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segunda-feira, 6 de setembro de 2010

4 funerais e nenhum casamento

Já há alguns dias que queria escrever sobre este tema, mas só agora tive tempo. Nas últimas semanas, faleceram algumas pessoas que merecem ser evocadas, mais que não seja para se saber um pouco mais da sua vida e obra. Aqui fica então o registo:

> Baltazar Ortega (1919-2010): foi um dos mais conhecidos caricaturistas de imprensa em Portugal, tendo começado cedo e trabalhado em inúmeros títulos de referência. Conheci-o quando estava no jornal o diário, ligado ao PCP, nos anos 80. Era implacável com os adversários políticos, embora falasse dos seus bonecos com ternura e fosse uma pessoa muito amável - é assim que eu o recordo, dos tempos em que me mostrava os seus últimos cartoons e me deixava vê-lo paginar o jornal com rápidos traços de lápis em riste. Não se limitou à caricatura política, gostando também de retratar artistas e intelectuais. Assinava como Baltazar, simplesmente. Textos biográficos no catálogo «A rir se castigam os costumes», do Clube de Jornalistas, em «Adeus Baltazar, Alentejo mais pobre» e em «O mestre da caricatura, Baltazar Ortega faleceu a 6 de Junho de 2010», por Osvaldo Macedo de Sousa (6/VI).

> Tony Judt (1948-2010): era um dos mais famosos historiadores da época contemporânea. Iniciou a sua obra com um estudo sobre o socialismo francês oitocentista. A sua obra mais elogiada é Pós-guerra - a história da Europa desde 1945, originalmente editada em 2005. Recentemente saiu O século XX esquecido. Lugares e memória (2008), onde volta a confrontar aquilo que designa por amnésia moral dos intelectuais comunistas, a adesão incondicional ao estalinismo, ele que era um anti-socialista assumido. Ficou conhecido pela sua intervenção contundente, em várias questões, designadamente contra a opressão israelita sobre os palestinianos e sobre a lógica simplista por detrás da Guerra do Iraque. Ill fares the land é o seu testamento político, em prol da social-democracia e do Estado-Providência.  Mais detalhes em «Tony Judt obituary», por Geoffrey Wheatcroft (6/VIII).

> António Dias Lourenço (1915-2010): um dos antifascistas portugueses mais destacados, aderiu aos 17 anos ao PCP e foi um dos responsáveis pela reorganização do PCP, em 1940/41, ao lado de Álvaro Cunhal e outros. Mais detalhes em «Morreu o histórico do PCP Dias Lourenço», por São José Almeida (8/VIII).

> Ruy Duarte de Carvalho (1941-2010): escritor e antropólogo angolano, teve em Portugal um editor apaixonado, o responsável pela Cotovia. Mais detalhes em «O escritor que morreu “longe de tudo” não estava assim “tão longe do mundo dele”», por Alexandra Prado Coelho (19/VIII).

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Um livro para ajudar a esclarecer a história recente

»«

Falo de Álvaro Cunhal, sete fôlegos do combatente. Memórias, de Carlos Brito, hoje mesmo lançado em Lisboa.

Pelo que pude ler das primeiras impressões (p.e., aqui e aqui), este testemunho ajudará a esclarecer a história recente de Portugal através duma espécie de dupla 'viagem' biográfica, a do autor e a de Álvaro Cunhal, ambos dirigentes do PCP durante o meio século abordado na obra. Se outro contributo não tivesse, este já seria meritório. Mas parece-me que o livro vai mais além, permitindo ter uma versão mais desapaixonada e distante da história dum partido político que suscita controvérsias pontuais e emoções fortes junto de muitas pessoas. E também contribuirá para esclarecer a posição deste partido num período histórico sobre o qual paira ainda muitas sombras e pouca prova documental diversificada, que é o do PREC. Mais inf. neste post de Nuno Ramos de Almeida.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Arte clandestina


A exposição «O mundo clandestino dos jornais comunistas manuscritos nas cadeias» está acessível desde hoje ao público na Torre do Tombo, em Lisboa.
Eis uma oportunidade única para ver exemplares raros, inspirados num modernismo improvável.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

No rescaldo das eleições locais portuguesas

Logo que fecharam as urnas, às 20h de ontem, disparou a corrida às leituras político-partidárias dos resultados das eleições locais para um nível nacional. É compreensível, embora o jogo mediático chegue a ser tão afunilado (em termos de posicionamento político dos comentadores, das questões colocadas, etc.) e ininterrupto que causa cansaço. Como independente, estou fora desses jogos de poder, que me parecem estreitos, empobrecedores (by the way, este post de Tiago Mota Saraiva ajuda a desconstruir o dilúvio de comentários e análises interesseiramente bipolarizadoras, no estilo boxeur).
Seja como for, parece-me importante partilhar alguns contentamentos e desapontamentos.
Do lado positivo, o facto do centro-direita e direita coligados não lograrem expandir uma estratégia que muitos pensavam imparável (vd. análise aqui). Isso ficou bem patente em Lisboa, onde saiu vitorioso o acordo coligatório que reconciliou a família socialista alargada (incluindo aqui a corrente alegrista de Roseta e dos Cidadãos por Lisboa), ainda que sem maioria na assembleia municipal, o que felizmente permitirá fiscalizar eventuais desvarios. Por fim, o facto dos movimentos independentes terem tido algum destaque, ainda que, por ora, muito centrados na figura de autarcas desavindos com os seus anteriores partidos. Aqui ainda há muito caminho a trilhar, a começar pela necessidade dos projectos superarem um presidencialismo excessivo e, frequentemente, caciquista. Presidencialismo esse que, note-se, foi fomentado pelo próprio sistema eleitoral, que até 1995 não permitia candidaturas independentes e até 2014 não colocava prazos para mandatos, gerando o fenómeno dos chamados autarcas «dinossauros» e tirando pressão para a necessidade de coligações partidárias e/ou com movimentos independentes (sobre as entorses geradas pelo sistema eleitoral vd. ainda este post).
Do lado negativo, a habitual desvalorização mediática (ou semi-ocultamento) dos partidos da esquerda assumida, sob o pretexto da bipolarização (a desculpa habitual), condicionando ainda mais as escolhas onde o «voto útil» foi mais agitado, casos do Porto e de Lisboa. E, quanto a partidos, o facto do Bloco de Esquerda ter seguido uma má orientação global para estas eleições, ensimesmada, sem abertura a compromissos precisos ou coligações, sem rasgo nem projecto autárquico, e com um défice de envolvimento e divulgação atempadas. Ou seja, reincidiu no erro de concentrar as suas energias no parlamento e numa linha de irredutibilidade, de pureza programática. Em Lisboa, isso associou-se a outros erros de palmatória: após a ruptura (inevitável e lamentável) com Sá Fernandes apagou-se a sua intervenção municipal, não procuraram acordos (com a CDU, p.e.), quase não fizeram campanha, o programa foi pouco divulgado, e mostraram-se indisponíveis para aceitar um possível pelouro (ao invés da CDU, mais hábil), ou seja, para dar o salto para o poder e seus compromissos num quadro de separaçao entre níveis local e nacional, mesmo num caso especial como é o da capital, onde já houve coligações de esquerda vitoriosas e onde nas eleições intercalares de 2007 a esquerda à esquerda do PS obteve c. de 1/3 dos votos (Roseta, CDU e BE+Sá Fernandes). Por tudo isso, foi fortemente penalizado em Lisboa, onde o «voto útil» à esquerda predominou por falta duma alternativa forte, reduzindo em muito as representações do BE e da CDU (com menor efeito nesta) a favor da travagem dum Santana Lopes de má memória (e da derrota do «voto útil» à direita, note-se). Sobre tudo isto, Daniel Oliveira fez já uma oportuna análise crítica, enquadrada num debate político-partidário interno, ainda que discorde dalguns pontos, como o de omitir a necessidade de dar prioridade à procura de entendimentos com a CDU e certos movimentos cívicos e de independentes.
Mas esses erros de orientação têm consequências mais vastas, que deveriam ser reflectidas. A questão é esta: se este partido quer ser charneira, dinamizador à esquerda e ter uma implantação nacional consolidada não pode apostar só no parlamento. Tem que reflectir seriamente numa implantação nacional a outros 2 níveis: social local, criando e apostando em dinâmicas locais e enraizando as suas estruturas; e cultural, reforçando o debate e circulação de ideias, valores e representações e a partilha e circulação de mundividências e actos culturais - revistas, centros culturais, atenção aos movimentos associativos e eventos transversais de debate e cultura fazem falta. Quanto a coligações, e já que a sua prioridade é travar maiorias absolutas de direita, então tem necessariamente que procurar negociar com a CDU (e certos movimentos de cidadãos) nos municípios em que essa situação se coloca (e são muitos!).
E termino por aqui, pois o post já vai longo.
ADENDA: entretanto, topei com outros 5 posts sobre o assunto, cuja leitura recomendo: «E agora?», de Rui Bebiano; «Bloco de Esquerda», de Zé Neves; «12 problemas para um debate», de Daniel Oliveira; «Lisgoa e outras observações», de Ricardo Noronha; «O Bloco nas autarquias», de Margarida Santos.

domingo, 13 de setembro de 2009

10 debates depois...

... ficámos mais informados sobre os programas e a perspectiva dos líderes dos principais partidos a votos. Nesse sentido, todos os líderes ficaram a ganhar. Quem neles queria ver um meio expedito para poupar trabalho e esclarecimento, pode tirar o cavalinho da chuva. Os debates não só foram equilibrados como não decidem nada por si mesmos: apenas são mais uma referência para reflexão.

O último debate, que opôs os líderes do centrão, não fugiu à regra. É claro que cada um usou a táctica que julgou mais conveniente. O actual premiê achou que ganharia mantendo a sua pose arrogante e agressiva, versão «moderada». Como se confirmou neste debate, aquele que teimava em fazer oposição à oposição por esta ser «maledicente», resolveu ser ele próprio a abusar da maledicência (como bem nota Daniel Oliveira). Assim conseguiu pôr os seus oponentes em guarda (e obter um ou outro deslize) mas daí resultou que foi o que menos expôs o seu programa. Se calhar não lhe convinha: é mais do mesmo... Na ânsia de arrebanhar votos, Sócrates conseguiu um inédito: despachar em directo os seus ministros, dizendo que, se ganhar, convidará novas caras, isto para dar um ar de renovação, de homem moderno, atrevido e ousado. A coisa foi tão exagerada e ambígua que hoje já teve que refazer a pintura.

Do debate há a reter alguns pontos. O 1.º remete para a segurança social: Ferreira Leite assumiu que manterá a recente reforma da mesma, para manter a confiança das pessoas, embora a tenha criticado por assentar no prolongamento do tempo de trabalho e na redução das reformas (daqui a 10-12 anos será apenas c.50% do salário bruto, enquanto antes era 70-80%). Assim marcou pontos no terreno do adversário, que não soube retorquir. Por sua vez, Sócrates esteve bem em trazer à colação o papel do Estado, em geral e numa situação de crise em particular. A sua resposta assenta na manutenção dos serviços públicos na saúde (embora queira cortar na ADSE), educação e segurança social, em geral, e no investimento em grandes obras públicas e apoios às PME's e pessoas mais carenciadas, para o segundo. A líder do PSD contrapôs a prioridade absoluta no apoio às PME's, e descartou as grandes obras por achar que há pouco dinheiro e o que há deve ir para as PME's. Denunciou a pressão espanhola para Portugal avançar no TGV, pois só uma linha transfronteiriça terá mais apoios comunitários. Mas fê-lo dum modo um quanto exagerado (o outro deslize foi quanto à desistência de portagens nas SCUT's). E criticou o rol de auto-estradas que o PS quer continuar a construir. É a lógica do fontismo a ser recusada por um dos seus antigos apoiantes...

Já a relação entre Estado e sociedade civil é resumida, pelo centrão, ao estímulo à iniciativa privada. De fora ficou mais uma vez a economia solidária, um vector relevante da sociedade que, porém, não foi esquecido pelos restantes partidos. O BE e a CDU pretendem mais apoios ao associativismo, em especial ao cooperativismo (sendo o programa da CDU mais detalhado: vd. p.17). O CDS propõe o recurso às misericórdias para reforçar a rede hospitalar coberta pela prestação pública e para certas consultas e operações, como as oftalmológicas (nb: não consegui aceder ao programa do CDS).

Na imagem: símbolos de partidos concorrentes às eleições parlamentares de 1975, retirada daqui.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Centenário de Vasco de Carvalho, resistente antifascista e cooperativista

O resistente antifascista e cooperativista Vasco de Carvalho vai ser homenageado amanhã num colóquio especial, em Lisboa, na passagem do centenário do seu nascimento.
Dada a relevância do seu contributo político e cívico, aproveito para reproduzir o programa e notas desse evento:
«Centenário de Vasco de Carvalho - destacado resistente antifascista
Colóquio com São José Almeida (jornalista), José Hipólito dos Santos, Eugénio Mota e Isabel Rebelo (antigos companheiros de Vasco de Carvalho) e Luís Carvalho (investigador e organizador)
Quinta-feira, 25 de Junho de 200918h30
Biblioteca Museu República e Resistência (Espaço Cidade Universitária)
Natural de Alcântara, Lisboa, filho e neto de revolucionários republicanos, Vasco de Carvalho foi obrigado a passar à clandestinidade em 1934, por ter denunciado o assassinato pela polícia do operário Manuel Vieira Tomé, da Marinha Grande.
Assumiu a liderança da Secção Portuguesa do Socorro Vermelho Internacional, entre 1936 e 1939, e depois do Partido Comunista Português, entre 1940 e 1942, até ser capturado pela PIDE. Esteve preso no Aljube, em Caxias e em Peniche.
Continuando a lutar contra a ditadura, apoiou as candidaturas de Norton de Matos e Humberto Delgado, esteve na direcção do Boletim Cooperativista, fundado por António Sérgio, e foi presidente do Ateneu Cooperativo/Fraternidade Operária de Lisboa, que seria encerrado pela PIDE em 1972.
Foi um dos autores do livro dirigido por António Sérgio, O cooperativismo: objectivos e modalidades.
Depois do 25 de Abril de 1974 foi presidente da Associação dos Inquilinos Lisbonenses. Vasco de Carvalho destacou-se igualmente a nível profissional, como engenheiro electrotécnico. Participou na criação do Instituto de Soldadura e Qualidade, foi dirigente da Associação Portuguesa de Manutenção Industrial e docente na Universidade Nova de Lisboa.
Quando estava preso em Peniche, Vasco de Carvalho foi expulso do PCP, sob a falsa acusação de ser um provocador ao serviço da PIDE. Esta calúnia perseguiu-o o resto da vida e só muito tardiamente foi reconhecida como erro grave.
Vasco de Carvalho faleceu aos 97 anos de idade fiel às suas convicções, assumindo-se até ao fim como um marxista-leninista anti-estalinista».
*
Neste texto há mais detalhes sobre o empenho cívico de Vasco de Carvalho.
Vd. tb. este texto de José Pacheco Pereira sobre Vasco de Carvalho, a reconstituição da história do PCP nos anos 40 e a reabilitação da memória dum homem empenhado civicamente.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ainda a propósito das eleições europeias

Após uma análise mais panorâmica, onde realcei a persistência da direita na liderança do Parlamento europeu, a crise do PSE e a reconfiguração distinta ocorrida em Portugal, falta referir alguns detalhes relevantes.

Em 1.º lugar, há um aumento significativo da direita xenófoba (o grupo dos «não inscritos») e dos verdes, este à custa do GUE/ NGL (esquerda) e do PSE. Ou seja, a UE virou um pouco mais à direita e, à esquerda, reforçaram-se alternativas ditas «pós-materialistas», mas que serão mais do que isso, caso os partidos ecologistas representados tenham uma visão mais holística, o que a campanha de Daniel Cohn-Bendit prenuncia. A abstenção subiu ainda mais, perante a indiferença preocupante dos responsáveis da UE.

Em 2.º lugar, em Portugal, o partido vencedor (PSD) ficou aquém dum resultado fora-de-série, e, por isso, a direita coligada ainda não é maioritária (vd. resultados aqui). O PS é que deu um trambolhão histórico, averbando um dos piores resultados de sempre. É caso para muita reflexão num partido que se eclipsou para deixar brilhar a arrogância do rei-sol Sócrates. Mas as primeiras declarações pós-queda do rei-sol são mais do mesmo: manter o rumo, etc. e tal: assim foi com o Titanic. Os Jethro Tull têm um disco sobre o tema: chama-se «Thick as a brick» e recomenda-se.

Destaque-se ainda o peso dos restantes partidos (c.12%) e do voto em branco (quase 5%) e pode-se dizer que, para as próximas eleições legislativas, muito está ainda em jogo.

Outros aspectos a salientar, tomando de empréstimo a análise do João Miguel Almeida: «As eleições europeias tornam ainda mais distante a hipótese de uma nova maioria absoluta do PS e desvanecem de vez a miragem de um bloco central. Corremos o risco de ter um eleitorado à esquerda e um governo PSD/PP mais forte e mais de direita do que o de Santana Lopes e sem dar nenhuma vontade de rir». Resumindo, um mau prenúncio, contra dois bons efeitos.

Outra boa notícia foi a eleição do 3.º eurodeputado do BE, o independente Rui Tavares. É uma voz das novas gerações, com intervenção pública inovadora consolidada na blogosfera (Barnabé, 5 Dias, etc.) antes de dar o salto para a imprensa, o que deve ser elogiado num país onde os media mainstream persistem em fabricar um monopólio afunilado e enviezado para a direita, o da chamada «opinião publicada». Mas, sobretudo, pelo seu contributo para um debate de ideias mais aberto e argumentado (onde a agenda internacional sempre esteve bem presente, Europa incluída), não politiqueiro e não convencional, à margem dos humores e tiques monótonos das elites e do «Portugal sentado». Depois da polémica com o vereador independente Sá Fernandes, o BE sai por cima, mostrando que faz sentido abrir-se a independentes e novas figuras que aditem valor ao debate público, cívico e político, casos óbvios de Rui Tavares e Fernando Nobre (dirigente da AMI e mandatário dessa campanha).

Ademais, o contigente parlamentar português, no conjunto, parece-me mais habilitado. O próprio Vital Moreira, que fez uma campanha desastrada, tem condições para um contributo válido, ele que é perito em questões europeias e direito constitucional.

Quem duvida do afunilamento ideológico da «opinião publicada» em Portugal basta atentar no painel de comentadores da noite eleitoral nas tv's lusas, onde os de esquerda assumida eram um resquício. Aliás, se o critério fosse restritivo, só o humorista Ricardo Araújo Pereira entrara em estúdio, e, mesmo este, deslocado num contexto de análise de resultados eleitorais. O socratismo tem-se queixado de perseguição por alguns órgãos de comunicação social (TVI, Público, Sol), mas, a avaliar pela orientação prevalecente, quem realmente poderá alegar discriminação negativa são os partidos da esquerda assumida (BE e PCP) que, com quase 1/4 dos votos, quase não têm visibilidade. O mesmo é extensivo aos movimentos de esquerda, sindicais, etc., bem como ao terceiro sector e às agendas de teor cívico e social, desvalorizadas pelos media convencionais.

Este défice evidente de tratamento proporcional também agudiza a respectiva crise de audiências, o que deveria ser motivo de reflexão por parte desses media, caso queiram contribuir para uma democracia mais pluralista, claro.

domingo, 7 de junho de 2009

Manolo acertou nas Europeias, a direita mantém-se

É isso aí, Manolo Piriz acertou no vaticínio que fez aqui há umas semanas atrás: a direita voltou a ganhar as eleições europeias, infelizmente.

Para quem tem uma posição de esquerda, e embora não seja certo que o eleitorado europeu tenha votado sobretudo pela divisão esquerda/ direita, tudo indica que os resultados destas eleições abarcando um território com 375 milhões de habitantes, tenham sido algo decepcionantes. Durão Barroso lá se manterá à frente da Comissão Europeia, o que é mau para uma reforma progressista das estruturas da UE e da sua governação. Esse é o efeito negativo mais directo. Mas antes disso, o parlamento europeu continuará a ter como corrente liderante o PPE, que é o representante da direita/ centro-direita. Ou os eleitores europeus acharam que a culpa da crise económico-social não era das políticas que esses partidos preconizaram, ou acham que estão a tentar resolver os problemas do melhor modo. Ambas as opções são, porém, para reflexão séria. Quer dizer que os partidos socialistas europeus não são vistos na Europa como materializando uma escolha válida.

Os partidos de centro-direita que lideram nos principais países europeus mantiveram-se na frente (Alemanha, França, Itália, etc.), enquanto noutros países com governos de centro-esquerda, estes tiveram derrotas significativas: são o caso do Reino Unido, Espanha e Portugal.

Em Portugal, a coisa vai ser dura para o partido no governo, o PS, pois o centro-direita (PSD) conseguiu um resultado liderante forte, o socratismo foi muito penalizado e os anti-Bloco central (partidos de esquerda e direita: BE, PCP e CDS) obtiveram quase 1/3 dos votos.

O PS de Sócrates vai penar muito nos próximos meses: primeiro, porque a performance de Paulo Rangel arrebanhou uma dinâmica de vitória que coloca o PSD na pole position para as eleições legislativas a ocorrerem já daqui a 3 meses. Depois, porque essa dinâmica se reforçará nas locais de entremezes, pois os «laranjinhas» são campeões autárquicos.

A votação do BE e PCP é auspiciosa e reforça a ideia de que a esquerda pode ser uma alternativa de médio prazo (em aliança pós-eleitoral ou liderando mesmo), caso a esquerda do PS tenha a ousadia de se juntar numa coligação de verdadeira alternativa ao rotativismo sem saída que imperou nas últimas décadas em Portugal.

Oxalá também aí se consiga criar uma dinâmica de convergência capaz de ser uma opção de poder e governação, e já não só de oposição séria e combatente. Que supere as inevitáveis prudências de Alegre e da sua corrente da esquerda socialista, atendendo à campanha presidencial de esquerda para que trabalha desde o milhão e cem mil votantes que obteve nas presidenciais de 2005.

PS: para quem quiser ver resultados globais e por país vale a pena ir ao site do Euronews, onde um mapa permite fazer as várias pesquisas.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Desfile do 25 de Abril antecedido por manifesto crítico da situação político-social

A Associação 25 de Abril divulgou recentemente um «Apelo à participação» no desfile do 25 de Abril, em Lisboa, no qual tece fortes críticas à actual situação do país e do mundo e exorta ao reforço da democracia e da participação cidadã, para se construir uma alternativa política aos modelos esgotados.

Nele se denunciam "as incertezas de uma conjuntura económica, afectada pela eclosão e desenvolvimento de várias ordens de crises" e a "permanência dos problemas estruturais de que o país continua a padecer". Para fazer face à crise e à persistência de gritantes desigualdades sociais no país, preconiza o reforço do serviço público: "Numa altura em que os diversos índices sociais e económicos continuam a remeter-nos para os últimos escalões da Europa Comunitária, não poderá haver lugar para o enfraquecimento dos serviços que cabe ao Estado assegurar porque é graças a eles que, de algum modo, se poderá aliviar a pressão que recai sobre os sectores desfavorecidos, afinal a grossa maioria do país".

Por tudo isto, alerta-se para a necessidade de reforçar as condições para a participação activa dos cidadãos nas decisões políticas, só possível "mediante um constante aprofundamento do sistema democrático", no respeito pelas ideias de cada um sem discriminação. 
O documento conclui referindo que o "sistema capitalista" parece "ter entrado em ruptura", impondo a construção de "novos paradigmas comportamentais e políticos" e uma nova consciência cívica e política: "Ultrapassada a tempestade, nada poderá ficar na mesma".

O apelo foi já subscrito por diversas organizações partidárias e sindicais de esquerda (CGTP, alegristas, BE, PCP, etc.), e dirigentes do PS e do governo, o que não deixa de ser irónico...

Já a mensagem de 2008 da A25A tinha sido bastante crítica e contundente, denunciando as injustiças sociais e a co-responsabilidade moral dos partidos e a necessidade de aprofundamento democrático.

Fontes: «Associação 25 de Abril apela à participação popular nas decisões políticas»; «Socialistas assinam texto crítico sobre situação do país».

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Colóquio sobre Pavel: venturas e desventuras dum intelectual antifascista

Foi um importante dirigente do PCP nos anos 30 e destacado intelectual e crítico de arte no México, mas só esta 6.ª feira terá direito a um tributo encontro de reflexão, no centenário do seu nascimento. Refiro-me ao 1.º Colóquio sobre Pavel (Biblioteca-Museu República e Resistência/ Espaço Cidade Univ.ª, 21/XI, 16h). Pavel foi o pseudónimo de Francisco Paula de Oliveira no PCP, retirado do livro Mãe, de Gorki. No seu exílio mexicano adoptou o nome de António Rodriguez. Para uma oportuna e informada biografia vd. aqui. A sua autora, Júlia Coutinho, será uma das oradoras neste encontro. Os restantes serão Luiz de Carvalho (que fará a biografia política), Nízia Rodriguez (filha do homenageado) e o emb. Fernando Fafe. Carlos Brito, que não pode estar presente, enviou um testemunho escrito. Será ainda divulgado uma gravação audio de Rodriguez, excertos duma entrevista aquando da sua visita a Lisboa em 1976, na qual também esteve presente Júlio Pomar.
ADENDA: Júlia Coutinho disponibilizou entretanto a sua estimulante comunicação, intitulada «Pavel/ António Rodriguez, o homem de cultura».