicas" (sic). Desde já as "evidências científicas" parecem frágeis.
Se por outro lado - bastante mais provável - os tais estudos científicos não existirem, ou não forem minimamente credíveis, ou forem grosseiramente mal interpretados por Olim e pelo IPS, que prova melhor da discriminação contra os homossexuais, e má-fé, pode haver? Em qualquer dos casos, deveríamos estar a discutir os tais estudos científicos, em vez de proclamar declarações de princípio e discutir em abstracto.

sábado, 13 de janeiro de 2007

Porque o sangue importa

Gosto imenso de votar e de dar sangue. Para mim, são dois direitos/ deveres cívicos e éticos a que me entrego com verdadeiro entusiasmo desde os meus 18 anos. Tenho semelhante orgulho no meu cartão de eleitor e no meu cartão de dador.
Às eleições dedicarei um próximo post. Hoje «quero escrever o borrão vermelho de sangue / com gotas e coágulos pingando» (Clarice Lispector), de dentro para fora: o Instituto Português do Sangue continua a discriminar os dadores em função da opção sexual. Depois de inúmeras queixas e denúncias, a discriminação deixou de constar do seu site e do seu regulamento. Porém, no exame médico ao dador, a avaliação dos seus hábitos de vida pressupõe um juízo moral sobre a sua sexualidade. Quando um potencial dador afirma que faz amor com alguém do mesmo sexo é encarado como promíscuo e impedido de fazer a sua dádiva. Passou-se recentemente com uma pessoa minha amiga, a quem eu tinha pedido para dar sangue em nome do meu Pai. Quando ela me contou, fiquei entre o chocada e o incrédula, mas as notícias dos últimos dias vieram confirmar as suspeitas.
Na Wikipédia, encontrei referência à ética amoral de alguns heterónimos de Fernando Pessoa. Ricardo Reis, na ode «Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia», apresenta-nos dois jogadores de xadrez que prosseguem a partida mesmo sabendo que a destruição e a morte alastram na sua cidade, invadida pelo inimigo. E sentencia este heterónimo epicurista: «Quando o rei de marfim está em perigo / Que importa a carne e o osso / Das irmãs e das mães e das crianças? / Quando a torre não cobre / A retirada da rainha branca, / O sangue pouco importa».
Perante a ética moralista do Instituto Português do Sangue – quando os «bons costumes» estão em perigo, o sangue pouco importa (o mesmo é dizer, as vidas humanas pouco importam!) – temos todos que tomar posição. Quero continuar a dar sangue com a mesma alegria de sempre, mas exijo fazê-lo num serviço público que respeite todas as pessoas. Afinal, o sangue não tem fronteiras, idioma, ideologia, preferências sexuais.
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