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terça-feira, 20 de abril de 2010

Guru (1966-2010): quando o rap encontrou o jazz

Um dos grandes da música rap, Guru, morreu ontem, vítima de cancro, após um ano de doença. Deixou uma trilogia de excelência, Jazzmatazz, onde misturou de modo pioneiro e único o hip-hop com o jazz, a intervenção social com a elegância estética. Deixou uma carta de despedida, transmitida aqui pelo seu amigo o rapper francês mc Solar:

«I, Guru, am writing this letter to my fans, friends and loved ones around the world. I have had a long battle with cancer and have succumbed to the disease. I have suffered with this illness for over a year. I have exhausted all medical options. I have a non-profit organization called Each One Counts dedicated to carrying on my charitable work on behalf of abused and disadvantaged children from around the world and also to educate and research a cure for this terrible disease that took my life. I write this with tears in my eyes, not of sorrow but of joy for what a wonderful life I have enjoyed and how many great people I have had the pleasure of meeting».

Notícia desenvolvida na BCC News, em Yo! Promotions e em Earth Times. Para quem quiser conhecer as suas músicas e performance pode aceder à página do músico no MySpace, e escolher entre as muitas hiperligações deixadas na sua entrada na Wikipedia.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

John Dankworth (1927-2010)

O saxofonista e clarinetista do jazz britânico sir John Dankworth morreu neste sábado aos 82 anos. Dankworth, foi um dos grandes do Jazz britânico e acompanhou feras como Charlie Parker, Duke Ellington, Louis Armstrong, Nat King Cole, Ella Fitzgerald e muitos outros. Era casado com a cantora Cleo Laine por mais de 50 anos e com quem formou uma das duplas mais expressivas do jazz inglês. Entre os seus trabalhos mais expressivos, destaco a banda sonoro do filmeThe Servantde Joseph Losey.

johndankworth

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O mais antigo clube europeu de jazz reeencontra-se na praça da Alegria

É o que nos garante esta recente reportagem sobre o Hot Clube de Portugal. O pior lá vai. Esperemos então pela reabilitação da nova casa.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Da enciclopédia ao museu?

A monumental Enciclopédia da música em Portugal no século XX é hoje apresentada em Lisboa (Teatro S. Carlos, 19h), após 12 anos de trabalho duma equipa de 151 colaboradores dirigida pela Prof.ª Salwa Castelo-Branco (do Instituto de Etnomusicologia da FCSH-UNL). A obra, em 4 volumes, tem 1440 páginas, mais de 1250 entradas, 550 imagens e índices temático e onomástico. Segundo nota informativa, abrange as músicas erudita, popular, tradicional, o folclore, o pop-rock, o jazz, o fado, a canção coimbrã e a música nas comunidades migrantes. Aborda ainda «modos expressivos em que a música desempenha um papel central, como a dança, o cinema e o teatro». Por tudo isto, e pela qualidade do trabalho, é a 1.ª «grande obra de referência dedicada à música praticada em Portugal» no século passado.
Em depoimento ao DN, Salwa Castelo-Branco alertou para a necessidade de se preservar em museu próprio os registos sonoros dessa centúria: «Espero que sirva para que o Governo leve a sério a necessidade de se criar um museu. É preciso um arquivo sonoro e eu ando há muitos anos a pedi-lo. Há muito que faz falta um Museu de Música, um local que reúna a história musical dos últimos 100 ou 110 anos, desde que se inventou o gramofone».
Só o 1.º dos 4 volumes editados pelo Círculo de Leitores será hoje apresentado. Os restantes volumes chegarão em Março (letras C a L), Maio (L-P) e Julho (P-Z). Cada volume custará aos associados entre 24,9€ e 29,9€, chegando depois às livrarias do Círculo e da Temas & Debates.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O jazz já não mora aqui

O Hot Clube de Portugal, um dos clubes de jazz mais antigos do mundo (com 61 anos de vida), foi forçado a suspender a sua actividade devido a um incêndio no prédio onde estava sediado e que obrigou os bombeiros ao seu apagamento por inundação. Ignora-se ainda quando e se poderá retornar à velha casa, situada bem no centro da cidade, e próxima dum outro antigo espaço cultural também ele encerrado recentemente, o Ritz Club.
O incêndio terá sido provocado por intrusos no desabitado andar cimeiro, aliás metade do prédio estava devoluto e o proprietário não procedera a obras de recuperação, tal como sucede em grande parte dos centros históricos das cidades portuguesas.
Os centros históricos dum país que se quer mostrar moderno vão apodrecendo, ou incendiando-se, como em Lisboa (depois do desastre do Chiado nos anos 80, seguiu-se uma fileira de prédios na Av. Liberdade, agora subiu para a Pr.ª da Alegria).
E, apesar da irresponsabilidade que tal significa em termos de segurança, de sustentabilidade, de efeito turístico, os proprietários, juntamente com as autoridades públicas, continuam a adiar respostas consistentes. Que triste desleixo, que lamentável incúria pública.
Sobre isso, e as suas implicações na desvalorização das cidades portuguesas, vale a pena ler a crónica de Rui Tavares no Público de hoje (brevemente disponível no seu blogue).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A pantera mais famosa do universo anda por aí...

Definitivamente, este é o mês da 'bonecada', aqui no Peão. Depois da Mafalda, Rat race, Astérix, Picha, Marge Simpson, GoRRo (este em tributo não-póstumo, a contra-corrente dos costumes lusos), eis a vez da Pantera Cor-de-rosa!! Faz 45 anos que começou a sua saga em cinema de animação, após a estreia e êxito imediato enquanto genérico do filme humorístico homónimo, no ano anterior. Este filme devia o nome ao facto do seu enredo girar em torno dum valioso diamante desaparecido, que visto à luz reflectia uma pantera.

The Pink Panther é um filme de Blake Edwards que ficou célebre por 4 razões: a comicidade do seu argumento, o desempenho do protagonista (um Peter Sellers no memorável papel dum desastrado inspector francês, o inspector Clouseau), o genérico inicial com a tal animação da Pantera Cor-de-rosa (pelo talentoso animador Friz Freleng, o mesmo dos Looney Tunes) e a fabulosa música da banda sonora, por Henry ManciniPink Panther Theme»).

Depois disso, a saga continuou, tanto em filme como em animação. Na animação, deu origem a 124 curtas-metragens em 16 anos. Estas foram entretanto editadas em dvd pela produtora. A partir de amanhã, e até 16/XII, o jornal Público lança em Portugal a colecção completa em 10 dvd's. Para quem não pode adquirir mas tem saudades, aqui fica um dos sites possíveis para ver, com boa imagem, uma parte da gostosa colecção do felino mais famoso do universo.

Deixo ainda outros destaques: no vídeo ao lado segue o trailler do filme original, na vez do genérico (pois está inacessível devido aos copyrights); em 2006, surgiu um novo filme da saga, desta feita com Steve Martin e também com um excelente genérico animado; por essa altura, Bobby McFerrin cantou, no seu modo único, o «Pink Panther Theme». É também imperdível esta versão ao vivo da mesma música, aqui fiel ao original, com excelentes solos de jazzmen.

sábado, 22 de agosto de 2009

Quando muito o melhor trompetista branco da história do Jazz (o que não é propriamente um elogio)

Anda para aí uma espécie de evocação do "Kind of Blue" por ocasião do seu 50° aniversário como se fosse um grande marco no Jazz; um grande desastre é o que foi. Se o "Kind of Blue" vendeu tantas cópias é provavelmente porque as elites intelectuais (de brancos) tinham há 50 anos, e provavelmente ainda hoje, mais poder de compra do que os negros que ouviam e tocavam Jazz - o verdadeiro Jazz - no clube/bar/restaurante da esquina mais próxima.
O Jazz foi desde a sua origem uma mistura mágica de ritmos e harmonias complexas às quais se acrescentava uma melodia como apenas mais um elemento de todo um ambiente musical. Uma perfeição que resultou do encontro da música dos escravos descendentes de África com as teorias e os instrumentos dos brancos vindos da Europa. Com da revolução do BeBop - Dizzy Gillespie, Charlie Parker, Thelenious Monk, etc... - a mistura rebentou e foi para a estratosfera, que como é sabido fica acima do Olimpo. Ele foi tempos estonteantes mais rápidos que o Lucky Luke, ele foi sequências de acordes mais complexas que a legislação francesa, ele foi uma relação acorde melodia que só uma alucinado Parker poderia conceber, ele foi mais o diabo a sete. E o HardBop ainda continuou o trabalho que o BeBop começou (Horace Silver, Dexter Gordon, etc...).
Depois vem Miles. Em toda a sua arrogância Miles Davis respondeu a uma senhora que lhe perguntou o que tinha feito de importante para merecer ser convidado a uma recepção dada pelo presidente Regan: "Eu mudei a música 4 ou 5 cinco vezes. E você o que fez de importante, para além de ser branca?". Por muita piada que tenha a resposta (que tem) a verdade é que o contributo de Davis para a música foi apenas um (and one too many): o Jazz Modal.
O Jazz Modal caracteriza-se por tempos lentos, um domínio da melodia sobre a harmonia, simplificação dos ritmos, sequências de acordes que nem dignas desse nome são (quando há só um acorde não é propriamente uma sequência...), e sobretudo - oh inclemência! - notas longas. A suprema ironia é que um "black cat" obcecado com o racismo como era Miles tenha dado como contributo a contaminação do Jazz com os elementos da música europeia (leia-se: "de brancos") que os seus predecessores tinham criteriosamente deixado de fora. Ou seja Miles Davis não fez do que um branqueamento do Jazz (o que é quase tão grave como o branqueamento de capitais).
É bastante revelador a história do início da carreira de Miles Davis, que ouvi um dia num programa de radio da NPR. Miles que começou na época do BeBop tocando nomeadamente com Charlie Parker, viu-se forçado a reconhecer que o lugar de mago e virtuoso do trompete estava já ocupado por Dizzy Gillespie (esse sim o mais genial trompetista da história do Jazz). Para poder encontrar o seu lugar ao sol, e no panteão do Jazz, Miles teve que inventar algo de novo, e o mais diferente possível de Gillespie e do BeBop, e assim nasceu o "cool" - em má hora. Miles Davis provocou danos irreversíveis na história do Jazz; com as honrosas excepções de músicos como John Coltrane ou Herbie Hancock, o panorama do Jazz pós-Davis é um deserto comparado com os anos do BeBop ou o HardBop, ou mesmo antes.
Mas nem tudo é mau, descobri recentemente que Miles Davis, e sobretudo "Kind of Blue", tem uma enorme utilidade prática: é excelente para pôr bébés as dormir (e adultos também).
Aproveito para desenterrar uns textos que escrevi sobre estas coisas há algum tempo, se acaso interessar a alguém. Um trompetista verdadeiramente genial: Dizzy Gillespie. Um álbum de Jazz verdadeiramente fabuloso: Dizzy's Big 4. E, claro, a composição que tem o mesmo nome que revolução: BeBop (com banda sonora e tudo). Para que conste: não gosto de música de brancos, a não ser talvez Chico Buarque (e tem dias).

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O flamenco-jazz de Chano Domínguez

Sebastián Domínguez Lozano, ou simplesmente Chano Domínguez, é hoje reconhecido como o melhor pianista de jazz da Espanha, ou melhor: do flamenco-jazz (ou vice-versa, como queiram). Domínguez faz uma perfeita fusão do jazz com o flamenco. De seu piano magistral, alegrías, bulerías, tangos, tanguillos, soleás e fandangos ganham uma sonoridade inovadora e ousada quando miscigenada ao jazz. Com ele, flamengo e jazz têm DNA próprios. Ouví-lo é quase uma obrigação.

Muitos dizem alhures que Domínguez é o pai do flamenco-jazz. Mas isso não corresponde à realidade. Na verdade, esse namorico teve início no fim dos anos de 1950, quando alguns jazzistas norte-americanos começaram a se interessar pela música tradicional espanhola. Entre eles, destaco Miles Davis e Gil Evans ao gravarem “Blues of Pablo”, um dos temas do álbum Miles Ahead (1957).

Em 1959, veio a música “Flamenco Sketches”, do mítico Kind of Blue, e logo em seguida, em 1960, o disco Sketches of Spain. Já pelo lado espanhol, não posso deixar passar em branco o nome de Paco de Lucia, que juntamente com Al di Miola e John McLaughlin gravou uma das obras-prima da música: o álbum Friday Night In San Francisco (1980). Como se vê, o namoro entre o flamenco e o jazz é antigo. Mas o que menos importa neste caso é quem é o pai desta criança maravilhosa. Vamos ouvir Chano Domínguez sem qualquer pudor. A boa música é quase sempre bastarda.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O jazz mestiço de Fela Kuti

O compositor e multi-instumentista Fela Anikulapo Ransome Kuti (Nigéria, 1938 - 1997) foi o que podemos chamar de o pai do afrobeat, onde a fusão dos ritmos africanos com o jazz, o funk e o rock transforma-se numa profusão sonora quase alucinante. Aliás, o conceito de afrobeat surgiu quando Kuti fez as suas primeiras apresentações nos Estados Unidos. Ativista político e dos direitos humanos, sua obra é tão vasta como genial e polêmica.

terça-feira, 28 de julho de 2009

George Russell (1914 -2009)

GeorgeRussell O compositor de jazz George Russell, cujas teorias influenciaram a música modal de Miles Davis e John Coltrane, morreu ontem aos 86 anos. Mais.

domingo, 26 de julho de 2009

Há 50 anos morria a maior voz feminina do jazz/blues: Lady Day

billie_holiday

No dia 17 de julho de 1959 toda a melancolia de Billie Holiday (ou simplesmente Lady Day) juntava-se para sempre às estrelas de primeira grandeza do infinito. Morria então a voz triste e o profundo lamento do jazz/blues. A voz que parecia sintetizar uma dor viva, com interpretações lancinantes, calava-se para sempre. E a música perdia assim um pouco de sua poética e de sua emoção.

domingo, 19 de julho de 2009

50 anos de “Time Out” (Dave Brubeck Quartet)

Entre os meses de julho e agosto de 1959, o Dave Brubeck Quartet entrava nos estúdios da Columbia Records para gravar nada mais nada menos que o “Time Out”, uma pérola musical e um dos álbuns mais vendidos de toda a história do jazz. O quarteto era composto por Paul Desmond (sax alto), Joe Morello (bateria), Eugene Wright (baixo) e, é claro, pelo piano magistral de Brubeck. Detalhe: a única música do disco não composta por Brubeck foi “Take five”, criada sem qualquer pretensão por Desmond durante um ensaio do grupo, e que se tornaria um dos temas mais populares do jazz.

Para quem gosta de Brubeck (este é o meu caso) e não conta com este disco na sua discoteca, uma ótima notícia. A Sony Music lançou uma edição especial comemorativa dos 50 anos de “Time Out”. Do pacote constam um CD (totalmente remasterizado do álbum original), um DVD com uma longa entrevista de Brubeck e um outro CD com 8 faixas inéditas, gravadas durante o Festival de Newport, em 1961, 1963 e 1964.

time out


Músicas do LP original:

Lado “A”

1 - Blue Rondo à la Turk

2 - Strange Meadow Lark

3 - Take Five

Lado “B”

1 - Three to Get Ready

2 - Kathy’s Waltz

3 - Everybody’s Jumpin

4 - Pick Up Sticks

sábado, 16 de maio de 2009

Jimmy Cobb recria “Kind of Blue” 50 anos depois

Único músico sobrevivente do lendário sexteto de Miles Davis, o baterista Jimmy Cobb se apresentou ontem no Bridgestone Music Festival (São Paulo), provavelmente um dos maiores eventos jazzísticos deste ano em todo o mundo. O concerto celebrou os 50 anos de gravação da obra prima do jazz, o “Kind of Blue”. Acompanhado pela banda “Jimmy Cobb So What Band”, que é composta por Wallace Roney (trompete), Javon Jackson e Vincent Herring (sax), Larry Willis (piano) e Buster Williams (baixo), Cobb recriou toda a magia do “Kind”. Enfim, foi um sonho que do qual não acordei ainda.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

“Kind of Blue” - Miles Davis: a reinvenção do jazz faz 50 anos

kind_of_blue_1959 Qualquer outra definição que não seja obra-prima é pouco pra descrever “Kind of Blue”. Com o lançamento deste disco, Miles Davis consolida o cool e abre as portas pra entrar na História do jazz como um dos músicos mais criativos e geniais de todos os tempos. O jazz jamais seria o mesmo depois deste álbum.

Lançado em agosto de 1959, “Kind of Blue” é revolucionário, irretocável e de extrema beleza. Em suma: é puro êxtase musical, onde o melódico e delicado trompete do mestre Miles é acompanhado por um sexteto dos sonhos comporto por John Coltrane (sax tenor), Bill Evans (piano), Julian "Cannonball" Addlerley (sax alto), Wynton Kelly (piano), Paul Chambers (baixo) e Jimmy Cobb (bateria).l

O disco foi produzido em apenas 2 sessões de gravação (em 2 de março e em 22 de abril). Ao chegar ao estúdio, Miles Davis apenas distribuiu um papel para cada um dos músicos com o esboço das 5 músicas. Em seguida, ele começou a tocar e o sexteto foi atrás. Resultado: nasce assim o que viria a ser um dos melhores discos de jazz de todos os tempos, que comemora os seus 50 anos com uma reedição de luxo, composta por 2 CDs (com faixas extras), um documentário em DVD e um livreto. Para quem não conhece, esta é uma boa oportunidade, pois “Kind of Blue” é obrigatório a todos os amantes do jazz. Uma discoteca sem ele é uma discoteca amputada. Aqui vídeo sobre o disco.

Nb: Para aqueles que queiram mergulhar na historia do jazz e deste disco, a leitura do livro ‘Kind Of Blue – A História da Obra-Prima de Miles Davis’ , de Ashley Kahn, é uma ótima dica.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

“Miles In The Sky”, a cobaia sonora do jazz-rock

Dando sequência aos discos que considero marcantes e que foram lançados no conturbado ano de 1968, não poderia deixar passar em branco o “Miles In The Sky”. Com a gravação deste disco, no final de 1967, Miles Davis (1926 – 1991) partia pra mais uma renovação estética ao incorporar em sua música elementos elétricos. Depois de "criar" o cool-jazz e o jazz modal, o trompetista começa a dar os seus primeiros passos em direção do rock e da fusion. E “Miles In The Sky” é a sua primeira experiência “elétrica” para o que viria a ser a sua obra-prima eletrônica: o “Bitches Brew” (1969), álbum duplo que traria efetivamente à luz o revolucionário jazz-rock, a sua fase mais criticada pelos rabugentos de plantão. Enfim, não se pode agradar a todos todo o momento.

Com quatro longas faixas (Stuff*, Paraphenalia, Black Comedy e Country Son), Miles In The Sky” teve como convidado o jovem guitarrista George Benson e outros 4 músicos de primeira linha: Herbie Hancock (piano acústico e elétrico), Wayne Shorter (sax tenor), Ron Carter (contrabaixo) e Tony Williams (bateria). Além desses músico, Miles também formou as suas futuras bandas de jazz-rock com o bateriata Jack DeJohnette, o contrabaixita Dave Holland, os tecladistas Chick Corea e Joe Zawinul, os organistas Keith Jarret e Larry Young e o guitarrista John McLaughin (o responsável por "apresentar" Jimi Hendrix - talvez o meu próximo post -a Miles) , entre outros.

(*) Nessa música, o piano e o contrabaixo acústicos foram substituídos pelos respectivos instrumentos elétricos. Por ser bem longa (mais de 17 minutos), dividi a música em 5 partes.



domingo, 1 de junho de 2008

Não tenho paciência para Amy Winehouse, Britney Spears e afins

Eu não queria, mas não resisto. Hoje é domingo e, escrevendo, deveria escrever sobre vinhos (ando para escrever sobre o Languedoc, mas vai ter que ficar para a próxima). Tratando-se de Wine-House, abre-se uma excepção, e aqui vai disto. Claro que quem vai a um concerto de Amy Winehouse deve saber ao que vai, não tem desculpa. Eu não fui, e se vier cantar aqui por estas bandas vai ser sem mim. Um CD de estúdio chega perfeitamente. A moça até tem uma voz interessante, diria mesmo uma boa voz, e tem sobretudo um repertório muito bom. Gosto bastante das músicas que canta, mas isso, mérito a quem é devido, é graças ao talento de compositores, letristas, orquestradores, produtores e músicos. Desconheço se Amy se dedica a alguma destas actividades, mas duvido. Óbvio é que a moça tem talento (como diz, e bem, o Manolo) para a auto-destruição, e para isso é que já não tenho paciência. Que se vá auto-destruir para casa, em privado. Mas pelos vistos há quem goste do espectáculo. Pior ainda, há quem idolatre a auto-destruição, e provavelmente há até quem tenha também muita peninha, que coitadinha a mocinha até sofre muito, pobrezinha. Eu não tenho paciência, mas se outros têm, enfim, paciência... assim seja.

Agora, que venham comparar Amy Winehouse a Nina Simone, ou Billie Holliday, isso é que já é um ultraje. Nem é preciso comparar biografias (talvez Simone e Holliday tenham tido vidas muito mais duras, e verdadeiros dramas pessoais que possam justificar o sofrimento, mas nunca fizeram do sofrimento um espectáculo, mesmo que faça hoje parte da lenda, mas não vamos por aí). Atente-se à música: quando Amy Winehouse fizer metade do que fizeram Nina Simone ou Billie Holliday - i.e. quando gravar metade da discografia, com metade da qualidade, e que exerça metade da influência sobre as gerações de músicos futuras - então aceito a comparação, e podemos conversar. Enquanto esperamos, e vamos esperar muito, porque afinal a carreira de Amy Winehouse está apenas no começo (embora esteja provavelmente já no fim), fica uma faixa de Nina Simone ao vivo, para amostra. A música é boa, mas Nina Simone habituou-nos a melhor, a qualidade da gravação é sofrível, mas dá para ver o que era Nina Simone ao vivo. Oiçam, e julguem por vós.



Mas o pior, o que me tira do sério mesmo é chavões do tipo "Genialidade sem excesso? Não temos". Claro que quando se procura o excesso, e se idolatra o excesso, e se confunde excesso com génio, é normal pensar que não há génio sem excesso. Puro engano. Dou apenas o meu exemplo preferido: Charlie Parker e Dizzy Gillespie. O Jazz moderno tal como o conhecemos hoje é o resultado da revolução formal que foi o BeBop, e o BeBop foi 90% o resultado da parceria entre Gillespie e Parker. Parker é muito mais conhecido do que Gillespie (para os que não se lembram é o trompetista das bochechas enormes). Parker morreu novo, com excesso de álcool, excesso de drogas, batia na mulher, e mais uma série de excessos. Dir-se-ia que o excesso faz parte do génio. Mas que tem tudo isso a ver com música? Rigorosamente nada. E pouco importa que tenha sido Gillespie o teórico do BeBop, quem desenvolveu os novos formalismos, progressões de acordes, relações acorde-escala, e outras miudezas (essas sim, relacionadas com música). Gillespie não foi propriamente um homem de excessos, e teve uma carreira que durou uns cinquentas anos, coisa pouca afinal. Os excessos de Parker serão sempre o Ícone. Chama-se a isso confundir o essencial com o acessório.

P.S. - Razão tem o Luís Rainha.
P.P.S. - Sobre Gillespie já escrevi aqui e aqui.

quinta-feira, 20 de março de 2008

O clube de jazz mais antigo da Europa celebra 60 anos

... é verdade e fica em Lisboa! O Hot Clube de Portugal está celebrando 60 anos de existência, um feito raro e valioso.
Mais conhecido por Hot Clube de Lisboa, este decano do jazz na Europa teve um parto ao mesmo tempo singular e difícil.
Foi seu mentor Luís Villas-Boas, cativado pelo jazz na sua adolescência madeirense, isto nos anos de 1930. Em 1945, e já em Lisboa, o então funcionário dos correios de Portugal estreia um programa radiofónico dedicado a esta música então efervescente. Foi a partir daqui que Villas-Boas, juntamente com outros melómanos (parte deles ouvintes do programa), decidiu fundar um clube de jazz em Portugal.
A aprovação de estatutos ficou suspensa muito tempo pelo governo de Salazar, um regime que considerava esta música «dissolvente» e corruptora das boas tradições nacionais. Muitos dos fundadores eram, naturalmente, gente da oposição, o que complicava as coisas, embora não fossem seus subscritores nessa condição, como é óbvio, mas tão-só enquanto amantes de boa música. Embora os estatutos deste clube só tenham sido aprovados a 16/3/1950, a sua fundação recua a 1948, após anos de preparação.
Desde então, foram muitos os músicos de jazz que passaram pela pequena mas acolhedora cave da Praça da Alegria: Count Basie, Bill Coleman, Dexter Gordon, Benny Golson, Lee Konitz, Freddie Hubbard, Max Roach, Pat Metheny, Pinho Vargas, Mário Laginha, Maria João, entre muitos outros. Além de concertos regulares, criou também uma escola de música, responsável pela formação de grande parte dos jazzistas lusos.
Neste ano gordo, estão previstos concertos de homenagem, uma fotobiografia de Villas-Boas, um núcleo museológico, entre outras iniciativas.
Quanto ao título do post, digo que é o mais antigo clube de jazz da Europa segundo o que consegui apurar, há uns tempos, em pesquisa na Internet: além do HCP, os mais antigos ainda em actividade eram já de inícios de 50.
Parabéns, pois, ao Hot Clube de Portugal e siga o jazz!
Nb: imagens da famosa cave e traseiras de acesso ao jardim aqui.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Oscar Peterson (1925-2007), o marajá do teclado

O pianista e compositor de jazz Oscar Peterson morreu este domingo, aos 82 anos. O também pianista e compositor Duke Ellington chamou-lhe "marajá do teclado", em homenagem à riqueza e vivacidade da sua música. Gravou mais de 200 álbuns e tocou com muitos dos grandes do jazz (Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Louis Armstrong, Lester Young, Count Basie, Charlie Parker, Stan Getz, Coleman Hawkins, Dizzy Gillespie, Roy Eldridge, Freddie Hubbard, Modern Jazz Quartet, etc.), ele que era um gigante (1,90m).
Nascido em Montreal (Canadá), o seu pai, um ferroviário, viu na música uma saída para o seu filho negro. E não se enganou. Basta escutar «You look good to me» para sabermos isso.