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sexta-feira, 26 de abril de 2013

Joaquim Furtado e João Paulo Guerra contam-nos o que era viver sob censura

Podem ouvi-los em jeito irónico e mordaz no excelente programa Provedor do Ouvinte, episódio 29: «Um programa sobre o pré-25 de Abril. As histórias de Joaquim Furtado e João Paulo Guerra».
Falam de várias censuras aos media no ocaso ditatorial: a censura política, a económica e empresarial (tão pouca falada...; o RCP, os accionistas farmacêuticos, o pó talco marado dos outros e a censura empresarial indígena), a auto-censura (tão difícil de admitir...), os bufos que denunciavam a passagem de canções proibidas na rádio...
Foi hoje mas está gravado e disponibilizado na internet, para quem não pôde sintonizar a Antena 1 a meio da tarde (deixo o link aí em cima).

quarta-feira, 13 de maio de 2009

35 por 25, ou um outro modo de evocar

A livraria-galeria Círculo das Letras inaugurou uma exposição singular: 35 por 25.

E o que é isso?
«São 214 telas que têm por primeira intenção projectar Abril, não um qualquer mas o de 1974, o de um dia 25, que foi de conquista da liberdade política e de afirmação da dignidade cívica».
Ou seja, um grande mosaico de pequenas telas feito por 214 artistas, sobretudo das novas gerações, que foram convidados e aceitaram o desafio-projecto.
Quem foram os organizadores e como divulgaram o convite?
«Nos 35 anos do 25 de Abril, a Livraria Círculo das Letras, a Cooperativa Árvore, o Museu Jorge Vieira (de Beja), em colaboração com a Associação 25 de Abril, promovem a evocação e homenagem dos 35 anos do 25 de Abril promovendo uma intervenção artística de um colectivo/conjunto de artistas convidados a nível nacional».
Entre os responsáveis, destaque para Fernando Vicente, o pai da ideia, e Rui Pereira, grande dinamizador do projecto.
A mostra estará aí patente até 20/V. A partir de 23/V, transita para Beja (Galeria dos Escudeiros). A seguir, e até Abril de 2010, é desejo dos promotores levá-la em digressão por todo o país.
Endereço: R. Augusto Gil, 15B (no quarteirão circundado pelos eixos Campo Pequeno/ Av. João XXI/ Av. Roma).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Vozes da revolução


O Colóquio «Vozes da Revolução» tem início esta tarde, no ISCTE, e prolonga-se até à próxima sexta-feira.
Nele participarão vários dos intervenientes na revolução portuguesa de 1974/75.
A organização cabe a uma parceria entre o Centro de Estudos de História Contemporânea Portuguesa, o Centro em Rede de Investigação em Antropologia, o Instituto de História Contemporânea da FCSH-UNL e a Associação 25 de Abril.
Para os interessados vd. programação aqui. Notícia aqui.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Liberdade e resistência, que filme escolher?

Para celebrar os 35 anos do 25 de Abril, o blogue de cinema da revista Visão, Final Cut, lançou uma votação para se escolher o «melhor filme ou telefilme português sobre liberdade e resistência». A lista propõe 11 filmes, sem pretensões de exaustividade (vd. em baixo). Para quem quiser votar, é só ir à coluna da direita do referido blogue. Ainda tem 3 dias. Dos 5 que já vi (2.º-4.º, 6.º e 8.º), gostei de todos e parecerem-me todos de qualidade.

Lista (ordenada por data de realização):

- Fuga (1976), de Luís Filipe Rocha
- Deus, Pátria, Autoridade (1976), de Rui Simões
- Torre Bela (1977), de Thomas Harlan
- Cinco dias, cinco noites (1996), de José Fonseca e Costa
- Fuga (1999), de Luís Filipe Costa
- Capitães de Abril (2000), de Maria de Medeiros
- 25 de Abril - uma aventura para a demokracya (2000), de Edgar Pêra
- Quem é Ricardo? (2004), de José Barahona
- Até amanhã, camaradas (2005), de Joaquim Leitão
- O julgamento (2007), de Leonel Vieira
- Antes de amanhã (2007), de Gonçalo Galvão Teles

sábado, 25 de abril de 2009

garden Abaixo, excerto do livro “O Caminho das Aves”, de José Casanova, interpretado por Ilda Feiteira e musicado por Jorge Palma, em “25 Razões de Esperança”.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

...e nas rondas alternativas


Além do arraial popular de Lisboa, são muitas as iniciativas para celebrar a entrada no Dia da Liberdade. Eis alguns exemplos: Casa Viva, Associação Terra Viva e livraria Gato Vadio (todas no Porto); Casa da Contacto (Ovar); Baluarte de Santa Cruz (Vila Nova de Cerveira).

Agora, os preparativos operacionais são no arraial...


A entidade organizadora é a Associação Abril
(não confundir com a Associação 25 de Abril, que organiza o desfile de amanhã).

Iconografias revolucionárias

Esta tarde foi apresentada a obra A guerra dos cartazes, de José Gualberto Freitas, livro que recolhe c. 300 imagens de cartazes e autocolantes da revolução de 1974/75 e período subsequente. O livro sairá amanhã com o jornal Público. Vários deles foram já apresentados na blogosfera, designadamente aqui, em TóColante, Fuga para a vitória, etc..
A propósito, ainda há quem não tenha perdido o gosto por pintalgar paredes...
Nb: na imagem, fotografia de José Marques, de pichagem revolucionária.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Desfile do 25 de Abril antecedido por manifesto crítico da situação político-social

A Associação 25 de Abril divulgou recentemente um «Apelo à participação» no desfile do 25 de Abril, em Lisboa, no qual tece fortes críticas à actual situação do país e do mundo e exorta ao reforço da democracia e da participação cidadã, para se construir uma alternativa política aos modelos esgotados.

Nele se denunciam "as incertezas de uma conjuntura económica, afectada pela eclosão e desenvolvimento de várias ordens de crises" e a "permanência dos problemas estruturais de que o país continua a padecer". Para fazer face à crise e à persistência de gritantes desigualdades sociais no país, preconiza o reforço do serviço público: "Numa altura em que os diversos índices sociais e económicos continuam a remeter-nos para os últimos escalões da Europa Comunitária, não poderá haver lugar para o enfraquecimento dos serviços que cabe ao Estado assegurar porque é graças a eles que, de algum modo, se poderá aliviar a pressão que recai sobre os sectores desfavorecidos, afinal a grossa maioria do país".

Por tudo isto, alerta-se para a necessidade de reforçar as condições para a participação activa dos cidadãos nas decisões políticas, só possível "mediante um constante aprofundamento do sistema democrático", no respeito pelas ideias de cada um sem discriminação. 
O documento conclui referindo que o "sistema capitalista" parece "ter entrado em ruptura", impondo a construção de "novos paradigmas comportamentais e políticos" e uma nova consciência cívica e política: "Ultrapassada a tempestade, nada poderá ficar na mesma".

O apelo foi já subscrito por diversas organizações partidárias e sindicais de esquerda (CGTP, alegristas, BE, PCP, etc.), e dirigentes do PS e do governo, o que não deixa de ser irónico...

Já a mensagem de 2008 da A25A tinha sido bastante crítica e contundente, denunciando as injustiças sociais e a co-responsabilidade moral dos partidos e a necessidade de aprofundamento democrático.

Fontes: «Associação 25 de Abril apela à participação popular nas decisões políticas»; «Socialistas assinam texto crítico sobre situação do país».

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Continuo a ler o Blasfémias na esperança de ver um dia João Miranda a justificar uma afirmação

(assim em jeito de epígrafe) "... a esperança é a última a morrer" - adágio popular

E por falar em erro metodológico, João Miranda que é um excelente bloguer conhecido pela sua prosa clara, concisa, directa e objectiva comete sistematicamente um erro metodológico: omite sempre qualquer argumento que possa justificar as afirmações acertivas que faz amiúde. Assim é bem mais fácil ser claro conciso, directo e objectivo. Por exemplo seu acabasse aqui o post seria um post à João Miranda, mas não, vou dar dois exemplos:

A propósito da ministra da defesa espanhola que passa revista às tropas grávida, João Miranda acha que só pode tratar-se de usar a imagem de uma mulher como bibelot. E se alguém achar que se calhar a dita ministra até foi nomeada para o cargo por ser competente João Miranda diz que pode até ser mas continua a ser um bibelots. Mas porquê um bibelot? Porque sim! Quando se faz uma afirmação dessas deve ter-se uma boa razão, não? Sim, e João Miranda tem seguramente uma boa razão, mas se perdesse tempo a explicar deixaria de ser claro, directo, conciso e objectivo, e isso é que não pode ser. E ademais uma mulher só pode ser um bibelot, é tão Lapalaciano que nem é preciso justificar. É preciso explicar?

E volta à carga com o 25 de Abril, em resposta a este texto de Rui Tavares (por sinal das coisas mais hilariantes que li nos últimos tempos). Para João Miranda o 25 de Abril é tão responsável pela universalização das pensões, do sistema nacional de saúde, das férias pagas, como pelo aparecimento do iô-iô, do cubo mágico e das cassetes do Tomás Taveira. Umas e outras apareceram depois do 25 de Abril, e portanto umas são tão consequência do 25 de Abril como outras. O elo causal, a relação causa-efeito não dizem nada a João Miranda. Que tenha havido leis (como refere Rui Tavares) que tornaram tornado possíveis as férias pagas, ou as pensões, que se tenham feito reformas do serviço nacional de saúde, e já agora do sistema de ensino, não lhe diz nada. Que eu saiba não houve lei nenhuma que implementasse o iô-iô nem o cubo mágico, e muito menos foram direitos consagrados na Constituição de 1976. Leis e Constituição que não seriam possíveis sem o 25 de Abril (digo eu). João Miranda afirma apenas que o 25 de Abril não criou riqueza. Terá João Miranda algum estudo que permita afirmar uma coisa dessas? Não, mas isso não o impede de fugir para a frente. João Miranda afirma ainda, categoricamente, que no exemplo da mortalidade infantil essa já tinha começado a diminuir antes, portanto a evolução dos últimos 30 anos não tem nada a ver com o 25 de Abril, vem de trás. É óbvio (pelo menos para João Miranda) que sem o 25 de Abril a evolução teria sido exactamente a mesma. Porquê? Porque sim!

Aliás isto até desencadeou uma conversa curiosa entre umas vozes na minha cabeça*:
- Sabes?, o 25 de Abril não teve nada a ver com a descida da mortalidade infantil.
- Não? Então como é que se explica esta descida nos últimos 30 anos.
- É uma dinâmica que começou antes, em 1970 já se morria muito menos que em 1940.
- Quem é que disse isso?
- O João Miranda.
- Ah!, se é o João Miranda que diz, deve ser verdade.
- Mas pensando bem em 1910 já se morria muito menos do que em 1830, portanto a I República também não fez nada.
- E o mesmo é verdade para a alfabetização.
- E na realidade em 1830 estava tudo muito melhor que em 1650.
- Portanto os liberais também não nos trouxeram nada, já vinha de trás.
- E a bem dizer em 1650 estava-se muito melhor do que em 1500.
- Eu sempre achei que a Restauração tinha sido um desastre, não tinha trazido nada de bom.
- Mas em 1500 já se vivia muito melhor do que em 1390.
- Portanto não foi a chegada à Índia que nos veio trazer melhorias.
- Claro que não, já vinha de trás.
- Mas espera lá, voltando ao 25 de Abril, o 25 de Abril trouxe-nos melhorias, ou não?
- ... o João Miranda diz que não?
- E a democracia? E a universalização dos serviços públicos, que eram só para alguns? Isso só veio depois.
- Mas a dinâmica já vem de trás, mesmo sem 25 de Abril tudo isso teria acontecido.
- Ai é?
- Claro que é! A ala liberal, as conversas em família, e o caraças..., o regime estava em mudança, era inevitável.
- É verdade! Agora percebo! Até o próprio 25 de Abril teria acontecido naturalmente, mesmo que não tivesse havido 25 de Abril.
- Mais, o 25 de Abril ACONTECEU de facto sem 25 de Abril. Se vires bem o Movimento das Forças Armadas e o Movimento dos capitães começaram a conspirar antes do 25 de Abril, prepararam e executaram o golpe de estado antes do 25 de Abril.
- Coisa que, aliás, jamais teria acontecido depois do 25 de Abril.
- Ora depois do 25 de Abril todos os passos que vinham sendo dados no sentido de fazer para a transição para um regime democrático foram abruptamente interrompidos.
- E o mesmo e passou com a Guerra d'África.
- Depois do 25 de Abril é que nunca mais se avançou na direcção da Democracia.
- É verdade...
-O 25 de Abril e a Democracia só foram possíveis graças ao antigo regime.
-Genial esse João Miranda.

*Não vos preocupeis, estou devidamente medicado.

sexta-feira, 25 de abril de 2008


terça-feira, 25 de março de 2008

25 de Abril sempre (daqui a um mês e até ao big bang apocalíptico em 7,6 biliões de anos)

Sei que é cedo para falar do 25 de Abril, mas estou a preparar uma animação cóltórali (é mais uma festa: o 25 de Abril festeja-se) na universidade sobre o assunto.

E por essa razão prática pus-me a ler o livro da Maria Inácia Rezola sobre a Revolução portuguesa. É um bom livro, com a informação bem detalhada e bem apresentada. Tem-me ajudado a colar as peças da informação fragmentada que tinha na cabeça. E chego a uma conclusão, a partir desta leitura, e que é um ovo de Colombo banal. Com o seu riquíssimo encadeamento de acontecimentos, com o campo político estilhaçado, o papel dos militares e dos partidos, a irrupção da participação popular, o laboratório ideológico, a aceleração do tempo histórico, a complexidade da acção e das suas motivações, a combinação de fontes que permite, entre fontes escritas e testemunhos publicados e orais, etc, etc, etc, o período entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro é um objecto histórico absolutamente extraordinário — e muito difícil, e por isso mesmo extraordinário. Um daqueles objectos que por si só justifica o ofício.

O texto da Inácia Rezola — como várias outras obras que ela cita — merece ser lido porque, não deixando de ter implicações políticas para o presente — outra coisa seria impossível —, está bem longe dos usos políticos da história que hoje dominam o espaço público português. Refiro-me aos prós e contras da história contemporânea tal como ela aparece hoje na TV, jornais e blogues (seja o tema o Regicídio, o Estado Novo ou o 25 de Abril).

PS: A propósito, é da minha vista ou o site da Associação 25 de Abril levou um lifting demasiado radical? Sinal dos tempos amnésico-salazaristas? Piratas cripto-spinolistas? Resolvam-me lá isso, senhores capitães de Abril, deve ser menos complicado do que conquistar os pontos nevrálgicos de Lisboa...

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Una storia deliziosa


Conheci este ano em Wageningen um senhor italiano magnífico. Um belíssimo contador de estórias, estilo Nanni Moretti. Em italiano e tudo. Uma das estórias que Antonio me contou é assolutamente deliziosa. Contou-me ele que em 1974, logo a seguir ao 25 de Abril, o
movimento lotta continua fretava voos charter para que os jovens italianos pudessem vir a Portugal 'ver' a revolução.
E eles lá vinham, lá viam e lá regressavam a Itália.
Alguns aprendiam as canções de intervenção portuguesas. Outros, a maioria, levavam na bagagem um poster de um senhor que ninguém parecia saber quem era. Aliás, o Antonio esbracejando muito dizia-me, no meio da sua estória, que perguntava a torto e a direito aos seus amigos regressados de 'ver a revolução': ma chi è quest'uomo? Ma chi è quest'uomo?

A minha curiosidade crescia, enquanto Antonio me explicava que o dito poster do dito uomo figurava no quarto de todos os jovens italianos militantes do lotta continua, ao lado de figuras como Che Guevara... e que nenhum deles parecia saber de quem se tratava...

Si... chi era quest'uomo?

Hoje o Antonio, da sua Firenze natale, enviou-me o tal poster. Il uomo era questo:



domingo, 6 de maio de 2007

Culturas urbanas, iô!

A propósito de culturas urbanas, e na sequência do dossiê coordenado pelo peão Renato e do debate correlato, resta referir a existência duma lista específica de links no relançado site do Le Monde Diplomatique - ed. portuguesa. Aí se acede também a bons textos integrais sobre a temática, incluindo ensaios académicos.
O site não fica por aí, tem ainda informação única sobre a história secreta do 25 de Abril, o contributo do terceiro sector, o feminismo, entre outros temas. Boas navegações!
Nb: imagem de graffiti de Mosaik (in FIGM- First International Graffiti Meating, Oeiras); maior base específica, por países, aqui.

domingo, 29 de abril de 2007

Portugal: país triste e alegre

Soube pela internet qua a PSP carregou com violência sobre pessoas que tinham integrado uma manifestaçao anti-autoritária, no dia 25 de Abril. Como estou na Galiza, procurei informaçao em diversos blogues e nas páginas on-line dos jornais portugueses. Pelo que li, fiquei com a convicçao de que houve, de facto, violência gratuita da parte da polícia. Nada justifica tratar-se à bastonada, pessoas (mesmo se estivessem a pichar paredes ou a partir montras). Perante actos ilegais, o que agentes policiais civilizados deviam fazer era identificar os prevaricadores e, caso fosse necessário, detê-los para averiguaçoes; nunca desatar à bastonada. Também fiquei a saber que a PSP se preocupou em proteger o cartaz do PNR na Praça do Marquês de Pombal e a sede deste partido de extrema-direita na Rua da Prata de actos de vandalismo! Nunca um cartaz e uma sede partidária tiveram direito a tamanhos desvelos. Um tal excesso de zelo parece-me muito suspeito.
Sao notícias tristes as que me chegam de Portugal. Tenho, porém, a alegria de verificar que há muita gente a questionar os métodos policiais e a sua agenda obscura. Muitos blogues foram, também neste caso, espaços plurais de crítica, reflexao, e denúncia das arbitrariedades e da brutalidade da polícia, indesculpáveis em democracia. Obrigada a todos os que se mantêm atentos. Obrigada por continuarem a nomear e a escrever a palavra liberdade.
___
As ligaçoes nao sao exaustivas.
Peço desculpa pela falta de tiles. Estou a escrever num teclado galego.


quinta-feira, 26 de abril de 2007

Ainda o 25 de Abril

Portugal padece da mania da inovação febril e avulsa, como tão bem provou Cavaco Silva no seu discurso na Assembleia e, geralmente, entre nós, inovar não significa mais que destruir, desfear e esquecer.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Uma fotografia do 25 de Abril

Primeiro as árvores cobriram-se de folhas
depois de pássaros e depois
de homens

Jorge Sousa Braga, Porto de abrigo, 2005.

Tempo de Fantasmas

Apaixonado por Nora Mitrani, O'Neill pretendia juntar-se-lhe em Paris. Um familiar resolveu denunciar essa intenção à PIDE. Foi-lhe negado sair do país e passou a ser vigiado. Dois anos mais tarde esteve preso em Caxias, apenas por ter ido esperar Maria Lamas que regressava de Viena. Apesar de ter feito oposição à ditadura, nunca foi militante de qualquer partido político, nem mesmo a seguir ao 25 de Abril. Era um independente. Ninguém, melhor do que ele, descreveu o nosso país sob a ditadura.

Adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O'Neill

Poema publicado em 1951 no livro Tempo de Fantasmas.

O dia de todos os dias

Para comemorar e recordar passem por aqui.