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quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tributo a José Tengarrinha, nos seus 80 anos

A homenagem ao cidadão antifascista, fundador do MDP-CDE e historiador do Portugal contemporâneo é já no próximo dia 14, num almoço a realizar na antiga FIL, em Lisboa.

Depois disso, e ainda em 2012, sairão mais dois livros seus: uma Nova história da imprensa portuguesa das origens a 1865, nas suas volumosas 700 páginas, e uma novel incursão no tema das greves e dos conflitos sociais no Portugal moderno - 1872: o início da ofensiva operária em Portugal. Bem bom. Calha relembrar que, além destas áreas, Tengarrinha deu ainda um contributo relevante para a história cultural, área em que destaco um estudo sobre a leitura na monarquia final e um livro sobre A novela e o leitor, editado pela Prelo com base num inquérito distribuído nas bibliotecas da Fundação Gulbenkian.

Para quem quiser ficar a saber mais sobre o homem, a obra e o tributo pode consultar a página facebook de Helena Pato.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O Dia do Estudante e as lutas pela democracia

São combates de várias gerações, mas só uma celebrará amanhã o Dia do Estudante (na Reitoria da Universidade de Lisboa). Com legitimidade, diga-se: é que este sábado passam 50 anos sobre o dia que marcou o arranque do protesto estudantil em Lisboa contra a ditadura salazarista.

A celebração nesse ano de 1962 foi abruptamente proibida pelo regime, para travar a propagação da acção anti-colonialista surgida em Coimbra, e os estudantes reagiram: a Reunião Inter-Associações decretou Luto Académico para 26 de Março. O protesto ressurgiu em Coimbra e deu origem a várias formas de luta: greve de fome com ocupação da cantina, manifestações de rua, panfletos, jornais, etc. O rastilho marcaria os anos 60.

O festejo nacional do Dia do Estudante foi, segundo o dirigente estudantil José Joaquim Fragoso (AEIST, 1945-52), uma ideia que surgiu em reunião entre academias, e pretendia ser mobilizador para todos os universitários. Nessa altura o dia escolhido foi 25 de Novembro, que então representava uma «tomada da Bastilha» na academia de Coimbra, nos idos de 1921. Pelo meio houve outros combates, como a reacção a diploma de 1956 que pretendia acabar com as associações de estudantes (refiro-me ao malfadado decreto-lei 40900). Só em 1974 é que ficou definido o dia 24 de Março, em tributo aos eventos.

A geração de 62 criou um site muito interessante, o «Crise de 62», com notícias, cronologia, documentos, depoimentos & etc. Vale a pena vê-lo.

PS: destaques da cobertura pelos media: reconstituição da greve de fome (Expresso, já on-line); artigo grande na revista de domingo do Correio da Manhã; a RDP1 vai estar em direto da Reitoria no próximo sábado (das 12 às 13h).

quinta-feira, 1 de março de 2012

Ciao Lucio, sei un grande

No dia da sua imprevista morte, aos 68 anos, em plena digressão, nada melhor que escolher «4/3/1943». Canção autobiográfica, conta-nos a história da concepção de Lucio, por Lúcia, mãe adolescente do cantautor. Foi censurada na RAI. Para os fans, reenvio uma versão inédita. Anos depois, Chico Buarque torna-se amigo de Dalla, e adapta a letra para português, na belíssima «Minha história». Em baixo, a letra da versão em português.

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente, laiá, laiá, laiá, laiá
Ele assim como veio partiu não se sabe prá onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido, cada dia mais curto, laiá, laiá, laiá, laiá
Quando enfim eu nasci, minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se eu fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré, laiá, laiá, laiá, laiá
Minha mãe não tardou alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor, laiá, laiá, laiá, laiá
Minha história e esse nome que ainda carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome de menino Jesus, laiá, laiá, laiá, laiá.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Tributos a José Afonso, 25 anos depois



Zeca: 25 anos depois

Organização: Associação José Afonso. Apresentação Helder Costa.
Ver cartaz.
Lisboa, Academia Santo Amaro (R da Academia Recreativa,de Santo Amaro 9, Alcântara), 21h.

Sessão de evocação de Zeca Afonso pelo 25º aniversário do seu desaparecimento

Por Viriato Teles, jornalista e escritor.
Lisboa, Biblioteca-Museu República e Resistência, 18h.

Tributo a José Afonso e Adriano Correia de Oliveira

Ver programa.
Braga, Theatro Circo, 21h30.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Um justo tributo, também lá falarei sobre ciência para o futuro

Prémio Victor de Sá de História Contemporânea celebra 20 edições com colóquio especial (14/XII)
O Conselho Cultural da Universidade do Minho promove a 14 de dezembro de 2011 as comemorações dos 20 anos da instituição do Prémio Victor Sá de História Contemporânea. Este é o prémio nacional mais prestigiado ao nível da história contemporânea. O programa vai decorrer ao longo do dia no Salão Nobre da Universidade do Minho, no Largo do Paço, em Braga. Todos os interessados estão convidados a participar.
Está previsto um Colóquio sobre história e historiografia contemporânea, com entrada livre e que traz a Braga alguns dos historiadores de referência nacional que foram membros do júri do Prémio ao longo dos anos, bem com alguns dos historiadores premiados e que atualmente são também uma referência [vd. programa]. A par do Colóquio está patente na Galeria do Salão Medieval uma exposição fotográfica e bibliográfica que documenta as várias edições do Prémio e expõe as obras premiadas. Estão também aqui expostas as publicações do mentor do Prémio, Doutor Victor de Sá, e que fazem parte do legado entregue à Universidade do Minho.
A encerrar as comemorações, decorrerá pelas 17h, no Salão Nobre do Largo do Paço, a sessão pública de entrega do Prémio Victor Sá de História Contemporânea - 20ª edição, presidida pelo Reitor da Universidade do Minho. Esta sessão será precedida da apresentação de uma obra intitulada "O Mundo Continuará a Girar - Prémio Victor de Sá de História Contemporânea 1992-2011", numa edição conjunta do Conselho Cultural e do CITCEM (Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»), o qual tem dado um apoio importante na organização do evento.
Obra sobre maoísmo, de Miguel Cardina, vence 20º Prémio Victor de Sá
Miguel Gonçalo Cardina Codinha ganhou a 20.ª edição do Prémio de História Contemporânea Dr. Victor de Sá com a obra "Margem de Certa Maneira. O Maoísmo em Portugal: 1964-1974". O júri atribuiu menções honrosas aos trabalhos apresentados pelos investigadores Alexandra Patrícia Lopes Esteves, Frederico Martins dos Reis Ágoas e Sílvia Adriana Barbosa Correia. A concurso estavam 19 obras, numa das edições mais participadas de sempre deste prémio, o que demonstra quer o prestígio alcançado quer a vitalidade da historiografia portuguesa contemporânea. 
Todos os premiados desta edição apresentaram a concurso teses de doutoramento. O júri do Prémio de História Contemporânea Dr. Victor de Sá foi presidido por Viriato Capela, professor catedrático de História da Universidade do Minho, tendo como vogais António Pires Ventura, da Universidade de Lisboa, e João Paulo Avelãs Nunes, da Universidade de Coimbra. O galardão atribuído periodicamente pelo Conselho Cultural da UMinho, de acordo com um regulamento próprio, teve origem na doação dos direitos de autor e de uma avultada verba em dinheiro por Victor de Sá.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Tributo a Luiz Pacheco (hoje, a não perder!)


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Para não esquecer que a autonomia universitária é um bem precioso e muito recente

«Cerimónia de Homenagem aos docentes demitidos das universidades portuguesas durante o Estado Novo»

(29/XI, 18h, Reitoria da UL; 30/XI, 17h,  reitorias da UTL e UP; 19/XII, UC)
nb: para os interessados, eis a lista dos vitimados nos anos 1930-40.

domingo, 27 de novembro de 2011

Já foi dança de terreiro, vadia, de salão, canção de vencidos, música reaccionária, música de emigrante: agora é património imaterial da humanidade

Parece que resta lamentarmo-nos, que em tempos de desesperança imposta fica apenas a saudade de tempos airosos que já não voltam.

Não, não pode ser só isso, ou sobretudo isso. Tem que ser melhor.

Há uma encruzilhada de saber vivencial, de introspecção e interpelação colectivas, de pausa meditativa, de lirismo panteísta, de lugares vivos e vividos, de vozes singulares, que se construiu e persistiu.

A isso acresce, agora, a responsabilidade de passar das intenções aos actos, concretizando o Plano de salvaguarda integrada do património do fado, que esteve na base desta consagração da UNESCO.

Por tudo isso, estamos todos de parabéns, começando pelos seus feitores e apreciadores e concluindo nos organizadores da candidatura!

Ah, fadista!

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Jorge Lima Barreto (1949-2011): explorador de oceanos musicais


Fernando Jorge da Ponte Lima Barreto [...], músico, compositor, escritor, doutorado em Musicologia, fundador dos Anar Band (197) com Rui Reininho, e dos Telectu (1982) com Vitor Rua (na foto). Apenas com os Telectu, Jorge Lima Barreto e Vitor Rua editaram, até 2002, dezasseis discos. Alguns deles tiveram a participação de reputados músicos como Saheb Sarbib, Chris Cutler, Louis Sclavis, Jacques Berrocal ou Daniel Kientz. Barreto tocou ainda com Carloz Zingaro, Eddie Prévost, Nuno Rebelo, Evan Parker, Sunny Murray, Paul Rutherford, Barry Altschul, Tom Chant, Sei Miguel, entre outros.

Povd, in blogue Posso ouvir um disco

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Malangatana Valente Ngweny (1936-2011)

Faleceu ontem Malangatana, um dos mais conhecidos e admirados pintores moçambicanos.

Para quem o quiser revisitar em Portugal, estão actualmente patentes duas mostras com obras dele: «Novos Sonhos a Preto e Branco», na Casa da Cerca, em Almada, com desenhos inéditos; e «As Áfricas de Pancho Guedes», no Mercado de Santa Clara, junto à Feira da Ladra, em Lisboa.

Obituário a ler em «O pintor da identidade moçambicana», por Sérgio C. Andrade.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Tati visto pelo cineasta de Belleville rendez-vous

Um encontro feliz, baseado num argumento inédito de Tati e que resulta num filme de animação elogiado pela crítica. Intitula-se O mágico, é realizado por Sylvain Chomet e estreou nos cinemas portugueses. Let's look at the trailer? Então, resta-nos agradecer a vossa atenção e desejar-vos Boas Festas e Feliz Natal!!!

domingo, 19 de dezembro de 2010

Carlos Pinto Coelho (1944-2010), o divulgador cultural da tv dos 90

Era conhecido como o «jornalista acontece», devido à longevidade e (relativa) visibilidade do magazine cultural da RTP2, justamente intitulado Acontece! (1994-2003).
Inesperadamente, Carlos Pinto Coelho faleceu esta semana.
Testemunho de carreira aqui.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Colóquio Internacional de Homenagem a Maria Ioannis Baganha


terça-feira, 6 de julho de 2010

Colóquio internacional sobre Paul Ricoeur começa amanhã

O nome original deste encontro internacional é Reading Ricoeur Once Again: Hermeneutics and Practical Philosophy / Relire Ricoeur à notre tour: herméneutique et philosophie pratique, uma vez que as línguas de trabalho serão o inglês e o francês.

Pretende ser uma homenagem àquele que é, segundo os organizadores, «uma das figuras mais importantes da filosofia contemporânea». Serão apresentadas mais de 100 comunicações sobre o seu contributo para a Ética, a Filosofia Social e Política e a Hermenêutica . Entre os oradores contam-se alguns dos maiores especialistas mundiais da obra de Ricoeur, como Axel Honneth (Johann-Wolfgang von Goethe Universität), sucessor de Habermas na direcção do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt e um dos filósofos mais influentes da actualidade, Richard Kearney (Boston College), divulgador da filosofia contemporânea europeia nos EUA, bem como diversos membros do Fonds Ricoeur (Paris).

Decorrerá até sábado, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (torre B, piso 1, aud.º 1). A organização cabe ao Centro de História da Cultura da FCSH-UNL e ao grupo Linguagem, Interpretação e Filosofia da Universidade de Coimbra.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

No centenário do nascimento de Manuel Tito de Morais, lutador pelas liberdades

A sessão de lançamento do livro é hoje, às 18h30, na liv.ª Bertrand, Chiado. Será apresentado por Guilherme d’Oliveira Martins e Nuno Tito de Morais Ramos de Almeida.

Mais inf. no blogue homónimo e no site Cultura Online.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Ainda Saramago

Muito se escreveu a pretexto do passamento de Saramago. Do que li, destaco a lúcida reflexão de Manuel Gusmão e o dossiê do Público, do qual li com gosto as evocações de Carlos Reis, Mário de Carvalho, Luiz Schwarcz (aqui se podem ler outros depoimentos), Urbano Tavares Rodrigues e Mia Couto. Fiquei estarrecido com o texto de Eduardo Lourenço, onde a projecção do próprio pretende impor uma pseudo-redenção final de Saramago como saída para a sua desilusão utópica, em gritante contraste com o sentido constante da intervenção cívica e literária do autor.
Sobre a ausência de altas figuras do Estado das cerimónias fúnebres do único Prémio Nobel da Literatura português, apenas reiterar as críticas oportunamente feitas a essa conduta, apesar dos dois dias de luto nacional. A situação é agravada quanto ao Presidente da República, Cavaco Silva, que teria necessariamente que estar lá enquanto representante de todos os portugueses numa ocasião simbólica por excelência.
O Vaticano, este Vaticano, primou novamente pela arrogância e deselegância; nb: já o comunicado do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Igreja católica portuguesa tem um tom bem diverso, que só pode ser elogiado pela sensibilidade e esforço de reflexão que representa: «Igreja enaltece “grande criador da língua portuguesa” mas lamenta “balizamentos ideológicos”».
Nb: na imagem, cartoon inspirado no quadro Des glaneuses (1857), de Jean-François Millet.

sábado, 22 de maio de 2010

Pac-Man, 30 anos: brinde fantástico, só para verdadeiros fãs!

Basta ir ao Google e iniciar jogo numa caixa que diz «Inserir moeda», por debaixo do logo comemorativo desta consola única...

terça-feira, 20 de abril de 2010

Guru (1966-2010): quando o rap encontrou o jazz

Um dos grandes da música rap, Guru, morreu ontem, vítima de cancro, após um ano de doença. Deixou uma trilogia de excelência, Jazzmatazz, onde misturou de modo pioneiro e único o hip-hop com o jazz, a intervenção social com a elegância estética. Deixou uma carta de despedida, transmitida aqui pelo seu amigo o rapper francês mc Solar:

«I, Guru, am writing this letter to my fans, friends and loved ones around the world. I have had a long battle with cancer and have succumbed to the disease. I have suffered with this illness for over a year. I have exhausted all medical options. I have a non-profit organization called Each One Counts dedicated to carrying on my charitable work on behalf of abused and disadvantaged children from around the world and also to educate and research a cure for this terrible disease that took my life. I write this with tears in my eyes, not of sorrow but of joy for what a wonderful life I have enjoyed and how many great people I have had the pleasure of meeting».

Notícia desenvolvida na BCC News, em Yo! Promotions e em Earth Times. Para quem quiser conhecer as suas músicas e performance pode aceder à página do músico no MySpace, e escolher entre as muitas hiperligações deixadas na sua entrada na Wikipedia.

domingo, 4 de abril de 2010

Dos caminhos ínvios das fontes e da memória colectiva

«Os biógrafos (e os historiadores) um dia irão aos arquivos das associações, de instituições particulares, oficiais ou oficializadas, socorrer-se-ão de testemunhos pessoais, dos arquivos da PIDE/DGS (se ainda existirem), devassarão múltiplas fontes. Irão, sobretudo, à Imprensa na busca de intervenções, artigos, entrevistas, reportagens sobre determinados acontecimentos sociais, públicos, políticos, culturais, relatos de conferências, colóquios. Pois bem. Os biógrafos quando pretenderem lançar mão dessas fontes ficarão desapontados com a rasura do nome de Carlos de Oliveira. E, no entanto, se em Portugal houve escritores empenhados na vida cultural, literária e política do país, um deles foi precisamente Carlos de Oliveira. Só que a sua actuação se desenvolveu quase silenciosamente. Diluía-se, corria de manso. Sem alardes ou ostentação. Não por medo, nem razão havia, em muitos casos, para isso. Um certo pudor, uma espécie de anti-evidência. Negava-se a entrevistas (duas em sua vida?); escusava-se a colóquios; escassíssimos os artigos que escreveu. E sempre que podia furtava-se ao contacto público, a menos que a sua presença fosse entendida como indispensável.
A forma do seu empenhamento cívico corria sob o disfarce da discreção
».
 (Manuel Ferreira,
«Um firme empenhamento cívico»,
Vértice, n.º 450/1, 1982, p.596/7)
Soneto
Acusam-me de mágoa e desalento,
como se toda a pena dos meus versos
não fosse carne vossa, homens dispersos,
e a minha dor a tua, pensamento.

Hei-de cantar-vos a beleza um dia,
quando a luz que não nego abrir o escuro
da noite que nos cerca como um muro,
e chegares a teus reinos, alegria.

Entretanto, deixai que me não cale:
até que o muro fenda, a treva estale,
seja a tristeza o vinho da vingança.

A minha voz de morte é a voz da luta:
se quem confia a própria dor perscruta,
maior glória tem em ter esperança.
(Carlos de Oliveira, Trabalho poético1945,
reed. de 2002 pela Caminho e de 2003 pela Assírio & Alvim)
Nb: a acompanhar pelo poema «Colagem», de 1968.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Apologia da democracia participativa

Os 80 anos do nascimento da única primeira-ministra portuguesa, Maria de Lourdes Pintasilgo, estão a ser celebrados com uma série de iniciativas importantes, a que se junta um alerta para a salvaguarda do Centro de Documentação Elina Guimarães, um espaço único de cultura e intervenção feminista em Portugal, obra da UMAR. Pintasilgo, que foi uma feminista convicta, decerto apoiaria esta causa, ela que também foi uma lutadora por causas progressistas e pela democracia participativa.

Sobre o tributo a Pintasilgo, arrancou na 2.ª feira passada com a estreia do documentário Maria de Lourdes Pintasilgo, de Graça Castanheira, na FCG. O documentário, que traça um retrato da vida pública e privada de Pintasilgo, foi também exibido ontem na RTP2 (+inf. aqui). Para quem ainda pretenda (re)vê-lo, há pelo menos um servidor de tv por cabo que permite visualizar a programação da RTP mesmo após a sua transmissão.

O ciclo de debates «Cuidar a democracia, cuidar o futuro» foi delineado pela própria Pintasilgo em 1996 e visa reflectir sobre que tipo de democracia queremos. Concretizado pela instituição que divulga o seu legado, a Fundação Cuidar o Futuro, começa amanhã, na FCG, e decorre até 25/II, num total de 6 debates em distintos locais (vd. programa na imagem anexa ou aqui). Para mais informações sobre o conteúdo de cada sessão vd. aqui e aqui.

O centro feminista da UMAR, sediado em Lisboa, está em risco de desaparecimento desde 2005, e bem faria a edilidade em disponibilizar um espaço condigno para este tão relevante projecto, em vez de esbanjar o dinheiro em foguetórios Red Bulls e quejandos (vd. «Apelo ao presidente da câmara e ao governo»). Aproveita-se para indicar a petição: «Por um Centro de Cultura e Intervenção Feminista na cidade de Lisboa».

Para abrir o apetite, aqui fica um excerto certeiro do esboço de Pintassilgo para o seu ciclo de debates:

A mobilização das forças sociais é um novo factor a ter em conta no desenho e implementação das políticas públicas. Por isso um novo contrato social é exigido, extensível aos governos e à população, à própria natureza e a todas as nações do mundo.